OUT OF DARKNESS
por Nikki
Ela tem como objetivo de vida exterminar tantos demônios quanto possível, afim de livrar a humanidade do mal. Mas sua determinação estremece ao perceber que nem todos demônios são necessariamente maus. A situação se complica quando ela e a amiga deixam de ser as caçadoras para se tornarem a caça. Na tentativa de sobreviver, elas contam com a ajuda de um demônio e um anjo caído, enquanto reconsideram seus conceitos pré-estabelecidos sobre o bem e o mal.
Gênero: Romance, Sobrenatural, UA
Dimensão: Longfic
Classificação: PG-15
Beta: Anny, KimN & Alyssa
ܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔ
# Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 #
Capítulo 1
Nova Orleans, Estados Unidos
— O que acha de irmos para um lugar mais... sossegado? — A barba de Stanley raspou meu rosto quando ele fez a sugestão, baforando aquele hálito com cheiro de cebola para cima de mim. Sua mão áspera se enfiou entre minhas pernas, apertando a parte interna da minha coxa. Eu tive que lutar contra minha repulsa para não empurrá-lo para longe.
— Parece adorável. — Tentei sorrir, mas o bafo acebolado estava me deixando nauseada e atrapalhando meu raciocínio.
Enquanto nos levantávamos, dei uma olhada discreta ao redor, esperando que estivesse alerta. Como de costume, eu não a vi. Só restava esperar que ela não tivesse se distraído com algum garçom gatinho como da última vez.
O cara deixou umas notas amassadas na mesa e nós saímos da lanchonete. Ele foi na frente, o que demonstrava que estava com pressa. Não havia sequer um pingo de cavalheirismo em Stanley. Ele fazia mais o tipo caminhoneiro corpulento e rude. Nós tínhamos uma teoria de que os que optavam por parecer maiores eram os mais fracos e nós preferíamos não perder tempo com eles. Mas Stanley havia vindo até mim, então decidimos não deixar a oportunidade passar.
Lancei uma última olhada para a lanchonete, enquanto atravessávamos o estacionamento meio vazio em direção ao carro de Stanley. Se é que aquela lata velha podia ser chamada assim. Era na verdade uma caminhonete antiga, onde a ferrugem disputava contra a tintura azul — e parecia estar vencendo. Eu tinha sérias dúvidas se aquele troço andava.
Stanley entrou no lado do motorista e destrancou a porta para mim. Eu fechei os olhos e fiz uma rápida prece antes de tentar desemperrar a porta e entrar. Que Deus tivesse piedade de mim.
Ao invés de ligar o carro, Stanley veio para cima de mim. Suas mãos levantaram minha saia, mas eu a abaixei, então elas se mudaram para os meus seios. Foi inevitável conter o gemido. Não por prazer, mas de dor pela rudeza do aperto. Sua boca babava no meu pescoço. E eu me perguntava pela milionésima vez, por que, de todos os demônios que haviam na cidade, foi me aparecer logo um tão sem charme naquela noite. Onde estavam aqueles que tinham a capacidade de te hipnotizar e fazê-la gozar só de olhar em seus olhos?
— Você me pegou, gatinha — Stanley ronronou com aquela voz asquerosa. — Me encantou completamente.
Eu tentei rir, mas soou mais como um lamento. Não conseguia acreditar que o idiota achava mesmo que teria sexo com uma mulher como eu no estacionamento de uma droga de lanchonete. Dentro de uma lata velha enferrujada. E isso perturbava meus planos. Eu precisava levá-lo para um lugar isolado.
— Eu conheço um lugar—
Eu arfei quando sua mão áspera invadiu o refúgio da minha blusa e apertou meus seios, arranhando minha pele delicada. Sua língua dançando na minha orelha. Eu estava ficando cheia de baba de demônio. Ew. Eu reuni toda a minha força para empurrá-lo, o que não era uma tarefa fácil, devido ao tamanho dele. Acabei erguendo o joelho, posicionando-o bem no meio das pernas dele. Sentindo a ameaça, ele recuou um pouco.
— Eu conheço um lugar — repeti, quase gritando na ansiedade. — Um lugar confortável e discreto.
— Podemos ficar aqui mesmo — ele disse, enfiando a mão dentro da própria calça e voltando para cima de mim.
— Não! — gritei. Ele me olhou espantado. Eu tive que me obrigar a relaxar. — Eu mal consigo me mexer aqui, preciso de espaço. — Tentei fazer uma expressão safada, mas tinha certeza de que ficou mais parecido com uma careta. De qualquer jeito, ele pareceu se convencer. Aliviada, eu me ajeitei no banco duro, enquanto ele dava partida.
Nós fomos para um mirante. Talvez não fosse o melhor lugar do mundo, mas, como era de se esperar, estava vazio àquela hora. Eu rapidamente desci do carro, antes que ele tentasse avançar em mim mais uma vez. Agora eu só precisava ganhar tempo até chegar.
Respirei fundo, apreciando a brisa fresca produzida pelas árvores. O mirante era um lugar bem romântico para ir com o namorado à noite, sentar no capô do carro e ficar vendo as estrelas. Já Stanley não parecia compartilhar do mesmo romantismo que eu.
— É esse o lugar? — perguntou com certa repulsa, olhando ao redor.
— Vai dizer que nunca quis transar ao ar livre? — improvisei, abrindo os braços para mostrar todo o espaço que teríamos para deitar e rolar. Teríamos, teoricamente falando.
Eu andei até à grama, olhando ao redor, analisando as posições das árvores para decidir aonde seria melhor nos localizarmos para a ação. Eu me virei para falar com Stanley, mas ele já vinha para cima de mim. Ele me derrubou na grama e sua boca grande começou a tentar engolir a minha, enquanto enfiava a língua na minha garganta. O gosto forte de tempero seriamente me provocando náuseas. Stanley forçou o decote da minha blusa até que meus seios pularam para fora. Ele então ergueu minha saia e rasgou minha calcinha. Eu queria pará-lo, mas precisava mantê-lo distraído para quando chegasse. Minhas unhas cravaram em seus ombros quando senti seu membro asqueroso roçando na minha coxa. Será que esse homem nunca tinha ouvido falar em preliminares?
Fechei os olhos com força, esperando o que estava por vir, quando senti Stanley sendo puxado para longe de mim.
— Sai de cima dela, sua praga do inferno! — estava lá de pé, com sua roupa de motoqueira, uma espada curta na mão e duas armas na cintura. Era a própria imagem da super heroína. Minha super heroína.
— Já não era sem tempo — resmunguei, relaxando na grama.
Quem não pareceu muito feliz com a interrupção, foi o Stanley, como era de se esperar. Ele foi para cima dela com todo seu corpanzil, disposto a brigar. tentou usar a espada, mas ele conseguiu desviar e agarrou a espada. Eles ficaram em um impasse, ela tentando golpeá-lo e ele impedindo.
Eu coloquei minha roupa de volta no lugar — com exceção da calcinha, que se tornara um trapo inútil — e me levantei rapidamente. Peguei a única coisa que tinha à mão para usar como arma, uma pedra, e fui para cima do demônio. Eu o acertei na cabeça, mas ou ela era muito dura ou eu não tinha usado força suficiente, porque de nada adiantou. Então eu fiz o que podia. Dei um chute pelo meio das pernas dele e consegui que a ponta da bota acertasse bem no saco. Ele se curvou e empurrou para trás, fazendo-a cair de costas na grama. Mas ele se recuperou mais rápido do que eu imaginava e veio para cima de mim. O que era um grande problema, já que batalha corporal não era o meu forte. Nós caímos no chão, ele por cima de mim, minha cabeça batendo em algo duro, enquanto ele tentava me esganar. Eu enfiei as unhas nos seus braços com tanta força que eu podia senti-las cortando a carne. Isso só o fez aumentar o aperto na minha garganta.
Minha visão começava a falhar, mas eu pude ver de pé, o golpeando nas costas com a espada. Mais de uma vez. Lá pela terceira ou quarta vez, ele finalmente me soltou e empurrou para longe. Eu engasguei em busca de ar. Quando ele ficou de pé, ela lançou a espada, que o acertou no peito. Sendo um demônio, que tem mais resistência à dor, ele se livrou da espada como quem tira um espinho e avançou na direção dela. atirou, acertando o braço dele. Ele cambaleou para trás e ela atirou mais uma vez, agora acertando a cabeça. O corpo começou a oscilar para trás, caindo em minha direção, quando de repente explodiu. Gosma marrom espirrando no meu rosto. Argh. Esse era um dos piores tipos de demônio, dos mais fracos e que mais faziam sujeira.
— Por que demorou tanto? — perguntei, tentando tirar os restos nojentos do meu rosto. Minha garganta ardia terrivelmente depois da tentativa de estrangulamento.
— Você não podia ter enrolado um pouco? Se eu não chegasse, ele teria... Argh... Não quero nem pensar. — Ela se aproximou, depois de pegar a espada e colocar a arma de volta no coldre, e estendeu a mão para me ajudar a levantar. — Você está bem?
— Ótima! Quase fui estuprada e morta por um demônio! Não poderia estar melhor! — exclamei e tirei minha blusa para limpar os resíduos de meleca grudados no meu corpo. — Na próxima vez, você é a isca.
— De jeito nenhum!
— Eu não posso ser a isca para sempre! — protestei. Eu terminei de me limpar e vi que a blusa estava nojenta demais para que eu voltasse a vesti-la. — Me empresta sua jaqueta?
Suspirando, tirou a jaqueta de couro, ficando só com uma camisa branca de botões.
— Se eu for a isca, quem vai me salvar?
— Eu, é óbvio — afirmei, fechando o zíper da jaqueta até em cima. Ela revirou os olhos como se eu tivesse falado besteira. O que é um absurdo, porque, apesar de não ter muita força física, eu tinha boa pontaria.
Nós descemos alguns metros até onde ela havia deixado a moto, sem nos preocuparmos com os restos do demônio. Quando o sol batesse, a gosma ia desaparecer sozinha. me passou um capacete, antes de colocar o próprio.
— Você está fedendo — ela reclamou, antes de fechar o visor do capacete e subir na moto.
— Obrigada.
Eu montei atrás dela na moto com a tão familiar sensação de dever cumprido.
Capítulo 2
Seul, Coreia do Sul
— Um anúncio no jornal! — Eu joguei a edição do Seoul Times na escrivaninha, tendo o cuidado de não derramar meu café. — No que você estava pensando?
— Que publicidade é a alma do negócio? — retrucou tranquilamente, do outro lado da escrivaninha. Ela estava relaxada na cadeira confortável, com os pés cruzados em cima da mesa e um livro no colo.
— Ah, claro! Por que não anunciar para todos os demônios da Coreia que nós estamos aqui para matá-los?
Eu tomei um gole do meu café e me sentei numa poltrona na lateral do nosso novo escritório. Nós havíamos acabado de nos mudar para o outro lado do mundo e ainda estávamos sofrendo para nos adaptar ao fuso horário, por isso ainda não tínhamos saído para nenhuma de nossas caçadas noturnas habituais. E, sem nenhum contato na cidade, nós também estávamos sem clientes ou dicas de onde caçar.
— Duvido que demônios percam tempo lendo jornal — ela rebateu. — E mesmo que lessem, não iam sair correndo da cidade por isso. E talvez nos traga algum cliente.
— É, porque caçadoras que colocam anúncio no jornal parecem muito competentes — ironizei.
Ela fechou o livro, irritada, e se ajeitou na cadeira pronta para discutir, mas a porta da frente foi repentinamente aberta. Eu me coloquei de pé imediatamente, enquanto via uma senhora baixinha entrando, incerta, no nosso escritório.
— Podemos ajudar? — perguntei, notando o quanto ela parecia assustada, com os olhos arregalados e segurando com força a bolsa junto ao peito.
— A-acho que eu errei o endereço — balbuciou e se preparou para sair, mas eu me apressei em alcançá-la.
— O que está procurando? — perguntei, solicita, apesar de conhecer pouca coisa na cidade. A senhora enfiou a mão na bolsa e tirou um pedaço da folha dos classificados. É, ela estava no lugar certo. — É aqui mesmo, senhora — eu disse, lançando um olhar eloquente na direção da . Ela teve a audácia de se levantar com um sorriso convencido.
— Eles estão aqui? — quis saber a mulher, olhando para todos os cantos, hesitante.
— Eles? — perguntei, em dúvida sobre quem ela falava.
— Os caçadores de demônios.
— Nós somos as caçadoras — anunciou , sorrindo.
— Vocês... — Ela lançou um olhar reprovador do decote ousado de para minha saia curta. Ela devia esperar que usássemos hábitos, talvez.
— Não quer se sentar? — ofereci gentilmente, fazendo um gesto para que ela seguisse em frente. Ainda cautelosa, ela avançou e se sentou na cadeira de frente para a .
— Eu sou e essa é . — minha amiga nos apresentou, antes de voltar a se acomodar. — E somos as melhores no ramo.
Eu revirei os olhos. Que cliché. Mas internamente estava contente por não ter escolhido a carreira de publicitária. Ela nos levaria à falência.
A mulher se apresentou como sra. Song e quando perguntou como poderíamos ajudar, ela começou a chorar. Nós duas começamos a procurar desesperadamente um lenço ou alguma outra coisa para dar a ela, mas não parecia haver nada à mão. O que nos salvou foram os guardanapos que vieram com os muffins que compramos de manhã. Enquanto a sra. Song assoava o nariz nos guardanapos, eu peguei meu caderninho e acrescentei “lenços de papel” à imensa lista do que precisávamos comprar.
— Minha filha está possuída — disse a sra. Song quando conseguiu controlar seus soluços.
e eu nos entreolhamos. Se havia um grande mito sobre demônios era que eles eram espíritos que podiam se apossar do corpo das pessoas. Na realidade não era bem assim que funcionava.
— Eu já chamei padres, pastores, monges budistas, mas eles não acharam nada de errado nela. O exorcista até que tentou, mas ela continua do mesmo jeito!
— E que jeito é esse? — perguntou.
— Ela está diferente — balbuciou. — Quase não fala, só sai de casa durante a noite. Não se alimenta, acho que não tem tomado banho, porque está com um cheiro horrível... Eu não sei explicar, só sei que não é mais a minha menina de sempre.
— E dorme durante o dia? — perguntei, embora já imaginasse a resposta.
— É. — A senhora fungou.
— Nos dá licença um minutinho? — pedi, me levantando. Ela assentiu e eu fiz um gesto para . — O que acha? — perguntei à minha amiga quando entramos na cozinha.
— Provavelmente um nobody — comentou, atacando o pote de castanhas. — Deve ter matado a garota e assumiu o lugar dela.
Nobody era como nós apelidávamos um tipo de demônios — aqueles que explodiam gosma fedorenta para todo o lado —, porque eles eram fracos, inúteis e burros. Ou seja, zé ninguém que só incomodava. Eles eram tão inúteis que tinham o hábito irritante de se esconder sob a aparência de outra pessoa.
— Ou então a filha dela só está em depressão. — Dei de ombros. Era uma possibilidade, mas eu não apostava muito nela. O duro seria a hora de dar notícia para a mãe.
— Sua filha está em casa agora? — perguntou à sra. Song quando voltamos para o escritório.
— Sim. Ela só costuma sair depois das dez da noite.
Naquela noite, nós fizemos plantão na rua da dona Song. Depois de um tempo, eu fui obrigada a baixar o vidro, porque o cheiro de salgadinho de queijo estava me dando enjoo.
— Quer? — ofereceu de boca cheia, praticamente enfiando o saco gigante de salgadinho na minha cara. Ela só fazia isso porque sabia que eu odiava aquela coisa.
— Não — rosnei, afastando o saco e virando o rosto para a janela aberta. Meu celular tocou, era a senhora Song. — Alô?
— Ela está se preparando para sair — ela disse com a voz abafada e desligou.
— Nossa deixa — falei para colocando o celular de volta no bolso.
Nós descemos rapidamente do carro, seguindo direções opostas para colocar nosso plano em ação. Enquanto eu atravessava a rua calmamente, disparava para o outro lado. Nós havíamos decidido não confrontar o suposto demônio em casa, para não afetar a sensibilidade da sra. Song. Eu enfiei um chiclete na boca, enquanto me aproximava da casa.
Quando me recostei no muro, notei que já estava quase fora de vista. A garota saiu de casa e, enquanto ela fechava o portão, eu fiz uma bola de chiclete, soprando até ela estourar. O barulho fez com que a garota olhasse para trás, espantada. Eu sorri para ela, já que minha intenção era justamente fazê-la me notar e se sentir intimidada. Ela começou a andar para a mesma direção que tinha ido e eu a segui, não fazendo nada para disfarçar o fato. Eu notavelmente a estava deixando nervosa, já que ela olhava para trás toda hora.
Quando estávamos nos aproximando de um beco, apareceu vindo ao nosso encontro, sorrindo sinistramente para a garota. Ela entrou em pânico. Olhou de uma para outra, visivelmente apavorada e sem saber o que fazer. Até que em um ato de desespero, entrou no beco. Bem na mosca.
Eu a alcancei primeiro e a derrubei em cima de umas latas de lixo, ela se encolheu. logo nos alcançou e agarrou a garota trêmula pela roupa.
— O-O q-que vocês querem?
Não era um nobody, eu notei. Porque eles podiam ser estúpidos, mas tinham alguma força física e não costumavam desistir sem uma boa luta.
— O que fez com a garota? — perguntou , com a voz cortante e os olhos brilhando perigosamente. Eu senti um calafrio. Quando ela começava a agir assim, até eu ficava com medo.
— Eu não sei do que—
a puxou agressivamente para mais perto.
— Você sabe sim do que eu estou falando, seu demônio nojento.
O corpo do demônio começou a se convulsionar e o soltou, com repulsa. Ele começou a tremer tão incrivelmente rápido que nós mal conseguíamos ver suas feições. Quando finalmente parou, havia assumido sua verdadeira forma. Tinha a aparência de uma mulher velha e arqueada, de cabelos pratas bem ralos, o nariz era quase um Everest em meio à pele macilenta e pelancuda do rosto. Era obviamente uma gárgula, o tipo mais baixo na hierarquia — se é que havia uma — dos demônios. Eles tinham um pouco mais de inteligência, se comparados ao nobody, mas costumavam ser fracos e covardes. Além de ter uma aparência repugnante.
a puxou pela gola do casaco até ficar de pé. Mesmo de onde eu estava, conseguia sentir o cheiro ruim de demônio porco.
— O que você fez com a garota? — perguntou , pronunciando pausadamente cada palavra.
— Eu não fiz nada. Não fiz nada. — ela meneava a cabeça quase compulsivamente.
— Então onde ela está? — perguntei.
— No rio — respondeu, trêmula. — Mas não fui eu, juro, não fui eu.
— Como ela foi parar no rio? — aumentou o aperto. O demônio engoliu em seco, se contorcendo na tentativa de se soltar.
— Ela pulou da ponte. Juro. Ela pulou. Não fui eu. Eu só olhei.
— Não a incentivou a pular? — insistiu .
— Não! Ela pulou! Ela já estava lá na ponte quando eu a vi! Juro!
a soltou, suspirando. Esses tipos eram covardes demais, não havia por que duvidar. E saberia dizer se ela estivesse mentindo. O demônio se levantou nervosamente, sacudindo as roupas.
— Vão me deixar ir? — perguntou, quase em uma súplica.
— Por que não? — revirou os olhos. Nós não víamos motivos para matar gárgulas. Eles podiam ser oportunistas, mas não costumavam causar grandes danos aos humanos.
— Mas antes... — Eu me coloquei no caminho do demônio, quando ele estava prestes a sair correndo. — Nós queremos saber de alguns lugares onde podemos encontrar outros dos seus. Dos mais poderosos, quero dizer.
— Oh... Demônios fortes. — Compreensão iluminou os olhos dela, que parecia bem relaxada agora que não estava mais sendo ameaçada. — Ouvi dizer que eles costumam frequentar os clubes em Itaewon. Sabe, as pessoas são mais limpas e bonitas por lá.
— É, nós sabemos. — sorriu para mim. Os padrões dos demônios costumavam variar de lugar para lugar. Mas uma coisa que não mudava era a atração deles por lugares barulhentos, onde tivesse muita bebida, promiscuidade e pessoas bonitas.
— Posso ir? — perguntou a gárgula, ansiosa.
— Pode, mas da próxima vez que quiser assumir a vida de alguém, escolha uma pessoa que não tenha família — disse .
Eu peguei um cartão de visitas do meu bolso traseiro e estendi para ela.
— Aqui. Se souber de alguma coisa estranha acontecendo, por favor, nos avise.
Poderia parecer algo absurdo a se pedir, mas gárgulas tendiam a ter língua solta. Se eles se sentissem ameaçados por outro demônio, não hesitavam em dedurar.
Ela pegou o cartão e saiu apressada do beco. Talvez com medo de que mudássemos de ideia e resolvêssemos matá-la.
— Quem vai dar a notícia para a sra. Song? — perguntei.
— Você, obviamente. — retrucou.
— De jeito nenhum, eu dei da última vez.
— Isso foi há meses atrás. — Ela se abaixou para pegar uma moeda no chão. — Cara ou coroa?
Como de costume, eu perdi. Embora ela negasse, às vezes eu desconfiava que podia manipular os resultados. Não era possível que eu fosse tão azarada!
✰——————————
Eu retoquei meu batom e dei uma última checada na minha maquiagem, ignorando que tamborilava os dedos do lado de fora da minha janela. Guardei calmamente o estojo na minha bolsinha, peguei um frasquinho de perfume e passei um pouquinho atrás das orelhas. Bem pouquinho, porque não era um perfume qualquer. Era uma essência especial que apelidara ironicamente de perfume de enxofre, já que provocava uma atração irresistível nas criaturas dos infernos. Era feito de feromônios e não tinha cheiro perceptível, por isso os demônios não percebiam a armadilha.
— Por que se preocupa tanto com a maquiagem se daqui a meia hora vai estar tudo borrado? — pergunta , quando eu desci do carro.
— Como estou? — perguntei, ignorando a impaciência dela. Ela revirou os olhos e começou a andar em direção à entrada do clube.
Eu esperei um pouco para que não entrássemos juntas. Era nossa sétima noite de caça ali em Itaewon, a terceira naquela semana, todas iniciadas em estabelecimentos diferentes. Depois do encontro com a gárgula, nós havíamos sondado os arredores de Itaewon para nos familiarizarmos com a região e estudarmos possíveis lugares para concluir a caça.
Como era de se esperar para uma sexta-feira à noite, o local estava lotado. Só a mistura da música alta com os efeitos das luzes era estafante o suficiente depois de duas noites seguidas sem dormir direito. Eu só esperava que pudéssemos finalizar mais rápido dessa vez.
Eu fui para o balcão e pedi um energético. Cruzei as pernas quando me sentei na banqueta, sentindo o tecido da calça esticando como se estivesse prestes a estourar. Depois da experiência traumática com Stanley, eu havia tido o cuidado de só usar calças. E quanto mais apertada fosse, mais difícil seria na hora de tirar, o que me daria um tempo extra até fazer sua aparição. Mas também me tomava um tempo extra na hora de vestir, claro.
Depois de um tempo, só observando as pessoas e recusando alguns convites para dançar, senti meu celular vibrar. Era uma mensagem de .
DM à esquerda. Camisa vermelha e jaqueta de couro.
Era por esse motivo que também entrava nos estabelecimentos ao invés de ficar me esperando sair lá fora; ela podia identificar demônios só de olhar. Guardei o celular e esperei alguns segundos antes de virar a cabeça discretamente para o lado indicado. Localizei fácil o alvo. Não só pela roupa, mas também pela sua aparência. Ele era alto e muito atraente. Finalmente um dos bons.
Eu me levantei e passei por ele, perto o suficiente para que os feromônios fizessem efeito. Eu parei alguns metros a frente e me virei na direção dele. Nossos olhares se encontraram e os olhos dele prenderam os meus. Ele era incrivelmente lindo, tinha a pele pálida e brilhante como porcelana, os cabelos tão negros quanto uma noite sem luar, os lábios vermelhos como sangue... O celular vibrando na bolsa contra minha perna quebrou o encantou. Eu pisquei,meio zonza, e rapidamente me virei de costas para o demônio, percebendo imediatamente o que ele era. O que os românticos e os leigos chamariam de vampiro. Mas não passavam de demônios com sede de sangue. Uma das criaturas mais sedutoras, e letais, dos infernos. E eu estava prestes a enfrentá-lo.
Eu amarrei a alça da bolsa no meu pulso, antes que fosse capturada pelo seu encanto mais uma vez. Era ali que estava meu localizador para que não me perdesse. Respirei fundo, ajeitei a blusa e me virei para ele. Seus olhos novamente prenderam os meus, mais intensamente dessa vez, e tudo ao meu redor desapareceu. Não havia mais música, nem pessoas, nada. Só eu e ele.
Em um instante, eu estava a centímetros de distância dele e nem saberia dizer quem havia feito o movimento, se ele ou eu.
— Olá. — Ele estirou aqueles lábios perfeitos num sorriso tentador e levou minha mão aos lábios para depositar um beijo. Eu me senti prestes a derreter. — Como se chama?
— — respondi no meio de um suspiro sonhador.
— Muito prazer, . Alguém já lhe disse o quanto é linda?
Talvez. Eu não me lembrava. Não me importava. Então assenti vagamente.
— Qual é seu nome? — perguntei. Meus olhos nem por um segundo se desviavam dos dele. Acho que eu nem piscava.
— Darien.
— Darien... — repeti, saboreando o nome. Senti algo vibrando no meu braço e percebi que era algo dentro da bolsa. Por que diabos eu tinha uma bolsa amarrada no braço? Mas antes que eu pudesse analisar isso, Darien ergueu meu queixo para que voltasse a fitá-lo.
— Eu quero muito beijá-la.
— Então beije.
Ele o fez. Lento e sedutor. Erótico. Eu senti minha calcinha ficando instantaneamente molhada.
— Que tal sairmos daqui? — ele sugeriu, deslizando os lábios próximo à minha orelha.
— Excelente ideia — respondi, arfante. Eu precisava dele. Imediatamente.
Foi com relutância que eu permiti que ele separasse o corpo do meu, mas isso era um detalhe necessário para que pudéssemos andar. Mas ele me manteve por perto, enquanto deixávamos o clube. Nós entramos no seu carro e ele praticamente voou pelas ruas, com tanta pressa quanto eu. Sem resistir, eu o toquei por cima da calça, enquanto ele dirigia, até a protuberância assumir um volume exuberante.
— Vai com calma — ele disse depois de um tempo, erguendo minha mão e beijando meus dedos. — Já estamos chegando.
A viagem pode ter sido rápida, mas para mim pareceu uma eternidade. Finalmente chegamos ao edifício onde ele morava. Começamos a nos agarrar desde o elevador. Por mim, nós teríamos ficado ali mesmo, mas ele preferiu me guiar até o apartamento. Eu já estava meio nua quando entramos. De alguma maneira conseguimos chegar ao quarto e ele me penetrou assim que caímos na cama. Nossas roupas haviam ficado jogadas em algum lugar pelo meio do caminho. Eu afundava meus dedos na sua pele nua, enquanto ele se afundava em mim, cada vez mais rápido.
Senti alguma coisa dura e afiada roçando no meu pescoço. Suas presas, percebi, mas não liguei. Até isso parecia aumentar meu prazer. Eu inclinei a cabeça para trás, deixando o caminho livre para ele, desejosa de que me mordesse. Mas então ele parou. Ficou rígido de repente e se afastou bruscamente. A próxima coisa que notei foi que ele lutava com alguém perto da porta.
— ! — o alguém gritou.
Ah, meu Deus! Era . Eu sacudi a cabeça, tentando clarear meus pensamentos e me lembrar do meu objetivo; matar demônios e não transar com eles.
Rapidamente me levantei e vi que a luta estava feia. Embora fosse forte e treinada, os ditos vampiros eram bem mais, além de serem cruéis e inescrupulosos. Com minha mente ainda turva, eu me joguei para cima dele, enfiando minhas unhas em seus braços e mordendo o ombro dele. Esperando que ele largasse . E funcionou. Ele então voltou sua atenção para mim, me erguendo do chão com sua força sobrenatural e me jogando longe violentamente. Eu voei por alguns metros, antes de bater na parede e aterrissar no chão. Eu gritei tão alto quando meu ombro bateu de mau jeito no chão que possivelmente havia acordado todo o prédio. Eu fiquei encolhida no chão, choramingando de dor por vários minutos, enquanto a briga continuava. Até que eu ouvi um tiro abafado pelo silenciador. Depois outro e mais outro. Então o vampiro desabou.
— Você está bem? — a voz de soou sem fôlego. Só então eu me lembrei da dor e soltei um gemido alto. — O que aconteceu com você? — Ela se aproximou e tentou tocar meu ombro.
— Não toque em mim! — gritei.
— Ugh. Acho que saiu do lugar.
— Porra, eu sei disso! — tornei a gritar, quase soluçando. — Está doendo para cacete!
— Calma. Eu tenho que me livrar do corpo.
— Eu estou calma! — choraminguei, me contorcendo de dor.
Ela se afastou e pouco depois eu senti o cheiro acre de carne carbonizada. Ela estava queimando o corpo do demônio com nosso ácido especial. Ela só se voltou para mim depois de se livrar das cinzas.
— Consegue levantar?
— O que você acha?
Ela bufou.
— Vai ter que levantar de qualquer jeito, porque eu não vou te carregar até lá embaixo.
Capítulo 3
Não era fácil empurrar um carrinho de supermercado cheio de compras só com uma mão. Mas não havia me deixado escolha quando resolveu ir até uma concessionária comprar uma moto ao invés de me ajudar no supermercado. E nosso estoque de comida havia chegado a zero. Mas a fome de por veículos era maior até do que por comida. Ou seja, exageradamente exagerada.
Eu estava com um braço imobilizado por conta da noite anterior. No hospital, haviam conseguido colocar o ombro no lugar, o que deu um fim à dor excruciante, mas ainda estava bastante dolorido.
Meu maior desafio era descer a rampa com o carrinho. Eu tentei mantê-lo reto, mas por conta do peso acabei perdendo o controle. Estava quase desistindo de tentar firmá-lo, quando um par de mãos apareceu não sei de onde e o segurou. Eu suspirei de alívio.
— Thank you — agradeci e me virei para ver meu salvador. E prendi o fôlego. Era um homem jovem, devia ter a minha idade ou ser um pouco mais velho, estava com o cabelo jogado para trás pelo vento. Ele usava óculos escuros e tinha lábios bastante tentadores. Eu só lamentei não poder ver seus olhos por trás das lentes escuras, mas conseguia ver o suficiente para perceber o quanto era atraente.
— My pleasure — ele respondeu em inglês com uma voz deliciosamente rouca. Só então notei que eu tinha automaticamente agradecido em inglês.
Ele guiou o carrinho para mim até o final da rampa e eu segui atrás dele, mal contendo a vontade de me abanar. Ele tinha uma bela visão traseira.
— Where are—
— Eu falo coreano — eu o interrompi. Ele ficou surpreso e então sorriu.
— Onde está seu carro? — perguntou.
— Eu vou de táxi — respondi, apontando para o ponto de táxi quase em frente ao supermercado.
— Ah, claro. — Ele deu um sorriso sem graça, olhando para meu braço preso ao corpo, e começou a empurrar o carrinho em direção ao primeiro táxi.
— Então faz tempo que está aqui?
— Duas semanas.
— E imagino que não esteja só a passeio, não é?
— Não, nós pretendemos ficar um bom tempo por aqui.
Eu notei que seus olhos abaixaram para minhas mãos, como se procurassem alguma coisa. Uma aliança, talvez? Eu tive que conter a vontade de esclarecer que a outra metade do nós era minha amiga e não um namorado/noivo/marido.
— Que bom — disse num tom dúbio.
Nós paramos perto do táxi e eu queria fazer alguma coisa para impedi-lo de se afastar. Quais eram as chances de encontrá-lo novamente por acaso naquela cidade grande? Provavelmente próximo de zero. Mas o problema era que, fora das caçadas, eu não era nem um pouco ousada. Nunca havia tomado a iniciativa com um cara por quem estivesse realmente interessada.
— Então... melhoras para o seu braço. — Ele sorriu, parecendo incerto do que dizer ou talvez tão relutante quanto eu em se afastar. Só talvez.
— Obrigada. — Mordi o lábio, percebendo que ele estava prestes a se virar e ir embora. Eu tinha que fazer algo já. — Posso te pagar um café? Quero dizer, para agradecer pelo favor — ofereci, com o coração quase saindo pela boca de ansiedade.
— Eu adoraria, mas eu tenho que ir. Sinto muito.
Nem o sorriso — sem graça — que ele ofereceu pode impedir meu coração de afundar com força. Que ótimo. O primeiro cara que eu me interessava em séculos — excluindo, óbvio, o vampiro que me hipnotizou na noite anterior — e ele me dispensava na maior facilidade.
— Tudo bem. — Não estava nada bem, não. Eu só queria que a terra se abrisse aos meus pés e me engolisse, para esconder meu rosto que deveria estar mais vermelho que um tomate. — Obrigada. De novo.
— Espera. — Ele me chamou quando eu me virei na direção do táxi. — Se você me der seu número, eu posso cobrar o café.
Ele provavelmente só estava fazendo aquilo para aliviar meu papel de tola. Foi simpático da parte dele, mas isso só aumentava ainda mais a ferida no meu orgulho. Então inverti propositalmente os dois últimos números.
Eu o observei se afastar, enquanto ajudava o motorista a colocar as compras no porta-malas, e me perguntei se havia feito a coisa certa. Talvez ele pretendesse mesmo me ligar e eu tivesse perdido a oportunidade de vê-lo de novo só por orgulho. Mas agora não adiantava lamentar.
✰——————————
— Olha só o que eu consegui — cantarolou , entrando no escritório e balançando um cordão na mão.
— Que interessante — repliquei desinteressadamente, estalando meu pescoço e voltando a atenção para o notebook. Eu estava tendo problema para reorganizar nossas finanças depois do tremendo rombo que conseguiu ao comprar a bendita moto. — Acho que vamos ter que vender o carro.
— De jeito nenhum, você precisa de um meio de transporte!
Suspirei, sabendo que era tempo perdido tentar argumentar com ela. Eu venderia o carro sem a ajuda dela. , que não gostava muito de números, achava que nosso dinheiro nascia em árvore, mas a verdade era que nosso sustento vinha de investimentos feitos com nossas respectivas heranças. O que não era grande coisa, apenas o suficiente para pagar as contas em dia e vivermos com algum conforto. Sem contar que tínhamos grandes despesas com equipamentos especiais para nossas caçadas, já que o ramo de caçadores de demônios não era muito lucrativo e nós fazíamos a maioria das caçadas por conta própria. Para ter ideia, ninguém havia nos procurado desde a sra. Song e nós nem tivemos coragem de cobrá-la, depois de dar a notícia de que sua filha estava morta.
— Acho que está na hora de procurarmos um consultor financeiro — refleti. Nós tínhamos um na América, mas agora precisávamos de alguém que nos ajudasse a fazer investimentos ali na Coreia.
— Você viu o que eu trouxe? — ela insistiu, quase enfiando o objeto na minha cara. Eu ajeitei os óculos para ver melhor. Era um colar simples, com um pingente grande em formato de coração. Daquele que você pode colocar fotinhos na parte de dentro.
— Que gracinha! Quer uma foto minha para pôr aí?
Ela revirou os olhos.
— Não, besta. Eu vou colocar seu dispositivo localizador de última geração aqui. — Ela segurou o aparelhinho preto um pouco maior que uma bateria de relógio e o colocou dentro do coração, visivelmente irritada. — Assim você não precisar parecer uma doida que amarra a bolsa no braço, na próxima vez que for seduzida por um vampiro — concluiu, fechando o coraçãozinho com força.
A ideia até que era boa, mas aquela não era a joia que eu escolheria para uma incursão numa casa noturna. Quebraria o efeito de qualquer superprodução.
— Não combina com a minha roupa.
me encarou seriamente, os olhos se estreitando. O-ow.
— Você sabe o trabalho que eu tive até achar uma porcaria grande o suficiente para caber essa merda? Sabe quantas joalherias eu tive que percorrer?!
— Tudo bem! — Eu me rendi em nome da paz. — Eu vou usar! Ele é lindo, , obrigada. Vai ficar divino com minha calça de couro.
— É claro que vai — ela resmungou e subiu as escadas marchando.
Eu peguei meu celular para procurar o telefone do advogado que tinha cuidado do testamento da mãe de e notei que havia uma mensagem de voz. Novamente tinha me esquecido de tirar do silencioso. Já ia ouvir a mensagem quando ouvi um grito vindo lá de cima. apareceu bufando no alto da escada.
— Tem um gato na minha cama! E ele me atacou!
Eu levantei da mesa, bufando. Precisava ser tão exagerada?
— Não pode ter te atacado! Ele só tem dois meses!
— O que ele está fazendo na minha cama?
— Dormindo, imagino. — Eu dei de ombros. respirou fundo e eu imaginei que estava tentando se controlar para não voar no meu pescoço. — O nome dele é Arthemis e estava para adoção no pet shop da esquina.
— Arthemis? Você deu esse nome para ele?
— Por que não? É o nome daquele gato branco de Sailor Moon.
— Agora eu entendo por que ele me atacou. Está ofendido por causa do nome.
Eu revirei os olhos, enquanto ela subia de novo as escadas para consolar o pobre do gato, e voltei para meus números.
Eu estava com as costas doloridas quando finalmente deixei o trabalho de lado para ir me arrumar. Era o nosso terceiro sábado em Seul, já havíamos livrado a cidade de seis criaturas das trevas, e agora estávamos mais relaxadas. Embora demônios não fossem criaturas de andar em bandos ou cultivar amizades entre si — por isso não costumavam se importar quando algum sumia sem dar explicações — muitos desaparecimentos poderiam começar a chamar atenção, principalmente dos mais antigos. O que nós definitivamente não queríamos.
Nessa semana, eu estava sendo obrigada a usar saia para nossas saídas noturnas, porque eu havia ganhado alguns quilinhos nos últimos dias — culpa da TPM — e não conseguiria vestir minhas calças nem que eu fosse embalada a vácuo.
— Tchau, Arthur. — fez um carinho de despedida no gato antes de descer as escadas.
— É Arthemis — corrigi, enquanto seguia atrás dela.
Meu celular vibrou. Eu peguei e vi que era uma mensagem da operadora. Já ia devolvê-lo pro bolso, quando lembrei que ainda não tinha ouvido a mensagem de voz.
— Alô? Oi... hm. Eu só queria... Acho que deviam tomar cuidado. Eles já sabem que estão aqui. — Confusa, eu ouvi a mensagem mais uma vez. A pessoa não havia se identificado, poderia ter sido engano?
— O que foi? — perguntou .
— Ah... nada — esbocei um sorriso tranquilizador e guardei o celular, aceitando o capacete que me oferecia. Poderia me preocupar com isso mais tarde. — Podemos ir de carro hoje? Como uma despedida, sabe, já que vamos ter que vendê-lo.
— Se estamos com problemas financeiros poderíamos começar a vender nosso perfume de enxofre. — Ela parou de andar e gesticulou como se estivesse contemplando um outdoor. — Para ter todos os demônios aos seus pés, use Atração Infernal.
— Acho que esse slogan não vai pegar. — Eu fiz uma careta. Está vendo o que eu disse sobre e publicidade? — E esse nome é horrível.
— Faça melhor então. — Ela deu de ombros e montou na sua Yamaha YZF R6, preta, linda. E perigosa. 600 cilindradas de puro perigo, principalmente se você era carona de uma viciada em velocidade como .
Que os Céus me protejam. Essa era minha prece cada vez que eu saía com ela.
Nós escolhemos voltar ao Club Spy essa noite, o mesmo onde havíamos encontrado o vampiro. Era a primeira vez que repetíamos um clube ali. Nós estávamos intrigadas com Itaewon, porque era o distrito que recebia a maior parte da influência estrangeira no país. Havia turistas em todo lugar. Já os nativos não tinham muito interesse, especialmente por que é onde está localizada a base militar americana. Então, os coreanos que costumavam frequentar a noite de Itaewon eram principalmente os que tinham maior interesse em se aproximar de estrangeiros. Provavelmente era isso que chamava atenção dos demônios para o lugar.
e eu entramos juntas dessa vez. Como nas noites anteriores, iríamos curtir a noite e se, por acaso, aparecesse algum demônio com aparência de potencialmente perigoso, então nós colocaríamos o plano de sedução em ação.
Ainda estávamos analisando o ambiente, quando foi arrastada para a pista de dança por um loiro lindo, me deixando lá parada sozinha sem nenhum remorso. Então fui para o bar e pedi um Black Russian, uma bebida feita com licor de café e vodca. Eu costumava evitar beber, mas resolvi abrir uma exceção essa noite.
Estava calmamente apreciando minha bebida e observando as pessoas dançando, quando notei alguém familiar entre eles. Fiz questão de me manter camuflada até ter a oportunidade de puxar para fora da pista de dança.
— O que foi? — perguntou, se soltando depois que eu a arrastei por alguns metros.
— Você não sabe quem está aqui! ! Aquele cara do supermercado!
— O que te ajudou com o carrinho e depois te dispensou?
Ouch. Doeu.
— Ele mesmo.
— Onde ele está?
Ela começou a olhar para o lado, mas eu segurei seu rosto, sabendo o quanto ela era pouco discreta.
— Não olhe agora. Ele foi para o bar e está acompanhado.
Ela tirou a bebida da minha mão e tomou um gole. Cuspindo de volta em seguida. Tudo bem que ela odiava café, mas isso não lhe dava o direito de cuspir na minha bebida.
— Que porra é essa? Achei que fosse cuba libre. — Ela procurou a superfície lisa mais próxima e depositou o copo.
— Você cuspiu no meu Black Russian!
— Não sei como você pode gostar dessa porcaria — resmungou, limpando a boca. — De qualquer jeito, o que pretende fazer em relação ao seu... carinha?
— Ele não é meu carinha e eu não vou fazer nada. Esqueceu que ele me dispensou?
— Já pensou que ele poderia estar mesmo com pressa e que pretendia realmente te ligar? Mas claro que você nunca vai saber, já que resolveu dar o número errado!
Eu suspirei, olhando para o balcão, onde ele estava com uma garota do lado. Havia pensado na minha estupidez mais de uma vez durante a semana, mas, como dizia o ditado, não adiantava chorar sobre o leite derramado.
— Vamos tirar a dúvida então. Eu vou—
— Quer dançar? — Interrompeu outro estrangeiro, parando na frente de . Ela estava com a corda toda aquela noite.
— Claro! — ela respondeu, sorrindo, e me lançou um olhar convencido. Muito legal da parte dela jogar as conquistas na cara da amiga com dor de cotovelo.
Eu decidi então colocar meu plano em ação. Adotando uma postura casual, andei até o balcão, perto de onde estava. Pedi minha bebida e esperei, firme na decisão de não olhar para o lado. Ele havia me notado, eu percebi. Com a visão periférica, vi que ele falou alguma coisa com a morena ao seu lado e logo depois ela se afastou. O barman entregou minha bebida e eu tomei um gole lento, enrolando para não ter que sair logo do balcão. Já não tinha mais como eu continuar parada ali, como se não o tivesse visto, então decidi me afastar. Tinha certeza que ele me reconhecera, se não se aproximou, foi por que não quis.
— ? — ele chamou, quando eu estava prestes a voltar para a pista.
Eu me virei para ele, com uma calculada expressão de surpresa. Nos segundos que gastei fingindo que tentava lembrar quem seria ele, aproveitei para analisar seu rosto de perto. O engraçado era que eu não costumava ter atração por asiáticos, nem por olhos puxados, mas os dele combinavam perfeitamente com o resto das suas feições. Dessa vez ele usada os cabelos para cima, propositalmente bagunçados. Vestia uma camisa social azul-escuro com as mangas dobradas abaixo do cotovelo , os três primeiros botões abertos, deixando entrever a tatuagem que ele tinha no peito, e uma calça de brim preta. O conjunto inteiro era tentador.
— Ah, oi! — Eu sorri e então fingi pensar, como se tentasse me lembrar do nome dele. — Er...
— — ele disse, com a testa ligeiramente franzida. Provavelmente não estava acostumado a garotas que esqueciam seu nome.
— , claro! — Eu dei um tapa de leve na minha testa. — Que surpresa te encontrar aqui!
— Digo o mesmo — replicou com um sorriso sedutor.
— Nós estamos explorando a vida noturna de Seul e aconteceu de virmos para esse lado da cidade hoje.
— Então está acompanhada.
— Ah, não! — me apressei a corrigir. — Quero dizer, sim, eu vim com minha amiga.
— Eu também estou aqui com um amigo. — Ele deu uma olhada ao redor, como se o procurasse. — Bem, ele deve estar por aí.
Eu me contive para não perguntar se o amigo seria a morena que eu tinha visto com ele. Fazer isso seria confessar que eu o estivera observando. Fiquei quieta, pensando em alguma coisa inteligente para dizer, antes que ele resolvesse ir atrás da morena.
— Como está seu braço? — ele perguntou, quebrando o silêncio incômodo. Eu quase suspirei de alívio.
— Bem melhor.
Eu, na verdade, havia usado um pouco de maquiagem para disfarçar a mancha roxa que ainda não tinha sumido totalmente. Mas pelo menos já não doía e eu podia movê-lo livremente.
— Você ainda está me devendo um café — lembrou. Seu sorriso me pareceu meio provocador. — Sabe, eu tentei ligar, mas eu devo ter anotado o número errado.
Eu gemi internamente, sentindo meu rosto queimar. De vergonha por haver dado propositalmente o número errado e também por satisfação; ele havia ligado.
— Eu posso ter me confundido, também. Sabe como é, né? Número novo...
Ele sorriu, como se soubesse a verdade. Eu agradeci aos Céus pela parca iluminação que não o deixaria perceber o quanto estava corada. Ele apoiou o cotovelo no balcão e o jeito com que me olhava, me fez desejá-lo ainda mais. que me perdoasse, mas àquela noite não ia haver caça. Como se soubesse que eu havia acabado de pensar nela, meu celular vibrou no bolso, e era uma mensagem de .
Seu amigo é um DM.
Eu pisquei. DM era uma sigla para demônio. Li uma vez, duas, três. Isso era um absurdo. Ela estava enganada.
De jeito nenhum. Respondi rapidamente.
— Está tudo bem? — perguntou.
Eu assenti nervosamente e enfiei o celular de volta no bolso. Eu me recusava a acreditar que ele era um demônio. Impossível. Ele era simpático demais para isso. Atraente, agradável, estiloso. Bom demais para ser verdade, implicou uma vozinha na minha mente. Talvez ele fosse gay. Mas não, no fundo eu sabia que estava certa. Ela, sendo uma meio-humana, nunca falhava em identificar os demônios.
— Quer dançar? — ele convidou. Eu senti o celular tremendo outra vez, mas decidi ignorar.
— Por que não? — esbocei um sorriso trêmulo. Ele pegou minha mão e me puxou até o meio da pista.
Suas mãos imediatamente envolveram minha cintura, me puxando para junto de si. Era difícil dançar música eletrônica com os corpos tão colados, mas não estávamos realmente preocupados com a música.
— E então, ... — Ele colou sua boca ao meu ouvido para que eu o ouvisse. Seu hálito quente fez cócegas no meu ouvido. — O que faz da vida?
— Nada demais. Eu e minha amiga estamos no ramo de investimentos.
— Uau, uma investidora! — ele riu. Sua risada era tão gostosa que eu não me importaria de ouvir o resto da noite. — Você poderia investir em mim.
Eu me afastei para ver seu rosto e me deparei com sua expressão travessa. Nós nos balançávamos preguiçosamente de um lado para o outro, totalmente alheios ao ritmo da música.
— E o que você tem de tão interessante, senhor , para que eu invista em você?
Senti suas mãos subindo e descendo pelas minhas costas, num gesto provocador. Em resposta, eu guiei meus dedos pela sua nuca, acariciando os cabelos macios.
— Vamos ver. — Ele simulou uma expressão pensativa e então fez uma careta. — Talvez eu não seja um investimento dos mais lucrativos, mas sei cozinhar o suficiente para fazer um bom café da manhã. Você fica para o café da manhã, não fica? — Ele me olhou com uma falsa expressão de preocupação que me fez rir. — Quanto às outras habilidades, você pode descobrir por si mesma.
Seu olhar se intensificou, enquanto seu rosto assumia uma expressão mais séria. Ele se inclinou para roçar os lábios nos meus, num toque leve, sutil. Daquele que provoca, só para te fazer querer mais. Continuou provocando mais um pouco, até que eu segurei seu rosto e aprofundei o beijo. Pude senti-lo rindo, enquanto sua boca explorava a minha. Suas mãos desceram e apertaram minha bunda, seu volume pressionando minha barriga. Desejando mais contato, eu deslizei minha mão pelo seu pescoço até chegar ao peito, por dentro da camisa meio aberta. Isso o fez me apertar ainda mais contra seu corpo. Ele deixou minha boca e passou a beijar meu pescoço.
De repente, ele ficou tenso e se afastou ligeiramente.
— Seu celular está tocando. — Ele me olhou, fazendo uma careta.
Eu gemi, voltando a notar a música alta e as pessoas dançando ao redor. Estava tão absorta que até tinha esquecido onde estávamos e nem notei o celular vibrando descontroladamente no meu bolso. Eu peguei o aparelho e desliguei, ignorando a chamada da minha amiga.
— Onde paramos? — perguntei. Ele sorriu e voltou a beijar meu pescoço.
O que me parou foi ver há alguns metros gesticulando furiosamente para mim. Eu fiz uma expressão de quem não estava entendendo e ela gesticulou em direção ao banheiro. Eu suspirei, inconscientemente me agarrando a ele.
— O que foi? — perguntou, provavelmente percebendo a mudança na minha disposição.
Eu me afastei para olhar seu rosto. Poderia ser a última vez, já que parecia prestes a me arrastar para fora do clube. Não era como se tivesse apaixonada por ele, embora estivesse muito a fim, mas estava relutante em abrir mão dele. Mesmo sabendo o que ele era.
— Eu tenho que ir ao banheiro — disse suavemente. Ele me deu um último beijo antes de me soltar.
— Vou te esperar aqui.
Eu me afastei relutantemente. já me esperava no banheiro, muito zangada.
— Por que estava me ignorando? — perguntou ameaçadoramente.
— Eu não estava te ignorando — retruquei num tom baixo, notando como as outras mulheres nos olhavam, espantadas.
— Eu não sei que tipo de... — Ela deu uma olhada nas curiosas e suspirou, abaixando o tom de voz. — Não sei de que tipo ele é.
Ele com certeza não era um vampiro. E parecia bem inteligente para ser um dos tipos inferiores. Talvez um íncubo? Ou então...
— Acha que ele é um dos antigos?
O fato de que eu o havia encontrado durante o dia no supermercado reforçava essa possibilidade, já que as criaturas mais fracas preferiam a proteção da escuridão. Os demônios antigos eram os mais poderosos e nós nunca havíamos enfrentado um deles. Eu não tinha certeza do que esperar.
— Acredito que sim.
Eu fechei os olhos por um segundo, me forçando a lembrar que demônios não são como seres humanos. Eles são naturalmente de má índole. Eles só se aproximavam de nós com algum interesse, como sexo, sangue, induzir a más ações... coisas do tipo. não estava realmente interessado em mim, como pessoa. Se é que era esse mesmo o nome dele. E isso doía mais do que eu gostaria de admitir.
— Merda. O que vamos fazer?
— Vamos tentar — ela disse calmamente, depois de refletir um pouco.
— O quê? — Ela não podia estar dizendo o que eu achava que estava. Mas sua expressão dizia que sim. — Não. De jeito nenhum.
— Por que não? Já fizemos isso tantas vezes, por que deixar passar essa oportunidade?
— Não, . Eu não vou levá-lo para uma armadilha.
— , lembre-se de que eles não têm sentimentos.
— Mas por que temos de matá-lo? Nós não sabemos o que ele é! Não sabemos o que ele faz!
— Ele é um demônio — ela sussurrou. — Isso basta.
Ela me empurrou até uma das cabines e fechou a porta. Eu não queria nem imaginar o que as outras mulheres estavam pensando de nós.
— Acho que não precisa disso, não é? — perguntou, tirando o frasquinho de perfume da bolsa. Talvez não precisasse, mas só por garantia passei uma gotinha entre os seios e devolvi o frasco para ela. — Está com o colar?
Eu puxei o pingente com o localizador, que estava alojado no meu decote. Eu ainda não estava convicta do que era a coisa certa a se fazer.
— E seu pai? Era um demônio mau?
me encarou surpresa, antes de desviar os olhos, suspirando em irritação.
— Meu pai está morto. — Ela se curvou e tirou a faca que levava presa a coxa. — Fique com ela. É uma faca normal, não tem capacidade de matar um demônio, mas dá para ganhar tempo.
Eu enfiei a faca no cano da bota.
— Demônios deviam vir com um aviso na testa — resmunguei, saindo da cabine. Suspirei; eu precisava começar a agir antes que perdesse a convicção.
Saí do banheiro e passei os olhos pela pista de dança, mas parecia não estar em lugar nenhum. Eu me virei para ir até o bar, quando o avistei vindo em minha direção com um sorriso relaxado.
— Desculpe a demora. O banheiro estava meio cheio.
— Sem problemas. — Ele segurou minha mão, entrelaçando os dedos nos meus. — Quer beber alguma coisa?
Por que ele tinha que ser tão agradável? Isso dificultava as coisas para mim. Quero dizer, o jeito que ele agia era... natural demais. Não como os outros demônios, que forçavam na sedução só para me levar para cama. Ele nem mesmo tentara me enfeitiçar. Só agia como um humano perto de uma garota em quem estivesse interessado.
Eu precisava parar de pensar assim. Ele era um demônio e demônios nunca faziam coisas boas e desinteressadas. Eram maquiavélicos e manipuladores. Talvez essa fosse sua arma de sedução; agir como um homem que queria mais do que sexo.
— Não, obrigada.
— Quer sentar? — ofereceu, indicando o lounge, onde tinha vários assentos e ficava separado da pista por um vidro.
— Eu estava pensando em ir para um lugar mais... reservado.
Ele pareceu surpreso, mas eu captei em seu olhar alguma coisa que eu não consegui identificar. Decepção, talvez? Mas com o que? Eu não fazia ideia. Talvez eu tivesse me precipitado em não esperar pelo efeito do feromônio antes de fazer a sugestão.
— Claro. — Ele piscou algumas vezes, como se tentasse clarear os pensamentos.
acenou com a cabeça discretamente para mim, enquanto saíamos do clube. Nós tivemos que andar um pouco até onde o carro dele estava estacionado. Era uma adorável mini cooper laranja. Embora eu não fosse nenhuma obcecada por automóveis como , sabia apreciá-los. E era apaixonada por conversíveis.
— Tem algum lugar em mente? — perguntou, ligando o som num volume baixo. Meu coração quase capotou quando uma música de Brian McKnight preencheu o veículo.
Fiquei em dúvida do que responder. Eu e tínhamos preferência por lugares neutros, por isso havíamos pesquisados galpões abandonados e coisas do tipo na área. Mas esse tipo de sugestão só era oportuno quando o cara estava dominado pela luxúria, o que não era o caso. Então eu teria que arriscar e deixar que ele decidisse.
— Nenhum em particular. — Eu dei de ombros e ele sorriu, enquanto o carro ganhava velocidade.
Eu comecei a ficar hesitante quando alcançamos uma área residencial onde as casas eram verdadeiras mansões. Eu estava esperando que ele me levasse para um hotel ou apartamento. Como faria para entrar se tivesse alarme?
Num impulso, eu tirei discretamente o rastreador do meu pingente e o joguei pela janela. Poderia estar me iludindo a respeito de , mas preferia saber mais sobre ele antes de tomarmos uma atitude drástica. Talvez fosse um erro, afinal de contas, mas eu não queria ter minha consciência pesando o resto da vida pela incerteza de ter feito ou não a coisa certa.
Capítulo 4
Eu sabia que acabaria nos achando, cedo ou tarde, mas pelo menos eu teria um tempo para refletir sobre o que estávamos prestes a fazer.
Nós rodamos mais um pouco até entrarmos numa rua estreita, ladeada por muitas árvores. Apesar de não ter um bom senso de direção, eu tive a impressão de que rodamos mais do que o necessário para chegar lá. A casa ficava numa pequena elevação cercada por plantas de tudo quanto é tipo. Sem vizinhos por perto, o que era bastante conveniente para um demônio.
Eu notei que desativou o alarme quando entramos e não se deu ao trabalho de ligá-lo de novo, facilitando sem saber a passagem para . Se ela nos achasse, é claro.
A casa era linda, como teto alto, enormes janelas e portas de vidro. E, apesar da sofisticação, a decoração não passava aquela ideia de frieza que te faz temer esbarrar em alguma coisa e tirar do lugar. Havia até uma pequena desordem que evidenciava que a casa era habitada por um homem solteiro.
— Desculpe a bagunça — ele disse. Eu sorri, observando-o recolher algumas roupas de cima do sofá e jogara trás de um móvel. — A empregada se mudou para Busan e eu ainda não tive tempo de procurar por outra.
Ele andou até o bar e avaliou o estoque, escolhendo uma garrafa.
— Vinho? — sugeriu.
Eu assenti. Embora ainda pretendesse ficar sóbria, uma taça não faria mal.
Enquanto ele servia, andei até uma parede onde tinha vários quadros de fachadas de casas. Alguns pareciam esboços. Tentei ler a assinatura, mas não consegui entender a letra.
— Você é arquiteto? Ou engenheiro?
Ele sorriu, mas negou.
— Eu adquiro imóveis velhos e reformo. E então vendo.
Isso foi com um tapa na cara para mim. Eu nunca havia pensado em demônios levando uma vida normal, como as pessoas normais — mesmo conhecendo a história da vida de . Na minha mente, eu só os via em sua existência egoísta de alimentar a maldade no planeta. Esse fato me dizia que havia muito mais sobre eles do que eu havia imaginado e que talvez eu estivesse errada em condenar todos ao mesmo patamar de escória.
Ou talvez eu só estivesse tentando me agarrar desesperadamente a qualquer motivo para não matá-lo.
— Construiu essa casa? — perguntei, indicando o local que estávamos.
— Construí. — Ele deu um pequeno sorriso sem graça e andou até mim, me entregando uma das taças de vinho tinto. — Eu pretendia vender, mas não consegui. Acabei me apegando a ela.
Eu podia entender, já que a casa era absolutamente encantadora. E tinha uma vista linda. Mas parecia um pouco solitário ali.
— Você toca? — perguntei, indicando o lindo piano preto de cauda num dos cantos da sala.
— Costumava tocar.
Ele foi até o instrumento e deu um tapinha no banco para que eu me sentasse ao seu lado. Deixando a taça de lado, alongou os dedos e começou a tocar uma melodia familiar, embora eu não conseguisse lembrar que música era. Eu fechei os olhos e apreciei, até que ele errou o tom.
— É, acho que perdi a prática. — Sorriu, sem graça.
Ele se levantou e andou até um aparelho de som. Uma impressionante vitrola, que fazia um belo contraste com o mobília moderna. Jazz preencheu o ambiente quando ligou o aparelho. Ele me puxou para o meio da sala e começamos a dançar.
— Bem melhor do que aquela música barulhenta, não é? — sussurrou, sorrindo. O que fez minha atenção se voltar mais uma vez para aqueles lábios tentadores. Eu me estiquei e toquei seus lábios com os meus. Ele me apertou contra si, explorando minha boca lentamente.
À medida que o beijo ficava mais sensual, todo o resto ia perdendo importância para mim. Ele se afastou um momento para respirar e tirar a taça da minha mão. Então me puxou para o quarto.
me fez cair na cama e ajoelhou entre as minhas pernas. Ele me beijou, acariciando minhas coxas por baixo da saia. Sua boca deslizou pelo meu pescoço até o decote da blusa. Ele puxou uma das minhas pernas para cima da cama e tateou cegamente em busca do fecho da bota.
A faca! Meu coração deu um salto quando me lembrei da arma enfiada no cano da bota. Imediatamente abaixei a perna e puxei para cima. Ele me beijou com ainda mais ardor — se é que era possível — e eu o fiz deitar de costas na cama, me sentando em seu colo. Abri sua camisa e espalmei as mãos no peito definido. Ele aproveitou para abaixar o zíper da minha saia. Eu usei a oportunidade para me sentar na beirada da cama e tirar as botas, tomando o cuidado para que ele não visse a arma. Ele me puxou de volta, me jogando de costas na cama, e tirou minha saia.
Minhas mãos se atrapalhavam com o zíper da calça, quando minha visão periférica registrou um movimento sutil vindo da sala. tinha chegado. Sem pensar, girei para cima do para impedir que atacasse, mas era tarde demais. Eu ouvi o zumbido da bala e senti uma ardência no braço. Não estava certa do que aconteceu a seguir, se ele me empurrou ou se eu me desequilibrei quando ele levantou, mas senti uma dor aguda na bunda ao cair sentada no chão.
A próxima coisa que percebi foi algo grande e negro entrando numa super velocidade pela porta e atingindo . Ela foi tirada do chão e jogada contra a penteadeira, despedaçando o espelho com o impacto. Parado na frente dela estava o que a havia atingido. Um homem alto com grandes asas negras.
— ! — gritei, e tentei correr até ela, que despencou junto com o móvel, mas senti o peso de um corpo caindo sobre mim. . Eu me debati, tentando me soltar, mas ele segurou meus braços contra o chão, enquanto suas pernas prendiam as minhas. Minha força não era páreo para a de um demônio.
— Então, vocês são as malditas caçadoras?
Só então eu notei que não parecera nem um pouco surpreso com a aparição de . E muito menos com aquela criatura de asas. Ele devia ser o amigo que estava na boate e seguiu até ali. Os olhos de estavam frios, sem nenhum traço do homem encantador de alguns minutos atrás. Havia sido tudo falso? Algum tipo de plano para nos pegar numa emboscada? A mensagem de voz que havia recebido mais cedo — provavelmente mandada pela gárgula — reforçava essa ideia.
— Você sabia o tempo todo, não é? — cuspi as palavras, sacudindo meu corpo desesperadamente na tentativa de me soltar. Eu precisava saber se estava bem, mas não conseguia vê-la de onde eu estava.
— O que você acha? — respondeu com um sorriso de desdém brincando em seus lábios. De repente, alguma coisa o acertou na lateral da cabeça e ele oscilou. Eu deduzi que foi algo que jogou.
— Merda — ele praguejou.
Aproveitei para tentar rastejar para longe dele, mas pulou novamente em cima de mim. Eu gritei quando ele segurou meu braço e eu senti uma dor aguda que se espalhou por todo o membro. Ele ficou imóvel e eu torci o pescoço para vê-lo olhando para a própria mão cheia de sangue. Do meu sangue. Só então eu me lembrei do tiro que raspou no meu braço.
O barulho de um móvel quebrando veio da sala e me fez erguer os olhos em direção à porta aberta. A briga de e da criatura havia se transferido para lá.
— Que merda, eles estão destruindo a minha casa! — me soltou e correu para a sala. Eu me esforcei para ignorar a dor no braço e segui atrás dele, só parando para pegar a faca esquecida na bota jogada ao lado da cama.
Parei atrás de que olhava horrorizado para os dois que caíram em cima do piano.
— O piano não — gemi.
Ao mesmo em que as pernas do piano desabavam, a porta de vidro que levava à varanda se despedaçou. Estilhaços voaram para todos os lados. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, senti pulando em cima de mim e nós dois caímos meio protegidos pelo tampo de madeira de uma mesa virada.
— Péssima hora para uma visita — ele resmungou. Eu tentei ver o que era todo aquele barulho, mas ele me puxou para baixo. — Não faça isso!
— Que inferno está acontecendo?!
— Estamos sendo atacados. — Ele mal acabou de responder e algo semelhante a lâminas afiadas se enterraram no tampo da mesa. Eu quase pulei de susto. e o demônio não pareciam mais serem os únicos lutando. — Fique abaixada — ordenou, antes de se levantar e correr em direção à porta do quarto.
Eu me esgueirei para a lateral da mesa e tentei ver o que estava acontecendo. Pelo barulho, parecia que estávamos no meio de uma guerra. E realmente estávamos. Havia três criaturas esqueléticas de pele acinzentada e asas de morcego pairando pela sala e, pelo barulho que vinha do quarto, devia ter pelo menos um lá com . Era deles que saíam essas espécies de lâminas que teriam nos acertado se não fosse a mesa tombada. O demônio alado estava engajado numa luta com dois deles e tentava se esconder e atirar em outro. Ela se abaixou atrás de uma estante quando acabou a munição. Logo se ergueu com a espada na mão. Ela estava ocupada lutando com um, quando eu vi outro prestes a atacá-la por trás. Sem hesitar, eu me ergui, tirei a bainha da faca e a lancei. A faca fincou bem no meio das costas da criatura, que guinchou se contorcendo para tentar alcançar a objeto.
Notei o barulho de tiros vindo do quarto enquanto eu me esquivava em direção à cozinha; lá eu poderia encontrar alguma coisa para usar como arma. Estava a uns cinco passos da porta da cozinha, quando fui atingida por algo grande que me fez bater de lado na parede do corredor. Eu me virei, meio tonta pela pancada, e vi a criatura que havia me derrubado sendo atingida. Não parei para ver quem o havia acertado, só aproveitei para correr para a cozinha. Revirei as gavetas até achar as facas. Mal agarrei o cabo de uma e senti um movimento atrás de mim; era outra criatura. Havia mais daqueles bichos na casa do que eu havia calculado. Ergui a faca para acertá-lo, mas ele foi mais rápido e segurou meu pulso com sua mão esquelética. Ele torcia meu pulso com tanta força na intenção de me fazer soltar a arma que logo eu teria um pulso quebrado. Então, ergui a mão livre e enfiei os dedos em seus olhos com toda a força, pegando-o de surpresa. A criatura soltou aquele guincho agudo horrível e acabou me soltando. Eu tentei correr de volta para a sala, mas ele voou para cima de mim.
A próxima coisa que senti foram meus pés sendo tirados do chão e então meu ombro chocando contra algo duro. Só quando ouvi o barulho de vidro quebrando que me dei conta de que havia atingido a janela. Caí no quintal em cima dos cacos de vidro, que cortavam minhas mãos e joelhos. A criatura tinha caído a alguns metros de mim e estava prestes a me atacar de novo, mas o demônio alado apareceu e cortou a cabeça dele com um único golpe de espada. Uma espada idêntica a de . Será que ela estava bem?
O homem voltou para dentro de casa, enquanto a criatura ao meu lado começou a se decompor até virar pó. Eu tentei me levantar, mas senti uma forte pontada na coxa. Havia um pedaço grande de vidro enfiado na minha perna. Comecei a hiperventilar. Odiava ter que lidar com sangue. Principalmente quando era o meu sangue. Reunindo o que me restava de coragem, eu segurei o vidro e o puxei de uma vez só. Grunhi de dor, sentindo minha cabeça rodar, e me esparramei na grama.
— Você está horrível.
Abri os olhos, espantada, e vi recostado na lateral da casa, segurando uma arma ao lado do corpo. Ele também estava machucado e bastante descomposto, mas parecia mais másculo do que nunca.
— Obrigada — murmurei ironicamente. Só então me dei conta do silêncio dentro da casa. Aparentemente, a luta havia acabado.
— Devia ter ficado onde eu te deixei.
— E perder toda a diversão? — tentei rir, enquanto me sentava.
Ele se abaixou ao meu lado e analisou o estrago. Seus olhos desprovidos de emoção esquadrinhando meus machucados. Ele tocou minha bochecha, mas eu desviei quando senti a ardência. Agora que a adrenalina tinha acabado, todas as feridas espalhadas pelo meu corpo começaram a doer. Ele arrancou uma das mangas da sua camisa.
— Quem eram eles? — perguntei, observando-o passar a manga em volta da minha coxa.
— Demônios. — Ele amarrou o tecido na minha perna, para estancar o sangue.
— Isso eu sei. O que eu quero saber é o que eles vieram fazer aqui. — Ele aumentou o aperto. Eu gritei. — Merda, isso dói!
— O mesmo que você, aparentemente — ele respondeu, finalizando o torniquete improvisado.
— Mas por quê? — perguntei, entredentes.
Vi suspirar e se erguer.
— Por que você quer me matar?
— Você é um demônio. — Tentei dar de ombros, mas parei ao perceber que isso aumentava minha dor. Ele soltou um riso amargo.
— E isso me torna indigno de existir, não é?
Eu senti um aperto no peito, percebendo que e eu havíamos nos desviado do objetivo inicial de quando começamos a caçar demônios. Nós só queríamos proteger as pessoas, nos livrando dos demônios que causavam problemas. Mas, em algum momento nos últimos quatro anos, havíamos nos empolgado com nossos sucessos e perdemos o controle. Agora matávamos sem nos importar com quem eram ou o que faziam. Nós classificamos todos os demônios como inimigos e os caçávamos sem hesitação. Qualquer um que aparecesse no nosso caminho; culpado ou inocente.
— Devia matá-la. — Eu ergui os olhos em direção à voz e vi o outro demônio saindo da casa. — Lembre-se que ela planejou uma armadilha para te matar.
O demônio continuou atravessando o quintal em direção ao portão despreocupadamente. Apesar da pouca iluminação, eu pude ver o quanto ele era o bonito. As asas não estavam mais à mostra, então era possível ver os músculos do peito e dos braços com clareza. Quando voltei minha atenção para , ele apontava a arma para minha cabeça.
Eu fechei os olhos, a respiração acelerada. Não havia que o fazer, mesmo se houvesse, eu duvidava que teria forças para lutar. Ouvi o clique estéril da arma. Tornei a abrir os olhos e o vi dar de ombros, abaixando o braço.
— Parece que acabaram as balas. Deve ser seu dia de sorte.
Eu me deixei cair de costas na grama, tonta, tendo a vaga percepção de que ele se afastava. Dois disparos fizeram eu me erguer novamente, espantada. atirara em um demônio remanescente que se arrastava pelo gramado, sem a parte inferior do corpo, que logo se transformou em pó. Voltei a me deitar, sem querer pensar nas implicações do ato dele.
Algum tempo passou — talvez só alguns segundos, mas eu estava atordoada demais para ter noção dessas coisas — até que senti alguém se aproximando lentamente e desabando ao meu lado.
— . — Eu sabia que era ela antes mesmo de abrir os olhos. — Você está bem?
— Só um pouco melhor que você. — Ela tentou sorrir, mas parecia esgotada. — Nós temos que sair daqui. Alguém pode ter ouvido os tiros e ter chamado a polícia.
Ela tinha razão. Nós não teríamos como explicar o que tinha acontecido ali sem sermos levadas diretamente para o hospício.
Eu entrei na casa, que estava completamente destruída, para pegar minhas coisas, mas não consegui achar minha saia no meio da bagunça. Então vesti uma camisa do , que chegava até a metade da minha coxa. Por mais machucada que estivesse, eu não ia sair na rua só de blusa e calcinha. e eu saímos da propriedade nos apoiando uma na outra e andamos até onde ela havia deixado a moto.
— Acho que teria sido melhor se tivéssemos vindo de carro — ela resmungou, enquanto uníamos o resto das nossas forças para erguer a moto.
— Eu bem que falei.
Não era preciso olhar para ela para saber que revirava os olhos.
De alguma maneira, com um braço seriamente machucado, ela conseguiu nos levar até o hospital mais próximo. Nós praticamente desabamos na frente do hospital e fomos rapidamente socorridas. Depois de sermos devidamente cuidadas e medicadas, veio o interrogatório. Nós tivemos que inventar uma história sobre sermos abordadas por motoqueiros quando voltávamos da boate que nos forçaram a seguir até um galpão, onde acabamos brigando com eles para fugir. Houve muita discordância nas nossas versões, mas pelo menos eles pararam de nos questionar. Mesmo assim fomos obrigadas a fazer um BO e descrever pessoas que só existiam nas nossas imaginações.
— Eu me sinto como se tivesse sido atropelada por um caminhão — resmunguei, parando em frente à porta do nosso escritório, enquanto pagava o motorista. Nós havíamos passado a noite no hospital e decidimos voltar para casa de táxi, já que nenhuma das duas estava em condições de pilotar. usava a mesma roupa da noite anterior, que felizmente não havia sido tão danificada, e eu consegui improvisar um minivestido tomara que caia com a camisa masculina.
A chave de casa estava no bolso do casaco de , mas como estava impaciente para um encontro com a minha cama, eu girei a maçaneta. E, para a minha total surpresa, a porta abriu. Em um segundo, estava na minha frente, segurando a porta entreaberta.
— Espere — sussurrei, tocando seu braço. — Me deixe ir na frente.
— Por que eu deixaria? — murmurou de volta.
— Porque você está com um braço imobilizado e eu não.
Infelizmente, ela havia quebrado o braço. Sendo uma meio-humana, ela se recuperava mais rápido que um humano normal, mas ainda precisaria de alguns dias até estar totalmente recuperada.
— Mesmo só com um braço, eu ainda sou bem mais forte do que você com os dois.
— Não precisa jogar na cara — resmunguei, me encolhendo ao seu lado.
— Droga — ela exclamou depois de tatear os bolsos internos do casaco. — Eu não devia ter deixado as armas na casa daquele demônio.
Obviamente não tinha sido uma atitude inteligente, mas nós não estávamos muito racionais quando deixamos a casa.
começou a abrir a porta devagar, espiando lá dentro, mas de repente a escancarou e entrou. Eu imediatamente segui atrás quando notei que ela havia estacado.
— O que—
Parei atrás dela, em choque. O escritório havia sido destruído. Não havia nem um único móvel inteiro. Nenhum objeto parecia inteiro, para ser mais precisa. Quando vi indo para a cozinha, eu disparei para as escadas. Minhas esperanças morreram ao chegar lá em cima e ver que estava tão destruído quanto lá embaixo. Estava tudo quebrado e espelhado pelo chão.
— Meu Deus... parece que passaram aqui com um trator. A cozinha está igual. — Eu olhei para trás e vi carregando o gatinho branco apoiado no braço engessado. — Olha só quem eu encontrei.
— Arthemis! — Eu tentei pegá-lo, mas ela se esquivou.
— Pare de chamá-lo assim, se não vamos acabar tendo que pagar terapia para o coitado. — Ela avançou para dentro do quarto, passando os pés pelas coisas espalhadas no chão.
— Quem será que fez isso?
— Adivinha. — Ela debochou e se abaixou para pegar alguma coisa.
— Eles não estavam na melhor forma ontem à noite depois da luta. — Eu dei de ombros, tendo dificuldade para aceitar que e o demônio alado haviam feito aquilo. Eles tinham tido a oportunidade de nos matar, mas não o fizeram, então por que viriam destruir nossa casa? — E como eles iam saber onde nós morávamos?
— Eles são demônios, pelo amor de Deus! Além de se curarem rápido, devem ter seus próprios meios de descobrir essas coisas.
— Mas por que eles fariam isso, ? — insisti. — poderia me matado, ele ainda tinha munição, mas me deixou viva! E até estancou o sangramento na minha coxa!
Ela se voltou para mim, indignada, largando o gato assustado no chão.
— Dá para parar de defende-lo?! Qual a parte do “ele é um demônio” você não entendeu? Demônios são maus por natureza, eles tendem a matar e destruir mesmo se não tiverem um motivo para isso!
Eu engoli a réplica ao notar que ela estava ficando histérica. obviamente tinha os motivos dela para odiar os demônios, mas no fundo sabia que nem todos eram maus. Ela tinha que saber disso.
— Acha que é um aviso? — perguntei, indicando a bagunça. Ela puxou o ar com força, tentando se acalmar.
— Pode ser. Nós precisamos sair daqui antes que eles resolvam voltar e nos fazer em pedacinhos.
— Vou ver se sobrou alguma coisa aproveitável. — Eu respirei fundo, tomando coragem para me aproximar das madeiras empilhadas que até o dia anterior tinham sido um armário. saiu do quarto, enquanto eu juntava as poucas peças de roupa que estavam inteiras.
Achei o ursinho de no meio da bagunça. Ele estava degolado, mas poderia costurá-lo, então o coloquei junto com as roupas. Aquele ursinho velho e desbotado era seu último vínculo com a família. Fora isso não havia muito o que aproveitar. Juntei tudo numa trouxa de lençol e estava prestes a descer, quando pisei em algo que produziu o barulho de vidro esmagado. Eu afastei os entulhos e vi meu porta-retrato. Abri a moldura quebrada e tirei a foto em que aparecia minha mãe, eu quando criança e um buraco onde deveria estar o rosto do meu pai. Enfiei o retrato junto com as outras coisas e desci, arrastando a trouxa.
— Você não vai acreditar! — exclamou , quando me viu descendo as escadas. Ela parecia muito feliz para quem havia acabado de perder quase tudo. — Eles não tocaram na garagem.
Eu puxei a trouxa do último degrau e parei, atônita.
— O quê?
— A garagem está intacta! O carro, as armas, as ferramentas... está tudo inteiro! — Ela riu.
— Que ótimo. — eu disse, desanimada. Atravessei o escritório e peguei o notebook destruído. — Talvez dê para salvar o HD.
— Podemos ir?
— Falta o Arthemis.
Como se entendesse que estava sendo requisitado, o gatinho apareceu na escada.
— Bem na hora, Arthur. — andou até ele e o pegou no colo. — Nós vamos nos mudar. Não é legal? Você vai ter uma nova casa para explorar.
— E para onde nós vamos? — perguntei, me sentindo totalmente melancólica.
— Vamos ficar em um hotel até acharmos outra casa.
Eu assenti apaticamente. Precisava desesperadamente de um descanso antes de começar a pensar no nosso próximo passo.
Capítulo 5
— Roubaram o carro.
, ainda de pijama, parou no meio de um bocejo e com a mão que segurava a caixa de leite no ar a meio caminho da caneca. Assim como eu mesma, ela parecia estar demorando a assimilar o fato.
— Como assim?
— Roubaram! Levaram! Alguém foi lá e pegou nosso carro sem pedir permissão. E muito provavelmente sem a mínima intenção de devolver! — Minha voz foi assumindo um tom histérico à medida que eu falava.
Eu já havia me conformado com a ideia de me desfazer do carro, mas só por que nós precisávamos do dinheiro. Nós havíamos conseguido um pequeno apartamento na periferia. O preço era bom, mas a vizinhança não. O bom é que estava parcialmente mobiliado, mas não havia nada de bonito ou confortável. E ainda precisávamos comprar muita coisa. Agora, sem o carro para vender, as coisas ficariam ainda mais difíceis para nós.
— Não acredito. — Ela depositou a caixa na pia com tanta força, que fez esguichar um pouco de leite. — E a minha moto?
Eu revirei os olhos para a pergunta absurda. Havia tantas correntes prendendo a moto à grade, que só conseguiriam roubá-la se levassem a grade junto.
— Continua lá, intacta. — Eu peguei o bule na mesa velha de madeira e coloquei o resto do café do dia anterior numa caneca. Eu precisava de cafeína para não jogar tudo para alto e me jogar na cama, esperando que nossa sorte melhorasse miraculosamente.
— O que vamos fazer? — recostou na pia, parecendo frágil como eu não a via há muito tempo.
— Procurar emprego. — Eu fiz uma careta depois de tomar um gole do café frio, ainda mais triste ao pensar que ficaria ainda mais tempo sem poder comprar minha cafeteira elétrica. Depois de todos os prejuízos, nossa situação financeira estava totalmente no vermelho. — Podemos vender a moto.
— Por que não vendemos você para o mercado de escravas brancas?! — retrucou . Claro, porque a moto era mais importante que eu.
— Daqui a alguns meses a situação melhora e nós poderemos comprar outra moto — insisti.
— E eu posso arrumar uma nova melhor amiga agora mesmo. E de graça.
Assunto encerrado. Não havia como convencer a se desfazer da bendita moto.
Depois de tomar um café da manhã medíocre, nós saímos para nossa nova missão: conseguir trabalho. Foi um desafio usar o transporte público depois de tanto tempo tendo nosso próprio meio de transporte. Também tive que ir à delegacia e à seguradora, para resolver os assuntos sobre o carro roubado. Eles haviam me dado esperanças de recuperar o carro, mas eu preferia não contar com o ovo na barriga da galinha.
No fim do dia, nós duas estávamos exaustas de tanto andar em vão. Meus ferimentos estavam cicatrizando bem, menos o da coxa, que havia sido mais profundo, por isso estava demorando mais a sarar. E doía terrivelmente depois de um dia inteiro andando sem parar.
— Como está seu braço? — perguntei para que estava no box. Eu terminei de enxaguar minha boca e peguei o saquinho com medicamentos dentro do armário embaixo da pia.
— Melhor do que nunca.
Ela havia chegado reclamando de coceira no braço e resolveu arrancar o gesso. Felizmente, ele parecia já estar curado.
— De qualquer jeito, você poderia dar um pulinho no hospital amanhã. Só por garantia — disse, me sentando no vaso tampado para fazer o curativo da minha perna.
— E ter que explicar ao médico como meu braço ficou magicamente curado em uma semana? Não, obrigada.
Eu suspirei, sabendo que ela tinha razão.
— Eu só queria ter certeza de que seu osso colou no lugar certo.
— Você poderia ter se preocupado comigo antes de jogar o rastreador fora — ela comentou, bem humorada.
Gemi. Eu já havia me repreendido muitas vezes por isso desde aquela noite infernal. Se eu não tivesse feito aquilo, me localizaria mais cedo e talvez, só talvez, nós não estivéssemos lá na hora em que o ataque começou.
— Eu não estava pensando direito — resmunguei, terminando de fixar a gaze.
— Estava pensando sim. Em como aquele demônio gostoso se encaixaria bem em você.
— Cala a boca. — Eu joguei o rolo vazio de esparadrapo, que bateu no acrílico do box e caiu no chão.
Era bom rir depois de tanta tensão. E era bom ver rir também. Ela era a única família que eu tinha. Não família de sangue, mas família real, que se importa e está sempre por perto. Nós só podíamos contar uma com a outra. Minha vida teria sido muito mais difícil se eu não a tivesse conhecido, quando me mudei de Sidney.
Eu fui morar com minha avó materna no interior da Coreia aos seis anos, quando fiquei órfã. Como era a única outra aluna estrangeira na escola, nós acabamos nos aproximando e mais tarde descobrimos que tinham algo mais em comum: nós duas tínhamos pais demônios.
O pai dela era um demônio antigo que havia feito uma coisa excepcional, abriu mão da vida errante para viver com uma mulher. Os três viviam como uma família normal na Rússia, até que a casa deles foi invadida por demônios. A mãe dela ficou muito ferida e o pai conseguiu atrai-los para outro lugar. A senhora Belikov sobreviveu, mas o pai de não voltou e elas nunca souberam o que exatamente aconteceu com ele. Provavelmente havia sido morto. Então, depois de um tempo, elas se mudaram para a Coreia.
Já o meu pai era um caso a parte. Ele tinha uma família estável, uma boa casa e um bom emprego. Não havia nada do que reclamar. Mas ele não estava satisfeito; era ambicioso. Então, sacrificou minha mãe, literalmente, em busca de poder. E foi assim que se tornou um demônio.
A família da minha mãe não gostava muito de mim, apenas me toleravam. A mãe de morreu de câncer uns anos depois e ela então começou a pular de um lar provisório para outro. Quando estávamos com quatorze anos, nós fugimos para Seul e passamos a viver por conta própria. Foi então que começamos a pesquisar mais sobre os demônios e tomamos a resolução de dar um fim na existência deles. Não foi nada fácil chegar aonde chegamos, mas cada dificuldade havia fortalecido nossa amizade.
— Estou com fome — reclamou , me tirando dos pensamentos. — O que vamos comer?
— Vou pedir uma pizza — disse, juntando as coisas de volta no saco e me levantando.
— Acha mesmo que algum motoboy vai querer vir entregar aqui nesse lugar? De noite?
Poderia não ser um dos lugares mais seguros da cidade, mas também não era tão ruim assim.
— Não custa nada tentar. Ou então, podemos comer cereal. — Eu guardei os remédios no armário e saí do banheiro, ao mesmo tempo em que desligava o chuveiro.
Eu peguei o celular de no quarto, já que havia perdido o meu na casa do demônio, e fui em direção à cozinha ver o número da pizzaria. No caminho, notei uma mochila preta encostada no sofá e me perguntei se havia passado na nossa casa destruída para pegar alguma coisa. Provavelmente alguma de suas ferramentas.
Estava começando a digitar quando tive a estranha sensação de que havia alguém atrás de mim. Eu me virei, mas obviamente não vi ninguém. Quando voltei minha atenção para o celular, alguém me agarrou por trás e tapou minha boca, fazendo com que eu deixasse o telefone cair. Tentei me soltar, mas o atacante me segurava com força contra si.
— Eu vou te soltar e você vai ficar quietinha, ok? — sussurrou no meu ouvido. Eu gelei quando reconheci a voz. — Não vou te machucar.
Assenti, nervosamente, e ele começou a abaixar a mão que tapava minha boca. De repente, ouvi um grito vindo do banheiro. . Instintivamente, dobrei o joelho, empulsionando o pé para trás e acertei na virília. Ele afrouxou o aperto e eu escapei, mas antes que eu chegasse ao meio da sala, ele pulou em cima de mim. Nós caímos no chão e eu fiquei momentaneamente paralisada por ter batido o queixo no piso.
— Você me machucou! — eu reclamei, tentando empurrá-lo de cima de mim.
— Então estamos quites — exclamou, indignado. Sua testa estava franzida de dor. — Eu disse que não ia te machucar se você ficasse quieta.
— O que você fez com ? — perguntei, me lembrando do motivo que me fizera reagir.
— Eu estou aqui. — Eu ergui os olhos e vi minha amiga sendo trazida para fora do banheiro pelo demônio alado. Ela estava com o cabelo molhado despenteado e tentava segurar a toalha com uma mão. Pelo menos não parecia machucada.
— Sai de cima de mim — exigi. O outro demônio fez se sentar no sofá e só então eu notei que ele apontava uma arma.
— Com todo o prazer — retrucou sarcasticamente. Eu me levantei, sacudindo o pijama.
— Olha só o que você fez! — gemi quando vi o curativo que eu tinha acabado de fazer manchado de sangue.
— Eu disse para você usar a arma — falou o demônio alado para , que parecia estar tendo dificuldades para se levantar devido a dor nas suas partes baixas. Bem feito. — Sente-se ali. — Ele apontou para o sofá oposto ao que estava; devia achar que seria mais seguro nos manter separadas.
— Podemos conversar? — perguntou, finalmente de pé. — Civilizadamente?
— Se fossem civilizados mesmo, teriam batido na porta — resmunguei, pressionando o curativo na tentativa de conter o sangramento.
— O que vocês querem? — perguntou , mal humorada.
respirou profundamente. Eu pude perceber que ele estava tentando ser paciente.
— e eu estamos aqui para falar sobre o que aconteceu na minha casa há uma semana.
Eu enrijeci. E se ele quisesse que nós ajudássemos a pagar o prejuízo?
— Sobre o ataque dos sargassos, para ser mais específico — disse o tal do . e eu trocamos um olhar confuso.
— Posso pelo menos me vestir primeiro? — pediu , ajeitando a toalha.
— Não — respondeu, mal contendo um sorriso malicioso. Demônio safado. — Não temos tempo a perder.
— Então fala logo — me meti.
— Nós tínhamos achado que aqueles sargassos estavam atrás de mim, mas parece que nos enganamos — disse , indo apagar a luz da sala.
— Se não estavam tentando te matar, então o que faziam na sua casa? — perguntei. — Destruindo por puro prazer?
— Não — respondeu, impaciente. — Eles queriam sua amiga.
— O que? — Eu olhei para e vi que ela estava tão confusa quanto eu.
— Conhecem a história de Sparda? — perguntou . Nós duas negamos. — Sabem alguma coisa sobre a história dos demônios?
— Não muito — admiti. Ele e reviraram os olhos.
— Já imaginava. — andou até a janela e afastou ligeiramente a cortina para dar uma espiada lá embaixo.
— Há cerca de dois mil anos, Mundus, o Imperador do lugar que vocês chamariam de inferno...—
— Vocês realmente vieram do inferno? — interrompi, curiosa. me fuzilou com os olhos.
— O inferno não passa de um conceito cristão. — respondeu. — O mundo dos demônios é paralelo a esse, uma outra dimensão, não muito diferente dessa aqui.
Isso era totalmente novo para nós. A maioria das coisas que achávamos sobre demônios não passava de mitos e havia poucas pessoas que realmente sabiam um pouco sobre a existência deles. Nossa maior fonte de informações havia sido um caçador de “vampiros”, que nos ajudava a conseguir as armas especiais.
— Como eu estava dizendo — continuou , — Mundus decidiu que queria dominar o mundo dos humanos. Ele reuniu o exército, mas um de seus generais se rebelou contra ele e trancou o portão entre os mundos, para preservar a humanidade.
— Desde então, é impossível transitar entre as dimensões — completou.
— Quer dizer então que mais nenhum demônio passou para esse lado. Certo? — perguntei, pensativa. concordou. — Então, vocês já devem ter alguns milênios de idade, né?
— não é um demônio — disse , parecendo irritado com a minha dispersão. — Ele é um anjo caído.
— E não é isso que todo demônio é? — perguntou , ecoando meus pensamentos.
— Não — respondeu em um tom impaciente. — Mas isso não vem ao caso agora.
— Sparda é o único que pode abrir o portal, por isso os demônios estão se unindo para tentar achá-lo — resumiu .
— Ok — disse lentamente. — Mas eu ainda não entendi onde eu entro nessa história.
— Você deve conhecer Sparda como... — fez uma pausa e se virou, olhando bem nos olhos de . — Ivan Belikov.
Eu vi empalidecer e se recostar contra o encosto do sofá velho. Eu mesma senti o sangue fugindo do meu rosto.
— Então foi meu pai que... — Minha amiga parecia estar tendo dificuldades para digerir a nova informação.
— Sim, foi ele quem selou o portal — esclareceu . — E agora os demônios querem te usar com isca para obrigá-lo a aparecer e abrir a passagem.
— Mas meu pai está morto.
— Existem evidências que nos levam a crer que ele continua vivo — disse , afastando-se da janela.
— Então vocês vieram aqui para nos contar isso? — perguntei, ainda não entendendo totalmente as implicações do que havíamos acabado de saber.
— Não — respondeu. — Nós viemos para levar vocês.
— Nos levar para onde? — se ergueu, apertando a toalha contra o corpo, todos seus sentidos em alerta.
— Para longe daqui — esclareceu. — Assim como nós achamos vocês, os outros não vão demorar a achá-las também.
— E vocês não vão ter a mínima chance contra eles — apontou , com um pequeno sorriso de desdém.
Eu olhei para , esperando por sua reação. Como ela era o assunto principal ali, eu achei melhor deixá-la tomar as decisões sozinha.
— Estão dizendo que vocês assumiram a tarefa de nos proteger? — ela perguntou, desconfiada.
— Não sei se você entendeu, mas se o portal for aberto, a humanidade será destruída em um piscar de olhos — disse .
— O que ele quer dizer é que não estamos fazendo isso por vocês — esclareceu . — Mas pelo mundo.
— Uau, isso é reconfortante! — eu exclamei ironicamente. — Ir para não sei aonde com demônios que não dão a mínima para nós!
— Como vamos saber se são confiáveis? — exigiu . — Vocês invadem nossa casa, contam uma historinha que pode muito bem ser inventada e esperam que sigamos vocês cegamente. Pode muito bem ser uma armadilha.
suspirou cansado e fez um gesto para que tomasse a palavra.
— Olha, eu não me importo se vocês acreditam ou não. Vocês vão vir conosco e ponto. Nós podemos fazer isso da maneira mais fácil ou da mais difícil. Só depende de vocês.
ficou me olhando com uma expressão ausente por vários segundos antes de voltar a falar.
— Se é assim, então, eu vou com vocês. Mas só eu. fica.
Eu olhei para ela de queixo caído. Ela achava mesmo que eu ia deixá-la?
— De jeito nenhum! — protestei.
— Vocês podem nos dar um minuto? — ela pediu, me lançando um olhar irritado. Ela detestava ser contrariada.
— Você não vai me convencer — eu disse, me erguendo para confrontá-la. E daí que eu era só uma humana fraca? Ela era uma irmã para mim e eu ficaria ao lado dela, independente da ocasião. Ainda mais se sua vida estivesse em risco. — Não pense que pode me deixar para trás. Eu não vou deixar você ir sozinha com eles.
— Nós não vamos deixá-la para trás — afirmou , se virando para . — Porque, do mesmo jeito que eles querem te usar para atrair Sparda, eles podem pegar sua amiga para atrair você.
— Então agora a vida dela está em risco por minha causa?! — passou os olhos de um para o outro lentamente e então disparou para o quarto, batendo a porta com força.
— Ela vai voltar — eu disse em resposta aos olhares questionadores. — Como vocês planejam proteger ? — perguntei depois de algum tempo de silêncio constrangedor.
— Tirando vocês daqui o mais discretamente possível.
— E como vão fazer isso?
— Só para deixar claro, — de repente abriu a porta do quarto, já vestida, — eu não vou a lugar nenhum sem minha moto.
— Sinto muito, mas não pode levá-la — disse .
— Eu não vou largar a moto aqui. — Ela cruzou os braços, irredutível.
— Se me der a chave, posso guardá-la num lugar seguro. — andou até ela e estendeu a mão.
considerou por um tempo antes de, relutantemente, entregar o chaveiro.
— As chaves menores são dos cadeados. E se houver um arranhão, por menor que seja, eu arranco sua cabeça!
— Parece justo. — Ele sorriu e guardou as chaves no bolso da calça. Eu pisquei. Ele já era lindo, mas ficava ainda mais quando sorria.
— Sobre a nossa partida... — começou , captando de volta nossa atenção. — Vocês não podem falar nada para ninguém, nem por telefone, nem e-mail, nem deixar recados, nada. Também não vão poder levar muita coisa. Vocês simplesmente vão sumir sem deixar rastros. Entenderam?
Parecia muito arriscado. E se eles estivessem mentindo? Poderiam nos matar sem deixar pistas. Eu olhei para , mas ela parecia tranquila.
— Você acredita neles? — sussurrei para ela, mesmo sabendo que eles estavam totalmente concentrados em nós duas.
— Tenho que acreditar. — Ela deu de ombros. — Eles poderiam ter nos matado, mas não o fizeram.
— E vocês vão ter que se separar — disse , parecendo irritado por estarmos cochichando.
— O quê?! — exclamamos.
— Os demônios conhecem vocês, sabem que estão sempre juntas.
— Então, nos separar vai ajudar a despistar — deduziu .
— Exato. — andou até a mochila que eu vira antes e a colocou em cima do sofá, ao lado de . Então foram eles que deixaram a mochila ali antes de nos atacar...
— Eu não estou gostando disso — falei.
— Relaxa. — começou a mexer na mochila. — Quando chegarmos ao nosso destino, vão poder ficar juntas de novo.
— E onde é nosso destino? — perguntou minha amiga.
— Vão saber quando chegar a hora — ele disse.
— Isso já está ficando chato. — resmungou, se erguendo.
— E o Arthemis? — perguntei, vendo a bolinha de pelos que espiava com cautela os intrusos.
— Quem? — ergueu os olhos da mochila, com a testa franzida.
Eu mal comecei a erguer o gatinho e espirrou violentamente. Era só o que me faltava, ele ser alérgico!
— Os vizinhos podem cuidar dele — sugeriu , dando de ombros com pouco caso.
— De jeito nenhum! — protestou , que havia se apegado ao bichinho. — Ele é só um bebê e nós não vamos abandoná-lo!
— Ele não vai conosco — afirmou , depois de espirrar mais três vezes. — Sem chance.
— Eu não saio daqui sem ele — eu disse, segurando firme o gatinho. se colocou ao meu lado.
— Sem o Arthur, nós não vamos.
se afastou para o canto oposto da sala em meio aos espirros e se voltou para trocar um olhar com , como que pedindo ajuda. O anjo caído suspirou pesadamente.
— Tudo bem. Eu levo o gato maldito — concedeu, se aproximando para tirar o gato do meu colo.
~Continua~
N/A: Oii, quanto tempo!! ^^'
Eu achei que já tinha postado esse capítulo, sorry... :3
Notaram a referência a Devil May Cry? É que criatividade não é muito meu forte xD
O que acharam do capítulo? *-*
Eu to meio travada agora, porque ainda não tenho certeza de como as coisas vão prosseguir. Estou aceitando sugestões ^^'
~Nikki
Gostou? Então, curta e deixe um comentário!
continua! ta perfeita! primeira fã! ^^
ResponderExcluirOwn! *o* Mto obrigada por comentar e desculpe a demora^^ O próximo capítulo deve ser postado até o fim de semana ^^
Excluiramei, amei! unnie continua! ta perfeita :3
ResponderExcluirQue bom que gostou! *--* 3º capítulo tá vindo aí ^^
ExcluirEsperando ansiosa *--* :3
Excluirenfim o bias apreceu, rsrs, quando sai o proximo capitulo, mal posso esperar
ResponderExcluirOi o/ Eu estou tentando ajeitar as coisas pra postar nesse fds, mas se não der, com certeza vai ser postado no próximo!! Obrigada por comentar *-*
Excluircomecei a ler hj e adorei, muito perfeita.
ResponderExcluirquem destruiu a casa delas foi ele mesmo? será? acho que não, esperando pelo próximo capitulo :3
Own, fico feliz que esteja gostando *-* Mto obrigada pro comentar *-*
ExcluirSuspense até o próximo capítulo~ heheheh ^^
Esperando ansiosamente pela continuação. <3
ResponderExcluirEspero que goste desse capítulo! *-*
ExcluirContinuaaa
ResponderExcluirEm breve =*
ExcluirVc tem talento :3
ResponderExcluirContinua? Please <3
Ela é perfeita *----*
Esperarei até o fim de minha vidaaaaaaaaaaa
Obrigada, floor! *-*
ExcluirPretendo continuar sim, essa fic é meu xodó <3 Só preciso parar pra colocar minhas ideias no lugar ^^
Obrigada por comentar!
bjuss