GENIE
por Pâms
"O que imaginar quando se perde sua amada esposa e com dois filhos para criar, a vida lhe dá uma segunda chance?!
Mesmo que esta chance seja um pouco louca, você deve apenas aproveitar!"
Gênero: Comédia Romântica
Dimensão: Longfic
Classificação: PG-15
Aviso: POV / Songfic - Personagem Jullie, Mike, Sr. Finn, John, Hayley, Mary, Sra. Smith, Kyle, Charlot e Penny são fixos.
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# Prólogo # Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 # Capítulo 6 # Capítulo 7 #
# Capítulo 8 # Capítulo 9 # Capítulo 10 # Capítulo 11 # Capítulo 12 # Capítulo 13 # Capítulo 14 #
# Capítulo 15 # Capítulo 16 # Capítulo 17 # Capítulo 18 # Capítulo 19 # Capítulo 20 # Capítulo 21 #
# Capítulo 22 # Capítulo 23 # Capítulo 24 # Capítulo 25 # Capítulo 26 # Capítulo 27 # Capítulo 28 #
PRÓLOGO
Mais um dia parado em minha vida, uma rotina de tédio e monotonia que realmente parecia que eu viveria o resto da minha vida ali, trancada naquele pequeno espaço sem viver novamente. Jogada na cama olhando para os arabescos que compunham a pintura do teto, eu já havia esquecido quando aquela pintura tinha sido feita, talvez precisasse de um retoque ou algo novo por cima, mas me sentia tão desanimada para isso e outras coisas. Tombei minha cabeça para o lado e suspirei fraco ao desviar meu olhar para os poucos livros que compunham minha biblioteca particular, aquilo me fez lembrar a histórica e monumental de Alexandria.
— Não, não , estes pensamentos não podem tomar conta desta mente. — ergui meu corpo e desviei meus olhos para a mesa de refeições — Bem que este lugar poderia ser um pouco mais espaçoso e divertido.
Durante minha infância sempre ouvi minhas irmãs dizendo que iria passar a maior parte da minha vida sozinha, nunca acreditei nelas até que de fato fiquei sozinha. Sentimentos de solidão estão sendo minha única companhia, se eu pudesse pedir algo neste momento, seria por uma vida mais alegre e animada, por companhia de verdade que me fizesse esquecer os anos de silêncio vividos neste lugar tão pequeno.
— Bem, o que posso fazer hoje? — perguntei para mim mesma me espreguiçando da cama — Acho que vou ler um livro para passar o tempo, de novo. — assim que levantei da cama senti um leve tremor. — Oh, será que?
A cada instante o tremor ficava ainda mais intenso, era estranho estar acontecendo aquilo, já que fazia anos que isso não acontecia, olhei assustada para os móveis se movendo e tudo caindo ao meu redor.
— Oh céus, isso não vai parar?
"Conte-me seu sonho
Conte-me os pequenos desejos em seu coração."
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 1
* POV
Horas e vôo, check-in e liberações dos passaportes, estava totalmente cansado de tudo aquilo, mais uma vez eu havia sido a salvação daquela empresa que em certos momentos me tirava a tranquilidade. Mas como um homem com dois filhos e sem esposa, poderia jogar sua carreira profissional no lixo sem pensar em suas responsabilidades? Respirei fundo assim que saí do táxi que tinha estacionado em frente ao prédio da empresa, ainda com minhas malas pois nem poderia passar em casa antes. Deixei as malas na recepção com a senhorita Hayley, que era sempre simpática comigo, não entendia muito porque não tínhamos nenhum tipo de intimidade, mas ela sempre ficava com meus filhos quando eles iam me visitar na empresa.
Meus filhos, ando sentindo a falta deles, mesmo Jullie tendo dez anos e Mike tendo oito anos, eles demonstram ainda sentir saudades da mãe, e para pior não tenho dado tanta atenção a eles. Não os recrimino, pois também sinto falta da minha linda esposa que nos deixou forçada por uma doença, se eu tivesse um pedido para fazer naquele momento, seria para trocar de lugar com ela e sentir sua dor.
— ?! — disse uma voz grossa vindo atrás de mim.
— Hum? — eu me virei — Ah, Jonh, que bom que está aqui, trouxe o relatório que precisávamos.
— Uah, que bom, e como estava a filial de Los Angeles? — perguntou ele pegando a pasta da minha mão.
— Não muito amigável, a maioria dos funcionários estavam fazendo greve e ouve alguns desvios de recursos que causaram todo o caos. — respondi indo em direção ao elevador.
— Que bom que temos você para resolver estes problemas, você é um cara que sabe solucionar problemas. — ele brincou me seguindo.
— Vou acreditar no seu elogio. — ri apertando o botão do elevador.
Não deixava de ser correto o que ele estava falando, mas depois de sete anos trabalhando naquela construtora eu desejava ser bem mais que o arquiteto que resolvia os problemas com funcionário e gerenciava obras mal iniciadas. E era isso que eu tinha feito em Los Angeles, por acaso descobri que um dos gerentes tinha desviado o dinheiro das obras e por acaso seria eu que teria que resolver este problema e conseguir render o pouco que tinha sobrado. E depois de dois meses longe de casa ainda não poderia voltar sem antes dar as devidas notícias para o diretor geral da construtora, acho que se eu não tivesse toda a responsabilidade e se aquele idiota do não fosse o genro do dono, o senhor Finn, eu realmente já teria socado a cara dele.
— Ah, aí está o homem das soluções. — disse ao se levantar da sua cadeira que parecia mais um trono, sua cara de deboche e ironia era a mesma de quando o conheci na universidade.
— Sabias palavras. — concordou Jonh ao entrar comigo esticando a pasta para .
— Aí estão todos os relatórios e cronogramas, as obras foram retomadas e os trabalhadores já receberam seus honorários. — disse de forma direta e resumida — Agora vou para casa, se tiver alguma dúvida amanhã chegarei após o almoço.
— Hum, tudo bem. — ele abriu a pasta olhando os papéis — Fez um bom trabalho como sempre.
Eu saí da sala antes que usasse a oportunidade para tirar minha pouca paciência, ele já tinha tirado tanta coisa de mim. Na volta da recepção peguei minha mala e antes de sair, fui parado pela senhora Smith, minha secretária, ela tinha guardado muitas correspondências que chegaram nesses dois meses, mas infelizmente eu não esperaria buscar e chamei um táxi. Vinte minutos parado por causa do trânsito e finalmente estava em frente a minha casa, um pouco modesta e de dois andares, em um bairro de classe média de New York, todas as vezes que olhava para aquela varanda me lembrava de minha esposa Mary e de como ela gostava de cuidar das plantas do jardim, ela era a melhor paisagista que eu conheci.
Caminhei com minha mala e entrei em casa fechando a porta, estranhei o silêncio, mas logo me lembrei que as crianças certamente estavam na escola, olhei para o velho relógio do pai de Mary, que ficava na parede da sala, ainda faltava duas horas para as crianças voltarem. Peguei novamente minha mala e subi as escadas, entrei em meu quarto e a abri, coloquei as roupas sujas no cesto e as limpas no armário, passei alguns minutos meio distraídos em meus pensamentos, mesmo com a morte de Mary tendo feito cinco anos, eu ainda não conseguia deixar de pensar nela e sentir sua falta.
Foi neste momento que percebi que tinha um objeto a mais em minha mala, objeto esse que eu não conhecia sua origem, era uma garrafa estranha e meio arredondada na base, toda roxa com alguns traços rosa, achei estranho a primeiro momento, mas depois vi um bilhete amarrado nela.
— Boas pessoas merecem segunda chance. — li em voz alta — Isso não faz sentido.
E não fazia mesmo nenhum sentido, coloquei a garrafa em cima da escrivaninha do meu quarto, retirei minha camisa indo direto para o banheiro, uma ducha bem quente me esperava e eu demoraria o máximo de tempo que pudesse. Vesti roupas confortáveis e voltei para cozinha, o jantar seria especial para minha volta, dois meses longe dos dois motivos para eu continuar vivo. Passei um bom tempo preparando tudo até que ouvi um barulho vindo da sala, e logo a calmaria que existia foi quebrada por gritos de felicidade de ambos em me ver.
— Papai, estávamos com saudade. — disse Jullie ao me abraçar apertado.
— Sim. — concordou Mike pulando em minhas costas.
— Ah, como estão fortes e animados. — eu sorri para eles um pouco e olhei para a porta da cozinha — Olá mãe.
— Que bom que voltou meu filho. — ela sorriu de leve — Como passou esses meses?
— Sobrevivi. — brinquei e olhei para Mike — E vocês? Espero que tenham se comportado.
— Claro papai. — Jullie fez uma de suas caras de inocente que não me enganava nenhum pouco.
— Mas estamos felizes por ter voltado. — completou Mike — O senhor cozinhou papai?
— Sim, um prato especial para vocês.
— Oba. — disseram em coral.
— Bem, eu vou indo para casa.
— Não vai jantar conosco? — perguntei confuso por sua partida.
— Não, seu pai está me esperando, eu liguei mais cedo para sua empresa e me disseram sobre seu retorno, então vim para trazer eles.
— Mande um abraço ao pai.
— Sim. — ela olhou para as crianças — E vocês? Quero um abraço de cada um.
— Até amanhã vovó. — disseram eles a abraçando.
— Até. — minha mãe sorriu de leve e saiu pela porta da sala mesmo.
— Quero vocês dois no banho e roupas limpas para o jantar. — anunciei — E tem que ser rápido pois está quase pronto.
— Sim senhor. — disse Jullie batendo continência de leve rindo.
— Olha mocinha.
Ela e Mike saíram correndo em direção a escada, eu ri um pouco, estava mesmo com saudades daquela alegria que eles me proporcionavam. Assim que terminei de tirar a travessa de lasanha do forno eles desceram para a cozinha, nos sentamos à mesa, agradecemos pela refeição e nos saboreamos do nosso jantar.
— Então, podem ir me contando tudo que aprontaram nesse tempo que estive fora. — disse servindo nossos pratos com generosos pedaços.
— Hum, não aprontamos nada papai. — Jullie sorri de leve e piscou para Mike.
— Sim, nos comportamos como pediu. — ele segurou o riso concordando com a irmã.
— E eu não conheço vocês. — eu ri me sentando na cadeira — E a escola?
— Tirei A positivo em matemática. — Jullie respondeu mais que depressa pegando seu garfo.
— Parabéns, sabia que esta sua mente fértil não servia somente para travessuras. — brinquei um pouco fazendo ela rir.
— Eu também tirei A. — Mike me olhou — Em educação física, sou o melhor em esportes.
— Olha só o aluno medalha de ouro. — Jullie o olhou como se estivesse o provocando.
— Serei sim, o melhor do time da escola. — ele a olhou de volta e mostrou língua.
— Yah, vocês dois. — eu ri de leve — São boas notícias e estou orgulhoso disso.
— O senhor não vai viajar mais, não é? — perguntou Jullie.
— Não sei querida. — respirei fundo, não sabia mesmo a resposta.
— E quando vamos terminar nossa casa da árvore? — Mike me olhou com uma carinha de decepção — O senhor prometeu que seria antes do meu último aniversário.
— Sei que estou em falta com vocês, mas prometo que vou compensar. — olhei para eles — E nada de cara triste, eu vou mesmo terminar aquela casa.
— Por que será que não acreditamos. — resmungou Jullie.
— Ei mocinha, e desde quando eu deixei de cumprir uma promessa? — perguntei.
— Desde quando a mamãe morreu. — respondeu Jullie.
Desviei meu olhar para o prato, não sabia o que dizer para desfazer aquela má lembrança que pairou em nosso jantar. Eu realmente estava em falta com meus filhos e precisava reparar toda ausência que meu emprego forçava, eu tinha que ser mais presente, só não sabia como. Após o jantar sentamos na frente da televisão e começamos a ver um desenho, minutos depois nós três já estávamos apagados no sono, fui o primeiro a acordar e levei ambos para seus quartos. Senti algumas dores em minhas costas, acho que estava mesmo ficando velho ou meus filhos que estavam crescendo rápido demais.
Entrei em meu quarto e fechei a porta, peguei meu pijama e o vesti tranquilamente, quando fui fechar a janela olhei para a escrivaninha, aquela estranha garrafa estava diferente e tinha mudado de cor, talvez fosse algum efeito por causa da luz ou algo do tipo. Eu a sacudi um pouco para saber se tinha algum líquido dentro, mas não consegui ouvir nada, achei meio estranho e ainda não entendia qual era o significado do que estava escrito naquele bilhete. Deixei a garrafa novamente em cima da escrivaninha e me deitei, assim que apaguei a luz a porta do meu quarto se abriu, liguei a luz novamente, era meus dois filhos.
— Papai. — Mike estava encolhido atrás da sua irmã.
— Venham. — disse, sabia que eles queriam dormir comigo.
Eles pularam na cama, cada um de um lado, me deixando no meio, eu apaguei a luz do teto e deixei o abajur ligado para iluminar um pouco o quarto, ambos se aninharam em meus braços e em poucos minutos pegamos no sono novamente. Eu pedi o sono pouco antes de amanhecer e para não acordá-los antes da hora habitual dele, saí do quarto e desci as escadas, fiquei na sala lendo o jornal do dia anterior durante aquele tempo. Assim que o sol saiu, ouvi um grito vindo do meu quarto, me levantei no susto da poltrona que ficava perto da janela e subi correndo as escadas.
“Ei me diga o que você precisa
Diga-me o que você espera.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 2
* POV
Eu estava desesperada com tantos tremores em pouco espaço e tempo, até que uma forte luz apareceu e tudo começou a se transformar em fumaça. Eu só havia experimentado aquela experiência uma vez na vida e há muito, muito, muito tempo atrás, com meu coração acelerado e tremendo, estava com medo do que fosse encontrar quando abrisse meus olhos.
— Ahhhhhhhh!!! — duas vozes gritaram em um coral.
Mesmo com receio abri meus olhos e me deparei com duas crianças, meu corpo congelou no mesmo momento, não sabia como reagir nem o que fazer, elas usavam uma roupa estranha, não parecia com as que um dia eu já tinha visto. Ficamos por alguns segundos nos encarando até que percebi a aproximação de uma terceira pessoa, eu fechei os olhos e estalei os dedos, assim literalmente como uma fumaça me transportei para um objeto de madeira guarde que tinha encostado na parede, foi o primeiro lugar pra onde olhei, minha sorte é que estava com uma pequena fresta por onde passei.
— O que aconteceu? — perguntou ele entrando no quarto recuperando o fôlego — Vocês estão bem?
— Sim. — a menina se virou para ele colocando as mãos para trás, percebi que ela estava com minha garrafa nas mãos.
— Tem certeza? — insistiu o homem olhando por todos os lados, tinha traços de preocupação em seu olhar.
— Sim. — o menino que estava com a tampa da minha garrafa também colocou a mão para trás e riu — Só estávamos competindo para ver quem gritava mais alto.
— Hum, por que será que desconfio de vocês sempre. — o homem era alto e tinha uma face até bonita, seus olhos eram profundos mas com leves traços de tristes.
— Pode confiar. — a menina sorriu de leve para ele.
— Papai, estamos com fome.
— Tudo bem, arrumem a cama e troquem de roupa. — o homem sorriu de leve e saiu do quarto fechando a porta.
Eu achei estranho o modo de falar deles, mas estava começando a imaginar que não estávamos mais na Grécia Antiga. A menina se virou para o objeto em que eu estava e caminhou até ele o abrindo, eu respirei fundo e sai dele olhando para eles.
— Uah. — disse a menina — Quem é você?
— Eu? — eu dei uma risada rápida — Vocês tocam minha porta e sou eu quem devo me apresentar?
— Sua porta? — o menino riu — Como assim?
— É essa tampa que está em sua mão. — eu peguei a tampa dele — É minha porta, e essa garrafa minha casa. — eu peguei a garrafa de volta.
— Você mora dentro da garrafa? — a menina me olhou desacreditada e boquiaberta.
— Sim. — assenti com satisfação, afinal minha casa era pequena e apertada, mas era minha.
— E como? A fumaça?
— Ah. — eu suspirei de leve me lembrando dos ensinamentos que tive com minha irmãs, era estranho depois de muito tempo eu ser despertada novamente, nunca fui a melhor filha da família — Bem, me desculpem minha falta de prática, é que esta é minha segunda vez.
— Segunda vez do que? — perguntou a menina fazendo uma cara estranha.
— Eu sou , seu gênio pessoal. — expliquei — E posso te realizar alguns desejos.
— Gênio pessoal? — disseram eles em coral.
— Sim. — confirmei.
— Isso explica essa roupa estranha que você veste. — o menino riu um pouco.
— Hum. — eu fiz cara de novo — Olha só quem fala.
— Nossas roupas são normais. — a garota ainda ria — Mas se você é um gênio de verdade, não deveria conceder somente três desejos?
— É verdade, assim como o gênio do Aladim.
— Ala, quem? — eu olhei para ele.
— Aladim, é um garoto pobre que encontra uma lâmpada mágica com um gênio. — explicou ele — É um desenho da Disney.
— Ah, bem. — eu fiquei tentando entender sobre o que ele falava — Eu não conheço esse tal de Aladim e nem o gênio dele, menos ainda essa Disney, mas gênios que dizem que só podem conceder três desejos são trapaceiros.
— Uah, verdade? — a menina me olhou impressionada.
— E você pode fazer qualquer coisa?
— Não exatamente, infelizmente todos temos nossos limites. — eu olhei para eles — Mas como vocês acharam minha casa? — estava curiosa.
— Não sabemos, estava com nosso pai. — respondeu a menina.
— Aquele homem que estava aqui com vocês?
— Sim. — assentiu o menino me olhando de forma curiosa — Posso fazer um pedido?
— Claro, faz tempos que ninguém me pede nada. — eu sorri para ele.
— Eu quero um xbox one.
— O que é isso? — perguntei meio confusa.
— Você não sabe? — o menino me olhou com uma cara de indignado como se fosse um pecado eu não saber.
— Ah. — a menina olhou para ele — É claro que ela não vai saber o que é.
— Já percebi que perdi muita coisa nesse mundo.
— Jullie, Mike, onde estão vocês? — a voz do homem soou como um grito.
— Nosso pai. — disse a menina ao olhar para porta, será que era a Jullie?
— Sim, mas o que vamos fazer com ela? — o menino me olhou.
— Como assim o que vão fazer comigo? — eu olhei com um pouco de medo.
— Calma, não vamos te fazer nenhum mal. — a menina riu — Mas se nosso pai te ver aqui, ele vai te mandar embora.
— Eu me apresento para ele. — disse como uma solução para o problema.
— E aí ele liga para polícia. — o menino suspirou fraco, fiquei me perguntando o que seria essa tal polícia.
— Você vai ter que voltar para sua garrafa e ficar nela até pensarmos em algo. — a menina pegou a garrafa da minha mão — É o único jeito.
— Ah, não, não quero voltar para a garrafa. — eu caminhei até a cadeira e me sentei nela — Vou ficar aqui.
— Por favor, antes que o papai volte. — ela fez uma carinha tão fofa que não consegui recusar o pedido.
— Tudo bem, mas terão que me soltar de novo.
— Prometemos. — assentiu ela esticando a garrafa para mim.
Mesmo contrariada fechei meus olhos estalando os dedos e como fumaça me transportei para a garrafa, ao chegar senti a menina colocando minha garrafa em cima de algo e logo o barulho da porta se fechando. Mais uma vez eu estava sozinha dentro do meu pequeno espaço, porém com a certeza que não ficaria ali dentro por muito tempo.
* POV
Eu estava desconfiado da demora das crianças, eles estavam aprontando alguma coisa tinha certeza, arrumei todas as coisas que preparei sobre a mesa e os chamando novamente, ouvi o telefone tocando. Caminhei até a sala e assim que peguei no telefone as crianças passaram por mim correndo.
— Cuidado ou vão derrubar a casa junto. — disse a eles e colocando o telefone no ouvido — falando.
— Finalmente atendeu. — disse Jonh na outra linha.
— O que você quer? — perguntei estranhando a ligação — Disse que só iria depois do almoço, hoje é sexta e vou aproveitar que meus filhos não tem aula para passar a manhã com eles.
— Infelizmente terei que estragar seus planos. — disse ele num tom sério.
— O que aconteceu? — a preocupação estava surgindo em mim — Qual o problema da vez?
— Então, estamos com um problema na obra da galeria de arte, me parece que o engenheiro estrutural fez um cálculo errado e uma das fundações está comprometida.
— E isso quer dizer que só eu posso resolver? — eu perguntei já ficando nervoso — é o arquiteto responsável, não deveria ser ele?
— Sabe que só está nessa empresa para fazer cena. — retrucou ele — Se não fosse mesmo sério nem te ligava, você sabe disso.
— Tudo bem, vou tentar encontrar alguém para ficar com meus filhos. — eu desliguei o telefone e respirei fundo querendo explodir aquela construtora.
Quando entrei na cozinha meus filhos estavam parados ao lado da mesa me olhando com aquele olhar frequente de decepção e a face triste.
— Nós ouvimos. — disse Jullie.
— O senhor tem mesmo que ir? — perguntou Mike vindo me abraçar — Prometeu que passaria a manhã com a gente.
— Tenho. — eu o olhei tentando manter meu lado racional no controle — Adultos tem algumas responsabilidades que devem cumprir.
— Mas papai…
— Não posso. — interrompi Jullie — Vou ligar para babá de vocês e pedi para ela vir.
Não deixei nem mesmo eles insistirem, eu tinha que ser responsável com meu emprego, infelizmente a sociedade exigia que eu tivesse uma boa renda para manter meus filhos comigo, e meu lado racional sempre vencia. Não era fácil deixá-los com estranhos ou com meus pais, mas era necessário, como a babá demoraria uns vinte minutos para aparecer e eu teria que sair naquele momento, pedi para a vizinha ficar com eles até a babá aparecer.
Assim que me despedi deles, entrei no carro e acelerei até o local da obra, tinha que verificar a situação com os meus próprios olhos. Jonh já estava na frente me esperando, alguns trabalhadores estavam em sua pausa para o descanso, estacionei o carro próximo ao local e me aproximei de Jonh.
— Quem foi o engenheiro que fez esses cálculos errados? — perguntei.
— Donson. — respondei ele — Mas já foi afastado da obra, acho que ele não está em condições psicológicas para o trabalho, seu filho está no hospital.
— Deveriam ter colocado outro no lugar então. — retruquei sua explicação.
Realmente não era desculpa, a construtora contava com dois engenheiros estruturais, o Donson e a Penny, ambos eram ótimos profissionais, apesar do Donson ter mais tempo de carreira. Porém Penny mesmo sendo mais jovem, era muito competente e
sabendo dos problemas de Donson poderia ter entregado esse projeto para ela. Jonh me levou até o local das fundações com problemas e analisamos as trincas que continha nelas, não poderia ser derrubado, pois gastaria mais do orçamento proposto pelo cliente e não poderia ficar com a espessura errada, então teria que ser feito um estudo para encontrar uma solução eficaz e barata.
O lugar seria um anexo da galeria destinado a expor obras de grafite e arte de rua no geral, teria um médio fluxo de pessoas, podendo variar em dias de grandes exposições. Tirei algumas fotos com a ajuda de Jonh e conversei um pouco com o mestre de obras, deixaríamos a parte do anexo parada por um tempo até decidimos o que fazer, enquanto isso todos os trabalhadores focariam no prédio principal da galeria.
— Então Jonh. — parei perto do meu carro — Vamos para a empresa, preciso das cópias desse projeto para rever os cálculos com a Penny e encontrar a solução.
— Sem problemas, ela já está trabalhando nisso, só falta você. — respondeu ele entrando no meu carro — E tem mais.
— Mais o que? — eu entrei e o olhei — Odeio surpresas.
— Daqui dois meses teremos o aniversário da construtora amigo, e adivinha quem vai estar lá?
— Lá vem você. — eu virei minha face para frente e liguei o carro — Já disse que não quero que me arrume nenhuma namorada.
— Yah, e quem falou em namorada, só uma diversão não mata ninguém — ele riu — você está assim há quantos anos? — ele bufou um pouco — Precisa viver de novo amigo.
— Para sofrer de novo. — acelerei o carro rumo a empresa.
Jonh ficou falando em minha cabeça o quanto eu precisava retomar minha vida sexual de novo, acho que ele se preocupava mais do que eu por não ter me envolvido com nenhuma mulher desde a morte de Mary. Se meu corpo precisava de diversão eu até concordava, tinha este lado que me fazia mesmo olhar para algumas mulheres, até mesmo já pensei em chamar Penny para jantar, mas uma parte de mim insistia em dizer que estava traindo minha esposa.
— Penny. — disse ao entrar em sua sala.
— Ah, que bom que chegou, temos muito trabalho para esta manhã. — disse ela ao me olhar, parecia muito tranquila em meio a mais um desafio frequente do trabalho.
Penny era uma mulher muito bonita de cabelos ondulados e loiros, todos os dias ia para a empresa com vestidos básicos de cores sóbrias e um salto que me fazia me perguntar se nunca ficava cansada com eles, suas pernas sempre a mostra e um batom vermelho nos lábios que arrancava olhares de todos os homens da construtora. Até mesmo o senhor Finn, por mais apaixonado por sua esposa já o observei olhando para as pernas de Penny, uma mulher desejável que só fui perceber seu potencial dois anos após a morte de Mary, mesmo assim não me imaginava com ela ainda.
— Já percebi, acabo de chegar da obra. — eu retirei o paletó ficando somente com a camisa azul que tinha colocado para este dia, arregaçando as mangas — Mais um dia em busca de soluções.
— Com certeza. — ela abriu em sua mesa de projetos a prancha estrutural do anexo para analisarmos melhor.
Ficamos um bom tempo trancados em sua sala, Jonh nos ajudou com alguns palpites de várias pesquisa de materiais para ajudar no caso das trincas e rachaduras. Quando eu pensava que não poderia ter mais notícia louca neste dia, notei que meu celular estava no silencioso e tinha muitas ligações perdidas da babá, me preocupei com isso e liguei para o celular dela, a notícia me deixou meio paralisado.
— Como assim você foi dispensada? — perguntei tentando assimilar o que ela tinha falado — Mas de onde meus filhos tiraram outra babá?
“Aumente o volume, apenas aumente
É isso mesmo, vamos lá.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 3
* POV
Felizmente não precisei ficar esperando por muito tempo, como prometido Jullie abriu minha garrafa novamente e eu pude sair para a luz. Me espreguicei um pouco após voltar a minha forma normal, quando olhei para eles ainda estavam meio espantados com o que viam.
— Então, o que vamos fazer agora? — perguntei a eles ansiosa para me divertir com meus novos amigos, era meio cedo para isso, mas já considerava eles meus amigos.
— Vou te ensinar o que é xbox one. — disse o menino.
— Não Mike. — a menina o olhou — Temos coisas mais sérias para nos preocupar, depois ela te concede um xbox.
— Mas Jullie… — resmungou ele.
— Não se preocupe Mike. — eu sorri para ele — Vou te dar um xbox one, seja lá o que for isso.
— Viva. — ele vibrou com isso como se fosse uma festa.
— Bem, temos que trocar sua roupa, você não pode ficar assim. — disse Jullie.
— E como eu tenho que me vestir? — perguntei a ela, e pensando um pouco estalei os dedos e logo uma roupa romana apareceu em meu corpo — Assim?
— Não. — disse Mike rindo de mim — Você parece mais estranha ainda.
— Não nos vestimos assim hoje em dia. — explicou Jullie — Espere aqui. — ela saiu correndo do quarto.
— Para onde ela foi? — perguntei curiosa, tudo que eu conhecia era aquele quarto que mesmo não sendo tão grande, era maior que minha garrafa.
— Vai saber. — respondeu Mike levantando os ombros de leve.
— Pronto. — disse Jullie ao entrar no quarto com uma coisa estranha na mão.
— O que é isso? — perguntei olhando meio receosa.
— Isso é uma Vogue, uma das melhores revistas de moda do mundo. — explicou ela abrindo a tal revista e olhando as folhas.
— Uah, esse papel é diferente. — disse tocando de leve para sentir, tinha uma espessura fina e meio escorregadia, brilhava conforme a direção da luz, era interessante.
— É o que chamamos de modernidade. — disse Jullie — Acho que você vai ter que aprender muita coisa, mas agora quero que vista essa roupa. — ela apontou para a imagem de uns pedaços de tecido diferentes.
— Tem certeza que isso é o que vestem atualmente? — eu a olhei confusa.
— Sim, e vai combinar muito com você. — afirmou ela com muita segurança.
Eu não poderia fazer nada além de concordar e trocar para a roupa que ela tinha sugerido, afinal não conhecia nada daquele novo mundo que estava fazendo parte. Estalei os dedos e assim uma roupa igual à da revista apareceu no meu corpo, as crianças fizeram um som de surpresa e riram um pouco.
— Isso é tão legal. — disse Mike.
— Eu também acho. — concordei com ele animada, era a primeira vez que eu me identificava com alguém à primeira vista e essas crianças pareciam tão legais.
— Agora você precisa se passar por nossa nova babá. — disse Jullie.
— Como assim? — perguntei — O que é babá?
— Babá é uma pessoa que cuida de criança, nossa babá está vindo para nossa casa, mas não gostamos muito dela. — explicou Jullie.
— É. — concordou Mike — Ela não nos trata bem.
— Ah, como assim? — eu olhei para eles, ambos faziam uma cara de tristeza — Como não gostar de vocês.
— Então, como você não quer ficar na garrafa e não podemos falar para o nosso pai que você é um gênio, poderia se apresentar como nossa nova babá.
— Legal, gostei dessa coisa de babá. — eu me empolguei ainda mais, não iria precisar ficar na garrafa já era legal isso.
— Mas não vai poder fazer nenhum desejo perto do nosso pai e nem virar fumaça, se não ele surta. — Jullie me olhou séria, mesmo sendo criança ela parecia muito adulta para mim.
— Sim, prometo que vou fazer tudo isso. — assenti sorrindo.
— Legal. — Mike sorriu junto e olhou para a irmã, eu vi uma ponta de felicidade em seu olhos.
Logo a campainha tocou e descemos, Jullie iria distrair a velha senhora que estava com eles, enquanto Mike me levava para os fundos da casa. O plano era simples, eu teria que ir para frente da casa e aparecer dizendo que era a nova babá das crianças, não foi tão difícil fazer isso, porém a garota que ficaria com eles não aceitou muito no início e com muita insistência de Jullie, a garota foi embora. A velha senhora deixou as chaves da casa comigo e voltou para sua casa que ficava do outro lado da rua, eu e as crianças seguramos o riso e assim que entramos na casa eles começaram a festejar.
Eu fiquei por um tempo sem entender o porquê de tanta felicidade, mas estava começando a absorver este sentimento e sentir também, era uma sensação boa que nunca tinha tido antes. Eles me levaram por todos os cômodos da casa, explicando tudo sobre a família e sobre como o pai deles gostava de manter a organização da casa, a única parte que senti tristeza na voz deles foi quando me mostraram as fotos da família de disseram que faltava um membro muito importante, a mãe deles havia falecido.
Para quebrar aquele clima, sorri com brilho nos olhos e pedi para Mike me mostrar o que era aquele xbox one de que tanto tinha falado, a face dele logo melhorou e corremos para seu quarto. Tinha vários brinquedos espalhados e a cama estava bagunçada, ele pegou com aquela coisa chamada revista nas mãos, porém era diferente da revista da Jullie, tinha vários desenhos na capa que me deixaram interessada, na explicação dele aqueles desenhos eram de animes que passava na televisão. Eu não sabia o que era anime e nem televisão, mas eles estava tão empolgado e falava tudo tão rápido, Jullie ria do irmão e me explicava com calma tudo que eles falava com tanta euforia.
— Tudo bem, vou te conceber. — eu fechei os olhos e estalei os dedos, quando abri seu xbox one já estava em nossa frente em cima da mesa que eles chamavam de escrivaninha.
— Meu precioso. — disse ele com uma voz esquisita ao abraçar o xbox.
— Pare com isso Mike. — Jullie começou a rir dele — Só não pode deixar o papai ver isso.
— Não vou. — ele pegou o xbox e abriu o grande objeto de madeira que chamavam de guarda-roupas, mas que guardava mais que isso — Papai jamais verá meu precioso.
— Vamos , temos que pensar o que vamos preparar para o almoço, por que o papai certamente virá assim que a antiga babá ligar avisando da mudança.
— ?! — eu a olhei e apontei para mim — Eu?!
— É, é um apelido que acabei de pensar para você. — assentiu ela tranquilamente.
— E o que é apelido? — perguntei.
— É uma forma de chamarmos uma pessoa que é próxima e que a gente gosta, pode ser um resumo do nome ou algo que combine. — ela sorriu — E como já gostamos de você, vamos te chamar de .
— Tudo bem. — eu sorri de leve — Mas e o que é almoço?
Ela riu um pouco e me explicou que cada refeição do dia tinha um nome diferente, tinha o café da manhã, o brush, o almoço, o café da tarde, o jantar, a ceia e em alguns momentos o coffee break, mas para quem trabalhava. Eu estava admirada com a mente de Jullie, ela era uma garotinha de dez anos que pensava em tudo, esperta e muito inteligente, a observando um pouco pude perceber que tinha os olhos do homem que era seu pai e o sorriso singelo igual o da sua mãe. Deixamos o Mike no quarto brincando e descemos para a cozinha, seria um desafio para mim cozinhar, mas não queria usar magia para isso, então Jullie pegou um livro de receitas que tinha na gaveta da cozinha, era de sua mãe e segundo ela, tinha muitas anotações precisas nele.
— Tem certeza que é assim que se faz? — perguntei em lágrimas enquanto cortava a cebola, parece até que estou triste.
— Sim. — assentiu ela — A cebola nos faz chorar mesmo, mas você está acabando.
— Tudo bem. — eu lavei minha mão e a faca, colocando-a no escorredor de vasilhas e enxuguei minhas lágrimas — E agora.
— Sua voz está engraçada. — ela riu — Tudo por causa da cebola?
— É que aprendi que as lágrimas representam a tristeza, então tenho que ficar triste. — expliquei.
— Não exatamente. — ela riu mais ainda de mim e esticou um papel para que eu enxugasse as demais lágrimas que escorriam — Às vezes nós temos lágrimas de alegria.
— Sério? — aquilo era novidade para mim, eu e minhas irmãs sempre ouvimos que lágrimas são para a tristeza e o sorriso para a alegria.
— Sim.
— Legal, o seu mundo é totalmente diferente do que eu imaginava. — suspirei fraco desviando meu olhar para a cebola.
— Bem, acho que no tempo em que viveu nele foi bem distante desse. — ela caminhou até o armário e abriu ele — Acho que temos molho de tomate pronto, papai ama espaguete.
Eu tentava o máximo decorar essas palavras novas que iam surgindo pelo caminho de nossas conversas, tinha perdido tanto avanço e mudança durante o tempo que fiquei presa em minha garrafa que não queria que Jullie parasse de contar as histórias. Demoramos um pouco para conseguir idealizar nosso espaguete, mas felizmente após três tentativas mal sucedidas, conseguimos fazer algo que ficasse agradável ao paladar. Jullie me deixou na cozinha colocando a mesa e foi buscar Mike no quarto, passou alguns minutos sem que ela retornasse, achei estranho sua demora e fui até a sala.
— Ops. — sussurrei ao ver as crianças sentadas no sofá e aquele homem me olhando meio furioso com os braços cruzados.
“Você definitivamente tem truques
Em algum lugar na sua manga.”
– Magic / Super Junior
CAPÍTULO 4
* POV
Eu estava transbordando de estresse por causa do meu trabalho e ainda tinha esta nova surpresa, assim que a suposta nova babá entrou pela sala senti que seu corpo havia paralisado ao me ver. Fiquei a olhando por um tempo, tinha uma beleza incomum e um olhar tímido, a olhei dos pés à cabeça, trajava roupas leve de aparência confortáveis com um all star e os cabelos presos.
— Quem é você? — perguntei num tom mais forte e rude.
— , sou o gê… A nova babá deles. — respondeu ela se atrapalhando nas palavras.
— Ela é a vizinha da rua de trás? — olhei para minha filha, tinha pela certeza que se houvesse alguma armação a mente por trás de tudo seria dela.
— Sim papai. — ela balançou a cabeça positivamente e olhou para a .
— Muito bem, vou dar este voto de confiança, eu sou o pai deles. — olhei para a garota — , você não tem cara de colegial, quanto anos tem?
— Bem. — ela respirou fundo, parecia ter que pensar na resposta.
— Papai. — Mike desviou meu olhar para ele — O senhor sempre me disse que não podemos perguntar as mulheres sua idade, soa como algo ofensivo.
— Tem razão. — olhei para novamente, ela suspirou como de alívio, eu achava aquilo tudo muito estranho, mas deixaria passar para ver onde iria dar — Bem, espero que eles não tenha te dado nenhum trabalho.
— Ah, não. — ela sorriu de leve e olhou para eles — Seus filhos são tão fofos e cheios de energia.
— É. — eu olhei para eles também — Ás vezes penso que nunca vai acabar tanta energia — brinquei.
— Ah, o almoço está pronto. — disse .
— Almoço? — olhei surpreso, a outra babá nunca cozinhava, sempre comprávamos comida pronta.
— Sim. — Jullie confirmou — sabe cozinhar.
— ?! — ri de leve, sabia que minha filha só inventava apelidos para pessoas que realmente gostava.
Fomos para a cozinha juntos, eu ainda permaneceria desconfiado por um tempo, mas estava admirado em ver como meus filhos estavam à vontades e alegres perto dela, era estranho, pois após tantas babás eles nunca haviam se apegado em nenhuma delas. tinha algo de especial que conquistou meus filhos e isso me deixava meio curioso sobre quem era ela.
— Hum, está razoável. — disse ao experimentar a primeira garfada, não conseguia mentir quando o assunto era comida — Falta um pouco mais de sal e o macarrão está muito cozido.
— Hum. — ela se virou para Jullie e sussurrando — O que é sal?
— É aquela coisa branca que colocamos pouco no molho. — respondeu Jullie em sussurros também.
Eu fingi não estar ouvindo, mas achei estranho uma pessoa que cozinha não saber o que é sal, era uma pessoa observadora a primeira vista, mas passou todo o almoço de cochichos com Jullie. Era engraçado algumas perguntas que eu ouvia ela fazendo para minha filha, como um adulto pode perguntar para uma criança como era feito o copo de vidro.
— Já que você foi tão legal preparando o almoço. — eu olhei para — Me comprometo em lavar as vasilhas sujas.
— Ah. — ela assentiu fazendo uma cara estranha.
— Vamos , vamos brincar. — Jullie pegou na mão dela e a levou para a sala.
Mike se levantou da mesa de forma meio apressada e correu trás, atitudes meio suspeitas. Juntei todas as vasilhas e valei tranquilamente, parecia uma terapia para mim após uma manhã com minha cabeça fervendo de problemas para resolver. Assim que entrei na sala, vi sentada no chão com Jullie, aparentemente estavam brincando de professora e aluna. Fiquei por um tempo as observando, Jullie parecia mesmo estar ensinando para ela tudo em seu livro de história e o mais impressionante é que estava atenta as palavras de minha filha.
— Vou para o escritório, trabalharei em casa o resto do dia. — avisei para as duas.
— Tudo bem papai, vamos estar aqui brincando. — Jullie assentiu sorrindo para mim.
Eu sorri de volta e me virei, ouvi de leve perguntando onde ficava meu escritório, como as portas ficavam sempre fechadas as crianças até se esqueciam. Mas enfim, meu escritório ficava no porão da casa, era o lugar mais calmo e silencioso em que eu poderia trabalhar tranquilo em meus projeto, um bom espaço para mim e meus diversos papéis e instrumentos de trabalho. Entrei fechando a porta e desci as escadas me espreguiçando, tinha que me preparar psicologicamente para minhas horas de confinamento.
* POV
Confesso que ainda tinha receio do pai deles, tinha um rosto muito bonito mesmo, mas com traços sérios e aquele olhar triste que tinha visto mais cedo. Eu e Jullie passamos toda a tarde com ela me ensinando tudo que tinha acontecido na história do mundo e me apresentando as maravilhas da tecnologia. Descobri finalmente o que era televisão e como eu poderia perder horas na sua frente vendo pessoas vivendo suas vidas de várias formas diferentes, acho que o nome disso era filme ou seriado.
— O que foi? — perguntou Jullie me trazendo para realidade.
— Ah. — eu a olhei — Estava aqui pensando, tem certeza que seu pai não vai desconfiar de nada?
— Tenho sim. — ela tombou um pouco a cabeça me olhando — Está com medo dele?
— Sim, seu pai tem uma voz muito grossa e intimidadora.
— Não se preocupe. — ela riu de leve — Meu pai é inofensivo, depois que você acostuma com o jeito dele acaba gostando.
— Verdade?
— Sim, meu papai é o melhor. — ela sorriu espontaneamente.
— Tudo bem. — eu olhei para o velho relógio da família. — Hum já está quase na hora do café da tarde.
— Sim. — concordou ela — Temos que preparar alguma coisa para comer.
Jullie mais uma vez iria me ensinar a mexer em todas aquelas coisas da cozinha que ainda eram meio perigosas ao meu ver. Por um leve momento me lembrei do comentário do pai dela sobre o espaguete, mal sabe ele que aquela era nossa quarta tentativa na cozinha, eu ri de leve com aquele pensamento. Jullie me perguntou o motivo da minha risada e ao contar ela riu junto, era mesmo engraçado eu tentando me virar na cozinha, não imaginava o quanto era complicado fazer aquela coisa chamada café, um simples pozinho que segundo Jullie mantinha todo mundo acordado.
— Curioso. — disse ao olhar a cafeteira coando o café — Ainda me admiro com todos esses equipamentos que você me mostrou, o mundo parece mais fácil agora e divertido também.
— Ainda tem muita coisa para te mostrar, mas aos poucos. — Jullie colocou algumas xícaras na mesa — Você não chegou nem na metade de tudo que precisa saber.
— Admito, perdi séculos de evolução. — mantive meu olhar para a cafeteira concentrada nas gotas caindo — Mas quero aprender tudo, não importa quanto tempo leve.
— Vou me divertir muito te contando tudo. — ela dei um pulo de empolgação — Podíamos ir ao parque amanhã, assim poderia ver mais lugares novos além dos cômodos da minha casa.
— Boa ideia. — eu a olhei — E o que seria esse tal parque?
— Você vai ver quando formos. — Jullie sorriu, havia um brilho em seus olhos.
Minha animação aumentou um pouquinho, existia um mundo bem grande fora da casa deles e eu iria conhecer, enfim a diversão que eu tanto procurava tinha chegado em minha vida. Jullie me aconselhou a levar uma bandeja de café para o pai dela, assim conquistaria ainda mais sua confiança, assenti nem reclamar a sugestão daquele mente brilhante. Ela abriu a porta para mim e desci com cuidado para não derramar nada, estava um pouco escuro perto da escada, mas andando mais para dentro a iluminação já estava melhor e me aproximei da mesa de trabalho dele.
— Olá. — estranhei o fato de ele não estar lá, será que tinha saído sem que víssemos?
— O que está fazendo aqui? — perguntou uma voz grossa vindo de trás de mim.
— Ah. — eu me assustei com aquilo e desequilibrei a bandeja que estava em minha mão.
— Espera. — ele me ajudou a pegar a bandeja, porém a xícara tombou derramando o café, um pouco caiu em uma das folhas que estava em cima da mesa.
— Me desculpa. — disse de imediato torcendo para ele não me xingar.
— Não se preocupe. — ele pegou a bandeja da minha mão — São somente papéis, posso imprimir novamente. — seu olhar era de desaprovação por estar ali.
— Eu pensei que estivesse com fome e trouxe. — disse quase sussurrando, eu me lembrava de como era alguém de olhar com aquele olhar dele.
— Tudo bem. — ele respirou fundo — Vamos lá para cima.
Eu o segui ainda me sentindo chateada por ter derramado o café, assim que chegamos na cozinha, Jullie e Mike já estavam tomando seu café. se sentou à mesa também e tomamos nosso café juntos, enquanto as crianças tomaram leite e eu um suco que existia na geladeira, ele tomou do café que eu tinha feito, sua cara não era de muita aceitação.
— Está um pouco doce e fraco. — disse ele e rindo — Mas vou sobreviver.
— Como assim? — eu olhei para Jullie e ela estava segurando o riso — Quer dizer que está ruim.
— Não. — Jullie respondeu — Mas é que o papai gosta de café forte e sem açúcar.
— Está tudo bem. — ele se levantou — Tenho que voltar para meu trabalho, mas você pode ir depois do café, já que estou em casa não precisa ficar.
— Ir? — eu o olhei meio triste, não queria voltar para minha garrafa tão cedo.
— Pai, deixa ela ficar mais um pouquinho. — pediu Mike — Ela nem brincou comigo, só com a Ju.
— Ela deve ter mais coisas para fazer. — disse ele.
— Não tenho não. — o interrompi.
— Não?! — ele me olhou confuso — Já que não se importa, pode ficar.
— Ela aceitou ir no parque com a gente amanhã. — disse Jullie.
— Parque? — ele olhou para Jullie — Filha, não vamos poder ir ao parque amanhã.
— Mas pai. — ela fez uma carinha tão fofa — Você prometeu que quando voltasse iríamos ao parque todos os sábados.
— Eu posso ir com eles. — disse me comprometendo, nem sabia onde era mas não deixaria eles permanecerem tristes.
— Não quero incomodar. — se virou em direção a porta — Vamos ao parque na próxima semana.
Olhei para eles, tinha uma decepção misturada a frustração no olhar, Mike que estava com o copo de leite na mão colocou na mesa.
— Oh, não fiquem assim. — eu olhei para eles e sorri — Você esqueceram quem eu sou? Gênio pessoal, é só pedir que realizo os desejos.
— Oh, verdade. — Jullie olhou para Mike — Vamos ao parque amanhã.
— Viva! — Mike sorriu animado e se levantou da cadeira e veio me abraçar — Obrigado .
— Não precisa agradecer, vamos nos divertir muito amanhã.
“Você não está cansado de dias chatos?
Você está enterrado numa vida ordinária?
Pare agora e acorde.”
– Genie / Girls’ Generation
CAPÍTULO 5
* POV
Como previsto por Jullie, havia ficado um bom tempo trancado no porão, nos dando a maior parte da noite para nos divertirmos no quarto sem problemas e interrupções. Assim que ele voltou para o andar de cima, me escondi pelos cantos da casa, queria ver como era realmente a relação que ele tinha com os filhos. Não entendia porque uma pessoa que vivia com duas crianças maravilhosas era tão sério e tão distante, então eu me lembrei do álbum de fotos, será que ele era assim por causa daquela mulher que não estava com eles?
Após o jantar Mike me pediu para voltar para a minha garrafa, mas quanto fomos até o quarto do pai dele não encontramos minha pequena residência, então combinamos que eu iria dormir no quarto de Jullie até encontrarmos. Me escondi dentro do guarda-roupas como de costume para mim, assim seria mais fácil sair quando as luzes forem apagadas. Fiquei um bom tempo esperando até que entrou no quarto com a filha, fiquei observando como eles se interagiam, ele parecia um bom pai, mas ainda um pouco distante dos filhos.
— Jullie, ainda precisamos conversar sobre a nova babá. — disse ele retirando a colcha que cobria a cama.
— O que tem a nova babá? — ela se deitou na cama e ficou olhando o pai a cobrir com um cobertor xadrez alaranjado — Não gostou dela?
— Não é essa a questão filha. — ele sentou ao seu lado, sua face estava mais séria do que o habitual — Eu não conheço essa moça, e fui pego de surpresa pela notícia, se vocês não gostavam da Fellícia deveriam ter me falado.
— Mas o senhor nunca tem tempo para assuntos pequenos. — reclamou ela.
— O bem estar de você e seu irmão não é um assunto pequeno. — ele sorriu de leve — Me preocupo com a segurança de vocês, por isso não fiquei confortável em saber que uma estranha estava em minha casa com meus filhos.
— Ela não é estranha, a é uma pessoa legal, somos amigas agora. — retrucou ela.
— Mas eu não a conhecia Jullie. — ele suspirou forte e desviou seu olhar para o chão — Você é a mais velha conto com você.
— Prometo não fazer mais isso sem falar com você papai. — ela sorriu de leve — E nem vai precisar, é a melhor.
deu um beijo na testa dela e se levantou da cama indo em direção da porta, ele apagou a luz e saiu fechando a porta. Eu estava tão emocionada por ela ter me defendido, e o fato de me considerar sua amiga me deixava ainda mais feliz, Jullie se levantou da cama e veio até o guarda-roupa. Assim que abriu eu sai, ela pegou em minha mão e me levou até sua cama, deitamos lado a lado e ficamos olhando para o teto, o abajur estava ligado e tinha furos em forma de estrelas que deixava o teto iluminado.
— Eu ouvi o que seu pai disse sobre mim, obrigada por ter me defendido. — disse a ela.
— Fiz isso porque é uma pessoa legal, nos conhecemos hoje e já te considero minha amiga.
—Ah. — eu sorri com emoção — É porque você é uma criança muito fofa e eu adoro crianças fofas, e faço amizade bem rápido.
— Não leve as palavras do meu pai a sério, ele tem um bom coração.
— Percebi, mas seu pai me parece ser uma pessoa solitária.
— Ele é assim desde que a mamãe morreu. — senti uma tristeza em sua voz também.
— E como era sua mãe? — perguntei meio curiosa.
— Não me lembro muito, tinha cinco anos quando ela se foi. — ela fez uma pausa e respirou fundo — Não falamos sobre esse assunto também, nosso pai costuma ficar ainda mais triste.
— Ah. — eu me virei para ela — Então não vamos falar sobre coisas tristes, amanhã vamos ao parque.
— Sim. — ela se virou para mim com um sorriso aberto e esperançoso — Agora que conhecemos você, poderemos nos divertir mais.
— Sim, estou ansiosa por isso.
Nossa noite foi tranquila e passou bem devagar, logo pela manhã estávamos dispostas e animadas para nossa manhã no parque. Eu teria que ficar me escondendo pelos cantos da casa para que não me visse, seria fácil já que já estava trancado em seu escritório no porão. O plano de Jullie para sairmos sem sermos visto era bem simples, eu iria criar uma falsa ilusão deles para quando fosse procurar seus filhos não se deparasse com o sumiço deles. Assim teríamos todo o tempo que quiséssemos para ir ao parque, as crianças me ajudaram a arrumar a cesta com comidas que gostavam e a toalha de mesa.
Com todo aquele planejamento pude perceber que Jullie era uma criança extremamente organizada e criativa, era admirável ver como uma pessoinha de apenas dez anos me surpreendia com tanta imaginação. Ela pegou um pequeno mapa da cidade e me mostrou, um ponto em que pudéssemos aparecer sem sermos visto, assim eu segurei na mãos deles e todos fechamos os olhos. Em segundos aparecemos dentro do banheiro de uma cafeteria que ficava em frente ao parque, algumas pessoas que estavam nessa cafeteria acharam estranho nossa presença, mas agimos naturalmente e fomos ao nosso destino final.
Fiquei maravilhada com a paisagem, de nome Central Park cheio de árvores e com muitas pessoas, nós escolhemos um lugar que tinha sombra e estendemos a toalha de mesa, assim começaríamos o piquenique sugerido por Mike. Olhei dentro da cesta e tinha vários pacotes de biscoito e salgadinhos além das latinhas de suco, para minha primeira vez estava muito bom. Comemos alguns pacotes de biscoito para começar, Jullie se encostou na árvore e pegando o livro que tinha levado começou a ler, não queria ficar olhando ela ler nada, eu queria me movimentar, então Mike sugeriu caminharmos pelo parque para procurar uma coisa chamada Pokémon. Fiquei curiosa com essa caçada e quando entendi como funcionava o jogo me animei ainda mais, memorizei em minha memória onde estava nossa árvore com Jullie e seguimos por toda a extensão do lugar.
— Uau, essa coisinha é mesmo divertida. — eu olhei para a tela do smartphone dele — Como aprendeu a jogar?
— O irmão do meu amigo é gamer, ele me ensinou muitos jogos, depois posso te ensinar também. — respondeu ele pegando o aparelho da minha mão e guardando no bolso — O papai não gostou muito da ideia de termos celulares, então deu essa para Jullie, assim poderia falar conosco a qualquer hora do dia e em qualquer lugar quando viajava.
— Seu pai viaja muito? — perguntei olhando para o lago que estava próximo de nós.
— Depende, da última vez ele ficou dois meses fora. — ele caminhou na minha frente — Foi na quinta de manhã que ele chegou e trouxe você.
— Verdade. — só naquele momento que eu me lembrei que o pai dele é que estava com minha garrafa — Gostaria de saber como o pai de vocês achou minha casa.
— Ele viajou para Los Angeles, talvez tenha encontrado sua garrafa lá. — comentou ele.
— O que é Los Angeles? — perguntei meio curiosa, era um nome engraçado.
— É uma cidade muito famosa e fica do outro lado do nosso país. — ele me olhou — Nós moramos na cidade de New York.
— Ah, acho que Jullie me explicou um pouco sobre isso ontem. — sibilei um pouco tentando me lembrar de tudo que Jullie tinha me explicado sobre a nova geografia do mundo moderno.
Comecei a ficar cansada pela caminhada e Mike com fome novamente, então voltamos para nossa árvore cativa, quando chegamos tinha um senhor de cabelos brancos conversando com Jullie.
— Bom dia, posso ajudar? — perguntei a ele ao me aproximar.
— Viu, eu disse que não estava sozinha aqui. — disse Jullie ao segurar em minha mão — , ele é um vizinho nosso.
— Ah. — eu olhei para ela — E estamos com problema?
— Sim, ele pode contar ao papai que nos viu aqui. — explicou ela.
— Então não teremos mais problemas. — eu sorri e soltando a mão de Mike de leve, coloquei em meu bolso e tirando um pozinho brilhante soprei no rosto dele — Pronto, assim que ele sair do parque irá se esquecer que nos viu e não dirá a ninguém.
— Ah? — disse o senhor.
— Senhor Brum, aceita comer com a gente? — perguntou Mike — Podemos jogar bola depois.
— Claro. — respondeu o senhor olhando para ele de forma gentil.
O tal senhor Brum realmente parecia uma boa pessoa, descobri que ele era marido da vizinha que estava com eles na manhã de ontem e que estava dando umas voltas no parque até a hora do almoço. Finalizamos o restante dos pacotes de biscoito, mas eu e Mike ainda sentíamos fome, então o senhor Brum nos deu a ideia de comer uma coisa louca chamada hot-dog. Fiquei intrigada no início, porque uma pessoa comeria um cachorro? Mas me surpreendi quando compramos em uma barraquinha na porta do parque, era tão gostoso que parecia um manjar.
— Ah, estou tão cheia. — disse assim que voltamos para casa.
— Eu também. — Mike se jogou no sofá colocando a mão na barriga — Acho que nem vou almoçar.
— Você comeram muito mesmo. — Jullie olhou para o corredor que dava para a cozinha, e olhou para mim — Ouço um barulho, deve ser o papai.
Eu corri e me abaixei atrás do sofá com a cesta do piquenique na mão, respirei fundo me mantendo calma e silenciosa.
— Ah, aí está vocês. — a voz de estava mais suave, era novidade para mim — Já ia chamar para o almoço, pensei que não sairiam mais do quarto.
— Almoço? — Mike parecia com uma voz desanimadora.
— Mike comeu muito biscoito do café da manhã. — explicou Jullie — Mas eu vou almoçar.
— Hum. — era um tom de desconfiança, aquilo não era novidade — Mesmo assim, vai nos fazer companhia.
— Claro papai. — senti Mike se levantando do sofá e vários passos saindo da sala.
Levantei minha cabeça devagar, eles já tinham ido para a cozinha, dei um suspiro de alívio e subi as escadas, tinha um problema para resolver. Onde estava minha garrafa? Era uma questão para se resolver, não procuraria no quarto das crianças, pois se estivesse com eles eu saberia. O lugar onde havia deixado ela era no quarto de , então era lá que eu procuraria, revirei todos os cantos, sempre deixando tudo em ordem novamente e nada de encontrar minha garrafa. Era muito bom ficar ao ar livre, mas sentia falta das minhas coisas, era pequena e às vezes solitária, mas era minha casa, uma casa que eu estava a séculos.
Nossa manhã foi alegre e divertida, então nossa tarde seria assim também, mesmo com em casa, não deixaríamos de nos divertir. Mike sugeriu vermos um desenho que combinava muito comigo, finalmente conheci o tal Aladim e seu gênio, achei divertido ver como um garoto pobre conquistou uma princesa. Uma história linda que me fazia lembrar do primeiro humano e até então o único, que abriu minha garrafa e me libertou, não foi tão divertido assim ter sido o gênio pessoal dele nos tempos da Grécia Antiga.
Foram horas de desenhos e grandes baldes de uma delícia da gastronomia chamada pipoca, conhece todos os clássicos de uma pessoa chamada Disney, era pessoa mesmo? Bem, não me lembro ao certo, mas chorei horrores quando a mãe do Bambi morreu e aquele leão maravilhoso chamado Mufasa, meu coração se rasgou. Foi emocionante nossa tarde, até eu ter que me esconder no quarto de Jullie novamente, resolveu passar algumas horas com seus filhos, era bonito ver eles juntos.
“Mesmo que seu coração exploda
E voe pelo vento
Nesse momento o mundo é seu.”
– Genie / Girls’ Generation
CAPÍTULO 6
* POV
Já tinha se passado uma semana que tinha voltado da última viagem, estava sentindo algo errado acontecendo em minha volta em casa, meus filhos agindo de forma estranha rindo sozinhos com olhares suspeitos de um para o outro e respostas enigmáticas. Tinha que admitir que desde que a nova babá começou a passar as tardes com eles, andam se divertindo mais, não me parecia uma pessoa muito responsável, mas já tinha observado a forma doce de como olhava para meus filhos. Seu olhar me lembrava o de Mary, tirando ela ser um desastre tentando cozinha, se parecia muito com minha falecida esposa, espontânea e sempre alegre.
— Então finalmente conseguimos encontrar uma solução para aquelas rachaduras. — disse Penny ao guardar as pranchas do projeto no tubo.
— Ah, sim. — suspirei com certo alívio — Felizmente menos um problema para nos preocuparmos.
— Você almoçou hoje? — perguntou ela.
— Hum, acho que sim. — eu ri meio sem jeito — Jonh ocupou minha sala pouco antes do almoço e ligou para o serviço de entregas.
— Ah, tem um restaurante novo que abriu aqui perto, estava pensando em reunir todo mundo para ir lá experimentar algum dia. — disse ela de forma coletiva, mas percebi que estava querendo dizer nós dois.
— Seria legal juntarmos todos. — concordei meio sem jeito desviando meu olhar dela para a janela.
Penny tinha um charme que me atraia um pouco, e sempre demonstrava sinais de interesse por mim, seria interessante sairmos juntos algum dia.
— Mas. — eu ainda estava pensando se realmente iria ou não seguir os conselhos loucos de Jonh e me relacionar com alguma mulher — Poderíamos almoçar lá na segunda, só nós dois, assim se for ruim a comida escolhemos outro lugar para levar os outros.
— Nossa, ótima ideia. — ela sorriu demonstrando satisfação — Já que segunda vamos visitar a obra para apresentar nossa solução.
— Então combinado.
Eu peguei algumas folhas com minhas anotações e voltei para minha sala, talvez devesse mesmo dar uma chance para alguém entrar em minha vida. Conhecia Penny há mais de dois anos ela sempre demonstrou estar interessada em mim, então não teria problemas se caso eu investisse de alguma forma e me aproximasse mais dela.
— . — disse Jonh ao entrar na minha sala — Está pronto?
— Pronto para o que? — perguntei sem entender a animação dele.
— Para nossa noitada. — ele riu pegando as chaves do meu carro que estava em cima da minha mesa — Acha mesmo que vou deixar você voltar para casa agora? São somente sete da noite.
— Eu tenho dois filhos que estão me esperando e não posso abusar da boa vontade da babá deles.
— Não foi você mesmo que disse que ela até gosta de ficar até mais tarde com eles? ele me olhou tranquilamente — E por falar em babá, você mencionou que ela não era uma colegial, ela é bonita?
— Fiquei longe da minha babá, seu tarado. — peguei meu paletó e o olhei — Não vai mesmo de dar as chaves?
— Não, eu dirijo e vamos ao um lugar bem legal.
Nada que eu dissesse faria Jonh mudar de ideia e me deixar em paz, então assenti e o acompanhei em sua louca obsessão por diversão noturna. O lugar era bem agitado e tinha um repertório muito bom quanto a músicas, assim que sentamos no banco em frente ao espaço do bar. Jonh nos pediu duas bebidas, passamos algumas horas olhando todo aquele movimento, eu não sabia o que estava fazendo ali, acho que estávamos esperando duas amigas de Jonh, que chegaram um pouco atrasadas, elas se aproximaram de nós cumprimentando com abraços como se fossemos íntimos, eu desfacei minha falta de interesse na ruiva que puxou assunto, me esforcei um pouco para prestar atenção no que ela falava naqueles minutos de que passaram, mas meus pensamentos estavam em minha casa.
— Mas então você é casado. — disse ela olhando para minha mão — Jonh me disse que estava sozinho.
— Ah, bem. — eu olhei para a aliança em meu dedo — Eu sou viúvo, não consegui tirar a aliança ainda.
— Hum. — ela segurou minha mão tocando na aliança — E você tem filho?
— Sim. — eu desviei meu olhar para o barman e afastei minha mão dela para pegar o copo.
— Homem calado. — comentou ela — Gosta de dançar?
— Não. — respondi rapidamente.
— Mas é claro que gosta. — disse Jonh voltando sua atenção para nossa conversa — era um festeiro nos tempos da universidade.
— Jonh, por favor. — eu olhei para meu amigo — Pare de dizer essas coisas.
— Então vamos dançar. — a ruiva me pegou pela mão me puxando para o meio da pista.
Me senti um pouco desconfortável ali no meio, a mulher dançava de forma sinuosa para mim, seu corpo era atraente e sentia sinais vindo de mim que poderia corresponder, mas quanto mais pensava em levar ela para um canto privado, mais a imagem dos meus filhos invadia a minha mente. No impulso me afastei dela indo em direção a saída, ouvi Jonh gritando meu nome no meio das pessoas, deixei meu amigo para trás e fui em direção ao meu carro, olhei para o relógio já marcava onze da noite.
Assustado com a hora entrei no carro, minha sorte era não ter tomado a bebida que Jonh pediu para mim, dirigi em segurança até minha casa. Ao entrar estava tudo em ordem a primeira vista, olhei para a direção do sofá e fiquei por um tempo admirando a cena, meus filhos estavam dormindo juntamente com entre eles. Peguei o controle e desliguei a televisão, o sono deles parecia tão bom que resolvi não acordar ninguém, primeiro levei Mike no colo para seu quarto e depois levei Jullie, passei em meu quarto peguei uma manta quente e leve e desci as escadas novamente.
Me aproximei devagar para não acordar e a cobri com a manta, sua face estava tão suave que de uma forma louca me passava tranquilidade, percebi que ela sorria ao dormi, e de forma automática sorri junto. Pela primeira vez estava feliz por ter encontrado uma pessoa que fazia o dia dos meus filhos mais alegre, após a morte de Mary.
* POV
Assim que subiu as escadas eu abri meus olhos, um sorriso leve apareceu em minha face, era novidade para mim aquele seu lado acolhedor, Jullie tinha mesmo razão, após um tempo eu passaria a gostar dele, e acho que já estava acontecendo. Suspirei um pouco e olhei para a televisão, me senti sem sono realmente estava, senti falta da minha casa e só conseguia dormir bem dentro dela. Me levantei do sofá, como estava mesmo com insônia, iria ocupar aquele tempo procurando minha garrafa, as horas se passaram e o dia clareou, o único lugar que não tinha olhado era o porão.
A maior regra de era ninguém entrar em seu escritório, e eu iria violar ela para procurar minha casa. Como a porta estava trancada, passei pela fechadura em forma de fumaça, desci as escadas com cuidado para não escorregar e cair, estava escuro. Assim que cheguei comecei a olhar em minha volta, em todos os cantos e finalmente encontrei o tanto procurava, minha garrafa estava em uma prateleira.
A peguei e abracei automaticamente, estava aliviada por ter encontrado minha casa linda, voltei para sala tranquilamente senti uma tontura de repente, acho que estava mesmo cansada e precisava de um banho relaxante. Destampei minha garrafa e entrei dentro dela, eu ficaria por alguns minutos dentro, mas após encher minha banheira e entrar dentro, não consegui pensar em mais nada e acabei pegando no sono ali mesmo. Parecia que tinha levado dias dormindo dentro daquela banheira, mas o que importava era meu corpo descansado, senti um leve balançar em minha casa, não dei muita importância.
Saí da banheira e me enrolei na toalha, foi neste momento que me senti estranha e tudo ficou repleto de fumaça novamente.
* POV
Minha noite de sono havia sido tranquila, acordei bem antes das crianças e desci para a sala, tinha que me certificar que estava bem, ou se já tinha ido embora. Ela não estava mais na sala, fiquei impressionado em pensar que acordava cedo, desviei meu olhar para a mesa e vi a garrafa estranha em cima.
— Que louco, eu jurava que tinha te colocado no porão. — disse comigo mesmo pegando a garrafa — Vou levar você comigo lá para cima, ainda preciso saber sua origem.
Voltei para meu quarto e fechei a porta, deixei a garrafa em cima da cadeira que ficava em frente a escrivaninha. Tomei uma ducha rápida e fria para acordar meu corpo, me sequei de leve e enrolei a toalha na cintura, saí do banheiro secando o meu cabelo com a outra toalha. Sem perceber agi de forma automática e joguei a toalha que sequei o cabelo na cadeira, seu impacto fez com que a garrafa caísse no chão, olhei na direção e uma fumaça começou a sair. Era estranho tudo aquilo e mais estranho ainda o que aconteceu depois, em um piscar de olhos aquela fumaça se transformou em uma pessoa, e essa pessoa era .
— Ahhhhhhhh!!!! — gritamos juntos.
Assim como eu, ela estava enrolada em uma toalha de banho se encolhendo toda, aquilo era surreal e ao mesmo tempo perturbador, como podia a babá dos meus filhos sair de uma garrafa como fumaça?
“Imagine a mulher ideal em sua mente
E olhe para mim
Sou seu gênio, seu sonho, seu gênio.”
– Genie / Girls’ Generation
CAPÍTULO 7
* POV
Minha cabeça estava girando com tudo aquilo que estava acontecendo, mesmo assustados um com outro, e eu nos viramos para que pudéssemos nos trocar. Assim que meus filhos acordaram, os coloquei sentados no sofá juntamente com ela, assim em poucos minutos eles me contaram o maior absurdo do mundo, era um gênio pessoal, um gênio daqueles que concede mais de três desejos. Se eu não tivesse visto ela saindo daquela garrafa e fazendo uma xícara de café aparecer bem na minha frente, certamente jamais acreditaria naquela história.
— Então papai, ela pode ficar com a gente? — perguntou Jullie.
— Minha filha, eu não sei. — olhei para , ela de cabeça abaixada — Ela não pode ficar.
— Eu não tenho para onde ir. — ela levantou sua cabeça e me olhou triste — Não conheço ninguém além de vocês, passei toda a minha vida dentro dessa garrafa sozinha.
— Viu pai. — Mike me olhou — Ela só tem a gente, por favor deixa ela ficar.
— Por favor! — acrescentou Jullie com os brilhando de esperança.
Eu não sabia o que fazer diante daquela situação, mas olhar para a cara dos três me fazia me sentir um monstro se não permitisse, então assenti que ficasse em nossa casa por um tempo. Eles se abraçaram com alegria e me agradeceu, ela prometeu que iria ser a melhor babá do mundo e que não iria me decepcionar, quanto a isso eu não tinha dúvidas, só o brilho que estava nos olhos dos meus filhos comprovava o quanto eles gostavam dela.
Daqui para frente seria complicado para mim me acostumar a viver em uma casa com uma mulher, apesar de ser um gênio como sempre repetia, era uma mulher. Meio atrapalhada na cozinha, engraçada e falante com as crianças, de olhar sincero e sorriso gentil, acho que sim, eu conseguiria me acostumar com a presença dela por um tempo.
* POV
Para nossa surpresa, no domingo pela manhã nos levou ao Central Park para um piquenique em família, inocente, nem sabia que tínhamos ido na semana passada. Não era tão estranho assim fazer as coisas com a presença dele, mas evitava um pouco realizar meus truques para que se sentisse mais confortável perto de mim. Jullie e eu preparamos sanduíches para levar, ficaram um pouco estranhos, mas tinham um gosto muito bom segundo Mike.
— Acho que você ainda tem muita coisa pra aprender. — comentou segurando o riso, após comer um sanduíche.
— Ficou ruim, não ficou? — o olhei fazendo uma careta simples e engraçada, fazendo ele rir.
— Ficou estranho. — ele olhou para o sanduíche — Mas com o tempo e prática, você acerta da próxima vez.
— Bem, ainda não tenho muita afinidade com a cozinha. — admiti desviando meu olhar para as crianças que estavam correndo pelo gramado do parque — Mas Jullie tem me ensinado muitas coisas.
— Imagino. — ele riu de leve dando um suspiro fraco — Jullie consegue ser muito madura para a idade.
— Sim. — eu o olhei com empolgação — Ela é tão inteligente e cheia de criatividade, as vezes não consigo acompanhar seu raciocínio, ainda mais quando está me ensinando a usar essas coisas da tecnologia.
— Obrigado. — disse ele desviando seu olhar para mim, havia uma sinceridade incomum misturada a frustração em seu olhar.
— Por que está me agradecendo? — perguntei curiosa.
— Por trazer mais sorrisos para a vida deles.
Respirei fundo, seu olhar de gratidão e a resposta havia me deixado sem palavras, mas feliz por estar fazendo bem a eles. Segurei um pouco a meus sentimentos, acho que estava ficando emocionada por aquilo, desviei meu olhar novamente para as crianças e me levantei.
— Uah, eu também quero brincar. — disse correndo até eles.
— Mas ainda não te ensinamos nada sobre futebol. — disse Mike com uma cara confusa, deixando a bola rolar pela grama.
— Então é uma ótima oportunidade para isso. — parou a bola com o pé direito e sorriu de leve — Que tal, meninos contra meninas?
— Desafio aceito. — disse Jullie ao olhar para mim sorrindo — , você só precisa roubar a bola deles e fazer gol.
— Fazer gol? — estava mais confusa ainda.
— Eu te mostro. — Jullie riu um pouco.
Nossa brincadeira foi um pouco longa e atrapalhada, com algumas quedas e tropeços de minha parte que fazia eles rirem da minha cara, porém no final todos nos divertimos muito. Em alguns momentos eu me paralisava ao olhar para os sorrisos e risos espontâneos de , me perguntava se ele era alegre assim quando ainda tinha a esposa. Na hora do almoço nos levou a um restaurante de comida caseira de um amigo de infância, quando entramos esse amigo ficou um pouco espantado ao me ver com eles. Talvez por nunca ter visto com uma mulher após a morte de sua esposa, segundo sua explicação, mas tudo foi esclarecido quando de forma inocente eu disse que era a babá das crianças.
— Ufa. — disse respirando fundo ao sentar na cadeira — Por um momento pensei que diria que era nossa...
— Não se preocupe. — eu ri o interrompendo — Jamais assumiria sem sua permissão.
— Seria engraçado se ela tivesse dito, ele não acreditaria. — Jullie riu um pouco — E ainda pensaria que estávamos brincando.
— Verdade. — concordou Mike.
— Você querem brincar com a cara das pessoas? — os olhou.
— Seria engraçado papai. — respondeu Jullie.
— Posso fazer uma pergunta? — disse ainda intrigada com algumas palavras daquele amigo de .
— Diga. — assentiu ele pegando o copo com água para tomar.
— O que é namorada? — perguntei inocentemente.
quase engastou com o gole que estava tomando, e após tossir um pouco ele respirou fundo e me olhou sem reação, as crianças riram um pouco da reação deles.
— Não é nada, esqueça essa palavra. — desconverso ele pegando o cardápio e o abrindo.
— Depois eu te explico. — sussurrou Jullie para mim.
— Hum. — manteve sua atenção no cardápio — Que me ajudarem a escolher o que vamos comer.
A tarde passou e quando voltamos para casa, já estava de noite, havia sido um dia muito produtivo e cheio de diversão. Dentro do carro de estávamos aos risos, por causa de algumas piadas que Mike tinha aprendido na escola com seus amigos, e estava nos contando pelo caminho. Assim que estacionou seu carro em frente à garagem da casa e descemos, as crianças correram na frente, eu o ajudei a retirar a cesta do porta-malas.
— Foi um dia divertido. — comentou ele fechando o porta-malas.
— Sim, eles ficaram muito mais agitados com tudo que fizeram hoje. — sorri de leve o acompanhando até a porta — Tenho certeza que quando forem dormir, irão apagar de vez.
— Sim. — assentiu ele.
Ao entrarmos em casa, caminhei para a cozinha para guardar as sobras que ainda estavam na cesta, me ajudou explicando um pouco mais onde ficava cada coisa naquele ambiente. Ao olhar dentro de todos os armários, ele constatou que teria que fazer compras novamente, então me pediu para ajudá-lo a fazer uma lista, iríamos ao supermercado na manhã de domingo.
— O que estão fazendo? — perguntou Jullie ao aparecer na cozinha alguns minutos depois já de banho tomado e vestida com seu pijama.
— Acho que uma lista. — respondi enquanto escrevia o que ele havia acabado de me dizer.
— E meu pai vai entender isso? — perguntou ela pegando o papel fazendo uma careta enquanto tentava ler — O que está escrito aqui?
— Deixe-me ver. — disse pegando o papel enquanto ria, logo o seu sorriso desapareceu dando lugar a uma expressão estática em sua face.
— Desculpa, eu só sei escrever em grego antigo. — expliquei meio sem graça.
— Acho que será mais uma coisa a aprender. — Jullie riu um pouco — Ainda me pergunto como você nos entende e fala nosso idioma.
— Tenho um ótimo senso de adaptação. — expliquei rapidamente, desviei meu olhar para novamente e ele ainda mantinha seus olhos na folha tentando entender.
— Ainda preciso me acostumar com isso. — ele entregou a lista para mim — Jullie ajude ela a reescrever a lista, acho que é somente isso.
Ficamos por um tempo em silêncio olhando ele sair da cozinha, então começamos a rir sem motivo algum. Respirei fundo e olhei para Jullie, eu tinha muito mesmo o que aprender sobre tudo naquele mundo novo. Eu fui ditando para ela todos os elementos da lista, enquanto ela escrevia no idioma deles, demoramos um pouco, pois a cada item da lista havia uma pausa a mais para algumas explicações dela de questionamentos de minha parte.
Assim que saímos da cozinha e fomos para sala, encontramos Mike vendo desenho na tv, Jullie se afastou de mim e se sentou ao lado dele já perguntando o que estava assistindo, acho que era um desenho chamado Divertida Mente, acho que era isso mesmo. Fiquei alguns instantes olhando para a tv, ainda me admirava com toda aquela riqueza nos detalhes dos desenhos e como era lindo as histórias criadas por essa tal Disney. Suspirei de leve e desviei meu olhar para a escada, ainda estava segurando a lista, resolvi subir as escadas e entregar .
Entrei no seu quarto tranquilamente fechando a porta, quando me virei ele estava parado em frente o guarda-roupas, me olhando sério de braços com uma toalha enrolada na cintura. Senti um frio na barriga, sua expressão parecia mais séria que o normal, estava com medo dele me xingar ao algo do tipo.
— Oi. — disse me encolhendo.
— Você deveria ter batido. — ele descruzou os braços e caminhou até mim.
— Desculpa, é que... — eu nem sabia que desculpa iria dar, só conseguia manter meu olhar a linha de seu abdômen, acho que só uma vez tinha visto meu outro mestre em poucos trajes.
Ele desviou seu olhar para minha mão vendo a lista, e respirando fundo se aproximou um pouco mais de mim e pegando a lista de minha mão, abriu a porta e me empurrou para fora.
— Outra regra, nunca mais entre no meu quarto sem bater. — ele fechou a porta com força, me fazendo arrepiar.
— Mas... — suspirei fraco, ele era mesmo mal-humorado quando não estava sorrindo.
Caminhei até o quarto de Jullie, precisava de um banho e lá seria o lugar onde minha garrafa iria ficar, bem na mesa de canto ao lado da cama dela. Fechei meus olhos e em um estalar de dedos me transformei em uma fumaça entrando na minha garrafa, eu já me sentia bem mais confortável, afinal podia entrar e sair sempre que quisesse. Era um alívio saber que não seria mais trancada em minha própria casa, ainda mais convivendo com aquelas crianças.
Após o meu banho relaxante coloquei um pijama de estampa floral, parecido com o que tinha visto em uma revista da Jullie, me espreguicei um pouco e saí da garrafa, parando em frente à janela. No instante em que me virei, Jullie e entraram no quarto, ela estava pedindo para ficar mais um pouco acordada.
— Papai, não estou com sono agora. — reclamou ela vendo ele já retirar a colcha da cama.
— Mas deve ir dormir, sua pilha ainda não acabou mocinha? — brincou ele rindo.
— Mas... — ela olhou para mim — Me ajuda .
— Hum?! — eu a olhei sem saber como poderia ajuda-la, permaneci em silêncio.
— Não adianta. — sorriu de canto — Está na hora de dormir, amanhã você brinca mais.
— Eu faço ela dormir. — disse com um pouco de coragem que tinha juntado.
— Sério? — disse ambos juntos como se duvidassem de mim.
— Sou um gênio pessoal, lembram? — sorri de leve.
— Às vezes me esqueço disso. — ele se dirigiu para a porta — Nada de conversas demoradas, conheço as duas, está na hora de dormir.
Eu e Jullie ficamos nos olhando como duas cumplices de um crime, e rimos logos após ele sair do quarto, mas de fato eu realmente a fiz dormir. Assim que deitamos em sua cama eu comecei a cantar para ela, acariciando seus cabelos, aquilo me lembrava muito meus momentos de afeto com minhas irmãs.
“Eu respirei fundo de repente
Quando eu ouvi sua voz
Não importa o quão longe estivermos um do outro,
Se fechar meus olhos,
Veja, nossos corações estão conectados”
- All My Love Is For You / Girls' Generation
CAPÍTULO 8
* POV
Permaneci atrás da porta por um tempo, queria ter a certeza de que ambas iriam mesmo dormir, foi quando aos poucos a voz doce de começou a surgir, eu não entendia certamente o que ela estava cantando, mas conseguia sentir a suavidade em sua voz. Por um momento havia me esquecido de tudo ao meu redor e me lembrado de Mary, minha amada esposa sempre cantava para as crianças antes delas dormirem. Senti uma lágrima cair do meu olho direito, acho que estava ali mais do que o suficiente.
— Ah Mary, você me faz tanta falta. — suspirei fraco ao entrar em meu quarto fechando a porta.
Ela realmente me fazia muita falta, ainda me lembrava do dia em que nos conhecemos, um breve lual na praia da Califórnia que eu nem queria participar, aquele encontro casual após alguns minutos de frustração vendo com minha ex namorada Charlot. Eu iria agradecer meu amigo John por sua insistência para sempre, mesmo hoje não tendo Mary ao meu lado, sinto que faria tudo de novo e a convidaria para um passeio pela orla da praia.
Me joguei na cama e fechei os olhos, deixaria aquela noite passar como ela quisesse, caí no sono no meio da madrugada e logo ao clarear o dia acordei com o despertador apitando ao lado da cama. Como todos os dias queria jogar ele na parede, mas um bom pai acorda cedo para preparar café para seus filhos, me levantei da cama espreguiçando um pouco. Desci as escadas ainda um pouco sonolento e segui para a cozinha, quando entrei senti meu coração parar, minha reação estática ao ver alguns pratos voarem do armário até a mesa. Desviei meu olhar para a geladeira que se abria sozinha, fechei meus olhos pensando ainda estar dormindo e belisquei meu braço direito, estava sim acordado e as coisas estavam sim acontecendo.
— Oh, bom dia. — disse uma voz animada vindo de trás de mim.
— Bom... — eu abri os olhos e desviei meu olhar da caixa de leite que se movia até a mesa, para ela — O que está acontecendo com minha... Eu não estou bem. — segurei no marco da porta tentando me manter de pé.
— Oh, o que está sentindo? — ela me olhou preocupada segurando em minha mão — Acho que ainda não está acostumado com tudo isso.
Ela olhou para as coisas que flutuavam e estalou os dedos da mão esquerda para que parassem, assim tudo se acomodou em seu lugar e a porta da geladeira se fechou. Eu realmente ainda não estava acostumado e nem preparado para ver aquilo acontecendo em minha cozinha.
— Me desculpe. — disse ela meio sem graça.
— Não precisa... — respirei fundo e olhei para ela tentando ser um pouco gentil, apesar de não conseguir — Está tudo em ordem agora, só não faça mais isso que você fez.
— É que eu ainda não me acostumei com tudo. — explicou ela.
— Bem, acho que você poderia acordar as crianças, vamos ao supermercado após o café.
— Tudo bem. — logo um sorriso se abriu em seus lábios e ela se animou novamente, me fazendo dar um sorriso mais discreto.
Eu ri um pouco vendo ela saltitar até a escada e subir cantarolando, era uma mulher com a inocência de uma criança, aquilo a fazia se tornar fascinante aos meus olhos. Assim que eles desceram, tomamos o café juntos e Jullie me ajudou a organizar a cozinha depois, enquanto isso e Mike subiram para o quarto, após trocarmos de roupa entramos no carro e seguimos para o supermercado.
Ao entrar olhei para , seus olhos estavam brilhando como de uma criança, logo Jullie e Mike pegaram ela pela mão e saíram pelos corredores, certamente seria mais um momento de aprendizado para ela. Sorri de leve ao vê-los empolgados, peguei um carrinho e com a lista na mão, entrei no primeiro corredor, foram minutos sozinho até eles se aproximarem de mim novamente.
— Uau, é tudo tão impressionante. — me olhou — Sabia que existe uma coisa maravilhosa chamada chocolate?
— Sim. — eu ri de leve com o forma dela falar, como se fosse a descoberta do século — Vocês deram chocolate para ela? — perguntei desviando meu olhar para Jullie.
— Nós não, tem uma moço fazendo demonstração no corredor dos biscoitos, então nós experimentamos. — explicou Jullie com seu sorriso de menina inocente.
— Hum. — olhei novamente para lista, ainda faltava quatro itens.
— E para onde vamos depois daqui? — perguntou .
— Vamos para casa. — respondi.
Senti um breve silêncio vindo deles e ao olhar para a cara de cada um, vi uma certa decepção. Seria uma maldade de minha parte, mas eles teriam que se divertir em nossa casa mesmo, logo olhou para Jullie e piscou disfarçadamente, aquilo era certamente alguma armação de ambas para planejar um dia cheio de aventura mesmo não podendo sair de casa.
Assim que voltamos para casa, se ofereceu para guardar as compras com a ajuda de Jullie e Mike, olhei para eles meio desconfiado e alertei que não queria nada voando no meio da cozinha. Mas assenti sem problemas que pudessem brincar um pouco no jardim, sorri de leve com a festa que fizeram e me dirigi para o porão, passaria algumas horas analisando os relatórios que me enviaram da obra atrasada de Los Angeles.
* POV
Eu realmente tinha um fraco para regras e adorava quebrar elas, assim que se trancou em seu escritório, estalei os dedos e as compras começaram a sair das sacolas e flutuar pela cozinha, Mike se empolgou um pouco e começou a cantarolar uma das canções que havíamos ouvido em um desenho da Disney.
— Juntando tudo cantamos assim, bifit bafiti bum. — ele ria entre as frases que se lembrava e cantava da música.
Jullie entrou na brincadeira e começou a fazer alguns gestos com os dedos indicadores, segundo ela eram gestos que maestros de orquestras faziam, eu não sabia o que era isso, mas ela estava se divertindo e isso era o que mais importava. Demorou um pouco até tudo ficou no se devido lugar, então eles me levaram até o jardim, o sol estava meio fraco e poderíamos brincar um pouco.
— O que vamos fazer? — perguntou Mike.
— Hum, estou sem ideias. — reclamou Jullie — Não consigo pensar em nada.
— Que tal exploração. — sugeri — Temos um ótimo jardim, vamos explorá-lo.
— Como? — perguntou ambos juntos.
— Imaginem se vocês fossem do tamanho de uma formiga. — comecei fazendo eles ficarem curiosos, Jullie me lançou um olhar de já entendi, então sorri de leve para ela — Este jardim é enorme, podemos fazer muitas coisas em nossa exploração.
— Uah, posso conversar com as formigas também? — perguntou ele já se animando.
— Bem, eu não sei que idioma elas usam, mas podemos entrar na casa delas se quiserem.
— Sério?! — Jullie me olhou.
— O que quiserem posso fazer, sou um gênio pessoal.
— Eu queria entrar em uma colmeia de abelhas. — disse Jullie.
— Não, vamos entrar no formigueiro primeiro. — protestou Mike.
— Que tal irmos em ambos. — respondi — Podemos fazer as duas coisas.
Estalei os dedos nos fazendo encolher, ficamos mesmo do tamanho de uma formiga, nossa primeira parada seria entre a grama do jardim em uma busca por um formigueiro. Andamos mais do que tínhamos imaginado, realmente a vida de uma formiga não era nada fácil, a distância da casa até onde estava o formigueiro era muito grande, quando se é minúsculo.
— Então, preparados? — perguntei ao chegarmos em frente.
— Sim. — disseram eles juntos.
Claro que teríamos alguns empecilhos, já que não éramos uma formiga, mas tudo se resolveu quando eu retirei do bolso da calça um pequeno dicionário de inseto idiomas, foi muito eficaz. Jullie riu um pouco quando eu tentei falar com a formiga que estava na porta do buraco, Mike ficou boquiaberta quando a formiga me entendeu, era difícil, porém não impossível. Entramos no formigueiro acompanhados por uma formiga guia, seria algo surreal de acontecer se eu não fosse um gênio pessoal, enfim para mim era muito bom ser um gênio daquela família.
As horas se passaram e nós três ainda estávamos nos divertindo pelos túneis do formigueiro, quando voltamos para a frente da casa todos sujos de terra, estalei os dedos e voltamos ao tamanho normal. A porta da cozinha se abriu e saiu para fora, estávamos rindo tanto de nossa pequena aventura e de como Mike estava mais sujo que eu e Jullie, que nem percebemos que ele estava lá.
— O que aconteceu com vocês? Parece até que foram para guerra. — perguntou ele não entendendo nada.
— Estávamos brincando de exploração. — respondeu Mike tranquilamente.
— Exploração? — ele olhou para mim vendo minha roupa toda suja, depois olhou novamente para o jardim — Posso entender o que aconteceu com a roupa de vocês?
— Quer mesmo saber? — perguntei rindo um pouco.
— Acho melhor não. — respondeu ele, talvez por ainda não se acostumar com meus poderes — Acho melhor tomarem um banho antes do almoço.
— Verdade papai. — Jullie me olhou e piscou de leve — Foi divertido.
Nós entramos na casa rindo mais um pouco e comentando sobre tudo que havia ocorrido, enquanto Jullie e Mike tomavam seu banho tranquilamente, eu entrei em minha garrafa. Usaria aquele momento do almoço para descansar, estava mesmo me sentindo cansada, desde que havia descoberto sobre eu ser um gênio, eu comecei a passar menos tempo ainda em minha garrafa, e infelizmente não podia ficar tanto tempo assim fora dela.
As horas se passaram com meu longo cochilo na garrafa, quando saí logo ouvi o barulho vindo da tv, desci as escadas silenciosamente e lá estava os três dormindo no sofá com a tv ligada. Chegando no último degrau, encostei na parede e fiquei olhando aquela cena por um tempo, eles formavam mesmo uma linda família, mesmo faltando um membro. Meu olhar se focou em espontaneamente, eu não o conhecia muito, mas conseguia perceber o quão grande era seu esforço para ser um bom pai, admirável o carinho que tinha por seus filhos, mesmo escondendo atrás do seu olhar sério uma grande perda.
— Vai me ajudar a leva-los? — perguntou ele abrindo seus olhos suavemente.
— Ah. — me encolhi um pouco, como ele sabia que eu estava ali — Te acordei?!
— Não. — ele sorriu de leve — Só estava descansando os olhos, então vai ficar parada aí?
— Não.
Eu me aproximei do sofá meio sem jeito e peguei Mike no colo, enquanto ele pegava Jullie, levamos as crianças com cuidado, cada um em seu respectivo quarto, como minha garrafa estava no de Jullie, deixei o abajur do quarto de Mike ligado e saí. Na minha singela distração, assim que abri a porta do quarto de Jullie e tomei impulso para entrar, senti duas mãos segurando em meus braços.
— Mais cuidado. — disse , me olhando sério.
— Me desculpe. — sussurrei meio atrapalhada.
Era a primeira vez que nos olhávamos tão de perto, seu olhar não estava tão triste como da primeira vez que o vi, respirei fundo e me afastei de leve dele, dando um sorriso tímido.
— Boa noite. — disse direcionando meu olhar para a fechadura da porta.
— Acho que já disso isso. — sua voz estava mais suave e cheia de sentimentos. — Mas, obrigado.
Assenti com a face e entrei no quarto de Jullie fechando a porta, estava feliz, aquilo significava que eu iria ficar mais tempo com eles.
“Conte-me seu desejo
Sou um gênio para você, garoto
Conte-me seu desejo
Eu sou gênio para o seu desejo.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 9
* POV
Pontualmente meu relógio despertou às 6 da manhã, um breve pensamento de virar para o canto e voltar a dormir passou pela minha cabeça, era tentador, mas tinha que me levantar, minha rotina de homem responsável contava comigo. Tomei uma ducha fria e coloquei algo mais casual, não estava animado para usar trajes formais em um simples dia de trabalho.
— Bom dia. — disse ainda sonolento ao entrar na cozinha e vez com a caixa de leite na mão.
— Bom dia. — ela sorriu gentilmente e colocou a caixa na mesa — Dormiu bem?
— Tão bem que quase não acordava. — sorri de canto desviando meu olhar para a cafeteira — Acho melhor acordar as crianças.
— Elas já estão acordadas. — respondeu tranquilamente enquanto pegava a bandeja com panquecas — Daqui a pouco eles descem.
— Posso entender como conseguiu acordar eles pontualmente? — a olhei curioso.
— Tenho os meus truques. — ela piscou de leve sorrindo, me fazendo rir.
— Bom dia papai. — disse Jullie entrando na cozinha e vindo me abraçar.
— Bom dia. — retribui o abraço ainda incrédulo — Então mocinha, agora você acorda cedo sem problemas?
— Hum. — ela riu baixo desviando seu olhar para — Bem.
— Porque não é assim comigo? — aquilo feria meu orgulho paterno.
— É porque acordar com a é mais divertido.
Olhei para que estava tentando segurar o riso, porém não conseguindo. Minutos depois Mike entrou na cozinha com a mesma animação da irmã, nos sentamos à mesa e tomamos o café tranquilamente, como tínhamos , ela se encarregaria de colocar as crianças no ônibus da escola. Aproveitei essa deixa para chegar mais cedo na empresa, assim que coloquei os pés dentro do edifício, trombei de leve com Penny.
— Oh, me desculpe. — estava mesmo distraído pensando em como acordava meus filhos.
— Não se preocupe, eu também fico inativa às vezes. — brincou ela pegando o papel que caiu de sua mão.
— Como foi o final de semana? — perguntei educadamente.
— Cheio de horas extras. — ela sorriu de leve — E a sua?
— A mesma coisa. — ri um pouco ao apertar o botão do elevador.
— Então. — ela mexeu de leve no cabelo — Nosso almoço hoje, está...
— Claro. — respondi tranquilamente — Temos que testar, assim podemos levar todos da próxima.
— Sim. — ela desviou o olhar para o elevador que se abria, parecia feliz com minha confirmação.
Entrei após ela no elevador, com um certa vergonha, já tinha tempos que não chamava uma mulher para um encontro. E agora me pego a pensar se este almoço é um encontro mesmo, ou algo casual entre amigos de trabalho. Trocamos mais algumas palavras no elevador até que ela saiu primeiro, o andar onde trabalhava era dois abaixo do meu.
— Aqui está ele. — disse John assim que entrei na minha sala.
— Posso entender essa euforia toda? — perguntei ele jogando minha pasta no sofá.
— Descobri algumas coisas que podem rolar no aniversário da empresa, estou ansioso. — ele jogou seu corpo no sofá se espreguiçando.
— Só pensa em festa. — balancei a cabeça negativamente — Vamos ao trabalho homem.
— Você que perdeu o jeito meu amigo. — ele suspirou — Onde vamos almoçar hoje?
— Você eu não sei, eu vou almoçar com uma pessoa.
— Uah. — ele ergueu seu corpo de leve — Quem é a felizarda?
— A Penny. — respirei fundo, sabia que se fizesse mistério ele descobriria de qualquer forma.
— Finalmente. — suas palavras soavam como uma realização.
— Nada de piadas pelos corredores, só vamos experimentar a comida de um novo restaurante que abriu aqui perto.
John riu um pouco, mas mesmo com minhas recomendações, passamos o dia com ele e suas piadas ridículas sobre minha vida amorosa. A hora demorou um pouco a passar, e mesmo com minha atenção voltada para o trabalho, não conseguia deixar de pensar como estaria se saindo sozinha me minha casa. Logo uma súbita imagem dela colocando fogo na casa me veio à mente, respirei fundo e peguei o celular, tinha que ligar para saber se estava tudo bem.
— ?! — disse assim que ela atendeu.
— Sim?! Eu te conheço? — perguntou ela, provavelmente não reconhecendo minha voz.
— Sou eu, . — respondi de imediato — Queria saber como está, se as crianças pegaram o ônibus na hora.
— Ah. — ela riu — Não reconheci sua voz mestre.
— Mestre? — aquilo era novo.
— Oh, eu me esqueci que você não está acostumado com meu lado gênio. — ela parecia meio sem graça — Mas voltando à sua pergunta, as crianças estão estudando com dedicação, estou vendo elas agora.
— Como assim? Está vendo elas? — estava mais confuso ainda — o que está fazendo?
— Nada de mais, só me disfarcei de pássaro para ver eles estudando. — respondeu ela tranquilamente.
— Pássaro. — sussurrei para mim.
— Está tudo bem?
— Sim. — respirei fundo, ainda não tinha mesmo me acostumado com seu lado mágico — Tome cuidado e não se machuque.
— Não se preocupe, fiz alguns amigos por aqui, estão me ensinando a voar direito.
— , só uma pergunta.
— Diga.
— Se você está na escola como um pássaro, como atendeu essa ligação?
— Quer mesmo que eu explique? — perguntou ela num tom de brincadeira.
— Não, não quero. — já tinha ouvido loucuras de mais — Vou almoçar no meu trabalho, e as crianças saem da escola após as três da tarde, então não fiquei com fome à toa, almoce em algum lugar.
— Vou sim.
Desliguei o celular meio paralisado com as explicações e histórias dela, um sorriso logo me veio ao rosto, conseguia sentir de longe o carinho que ela tinha pelos meus filhos. Após minutos de distração me lembrando dos momentos que presenciava com meus filhos, voltei a realidade ao olhar para meu relógio de pulso, estava na hora do almoço. Como combinado Penny e eu fomos ao restaurante novo, o lugar era bonito esteticamente falando, muito bem decorado com alguns traços retro. Sentamos em uma mesa um pouco ao fundo e esperamos um pouco para fazer nossos pedidos.
— Eu sei que está longe ainda, mas você vai no aniversário da empresa? — perguntou ela atenta aos meus gestos.
— Para ser honesto, não queria, mas como um funcionário, terei que ir. — respondi desviando meu olhar para o lugar.
— Deve ser estranho estar aqui comigo. — afirmou ela, estava certa.
— Um pouco. — sorri de leve — Faz um tempo que não fico a sós com uma mulher.
— Imagino. — ela parecia tentar me deixar à vontade — Quando comecei a trabalhar na construtora, ficava imaginando se você era comprometido, ou algo do tipo.
— Hum.
— Mas nunca te via acompanhado, até que percebi que usava uma aliança, mas então me disseram que era viúvo, fiquei surpresa.
— De alguma forma não consegui deixar minha esposa ir. — desviei meu olhar para minha mão olhando para a aliança — Por isso é complicado me relacionar com outra mulher.
— Entendo. — ela estendeu a mão dela com suavidade colocando sobre a minha — Não importa o tempo, se achar que podemos nos conhecer, sei esperar.
Aquilo era uma confissão eu acho, sentir a mão dela sobre a minha era diferente, me dava um certo encorajamento, Penny poderia sim ser uma mulher a qual eu pudesse dar uma chance. Ficamos nos olhando por um tempo, até que uma pequena confusão na porta do restaurante, atraiu nossa atenção.
— O que será que está acontecendo lá? — perguntou ela.
— Não sei.
Não sabia até reconhecer um dos rostos que estava no meio do tumulto, me levantei de imediato e me aproximei, Penny me seguiu sem saber o porquê da minha reação.
— , o que faz aqui? — disse ao vê-la.
— Mes... Oi. — ela se encolheu e olhou para o segurança que a segurava pelo braço — Me ajuda.
— Me desculpe, o senhor a conhece? — perguntou o gerente.
— Sim, ela é a babá dos meus filhos. — respondi olhando para o segurança que a segurava.
— Oh, George solte a moça. — ordenou o gerente — Me desculpe a confusão senhor.
— Sem problemas.
— Desculpa. — me olhou com medo, deveria estar imaginando que eu brigaria com ela.
Sim, eu queria brigar com ela, mas não seria ali. Voltamos para a mesa com ela nos acompanhando, um almoço que seria à dois, terminou em um triângulo.
— E como são os filhos de ? — perguntou Penny para .
— Maravilhosos, nunca tive amigos tão sinceros e amorosos como eles.
— Posso imaginar, seus olhos estão brilhando. — comentou Penny.
— Sim, meus filhos gostam muito da . — confirmei desviando meu olhar para aquela babá louca.
Mesmo não conhecendo Penny, a tratava como se a conhecesse desde criança, era inacreditável sua facilidade para fazer amigos e se enturmar. Pelo menos nosso almoço foi divertido e cheio de assuntos engraçados, assim que paguei a conta, pensei em colocar em um táxi de volta para casa, afinal ela teria que esperar as crianças. Porém me lembrei que tinha combinado de jantar na casa da minha mãe e as crianças iria direto para casa dela, minha única solução foi levar para a empresa.
— Uhl. — disse John ao me pegar pelo braço e me puxar para o canto.
— O que está fazendo?
— Você sai para almoçar com uma e volta com duas. — disse ele de imediato — Desde quando você é tão....
— Ei, pare com essas insinuações. — eu o empurrei de leve — Aquela é a babá dos meus filhos.
— Nossa. — John desviou seu olhar para — ela não quer ser babá de um homem com mais de trinta anos?
— Mais respeito. — disse num tom sério — Ela vai ficar aqui, até voltarmos para casa.
— Casa?! Ela mora com vocês?! — John me olhou surpreso.
— É temporário. — expliquei para aquela mente poluída.
— Meu amigo, você mora com uma babá dessas e não dividi a informação com os amigos?
— Não vou me dar ao trabalho de responder isso.
Me afastei dele e voltando para o centro o hall onde estava parada me esperando, a peguei pelo braço e a guiei até o elevador. Assim que chegamos em minha sala, fechei a porta para não ser incomodado, ela teria que me explicar suas ações.
— Eu juro que não foi proposital. — disse ela sentada no sofá com cara de inocente.
— E como me explica isso? — cruzei os braços — Eles te encontraram na dispensa do restaurante.
— Bem, eu fiz alguns amigos que... — ela se enrolou um pouco — Eles me pediram para ajudar, em troca me dariam comida.
— Que amigos são esses? — estava pedindo a Deus para que não fosse mais uma história louca.
— Uma família de ratos. — respondeu ela desviando seu olhar para o chão.
— Não. — sussurrei, respirei fundo — O que você ia fazer se chama roubo, isso é errado.
— Mas eles...
— . — minha voz estava mais áspera que o normal de quando eu fico nervoso.
— Desculpa. — senti que ela estava segurando as lágrimas.
— Eu é que peço desculpas, acho que me alterei demais. — me afastei dela e saí da sala.
Fui em direção ao banheiro masculino, precisava lavar meu rosto e respirar fundo para conseguir digerir novamente tudo aquilo que estava vivendo. Um gênio, esta era a parte de que sempre entrava em conflito com meu lado racional, e minha era quem aguentava toda a bagunça que isso me causava. Senti minha cabeça doer o resto da tarde, não acreditava que ainda tinha que jantar na casa dos meus pais, só queria ir para casa e deletar tudo da memória.
— Pensei que não chegaria mais. — disse minha mãe com um sorriso no rosto ao abrir a porta.
— Eu também. — concordei sendo abraçado por ela.
Felizmente não precisava explicar a existência de ali, a mente fértil de Jullie havia resolvido tudo antes da nossa chegada. Não consegui prestar atenção em momento algum do jantar, troquei poucas palavras com meu pai, minha atenção estava em outra pessoa. Por mais que seu sorriso estivesse sempre presente, sabia que estava triste pelo que tinha acontecido mais cedo. Quando voltamos para casa, enquanto ela colocou as crianças para dormir, eu fui para meu quarto trocar de roupa. Minutos depois ela bateu na porta, estava com uma bandeja na mão com uma xícara dentro.
— Eu... — ela parecia mais tímida do que o costume — Ouvi você dizendo que estava com dor de cabeça, então pesquisei algo que pudesse melhorar.
— Hum. — caminhei até ela e peguei a xícara, ela tinha feito chá para mim — Obrigado.
— Mais uma vez me desculpe por hoje. — ela olhou para o chão e se virou para sair.
— Espera. — segurei em seu braço a fazendo olhar para mim — Eu não deveria ter gritado com você.
— Não se preocupe. — ela deu um sorriso disfarçado, mas sua voz denunciava tristeza — Estou acostumada com as pessoas gritando comigo, e você é meu mestre, pode gritar o quanto quiser, sei se fiz algo errado agora.
— Não, você não sabia que era errado. — senti um aperto no coração, de força espontânea e automática eu a puxei para perto de mim e a aninhei em meus braços — Eu... Nunca mais... Gritarei com você.
“Assim como o céu é alto, os ventos são frios
E o oceano é grande e azul
Estou com medo de
Não te dar valor.”
- Smile Flower / SEVENTEEN
CAPÍTULO 10
* POV
Passaram algumas semanas, o tempo estava sendo mais rápido do que me lembrava que poderia ser, mesmo com diversões e aventuras pelo jardim com as crianças, eu sempre me pegava pensando na promessa de , aquele abraço foi o primeiro abraço confortável que tive desde que fui criada.
— . — disse Jullie entrando na cozinha saltitando — O que está fazendo?
— Hum, estava dando uma olhada no caderno de receitas da sua mãe. — respondi enquanto folheava o caderno — Eu vi no seu calendário um dia marcado, fiquei na dúvida que pudesse ser um dia especial.
— Ah. — ela se sentou na cadeira, sua face fiquei um pouco triste — Acho que sei de qual data está falando.
— O que foi? — deixei o caderno em cima da bancada e dei alguns passos até ela — Por acaso, este dia é um dia triste?
— Mais ou menos. — ela desviou o olhar de mim para o chão — Para muitas pessoas o dia de ações de graças é um dia feliz, mas para nós representa o dia que perdemos nossa pessoa especial.
Eu conseguia sentir a tristeza dela, aquele dia era o dia da morte de sua mãe, eu não conseguia imaginar o tamanho da falta, que eles sentiam dela, queria poder fazer algo para ajudar. Jullie ficou em silêncio por um tempo até que saiu da cozinha, era frustrante para mim, não conseguir fazer ela sorrir quando o assunto era sua mãe, neste momento eu me sentia inútil. Pensei em ir atrás dela, mas desisti assim que Mike entrou dizendo que queria comer bife e batata frita no jantar.
— Tem certeza que seu pai não vai brigar? — perguntei segurando o riso.
— Tenho, vamos comemorar, eu tirei boa nota na prova de geografia. — reforçou ele fazendo cara de gatinho sem dono.
— Tudo bem, então teremos bife e batata frita. — concordei sorrindo para ele.
— Viva! — ele deu um pulo de animação.
— Vai me fazer companhia hoje? — perguntei indo até a geladeira.
— Claro.
— Hum, vejamos o que posso fazer para acompanhar nosso prato principal. — brinquei enquanto olhava tudo o que tinha na geladeira.
— , você sabe por que a Jullie estava triste?
— Sim, mas não posso falar.
— Por que?
— Porque não quero que fique triste também. — respondi tranquilamente, me virei para ele e o olhei.
— Então, acho que sei o motivo. — sua face ficou um pouco triste também.
— Viu, por isso eu não queria falar. — mais uma vez frustrada por não saber como ajudar.
— A culpa não é sua . — ele se levantou da cadeira e me deu um abraço apertado — Você foi a melhor coisa que nos aconteceu em muito tempo.
— Ouvir isso me deixa mais aliviada. — eu sorri para ele — Farei o melhor bife que você já comeu até hoje.
— Já estou ansioso para comer. — brincou ele com seus olhos começando a brilhar.
Era divertido ter companhia enquanto cozinhava, principalmente a de Mike, ele me contava histórias divertidas que ouvia de seus amigos na escola. Com a Jullie era mais um momento de descobrir sobre o mundo, mesmo a conhecendo há algum tempo, eu ainda me impressionava como era esperta e inteligente. Assim que terminei de preparar o jantar, chegou, eu e as crianças estávamos rindo na cozinha enquanto colocávamos os pratos na mesa.
— Pai. — disse Mike ao vê-lo.
— Que animação. — disse ele encostado na parede nos olhando — Podem me doar um pouco?
— Claro. — Jullie sorriu indo abraça-lo — Pai, você demorou para chegar hoje.
— Estava fazendo algo que os adultos são obrigados a fazer. — ele deu um suspiro fraco — Trabalhar.
— A é adulta e não faz isso. — retrucou Mike cruzando os braços.
— A cuida de vocês. — explicou ele desviando seu olhar para mim.
— Mas isso não é um trabalho para mim, eu gosto de ficar com eles. — eu sorri espontaneamente o fazendo sorrir junto, era raro quando ele sorria, mas seu sorriso era bonito.
— Tudo bem, eu vou tomar um banho e volto para nosso jantar. — disse ele se virando.
— Vamos te esperar. — eu disse olhando para Jullie.
— Não demora papai. — ela gritou rindo.
Estranhamente a comida estava mais saborosa desta vez, tanto que elogiou, fiquei surpresa com seu elogio, mas me fez ficar mais feliz. Todas as vezes que eu tentava cozinhar por conta própria, não saia nada de bom, decepcionante, mas daquela vez estava bom. Acho que era resultado das minhas horas de estudo gastronômico dentro da minha garrafa, enquanto eles dormiam, para mim cozinhar para , era uma forma de agradecer por ter me deixado ficar com eles. Após o jantar, ficamos um tempo vendo tv até que as crianças pegaram no sono, como sempre levava Jullie que era mais pesada, enquanto eu me encarregava de colocar Mike na cama.
— Você vai dormir agora também? — perguntei a ele ao sair do quarto de Mike.
— Ainda não. — ele fechou a porta do quarto de Jullie e se virou para a escada — Estava pensando em ver um filme, me acompanha?
— Claro. — inocente eu, pensando que veríamos mais um daqueles desenhos fofos da Disney, o segui.
— Vejamos. — ele abriu a lista de filmes e começou a escolher — O que podemos ver.
— Não sei. — sentei no sofá — Eu acho que já vi todos os filmes do senhor Disney.
— Disney?! — ele riu e me olhou — Disney não é uma pessoa, bem o criador era uma pessoa, mas. — ele riu mais um pouco.
— É, Jullie já me contou sobre isso, mas não consigo me acostumar. — suspirei fraco desviando meu olhar para a tela na tv.
— Não vamos ver nenhuma desenho. — ele voltou sua atenção para a tv.
— E o que vamos ver?
— Algo que não seja tão adulto para você, mas não tão criança para mim. — ele riu mais um pouco.
— Não entendi. — sussurrei para mim mesmo.
— . — ele caminhou até o sofá e se sentou ao meu lado — Você ainda é muito inocente para certos assuntos, e espero que permaneça assim.
— Continuo sem entender. — resmunguei desta vez mantendo minha atenção na televisão.
— Não precisa entender. — ele tocou de leve em minha cabeça bagunçando meu cabelo, rindo de mim — Vamos ver algo divertido.
— Hum. — desviei meu olhar para ele por um momento, era a primeira vez o via tão animado com alguma coisa.
Eu estava intrigada com suas palavras, porque ele me achava inocente? Era um fato que eu não conhecia muita coisa do mundo moderno, mas parecia até que eu era uma criança. Pelo menos o filme que ele escolheu era legal e engraçado, e tenho que admitir que a pessoa que fez o personagem do capitão Jack Sparrow, me fez realmente acreditar que aquele pirata era real, fizemos uma breve pausa para a pipoca, no final eu gostei muito de ter visto filme com .
* POV
Os dias passaram e a cada avanço das obras da galeria, uma preocupação a mais com os cálculos estruturais, isso me dava ainda mais dores de cabeça. Minha sorte era ter uma profissional tão competente quanto Penny, ela estava mesmo empenhada a consertar todos os cálculos errados e todas as plantas estruturais da obra inteira. Uma contagem que demorou certa de uma semana e custou muitas pausas na obras, nosso tempo que entrega estava apertado, porém iríamos entregar um projeto seguro e bem estruturado.
— Finalmente acabei. — disse Penny entrando em minha sala — Aqui estão as últimas pranchas da parte estrutural do galpão.
— Você não sabe o quanto estou grato por ter me ajudado. — disse pegando as pranchas da mão dela — E aliviado.
— Não precisa agradecer, é meu trabalho. — ela sorriu — E, devo admitir que gostei de ter feito isso, eu pude passar mais tempo com você.
— Hum. — me senti um pouco tímido com aquela declaração, apesar de saber o interesse dela por mim — Nem sei como reagir a isso.
— Pode reagir passando o dia de ações de graças comigo. — sugeriu ela, mordendo seu lábio inferior — Minha família mora longe e não tenho companhia.
— Ah. — não sabia o que responder — Bem, você pode passar comigo e minha família.
— Sério? — ela parecia surpresa com meu convite.
— Sim. — eu sorri meio sem jeito — A menos que você se sinta desconfortável.
— Ah, não. — ela sorriu — Agradeço o convite.
Eu não poderia passar longe dos meus filhos, e não me sentiria bem em deixar Penny sozinha, já que ela morava longe da família, acho que seria uma boa oportunidade para meus filhos conhecerem ela. Eu e Penny estávamos saindo juntos com uma certa frequência, ela era uma boa companhia e nossos assuntos eram diversos e agradáveis, até a parte em que eu pensava em e me esquecia de tudo ao meu redor.
— ? ? — disse ela me fazendo voltar a realidade — Está tudo bem?
— Sim, Penny, só me distrai. — dei um riso fraco, mais uma vez estava com minha atenção naquela babá louca — O que dizia?
— Estava perguntando se devo levar algo.
— Ah, não sei, se quiser levar.
— Posso fazer uma sobremesa, receita de família. — sugeriu ela.
— Claro, meus filhos adoram doce.
— Combinado então. — ela sibilou um pouco, desviando seu olhar para a janela — Bem, eu estava pensando se poderia me dar uma carona hoje.
— Carona? Claro. — respondi tranquilamente.
— Obrigada, meu carro está na revisão.
— Não é nenhum incômodo para mim.
Era um fato, todas as vezes que eu dava carona para Penny, eu chegava bem mais tarde em casa que o normal, ela sempre me convidava para tomar uma taça de vinho. Isso era pretexto para conversarmos um pouco mais sobre nossa vida, eu sempre ficava mais calado enquanto ela contava sobre sua infância e seus tempos na universidade. Foi entre essas taças de vinho que ela me beijou de surpresa, foi estranho para mim, mas consegui não demonstrar isso a ela.
— Boa noite. — disse ao chegar em casa, estava sentada na escada com um livro na mão.
— Boa noite. — ela fechou o livro e se levantou — Tudo bem?
— Sim. — tentei disfarçar, mas eu estava um pouco tonto pelo vinho — Só preciso de um banho quente.
— Hum. — ela se encolheu um pouco — As crianças tentaram te esperar, mas acabaram dormindo.
— Imaginei. — dei alguns passos até a escada e subi o primeiro degrau.
— Elas dormiram na sua cama. — continuou ela.
— O que? — eu a olhei, minha visão estava ficando meio embaçada.
— Tem certeza que está bem? — perguntou ela colocando a mão no meu ombro.
— Sim, estou. — me afastei um pouco dela — Vou tomar banho, não se preocupe que eles não vão acordar.
Ela assentiu com a face, entrei no meu quarto e fui direto para o banheiro, aquela ducha quente me ajudou um pouco, coloquei o pijama e voltei para a sala, não queria mesmo atrapalhar o sono dos meus filhos. Estranhei não estar na sala, mas não dei importância, me joguei no sofá deitando e fechei os olhos, minutos depois senti ela colocando uma coberta sobre meu corpo, não consegui deixar de sorrir.
— Boa noite. — disse mantendo meus olhos fechados.
— Boa noite. — respondeu ela, sua voz estava mais baixa e parecia um pouco triste.
“Eu apenas desejo esses pequenos confortos
Você não sabe do meu coração, que sempre quer fazer mais por você.”
- No Other / Super Junior
CAPÍTULO 11
* POV
Eu não acreditava que estava mesmo acordando cedo em pleno feriado, mas meus pais iriam chegar bem cedo para aproveitar a manhã com as crianças. Como sempre já estava acordada terminando de preparar o café da manhã, por mais que eu achava muito para ela fazer todas as tarefas de casa, cuidar das crianças e ainda cozinhar, para ela era como uma diversão.
— A quanto tempo está acordada? — perguntei a ela vendo a mesa arrumada.
— Para dizer a verdade, eu não dormi. — ela me olhou tranquilamente — Estava tão ansiosa, seus pais disseram que chegariam cedo, não consegui dormir.
— . — eu sorri de leve — Não fique assim novamente, é só mais um dia comum.
— Hum. — ela desviou seu olhar para o chão, talvez eu tivesse jogado gelo em sua animação.
Logo a campainha tocou, era meus pais, eu iria aguentar mais duas pessoas animadas com aquele dia, acho que não conseguiria sobreviver até o anoitecer. Minha mãe resolveu acordar as crianças, assim poderíamos tomar café juntos, claro que para meus filhos ter a casa cheia e estar rodeado por pessoas que amavam naquela data seria muito bom, espantaria os pensamentos tristes, ainda mais tendo com eles.
— Estou ansiosa para aprender a fazer aquela torta de maçã que me falou. — disse animada.
— Ah, sim, minha torta é bem famosa mesmo. — minha mãe sorriu para ela — E é bem fácil de se fazer.
— Nem passamos o café e já estão falando no almoço? — eu ri desviando meu olhar para meu pai — Viu, elas querem nos engordar.
— Estou vendo meu filho. — meu pai riu um pouco — Mas é o que sua mãe sempre tentou fazer desde que nos casamos.
— Ei, você nunca reclamou da minha comida.
— Porque é a melhor do mundo, não me importo se engordar. — ele a olhou com carinho.
— Vocês são um casal muito bonito. — elogiou .
— Vovó e vovô são os melhores. — completou Jullie.
— Você também é uma moça muito bonita. — disse minha mãe — Você tem namorado?
— Namorado? — ela fez uma careta estranha como se não soubesse muito bem o termo — Acho que não.
— A não tem vovó. — respondeu Jullie.
— Ah, que pena, uma garota tão bonita e sozinha, mas também, meu filho fica te escravizando, nem te deixa ter uma vida social.
— E a culpa sempre cai sobre mim. — disse respirando fundo.
— Ah, não, eu gosto de ficar aqui com as crianças, não me importo. — ela olhou para Jullie e sussurrou — O que seria vida social?
— Depois te explico. — Jullie riu baixo.
— Mas e sua família ? — perguntou meu pai.
— Estão viajando. — respondeu Jullie novamente — Lembra que eu te disse isso vovô.
— Ah, sim. — meu pai desviou o olhar para minha mãe — Me esqueci, é a idade.
— O senhor parece ser bem jovem ainda. — disse com sua inocência.
— Agradeço suas palavras sinceras. — meu pai sorriu para ela.
— Sim, você é uma pessoa muito sincera mesmo. — minha mãe suspirou — Que pena que não convivemos com pessoas assim, as pessoas te hoje em dia se tornaram tão artificiais.
— é a melhor. — Mike vibrou da cadeia.
— Você que é. — sorriu para ele, devolvendo o elogio.
As horas se passaram, enquanto meus filhos viam televisão na sala, e minha mãe na cozinha preparando o almoço, eu e meu pai ficamos no jardim conversando. Eu estava fugindo um pouco disso, não queria que ele tocasse em assuntos que ainda me machucavam.
— E como está se sentindo hoje? — perguntou ele parando no meio da grama e olhando para a árvore que tinha ao lado da cerca.
— Bem. — uma resposta rápida e precisa.
— Tem certeza? — insistiu ele — Sabemos o que aconteceu nesta data.
— Hoje faz seis anos. — respirei fundo desviando meu olhar para o céu — Ainda sinto falta dela.
— É claro que sente, ela foi seu grande amor por muito tempo, mãe dos seus filhos, seria estranho se não sentisse, mas está conseguindo conviver com isso?
— Não sei, às vezes penso que superei, então vejo que ainda dói. — segurei algumas lágrimas que começaram a aparecer — Mary ainda me faz falta.
— Eu e sua mãe, sempre vamos nos preocupar com você, é normal de todo pai e mãe. — ele fez uma breve pausa — Ficamos conversando um pouco nessa madrugada, sobre você, se algum dia você conseguiria refazer sua vida.
— Estou tentando, mas fico pensando se será bom para meus filhos, eu ter outra pessoa.
— Tenho certeza que eles entenderão, uma nova esposa não jamais ocupará o lugar da mãe deles, mas pode acrescentar sorrisos na vida deles.
Não consegui deixar de pensar na presença de em nossas vidas, ela acrescentava sorrisos na vida dos meus filhos, comecei a imaginar se Penny conseguiria fazer isso também. Entramos novamente, meu pai passou direto para sala, eu fiquei um pouco mais na porta para o corredor vendo elas se movimentando na cozinha. parecia feliz por aprender e ajudar minha mãe, seus olhos brilhavam como os de uma criança. Me afastei um pouco e ouvi a campainha tocar, de certo era minha convidada especial.
— Olá. — disse Penny assim que abri a porta, ela estava com um pequeno embrulho nas mãos.
— Oi, chegou bem na hora, o almoço está quase pronto. — abri a porta para que ela entrasse e peguei o embrulho de suas mãos.
— Fiquei em dúvida se a sobremesa ficaria mesmo boa, mas acho que está agradável de se comer. — ela riu um pouco.
— Não precisava ter trago, mas agradeço. — sorri de leve.
— Boa tarde. — disse ela ao entrar.
— Boa tarde. — meu pai sorriu educadamente.
— Penny, esses são meus filhos, Jullie e Mike e meu pai. — eu olhei para as crianças e depois para meu pai — Bem, esta é Penny, uma amiga do trabalho, eu a convidei para passar o dia aqui.
— É um prazer conhecer vocês. — completou ela.
— Oi. — disseram meus filhos juntos.
— Para aqueles famintos o almoço está pronto. — disse minha mãe ou entrar na sala — Oh, temos visita.
— Mãe esta é Penny, uma amiga do trabalho.
— Boa tarde senhora. — ela sorriu.
— Boa tarde. — minha mãe parecia sem reação — Bem, não nos disse que tinha convidado alguém.
— Bem-vinda. — disse com um sorriso largo — Que bom te ver de novo.
— Obrigada .
— Você a conhece ? — Jullie a olhou.
— Sim, almocei com ela e uma vez. — me olhou — Quer que eu guarde?
— Ah. — Penny olhou para o embrulho — É uma sobremesa que trouxe, receita de família.
— O que é? — perguntou minha mãe.
— Baked alaska, um bolo com recheio de sorvete. — explicou Penny.
— Que legal, Mike adora sorvete. — veio até mim e pegou o embrulho — Então eu acho melhor deixar na geladeira, assim o sorvete não derrete.
— Eu te ajudo . — disse Jullie a seguindo até a cozinha.
— Você trabalha em qual departamento na construtora? — perguntou minha mãe.
— Sou engenheira estrutural. — respondeu.
— Ah, engenheira estrutural. — minha mãe desviou o olhar para mim, parecia estar analisando Penny.
Fiquei um pouco desconfortável com tantas perguntas, que minha mãe fez a Penny, durante o almoço, parecia até que eu estava no ensino médio e Penny era a primeira garota que levava em casa. Eu percebi uma certa mudança de humor em Jullie, com a presença de Penny, não queria imaginar que minha filha estava com ciúmes de mim. A comida estava saborosa como sempre, fiquei admirado de minha mãe ter falado que a maionese foi feita pela , ela estava mesmo se superando na cozinha. Foi um alívio meus filhos terem comido a sobremesa que Penny levou, acho que isso se deve a , que me mostrou muito empolgada por comer bolo e sorvete ao mesmo tempo, foi divertido ver isso.
— Bem, obrigada por hoje. — disse Penny ao chegar perto do seu carro — Estou feliz por não ter passado esse dia sozinha.
— Se quiser pode ficar mais um pouco. — disse a ela olhando para o céu — Está começando a escurecer agora.
— Não, eu percebi que seus filhos não ficaram tão à vontade comigo. — ela desviou o olhar para o carro — Mas, não vou forçar, é a primeira vez que eles me vê, mas foi bom passar a tarde com você e sua família.
— O que importa é que veio. — sorri meio sem graça — Te vejo no trabalho então.
— Até. — ela entrou no carro e deu a partida.
— Nós também já vamos. — disse meu pai ao se aproximar de mim.
— Hum. — desviei meu olhar do carro de Penny que estava se aproximando da esquina e o olhei — Tem certeza?
— Sim, sua mãe precisa descansar. — ele riu um pouco — Ela se empolgou tanto na cozinha, que agora está sentindo algumas dores nas costas.
— Como o senhor diz, é a idade. — eu ri junto.
— Falando de mim? — perguntou minha mãe parando ao meu lado.
— Estávamos falando o quanto a senhora é maravilhosa na cozinha.
— Sei. — ela olhou para meu pai — Querido, vai indo na frente, preciso trocar algumas palavras com .
— Claro. — eu pai bateu de leve no meu ombro sorrindo e se afastou de nós.
— Qual mais pergunta irá fazer? — fui direto com ela.
— Quem é realmente essa Penny? — ela foi mais direta ainda.
— Uma amiga...
— , sou sua mãe e te conheço, vamos pular a parte do amiga. — me interrompeu ela.
— Ela ainda é uma amiga. — refiz minha resposta — Estamos nos conhecendo.
— Conhecendo, quanto?
— Sério que terei que responder?
— Não, mas você percebeu que seus filhos não ficaram à vontade com ela? — retrucou — Sei que não tenho direito de me meter na sua vida.
— Como eu disse, só estamos nos conhecendo, afinal...
— Afinal?
— Foi a senhora e o papai que sempre disseram para eu refazer minha vida amorosa.
— Verdade. — ela deu de ombros — Mas, eu não imaginava com uma mulher como a Penny.
— O que tem a Penny?
— Ela não combina com você, me parece uma mulher oferecida.
— E o que a senhora imaginava para mim?
— Hum. — ela olhou para minha casa por um momento e desviou o olhar para mim — Eu imaginava alguém como a .
— O que? — aquilo era novo para mim — Não.
— Por que não? — minha mãe colocou a mão na cintura me olhando séria — Ela é uma moça gentil, simples, divertida, bonita, faz seus filhos sorrirem com facilidade.
— Ela, não poderia ser, não a vejo dessa forma. — eu realmente não sabia como reagir aquela sugestão da minha mãe, durante todo esse tempo convivendo com , nunca tinha cogitado a ideia.
— Decepcionante. — minha mãe suspirou fraco — Ela nem parece ser tão mais nova que você.
— Pare de criar esses pensamentos mãe. — estava mesmo confuso com aquilo, a babá dos meus filhos era um gênio e não uma mulher, bem, eu nunca a tinha visto como uma mulher
— Não, esqueça, a não poderia...
— Ela não tem namorado. — retrucou minha mãe — Eu gostei dela.
— Vamos encerrar esse assunto mãe, não é uma opção e Penny é só uma amiga, não se preocupe, eu sempre penso no melhor para meus filhos.
— Se pensasse mesmo, colocaria a não como uma opção, mas como a decisão final. — ela se afastou de mim e entrou no carro.
Agora eu estava desnorteado, as palavras da minha mãe fizeram uma bagunça em minha mente, de uma forma que seria complicado organizar. Realmente, nunca tinha visto como uma mulher, até aquele momento, ela era sempre a garota inocente, que era babá dos meus filhos, e não achava aquilo um trabalho. Uma garota que tinha o sorriso mais sincero que já tinha visto na vida, que os olhos brilhavam quando descobria alguma coisa nova, que sempre me deixava nervoso com suas histórias de gênio e me chamava de mestre.
Uma garota que me fazia me sentir bem e sorrir no final do dia.
“Mesmo com você na minha frente,
Eu não sei o que fazer,
Para as pessoas que estão apaixonadas,
Por favor, me diga como você começou a amar.”
- Hello / SHINee
CAPÍTULO 12
* POV
ficou mais um pouco de tempo na frente da casa conversando com sua mãe, eu levei as crianças para a cozinha, nossa tarefa era deixar tudo organizado, como sempre eu iria fazer daquela tarefa algo divertido para eles. Arrumamos tudo em meio algumas bolhas de sabão que voavam pela cozinha, era quase uma festa para Mike e Jullie. Parei por um momento e desviei meu olhar para a porta, estava encostado na parede nos olhando, fiquei um pouco envergonhada, minha cara estava molhada pelas bolhas.
— Agora entendi. — disse ele.
— Entendeu o que papai? — perguntou Jullie.
— Porque gostam tanto de arrumar a cozinha com a .
— Com a é mesmo mais legal. — Mike sorriu.
— Assim vocês ferem meus sentimentos. — ele riu desviando seu olhar para uma bolha de sabão que se aproximava dele — Mas vou deixá-los se aproveitando.
Nós rimos um pouco, enquanto ele se afastava, era engraçado quando ele se mostrava traído, pelas crianças gostarem de fazer as coisas comigo. Terminamos tudo e fomos para sala, já estava vendo um filme, nos juntamos a ele, em silêncio, mas segurando o riso. Jullie me explicou que era uma comédia romântica, era o gênero cinematográfico que sua mãe mais gostava. Naquele momento eu me lembrei que aquele dia fazia seis anos, que eles estavam sem ela, e estava vendo seu filme preferido. Acho que o nome era De repente 30.
— Acho que dormiram. — disse ao olhar para as crianças.
— Sim. — ele respirou fundo — Obrigado por hoje.
— Eu não fiz nada. — e não tinha mesmo feito nada, agi da mesma forma que faço todos os dias.
— Pode pensar que não, mas fez. — ele se levantou do sofá — Estou aliviado por eles terem sorrido hoje.
— Tenho certeza que eles vão acordar sorrindo amanhã também. — eu estava confiante quanto a isso.
— O que você aprontou? — ele parecia curioso.
— Eu posso não conseguir tirar os pensamentos tristes deles, e nem sei como ajudar sobre isso. — desviei meu olhar para Mike — Mas posso transformar esses pensamentos tristes em sonhos felizes.
— Você pode fazer eles terem bons sonhos?
— Claro, sou um gênio. — respondi tranquilamente.
— Às vezes, me esqueço disso.
— Posso fazer isso por você hoje, também.
— Isso, o que?
— Transformar seus pesadelos em sonhos. — expliquei.
— Ainda diz que não faz nada. — ele sorriu de canto me olhando com serenidade, era bom ver que seu olhar não estava mais triste.
— Bem, acho melhor levar eles. — desviei meu olhar para Mike — Assim poderão dormir mais confortável.
Colocamos as crianças em seus quartos, como eu disse, eles teriam sonhos maravilhosos aquela noite. foi para seu quarto trocar de roupa, quando eu passei pela porta ele me chamou, ele estava ao lado da cama, ele estava só com a calça do pijama, sem a camisa. Era interessante acompanhar as linhas do seu abdômen, era a segunda vez que via aquelas linhas, só agora conseguia analisar cada curva, tentei disfarçar um pouco meus olhares, mas era como um imã.
— Estou pronto. — disse ele meio sem jeito.
— Para que? — perguntei um pouco receosa.
— Para dormir. — explicou ele — O lance do sonho, você precisa jogar algum pó mágico em mim?
— Ahn?! — eu comecei a rir da cara dele — Não, não sou o Merlin, sou um gênio. — ri mais um pouco — De onde tirou essa de pó mágico?
— Desculpa minha falta de conhecimento. — ele estava com um ar de ofendido.
— Não precisa fazer nada, apenas deite, feche os olhos e durma.
— Boa noite então. — ele cruzou os braços, aquilo me fez tombar a cabeça, porque aquela pose o deixava tão diferente, faziam meus olhos não se desviassem dele.
— Boa noite. — fechei os olhos e saí do quarto rapidamente.
era o segundo homem com quem eu convivia, o primeiro foi o meu antigo mestre, mas ele sempre me deixava presa na garrafa, então eu não o via muito, só quando queria que eu fizesse pedras preciosas aparecerem. Mas com é diferente, eu o via quase o dia todo, e quanto não estava perto dele, pensava em como eu poderia fazer ele sorrir. Ele era um homem muito bonito, mas tinha uma face triste, por isso sempre tentava deixar ele alegre, mesmo que por poucos segundos.
Mas esta noite todos naquela casa teria sonhos felizes, todos acostariam sorrindo e eu me sentia muito satisfeita em conseguir isso, afinal os gênios são feitos para realizar desejos e fazer seus mestres felizes. Definitivamente, meu objetivo era fazer e as crianças felizes, e daria o meu melhor para conseguir.
No dia seguinte, acordei as crianças um pouco mais tarde, era feriado prolongado, então só teriam aulas na próxima semana. Assim que saiu do quarto, foi direto para a cozinha, o café já estava pronto, não era mais novidade, afinal eu já estava me acostumando com todos os instrumentos que tinha na cozinha e já tinha decorado todas as receitas do caderno de Mary.
— Bom dia. — disse ele aparecendo na porta com um sorriso disfarçado.
— Bom dia. — eu sorri naturalmente como sempre — Como foi sua noite.
— Como você disse que seria, sonhos bons me alcançaram. — respondeu ele indo até a cadeira e se sentando.
— Fico feliz por isso. — caminhei até a mesa com o a caixa de leite, assim que cheguei tropecei no pé da cadeira me desequilibrando.
— Cuidado. — disse se levantando e me amparando.
Senti sua mão em minhas costas, me segurando, fiquei um pouco paralisada, nunca tinha me aproximado tanto de um homem assim, nossos olhos se encontraram e ficamos nos encarando por alguns segundos. Eu que tinha prendido o ar, respirei fundo erguendo um pouco mais meu corpo, me afastando dele.
— Me desculpa. — disse sem saber como reagir.
— Você quase cai e pede desculpas? — ele riu — Apenas seja mais cuidadosa.
Aquele era o que eu conhecia.
— Bom dia papai, bom dia . — disseram as crianças ao entrarem na cozinha.
— Bom dia. — respondi sorrindo para eles.
— Bom dia queridos.
— Eu tive um maravilhoso sonho. — comentou Jullie se sentando na cadeira.
— Aposto que meu sonho foi melhor. — disse Mike se sentando na outra cadeira.
— Teremos o dia todo para vocês me contarem seus sonhos. — disse desviando seu olhar para mim.
— Você não vai trabalhar hoje? — perguntou Jullie.
— Não. — ele sorriu — Hoje sou de vocês.
— Viva. — Mike deu alguns pulos da dadeira enquanto festejava.
— Isso é legal. — disse me sentando — Mas, você vai ficar no porão?
— Não, hoje eu realmente sou dos meus filhos. — ele olhou para Jullie — A menos que vocês prefiram ficar com a .
— Para de ciúmes papai. — Jullie riu dele — Será mais legal com o senhor e a .
— Podíamos fazer algumas explorações. — sugeriu Mike.
— Hum, tive uma ideia, que tal voltarmos no passado?
— Passado? — me olhou meio desconfiado — O que está tramando?
— Surpresa, apenas confie na sua guia turística da história.
Nosso café da manhã foi tranquilo e cheio de perguntas de sobre nossa expedição ao passado, mal ele sabia que iríamos a fundo no passado. Esperamos alguns minutos após o café, no estalar dos meus dedos troquei a roupa de todos, seríamos escoteiros por um dia em uma terra de seres ferozes. Em um piscar de olhos voltamos para a era dos dinossauros, foi engraçado ver a cara do quando um braquiossauro passou por nós.
— Como? — ele me olhou espantado.
— Sou um... — comecei a explicar.
— Nem ouse terminar. — ele olhou novamente para o braquiossauro — É surreal e lindo ao mesmo tempo.
— Viu papai, é assim que brincamos todos as tardes com a . — disse Jullie rindo dele.
parecia mesmo muito admirado com tudo que via, seres que integravam os livros de história, estavam diante dele. Exploramos os arredores do lugar onde aparecemos, para nossa sorte era uma área de ninhos deles, acho que estavam no período de acasalamento, tinham muitos ovos espalhados pelos ninhos.
— Uah. — disse Mike ao se aproximar de um centrossauro, e sem medo começou a acariciar ele — Toca nele Jullie.
— Incrível. — Jullie tocou no dinossauro — Eu sinto como se fosse real.
— Mas é real. — conclui rindo.
— Você não traz eles para cá todos os dias né? — perguntou .
— Não. — eu ri — Essa é a primeira vez, mas está sendo divertido.
Foram sim horas de diversão até que apareceu um grupo de velociraptors baderneiros, seguido de uma dupla faminta de tiranossauro rex, aqui nos fez correr um pouco até que eu consegui levar todos de volta para casa. Quando chegamos, estávamos um pouco cansados pela corrida, sentou no sofá, ele parecia o mais assustado de todos.
— Definitivamente, vocês estão proibidos de volta no era dos dinossauros. — disse ele.
— É, tenho que concordar que é muito perigoso. — sentei no último degrau da escada e olhei para ele — Mas foi legal, tirando a parte final.
— Foi fantástico. — Mike deu um pulo — Quero voltar ao passado de novo.
— Podemos ver as pirâmides egípcias? — perguntou Jullie.
— A única coisa que vocês podem é tomar um banho e trocar de roupa. — disse se levantando do sofá — Já está ficando tarde, hoje eu faço o jantar.
Eu não tinha reparado, mas tinha trago eles com um atraso nas horas, estava escurecendo, deveria ter calculado melhor o tempo de retorno. Mas estava tão ocupada correndo de um dinossauro. Segui até a cozinha e fiquei olhando ele fazer o jantar, era chato estar ali e não fazer nada.
— Tem certeza que não quer ajuda? — perguntei pela quarta vez.
— Não. — disse ele concentrado na panela.
— Nem para trocar de roupa? — perguntei tranquilamente.
— O que? — ele me olhou assustado.
— É que está sujando a cozinha. — eu estalei os dedos e nossas roupas ficaram limpas — Assim está melhor.
ficou me olhando ainda estático, será que ele tinha interpretado mal minha pergunta?
“Você realmente existe?
Você parece apenas fantasia,
Estou vagando entre sonhos e além?”
- Black Pearl / EXO
CAPÍTULO 13
* POV
Eu não entendia o grau da sua inocência, mas à vezes dizia coisas que me faziam paralisar, talvez por não pensar que suas palavras possam ter duplo sentido. Respirei fundo tentando juntar as palavras certas para explicar a ela a forma correta de se comportar perto de um homem.
— Eu disse algo errado? — perguntou ela se encolhendo um pouco.
— Digamos que foi estranho, eu entendo que você não deve ter convivido muito tempo com um homem, mas existem certas coisas que não se deve dizer, podem soar de forma negativa. — disse quase me embolando com as palavras — Jamais, jamais se ofereça para ajudar um homem a trocar de roupa, não é algo que se pergunte.
— E porque não? Tentei ser prestativa. — ela me olhou meio confusa.
— Primeiro, mais ninguém pode saber que você é um gênio, então não pode sair perguntando isso para as pessoas, e segundo, os homens possuem um certo grau de malícia no pensamento, suas palavras podem ser mal interpretadas.
— E como elas poderiam ser interpretadas?
— Bem. — respirei fundo, não sabia como responder, ela parecia uma adolescente na puberdade e eu um pai que teria que falar sobre coisas da vida — Acho melhor você não saber, não fará diferença, só não quero de repita isso.
— Me desculpa. — disse ela olhando para o chão.
— Não se desculpe, não estou brigando com você, só estou te pedindo para não repetir.
— Tudo bem. — ela concordou se sentado na cadeira.
Fiquei a olhando, logo percebi que tinha um sorriso no canto do meu rosto, respirei fundo e voltei minha atenção ao jantar, não demorou muito até as crianças aparecerem na cozinha afirmando estarem morrendo de fome. Eu ri um pouco, mantendo minha atenção no que estava fazendo, depois que apareceu em nossas vidas, eu tinha me distanciado um pouco dos meus filhos, sem perceber. Mas ali preparando o jantar para eles, senti que estava mais próximo, já que sempre passava mais tempo trancado no escritório do porão.
Após o jantar, nos reunimos na sala para ver um filme, após muitos pedidos tive que me render e ver pela milionésima vez O Rei Leão, pelo menos pude confirmar que era o filme preferido de . As horas se passaram e os três tinham dormido, eu carreguei as crianças até seus quartos uma a uma enquanto estava desmaiada no sofá. Fiquei pensando um pouco se deveria deixa-la lá ou leva-la para dormir na minha cama que era mais confortável.
Balancei a cabeça negativamente, que pensamento era aquele? Ela não era uma mulher, eu não deveria pensar nela assim, como estava pensando em leva-la para dormir no meu quarto? Pequei uma manta no armário e desci até a sala, tombei um pouco o corpo dela, para se deitar melhor e a cobri. Era difícil não ficar a olhando, ela sorria enquanto dormia, como uma pessoa que chegou a pouco tempo podia significar tanto na minha vida e nas dos meus filhos.
Suspirei um pouco e me espreguicei indo em direção ao escritório, a cada degrau que eu descia lutava contra mim mesmo para focar meus pensamentos em outra coisa que não fosse ela, a gênio louca. Tinha certeza que aquilo era culpa da minha mãe, por que ela tinha que me fazer tentar enxergar como uma mulher? Me sentei na cadeira e fiquei olhando para os papéis que estavam em cima da mesa, comecei a imaginar o que Mary faria em meu lugar, minha esposa sempre foi mais sábia que eu.
Os dias se passaram e segunda de manhã cedo eu já estava chegando no prédio da construtora, tinha deixado preparando o café para as crianças, elas teriam aula hoje. John já estava no saguão me esperando, estava transbordando entusiasmo, já poderia imaginar que seu feriado prolongado tinha sido cheio de companhias femininas.
— Aí está o funcionário do ano. — disse ele com aquele jeito espalhafatoso dele.
— Yah, pare de escândalos, não sou o funcionário do ano. — segurei o riso seguindo até o elevador com ele ao meu lado — E como foi seu feriado?
— Ah, foi maravilhoso. — ele deu uma risada estranha — E o seu? A Penny foi mesmo na sua casa?
— Sim, como uma amiga, então não perca seu tempo fazendo piadas. — entrei no elevador.
— Que isso. — ele me seguiu rindo da minha cara — Eu jamais faço piadas, só comentários irônicos.
— Sei.
Entramos na minha sala e já demos início a revisão dos últimos detalhes do projeto da galeria, que estava nos dando mais do que dores de cabeça. Não demorou muito até que Penny chegou para nos ajudar, John segurou o riso e as piadas, mas seu solhares sarcásticos para mim era visíveis. Poucos minutos antes da hora do almoço ele foi convocado para uma reunião sobre a construção de um novo prédio de uma cliente nosso.
— O John estava estranho essa manhã. — comentou Penny enquanto revisava a prancha estrutural que tinha consertado.
— O John é estranho sempre. — ri de leve — Mas hoje ele se superou mesmo.
— E como foram seus dias em casa?
— Bons, pude passar mais tempo com meus filhos. — coloquei a prancha na pasta e a olhei — Almoçamos juntos hoje?
— Nossa, claro. — ela sorriu de leve — Podemos voltar naquele restaurante da última vez.
— Sim, a comida de lá é muito boa.
— Hum. — ela dobrou a prancha e colocou na outra pasta — Podemos ir então, já terminamos por aqui.
— Boa ideia, felizmente não tem mais nenhum erro nesse projeto. — respirei fundo — Obrigado por ajudar.
— Não precisa agradecer, mesmo não tendo sido convocada, só fiz meu trabalho. — ela pegou sua bolsa — Vamos?
Sorri um pouco e a acompanhei, nosso almoço foi tranquilo e em alguns momentos silencioso, era diferente já que da primeira vez o furacão estava presente. O horário do almoço passou rápido, porém não voltamos para o escritório, Penny deu a ideia de visitarmos a obra da galeria. Apesar do atraso e complicações, estava caminhando num ritmo bom, e os operários era muito competentes e trabalhavam com muito cuidado e precisão.
— Acho que agira posso respirar aliviado. — disse olhando para a fachada.
— Foram dias de tensão revendo as plantas, mas esta galeria vai sair dentro do prazo, tenho certeza. — Penny parecia mais otimista que eu, isso era legal.
— Também espero, seria ruim para a imagem da construtora se ocorre um atraso grande, essa está sendo o projeto mais importante dos últimos meses.
— Bem, acho que não vamos precisar voltar para a construtora. — sibilou ela olhando para o céu — Ficamos tão concentrados nos detalhes daqui que não vimos a hora passar.
— Sim, já está ficando um pouco tarde. — ri rapidamente — Que uma carona?
— Não seria uma má ideia. — ela mordeu de leve os lábios inferiores.
Não sei se estava fazendo aquilo para desviar alguns pensamentos impróprios, mas focar em Penny e tentar avançar com ela, me fazia não pensar em e nas palavras absurdas da minha mãe. Acho que sim, eu estava começando a me convencer de que Penny poderia ser a mulher certa para mim, ou pelo menos era o que eu queria acreditar.
— Chegamos. — disse assim que estacionei em frente ao prédio onde morava.
— Não quer subir? Podemos tomar uma taça de vinho, em comemoração ao trabalho bem sucedido. — sugeriu ela.
— Não seria uma má ideia. — sorri desligando o carro.
Subimos para seu apartamento no quarto andar, não era grande, mas tinha um tamanho modesto e confortável para uma pessoa que morava sozinha, Penny tinha bom gosto no quesito decoração. Ela pegou uma garrafa de vinho e abriu, me dando um pouco em uma taça, agradeci com um sorriso e me sentei no sofá, ela se sentou ao meu lado.
— Espero que eu não tenha causado nenhum desconforto para sua família. — disse ela após tomar o primeiro gole — Já que de intrometida participei do dia de ações de graças com vocês.
— Ah, não pense assim. — sorri gentilmente — Você foi como convidada e é uma grande amiga, trabalhamos a muito tempo juntos.
— Seus filhos não gostaram muito de mim.
— Eles só não te conhecem, são crianças maravilhosas, só precisam te conhecer melhor.
— Seria um prazer passar mais tempo com seus filhos, eles parecer ser muito espertos.
— Ah, sim. — eu ri me lembrando deles — São muito, principalmente a Jullie.
— Imagino. — ela se aproximou um pouco mais de mim — Mas, que tal falarmos de nós.
— O que quer falar? — perguntei curioso.
— Bem, estou curiosa para saber se está confortável perto de mim.
— Como?
— Uma vez nós conversamos e você tinha dito que ainda sentia falta da sua esposa, você ainda pensa muito nela?
— É difícil não pensar em alguém importante, mas atualmente estou pensando um pouco menos. — a olhei com sinceridade — Mas acho melhor não falarmos sobre isso, se não foi pensar ainda mais nela.
— Claro, vamos manter nossa atenção em outra coisa.
Ela pegou minha taça e colocou em cima da mesa de centro junto a dela, e se aproximando ainda mais ela me beijou, em minha mente tinha muitos pensamentos sobre aquele beijo, se eu deveria continuar, ou ir para casa. Era visível o que a Penny queria, e se dependesse dela nossa noite seria longa e quente, porém uma coisa estava martelando em minha mente.
Seria certo passar a noite com uma mulher, estando com outra presente em seus pensamentos? Eu conseguiria me concentrar em Penny, tendo a na minha cabeça?
* POV
Eu estava preocupada, não só pelas crianças, mas por mesmo. Será que ele tinha sofrido algum acidente ou estava preso, ou algo pior? Não queria pensar em coisas ruins, tinha que manter a esperança pelas crianças.
— O papai ainda não chegou? — perguntou Jullie ao descer as escadas.
— Ainda não querida, mas ele já deve estar chegando. — sorri disfarçadamente para ela — Por que está acordada?
— Fiquei com cede. — respondeu ela esfregando um pouco o olho.
— Vamos pegar água então.
Me levantei do sofá e a acompanhei até a cozinha, após pegar um copo com água, levei Jullie novamente para o quarto e fiquei ao seu lado até ela adormecer novamente. Era estranho estar ali com eles sem , era a primeira vez que ele demorava tanto para voltar para casa, aquilo me preocupava ainda mais, foi assim que me pedir do meu primeiro mestre, uma noite ele saiu e nunca mais ouvi sua voz de dentro da garrafa.
“Eu nunca me senti assim antes,
Como se minha respiração fosse parar.”
- My Answer / EXO
CAPÍTULO 14
* POV
Passei a noite em claro esperando por ele, estava sentada no sofá cochilando quando as crianças me acordaram, Jullie tinha acordado sozinha preocupada com o pai que não tinha aparecido até aquela hora.
— O papai não voltou? — perguntou Mike.
— Não, ele deve ter dormido na construtora. — disse a ele numa suposição — Mas tenho certeza que ele deve voltar agora de manhã.
— Estou com um mal pressentimento sobre isso. — Jullie cruzou os braços pensativa.
— O que você acha? — Mike a olhou.
— Pelo que sempre vejo nos filmes, acho que papai tem uma namorada. — respondeu ela com certeza.
— Não, papai não pode.
— O que é uma namorada? — perguntei meio confusa.
— E o que queremos que você seja do nosso pai. — Jullie me olhou — Ele não pode namorar outra pessoa, só você.
— Eu? — ainda estava confusa com aquilo, o que era ser uma namorada?
— Aposto que é aquela amiga do trabalho dele.
— E o que vamos fazer? — Mike parecia meio preocupado.
— Não sei, tenho que pensar, mas agora temos que ir para a escola, quando voltarmos pensarei em algo. — Jullie respirou fundo.
Era incrível como ela lidava com as coisas como um adulto, teve ser assim pela perda da mãe, fiquei um pouco pensativo enquanto preparava o café deles, a palavra namorada não saia da minha cabeça, já era a segunda vez que eu ouvia ela. Assim que as crianças entraram no ônibus da escola e eu entrei em casa, chegou, dei alguns passos até ele e o toquei de leve.
— Você está bem? Se machucou? Estávamos preocupados.
— Calma. — ele segurou na minha mão e me afastou um pouco dele — Estou bem sim, deveria ter ligado avisando que não dormiria em casa, mas agradeço por ter cuidado deles.
— Estou aqui para isso. — respirei fundo — Pensei que não voltaria mais, as crianças até pensaram em chamar uma tal de polícia, mas Jullie disse que tínhamos que esperar vinte e quatro horas.
— Não precisa disso, eu vou tomar um banho. — ele se espreguiçou indo para a escada — Onde estão eles?
— Já foram para a escola. — hesitei um pouco em me aproximar dele, parecia estranho sua forma de me tratar, como se quisesse me afastar — Você quer que eu faça algo para comer?
— Não, eu já tomei meu café. — sua voz estava fria e áspera — Faça o que quiser, só não entre no meu quarto.
— Tudo bem. — caminhei até o sofá e me sentei.
Ele estava mesmo muito estranho, não tinha olhado para mim nenhum minuto sequer, será que eu tinha feito alguma coisa de errado? Passei todo aquele tempo sentada no sofá, enquanto esperava as crianças chegarem da aula, ficou em seu quarto trancado. Assim que Jullie e Mike chegaram, ele desceu as escadas dizendo que queria ter uma conversa séria conosco, senti meu coração parar naquela hora, estava com medo de que não fosse algo bom.
— O que eu vou dizer é um pouco difícil, mas é preciso. — ele respirou fundo.
— O que aconteceu papai? — Jullie o perguntou.
— A não vai mais poder ficar aqui, conosco. — disse ele.
— O que? — disseram as crianças junto.
— Eu fiz algo de errado? — perguntei meio desnorteada, não queria pensar que ficaria presa na minha garrafa de novo.
— Não, mas...
— Porque ela tem que ir? — Jullie o olhou — A faz parte da família agora, é por causa da sua namorada?
— O que? — sua face estava meio surpresa — Que namorada? Não é por isso, Jullie.
— O que é então papai? — Mike se levantou — Por que a tem que ir?
— Não é certo que ela fique, eu não sei de onde veio a garrafa dela, talvez seja de outra pessoa e foi misturada as minhas coisas, de qualquer forma, ela não pode ficar mais.
— Mas...
— Jullie. — eu a olhei e sorri — Seu pai tem razão, talvez eu devesse estar em outro lugar e estou aqui por algum desvio, eu não me importo de ir.
— Mas eu sim. — Jullie começou a lacrimejar — E o Mike também.
— Sim. — Mike concordou.
— Não fique assim, ainda seremos amigos.
— Papai, deixe ela ficar até o natal. — disse Jullie — Não queremos passar o natal longe dela.
— Natal? O que é Natal? — olhei para .
— Papai, não temos a mamãe, nos deixe passar o natal com a . Por favor?! — pediu ela.
— Tudo bem, só até o natal.
Jullie se levantou do sofá e pegando na minha mão me levou até seu quarto, Mike nos acompanhou em silêncio, eles estavam tão tristes quanto eu, mas era de se esperar que uma hora eu teria que partir. Jullie secou suas lágrimas e me olhou, mesmo triste eu desconfiava que alguma coisa estava se passando naquela mente criativa.
— Confirmamos o que eu temia, papai está mesmo namorando aquela Penny. — disse ela indo fechar a porta.
— Então deve ser por isso que ele quer que a vá embora.
— Vocês estão com um tom estranho, estou começando a achar que namoradas são pessoas más como as madrastas da Disney.
— Sim. — disse Jullie — Namoradas são mesmo assim como as madrastas, você é uma exceção.
— Eu não posso ser uma namorada, já sou um gênio.
— Você pode ser os dois, não queremos que o papai fique com outra pessoa.
— Você já se perguntou se seu pai gosta dela? — a olhei séria, mas com suavidade.
— .
— Jullie, eu sou um gênio, não posso fazer nada que prejudique meu mestre, que é seu pai, e não poderei deixar vocês fazerem também.
— E você vai aceitar ir embora? — Mike me olhou com uma carinha fofa.
— Tenho que atender o pedido do seu pai, com um gênio, mesmo não querendo, ficarei até o natal, seja lá o que for isso.
— Natal é a melhor data do ano. — Jullie me abraçou — Eu não vou desistir, mesmo que tente me impedir, é você que nós queremos.
Meu coração estava mesmo apertado com tudo aquilo, por mais que eu continuasse a sorrir e tentar fazer todos sorrirem, o clima estava um pouco pesado, evitava um pouco de se aproximar de mim e estava sempre chegando mais tarde. Faltava dois dias para o natal, Jullie e Mike estavam um pouco tristes, então eu tive a ideia de levar eles para visitar o túmulo de Mary, já que não tinha levado no aniversário da morte dela.
Fiquei um pouco afastada olhando as crianças de pé em frente a lápide dela, eles choraram um pouco e depois começaram a conversar, como se ela pudesse responder eles. Segurei um pouco minha emoção, mas estava tentando guardar na memória todos aqueles últimos momentos com eles, desde o dia em que saí da minha garrafa quando Mike a destampou, até o natal.
Ajudei Jullie e Mike a decorar a casa e montar a árvore de natal, estava animada com tudo aquilo, foi um momento de diversão que eu poderia usar para fazer eles se esquecerem que eu iria embora em pouco tempo. Jullie havia me dito que as pessoas se presenteiam no natal, eu não tinha dinheiro e não poderia comprar nada, nem faria isso. Eu queria dar algo que realmente pudesse fazer eles sorrirem como nunca sorriram antes, foi então que tive uma ideia.
— O que você está pensando? — parecia confuso.
— Bem. — respirei fundo — Você foram as primeiras pessoas que realmente me trataram como parte da família, por mais que eu não possa ficar, eu queria fazer algo por vocês, algo realmente significativo.
— Algo significativo? — Jullie me olhou sem entender — Você já é significativa para nós.
— Sim. — Mike concordou.
— Eu sei, também tenho um carinho muito grande por vocês, por isso quero dar o maior de todos os presentes.
— Se é um presente, porque vai falar agora? — se levantou — Não deveria ser surpresa?
— Não. — eu sorri — Desde que conheci vocês, percebi que falta uma parte muito importante na vida de vocês, infelizmente mesmo sendo um gênio, não posso trazê-la de volta, mas posso dar a chance de vocês se despedirem de uma forma mais serena.
— Do que está falando? — me olhou.
— Estou falando que posso dar a vocês o melhor natal do mundo, amanhã você não me terão aqui, ao invés disso, terão a presença do membro que falta.
— A mamãe? — Jullie me olhou — Você pode trazer a mamãe para o natal?
— Pode? — me olhou.
— Sim, por um dia, acho que posso fazer ela estar com vocês. — eu sorri — Este é meu presente de natal para vocês.
— Mas e você? — Mike me olhou — Estarei acompanhando um pouco de longe.
Este era meu presente para eles, um dia com Mary, mesmo não podendo trazê-la de volta dos mortos, eu acho que poderia me passar por ela, por um dia. Aquela era a primeira vez em dias que havia realmente me olhado nos olhos, ele parecia confuso e ansioso, certamente meu presente não era exatamente para as crianças, mas para ele, eu sentia que ele tinha que se despedir da sua esposa de forma apropriada. Eu aproveitei aquela noite para invadir as memórias de e das crianças, tinha que extrair o máximo de lembrança que tinham de Mary, assim eu poderia ser perfeita ao me passar por ela.
As horas se passaram e logo pela manhã, me olhei no espelho do banheiro, em um piscar de olhos eu já estava com o rosto de Mary, olhei para minhas mãos, meu corpo estava muito mudado. Era estranho me olhar no espelho e ver a face de outra pessoa, mas estava feliz em fazer aquilo, manhã de natal e a família estaria completa, mas que este completo não contasse comigo.
Desci até a sala, num estalar de dedos tudo estava arrumado no lugar, fui para a cozinha e organizei a mesa do café, todos os ingredientes do almoço já estavam preparados e reservados. Respirei fundo e voltei para sala, não demorou muito até que ouvi o barulho das portas dos quartos se abrindo, eu estava preparada para dar o meu presente a eles com perfeição. Fiquei de costas para a escada olhando para o portarretrato que estava na mesa de centro, tinha a fotos deles juntos, aos pouco ouvi o barulho deles descendo as escadas, meu coração estava acelerado.
— Mary. — disse , deveria estar reconhecendo pelos longos cabelos da esposa — É você?
— Bom dia, meus amores. — sorri para eles, que estavam embasbacados ao me ver.
Estava tudo milimetricamente calculado, até mesmo minha voz estava idêntica à dela, eu não deixaria passar nenhum detalhe. O sorriso leve e meigo, o olhar sereno, a suavidade e doçura na voz, naquele dia que tinha se iniciado, eu não seria mais o gênio, eu seria Mary o membro mais importante daquela família.
"Conte-me seu sonho,
Conte-me os pequenos desejos em seu coração."
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 15
* POV
Era difícil de acreditar, mas ela estava ali diante de mim e das crianças, minha Mary estava parada no meio da sala sorrindo para mim, senti meu coração acelerar, dentro de mim eu não conseguia segurar minhas emoções. Sorrir ou chorar, eu estava fazendo os dois. Jullie e Mike se aproximaram e a abraçaram, ela se abaixou e retribuiu o abraço com seu sorriso doce de sempre, ela se levantou e deu alguns passos até mim.
— Bom dia. — seu olhar era o mesmo de quando a conheci.
— Mary. — eu a abracei forte, não queria soltá-la mais — Por que me deixou.
— Eu não te deixei, sempre estive em seus pensamentos, agora estou aqui.
— Está, até o final do dia. — me afastei um pouco dela — Não quero de perde de novo.
— Você jamais me perdeu. — ela sorriu — Vamos apenas esquecer o que passou, quero que este dia seja especial para todos nós. — ela olhou para as crianças — Quem está com fome?
— Nós. — Jullie deu um sorriso largo — Vamos tomar café com a mamãe.
Ter Mary ali era como se tudo tivesse voltado ao normal, até o gosto do café era o mesmo de quando ela estava viva. Eu não conseguia parar de olhar para ela, suas mãos delicadas quando passava no cabelo, seu olhar atento para as palavras das crianças, seus sorriso singelo para mim. Meu coração acelerava toda vez que nossos olhares se encontravam, após o café nos sentamos na sala, Jullie e Mike queriam mostrar seus cadernos escolares, queriam contar tudo a ela.
— Que lindo. — disse Mary ao olhar o caderno de desenho de Jullie — Você desenha muito bem, é lindo.
— Eu também sou a melhor aluna da escola. — disse Jullie.
— E como não seria, você é tão inteligente e criativa, estou orgulhosa de você. — ela olhou para Mike — Estou orgulhosa dos dois, são os melhores filhos que eu poderia ter.
— Você é a melhor mãe que poderíamos ter. — Mike sorriu e a abraçou — Mamãe, eu sou o melhor jogador do time, queria que tivesse visto o primeiro gol que eu fiz.
— Eu vi, você estava com medo de bater aquele pênalti, mas foi corajoso e fez um lindo gol.
— Como a senhora viu? — ele a olhou surpreso, todos estávamos.
— Eu estou sempre com vocês, mesmo não podendo estar fisicamente, eu estou bem aqui. — ela tocou no peito dele na altura do coração — Estou vivendo dentro de vocês agora, sei que eu deveria estar presente.
— A culpa não é sua mamãe. — Jullie a olhou — Estamos felizes por morar dentro da gente.
— Eu estou feliz por morar dentro de vocês. — ela os abraçou de leve — Eu amo vocês, amo muito.
— Nós também te amamos. — disse eles.
Eu estava admirado em presenciar aquilo, meus filhos e Mary juntos, eu sempre sonhei com isso, não queria que eles tivessem perdido a mãe tão novos. Ficamos na sala por algum tempo conversando, Jullie e Mike estavam entusiasmados em contar tudo mesmo para Mary, até mesmo sobre eles contaram.
— A senhora iria adorar conhecer ela, nós nos divertimos muito. — disse Mike.
— Sim, temos um novo motivo para sorrir. — completou Jullie — Ela nos levou na era dos dinossauros da última vez, foi muito legal.
— Olha, e vocês não ficaram com medo? — Mary os olhou admirada.
— Não, só o papai. — respondeu Mike rindo.
— Verdade. — eu sorri de leve desviando meu olhar para a mesa de centro.
— Estou feliz que tenha uma pessoa para cuidar de vocês agora. — disse ela.
— Sim, mas o papai expulsou ela. — Jullie parecia frustrada, e com razão.
— O pai de vocês deve ter algum motivo para isso. — ela respirou fundo olhando com carinho para Jullie — Não fique triste, amigos de verdade nunca vão embora para sempre, eles vivem dentro da gente também.
— Mamãe...
— Por que não brincamos um pouco, estou ansiosa para brincar com meus filhos, só não tenho poderes para ir no passado ou fazer explorações, mas acho que posso convencer o papai a fazer guerra de travesseiro, que tal?
— O que? — eu a olhei — Traves...
— Deixa papai? — Mike me olhou — A gente sempre quis fazer isso.
— Mas é claro que ele vai deixar. — ela se levantou me olhando com charme — Afinal hoje é natal e eu estou aqui, não é?
— Sendo pressionado por minha própria esposa. — eu ri de leve — Você sempre soube como me controlar.
— Só queremos nos divertir.
Eu assenti fácil, não iria negar um pedido dela, as crianças comemoraram um pouco e logo correram para meu quarto, Mary pegou em minha mão e me puxou junto. Foi mais que uma festa, as penas sintéticas do travesseiro voaram pelo quarto, não me importava com isso, meu olhar estava no sorriso de Mary. Seus olhos brilhando como os dos meus filhos, estávamos mesmo nos divertindo, de forma simples mas sublime.
— Ah, eu me rendo, estou cansada. — disse ela se sentando na cama.
— Te pegamos mamãe. — Mike pulou em cima dela — Nós vencemos.
— Sim, vocês venceram, são os melhores em guerras de travesseiro. — ela riu erguendo seu corpo e me olhando.
— No que está pensando? — perguntei, aquele olhar era pensativo demais.
— Estou pensando que vocês poderiam arrumar essa pequena bagunça, enquanto eu preparo o almoço.
— Ah, sabia que nossa diversão iria terminar assim. — Jullie fez cara triste.
— Mãe são sempre assim. — eu ri um pouco olhando para Mary — Vamos arrumar senhora Mary.
— Não demorem.
Mesmo com desejo de passar o máximo de tempo perto de Mary, demoramos um pouco arrumando o quarto, porque sempre parávamos para brincar um pouco mais no meio das penas. Quando chegamos na cozinha a mesa estava posta e o almoço quase pronto, o cheiro estava maravilhoso, eu me lembrava do gosto da comida de Mary, o tempero era suave, mas o sabor era incomum e maravilhoso.
E sim, tinha o mesmo sabor que eu me lembrava, Mary tinha feito um tender assado, com purê de batata, ervilhas e salada, fiquei impressionado por ela ter feito até a sobremesa, sua torta de morango com chocolate, uma receita de família. Aquele dia estava sendo muito precioso para mim, era sim uma boa forma de me despedir de Mary, acho que estava começando a aceitar a morte dela.
Complicado, mas eu realmente precisava estar novamente na companhia da minha esposa para aceitar sua morte e deixá-la ir de verdade. Tinha certeza que depois de hoje eu sempre iria me lembrar dela, mas não com tristeza e sim com alegria por ter me casado com alguém como ela. Eu ajudei Mary e retirar a mesa, enquanto isso as crianças foram para sala ver um filme, era estranho estar ali com ela no mesmo ambiente sozinho, mas era bom ao mesmo tempo.
— Eles cresceram muito. — disse ela ao fechar a geladeira — Você tem cuidado muito bem deles.
— Sim, apesar de sempre falta alguém muito importante. — disse me referindo dela.
— Tenho certeza que não farei mais falta, eles sempre me terão por perto de alguma forma.
— Obrigado. — disse a ela segurando minha emoção.
— Pelo que? — seu olhar sereno parecia confuso.
— Por estar aqui hoje.
— Está me agradecendo por estar aqui com vocês? Minha família que eu amo muito?
— Acho que sim. — eu ri de leve — Você aqui, está sendo o melhor presente, sei que amanhã será difícil para eles.
— Porque? — ela deu alguns passos até mim — Algo te preocupa?
— Ando tomando alguns decisões que podem fazer eles ficarem tristes, é difícil sem você aqui.
— . — ela sorriu — Sei que você sempre irá fazer o que é melhor para eles, jamais haverá um pai melhor do que você.
— Eu te amo. — eu me aproximei mais dele para lhe beijar.
— Eu sei, e sempre senti o mesmo. — ela desviou sua cabeça se afastando de mim — Vamos para sala, temos que abrir os presentes.
— Sim.
Respirei fundo, a segui até a sala, as crianças já estavam sentadas perto da árvores nos esperando, não tinha muitas caixas, mas os poucos presentes que abrimos significaram muito para nós. Jullie e Mike deram um presente para Mary, o cordão que era dela e tínhamos guardado depois da sua morte, Mike a ajudou a colocar no pescoço, Mary parecia muito emocionada.
— Você realmente guardaram bem, não vou me esquecer. — ela alisou o cordão de leve — Foi o melhor presente que poderia ganhar.
— Que bom que gostou mamãe. — Mike sorriu — Foi minha ideia.
— Ah, que lindo. — ela o abraçou — Eu adorei, só lamento não ter trago nada para vocês.
— Você estar aqui já é um presente mamãe. — disse Jullie — Foi o melhor natal que tive até hoje.
— Eu também. — concordou Mike.
Eu assenti com a face concordando também, aquele natal estava maravilhoso, nos sentamos na sala para assistir mais uma vez o filme favorito dela, Mary sempre se emocionava ao ver aquele filme. A cada hora que se passava, aproveitávamos ainda mais aquele momento com ela, aos poucos foi escurecendo e o tempo foi passando, as crianças começaram a lutar contra o sono, pois sabiam que quando acordasse não teriam mais a mãe.
— Mamãe. — disse Jullie assim que a colocamos na cama.
— Sim querida?! — Mary se sentou na beirada da cama — O que deseja?
— Eu vou te ver de novo? — perguntou ela com sua voz já sonolenta.
— Sim, sempre que quiser me ver, basta fechar os olhos que estarei em seus sonhos. — Mary beijou sua testa de leve — Agora durma.
— Boa noite mamãe.
— Boa noite querida.
Passamos no quarto de Mike para que ele pudesse se despedir também, Mike pediu para que ela contasse uma história para ele, Mary assentiu e pegou seu livro preferido para ler, a incrível história do Gato de Botas. Antes da metade da história Mike adormeceu, mas Mary continuou contando até o final, ela fechou o livro lhe deu um beijo na testa de se levantou, deixamos a luz do abajur ligado e saímos do quarto.
Mary me acompanhou até meu quarto, eu senti que aquele era o adeus, eu não queria que fosse tão rápido, queria poder voltar ao início do tia e repetir tudo que fizemos todo aquele tempo.
— Queria poder ter mais tempo para me despedir. — disse assim que entramos no quarto — Queria mais tempo com você aqui.
— Bem, acho que não seria bom, um dia apenas era tudo que precisavam. — ela sorriu me olhando tranquilamente — Sabe que não posso ficar, mas estou feliz por estar aqui também.
— Mary. — eu me aproximei dela, desta vez não a deixaria fugir — Obrigado por ter me amado.
— Também sempre serei grata por seu amor, mas agora deve me deixar ir. — ela segurou em minha mão — Sei que você ficará bem, pessoa boas merecem uma segunda chance.
Suas palavras me fizeram lembrar da frase que estava escrita na garrafa de , senti meu coração pulsar mais forte, eu não iria me segurar, a beijei de surpresa sem ressentimento.
* POV
Eu estava estática com aquilo, segundo o que havia aprendido, aquilo era um beijo, estava me beijando de forma tão intensa e apaixonada, tanto que eu conseguia sentir nossos corações acelerados. Seus braços envolveram em minha cintura, aproximando ainda mais meu corpo do dele, era uma experiência nova e embaraçosa para mim, era a primeira vez que eu beijava alguém. Eu estava confusa com aquilo, ele estava me beijando, mas eu ainda estava como Mary, será que ele pudesse imaginar que era eu ali e não ela?
“Conte-me seu desejo
Sou um gênio para você, garoto
Conte-me seu desejo
Eu sou gênio para o seu desejo
Conte-me seu desejo
Eu sou gênio para o seu sonho
Conte apenas para mim
Eu sou gênio para o seu mundo.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 16
* POV
Ficamos nos olhando por um tempo após o beijo, eu ainda estava sem reação, não sabia ao que dizer, o que fazer, eu ainda era a Mary para ele. sorriu de leve, era um sorriso bonito e cheio de alegria, era a primeira vez que eu via um sorriso como aquele, sua face tranquila e seu olhar sereno.
— Está tudo bem? — ele acariciou de leve minha face.
— Sim, eu acho. — respondi em meio a um sussurro — Você deve dormir agora.
— Quando eu acordar, você terá ido embora? — perguntou ele.
— Sim. — assenti — Está na hora de você recomeçar.
— Talvez eu não queira recomeçar. — retrucou ele, senti um tom de amargura.
Respirei fundo, procurando as palavras certas, não queria de ele voltasse a ser aquele homem triste e solitário, eu era seu gênio e mesmo que fosse embora no dia seguinte, eu tinha que cumpri meu dever e fazer ele ser uma pessoa feliz.
— Recomeçar não significa me esquecer, eu sempre farei parte da sua vida, mas você precisa viver de verdade, viver por mim, por nossos filhos e principalmente viver por você. — eu sorri o olhando com suavidade e pegando de leve em sua mão que ainda estava em minha face, me afastei um pouco — Boas pessoas merecem uma segunda chance.
Em um suspiro forte dei alguns passos para trás e saí fechando a porta, eu estalei meus dedos voltando ao normal, assim que a maçaneta da porta se mexendo, estalei meus dedos novamente fazendo meu corpo ficar invisível aos olhos humanos. Naquele momento, nem ele e nem as crianças me veriam mais, eu faria o que ele pediu, me afastaria deles já que o acordo era ficar até o natal.
Não seria fácil para mim, as crianças significavam muito na minha existência atual, após anos presa naquela garrafa, eu jamais imaginei que iria conhecer pessoas que me fariam sentir parte da família delas. Mas estava feito, eles não iriam me ver mais, desviei meu olhar para a mão direita e minha garrafa apareceu, logo a porta se abriu.
saiu do quarto gritando o nome de Mary, ele desceu as escadas e a procurou em todos os cômodos, quando ele chegou novamente na sala, seus olhos estavam marejados e sua respiração ofegante. Assim que ele sentou no sofá, a primeira lágrima caiu, meu coração ficou apertado, mas não iria voltar a trás. As horas se passaram, havia dormido no sofá, assim que clareou o dia as crianças desceram as escadas correndo, eu fiquei no canto da sala quieta observando tudo.
— Bom dia. — disse se espreguiçando — Por que estão acordados logo cedo?
— Eu acordei porque estava com fome. — explicou Mike — E estava curioso para saber como a iria me acordar hoje.
— E eu acordei com o Mike me chamando, estávamos procurando a para saber porque ela não nos acordou, como todo dia.
— Mas e você papai?! — perguntou Mike — Por que dormiu na sala?
— Não sei. — sussurrou ele.
— Vamos Mike, vamos procurar a na cozinha.
— Ela não está mais aqui. — disse num tom mais sério — O combinado era até o natal, se lembram? Ela deve ter ido embora.
— Mas sem se despedir?! — Mike o olhou começando a lacrimejar.
Fechei os olhos para não chorar, ver as crianças procurando minha garrafa pela casa inteira foi de partir o coração, parecia um pouco estranho com tudo aquilo, ele estava mais calado e pensativo do que o normal.
* POV
Tinha que admitir, aquela casa ficava silenciosa e com ar de vazia sem a , e era o que eu temia, não queria que meus filhos voltassem a ser tristes e quietos, mas também não queria que se apegassem tanto a uma pessoa que nem era pessoa de verdade. Não sei se era ciúmes de pai, ou meu lado homem que tinha medo de se sentir atraído por uma gênio, quanto mais eu pensava na partida de , mais eu me perguntava se tinha tomado a decisão certa.
Mais dias foram se passando, nossa vida tinha retornado aquela rotina de quando era antes da aparecer, eu passava algumas horas trancado no escritório e meus filhos no quarto. Assim como todos os anos, nós iríamos participar da festa de virada do ano na casa do dono da construtora, o Sr. Finn nunca me deixava faltar as comemorações como esta, afinal eu era o melhor arquiteto da empresa.
— Temos mesmo que ir? — perguntou Mike cruzando os braços de cara feia.
— Eu também não estou com vontade, ainda mais que a não está aqui para nos ajudar a divertir. — concordou Jullie se sentando no sofá — Ainda sentimos falta dela.
— Com o tempo vão se acostumar com essa nova realidade. — eu respirei fundo, não sabia o que mais dizer já que lá no fundo eu também sentia falta daquela louca — Mas eu preciso de vocês, como acham que vou conseguir ficar lá sozinho?
— Sua namorada vai estar lá? — perguntou Jullie.
— A Penny não é minha namorada, e sim ela vai estar lá. — eu a olhei com carinho — O que mais posso dizer para te convencer que a ter ido embora não está relacionado a minha amizade com a Penny?
— Se não, por que a teve que ir? — retrucou ela.
— Porque não sabemos se ela realmente deveria ter vindo para nossa casa. — expliquei — Então, eu terei a companhia dos meus filhos?
— Tudo bem. — Jullie se levantou do sofá e olhou para Mike assentindo — Mas não espere gentileza da nossa parte com sua amiga.
— Jullie?! — a repreendi — seja pelo menos educada como sei que é.
Que meus filhos não gostavam de Penny, eu já tinha percebido desde a primeira vez, mas ele deveriam aprender a separar as coisas, realmente Penny era uma amiga, uma amizade meio colorida, mas para mim só amizade. Nós entramos no carro e eu dei a partida, minutos depois já estava estacionando em frente a luxuosa casa do Sr. Finn, logo na porta de entrada fomos recebidos pela governanta.
— A quanto tempo . — disse uma voz feminina atrás de nós.
— Charlot. — eu me virei e a cumprimentei — Boa noite.
— Boa noite, estes devem ser seus filhos. — disse ela desviando o olhar para as crianças — se parecem um pouco com você, mas possuem o olhar da Mary.
— Sim. — concordei — Crianças, cumprimentem a Charlot.
— Oi. — disseram eles sem nenhuma animação.
— Hum, vocês estão com fome? — perguntou ela — Tem um lugar maravilhoso que acho que vão gostar.
— Porque não vão com ela descobrir que lugar é esse? — perguntei a eles.
— Tudo bem. — Jullie assentiu segurando na mão de Mike.
— Prometo que vão se divertir. — Charlot segurou na mão de Jullie e os guiou até as escadas.
— Olha quem chegou. — exclamou John da porta — Já estava pensando que não viria mais.
— E o Sr. Finn me deixaria faltar? — retruquei olhando para o copo de uísque em sua mão — Já bebeu quantas até agora.
— Acredite ou não, esta é a primeira dose. — ele riu — Eu pensei em me comportar hoje para você me apresentar a babá dos seus filhos.
— A não trabalha mais na minha casa. — respondi serenamente.
— O que? — ele me olhou embasbacado — Como assim? Como você faz isso e não me conta?
— Que ar de ofendido é esse?
— Aquela garota era linda de mais, só vou te perdoar se me passar o telefone dela, assim posso contratá-la.
— E você por acaso tem filhos?
— No caso ela cuidaria de mim. — ele brincou.
— Fique longe dela. — senti uma certa intensidade no meu olhar.
— Uah, calma, não precisa me olhar assim, como se fosse me arrastar no asfalto. — ele se afastou um pouco de mim — Vou pegar mais um copo, já que você não quer me apresentar ela.
— Apresentar quem? — perguntou Penny ao entrar na sala.
— Ninguém. — respondi tentando não deixar minha voz áspera, eu estava mesmo irritado com os comentário de John sobre .
— Hum, bem. — Penny pareceu meio sem graça por minha reação.
— Me desculpe, John sempre faz comentários desnecessários que me deixa nervoso.
— Se quiser posso te acalmar um pouco. — ela se aproximou um pouco de mim.
Aquela era a primeira vez que via Penny, após o natal, certamente não era nada com ela, mas eu estava me sentindo meio estranho e distante, não sei se era castigo ou um pedido louco dos meus filhos a Deus, mas eu estava me sentindo desconfortável perto dela. Me afastei um pouco e desviei meu olhar para a escada, Charlot estava descendo com .
— Eu ficarei bem Penny. — respirando fundo — Onde deixou meus filhos?
— Como eu presumi, eles estão se divertindo. — respondeu Charlot — Os deixei no espaço das crianças.
— Se quiser pode ir ver como eles estão. — completou — Me parece que seu filho gostou de conhecer nossa filha.
— Agradeço pela hospitalidade. — me afastei dele e subi a escada.
Eu odiava aquilo, sempre se aproveitava para mostrar como sua família com Charlot era feliz, mesmo não me incomodando mais, seu olhar de superior por ter se casado com minha primeira namorada me deixava irritado. Assim que cheguei no segundo andar, caminhei pelo corredor até chegar a uma porta aberta, era um amplo quarto de brinquedos com muitas crianças.
Fiquei da porta olhando eles brincarem com a filha de , por um breve momento eu vi o brilho nos olhos deles, o mesmo brilho que a provocava quando os faziam se divertir. Aquela pequena cena me trouxe muitas coisas na memória, uma delas foi o dia de natal, ver Mary mexeu muito comigo e ainda mais, me fez perceber que meus filhos ficariam bem mesmo ela não estando com eles.
Era a última noite do ano e minha mente só conseguia pensar a última pessoa que conheci naquele ano, as horas passaram e todos se reuniram no jardim para o show de fogos de artifício. Assim que iniciou a contagem para o novo ano, eu entrei num estado estático em que comecei a ver tudo em câmera lenta, e a cada segundo contado minha mente reproduzia uma imagem de mim com , até que chegou na última e apareceu o beijo que dei em Mary.
Algo que me deixou ainda mais confuso e desnorteado, era difícil não deixar de pensar agora que eu tinha me lembrado, mais difícil ainda foi tentar me concentrar na festa e nos abraços de felicitação que me davam. Não era de se esperar que eu ficasse mais na festa, aproveitei que Mike estava com sono e voltei para casa com as crianças, assim que chegamos os coloquei em suas camas e fui para meu quarto.
Eu tentava mesmo pensar em outra coisa, mas minha mente estava fixa em e no beijo que dei a Mary, meu último recurso para desviar o pensamento era um banho, e foi o que fiz, uma ducha gelada para me fazer esquecer. Entretanto, nem isso me fez desviar desse pensamento, coloquei uma calça e desci para meu escritório sem camisa mesmo.
Assim que entrei, caminhei até a mesa e me sentei, respirei fundo fechando meus olhos, eu não queria admitir que ambas as lembranças estavam ligadas, era óbvio que eu não queria olhar para como uma mulher, por isso a afastei de mim. Irônico que meus pensamentos estavam se organizando de uma forma que eu não tinha escolha, a não ser aceitar a verdade.
Assim que abri meus olhos novamente, olhei para minha agenda de compromissos, a peguei e folheei as páginas até que encontrei um bilhete, o mesmo que estava na garrafa da .
— Boas pessoas merecem uma segunda chance. — sussurrei para mim mesmo.
Aquela foi a peça final, para que eu pudesse encaixar no quebra-cabeças chamado , finalmente eu estava aceitando e admitindo o que já desconfiava, e isso estava mexendo muito comigo.
— Eu sei que está aqui. — disse em voz alta — Desde que fechou a porta e desapareceu, eu sei que era você.
O silêncio continuou pairando sobre o lugar, mas eu sabia que ela estava ali, eu conseguia sentir seu perfume.
— Eu sei que aquela não era a Mary, era você . — admiti sentindo meu coração acelerar.
"Eu queria que você pudesse aparecer
Em minha frente por um momento
Eu queria que você pudesse retornar ao meu lado
Esses poderes inúteis meus."
- Miracles In December / EXO
CAPÍTULO 17
* POV
Paralisada eu estava, ouvindo ele dizer aquelas palavras e afirmar que ele sabia que era eu, comecei a me perguntar se ele sabia que era eu, porque me beijou. Ele se levantou da cadeira, e caminhou até a frente da mesa, como me estivesse me procurando ou esperando que eu aparecesse. Mas eu deveria aparecer? Foi ele quem me pediu para ir embora, eu estava me sentindo confusa, porque os humanos são assim, inconstantes?
— . — ele sussurrou novamente — Por favor, volte.
— Mestre. — sussurrei aparecendo na frente.
levantou sua face e me olhou, ele ficou sem reação a primeiro momento, mas logo deu impulso no seu corpo e me abraçou. Eu não sabia o que fazer, o que falar, nem o que pensar, ele mantendo seus braços envolta de mim como se não quisesse que eu me afastasse mais. Conseguia sentir os batimentos acelerados dele, mesmo com sua respiração normal.
— Mest... . — eu tentei me afastar, mas ele continuava me aninhando nos seus braços, o que me deixava ainda mais confusa.
— Papai, eu tive um... — disse Jullie ao entrar no escritório, descendo as escadas — .
— Jullie. — disse agora conseguindo me afastar dele — Oi.
— . — ela elevou sua voz com animação e dando um sorriso correu para me abraçar — Meu pedido se realizou.
— Jullie. — eu sorri sem entender — Que pedido?
— Pedido de ano novo, eu e o Mike pedimos pra você voltar. — respondeu ela com um sorriso fofo, seus olhos estavam brilhando — Obrigada papai.
— O que? — a olhou ainda estático.
— Por trazer a de volta. — Jullie desviou seu olhar para mim — Agora estou mais feliz.
— Que bom que está feliz. — eu segurei de leve em sua mão — Agora, o que está fazendo acordada a essa hora?
— Eu tive um pesadelo. — respondeu.
— Não acredito. — eu sorri — Então vamos voltar agora para o quarto, tenho certeza que com uma história você terá um lindo sonho.
Eu puxei Jullie comigo e seguimos correndo para o quarto, assim que chegamos ela se deitou na cama, eu sentei ao seu lado e comecei a contar a história de um menino chamado Aladim, em uma versão totalmente inventada por mim. Eu nem tinha chegado na metade da história e Jullie já estava em profundo sono, parei por um momento de falar e fiquei a olhando dormir, tinha certeza que ela teria sim uma linda noite de sono.
A cobri com cautela e me afastei de sua cama, abri a porta lentamente para não fazer barulho e saí deixando a luz do abajur acesa. Do lado de fora, estava encostado na parede me olhando, seu olhar estava tão confuso quanto minha mente, eu ainda não entendia o significado daquele abraço e porque ele tinha me chamado. Mas estava feliz por estar de volta.
— Me desculpe. — disse ele.
— Te desculpar? Pelo que? — eu não entendia o que ele tinha feito para pedir desculpas, na maioria das vezes sou eu quem tenho que pedir desculpas.
— Por ter te afastado. — ele foi direto, sua voz tinha traços de tristeza, sua face séria.
— Você só estava pensando no melhor para todos, na verdade ainda não sabemos se era realmente para eu estar aqui. — afirmei dando alguns passos até ele, eu segurei em sua mão — E eu não estava tão longe assim, eu não consegui me afastar daqui.
me abraçou novamente, ficamos ali por alguns minutos abraçados em silêncio, será que ele estava me confundindo com a Mary, eu não era mais ela, agora eu era eu. Eu me afastei um pouco dele e o olhei com carinho, estava escolhendo as palavras mais adequadas, mas uma curiosidade ainda tomava conta de mim.
— Como você sabia que era eu? — perguntei intrigada.
— Boas pessoas merecem uma segunda chance. — respondeu ele — Estava escrito em um bilhete na sua garrafa, foi o que me fez associar tudo.
— Ah. — agora estava explicado, eu tinha dito isso a ele enquanto estava como Mary — Esse é o lema dos gênios.
— Então, eu sou uma pessoa boa? — perguntou ele dando um sorriso fechado.
— Claro que é, mas sua bondade era apagada pela tristeza, estou feliz que tenha se despedido de sua esposa como deveria. — sorri de leve.
— Graças a você, apesar de não ter sido ela de verdade. — um brilho diferente surgiu no seu olhar por uma breve fração de minuto — Me prometa uma coisa.
— Sim, sou seu gênio. — assenti.
— Nunca mais vai embora. — pediu ele com um tom mais baixo — Eu não sei o que estou sentindo, mas sei que não quero que esta casa fique em silêncio, sem você aqui nada tem vida.
Assenti com a face, não sabendo o que dizer para ele, meu primeiro mestre nunca tinha falado algo assim para mim, senti meu coração pulsar mais forte e minhas pernas bambearem um pouco. Uma vez eu tinha visto na televisão que o abraço de dois adultos significava bem mais do que só afeto, isso estava me deixando ainda mais confusa sobre ele ter me chamado de volta.
me pediu minha garrafa de volta, assim que entreguei ele a guardou no seu guarda-roupas, acho que ele estava pensando numa forma de eu não ir embora mais. Segurei o riso vendo aquela cena, ele parecia ser uma pessoa fofa, acho que ele era assim quando sua esposa era viva, pude sentir quando estava no lugar dela no natal.
Ele pegou dois lençóis e um cobertor, eu pensei que fosse para mim, porém ele pediu que eu dormisse em seu quarto até ele comprar uma cama para mim, ele dormiria na sala. Fiquei impressionada e assustada com sua atitude, porque ele faria aquilo para um gênio, a cada gesto de comigo me deixava ainda mais sem saber o que fazer.
— Boa noite. — disse ele ao fechar a porta do seu quarto.
Fiquei ouvindo seus passos descendo a escada, respirei fundo por um tempo e comecei a dar alguns passos pelo quarto, estava mais andando em círculo. Pensando em tudo que tinha acontecendo desde que me pediu para voltar, aqueles abraços e seu olhar para mim.
Eu dei alguns toques na minha cabeça para ver se meus pensamentos se encaixavam, mas estava tão perdida quanto minha garrafa no meio das roupas dele naquela gaveta. Eu fechei os olhos e me transportei para uma lembrança do meu passado, estava na biblioteca de Alexandria, talvez eu conseguisse a resposta em algum livro. Passei horas e não encontrei nada, eu queria entender o que eu estava sentindo, o que ele estava sentindo, queria entender o que significava aquele abraço que ele tinha me dado de forma tão intensa.
Então me lembrei que Jullie tinha me apresentado o senhor Google, ele sempre tinha as respostas para todas as perguntas, abri os olhos e voltei minha atenção para a escrivaninha ao lado da janela. Caminhei até ela e abri o notebook de , eu não era tão boa assim com tecnologia, mas conseguia me virar muito bem, após abrir a página da internet, um pouco devagar digitei o que queria.
Primeiro, minha dúvida era o que significava um abraço, mas era muito vago e eu precisava especificar um pouco mais minha pergunta. Então digitei algo que pudesse me explicar, a relação entre um abraço de um homem e uma mulher, eu não sei se estava preparada para a resposta, mas tinha muitas palavras relacionadas ao abraço, palavras como amor e coração.
Mas o que era amor? Eu era mesmo leiga em assuntos sobre o sentimento dos humanos, o único sentimento que um gênio tem é obediência e paciência, nosso único propósito de vida era fazer nossos mestres felizes. Mas analisando agora tudo que tenho vivido com eles desde quando cheguei, o que sinto por essa família é muito mais que só obediência e paciência.
Continuei minha pesquisa, eu estava obstinada a entender ainda mais sobre os sentimentos deles, queria entender também o que estava sentindo, ele parecia estranho me tratando daquele jeito. Mas era um estranho legal, me fez me sentir confortável e feliz por estar de volta, pela primeira vez eu não sorri para fazer ele sorrir, eu sorri porque estava me sentindo bem em vê-lo.
— O que é o amor? — sussurrei para mim mesma lendo um artigo que encontrei.
Assim que terminei de ler, fechei os olhos e coloquei minha mão direita na altura do meu coração, respirei fundo me concentrando, eu tinha que entender tudo que estava sentindo e se esse tal amor estava vivendo dentro do meu coração. Tinha que colocar ordem na minha mente para conseguir ouvir meu coração.
Comecei definindo o que sentia pelas crianças, elas eram especiais para mim, podia considerá-los meus melhores amigos. Assim como eu preenchia o dia delas, elas também preenchiam meu dia de sorrisos e empolgação, eram como duas estrelas que precisavam da lua para guia-los em horas de diversão. Eu não sabia como era o amor de Mary por eles, não sabia como era o amor de uma mãe, mas eu sentia que eles me amavam como se eu fosse parte da vida deles, o que me fazia querer ser.
Até aquele momento, meu coração estava tranquilo e normal, mas quando voltei meus pensamentos para , senti algo mudar, uma aceleração estranha e diferente, fiquei um pouco zonza quando a imagem dele me abraçando tomou conta de mim, senti como se estivesse acontecendo de verdade.
O abraço dele era quente e confortável, eu conseguia sentir seu perfume, o calor do seu corpo, os batimentos do seu coração, a intensidade da sua voz. Comecei a perceber que o abraço dele era diferente do das crianças, a sensação era diferente, isso me intrigava e me deixava confusa. Será que estava relacionado a coisas de adulto que a Jullie me disse uma vez?
— Eu não entendo. — sussurrei abrindo os olhos — Preciso descobrir o que significa isso, coisas de adulto.
Respirei fundo e olhei para a janela, já era de manhã. Não acredito que passei a noite inteira pesquisando, tinha que preparar um café da manhã especial para as crianças, estalei os dedos mudando de roupa e saí do quarto saltitando um pouco. Estava animada para tentar preparar algo novo, porém quando cheguei na cozinha já estava terminando de colocar as coisas na mesa.
— Você está acordado. — sussurrei sentindo minha empolgação escoar pelo ralo — Por que está acordado tão cedo?
— Bem, para ser sincero, não consegui dormir. — respondeu ele meio sem graça.
— Hum. — desviei meus olhos para a mesa, tinha quatro pratos, o que significava que um deles era meu.
— ! — ouvi uma voz surpresa.
— Mike!
— . — ele correu até mim e me abraçou apertado — Você voltou.
— Sim. — assenti retribuindo o abraço — Como foi sua noite de sono?
— Foi boa, eu sonhei que você tinha voltado. — ele sorriu para mim — E estou feliz porque meu sonho se tornou real.
— Eu também estou feliz. — eu limpei uma lágrima pequena que tinha se formado no canto do olho dele v E agora vamos tomar um café maravilhoso que seu pai preparou.
— Nossa mesa agora está completa. — disse Jullie ao aparecer na porta — O primeiro café da manhã do ano.
— Bom dia Ju. — eu sorri para ela — Conseguiu ter um bom sonho?
— Como você disse , o melhor sonho de todos, mas ter você aqui é melhor que qualquer sonho que pode em dar. — ela caminhou até mim e me abraçou — Promete que não vai mais embora?!
— Isso . — Mike me abraçou também — Promete que sempre vai ficar aqui com a gente.
— Prometo que só irei embora quando vocês não me quiserem mais. — disse de forma doce e compreensiva.
— Papai?! — Jullie olhou para — Promete que o senhor não vai mais mandar a ir embora?
— Prometo. — desviou seu olhar para mim, estava sereno porém com um grau de intensidade diferente — O lugar da é aqui.
— Oh! — agora eu estava surpresa, ele tinha me chamado pelo apelido.
— Papai você disse . — comentou Mike rindo.
— Sim. — assentiu ele mantendo seu olhar para mim.
Eu tentei não olhar muito para , ainda tinha muitas perguntas em minha mente e não entendia o que significava meu coração acelerar quando ele me olhava daquele jeito. Jullie me puxou de repente para me sentar ao lado dela, Mike se sentou do outro lado e ele na minha frente, tentei manter toda a minha atenção nas crianças, e não era difícil já que Mike estava empolgado me contando sobre os brinquedos que tinha na tal festa de final do ano.
Após o café Jullie me puxou para seu quarto, enquanto Mike ficou na cozinha ajudando com a louça suja. Jullie estava feliz e ao mesmo tempo tinha um pouco de preocupação em seu olhar.
— O que está te preocupando? — perguntei sentando em sua cama.
— Tenho medo que você vá embora de novo. — disse ela se sentando ao meu lado.
— Mas eu não vou, eu prometi ficar enquanto vocês quiserem. — disse tentando tranquiliza-la.
— Eu quero que você fique para sempre. — disse ela — Eu não tenho a mamãe, sempre pensei que uma madrasta seria algo negativo, mas você apareceu , você pode ser um tipo de madrasta legal.
— Madrasta?! Pensei que fossemos amigas. — disse não entendendo.
— Podemos ser as duas coisas. — disse ela com um brilho nos olhos.
— Mas Jullie. — e veio novamente aquela confusão na minha mente — Madrastas se casam com os pais, eu não sou casada com seu pai.
— Não ainda. — disse ela tranquilamente — Até a vovó acha que você é a pessoa certa para o papai, você poderia virar a namorada dele e depois se casar, aí você seria nossa madrasta.
— Você falando parece ser tão fácil. — eu sorri de leve — Mas não posso ser, eu queria muito ser sua madrasta e ficar com vocês para sempre, mas eu sou um gênio, e seu pai é um adulto, ele precisa ficar com alguém como ele.
— Mas você é um adulto como ele. — retrucou ela me confundindo ainda mais.
— Sou um adulto?! — cocei minha cabeça de leve.
— Sim, você parece ter vinte e cinco anos e meu pai tem trinta e dois, apesar de que se contar os anos que viveu na garrafa você é bem mais velha que o papai. — seu argumento era bom, mas tinha um detalhe.
— Isso não muda o fato de eu ser um gênio. — eu peguei em sua mão com carinho — Me desculpe Ju, mas eu não posso ser madrasta.
Seria um pouco difícil para ela entender minhas limitações, mas ela tinha que acetar que eu não poderia ser o que ela queria, e mesmo que eu fosse um adulto, eu nem sabia o que significava metade das coisas que os adultos falavam. O que me fez lembrar das palavras de , quando eu perguntei se podia trocar a roupa dele, eu acho que não estava preparada para ser um adulto, mas tinha que perguntar uma coisa.
As horas se passaram e eu deixei as crianças jogando no quarto de Mike, desci até o escritório, estava guardando alguns papéis em sua maleta. Desci as escadas e dei dois toques na parede chamando sua atenção, ele parecia bem concentrado em seus pensamentos.
— Sim?! — ele me olhou — Aconteceu alguma coisa?!
— Mais ou menos, talvez, sim ou não. — respondi sem sentindo.
— , o que houve? — ele deixou a maleta em cima da mesa e se voltou para mim.
— Eu estou em dúvida e tenho muitas perguntas sem respostas, pensei que o senhor Google faria isso, mas ele me deixou ainda mais confusa. — tentei explicar de um jeito descoordenado.
— Em que você está em dúvida? — perguntou ele.
— Eu sou um adulto?
— O que? — ele parecia surpreso com a pergunta — Que pergunta é essa?
— Jullie me disse que eu sou um adulto como você.
— E?
— O que são coisas de adulto?
— O que? — ele tossiu um pouco — De onde está tirando essas perguntas? — ele parecia um pouco apreensivo e desnorteado.
— É que tem coisas que eu não sei o que significa e estou tentando descobrir respostas, de perguntas que estando me fazendo ficar confusa. — eu respirei fundo — Por isso quero saber o que são coisas de adulto, se eu sou um, se sou igual a você.
— Você está com essas perguntas porque Jullie te perguntou algo?
— Ela disse que queria que eu fosse sua madrasta. — minha ingenuidade em esclarecer um pedido de uma criança.
— O que? — ele paralisou por um momento, depois passou a mão no cabelo, parecia não sabe o que dizer.
— Mais eu disse a ela que não podia. — continuei.
— Não?! — seu olhar tinha uma variação estranha de surpresa e decepção — O que você disse a ela?
— A verdade, eu sou um gênio e você é um adulto. — expliquei — Mas ela disse que sou um adulto e tinha que virar sua namorada, mas eu sei que namorada são coisas de adultos e ela disse que eu também sou um adulto, isso me deixou ainda mais confusa.
desviou seu olhar para o chão permanecendo em silêncio, ele parecia estar pensativo, certamente estava me achando uma louca. Não era minha primeira vez fazendo perguntas assim.
— . — sussurrei um pouco alto.
— Sim?! — ele me olhou serenamente.
— Posso perguntar uma última coisa? — eu estava com receio, mas tinha que continuar.
— Sim. — assentiu ele.
Eu dei alguns passos até ele e o abracei, envolvendo meus braços em seu pescoço como tinha visto em uma imagem na internet.
— O que significa este abraço, para dois adultos? — sussurrei de leve próximo ao seu ouvido.
— Eu não sei. — sussurrou ele de volta, envolvendo seus braços na minha cintura, seu coração estava tão acelerado quanto o meu — Mas para nós dois, significa tudo.
“Mesmo com você na minha frente
Eu não sei o que fazer
Para as pessoas que estão apaixonadas
Por favor, me diga como você começou a amar.”
- Hello / SHINee
CAPÍTULO 18
* POV
Eu não sabia como definir o que estava sentindo com aquele abraço, só sabia que era confortável e quente, até mesmo os batimentos dos nossos corações pareciam estar em sincronia. Ele percorrei suas mãos em meus braços até que acariciou meu rosto, senti meu corpo ficar estático com aquilo, o olhar de era sereno e ao mesmo tempo carinhoso.
Ficamos nos olhando por algum tempo, ele tinha um sorriso escondido no canto do rosto, seu olhar para mim não era o mesmo de quando eu estava como Mary, tinha algo diferente, algo que fazia meu corpo se arrepiar sem esforço. Ele elevou um pouco sua mão direita em meu rosto, lentamente me fazendo fechar meus olhos, eu não estava entendendo nada, até que senti seus lábios encostando nos meus.
Diferente do primeiro beijo que ele me deu, quando eu era a Mary, aquele beijo era realmente eu ali, estava me beijando e eu não sabia como reagir. Minhas pernas bambearam um pouco, acho que ele sentiu isso, pois segurou firme em minha cintura mantendo meu corpo mais ainda próximo ao dele. Tinha um gosto doce, uma intensidade disfarçada de suavidade, era algo novo para mim e para meu coração acelerado.
— Mest... — sussurrei ao término do beijo — .
— . — seu olhar continuava sereno, mas ele também parecia estar confuso — Eu... Não sei o que deu em mim.
— Hum?! — eu o olhei sem entender suas palavras, ele parecia arrependido.
— Me desculpe. — ele se afastou de mim parado de costas para mim — Você poderia sair, por favor.
— Como desejar. — eu me virei e subi as escadas voltando para a sala.
Minha cabeça estava uma bagunça e meu coração sem direção, aquele beijo tinha me deixado ainda mais confusa que antes, eu já não sabia dizer o que eu representava para . Eu era seu gênio, mas gênios não beijam seus mestres, isso são adultos que fazem, mais uma questão para mim, eu não sei o que sou.
— . — gritou Mike vindo me abraçar.
— Sim querido? — eu o olhei e sorri — O que deseja?
— Estou com fome, me ajuda a fazer pipoca? — pediu ele sorrindo também.
— Pipoca? Mas e o jantar? — perguntei.
— Vamos, quero ver muitos filmes hoje. — disse ele.
— Mike, o que está pedindo a ? — perguntou Jullie descendo as escadas.
— Quero pipoca. — respondeu ele — Estou pedindo ela para me ajudar a fazer.
— Mas e o jantar? — retrucou Jullie.
— Vamos ver filme, não era esse o nosso combinado? — Mike a olhou — Não podemos ver filme sem pipoca.
— Mas o papai vai deixar? — perguntou Jullie.
— Porque eu não deixaria? — estava encostado na porta me olhando.
— Mike, vamos que eu te ajudo a fazer a pipoca. — sorri para ele, mantendo minha atenção longe de .
Eu segurei na mão de Mike e o levei para a cozinha, foi complicado passar por na porta, mas difícil seria não olhar para ele, parecia que meu coração iria explodir perto dele. Assim que cheguei na cozinha, bebi um pouco de água para me acalmar, era estranho estar me sentindo assim, para dizer a verdade eu nem sabia o que estava sentindo mais.
— Está tudo bem ? — perguntou Mike.
— Sim. — eu desviei o olhar para o armário — Só estava com sede.
Eu não gostava se mentir para as crianças, mas não queria confundir a cabeça delas com minhas dúvidas momentâneas. Eu e ele ficamos por alguns minutos na cozinha brincando e ao mesmo tempo fazendo a pipoca, Mike teve uma ideia de fazer pipoca doce, assim poderiam sair coloridas.
Não era mais difícil para mim cozinhar, já estava acostumada com a cozinha e todos os seus perigos, além de nunca deixar que as crianças se aproximassem muito do fogão ou de objetos cortantes. Nós terminamos em risos, eu tinha conseguido acertar uma pipoca dentro da boca de Mike, a comemoração dele tinha atraído a atenção de Jullie e .
— Porque está assim Mike? — perguntou Jullie confusa pela alegria do irmão — É somente uma pipoca doce.
— É que eu e a , estávamos competindo quem acertava primeiro a pipoca na boca do outro, a conseguiu.
— Foi difícil não usando meus poderes. — eu olhei para o chão tinha algumas espalhadas.
— Que bom que se divertiram. — suspirou um pouco — Vou deixar vocês vendo o filme.
— Onde você vai pai? — perguntou Jullie.
— Preciso sair um pouco, mas não demoro. — respondeu ele.
— O senhor vai visitar sua amiga? — perguntou Mike com receio.
— Não. — se virou e saiu.
— Ele vai onde? — Mike me olhou.
— Eu não sei, mas ele disse que voltaria, então vamos ver nosso filme. — eu sorri para eles — Hum, o que veremos hoje?
— Que tal maratona Harry Potter? — sugeriu Jullie.
— Eu queria A era do gelo. — Mike me olhou.
— Vamos ver tudo que quiserem, temos todo tempo até as aulas voltarem. — eu peguei as duas vasilhas com a pipoca — Vamos?
As crianças assentiram com um sorriso e me seguiram até a sala, nossa maratona de filmes e desenhos começaria, eu estava com saudade desse momentos com eles.
* POV
Eu não sei de quem estava fugindo, dela ou de mim mesmo, mas precisava de um tempo para pensar, colocar minhas ideias em ordem. Entrei no carro e dei a partida, rodei um pouco pelas ruas, mesmo no inverno tinha algumas pessoas caminhando pelas calçadas.
Estacionei o carro em frente a um pub, entrei no lugar e sentei em uma banqueta em frente ao bar, pedi uma garrafa de soju. Fiquei um tempo olhando para a garrafa, pensando no que tinha feito mais cedo, no beijo que tinha dado em , nas palavras dela sobre Jullie querer que ela fosse sua madrasta, na minha mãe dizendo que ela seria a melhor escolha para mim.
Minha mente estava uma confusão de pensamentos e meus sentimentos estavam tão incertos, ou eu poderia ter a certeza e fugir dela. Confesso que estava relutante em pensar em como uma mulher, ou como uma segunda mãe para meus filhos, mas era tão óbvio que ela se encaixava tão bem em minha vida. Não queria admitir, mas meu coração se acelerava quando a olhava, seu sorriso me hipnotizava de uma forma surreal.
Olhar para ela, era como olhar para uma obra de arte moldada pelo melhor artista, como sentir uma brisa no final da primavera, como ver as olhas das árvores no outono, era como ter tudo que eu mais desejava na vida. Como uma pessoa poderia representar tantos sentimentos dentro de mim, e despertar tantos outros que já estavam mortos?
conseguia fazer meu corpo arrepiar somente com seu olhar inocente, meu coração acelerava com seu sorriso e meus sentidos reagiam de forma involuntária com suas perguntas. Eu estava ficando louco, louco e apaixonado por minha gênio, pior, eu estava começando a ver ela de outra forma. era uma linda mulher, linda e inocente.
— ?! — disse uma voz vinda do meu lado me tirando a atenção.
— John?! — olhei para o lado — O que faz aqui?
— Eu que te pergunto, você que é o caseiro do grupo. — riu ele se sentando na banqueta — Amigo, me vê uma Heineken.
— Eu não deveria estar bebendo. — disse num tom baixo voltando minha atenção para a garrafa.
— Olha o pai de família. — John pegou a garrafa que o barman te deu — Por que está aqui então, se não para beber.
— Vim porque precisava pensar. — expliquei.
— Com soju? — ele riu — Amigo, isso aí tem mais álcool que uma cerveja normal.
— Acredite, ainda não tomei um gole.
— Então seus pensamentos estão bem profundos. — ele tomou um gole — No que está pensando? Na próxima escola para seus filhos?
— Não estou com ânimo para suas brincadeiras hoje. — disse mantendo minha voz baixa.
— Uah, parece sério. — ele suspirou um pouco — Brigou com a Penny? Ou coisa pior? A Penny está grávida?
— John? — desviei meu olhar para ele — Sério, não estou mesmo com cabeça para brincadeiras.
— Não é brincadeira, eu realmente estou falando sério. — ele tossiu um pouco — Afinal, você e a Penny não estavam saindo?
— Não sei, ultimamente não estou sabendo definir os estágio da minha vida.
— Nossa que reflexão profunda. — ele segurou o riso — Mas se não é a Penny, quem é?
Eu fiquei em silêncio por um tempo, voltando minha atenção para a garrafa.
— Espera, tem algo relacionado a sua ex babá? — perguntou ele.
— Não é ex.
— Ela voltou?
— Sim. — assenti meio desanimado — Felizmente.
— Você deveria estar feliz e não falar como se fosse o fim do mundo. — ele ficou em silêncio por um tempo — A não ser que...
— O que? — eu o olhei sem entender.
— Eu te conheço, você ficou assim pensativo e cheio de reflexões, monólogos e filosofando sobre sua vida quando conheceu a Mary. — ele começou a rir — Sério? Sério mesmo?
— Sério o que John? — eu já não estava entendendo mais nada.
— , você está apaixonado pela babá dos seus filhos, e te conhecendo bem, está negando isso para si mesmo. — ele caiu na gargalhada — Não acredito que estamos revivendo isso.
— Você está entendendo tudo errado. — voltei a olhar para a garrafa.
— Agora está explicado por que você dá tanto ataque quando eu falo dela, é ciúmes. — ele continuou rindo — Que louco, bem ela é bonita, parece ser inteligente e o mais importante, seus filhos gostam dela.
— Você não está me ajudando. — peguei a garrafa, mas voltei a soltar — Eu não posso gostar dela.
— Não pode ou não quer? — perguntou ele — Está com medo de perder ela como perdeu a Mary?
— Ela é totalmente diferente da Mary. — eu ri de leve — Me faz perguntas que me deixam fora de órbita, mas quando olho para ela, é como se o tempo parasse.
— O diagnóstico disso é fallin in love meu amigo. — ele bateu no meu ombro — Agora está explicado porque você ficou meio distante da Penny na festa de virada, mas estou curioso para saber quando você começou a gostar da babá dos seus filhos, antes ou depois de ter um caso com a Penny?
— O que? — eu o olhei — Que curiosidade é essa?
— Tem lógica, porque se foi antes, podemos concluir que você estava usando a Penny para mudar seus sentimentos e te fazer esquecer a babá, e isso é mais uma prova que você está gostando dela.
As palavras de John faziam um pouco de sentido, mas não era o que eu queria ouvir, será que era tão difícil assim para mim admitir que estava sentindo algo? Pensando bem, também foi complicado para admitir que estava gostando de Mary, trauma do meu breve passado com Charlot.
Peguei minha carteira, retirei o dinheiro e coloquei ao lado da garrafa, de despedi de John e saí do pub, no final das contas não tinha bebido nada, porém estava mais preocupado com o que faria com minha vida. Não podia continuar convivendo com , sem definir o que nós dois seríamos um para o outro, não a mandaria embora, porque seria pior sem ela.
Otoke?? O que eu faço?? Entrei no carro novamente e dirigi em direção a minha casa, demorei mais para retornar, no relógio já batia mais de meia noite, quando cheguei estavam todos dormindo no sofá, fiquei por um tempo olhando aquela cena. O que confirmava ainda mais que minha vida sem a não seria completa, ela definitivamente tinha ocupado todos os espaços vazios deixados por Mary.
— Dormiram vendo filme novamente. — sussurrei não conseguindo deixar de fixar meus olhos na babá gênio.
Em silêncio e com cuidado, peguei Mike no colo e o levei para o quarto, fiz o mesmo com Jullie, os deixando confortáveis em suas camas. Quando voltei para a sala, fiquei alguns minutos olhando para , estava esperando ela acordar ou algo do tipo, primeiro pensei em trazer um cobertor para ela, mas tive vontade de fazer outra coisa.
Eu a peguei no colo, ela se mexeu um pouco em meus braços, olhando sua face, vi um disfarçado sorriso, aquilo me fez começar a suspeitar que ela não estava dormindo de verdade. Comecei a pensar em suas ações depois que a beijei no meu escritório, estava evitando olhar para mim ou falar comigo, aconteceu por um curto período de tempo, mas consegui notar isso.
Subi as escadas com ela nos meus braços, entrei no meu quarto e devagar a coloquei sobre a cama, cobri seu corpo com o cobertor, não resisti e acariciei de leve seus cabelos. Me afastei um pouco da cama e abri a porta, só tinha um jeito de saber se ela estava ou não dormindo, eu fechei a porta fingindo que tinha saído e fiquei esperando, encostado na parede de braços cruzados.
Exatamente como eu imaginava, abriu seus olhos e ergueu seu corpo, na sua face logo veio a surpresa em me ver ali.
— Boa noite. — disse a ela sorrindo de leve.
* POV
Estava estática, vendo ele ali, encostado na parede me olhando, será que sabia que eu estava fingindo? Eu desviei meu olhar para minha mão, olhar para ele estava fazendo meu coração acelerar e eu ainda estava confusa sobre muitas coisas, principalmente sobre nosso beijo.
— Me desculpe. — disse quase sussurrando — Não queria te incomodar, por isso fingi que estava dormindo, não imaginava que me traria para seu quarto novamente.
— Vou fingir que acredito, agora olhe para mim.
— Não posso, me desculpe mest... . — fechei meus olhos novamente — Não posso te olhar agora.
— Porque? — perguntou ele.
— Coisas acontecem com meu coração quando olho para você, não sei definir o que é, por isso não posso olhar. — respondi superficialmente.
— Posso te fazer um desejo?
— Sim. — assenti com a faze — Você é meu mestre, sou seu gênio.
— Hum. — ele permaneceu um tempo em silêncio, então o senti se sentando na cama e tocando em minha face, me fazendo levantar minha cabeça — Desejo que olhei para mim.
— Sim. — eu fui abrindo meus olhos lentamente.
— Não tenha medo de olhar para mim, você pode não entender o que sente, mas eu sei o que sinto.
— ... — eu sussurrei de leve, ele colocou seu dedo indicador em meus lábios.
— O que eu vou dizer agora, talvez possa não ter sentido para você neste momento, mas preciso te confessar algo.
Eu estava com medo do que ele poderia dizer, talvez me pedir para ir embora novamente, ou algo que me deixasse mais confusa ainda, mas no seu olhar havia sinceridade.
— , eu não me importo que você seja um gênio, e não me importo com rótulos como madrasta ou namorada, nada disso importa para nós dois. — ele respirou fundo — Somos diferentes de todos os adultos que existe, não por minha causa, mas por que você é especial, você representa a luz dessa casa, representa o sorriso dos meus filhos, representa minha vontade de não ficar preso no meu escritório o dia todo.
— Mas, eu sou somente um gênio.
— Não, você é muito mais que isso para mim. — ele acariciou meu rosto — Eu... Te amo.
Eu não tive tempo nem para ficar sem reação, ele me beijou de surpresa com a mesma intensidade de antes.
“Conte-me seu desejo,
Sou um gênio para você, garoto,
Conte-me seu desejo,
Eu sou gênio para o seu desejo,
Conte-me seu desejo,
Eu sou gênio para o seu sonho,
Conte apenas para mim,
Eu sou gênio para o seu mundo.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 19
* POV
tinha me explicado na teoria sobre os sentimentos de adultos, isso me ajudou a entender um pouco o que estava acontecendo comigo, principalmente quando meu coração acelerava quando eu olhava para ele. Ele tinha falado que também estava confuso, que não sabia se era certo gostar de mim já que eu era seu gênio, mas que resolveu não olhar para esses rótulos e seguir seu coração.
Aquela era mais uma novidade sobre ele, era ainda muito mais carinhoso do que eu imaginava, para minha surpresa ele não estava me tratando como se eu fosse a Mary, o que me deixou ainda mais aliviada. Definitivamente ele estava gostando de mim e não por que fui sua falecida esposa por um dia, seus sentimentos pareciam mais do que reais, mas me davam medo em certos momentos, principalmente quando ele me beijava com mais intensidade.
— O que houve? — perguntou ele.
— É que ainda não estou acostumada com tanto contato físico. — disse me afastando um pouco dele — Isso me assusta.
— Me desculpe. — ele acariciou minha face de leve — Vou tentar me controlar um pouco, é complicado para mim, mas sei que é tudo muito novo para você.
— Sim. — assenti com a face — Mas, estou em dúvida com uma coisa.
— O que?
— O que vai acontecer com sua amiga? Eu pude perceber no dia de ações de graças que ela gosta de você. — perguntei um pouco receosa.
— Ela vai ficar bem. — ele respirou fundo — O que ela sentia por mim, eu não conseguiria corresponder, as coisas são mais fáceis quando as duas pessoas sentem a mesma coisa.
— Então, você não gosta dela?
— Eu tentei, mas não consegui. — ele desviou seu olhar para o lado — Porque meu coração já estava ocupado, mesmo eu não percebendo, eu já gostava de você.
— Complicado essa coisa de sentimento, te fez ficar com uma pessoa gostando de outra.
— Não é complicado, mas os adultos que complicam tudo. — ele riu de leve — Existem certos momentos que lutamos contra o que sentimos.
— Acho que por isso ser criança é mais fácil. — eu sorri um pouco.
— Sim. — ele me olhou novamente — Estou feliz que você seja as duas coisas, sua inocência me encanta.
— Só até eu te fazer perguntas. — eu ri.
— Até assim. — ele sorriu.
Passamos a noite em claro conversando, eu não imaginava que existia tantas curiosidades e informações que envolviam a vida de um adulto, começando por algo chamado emprego e contas. Era uma grande explicação para as saídas de de casa todos os dias, a vida de um adulto era difícil e muito cansativa ao meu ver.
Mas tinha seu lado emocionante e divertido, como ir a encontros e festas com amigos, eu não tinha amigos, mas estava empolgada com tudo que ele me explicava. Mesmo um pouco receosa com seus beijos de surpresa, que me deixavam sem reação, me sentia segura e confortável em seus braços.
Ele adormeceu deitado no meu colo, pouco antes do amanhecer. Assim que ouvi uma movimentação vindo do quarto de Mike, me levantei lentamente não o acordando e saí do quarto dele. Chegando ao corredor, Mike já estava saindo do seu quarto, aquela carinha fofa de sono, esfregando seus olhos e junto com um largo bocejo.
— Bom dia querido. — estendi minha mão para ele — Dormiu bem?
— Sim. — assentiu ele pegando em minha mão — , estou com fome.
— Então vamos preparar nosso café da manhã.
Descemos as escadas devagar, pois ele ainda estava meio sonolento, seguimos direto para cozinha. Assim aos poucos Mike me ajudou a preparar o café, felizmente depois de tanto tempo convivendo com eles, eu já estava mais do que familiarizada com a cozinha e seus perigos.
Enquanto eu preparava as panquecas, ele colocava os copos e pratos na mesa, acho que não demoramos muito em nossa diversão em preparar o café, ainda mais com as panquecas flutuando levemente no ar, da frigideira até os pratos. Mike sempre gostava quando eu fazia isso, em nossos momentos de preparo e organização.
— Vocês estão preparando o café sem mim? — perguntou Jullie aparecendo da porta.
— Oh, você estava dormindo, achei melhor não te acordar. — expliquei a ela sorrindo de leve — Mas, não quero dizer que não vamos nos divertir também!!
— Sério!? — ela me olhou com um brilho nos olhos — O que temos para o café?
— Panquecas. — eu pisquei de leve e uma panqueca começou a se mover dentro do prato, se repartindo formando o nome dela.
— Eu amo panquecas. — Jullie se aproximou mais e me abraçou — Obrigada pelo café .
— Não precisa agradecer, eu me divirto muito preparando o café também. — sorri desviando meu olhar para a porta.
estava encostado de braços cruzados sorrindo, tentei controlar meu coração que já estava querendo acelerar. Voltei meu olhar para Jullie e mantive meu sorriso no rosto, estava imaginando como eu deveria dizer sobre o beijo que seu pai havia me dado.
— Papai! — disse Mike indo até ele e o abraçando — Bom dia.
— Bom dia. — o olhar de se manteve em mim — O cheiro está muito bom.
— A fez o melhor café da manhã do mundo. — disse Mike indo se sentar.
— Imagino, vocês sempre gostam do que ela faz. — se sentou entre as crianças ficando de frente para mim.
— Eu simplesmente faço tudo com pensamentos felizes, então sai tudo bom. — expliquei servindo o copo de Jullie com suco de laranja.
Era difícil não olhar para ele, mas estava tentando me controlar, ainda tinha receio de contar as crianças sobre essas coisas de adultos. havia me explicado que existem assuntos de adultos que crianças não entendiam, assuntos que até mesmo eu não entenderia por ser tão ingênua.
— Está gostoso. — disse Mike terminando de comer sua quarta panqueca.
— Uau, estou vendo o quanto você gostou. — eu ri um pouco dele — Mas não coma muito, eu li no senhor Google que crianças não podem exagerar, pois correm o risco de ficar com dores na barriga.
— está certa. — concordou — Coma apenas o necessário, estas não serão as última panquecas do mundo.
— Claro que não, posso fazer outras amanhã. — completei.
— Então estou satisfeito. — disse Mike devolvendo o pedaço que tinha pegado.
— Se você passar mal, não poderá se divertir hoje. — disse Jullie desviando seu olhar para mim — , vamos brincar de que hoje?
— Hum, que tal mais uma expedição? — sugeri.
— Sério? Podemos ver as pirâmides do Egito? — perguntou Jullie se animando.
— Eu queria explorar o espaço, e nossa casa poderia ser uma nave, como no filme Zathura. — disse Mike.
— Podemos fazer as duas coisas. — disse olhando para eles — Afinal vocês estão de férias.
— Sim, só até a semana que vem. — explicou .
— Até lá vamos nos divertir muito. — sorri empolgada, fazendo eles não se desanimarem.
— Papai, você vai explorar o mundo com a gente? — perguntou Mike.
— Não acho que tenha lugar para um inexperiente. — desviou seu olhar para mim.
— O senhor foi tão corajoso com os dinossauros. — insistiu Jullie.
— Então senhorita guia gênio, pais podem ir nessa expedição.
— Claro, pais são sempre bem-vindos. — assenti com a face, tentei me controlar, mais meus olhos estavam sim brilhando.
Depois de uma rápida votação, cheia de argumentos de Jullie dizendo que visitar a casa das múmias seria mais divertido que uma viagem no espaço, nossa expedição ao Egito havia ganhado um voto unânime. Mas eu tinha prometido a Mike que no dia seguinte transformaríamos aquela casa na melhor nave espacial que ele poderia ter, assim como no filme.
As crianças subiram para os quartos para trocar de roupa, assim eu fiquei na cozinha com arrumando tudo. Enquanto ele lavava a louça, eu guardava todas as coisas na geladeira e nos armários, em um certo momento ele começou a jogar algumas gotas de água em mim, brincando.
Eu não pude evitar de rir e retrucar fazendo a água se desviar de seu curso normal e ir na sua cara, ele me puxou de leve quando fiz isso me colocando na frente da água. Resultado final, ficamos nós dois molhados e rindo daquilo no meio da cozinha.
— Agora entendo porque eles gostam de ficar na cozinha com você. — disse ele rindo.
— É bom quando transformamos as coisas em diversão, assim mais leve a vida. — expliquei a ele.
Estávamos muito próximos e ele não parava de me olhar, cheguei a ficar um pouco envergonhada, desviando meu olhar para o chão abaixando minha cabeça. Mas logo tocou em minha face, a erguendo novamente, lentamente ele foi aproximando seu rosto até que seus lábios tocaram os meus.
Desta vez seria difícil controlar meus batimentos, meu coração já estava acelerado e meu corpo um pouco estático, senti seus braços envolta da minha cintura, o que me deixou ainda mais sem reação.
— Papai!? ?! — a voz de surpresa era de Jullie.
— Ju. — eu me afastei um pouco de , não sabia o que dizer.
— Papai! ! — ela colocou a mão na boca e depois sorriu.
— Jullie... — começou a tentar explicar.
Tanto eu como ele estávamos meio estáticos, mas Jullie foi mais rápida e logo veio me abraçar, acho que já dava para entender que ela estava feliz com o que tinha visto.
— Eu sabia. — disse ela empolgada — Sabia que você seria minha madrasta.
— Ju... Eu... — não sabia como colocar as palavras, eu ainda não era uma madrasta.
— Não importa, o papai te beijou, e sei que quando os adultos se beijam é porque sente algo um pelo outro.
— Bem. — eu olhei para sem saber o que dizer.
— Você está certa Jullie. — assentiu ele olhando para mim — O papai senti muita coisa pela , e logo ela será sua madrasta.
— Viva!!! — Jullie deu alguns pulos de alegria.
— O que está acontecendo? — perguntou Mike ao entrar na cozinha.
— Papai e vão se casar. — disse Jullie.
Logo Mike começou a pular de felicidade junto com a irmã, eu olhei para o lado e estava segurando o riso, o brilho nos seus olhos era visível. Eu estava alegre pelas crianças estarem felizes, realmente era aquele o desejo de Jullie, que eu me tornasse sua madrasta, mas outra pergunta surgiu junto com suas palavras.
— O que significa casar? — perguntei confusa.
— Ah. — Jullie me olhou — Casar é uma coisa que os adultos fazem quando se amam, e você e o papai se amam!
— Papai e vão ter um casamento. — Mike estava ainda mais empolgado.
— Casamento?! — eu olhei para , outra coisa desconhecida para mim.
— Sim. — assentiu ele com a face — Vamos falar sobre isso mais tarde, não temos uma expedição agora?
— Verdade. — eu olhei para as crianças — Vamos para o Egito.
— Sim. — assentiu Jullie — Mas você e o papai vão molhados assim?
— Verdade, porque vocês estão molhados? — perguntou Mike.
— e o papai se divertiram na cozinha sem a gente. — respondeu Jullie.
Eu e rimos um pouco da resposta dela, e em um estalar de dedos troquei nossas roupas e fiz com que nossos corpos ficassem secos. Mesmo com todo aquele tempo convivendo comigo, ainda não tinha se acostumado com meus poderes de gênio.
Em um piscar de olhos, nos transportei para o Egito antigo, uma época pouco depois das grandes construções de pirâmides e da Esfinge de Gizé. O olhar de fascinação das crianças com toda a paisagem que viam, me faziam ficar ainda mais satisfeita e feliz por estar com eles, finalmente eu estava fazendo as pessoas que gostava feliz sem elas terem que me pedir.
O olhar de contemplação de também era profundo e suave, ele parecia ainda mais admirado do que as crianças. Exploramos tanto as três pirâmides de Gizé como a Esfinge, entrando e saindo de portas secretas e labirintos que pareciam intermináveis.
Em um breve momento nos dividimos em duplas, Mike ficou com , enquanto Jullie e eu entramos por outra porta. Não imaginava o que eles tinham encontrado, mas eu e Jullie nos deparamos com a tumba do Faraó, eu não queria perder a oportunidade e numa brincadeira, fiz com que múmias aparecessem para nos perseguir.
Corremos muito pelos corredores da pirâmide, até que chegamos até a saída, eu fiz com que múmias perseguissem os dois também, assim seria mais divertido para todos. Quando e Mike saíram correndo da pirâmide, Jullie e eu começamos a rir, eles estavam gritando de uma forma muito engraçada.
Como estávamos vestidos apropriadamente com trajes da época, eu os levei para darem um passei pelo mercado da cidade de Mênfis. Além de poder comer na casa de alguns moradores locais, foi um momento muito proveitoso para as crianças ouvirem várias sobre o Antigo Egito.
Ao final da tarde, contemplando o pôr-do-sol, fizemos um piquenique em um oásis que existia próximo a Esfinge de Gizé. Vendo os olhos das crianças brilhando e vendo o olhar de agradecimento de , eu conseguia sentir que aquele dia havia sido maravilhoso.
— Acho que precisamos de um banho. — disse assim que voltamos para casa.
— Sim. — assentiu as crianças subindo as escadas correndo.
— Não demorem. — disse num tom mais alto.
As crianças gritaram do andar de cima, como se estivessem concordando.
— O que achou da expedição? — perguntei.
— Divertida e cheia de conhecimento. — ele sorriu de leve — Obrigado, tenho certeza que foi muito importante para eles.
— Sim. — assenti com a face — Me sinto realizada por ver eles tão empolgado se alegres.
— A resposta é você. — disse ele dando alguns passos até mim — Você se tornou a alegria desta casa.
— Não faço nada demais, só quero vê-los felizes, é essa a função de um gênio. — expliquei.
— Você é bem mais do que isso. — ele acariciou de leve minha face — É bem mais que somente um gênio.
— Hum.
Eu fechei os olhos de leve, assim que senti ele se aproximando mais de mim, acho que já estava começando a entender os movimentos do corpo dele e reagir no momento certo. E aquele momento ele estava me beijando de forma singela e doce.
— .
— Sim?!
— Eu... Bem...
— O que? — ele me olhou tranquilamente.
— Você sabe que eu às vezes não entendo certas coisas e fico pensando.
— O que tem?
— Sabe aquela família, que almoçamos na casa deles?
— Sei.
— Aquela mulher estava com seu filho nos braços, vê-la cuidando dele com tanto carinho, me fez pensar em Jullie e Mike, de como você cuidou deles quando eram bem pequenos. — eu suspirei fraco — E isso me trouxe mais outras perguntas e dúvidas.
— , o que exatamente você quer me perguntar?
Eu o olhei de forma confusa, ainda estava me perguntando se faria ou não aquela pergunta, mas como ele era um adulto, era a única pessoa que poderia me responder.
— Eu... — respirei fundo — , de onde vem os bebês?
— O que? — ele começou a tossir.
“As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez apenas com o toque de uma mão
Eu, me apaixono por você a cada dia
Eu só quero te dizer que eu estou apaixonado.”
- Thinking Out Loud / Ed Sheeran
CAPÍTULO 20
* POV
Eu ainda não sabia o que responderia a ela, me faziam perguntas que me deixavam sem reação. Desviei meu olhar dela por um tempo, pensando em alguma resposta simples, porém nada relacionado a ela, era tão simples assim.
— Bem, eu não sei como te explicar. — respirei fundo escolhendo as palavras certas — Para se ter um bebê, precisa de dois adultos, um homem como eu e uma mulher como você, então…
— Então?! — ela parecia ansiosa para saber.
— Yah, são coisas que você ainda não está preparada para saber. — disse a ela não sabendo como lidar com aquela pergunta.
parecia uma mulher, tinha corpo de uma mulher, aparentemente a idade de uma mulher, mas sua mente ainda era de uma criança em aprendizado. Eu estava me sentindo como seu pai naquele momento, era como se Jullie estivesse em minha frente, me fazendo perguntas sobre a puberdade. Não me sentia preparado para aquilo.
— Por que não? Se sou um adulto, devo saber. — retrucou ela demonstrando chateação — Se não me contar, posso perguntar ao senhor Google.
— Não. — disse alterando um pouco minha voz.
Não queria que ela procurasse aquilo na internet, poderia encontrar coisas impróprias para sua mente inocente.
— Tudo bem, eu vou te dizer de onde vem os bebês. — disse respirando fundo.
— Hum. — ela se sentou no sofá e ficou me olhando atentamente.
— Bem. — eu me sentei na mesa de centro em sua frente, ainda não sabia ao certo como explicar tudo — Quando se tem um homem e uma mulher, como eu e você, em um momento acontece uma coisa entre eles, como o beijo, porém mais intenso. — não sabia se estava conseguindo, mas estava tentando — Então, neste momento o homem tem a possibilidade de colocar uma semente dele na mulher, e essa semente cresce se tornando o bebê, e depois nasce.
Nunca achei tão difícil ou complicado explicar algo para uma pessoa, como explicar sobre sexo e gravidez para .
— Então os bebês vem de dentro das mães?! — concluiu ela com um olhar meio confuso.
— Sim. — assenti um pouco aliviado — Os bebê vem das mães, Mary era a mãe de Jullie e Mike, meus filhos são a mistura dela comigo.
— Hum. — ela parecia entender um pouco melhor o que eu dizia — E como se faz os bebês? Como você colocou a semente na Mary?
Eu fiquei estático por instantes, até que ouvi o barulho das crianças descendo as escadas.
— . — disse Jullie — Vamos ver um filme?
— Claro. — assentiu ela se levantando e indo até Jullie — Mas não podemos ver sem pipoca.
— Viva. — Mike vibrou um pouco — sempre lê meus pensamentos.
— Pensei que estivesse satisfeito com o nosso piquenique. — disse Jullie o olhando surpresa.
— Estou em fase de crescimento. — explicou Mike — E filme sem pipoca não é filme.
Eles foram rindo para a cozinha, eu ainda me encontrava sem reação pela pergunta dela. Como uma simples gênio poderia me deixar assim, sem ar e sem respostas para perguntas simples. Deixei eles com sua sessão cinema e desci para meu escritório, precisava ficar um pouco sozinho para pensar, e suas perguntas estavam me deixando louco.
Passei algumas horas sentado em frente minha mesa, olhando os papéis espalhados em cima dela, pensando que teria que voltar ao trabalho no dia seguinte. Estava olhando para o teto continuamente quando minha atenção foi despertada, era o barulho da porta, estava descendo as escadas.
— Eu fiz chá para as crianças tomarem antes de dormir, trouxe para você. — disse ela com uma xícara nas mãos.
— Obrigado. — disse me levantando da cadeira e indo até ela pegar a xícara.
— Me desculpe por fazer tantas perguntas de te deixa desconfortável. — disse ela se encolhendo um pouco.
— Ironicamente perguntas foram feitas para nos deixar desconfortável. — eu ri de leve — Mas, não se desculpe, estou feliz que esteja fazendo estas perguntas para mim.
— De alguma forma louca, eu também. — assentiu ela dando um sorriso espontâneo.
— Só não pergunte essas coisas para Jullie, por favor.
— Oh, não. — assentiu ela novamente ficando um pouco mais séria — Eu entendo que são perguntas de adulto, jamais as farei para Jullie, apesar dela ser ainda mais esperta que eu, ela pelo menos sabe o que é casamento.
Eu ri um pouco de sua cara triste.
— Bem. — peguei em sua mão com suavidade — Casamento é quando duas pessoas que se amam, unem-se diante da sociedade, declarando que ficarão para sempre juntos, até a morte.
— Hum. — disse ela num tom pensativo — E nós vamos fazer isso?
— Isso o que?
— Nos casar? Como a Jullie disse.
— Você quer? — perguntei de forma automática.
— Não sei, nem como é estar em um casamento, mas sei que quero ficar com você e com as crianças. — respondeu ela com seu jeito descontraído e tímido.
— Terei muito tempo para te explicar sobre isso. — eu ri de leve da sua cara de confusa, deveria estar pensando sobre aquilo.
— … — sussurrou ela de leve me olhando.
— Diga.
— Sobre aquela pergunta, de como é feito os bebês, você não precisa me responder agora, se for desconfortável para você. — disse ela.
— Não é desconfortável, apenas acho que há um momento certo para você saber sobre isso. — eu a abracei de leve, envolvendo meus braços em sua cintura — E quando este momento chegar, eu te direi como fazem os bebês.
— Hum. — ela assentiu se encolhendo um pouco nos meus braços.
Tenho que admitir que meu coração já estava acelerado, estar perto dela fazia meu corpo ficar aquecido, mesmo com sua inocência me colocando a prova, eu me sentia a cada instante ainda mais atraído por ela.
— …
— Diga. — eu segurei o riso, estava me preparando para mais alguma pergunta louca dela.
— Se eu e você, se nos casarmos… Bem, você é um homem e eu sou uma mulher, você vai fazer, nós vamos fazer um bebê também?!
Eu comecei a rir, me mantendo abraçado a ela. era realmente tudo de bom que tinha acontecido desde a morte de Mary, era a alegria e espontaneidade da minha vida.
— Por que não deixamos esse assunto de bebês, para o momento exato de falar sobre isso, apenas feche os olhos agora e sinta meu amor através do meu abraço.
— Hum. — ela assentiu se aninhando ainda mais, encostando sua face de leve no meu tórax.
Pela aproximação dos nossos corpos, eu conseguia sentir que o coração dela também estava acelerado. Tenho que admitir que com aquela pequena distância entre nós, era complicado me segurar perto dela, mas jamais faria algo que pudesse assustá-la ou machucá-la, mesmo que eu tivesse que reprimir um pouco meus instintos primitivos de homem apaixonado.
Fechei meus olhos também, mas logo os abri e fiquei com meu olhar focado na escada, naquela altura da noite e depois te todas as perguntas sobre bebês e como são feitos, era complicado para mim fechar os olhos e não imaginar coisas. Pior ainda, imaginar eu e ela no meu quarto fazendo coisas, não, não poderia pensar nisso naquele momento.
Depois de um longo tempo abraçado a ela, pedi para que dormisse em meu quarto, eu ficaria ali no escritório, dormiria na poltrona que tem aos fundos entre as prateleiras de projetos. Ela assentiu sem questionar e subiu as escadas, assim que fechou a porta, eu caminhei até a poltrona e retirando duas caixas que estavam em cima, me sentei reclinando a mesma, para ficar mais confortável.
Na manhã seguinte, acordei sentindo o cheiro do café sendo feito, me levantei da poltrona e subi até a cozinha, era fazendo o café da manhã com Jullie e Mike, o cardápio do dia era ovos mexidos com bacon, acompanhados de muita diversão no preparo. Não quis atrapalhar a festa deles e segui para meu quarto, tomei uma ducha fria para acordar meu corpo e espantar pensamentos obscenos, frutos de alguns sonhos que tive com na noite anterior.
— Bom dia. — disse assim que voltei para a cozinha.
— Papai, vai trabalhar hoje? — perguntou Mike olhando para minha roupa.
— Sim querido, infelizmente minha vida de adulto me obriga. — suspirei fraco — Mas isso não significa que vocês não vão se divertir hoje.
— Verdade. — assentiu se sentando na cadeira — Hoje enfrentaremos uma grande batalha espacial, com muitos zorgs mals.
— Uah. — Mike me olhou — Vamos para o espaço?
— Claro que vamos. — assentiu com um sorriso.
Não estava com muita fome, mas tomei uma xícara de café para espantar o sono, os deixei ainda planejando sua grande aventura espacial, enquanto terminavam o café. Antes de sair pela porta, senti me puxando de leve pelo braço.
— O que houve? Aconteceu algo?
— Hum. — ela parecia meio envergonhada — É que, Jullie disse que agora que sou quase madrasta dela, eu tinha que te dar um beijo antes de você ir trabalhar, para dar sorte no seu dia.
— Meus dias já são pura sorte, só de ter você neles. — eu beijei de leve sua testa e saí rindo da sua ingenuidade.
Eu me espreguicei de leve indo até o carro, apertei o botão do chaveiro para destravar o alarme e entrei, após colocar o cinto de segurança, dei a partida seguindo para a construtora. Assim que cheguei no prédio, John já estava no hall me esperando, como aquelas amigas fofoqueiras, querendo saber de tudo sobre aqueles meus dias em casa com .
— Yah, John. — alterei um pouco a voz entrando em meu escritório — Pare de me encher com suas perguntas curiosas.
— Yah, digo eu, só estava querendo saber se finalmente se declarou para ela. — ele entrou atrás de mim e fechou a porta — Não é todo dia que a sorte esbarra em você na forma de babá dos seus filhos.
— Neste caso, foi realmente sorte. — sussurrei de leve, pensando que sua garrafa poderia ter sido colocada na mala de outra pessoa.
— Mas então?!
— Sim, eu me declarei para ela, satisfeito?
— Não, agora que eu estou ainda mais curioso para saber o que fizeram nesses dias. — ele riu alto.
— Pare de me olhar com malícia, e tenha respeito pela minha…
— Sua?! — me interrompeu ele.
— Bom dia. — disse Penny ao entrar de repente na sala — Oh, me desculpe, não sabia que estava ocupado.
— Não se preocupe. — eu a olhei tranquilamente — John já estava de saída.
— Claro. — John deu uma risada sarcástica e piscou para mim — Quero saber o resto depois.
— Yah John, vá trabalhar. — o repreendi.
Ficamos em silêncio até John sair e fechar a porta.
— Bem, eu estava indo tomar um café na cafeteria aqui do lado, então vi seu carro estacionado na frente, e pensei em te convidar. — disse ela.
— Ah, terei que recusar, eu já tomei café em casa. — disse com minha atenção nas pastas sobre minha mesa.
— Ah, tudo bem, então fica pra próxima. — disse ela num tom baixo.
— Penny. — disse a chamando, ela já estava abrindo a porta para sair.
— Sim?! — seu olhar parecia um pouco esperançoso.
— Me desculpe pelo modo que te tratei na festa de ano novo, eu fui um pouco rude com você, mas é que aconteceu muitas coisas comigo desde aquele dia. — expliquei superficialmente.
— Sim, você estava preocupado com seus filhos também. — assentiu ela tentando entender minhas palavras — Não se preocupe comigo, está tudo bem.
— E… Sobre nós.
— O que tem?!
— Acho que deveríamos ser somente amigos. — fui o mais sincero que pude, de uma forma mais suave possível.
— Ah, bem claro, seu filhos… — disse ela tentando encontrar o motivo.
— Não é somente pelos meus filhos, mas é que tem uma outra pessoa envolvida. — comecei a explicar.
— Não precisa dizer mais nada , somos adultos e eu já entendi seus motivos. — ela abriu um pouco mais a porta.
— Eu realmente não quero que fique nenhum mal entendido entre a gente. — disse percebendo que ela parecia chateada.
— Como ficaria? , nós não tínhamos nada formal, não se preocupe. — assegurou ela dando um sorriso um pouco forçado — Eu preciso ir, tomar o café.
Ela saiu deixando a porta entreaberta. Eu respirei fundo, ao mesmo tempo que me sentia aliviado por ter encerrado meu assunto com Penny, também me sentia um pouco mal por tê-la deixado naquele estado. Mas, era o certo a fazer, não podia brincar com seus sentimentos e nem enganá-la.
O dia foi passando comigo revisando o próximo grande projeto da construtora, foi quando recebi uma mensagem da minha mãe dizendo que e as crianças estavam na sua casa. Seria o tradicional jantar em família do dia 3 de janeiro. Eu ri de leve quando ela me mandou uma foto de e as crianças fazendo careta, dava para ver como os olhos daquela gênio louca brilhavam.
“As coisas mais importantes,
São invisíveis, elas não podem ser vistas,
Então eu quero dizer para você inúmeras vezes (eu quero dizer),
Se eu não tivesse você,
Eu não seria quem eu sou hoje,
Esse destino,
Indestrutível.”
- Indestructible / Girls' Generation
CAPÍTULO 21
* POV
Nós estávamos nos divertindo muito enquanto jogávamos banco imobiliário com o pai de , até que a senhora Hana me pediu para ajudá-la na cozinha, naquele momento eu teria que ficar atenta para não me distrair e fazer alguma coisa louca que me denunciasse ser uma gênio. não queria que mais ninguém além dele e das crianças, soubessem quem eu era de verdade.
— Fico feliz em saber que tem alguém tão especial ao lado das crianças. — disse a senhora Hana enquanto cortava a alface da salada — espero que eles não estejam te dando muito trabalho.
— Oh não, eles são adoráveis. — assegurei enquanto mexia a panela do molho branco para ela — Me divirto com eles todos os dias.
— Imagino que sim, nunca vi meus netos tão alegres e espontâneos assim com alguém desconhecido.
— Mas eu não sou uma desconhecida, Jullie disse que somos amigas.
— Ah sim. — ela riu de mim — Desconhecido, digo nas palavras de não ser da família.
— Hum.
A senhora Hana tinha razão, eu ainda não era da família, talvez seria se me casasse com . Saber aquilo me deixou um pouco triste, pensar que eu poderia ser somente uma desconhecida para Jullie e Mike.
— Porém, em alguns casos especiais, amigos também se tornam da família. — afirmou ela ao olhar para mim com suavidade — Por exemplo, você.
— Eu?!
— Sim. — assentiu ela — Eu já te considero da família.
— Estou feliz por isso. — significava que eu tinha a confiança dela, mesmo não podendo dizer a verdade sobre mim, a senhora Hana confiava em mim.
Nós conversamos sobre mais algumas coisas, como dicas de receita, as comidas coreanas favoritas de , sua infância a morte de Mary. Ela parecia feliz e agradecida por eu estar na vida do filho e dos netos, o que me deixou ainda mais feliz por ter tido minha garrafa colocada entre as coisas de .
As horas se passaram e o membro que faltava chegou, eu e a senhora Hana fomos para sala receber , ele estava com uma sacola nas mãos, acho que tinha comprado chocolate para dar a senhora Hana, ela gostava muito também. Não demorou muito para nos reunirmos à mesa, se sentou ao meu lado, e constantemente me olhava, despertando alguns comentários engraçados de seu pai, o senhor Chang.
— Família. — pronunciou se levantando — Eu queria dizer algo.
— Hum. — eu me remexi um pouco na cadeira, estava com medo do que ele falaria.
— Eu e a , estamos namorando. — disse ele.
Meu coração acelerou.
— Uah. — senhora Hana deu um pequeno pulo da cadeira, demonstrando empolgação — Finalmente, estava rezando tanto por isso, Deus ouviu minhas preces.
— Mãe?! — ele a olhou um pouco indignado.
— Que bom meu filho, estávamos mesmo torcendo para que você admitisse que gostava dela. — o senhor Chang riu de leve e olhando para mim — Você é uma garota extremamente especial , estou feliz que meu filho tenha conquistado você.
— Pai?! — parecia ainda mais indignado.
Jullie e Mike comemoraram um pouco de suas cadeiras, eu ri de leve, estava me sentindo um pouco envergonhada pelos olhares da senhora Hana, apesar dela parecer muito feliz com a notícia. Oficialmente eu era a namorada de , não sabia direito o que significava isso, mas estava feliz com o anúncio dele, acho que já era um passo para ser a madrasta da Jullie, o que me deixava ainda mais empolgada.
Após voltarmos para casa, as crianças foram para seus quartos trocarem de roupa, eu dei o impulso para subir a escadas, quando segurou em minha mão me puxando para perto dele. Suas mãos estavam frias, porém foram aquecidas pelas minhas, seu olhar para mim era sereno e ao mesmo tempo intenso, o que me fazia desviar algumas vezes.
— Posso te agradecer novamente?! — disse ele.
— Pelo que? — em alguns momentos suas palavras me confundiam.
— Por estar em minha vida. — ele sorriu de canto — Obrigado por existir.
Eu segurei um pouco minhas lágrimas, ninguém nunca tinha me agradecido por eu existir, definitivamente era muito diferente do meu outro mestre. Ele me puxou para mais perto ainda e me abraçou novamente, o aroma do seu perfume era tão bom de sentir, seu abraço tão confortável. Tinha razão em dizer que eu conseguiria sentir seu amor em apenas um abraço.
Minutos depois, as crianças desceram as escadas eufóricas, estavam aquele tempo todo segurando as informações de suas aventuras espaciais que tivemos na tarde de hoje. Mike era o mais empolgado em contar como foi o capitão da nave/casa batizada por ele de Dreamland. Uma pena que não pôde participar de nossa expedição pelo espaço, mas estava feliz que mesmo longe dele, conseguimos nos divertir.
Os dias se passaram e na noite de sexta, após o jantar eu tive uma ideia, levaria eles a um passeio noturno. Sem dar uma só dica, eu estalei os dedos e nos transportei para o lugar mais surpreendente do mundo, a lua.
— Uah. — disse Mike dando alguns pulos, tentando se adaptar a falta de gravidade.
— Que legal, a terra é mesmo azul. — disse Jullie com brilho nos olhos.
— Você realmente pensa em tudo. — disse ao se aproximar de mim, olhando os detalhes da sua roupa de astronauta.
— Sou uma gênio, mas ainda sigo as regras, todo mundo sabe que na lua não existe oxigênio. — expliquei a ele, segurando o riso.
— Caro. — ele sorriu para mim — É a melhor gênio do mundo.
Eu desviei meu olhar para o lado, um pouco tímida, porém feliz por seu elogio, queria que minhas irmãs estivessem ali para ouvir as palavras dele.
— Um ótimo jeito de terminar a noite. — disse ele — E o momento mais propício para eu te fazer um pedido.
— Um pedido? — eu o olhei — Você quer fazer um desejo?
— Não, não quero fazer um desejo para a gênio. — ele pegou em minha mão — Sobe a luz do sol que reflete na lua, que transmite a terra, quero fazer um pedido para a , a garota que me faz sorrir mesmo querendo chorar.
Me senti sem ar naquele momento, meu coração acelerou um pouco, mesmo respirando fundo, era difícil conter meus sentimentos internos. Era como se estivesse para me pedir algo importante.
— Você deseja se casar comigo? — perguntou ele.
Era a primeira vez que alguém me perguntava se eu desejo algo, era eu a gênio, eu que deveria perguntar sobre os desejos dele.
— Oh. — disse Jullie ao se aproximar de nós com Mike ao seu lado.
Mesmo não entendo sobre casamentos e essas palavras que representavam os relacionamentos dos adultos, era óbvia minha resposta. E minha resposta positiva, veio seguida do leve e involuntário alinhamentos dos planetas com o sol, uma pequena brincadeira da minha parte, mas deixar as crianças ainda mais felizes e fascinadas com nossa viagem para a lua.
Passamos um pouco mais de tempo ali, as crianças me observando colocar os planetas de volta no seu eixo original, e me olhando fixamente. Quando voltamos para casa, colocamos as crianças na cama, enquanto fiquei no quarto de Mike contando uma histórias para ele, Jullie estava com o pai em seu quarto.
Esperei um pouco até Mike dormir e apagando a luz, deixei o abajur aceso e saí do quarto. Caminhei até o quarto de , estava curiosa para saber como era um casamento, eu não iria perguntar os detalhes para ele, então abri seu notebook e entrei na página do senhor Google, tinha muitas coisas para perguntar.
Após ver algumas imagens, eu comecei a me lembrar de uma irmã minha, que tinha participado de uma cerimônia grega de casamento, então fui imaginando como seria o casamento de um gênio com seu mestre. Era de fato algo que nunca tinha ouvido falar, nos anos que passei com minhas irmãs, menos ainda que gênios podiam ter algo com seus mestres. Só naquele momento, reparei que estava fazendo coisas que não sei se podia, mas como sempre me dizia, eu deveria seguir meu coração e esquecer meu lado gênio.
Fechei o notebook e me deitei na cama, a manhã seguinte seria mais do que especial, eu já estava pensando em todos os detalhes, o dia seguinte todos acordaríamos em um lugar especial para celebrar algo especial. Não demorei muito para cair no sono, a noite pareceu longa ao meu ver, ou talvez pudesse ser minha mudança de tempo e espaço, afinal, durante o sono de todos, eu nos transportei para o palácio do rei Nabucodonosor II na antiga cidade da Babilônia.
Eu acordei com alguns gritos vindos do corredor principal, era e as crianças me chamando. Me espreguicei de leve da cama e me levantei, caminhando tranquilamente até a porta abrindo-a, ao sair avistei eles na ponta do corredor olhando para a arquitetura do palácios, tentando entender onde estavam.
— Bom dia. — disse segurando o riso — Gostaram da surpresa?
— Surpresa?! — me olhou confuso — , onde estamos?
— Na antiga cidade da Babilônia. — respondi — estamos aqui, porque hoje é um dia especial e vamos participar de uma festa.
— Festa? — Jullie parecia animada e ao mesmo tempo receosa — Que festa ?!
— Festa do meu casamento com . — expliquei tranquilamente.
— O que? — ele me olhou espantado, enquanto as crianças pulavam de alegria — , não é assim, as pessoas não se casam da noite para o dia.
— Hum. — eu me encolhi um pouco — Mas, eu pensei que… Me desculpem, eu não sabia que tinha um tempo definido para esperar.
— , geralmente os noivos preparam as coisas do casamento, como a gente viu no filme daquelas noivas. — explicou Jullie — Mas, papai. — ela olhou para ele — não é uma noite qualquer, ela é especial e você não vai se casar com uma garota normal.
— O que tem isso Jullie. — ele a olhou.
— Talvez vocês possam se casar aqui hoje no estilo dos gênios, e depois se casam de novo no nosso estilo normal. — propôs ela.
— Não é uma má ideia. — concordei — Já que sou uma gênio, acho que não poderia me casar só da forma tradicional de vocês.
— Eu concordo. — disse Mike levantando sua mão.
riu de leve nos olhando.
— Você quer mesmo se casar comigo aqui? — perguntou ele.
— Sim, é um dos lugares mais lindos que já ouvi falar. — assegurei para ele, sorrindo.
— Então nos casaremos hoje. — assentiu com um olhar sereno.
Logo algumas pessoas entraram no corredor e se aproximaram de nós, dois homens que pareciam sacerdotes levaram para um outro corredor, enquanto isso, duas mulheres levaram a minha e as crianças para o harém. Segundo elas, eu iria tomar um banho de rosas para me preparar para o casamento, Mike e Jullie ficaram brincando com outras crianças, um pouco distante do lugar onde eu me arrumava.
— Obrigada. — disse a mulher que estava me ajudando a colocar meu vestido de linho branco com bordados verdes e azuis.
Ela sorriu para mim gentilmente, parecia tão empolgada em poder me ajudar a me arrumar, demorou algum tempo para eu ficar pronta, não imaginava que uma noiva poderia demorar tanto. As crianças foram na frente, ficariam perto ao lado de me esperando, eu saí do harém com as mesmas duas mulheres me acompanhando.
Assim que chegamos nos jardins suspensos da Babilônia, eu respirei fundo, estava sentindo um frio na barriga, ambas me abraçaram e me guiaram até o corredor que eu caminharia até ele. Havia várias pessoas sentadas nas cadeiras e algumas em pé, porém todas olhando para mim. Contando os passos, segui até chegar em , que mantinha seu olhar surpreso e confuso em mim.
— Mais uma surpresa sua. — ele sorriu — Você está ainda mais linda.
— Obrigada. — agradeci meio sem jeito.
— Estou curioso para saber, por que teremos um casamento com um sacerdote hebreu em plena Babilônia. — comentou ele com seus olhos fixados em mim.
— Digamos que sempre admirei os hebreus, ouvi muito sobre eles e seus costumes, fazem as melhores festas. — expliquei.
Ele riu um pouco. Assim que o sacerdote hebreu começou a discursar sobre o que seria casamento, segurou em minhas mãos entrelaçando nossos dedos. Comecei a me sentir ainda mais ansiosa, o que me fazia pensar o porquê de tanta ansiedade, era somente um casamento.
Porém, lá no fundo algo me dizia que aquilo iria mudar minha vida, internamente e externamente.
“Acima do chão frio,
Vou andar descalça,
E seu calor vai me dar forças,
Você está sempre ao meu lado,
Porque, mesmo nascendo sozinhos,
Encontramos um ao outro?
Mais do que eu te entender, eu quero entender a mim.”
- Divine / Girls' Generation
CAPÍTULO 22
* POV
Foi divertido a cerimônia, porém o que me fez ficar paralisada foi o olhar de para mim, ele parecia fascinado. Seus olhos brilhavam de forma singela, e em alguns momentos seu sorriso suave aparecia, com uma breve piscada de olhos, que me faziam rir espontaneamente.
Assim que o sacerdote terminou seu discurso, assentiu para que selasse o final da cerimônia dando um beijo em mim. Eu fechei de imediato meus olhos, consegui sentir os movimentos dele para mais perto de mim, seus lábios tocaram minha testa permanecendo por um breve momento, até que percorreram minha face chegando aos meus lábios. O gosto do seu beijo era o mesmo do qual havia guardado na minha mente.
— Então é assim que os adultos se casam?! — sussurrei assim que ele se afastou de mim.
— Não. — ele sorriu de leve — É assim que nós nos casamos.
— Viva. — gritaram Jullie e Mike dando alguns pulos de alegria.
Eu olhei para as crianças com um largo sorriso em minha face, conseguia ver que a felicidade deles era real, principalmente de Julie que queria tanto que eu fosse sua madrasta. E foi dela o primeiro abraço que ganhei após a cerimônia.
— . — seu abraço era apertado e cheio de carinho — Estou tão feliz, agora você é oficialmente da família.
— Sim, Jullie. — assenti retribuindo o abraço na mesma intensidade.
— Esta cerimônia é só a metade. — alertou atrás de mim — Jullie, você sabe como é um casamento no nosso mundo.
— Ah, sim, aquelas coisas chatas que envolve papéis para assinar. — ela fez careta — Mas o que importa é que estão casados, mesmo que seja no estilo histórico.
— Acho que fui eu que apressei tudo, achei que fosse fácil. — fiz uma cara de arrependida.
— Não. — disse Mike — Esse foi o melhor casamento que você e o papai poderia ter.
— Sim, e você acabou realizando um desejo nosso. — concordou Jullie — Você se tornou nossa querida madrasta.
— Oh, verdade, você havia me pedido isso. — desviei meu olhar para — Seu olhar está preocupado.
— Hum?! — ele me olhou — Ah, estava pensando em… Não se preocupe, está tudo bem.
— Ok, então vamos aproveitar a festa.
Eu peguei na mão das crianças e sai correndo com eles em direção a grande rodas das mulheres, não sabia como acompanhá-las em sua dança mais Jullie me ajudou da forma mais básica possível. Eu observei Mike se afastando de nós e indo em direção a mesa de frutas, ele acabou fazendo algumas amizades com outras crianças e brincando com elas.
Era mais do que divertido ver as crianças tão felizes e me alegrar com elas, todos em nossa volta eram amigáveis e muito receptivos, nos fazendo sentir o mais à vontade possível. Em alguns momentos meus olhos se desviavam para , ele continuava parada ao lado do sacerdote, com seu olhar fixo em mim.
* POV
Mesmo estando a tanto tempo com aquela gênio louca, ainda me surpreendia com suas ações, dinossauros, egito antigo, transporte para lua e agora, casamento na Babilônia em meio a uma festa hebraica. Quanto mais surreal eu imaginava de tudo aquilo que estava vivendo com ela em nossas vidas, mais eu me sentia plenamente vivo com sua presença, havia despertado um amor dentro de mim, que nem Mary tinha conseguido despertar.
O que me fazia sentir mais ainda atraído por ela, sua ingenuidade me deixava às vezes irritado e sem reação, mas quando me fixava em seu olhar, a única vontade que tinha era que mantê-la protegida em meus braços. Estava feliz, principalmente por meu sentimento por ela ser sincero e transparente, era ela que eu estava começando a amar, e não o gênio que se fez de Mary por um único dia.
Em vários momentos, ela parecia ser mais crianças que meus filhos e em outros momentos, conseguia despertar meus pensamentos mais obscuros. Curioso isso, estar perto dela me fazia oscilar internamente, numa escala que varia de santo a pecador, bastava um sorriso ou um olhar dela.
— Você vai ficar aí parado?! — disse ela ao se aproximar de mim.
— Estava olhando você e as crianças se divertindo. — expliquei a ela descruzando os braços.
— E você não vai se divertir também? — perguntou tombando a cabeça — Não gosta de dançar?
— Um pouco. — respondi.
— Então venha, me ensine a dançar. — disse ela me puxando para o meio da grande roda que os convidados tinham feito.
No início eu não sabia como dançaria com ela, mas depois fomos rodando de forma descoordenada, não era preciso me preocupar com passos perfeitos, somente queria que eu me divertisse com ela e as crianças. Tinha que admitir, os hebreus sabiam mesmo fazer uma festa, parecia que a energia deles não acabava, assim como a comida que tinha sobre a mesa.
As horas foram se passando, pela posição do sol parecia umas quatro da tarde, foi quando começamos a ouvir um barulho estranho que foi se transformando no toque do telefone.
— O que é isso? — perguntei a .
— Bem, é que eu conectei o som do telefone a nossa realidade no passado, acho que alguém está ligando. — explicou ela.
— Precisamos mesmo atender? — perguntou Jullie ao se aproximar de nós.
— Sim. — respondi mantendo meu olhar em .
— Como quiser.
Assim ela fez o telefone aparecer em sua mão, seu olhar não parecia nenhum pouco contente.
— Esta ligação é para você. — disse ela me entregando o telefone.
— Obrigado. — peguei o telefone e me afastei um pouco deles — falando.
— Ah, que bom que atendeu.
— Penny?! — era estranho ela estar me ligando.
— Me desculpe atrapalhar seu dia de folga, sei que é sábado, mas aconteceu outro problema na galeria e como você é o único que sei que pode resolver. — explicou ela — John está te ligando desde manhã, só agora consegui falar com você.
— Tudo bem, eu irei para a obra em alguns minutos.
Desliguei meu celular respirando fundo, nunca odiei tanto meu próprio emprego.
— Você… Teremos que voltar. — disse já confirmando sem que eu precisasse falar.
— Mas papai, hoje é sábado, você disse que não iria trabalhar no sábado. — questionou Jullie.
— Me desculpe querida, não tenho outra escolha.
— O senhor sempre tem. — retrucou Jullie demonstrando estar frustrada.
— Ju, não diga isso. — segurou na mão dela e sorriu — Foi você mesmo que me disse uma vez que a vida dos adultos era difícil e chata, infelizmente seu pai não pode ignorar a parte chata agora, ele precisa ir, mas não quer dizer que não podemos ficar.
— Nós podemos ? — perguntou Mike.
— Claro que sim. — assentiu ela sorrindo.
— Não é a mesma coisa. — Jullie soltou a mão de e saiu correndo para dentro do palácio.
— Jullie. — eu dei impulso para ir atrás dela.
— . — segurou em minha mão — Deixe que eu falou com ela depois, você precisa ir, eu ouvi a Penny dizendo, pode ser algo grave.
— Obrigado por entender. — eu estava me sentindo mal por ter que sair da festa e voltar a realidade.
— Não precisa agradecer, apenas tenha cuidado e não se machuque na obra. — disse ela sorrindo de leve — Farei as crianças de divirtam tanto que não vão ver a hora passar, quando perceberem você já terá voltado.
Eu não me contive e a abracei, da forma mais carinhosa que eu poderia, queria que ela sentisse o quão grato eu estava por tê-la em minha vida.
Assim que me afastei dela e pisquei os olhos, já estava em casa novamente, um sentimento de arrependimento estava tomando conta de mim, porém não tinha escolha já que tinha me tornado o arquiteto chefe daquele projeto. Mais um motivo para provar que não valia para nada sendo o diretor de projetos da construtora, já que todos os problemas era eu quem resolvia.
Caminhei até o quarto e assim que abri o armário, percebi que já estava usando uma roupa mais social, claro que era coisa da . Sorri de leve espontaneamente e fechei o armário novamente, lancei meu olhar na mesinha de canto e coloquei meu relógio no pulso, desci as escadas correndo e fui até meu escritório, peguei todos os documentos e plantas do projeto da galeria e joguei dentro do tubo de folhas, peguei minha pasta.
Assim que entrei no carro, dei a partida e segui em direção a galeria. Quando cheguei, Penny e John já estavam na porta me esperando com um homem estranho, que analisava alguns papéis em suas mãos.
— Que bom que chegou. — disse John assim que me aproximei.
— Me desculpe, eu não estava em casa. — me expliquei de imediato.
— E estava onde? Nem o celular levou. — Penny me olhou desacreditada.
— Hum, estava em lua de mel com a babá?! — brincou John segurando o riso.
Meu corpo gelou. Senti que Penny tinha desviado seu olhar de mim, parecia chateada com o comentário de John.
— Pare de brincadeiras, o que aconteceu? — disse ao olhar para o homem desconhecido.
— Bem, este é o senhor Godri, ele está representando o setor de fiscalização de obras do estado. — respondeu Penny tentando ser profissional — Segundo ele nossa obra terá que ser paralisada, pois existem irregularidades nela.
— Como assim? — mantive meu olhar no homem — Eu mesmo revisei este projeto, e você refez a parte estrutural.
— Sim, nós reformulamos tudo, porém não apresentou o novo projeto revisado ao departamento de fiscalização. — explicou Penny — Ou seja, o projeto que está com eles é o errado, resultando na paralisação, como você é o arquiteto responsável.
Por que será que eu imaginava que era isso?! Que eu teria que consertar algo que deixou de fazer?!
“Imagine a mulher ideal em sua mente,
E olhe para mim,
Sou seu gênio, seu sonho, seu gênio.”
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 23
*
Esperei até desaparecer, então fui atrás de Jullie que estava extremamente chateada. Sentada no beiral da fonte chorado baixinho, me sentei ao seu lado e acariciei seus cabelos, ela tomou cabeça encostando em mim.
— Não fique assim, faz parte da vida de um adulto ter compromissos chatos. — disse tentando consolar ela.
— Mas hoje é o casamento de vocês. — retrucou ela — Ele deveria ter ficado aqui.
— Hum, pelo que entendi da vida de um adulto, nem sempre podemos fazer o que queremos. — respirei fundo e sorri para ela — Mas, ainda estamos aqui na Babilônia e seria muito chato não nos divertir só porque foi embora, além do mais, o dia ainda não acabou e quando ele voltar, terei uma surpresa que reservei para nossa noite.
— Sério? — ela me olhou — Que surpresa?
— Hum. — olhei para o céu — Não posso contar, senão, não será surpresa.
Ri de leve começando a fazer cócegas nelas, que ficou se contorcendo e rindo também.
— Do que estão brincando? Nem me chamam. — disse Mike ao se aproximar.
— Eu sou o monstro da cócega e estou atacando a Jullie. — me virei para ele — E agora vou atacar você.
Saí correndo atrás dele entre risos.
Nos divertimos muito enquanto estávamos naquele lugar, felizmente as crianças tinham esquecido da ausência do pai e estava sorrindo novamente, isso era o que mais me importava. Apesar de ser uma adulta e agora namorada/noiva/esposa de , eu jamais deixaria de ser o gênio deles, minha realização era ver um sorriso espontâneo no rosto daquelas duas crianças maravilhosas, além do brilho nos olhos do pai deles.
Nosso almoço foi na Grécia Antiga, em um pequeno vilarejo perto da cidade de Tróia, a casa onde ficamos era de um senhor muito simpático, chamado Ulisses. Passamos um longo tempo ao topo da colina vendo todo o campo próximo a cidade, Mike fez algumas brincadeiras sobre a guerra de Tróia contra a Grécia, pedindo para que eu o deixasse ver de perto.
Entretanto, pelo que li nos livros de minha biblioteca pessoal, guerras são sempre coisas feias e uma criança não deveria participar disso, a menos que fosse em Nárnia. Quando voltamos para casa, aconselhei Jullie e Mike irem para o banho, estavam sujos e cansados, então um banho quente os deixaria relaxados, quentes e cheirosos.
Me espreguicei de leve e olhei em minha volta, curiosamente a casa estava um pouco bagunçada, peguei alguns jornais que estavam no sofá e os coloquei empilhados em cima da mesa ao lado da escada. Assim que estalei os dedos, toda a poeira e pequenas partículas de sujeira começaram a se mover instantaneamente até a porta.
Era divertido fazer aquelas tarefas de casa, pareciam tão fáceis para mim. Deixei passar um tempo até que subi as escadas, Jullie e Mike já estavam devidamente limpos, chamei Jullie e nos reunimos no quarto de Mike. Eu não podia deixar eles dormirem sem antes verem minha surpresa, então sugeri que jogássemos um pouco de cartas, para passar o tempo.
*
Se eu estava sentindo falta de casa? Era bem óbvio. Não aguentava mais estar ali preenchendo solicitações e assinando papéis, após finalmente resolver tudo, o senhor Godri deu sua palavra que o nosso projeto seria o primeiro a ser liberado pelo estado na próxima segunda-feira. Pelo menos, era um problema resolvido e eu não teria que passar o final de semana preocupado com aquela obra.
— Tenho que confessar, você é o melhor no que faz. — elogiou John.
Eu o olhei sem dar importância, estava numa mistura de raiva e desgaste emocional que me fazia querer pedir demissão. Mas sempre que chegava nesta ideia, me lembrava que tinha dois filhos lindos para cuidar e um conselho tutelar que sempre estaria presente para saber se estou dando boas condições de vida a eles.
Concluindo, mesmo mudando de emprego ou trabalhando sozinho, eu sempre teria estresse, o que me fazia concordar com Jullie, vida de adulto era mesmo chata. Logo senti um sorriso surgindo em minha face, lembrar de minha filha me fazia lembrar que mesmo cheio de raiva e frustrações no trabalho, quando eu chegava à noite em casa, sempre teria abraços calorosos que valiam a pena minha vida de adulto.
E todo aquele pensamento me fez chegar a um certo sorriso angelical que pertencia a pessoa que mais me fazia rir atualmente, a mulher mais menina que eu conhecia. Logo um súbito sentimento de saudade tomou conta de mim, despertando minha vontade de voltar logo para casa.
— ?! Está tudo bem? — perguntou Penny me fazendo voltar a realidade.
— Sim, estou. — peguei meu tubo de folha e me dirigi para sair da sala — Como tudo já foi esclarecido, vejo vocês na segunda.
— Mas já. — John me olhou surpreso — Eu estava pensando em te chamar para beber um pouco.
— Agradeço, mas já tenho outro compromisso. — eu desviei meu olhar para Penny que estava pegando sua bolsa — Penny, por que não vai com o John e comemora nosso bom trabalho por mim?! — sugeri.
— Eu?! — ela se espantou um pouco.
— Sim. — confirmei.
— Não é uma má ideia, já que estou sendo deixado pelo meu amigo. — disse John.
— Até mais. — saí da sala antes que Penny pudesse responder.
Se ela aceitaria ou não, não me importava, eu só queria ir embora daquele lugar o mais rápido possível. Assim que estacionei o carro, percebi que o barulho de música alta vinha da minha casa, o que me fez ficar confuso e curioso ao mesmo tempo, de fato estava se divertindo sem mim, tudo graças a .
— Papai. — gritou Mike no meio daquela barulheira ao vir me abraçar.
— Boa noite. — disse retribuindo o abraço — Uau, estão dando uma festa.
— Não. — disse vindo para perto de mim e me puxando para o meio da sala — Só estamos nos divertindo.
Ela continuou a dançar, seguindo os passos de Jullie que estava rindo da minha cara, de quem não estava entendendo nada. Eu comecei a balançar meu corpo um pouco, já fazia tempos que não dançava e era algo que me lembrava Mary, acabei me sentando no sofá e observando eles dançando no meio da sala. Meus olhos passavam pelas crianças, mas sempre se fixavam mais nela, a babá louca que me faz sorrir com facilidade.
— Ok. — disse ela desligando o som — Acho que já podemos encerrar nosso momento música diversão.
— Ah. — Mike a olhou meio triste.
— Mike, se esqueceu que a iria nos fazer uma surpresa quando o papai chegasse?! — Jullie o olhou.
— Uma surpresa? — desviei meu olhar para ela.
— Shi. — fez sinal de silêncio — Jullie não era pra contar, surpresa lembra?!
— AH. — Jullie colocou as duas mãos na boca e olhou para mim — Não era para você saber papai.
— Hum. — eu me levantei, deixando o tubo de folha no sofá — Então, vamos fingir que eu não sei de nada.
Pisquei para Jullie e sorri em seguida.
— Então, já que estamos todos juntos…
nem mesmo terminou de falar e estalou os dedos, nos transportando para uma praia.
— Uah. — disse às crianças em coral.
Olhei em minha volta e percebi que era final de tarde, o sol estava quase terminando de se pôr do horizonte do mar, as crianças correram até a orla e começaram a brincar, jogando água um no outro. Me aproximei de , que estava com sua face voltada para o mar, conseguia notar que sua atenção estava em mim, mesmo não me olhando.
— Eu encontrei seu plano de férias. — disse ela respirando fundo — Aquele que você fez dois meses após a morte da Mary, uma pena que nunca tenha colocado em prática.
— Eu já te agradeci hoje? Por estar em nossas vidas?! — mantive meu olhar nela.
— Não precisa me agradecer, eu sou seu…
Nem mesmo a deixei terminar aquela frase que me doía às vezes, meu corpo foi automaticamente em sua direção e meus lábios tocaram os dela. Sim, era aquilo que eu queria fazer todo este tempo que fiquei longe, apesar de ainda desnorteado ao me lembrar que pela manhã estávamos nos casando, em uma cerimônia hebréia em plena Babilônia.
Não importava os detalhes, estar ali com ela envolvida em meus braços, sentindo o gosto doce do seu beijo era infinitamente mais importante.
— . — disse ela se afastando um pouco de mim, parecia sem fôlego — Isso tudo é saudade?! Você nem ficou tanto tempo longe.
— Acredite, para mim durou uma eternidade. — sussurrei meio sem acreditar que estava mesmo dizendo aquelas palavras.
Era mesmo louco para mim admitir que estava sim, apaixonado por ela, depois de tantos anos sozinho e fechado para mundo, me culpando por ter perdido minha esposa. Talvez agora, as palavras daquele bilhete na garrafa estava se encaixando em minha vida, era a minha segunda chance de ser feliz, e não iria deixar escapar.
— Hum, o que mais você leu no meu plano de férias? — perguntei curioso.
— Ah, eu li algo sobre luau na praia, nadar com os corais e provar comidas havaianas. — respondeu ela tranquilamente.
— Nós estamos no havaí?! — perguntei quase em choque.
— Comidas havaianas não ficam no Havaí?! — respondeu ela com outra pergunta, demonstrando estar confusa.
Eu ri da sua ingenuidade, talvez por estar achando que tinha escolhido errado o lugar. Logo eu a abracei novamente.
— Não se preocupe, o Havaí é perfeito.
— Mesmo?! — ela soltou um suspiro de alívio — Que bom, pois o luau vai começar daqui a pouco.
— Então. — eu segurei em sua mão entrelaçando nossos dedos — Vamos esperar pelo luau.
Eu me sentei na areia a puxando comigo, ficamos mais algum tempo ali vendo as crianças se divertindo enquanto faziam castelos na areia.
— Você conseguiu resolver aquele problema? — perguntou ela num tom baixo.
— Sim, felizmente. — eu ri de leve me lembrando das palavras do meu amigo — Ironicamente, sou o melhor no que faço.
— E isso é bom? — ela me olhou.
— Tem o lado positivo e negativo, como tudo na vida. — eu a olhei de forma serena.
— A vida não pode somente ter uma lado positivo?!
— Infelizmente não para nós, simples mortais. — sorri de canto — Mas não teria graça se tivesse a parte positiva.
— Hum…
— Por exemplo, minha última viagem foi algo negativo pois tive que ficar muito tempo longe de casa, mas algo positivo aconteceu. — suspirei de leve — Você entrou em nossas vidas.
— Sim. — ela abriu um largo sorriso — Então, coisas negativas atraem coisas positivas?
— Basicamente. — me levantei ao ver as crianças vindo em nossa direção — Alguns dizem que isso é uma teoria, onde os opostos se atraem.
— , acho que já vai começar. — disse Jullie ao apontar para mais a frente, onde as pessoas já começavam a se juntar em volta de uma fogueira.
— Nossa, perdi toda a percepção do tempo. — ela sorriu e segurou na mão da minha filha — Vamos Ju.
— Você também vem né, pai?! — Jullie me olhou receosa.
— Estarei bem atrás de você querida.
Os três seguiram na frente, a ansiedade das crianças era visível, puxaram a para um dos bancos, eu preferi permanecer de pé. Naquelas pequenas horas que ficamos ali na praia, mesmo meus ouvidos desfrutando da boa música, minha atenção se mantinha em minha família e em como estavam felizes, o brilho em seus olhos.
Mais um tempo se passou, até que meus filhos começaram a demonstrar sono, foi neste momento em que nos levou até o Aloha Resort, onde ficamos instalados.
— Eu pensei em pedir abrigo para algum morador local, mas não estava nos seus planos de férias, então segui o roteiro. — disse assim que saímos do quarto em que as crianças ficariam.
— Fez uma boa escolha, como sempre. — sorri de leve ao abri a porta do quarto em que ficaríamos, que era ao lado.
— Hum. — ela entrou primeiro e ficou para ao lado da porta.
Entrei em silêncio e fechei a porta, comecei a ficar confuso com a ação dela.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Sim. — ela desviou o olhar.
— Não, não está. — mantive meu olhar ela — O que houve?
— Hum, é que mais cedo, quando aquelas senhoras estavam me ajudando a me arrumar, foram surgindo alguns assuntos sobre a primeira noite, após o casamento.
— E o que você quer me perguntar desta vez?
Eu respirei fundo, não sabia se ria, chorava ou ficava nervoso. Só naquele momento eu havia me lembrado que estávamos sim, realmente casados e seria a primeira vez dela.
— O que vai acontecer agora? — perguntou ela com certo receio.
— Hum. — eu dei alguns passos até ela e segurei em sua mão com suavidade — Não precisa ficar preocupada com o que vai ou não acontecer.
— Mas…
Eu toquei de leve em seus lábios com meu dedo indicador e sorri para ela. A guiei até a cama e a fiz ficar sentada, então me voltei para uma mesa que estava ao lado da janela e dei alguns passos.
— Você confia em mim?! — perguntei.
— Eu deveria, eu sou sua gênio. — respondeu ela.
— Resposta errada, esqueça que é um gênio. — eu a olhei — Você confia em mim?!
— Confio. — respondeu ela com mais segurança.
— Então feche os olhos. — pedi com convicção.
Ela assentiu com a face e fechou seus olhos. Desviei meu olhar para o vaso de rosas brancas que estava na mesa e pegando um botão que estava um pouco aberto, voltei para perto dela e me sentei na cama, ficando de frente para ela.
— Uma vez você me disse que achava as rosas bonitas de delicadas, mas que não as tocava por causa dos espinhos. — disse tentando me expressar de uma forma doce, mas que ela entendesse com facilidade — E disse também que eu me parecia com uma, mesmo tendo espinhos em forma de solidão, minha beleza estava no brilho dos meus olhos, quando estava perto das crianças.
— Sim. — concordou ela mantendo seus olhos fechados.
— Quero que sinta essa rosa, como se fosse eu. — aproximei de forma suave o botão em seu nariz para que ela pudesse sentir — Pensei que este é meu perfume, que só pode ser exalado quando está perto de você.
— Seu perfume é muito bom. — comentou ela rindo um pouco.
— Sim. — concordei segurando o riso — Agora quero que pensei que as pétalas dessa rosa, são minhas mãos tocando sua pele.
De forma pausada e extremamente suave, comecei a deslizar a rosa pelo seu rosto, para que ela conseguisse sentir meu amor através daquela rosa. Pude perceber que em alguns momentos os pelos de seu corpo arrepiava de forma involuntária, até que finalmente eu posicionei a rosa em seus lábios.
— Agora, mesmo com espinhos você pode tocar a rosa. — eu peguei em sua mão e a fiz tocar meu rosto e com a outra mão pegar o caule da rosa.
Ela ainda se mantinha de olhos fechados, e poderia apostar que seu coração estava tão acelerado quanto o meu.
— Mesmo que haja um dia em que estes espinhos te machuque, a partir de hoje, essa rosa sempre será sua. — eu a fiz abaixar sua mão que estava segurando a rosa.
E sem dar tempo ou chances dela abrir seus olhos, eu a beijei da forma mais doce e intensa que poderia lhe beijar. Meu coração estava mais do que acelerado, mas nem mesmo isso conseguia tirar meu foco dela, naquela noite eu seria inteiramente da minha gênio delicada e inocente.
Eu nunca me senti assim antes,
Como se minha respiração fosse parar.
- My Answer / EXO
CAPÍTULO 24
* POV
Eu me espreguicei sentindo os raios do sol entrarem pela janela, me remexi um pouco virando para o lado e abri os olhos. Fiquei um pouco confusa, a última coisa de que me lembro era de estar dormindo ao meu lado, e agora ele não estava lá. Será que tinha acontecido algo?
— Bom dia. — sua voz soou a frente.
— Bom dia. — sussurrei erguendo meu corpo, ele estava parado em frente a cama com uma bandeja de café da manhã — Isso é o nosso…
— Sim. — assentiu ele colocando a bandeja próximo a mim e se sentando em minha frente.
— Como está se sentindo? — ele parecia um pouco preocupado, seu olhar meio apreensivo, mas sua face continuava suave.
— Um pouco estranha. — ri de leve, estava mesmo me sentindo diferente — Mas, um estranha legal, por que?
— Fiquei preocupado se te machucaria. — ele acariciou de leve minha face — Eu…
— … — ela me interrompeu — Foi a noite mais especial da minha vida.
Ele abriu um largo sorriso de imediato e deu um disfarçado suspiro de alívio.
— Não pude deixar de ficar preocupado, você é a minha gênio inocente, esposa querida.
— Uau, ainda me pego confusa por poder ser muitas coisas ao mesmo tempo. — ri de leve — Mas estou gostando disso!
— Eu também. — ele desviou o olhar — Hum… Acho que agora posso te explicar direito.
— Explicar o que? — a olhei confusa.
— É assim que inicialmente surgem os bebês. — ele falou de uma forma estranha e cautelosa.
— Oh. — eu elevei minha mão na barriga já pensando — Então estou grávida?
— Não. — ele tossiu um pouco e começou a rir — Não…
— Mas você disse que…
— Espera. — ele respirou fundo e me olhou com carinho — O que fizemos é uma forma, mas não significa que está grávida.
— Hum… — fiquei pensativa por um tempo — Então, quando vou ficar grávida?
— , não vamos pensar nisso agora. — ele riu um pouco mais de mim — Está na hora do nosso café.
Assenti com a face, mas ainda continuava em dúvidas sobre aquele assunto.
— Estava pensando, não queria voltar amanhã. — ele deu um repentino suspiro cansado — Afinal, estamos em lua de mel.
— Hum, que tal você não ir ao trabalho essa semana? — perguntei o olhando — Sei que trabalho é coisa de adulto, e você deve ser responsável por causa das crianças…
Ele me interrompeu com um beijo singelo e doce.
— … — sussurrei.
— Não é uma má ideia, afinal sou sempre o funcionário do mês que vive consertando o erro dos outros. — ele respirou fundo — Acho que mereço uma semana de férias premiadas.
— O que são férias premiadas? — aquele termo era novo para mim.
— Não é nada demais. — ele riu — Amanhã pela manhã ligarei para a construtora, esta semana ficarei com minha família.
— As crianças vão ficar muito felizes, mas…
— Mas?!
— E a escola delas? — o olhei meio confusa, ele não gostava que as crianças faltassem.
— Acho que cinco dias de falta, não vai atrapalhar no calendário escolar deles. — sorriu de forma fofa — É uma ocasião especial, não é?
— Sim, é. — eu o abracei no impulso, estava muito animada com tudo aquilo.
Minha mente já borbulhava de ideias de como nossa semana poderia ser divertida e surpreendente para eles.
Após comermos, sugeriu uma longa caminhada pela praia com as crianças, concordei de imediato, já imaginando como poderíamos nos divertir. Primeiro fizemos um enorme castelo de areia e coroamos Mike o rei dele, como havia pedido, depois mergulhamos um pouco pela parte rasa, até que Jullie começou a sentir fome.
— Onde vamos almoçar? — perguntou olhando para mim.
— Por que está me olhando? — achei estranho.
— Você é a nossa guia. — respondeu ele sorrindo de canto — Para onde pretende nos levar?
— Hum, estava pensando em comida chinesa, direto da fonte. — respondi tranquilamente.
— Como assim direto da fonte? — Jullie me olhou confusa.
— Que tal um passeio pelas ruas da China? — olhei para eles demonstrando minha animação.
— Sério? — Mike sorriu — Podemos ver a muralha da China também?
— O que quiserem. — desviei meu olhar para — O que acha?
— Maravilhoso como sempre. — ele piscou de leve.
Não sabia ao certo o que significava ele piscar de um olho para mim, mas sabia que o brilho em seus olhos era algo positivo! Voltamos para a pousada e trocamos de roupa novamente, em um piscar de olhos, nos transportei para o centro da cidade de Pequim, eu sabia que estar naquela cidade era um dos sonhos de Jullie, o que me motivou ainda mais a prosseguir nesse passeio.
— Uahhhh… — os olhos de Jullie brilharam após pararmos em frente uma barraca de comida típica — Sinto ainda mais fome.
— Hum, tenho que admitir que minha barriga também está reclamando de fome. — para Mike — E você querido? O que vai querer comer?
— Hum, quero rolinho primavera. — respondeu ele ao olhar para o pai.
— E você? — desviou o olhar para mim — Não sei, o que sugere?
— Hum. — ele pensou um pouco voltando seu olhar para a senhora que estava cuidando da barraca.
Quando finalmente decidimos, acabou comprando porções de rolinho primavera para as crianças acompanhado de bolinhos de arroz recheado, para nós adultos ele sugeriu arroz frito com tofu recheado e camarão. Segundo ele eu deveria muito experimentar aquela comida, o que me deixou curiosa para saber se o sabor era tão bom quanto o entusiasmo dele para que eu comesse.
— Nossa, está muito gostoso. — elogiou Mike.
— Concordo. — assenti ao terminar minha refeição, me levantando do banco que estávamos sentados — Gostei muito da sua recomendação .
— Que bom. — ele sorriu ao amassar o pacote que estava em sua mão — E você Jullie, não disse nada até agora?!
— Estou curtindo cada minuto deste dia. — ela sorriu — Sempre quis visitar a China.
— Desde quando? — perguntou .
— Desde quando eu vi o desenho da Mulan. — explicou ela.
— Ah, a Mulan é maravilhosa, gosto muito dela. — comentei fazendo eles me olharem — O que?
— Você fala como se ela fosse real. — Mike riu de leve.
— Ah, verdade. — eu ri junto, não conseguia agir de outra forma.
— É legal e engraçado quando fala assim. — Jullie riu também.
— Bem, quando se tem um gênio, quase tudo pode se tornar real, até um desenho. — pisquei de leve para eles.
— Sério? — Jullie me olhou ainda mais interessada — Seria tão legal.
— Hum, acho melhor deixar a Mulan onde ela está. — disse ao jogar o pacote amassado no lixo — Além do mais, já temos a nossa Mulan.
Ele sorriu para Jullie, que ficou com os olhos brilhando.
— Logo o sol irá se pôr, então vamos para a nossa parada final aqui na China. — anunciei prendendo a atenção deles em mim — Vamos para a Muralha.
Em um simples estalar de dedos, nos transportei até a parte da muralha que passava próximo a cidade de Pequim. Ver aquele grande monumento da modernidade, quem sempre via nos livros de história da Jullie, me faziam imaginar como o mundo realmente tinha evoluído ainda mais em suas construções. Impressionante e admirável, olhar para aquele horizonte, me fazia sentir uma vontade imensa de eternizar aquele momento.
— Se a Jullie é a Mulan, eu sou um Ninja. — Mike fez uma pose engraçada e começou a correr atrás da irmã.
Tanto eu como rimos um pouco deles, até que prendemos nossa atenção novamente no horizonte. Eu me aproximei da beirada e apoiei minhas mãos no beiral alto, olhando para frente, ele se colocou em meu lado e tocou em minha mão, me fazendo virar meu rosto para ele, que continuou olhando para frente com um sorriso nos lábios. No mesmo instante meu coração de encheu de alegria, me senti realizada de alguma forma, eu me senti feliz por estar aqui com eles, mas minha felicidade não era somente por isso.
Logo as crianças se juntaram a nós, foram muitos minutos olhando o pôr-do-sol naquela muralha, mas sei que significou bastante para cada um de nós. Como se aquele dia estivesse mesmo representando o recomeço para todos nós, principalmente para , que sempre desviava seu olhar do horizonte para mim.
"Então querida, agora, me abrace amorosamente,
Beije-me sob a luz de mil estrelas,
Coloque sua cabeça em meu coração que bate,
Estou pensando alto,
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos”.
- Thinking Out Loud / Ed Sheeran
CAPÍTULO 25
* POV
A cada dia eu ficava ainda mais admirado com ela, era mesmo criativa quando o assunto era seus passeios turísticos, o que a levou a ter a ideia de cada dia da semana passarmos em uma cidade diferente. As crianças como sempre gostaram da ideia, tanto que pediram para escolherem as cidades, permaneci todo o tempo em silêncio vendo a empolgação em cada nome que surgir.
A minha linda gênio parecia mais uma criança ao lado dos meus filhos, seus olhos brilhavam e seu sorriso singelo fazia minha atenção se manter somente nela.
— O que você acha papai? — perguntou Mike me fazendo voltar a realidade.
— Eu? — desviei meu olhar para ele — Deixarei todo planejamento com vocês.
— Não. — retrucou — Venha, queremos sua opinião também.
Ela esticou a mão para que eu me aproximasse da cama onde estavam sentados, fazendo uma carinha de criança carente. Não resisti aquela cena e rindo, caminhei até a cama para me sentar ao seu lado, meus filhos estavam sentados na cabeceira e Jullie com uma caderneta anotando as ideias que estavam tendo.
— Hum, então qual será nosso roteiro? — perguntei.
— Amanhã vamos para Paris, eu quero visitar a Torre Eiffel. — começou Jullie de forma animada — Na terça Mike deu a ideia de visitarmos as Cataratas do Iguaçu no Brasil…
— Eu fiz uma amigo que mora lá, somos do mesmo time de LoL. — explicou Mike dando um largo sorriso.
— LoL?! — sussurrou de leve como se estivesse tentando lembrar o que era — Isso é um jogo?!
— Sim , eu já te ensinei sobre ele. — assentiu Mike.
— Ah. — ela riu meio sem graça — São tantas coisas que acabo me esquecendo.
— Não tem problema . — Jullie riu — Tem games que ele joga que nem eu sei o nome.
— Ah, você não sabe o que está perdendo. — Mike olhou para — Games são uma maravilha da vida.
— Prometo aprender a jogar, assim podemos fazer um torneio. — sorriu para ele e piscou de leve.
— Eba! — ele deu um pulo da cama e começou a festejar.
Eu ri baixo e desviei meu olhar para , de forma magnética ela voltou seu olhar para mim, foi como um pequeno silêncio pairando entre nós, fazendo o mundo parar para que nossos olhares pudesse somente estar um no outro.
— Continuando… — Jullie tossiu um pouco para que nossa atenção se voltasse para ela.
Assim que desviei meu olhar para minha filha, percebi um certo riso disfarçado dela e de Mike, então percebi que se tudo aquilo que estávamos vivendo com fosse um sonho, certamente não era somente meu.
— Na quarta vamos para Disney, precisa conhecer o Mickey e a Minnie. — Jullie voltou seu olhar para a caderneta — Na quinta vamos para a Amazônia…
— Amazônia?! — aquilo havia me deixado admirado — O que vocês estão aprontando?!
— Nada. — interviu — Simplesmente teremos nosso dia de explorador, conhecendo os animais e as plantas.
— E o índios. — completou Mike com um sorriso sapeca — Vai me ajudar no trabalho da escola.
— Nossa, já estou sentindo que vamos aprender muito nessa exploração. — sorri de volta para ele e olhei para — Então, o que teremos na quinta e na sexta?
— Quinta vamos a um festival de comida japonesa em Tóquio e vai ter uma apresentação de Samurais. — respondeu Jullie.
— E sexta, você escolhe. — completou mantendo seu olhar em mim suavemente.
— Posso somente querer ficar perto da minha família?! — perguntei tranquilamente.
— Mas papai, não quer ir a lugar nenhum?! — perguntou Mike.
— Só quero estar com vocês, mas já que fazem questão, me sinto satisfeito com um dia no parque. — respondi.
— Uma escolha perfeita. — sorriu de leve.
Aquele sorriso que me fazia sorrir também, depois de todos esses meses vivendo com ela, ainda ficava admirado com toda essa pureza que ela transpassa em seu olhar, o que fazia meu coração acelerar a todo momento.
— Bem, agora que nossa rota está traçada, que tal irmos dormir? — sugeri — Afinal sem energia, como vamos nos divertir.
— Verdade, recarregando as baterias. — se levantou da cama — Quem quer ouvir uma história?
— Eu!!! — as crianças gritaram juntas já pulando da cama.
— Vamos… Vamos.... Vamos… — riu indo em direção a porta.
Meus filhos me deram um abraça apertado e seguiram ela para o outro quarto.
Respirei fundo rindo um pouco de tudo aquilo, nunca imaginei que coisas assim aconteceriam em nossas vidas, menos ainda que uma gênio mudaria tanto nossos dias tristes e solitários. De uma forma sublime me fez ver que a vida não era somente trabalho, eu poderia ser um adulto responsável com dois filhos para criar, mas também poderia ser um pai presente e divertido.
Caminhei até a janela e olhei para a lua, naquele momento agradeci a Deus pela segunda chance que a vida estava me dando, apesar de alguns momentos não me achar merecedor o suficiente. Me despedir de Mary e estar com agora, era somente os dois principais passos para que eu pudesse recomeçar da melhor forma possível, e o que me fazia ficar ainda mais feliz, pelos sorrisos nos rostos dos meus amados filhos.
— Eles dormiram no meio da história… — disse ao entrar, já fechando a porta — Tenho certeza que terão bons sonhos esta noite.
— Fico feliz por isso. — sorri indo em direção a ela — Para ser honesto, estou feliz por tudo que tem acontecido em minha vida, principalmente por você estar nela.
— Eu também estou feliz, por estar aqui, por ter conhecido vocês. — ela suspirou fraco — Minha vida naquela garrafa era solitária e vazia, só tinha os livros como companhia e…
— E?! — toquei de leve em seu braço.
— Nada, o que importa é que estamos aqui. — ela sorriu novamente — Como dizem os adultos nos filmes, enfim, sós.
— Sim.
Não me contive e comecei a rir.
— Enfim, sós. — confirmei acariciando sua face — Eu amo você!
Sim, eu a amava e conseguia ver no seu olhar que seus sentimentos por mim era recíprocos, por mais que para ela fosse novidade amar alguém, para mim também era novidade amar novamente.
Perto de , eu me sentia aquecido por dentro.
- x -
— Hum… Bom dia! — disse ela em sussurro se espreguiçando na cama.
— Sim John, eu não vou essa semana, está tudo bem comigo. — confirmei pela quinta vez ao meu amigo pelo celular, enquanto via minha gênio esposa acordar — Diga a que esta semana eu não existo, ele terá que resolver todos os problemas por sim.
Desliguei o celular e sorri para ela, enquanto colocava o aparelho no bolso da calça.
— Bom dia. — mantive meu olhar tranquilo — Pronta para nossa semana?!
— Você conseguiu? As férias premium?! — perguntou ela erguendo seu corpo na cama, ficando sentada.
Assenti com a face, mantendo o sorriso no rosto.
— VIVA! — ela deu um pulo animado da cama e veio correndo até mim.
Seu abraço parecia de uma criança que acabou de receber um presente de natal, talvez passar aquela semana toda com eles seria parecido a um presente, já que havia tempos que não tirava férias prolongadas e mesmo estando em casa, me trancava no porão. Logo senti uma vibração forte em meu corpo, meu coração acelerou e de um simples abraço, acabei deslizando meus dedos na face de , lhe dando um beijo suave.
Percebi que seu corpo arrepiou assim como o meu!
— Bem, precisamos acordar as crianças. — comentou ela ao sorrir.
— Sim. — assenti retribuindo o sorriso e desviando meu olhar para a porta.
Dois toques surgiu, assim como algumas risadas vindo do lado de fora.
— Quem é?! — perguntei.
— Papai?! Você e a já acordaram? — a voz de Jullie do outro lado, veio seguido de mais risadas.
— Sim. — ri juntamente com e caminhei até a porta, ao abrir as crianças ainda estavam rindo — Bom dia.
— Bom dia papai. — disseram eles em coral já entrando e indo abraçar a — !!!
— Bom dia meus amores! — ela abraçou ambos e começou a fazer cócegas neles — Preparados para hoje?!
— Sim. — assentiu Jullie.
— Yah, eu não ganho abraço? — reclamei indignado.
— Claro que sim, e o abraço do papai? — disse piscando de leve para eles.
— Te amamos também papai! — Mike correu até mim me dando um abraço apertado.
— Sim sim. — Jullie me abraçou também.
— Então, que tal um passeio por Paris? — perguntou ao estalar os dedos, nos fazendo mudar de roupa.
— Uau. — Jullie olhos para seu casaco com estampa florida — É lindo !
— Eu vi na sua revista na semana passado, achei que gostaria de vestir antes do inverno acabar. — explicou ela.
— Sim, estamos no inverno. — Mike olhou para mim — Papai, vamos fazer bonecos de neve na sexta?!
— Claro que vamos, estou devendo isso a vocês já faz um tempo. — respondi.
— Mas estamos no final do inverno. — ele pareceu preocupado — E se a neve derreter até lá?
— Acho que nossa gênio linda e talentosa pode nos ajudar com alguns flocos de neve. — olhei para e pisquei de leve.
— Claro, nossa sexta não será arruinada pelo fim do inverno, afinal o clima não seria prejudicado que tivesse alguns floquinhos a mais.
Mike sorriu enquanto vibrava com a ideia de finalmente se divertir no inverno. Sim, estava em dívida com meus filhos e aquela semana acertaria toda a minha ausência, com a ajuda da minha esposa, gênio, linda e criativa, .
“Conte-me seu sonho,
Conte-me os pequenos desejos em seu coração."
- Genie / Girls' Generation
CAPÍTULO 26
* POV
A cidade de Paris era realmente linda, e com as luzes de Natal que ainda iluminavam as ruas, tornavam a noite mais atraente e animada, só havia visitado aquele lugar três vezes e á trabalho, era também a primeira vez dos meus filhos visitando alguma cidade européia. Porém, apesar de tantos monumentos ao meu redor, meus olhos fixavam somente em um, o brilho nos olhos de .
— Uahhh… Aqui é realmente alto. — disse minha esposa ao chegarmos no topo da Torre Eiffel, ondes os turistas podem visitar.
— Legal né . — Jullie se colocou ao seu lado e apontou para frente — Olha, lá fica o Louvre, que fomos hoje depois do almoço.
— Nossa, incrível, essa cidade é mais incrível olhando de perto. — a olhou — E o inverno aqui é tão legal.
— Verdade. — Jullie manteve seu olhar no horizonte, seus olhos brilhavam.
— Estamos nos divertindo muito. — comentei ao me aproximar dele, olhando para — Obrigado.
— Só estamos nos divertindo assim, porque você está aqui, seria seria o mesmo com a família incompleta. — retrucou com um olhar sereno e sincero.
— está certa papai. — Mike me abraçou — Hoje é um dos dias mais felizes na minha vida, porque estamos todos juntos.
Eu sabia que minha presença era importante para meus filhos, para minha família, sempre estava tanto submerso em meu trabalho para que eles pudessem ter uma vida confortável, que acabava me esquecendo de proporcionar estes momentos a eles. Além de no passado, sempre manter minha mente ocupada, para não pensar em Mary.
— Está muito silencioso hoje. — comentou ao se aproximar um pouco mais de mim.
— Só estou observando meus filhos e minha esposa se divertindo. — respondi tranquilamente.
— Hum. — ela desviou o olhar para o horizonte — Acho que estou começando a ficar com fome.
— Hummm… Que tal pizza?! — sugeriu Mike fazendo uma carinha sapeca.
— Pizza é na Itália. — disse Jullie — Estamos na França.
— ?! — Mike olhou para ela com certa esperança.
— Bem, acho que não seria problema darmos uma breve passada em Madri.
Mike deu alguns pulos em comemoração, Jullie começou a rir do irmão e ao olhar para , deu uma piscada para ela, que retribuiu no mesmo momento. Sorri de canto olhando para elas, não era a primeira vez que presenciava essa cumplicidade entre elas, e estava muito feliz por minha filha ter uma amiga, mesmo que fosse mais velha. Bem, olhando por esse lado, em alguns momentos a inocência de a fazia ser uma criança como Jullie.
Foi difícil acreditar em como os dias correm quando estamos nos divertindo, foi uma semana cheia de sorrisos e alegrias, eram as férias que meus filhos nunca tiveram. Meu coração estava em paz, como se tudo que eu mais sonhava estivesse se realizando, o que me fazia estar a cada momento grato a Deus por minha família.
— Vem pai. — Jullie segurou em minha mão — Vem brincar com a gente.
— Claro. — assenti indo com ela, rindo de leve.
e Mike já estavam correndo pela neve, com uma ajudinha estava nevando aquele dia e poderíamos ter nossa guerra de bola de neve, algo que planejamos toda a semana com ansiedade. Já que ambos já estavam prontos, eu e Jullie seríamos dupla, a diversão começou quando jogou uma bolinha na minha cara, se fazendo de inocente depois, como revanche acertei duas nela.
As horas foram se passando e nossa brincadeira parecia não ter fim, e não queria mesmo que acabasse. Por que a sexta-feira havia chegado tão rápido?! Apesar de tentar aproveitar a cada minuto com eles, sentia que poderíamos passar mais dias assim juntos. Respirei fundo, ao me levantar, pois havia caído na neve com um singelo empurrãozinho de , foi neste momento que meu celular tocou.
— Omma. — disse ao atender.
— Oh, querido, que bom que atendeu. — disse minha mãe do outro lado da linha.
— A que se deve sua ligação, mãe?! — perguntei me afastando um pouco da minha família que ainda se divertia em meio a neve — Aconteceu algo?
— Oh não, só estava conversando com seu pai e me bateu uma vontade de jantar com vocês. — explicou ela — Então estou ligando para…
— Já entendi mãe. — ri baixo fixando o olhar na minha família, que havia parado de brincar, para ficarem parados me olhando — Estaremos aí, daqui alguns minutos.
— Ficaremos esperando.
Assim que encerrei a ligação, me aproximei deles.
— O que houve? — perguntou .
— Fomos convidados para jantar na casa dos meus pais. — respondi com um sorriso de tranquilidade.
— Uahhhh. Vamos ver a vovó e o vovô. — Mike se empolgou.
— Estava mesmo com saudades deles. — comentou Jullie — Estamos fazendo tantas coisas longe de casa.
— Verdade. — concordou desviando seu olhar para mim — E quando vamos?
— Agora se quiserem. — sugeri.
Eles se olharam, mas um pequeno e discreto sorriso surgiu no rosto dos três, me fazendo entender que poderiam se divertir só mais alguns minutos, até sairmos do Central Park. Assim que meu pai abriu a porta para nós, recebi um caloroso abraço dele, além de vários olhares de aprovação de minha mãe, que já me faziam ter certeza que eram relacionados a estar em minha vida definitivamente.
— Ah, que bom que você veio também. — disse minha mãe ao abraçar ela.
— Eu estava com muita saudade de você, ahjumma. — disse ao sorrir para ela com carinho, enquanto retribuía o abraço.
— E eu, não ganho abraço? — perguntei inconformado da minha esposa sempre receber mais atenção.
— Ah, nosso filho está com ciúmes. — brincou meu pai rindo, já sendo abraçado por Mike.
— Ele sempre é assim com a . — Jullie riu se sentando no sofá.
— Ah, não sou. — fiz uma cara de tristeza.
— Que gracinha esse meu filho. — minha mãe veio me abraçar com um sorriso no rosto — Estou orgulhosa de você meu querido!
— Pelo que?! — sussurrei para ela já sabendo o motivo.
— O brilho nos seus olhos, quando olha para ela, já é a resposta. — sussurrou ela de volta, desviando seu olhar para — Isso alegra meu coração, ver que está sorrindo novamente.
— Sim, mãe. — concordei com ela de imediato, sorrindo de leve.
Nós ficamos por um tempo, conversando e rindo muito na sala, até minha mãe puxar para a cozinha, em pouco tempo o afeto de minha mãe por ela havia crescido de uma forma singela, se transformando em amizade. Confesso que estava permanecendo a maior parte do tempo em silêncio, apenas observando a família linda que eu tinha, momentos como esse que eu estava deixando passar em minha vida.
Talvez fosse pela emoção dos últimos dias, desde que havia retornado após o ano novo, muitas novidades estavam acontecendo em nossa vida, em um curto espaço de tempo, me fazendo querer aproveitar a cada minuto como se fosse o último da minha vida, ou melhor, como se eu corresse o risco de nunca mais ver a novamente, acordar pela manhã e ela não estar mais em nossa família.
Não sei, se esse sentimento de perda era em parte por ter perdido Mary, por quase ter perdido , mas algo dentro de mim estava um pouco errado.
— Está mesmo tudo bem com você? — perguntou ao entrar no quarto atrás de mim — Sei que você é silencioso, mas hoje no jantar com seus pais, parecia um pouco distante.
— Me desculpe. — eu a olhei ao me sentar na cama — Estou me sentindo meio estranho, desde o início da semana.
— Estranho como?! — ela se sentou ao meu lado, já demonstrando preocupação — É algo físico?
— Não. — respirei fundo — Para ser sincero, não sei o que é.
— Hum, você deve estar inconscientemente preocupado com seu emprego, deve ser só isso. — ela me abraçou com carinho — Já que sempre foi o melhor funcionário, mas apenas deixe essas preocupações de lado, foi uma semana cheia de alegrias.
— Você tem razão, como meu pai sempre diz, o trabalho enobrece, mas a família está em primeiro lugar. — eu a olhei com carinho e sorri — Você e as crianças são minha família.
— Oh, é verdade. — ela se afastou um pouco — Agora eu sou da família de vocês.
— Sim, somos casados. — eu ri de leve — Bem, me lembrando agora, aquela cerimônia foi realmente linda, você tinha razão, os hebreus eram os melhores em festas.
— Hum. — ela cruzou os braços, fazendo uma carinha triste — Você nem pôde aproveitar muito.
— Acredite, o pouco que estive lá, foi o suficiente. — acariciei de leve sua face.
— Fico feliz por isso. — ela sorriu de imediato e se levantou — Temos crianças cansadas tomando banho, então temos que dar boa noite para elas.
— Bem. — eu me espreguicei — Acho que todos nós estamos cansados.
— Sim, foram dias cheios de diversão. — ela assentiu indo em direção à porta.
As palavras de , acalmaram meu coração, mas aquela sensação estranha ainda continuava dentro de mim. O que perdurou ao longo de todo o final de semana, mesmo não demonstrando para eles, ainda sentia que algo errado estava para acontecer.
— Estou um pouco receosa. — disse após ouvirmos um barulho de trovão — Não gosto muito de chuvas.
— Não se preocupe, é somente uma chuva de despedida do inverno. — sorri de leve para ela e dei um leve beijo em sua testa — Está tudo bem.
— Tem certeza? Não acha melhor pedir para trabalhar em casa hoje, ou ir caminhando? Fico receosa em você dirigir assim, no meio da chuva. — questionou ela.
— . — a olhei com carinho — Vai ficar tudo bem, não é a primeira vez que dirijo na chuva, quando chegar no escritório, te ligo.
— Vou esperar. — assentiu ela ao sorri de leve.
Ela também havia ficar apreensiva quando as crianças entraram no ônibus da escola, mas chuva e transporte eram comuns nos dias de hoje, certamente estava assim por causa dos filmes que andou vendo. Dei um selinho de leve nela, antes de ir até meu carro, ao dar a partida, segui em direção ao meu emprego.
Já no meio do caminho, comecei a sentir novamente aquela sensação estranha.
“Eu nunca me senti assim antes,
Como se minha respiração fosse parar.”
- My Answer / EXO
CAPÍTULO 27
* POV
Eu não sabia o que fazer, nem o que sentir, algo dentro de mim me fazia somente pensar que algo ruim estava para acontecer naquele dia. Respirei fundo e tentei ocupar minha mente colocando a casa em ordem de forma manual, quem sabe com literalmente a mão na massa, minha mente se ocupava e não pensava em coisas negativas.
— Alô?! — disse ao atender o telefone que estava tocando há alguns minutos sem que eu percebesse.
— ?! — a voz era da senhora Hana, de imediato reconheci traços de preocupação.
— O que aconteceu com o ?!
De alguma forma, meu coração dizia que era algo relacionado a ele, o que me deixava ainda mais temerosa.
Senti um aperto no coração, quando Hana ahjumma disse que havia se envolvido um grave acidente, enquanto dirigia, foi como se minha mente paralisasse diante daquela notícia. Não pude me deixar ser afetada com aquele choque, pois Hana havia me pedido para buscar as crianças na escola e contar a elas, o que seria ainda mais difícil para mim, que sempre fazia eles sorrirem, agora levar algo que os fariam chorar.
Mike foi o primeiro a chorar, enquanto Jullie entrou em choque, certamente pensando que perderia o pai assim como a mãe. Assim que chegamos ao hospital, os pais de estavam na sala de espera acompanhados do seu amigo John, as crianças correram até eles indo abraçar a senhora Hana, que aparentemente se mantinha calma, mas por dentro imaginava que estava em prantos.
— Como aconteceu?! — perguntei.
— Um carro que estava atrás perdeu o controle e causou uma confusão no trânsito, o carro do foi atingido. — respondeu John, seu olhar de preocupação também era perceptível — Felizmente, ele estava com o cinto de segurança, não é muito grave, porém ainda não acordou.
— O papai vai acordar, não é?! — Jullie desviou seu olhar para mim, como se estivesse me fazendo um pedido.
— Vamos ter esperanças que sim. — sorri de leve para ela.
Como naquele momento, poderia dizer a uma criança que não posso interferir no curso da vida? Não sabia o que fazer naquele momento, eu queria poder ajudar, mas não sabia como.
— Você não pode fazer nada. — disse uma voz distante.
— O que?! — sussurrei para mim mesma, olhando em minha volta.
De repente, tudo se congelou como se tivesse apertado o botão de pause, então a porta do elevador se abriu, saindo uma mulher vestida com um jaleco branco segurando em sua mão um estetoscópio. Um sorriso singelo estava em sua face, o que me fez reconhecê-la de imediato, era uma de minhas irmãs.
— Nalla. — sussurrei seu nome, ela era a mais velha — O que…
— Olá . — disse ela dando um suspiro fraco — Já tem muito tempo que não te vejo.
— O que você fez com as pessoas? — perguntei olhando todos ao nosso redor imóveis.
— Eu não fiz nada, você fez. — respondeu ela.
— Eu?! — fiquei um pouco confusa.
— Bem, achei um pouco perigoso quando você foi para aquela casa, mas fiquei feliz com o que aconteceu. — ela continuou sorrindo — Desta vez você conseguiu cumprir seu propósito.
— Meu propósito?!
— Sim, mostrar ao que sua segunda chance estava em sua família, em seus filhos. — ela respirou fundo — Sua missão nesta família finaliza aqui.
— Mas… — eu não queria terminar nada, nem sabia como isso funcionava — E as crianças? Meu casamento? Nossos dias de diversão?
— Tudo que viveram com você, será um lindo sonho para eles. — explicou ela.
— Mas…
Eu não me lembrava daquela parte.
— Então é isso?! Entramos na vida de uma pessoa somente para virar sonhos depois? — perguntei um pouco indignada — Não é muito justo.
— Sinceramente, você não acha justo porque se apegou a eles, talvez por ter se tornado mais próxima do que deveria. — seu olhar continuava tranquilo — Não acha que se tivesse se aproximado deles da forma tradicional, como uma pessoa normal, teria mesmo se apegado tanto?
Eu não conseguia imaginar outra forma diferente.
— De qualquer forma, o amor e a amizade que sinto pelas crianças, isto é real e verdadeiro, mesmo que tivesse sido de outra forma, ainda assim seria verdadeiro. — retruquei.
— Hum, você cresceu bastante.
Demos alguns passos pelo corredor.
— Nalla, o que aconteceu com ele, foi por minha causa? — perguntei receosa.
— Sim e não. — ela sorriu novamente — Venha, você precisa ver uma pessoa.
Eu a segui, até a porta de um quarto. Era o de , ele estava na cama com alguns aparelhos ligados em seu corpo, percebi que perto da janela tinha uma médica olhando para o lado de fora, Nalla me deixou ali e saiu do quarto.
Assim que ela fechou a porta…
— Obrigada por fazer eles sorrirem novamente. — eu reconhecia aquela voz.
— Mary?! — sussurrei.
— Oi . — ela se virou e sorriu para mim — Posso te chamar assim?
— Como?? — eu já não estava entendendo mais nada.
— Como eu sou sua irmã? Ou como eu tive coragem de deixá-los? — era confuso suas teorias para minha reação.
Porém, ambas eram válidas.
— Como eu sou sua irmã? — repetiu ela com sua voz serena, exatamente como eu havia representado no natal — Eu também não sei como isso funciona, nunca sabemos quem somos até voltarmos para casa, com nossa missão cumprida. Apesar de não ser tão fácil assim fazer as pessoas se voltarem para o caminho certo e encontrar a sua segunda chance.
— Eu já entendi essa parte, sempre que terminamos uma missão, nossa mente é apagada e uma nova história é colocada no lugar. — eu respirei fundo — Mas, por que deixou eles? Você era parte daquela família.
— Sim, eu era. — ela desviou seu olhar para — Sinto muito por tê-los deixado, mas não tive coragem de renunciar nossa vida, coragem esta que estou vendo em seus olhos.
— Confesso, não quero deixá-los, o sorriso deles alegra meu dia. — era a maior verdade que poderia dizer — Não é somente apego, mas eu amo eles.
— Amor, acho que isso faltou um pouco em mim. — ela suspirou fraco — Estou feliz por você estar na vida deles, mas sabe que não poderá voltar da mesma forma.
— Como assim? Da mesma forma?! — me peguei um pouco confusa.
— Você não vai se lembrar deles, e eles não se lembrarão de você. — explicou ela — Restará somente uma leve sensação de que já se conhecem. Você conseguiria viver assim?
— Não sei, mas mesmo não me lembrando, se tiver ao menos uma pequena oportunidade de nossas vidas se cruzarem, tenho certeza que será melhor do que ficar longe deles. — fui direta e sincera com meus sentimentos.
— Bem, então desejo que possa ser feliz em sua escolha. — ela sorriu e se aproximou de mim — Admiro sua coragem.
Eu a abracei no impulso, era como o abraço de uma mãe.
— Eu gostei muito, de ter conhecido você. — sorri de leve para ela.
— Respire fundo, tudo irá mudar assim que eu sair por aquela porta. — alertou ela dando alguns passos para longe de mim.
— Espere, Mary. — a chamei novamente.
— Por que um gênio? Nalla disse que entramos na vida das pessoas para ajudá-las de várias formas diferentes, na sua vez, você era uma universitária na praia, mas no meu caso... — hesitei um pouco em continuar — Eu entrei na vida deles como um gênio, por que?
— Eles estavam tão submersos em suas tristezas internas, que precisavam de um pouco de mágica para voltarem a sonhar. — ela desviou seu olhar uma última vez para — Não se preocupe, tudo que ele precisava aprender com você, ele aprendeu, então não será problema se esquecer que tudo isso aconteceu com eles.
Assenti com a face e a segui com o olhar, assim que Mary saiu pela porta e a fechou, comecei a sentir uma forte dor de cabeça que a cada segundo foi de intensificando ainda mais. Até chegar em um momento em que não conseguia mais sentir minhas pernas, me deparei com meu corpo despencando até o chão, sem poder reagir logo perdi a consciência.
- x -
— Chamando a doutora Miller na UTI 2, chamando a doutora Miller na UTI 2.
Fui despertando de um longo de confuso sono, logo minha audição foi voltando ao normal e percebi que estavam solicitando minha presença, me espreguicei da minha cadeira e abri os olhos. Não conseguia me lembrar de quando e como eu tinha chegado em meu consultório, menos ainda há quanto tempo estava dormindo, o sono dos justos.
— Nossa, estava mesmo precisando de um pouco de descanso. — me levantei e peguei a prancheta que estava em cima da mesa, analisando novamente o quadro dos pacientes mais delicados.
— Chamando a doutora Miller na UTI 2. — a voz soou novamente pelo auto-falante que vinha do corredor.
— Bem, hora de voltar ao trabalho. — peguei meu estetoscópio e saí da sala indo em direção a UTI 2, algo me dizia que era sobre o meu paciente especial.
Apesar de ter sido parada pelos corredores algumas vezes, para tirar dúvidas de alguns acompanhantes, além de passar orientações aos enfermeiros responsáveis pela área de urgência e emergência. Assim que adentrei a ala leste da UTI 2, a enfermeira chefe Joy veio ao meu encontro.
— Doutora Miller, aconteceu um milagre. — anunciou ela de imediato — Seu paciente especial acordou.
— Tem certeza? — senti meu coração pulsar um pouco mais forte, estava esperando por aquela notícia por um longo tempo.
— Sim, ele foi realocado para um quarto particular para melhor recuperação, já que seu quadro está estável e já se encontra consciente. — ela se dirigiu para frente.
— Fizeram bem, o quarto separado é o primeiro passo para a alta hospitalar. — eu a segui até que entramos chegamos ao quarto e entramos.
Ele estava acordado, me aproximei da cama e cheguei seu prontuário médico, felizmente não havia tido nenhuma alteração, mais uma boa notícia para mim e para a família deste homem. Eu havia feito uma promessa aos seus filhos, que o ajudaria a voltar para casa, meu coração estava aliviado por poder dizer que a promessa estava cumprida, com ele consciente sua recuperação seria mais rápida.
— Vejo que acordou sem nenhuma alteração, sinais vitais estável. — peguei uma pequena lanterna e cheguei seus olhos — Pupilas normais, batimentos ok… Felizmente você está fora de perigo, se lembra de alguma coisa?
— Não, ou melhor, estava em meu carro, voltando para casa de uma viagem de trabalho. — ele ainda estava com dificuldades em falar — Estava chovendo e uma luz forte veio em minha direção, acho que…
— Um carro desgovernado atingiu o seu, infelizmente o acidente foi grave e você… Bem, você ficou alguns meses em coma. — expliquei sua situação — Você se lembra do seu nome completo?
— Park . — ele respirou fundo e manteve seu olhar em mim — Meus filhos, como eles estão?
— Estou bem, esperando sua recuperação. — respondi com tranquilidade.
— E quem é você?! — perguntou ele quase em sussurro, ainda respirava pelos aparelhos.
— Sou a doutora Miller. — respondi dando um sorriso espontâneo sem entender — Mas, atualmente estou sendo chamada de , por seus filhos.
Foi estranho a reação dele, não sabia por que, mas ao dizer aquilo os olhos de brilharam de uma forma inesperada.
"O tempo está lentamente se esvaindo pouco a pouco,
Tudo o que faço por você não é o suficiente,
Ainda assim eu me esforço para lhe manter firme,
Não há como alguém ser capaz de te substituir,
Assim como a nossa promessa."
- Promise / EXO
CAPÍTULO 28
* *
Eu ainda ainda sentia uma leve sensação de já tê-la visto em algum momento de minha vida, ou , como meus filhos a chamavam era doce e delicada, muito atenciosa e demonstrava um cuidado ainda mais reforçado comigo, o que me deixava um tanto curioso por isso. Seu sorriso singelo me cativava sem esforço e sempre quando se aproximava de mim para me examinar, meu coração acelerava de repente sem explicações, até mesmo minhas mãos suavam um pouco.
Seria loucura dizer que estava criando algum tipo de afeto por ela... Em tão pouco tempo.
— Está bem melhor hoje, estou feliz com sua recuperação acelerada , a pressão voltou ao normal e já poderá voltar aos passeios pelo hospital. — ela sorriu ao guardar o estetoscópio no bolso do jaleco, ainda analisando o prontuário — Mas faça isso com moderação, você ainda está em observação.
— Sim senhora. — brinquei fazendo continência — Novamente agradeço por todo o cuidado que está tendo comigo. — mantive meu olhar nela.
— Esta é minha obrigação como médica. — ela suspirou com suavidade — E também, acabei prometendo a duas lindas crianças que cuidaria bem do pai delas.
— Está cumprindo muito bem sua promessa. — sorri de leve para ela.
— Bem. — senti que ela havia ficado um pouco tímida por meu sorriso — Tenho que visitar outros pacientes, mas voltei mais tarde para ver se está tudo bem.
— Esperarei com paciência. — disse num tom suave.
Ela sorriu novamente e se retirou.
Desde que acordei já haviam se passado cinco meses, todo aquele tempo ainda no hospital me recuperando por ordens médicas. O lado bom disso foi poder conhecer um pouco melhor , que sempre passava horas conversando comigo nas madrugadas que estava de plantão, nosso lugar nada secreto era o jardim do terraço que havia no hospital. Era um lugar muito estimulante para os pacientes internados.
As outras horas do meu dia, ou estava lendo ou dormindo, era tedioso quando meus filhos não iam me visitar ao final da tarde, porém contava com a silenciosa companhia do meu pai ou de Jonh, que insistia em ficar no hospital de acompanhante nos dias em que não queria trabalhar.
— O paciente está acordado? — disse John ao abrir a porta do quarto, dando alguns toques.
— Estou sim. — eu ri já imaginando sua presença aqui — O que aconteceu desta vez? Não quis trabalhar hoje?
— Meu amigo, confesso que aquela empresa sem você não é a mesma. — disse ele dando um suspiro cansado — Mas como está se sentindo hoje?
— Bem. — respondi rapidamente.
— Tem certeza?
— Sim, ontem passei mal por que exagerei no sol com meus filhos, era uma bela manhã de domingo, mas eu deveria ter apreciado com moderação. — expliquei.
— Hum, que bom que está consciente disso.
— O lado bom foi a presença da minha médica durante toda a madrugada. — brinquei rindo.
— Uahhhh…. Está mesmo encantado por essa doutora. — comentou ele — Devo lhe incentivar, pois ela é realmente encantadora.
— Sim, até meus filhos concordam. — desviei meu olhar para a janela.
— Verdade, estou admirado que Jullie tenha ficado tão próxima da doutora Miller, ela que sempre foi desconfiada e não gostava nem mesmo da Penny. — John observou.
— Por que diz isso, meus filhos nem conhecem a Penny. — o olhei confuso.
— Eles a conheceram enquanto você estava em coma. — explicou.
— Ah. — aquilo era uma novidade que meus filhos não haviam me contado.
— Achei que Jullie tivesse te contado, todos da construtora vieram ver você. — completou ele.
— Minha filha só conta coisas que consideram relevantes. — eu ri de leve — Uma criança com mente de adulto.
— Verdade. — ele riu junto — Ao contrário da doutora encanto, que mais parece uma criança no corpo de um adulto.
— Você vem observando muito a minha médica. — o olhei desconfiado.
— Yah, não me olhe assim. — ele riu — Está com ciúmes?
— Não é isso… — me enrolei nas palavras.
— É isso sim. — ele deu uma gargalhada alta — Mas eu não estou a observando tanto assim, foram momentos aleatórios em que a vi brincando com as crianças no terraço.
— Brincando? — agora estava surpreso.
— Sim, devo admitir que para uma desconhecida que nunca os conhecia, ela era a única que conseguia fazer seus filhos sorrirem em meio a tristeza do seu coma. — ele encostou na parede cruzando os braços — Se magia fosse real, certamente diria que ela tem o dom.
— Hum. — por algum motivo meu olhar ainda estava desconfiado.
— Mas pode ficar tranquilo meu amigo, não vou roubar sua garota. — ele riu ainda mais.
— Ela não é minha garota, nem estou pensando nessas coisas. — o olhei sério.
— Ah por favor, tem quanto tempo, sete anos? Já está na hora de refazer sua vida, Mary iria apoiar isso. — ele piscou de leve — Além do mais, o mais difícil já aconteceu de uma forma milagrosa.
— O que? — fiquei curioso.
— Ela conquistou seus filhos sem esforço ou intenção. — respondeu ele tranquilamente.
Aquilo era surpreendente, ainda mais pensando em Jullie que sempre desconfiava dos adultos e sabotava constantemente o trabalho das babás que ficavam com eles. Saber sobre isso deixava meu coração aquecido e um pouco inquieto, até aquele momento não havia pensando em algo como tentar recomeçar de novo no amor.
Confesso que sempre me sentia bem e confortável, quando ela passava algumas horas do seu plantão conversando comigo, somente ter a sua presença já transformava o meu dia de ruim para alegre, o que me fez simplesmente desejar sua amizade.
— Está muito pensativo. — disse John chamando minha atenção.
— Hum, estava viajando em meus pensamentos. — sorri sem graça.
— Sei. — ele fechou o jornal que estava lendo e se levantando, o colocou na cadeira — Que tal uma volta?
— Minha doutora disse para não abusar. — o alertei.
— Não será abuso nenhum. — ele riu pegando a cadeira de rodas — Para não se cansar, hoje não te deixarei andar muito.
— Não acho que…
— pare de desculpas. — ele veio até mim e me ajudou a levantar — Pelo que soube você pode passear novamente, não o deixarei ficar cansado, pode confiar em mim.
— Vou confiar. — me mantive apoiado nele até que me sentei na cadeira.
— Muito bem, além do mais, daqui a pouco seus filhos passam aqui para te ver. — ele deu um sorriso largo — Seria bom que te encontrassem saudável e fora desta quarto.
Tinha que dar alguma razão ao meu amigo, seria mesmo muito bom e esperançoso para meus filhos me verem bem, após ter desmaiado na frente deles. John me levou para o terrado em meio a algumas novidades que contava sobre o escritório, a última delas foi a que mais me chocou e deixou impressionado.
— O que? Você e a Penny saindo juntos? — o olhei impressionado.
— Sim. — respondeu ele tranquilamente — Confesso que no início quando descobri que ela estava mesmo era interessada em você, quase desisti de tentar…
— Mas conhecendo você como conheço, não desistiu. — ri dele assim que o elevador abriu.
— Claro que não, você já viu como a Penny é atraente? — ele riu junto, empurrando a cadeira para a lateral leste do jardim.
Estava feliz por meu amigo, porém minha atenção se desviou dele com facilidade ao ver a cena mais acolhedora que já havia presenciado, meus filhos estavam mais a frente correndo por entre os arbustos que compunham o espaço ornamentado com as flores brancas. Logo um sorriso surgiu em minha face ao perceber aquele brilho singelos em seus olhos, foi neste momento que apareceu no meu campo de visão.
Minha doutora encanto estava sorrindo, um sorriso que me deixava querendo paralisar aquele momento, ao vê-la naquele momento de descontração com Jullie e Mike, tinha que concordar com John que parecia mesmo uma criança como eles.
— Papai! — Mike me avistou e veio correndo ao meu encontro.
— Oi querido. — sorri para meu filho.
— Estávamos preocupados. — disse ele ao me abraçar.
— Estou melhor hoje. — disse deixando meu olhar em Jullie que se aproximava com .
— Que bom papai. — Jullie me deu um abraço apertado — A nos contou que estava melhor quando chegamos.
— Hum, . — desviei meu olhar para ela — E mesmo preocupados comigo você vieram brincar com a minha médica, ao invés de me visitarem?
Confesso que estava sentindo um pouco de ciúmes, só não sabia se era dos meus filhos ou da minha doutora encanto.
— Deixe de ser ciumento papai. — Mike riu.
— Juro que só os trouxe para o terraço, pois precisava descansar após o almoço, porém logo os levaria para seu quarto. — explicou um pouco tímida.
— Agradeço o cuidado com eles também. — mantive meu olhar nela.
— Para mim é um prazer passar algum tempo com essas crianças lindas, seus filhos tem muita energia. — ela olhou para Jullie e piscou discretamente para ela.
— Doutora Miller. — uma enfermeira veio correndo ao nosso encontro — A senhora está sendo solicitada na ala de emergência.
— Me desculpem, mas preciso ir agora. — ela sorriu de leve e seguiu correndo com a enfermeira em direção ao elevador que estava parado a sua espera. — Uau, nossa doutora é muito solicitada. — comentou John.
— Muito me admira você não ter falado nada. — olhei meu amigo.
— Estava mais observando sua cara de bobo. — ele riu de mim — Então crianças, estão com fome? O tio John vai comprar algo para você.
— Eu estou. — Jullie riu.
— Eu também. — concordou Mike — Quero sorvete.
— E desde quando sorvete é saudável para uma criança em crescimento? — o olhei.
— Por favor papai. — ele me olhou.
— Tudo bem, sorvete, mas me prometa que vai jantar direito quando chegar na casa da vovó.
— Vou sim. — assentiu ele — POsso ir com você tio John?
— Claro. — John sorriu — Cuidado os dois.
— Não confia em mim? — John me olhou desconfiado.
— Não. — respondi tranquilamente.
— Assim me ofende. — ele me olhou indignado porém começou a rir como sempre — Vamos Mike.
Eu ri olhando ele se afastar com Mike, depois voltei meu olhar para minha filha, Jullie estava me olhando séria e segurando o riso.
— O que foi espertinha.. — sorri de leve a puxando para me sentar no meu colo — Te conheço mocinha, desde o dia em que nasceu.
— Papai, o que acha da ?! — perguntou ela.
— Hum, ela é uma boa médica, cuida de mim com muita dedicação. — respondi.
— Não quis dizer assim. — ela me olhou — Eu ouvi o tio John falando para o vovô que vocês dois combinam, que o senhor está encantado por ela.
— Jullie, sabe como são os comentários do John. — desviei meu olhar para frente.
— Eu concordo com ele, o Mike também. — retrucou ela.
— Concordam com o que? — voltei meu olhar para ela.
— Que a e o senhor ficam bem juntos. — seu olhar tranquilo para mim, me fazia perceber o quanto minha filha estava crescendo — Seria legal se ela se tornasse sua namorada.
— Não acredito que vocês estão confabulando essas coisas. — estava admirado.
— Não estamos confabulando. — ela riu de leve — Só queremos ver duas pessoas que se completam juntas.
— E como você sabe que a me completa?! — e olhei curioso.
— Porque o senhor sempre fica fora de órbita quando vê ela sorrindo, e ela sempre sorri quando está perto do senhor ou falamos o seu nome.
Eu realmente não esperar ouvir aquelas palavras ditas com tanta sinceridade.
“Olhando para o céu sem fim enquanto o cenário muda,
Eu respirei fundo de repente quando eu ouvi sua voz
Não importa o quão longe estivermos um do outro, se fechar meus olhos,
Veja, nossos corações estão conectados.”
- All My Love Is For You / Girls' Generation
CAPÍTULO 28
*
Após dias de trabalho duro e muitos pacientes dando entrada, finalmente estava encerrando o meu plantão, a partir de alguns minutos eu entraria de férias premium e só retornaria daqui quinze dias.
— Ahhhh… — murmurei me espreguiçando da cadeira do meu consultório.
— Animada para as férias, dra Miller? — perguntou a enfermeira Joy ao aparecer da porta.
— Nunca sonhei tanto com elas, mas agora que chegou o dia, sinto que vou sentir mais falta dos meus pacientes. — respondi tentando mostrar conformidade em me ausentar.
— Falta dos pacientes, ou de um certo paciente? — insinuou ela se referindo ao pai das minhas crianças preferidas.
— Se está falando de , ele está prestes a receber alta. — retruquei segurando o riso — Além do mais, minha preocupação está em outra ala.
— Urgência e emergência. — constatou ela — Não é somente você, todos estão horrorizados com o aumento de entradas.
— Tem havido muitos acidentes por imprudência. — comentei ligando a causa ao motivo.
— Sim. — concordou ela — Bem, aqui estão os últimos prontuários para sua última avaliação.
— Obrigada. — eu peguei os prontuário de sua mão e dei uma olhada superficial — Vou começar a visita aos pacientes mais crônicos primeiro e depois verei os que serão liberados.
— Quer que eu te acompanhe? — se ofereceu ela.
— Não precisa, será uma avaliação rápida. — respondi — Depois passarei as informações ao dr. Brown que ficará em meu lugar.
— Essa é a única parte boa que suas férias. — comentou ella com um sorriso malicioso.
— Ai de você se ficar suspirando por ele e esquecer meus pacientes. — a adverti para seu dever profissional — Se não, da próxima vez eu coloco a dra. Lira em meu lugar.
— Ah não, ela não. — Joy fez uma careta engraçada — A dra. Lira é mandona e mau-humorada.
Eu ri um pouco dela gesticulando em uma imitação da dra. Lira, Joy era o lado mais engraçado do hospital, sempre me distraindo com seus comentários aleatórios e indiretas maliciosas. Saí do meu consultório na ala sul do hospital e segui em direção a ala onde meus pacientes estavam, como definido visitei cada quarto onde estavam os pacientes mais crônicos, depois passei para os pacientes em que já iria prescrever a alta hospitalar.
— Bom dia. — disse ao entrar no quarto do último paciente, o mais esperado por mim.
— Bom dia doutora. — logo que me viu deu um sorriso largo com naturalidade.
— Acordado, que novidade. — ri de leve adentrando mais o quarto — E sozinho.
— Minha mãe foi tomar um café. — respondeu ele mantendo seu olhar em mim — E… Estou tão ansioso por hoje que não consegui dormir direito.
— Hum. — retirei meu estetoscópio do pescoço — Imagino, passar tanto tempo no hospital não é tão animador, mas quando chega o dia de ir embora a ansiedade fica mais em evidência.
— Sim. — concordou ele — Existe o lado positivo e o negativo.
— Sério? — agora estava curiosa — E qual seria o lado negativo?
Ele se manteve em silêncio com o olhar fixo em mim, a intensidade no seu olhar fez meu corpo estremecer de leve, meu coração acelerou de forma repentina me fazendo sentir um pouco tímida e envergonhada. Apesar de não me responder, de alguma forma eu sabia a resposta.
— querido… — disse a senhora Hana ao entrar no quarto — Voltei… Dra. Miller.
— Bom dia, senhora… — a cumprimentei.
— Senhora não, pode me chamar de Hana ou ajumma. — disse ela dando um sorriso gentil, vindo me abraçar.
— Tudo bem. — assenti retribuindo o abraço.
— Veio liberar nosso ? — perguntou ela, dando ênfase na palavra nosso.
— Bem, felizmente sua recuperação está completa e agora o repouso poderá ser feito em casa. — disse caminhando até a cama que ele estava — Só passei para ver se está tudo ok, antes de assinar a alta hospitalar.
— Espero estar bem, apesar de tudo o que passou. — disse ele.
— Em vista de como chegou aqui, acredite, você está 99% melhor. — respondi confiante.
— E os outros 1%? — perguntou ele.
— Somente quando ir para casa e voltar ao trabalho. — brinquei.
— Aish, até minha médica está me mandando trabalhar. — reclamou ele, nos fazendo rir.
— Você tem sentido algum tipo de dor ou desconforto? — perguntei.
— Não.
— Sua visão ainda está doendo como há duas semana? — insisti.
— Não, felizmente melhorou. — respondeu novamente.
— Pelo visto era o remédio mesmo. — constatei — Que bom que descobrimos a tempo de reverter.
Eu medi sua pressão arterial e analisei seus batimentos, aparentemente estava tudo ok, li atentamente seu prontuário, juntamente com o restante dos exatamente pedido. estava mesmo pronto para ser liberado, então sem mais delongas assinei a alta para que ele pudesse voltar para casa.
— Entregarei sua alta na recepção para que os procedimentos oficiais sejam feitos, a enfermeira trará os papeis para vocês. — disse assim que terminei de assinar — Foi um prazer cuidar de você.
— O prazer foi meu. — disse ele sorrindo de canto.
— E agora? — perguntou a mãe dele — Não vamos te ver mais?!
— Bem, estou entrando de férias hoje também. — respondi — Minha última função era assinar a alta de .
— Ah. — Hana pareceu um pouco decepcionada e olhou para seu filho como se tivesse querendo dizer algo a ele.
— Bem, eu tenho que ir agora. — disse me afastando da cama dele e colocando meu estetoscópio no bolso do jaleco.
— Espera. — disse — Eu gostaria de te agradecer melhor.
— Não precisa, foi meu dever como médica. — disse meio sem graça.
— Precisa sim. — interviu Hana — Que tal um jantar?!
— Jantar?! — a olhei surpresa.
— A menos que tenha outro compromisso. — observou ela — Poderia jantar conosco amanhã que é sábado, as crianças iriam adorar isso.
— Bem, não esperava pelo convite, mas… — desviei meu olhar para discretamente, vendo que seu olhar ainda estava em mim — Acho que posso.
— Então está combinado. — Hana sorriu — Você pode pegar nosso endereço na ficha de .
— Claro. — eu dei dois passos para trás — Agora tenho mesmo que ir.
Me despedi brevemente deles e saí do quarto, percebi que até aquele momento meu coração continuava acelerado com tudo o que estava acontecendo, era algo diferente porém bom ao mesmo tempo. Após deixar os prontuários com as altas de e mais dois outros pacientes na recepção, passei no consultório do dr. Brown, para entregar as fichas dos meus pacientes que ficariam sob seus cuidados, depois me dirigi ao administrativo para assinar os documentos das férias premium.
Pensei em voltar no quarto de para me despedir novamente, porém ele e sua mãe já estavam na recepção assinando os papeis da liberação. Permaneci de longe e escondida os observando, até que Joy se aproximou de mim sorrateiramente, claro que ela não perderia a oportunidade de fazer seus comentários.
— Seu olhar está exalando saudade, e olha que ele nem saiu direito do hospital. — ela segurou o riso mantendo seu olhar na mesma direção que eu.
— Você perde a amiga, mas não perde a piada. — retruquei rindo baixo.
— A mãe dele me convidou para o jantar amanhã. — comentei.
— Olha só, já conquistou a sogra. — Joy brincou.
— Ai, pare de dizer bobagens, é somente um jantar de agradecimento. — expliquei.
— E desde quando que famílias nos convidam para jantar após salvarmos os pacientes? — indagou ela — No máximo um muito obrigado na saída do hospital.
— Não é bem assim. — retruquei.
— , por favor, pare de se iludir, ou de achar que me ilude. — ela me olhou — Está na cara que tanto você como ele, estão interessados um no outro.
— Não. — neguei inutilmente — Isso seria falta de ética, ele é meu paciente.
— Primeiro, ele não é mais seu paciente. — faz sentido — Segundo, isso pode acontecer com qualquer profissional.
As palavras dela eram sábias, mas ainda assim eu estava relutante por algum motivo que eu não entendia. Ao final da tarde, deixei minha sala organizada e me reuni com a equipe que eu era responsável na sala dos enfermeiros, tinha o dever de passar formalmente minhas responsabilidades ao dr. Brown. Joy como sempre não deixaria passar em branco, acabou organizando uma pequena recepção para mim, já que não era sempre que eu recebia feŕias premium e uma bonificação pela dedicação que sempre tinha com o hospital e os pacientes.
— Um brinde a médica mais carismática e gentil do nosso hospital. — disse o dr. Brown ao erguer o copo de suco.
— Um brinde. — disseram todos erguendo seus copos.
— Finalmente. — comentou o enfermeiro Calton.
— Agradeço a todos pelo carinho, em especial a Joy por sua amizade. — disse ao tomar um gole do suco de uva que estava no meu copo — E queria fazer um pedido, que todos minha equipe linda, posso continuar trabalhando com a mesma dedicação e amor aos paciente, enquanto o dr. Brown estiver em meu lugar.
— Se essa não é a médica mais fofa que existe no mundo, não sei quem é. — disse Joy tentando me elogiar, mas jogando uma indireta bem discreta para a dra. Lira que estava mais ao fundo da sala, perto da porta.
Eu sorri sem jeito e sem saber o que dizer, a festinha não podia demorar muito, pois os pacientes aguardavam pelo atendimento. Surpreendentemente o dr. Brown me acompanhou até meu carro no estacionamento, ele parecia um pouco receoso e estranho, mais que de costume.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Sim, está. — ele suspirou fraco, mantendo seu olhar em meu carro.
— Tem certeza? Você é mais animado, já está sentindo a pressão de ficar no meu lugar. — brinquei.
— Confesso que não tenho a mesma competência que você. — disse ele meio sem graça.
— Claro que tem, é tão competente quanto eu. — sorri de leve — Além do mais, tem a atenção e admiração de todas da enfermaria.
— Não de quem eu gostaria. — ele desviou seu olhar para mim.
O que me fez lembrar do olhar de , porém o do dr. Brown não tinha a mesma intensidade. Nós dois já éramos colegas há pouco mais de quatro anos e passamos por diversas situações no hospital, podíamos contar um com o outro e eu o considerava um bom amigo. Mas somente conseguia vê-lo assim, como um amigo, apesar de saber que ele sempre esteve interessado em mim.
— Vou indo agora, aproveitar minhas férias. — sorri de leve para ele e o abracei com carinho — Fique bem e se cuide, soube que estava com a voz rouca semana passada, médicos também ficam doentes.
— Sim, estou me cuidando. — ele sorriu — Obrigado por se preocupar.
Eu entrei no carro e segui em direção ao meu apartamento. Assim que cheguei meu primeiro pensamento foi me jogar na cama e ser feliz, porém mesmo sentindo meu corpo cansado, minha mente estava elétrica cheia de pensamentos. A maioria de resumia a e seus filhos, não conseguia entender como duas crianças me conquistaram de forma tão rápida e simples, meu coração sempre saltava de felicidade quando estava perto deles.
Já não sabia se era eu que os fazia sorrir, ou se era eles que me faziam sorrir, a única coisa que tinha certeza é que sentia uma enorme vontade de tê-los por perto.
As horas se passaram e consegui adormecer, na manhã seguinte já acordei na hora do almoço com meu corpo descansado, me espreguicei um pouco na cama e voltei meu olhar para o celular na mesa de cabeceira ao lado. Sua pequena luz no canto superior estava piscando, era uma mensagem que havia chegado, para minha surpresa e era uma mensagem do meu ex paciente preferido.
“Aceita um café?” -
Como ele havia conseguido meu número? Só tinha uma resposta para isso: Joy. Certamente aquele cupido em forma de amiga havia feito alguma coisa, ri de leve e caminhei até o banheiro, demorei um pouco para me arrumar e senti que meu corpo estava de fato acordado, nem água fria no rosto estava adiantando muito. Após uma forte rotina de trabalho, era mesmo merecido um pouco de descanso e folga.
— Eu não tomo café. — disse assim que cheguei na portaria e o encontrei na recepção me esperando — Mas se em troca for um chocolate quente...
Ele sorriu de forma aliviada.
— Bom dia. — disse ele num tom mais baixo.
— Bom dia. — surpreendente mesmo vê-lo naquela manhã — Senhor paciente, não deveria estar em casa repousando?
— Sim. — ele riu baixo, sabia que estava errado em vir — Me desculpe a desobediência.
— Espero que não tenha vindo dirigindo. — cruzei os braços me mantendo séria.
— Ah não, peguei um táxi. — ele voltou seu olhar para a rua — Sei que não posso abusar.
— Então o que faz aqui? — perguntei curiosa.
— Hoje pela manhã quando acordei, achei que ficaria tudo bem… — sua voz ficou um pouco mais triste — Pensei realmente que estava tudo bem, mas não estava, percebi que não somente minha manhã, mas todo o meu dia não estaria completo se eu ficasse sem te ver.
Aquela palavras foram como uma flecha em meu coração, o fazendo acelerar de imediato, me deixando sem reação e sem palavras.
— … — sussurrei timidamente — Não deveria dizer essas coisas.
— O que mais posso dizer, se é assim que estou me sentindo?! — seu olhar profundo transmitia a pura sinceridade — Desde que acordei não consigo pensar em mais nada além disso, até meus filhos começaram a me fazer lembrar você de forma espontânea.
— Não sei o que dizer. — sussurrei sentindo minhas pernas meio bambas.
Era a primeira vez que meu coração reagia de forma positiva e proporcional a declaração de alguém para mim, pela primeira vez eu desejava retribuir aquela declaração.
— Não precisa dizer nada agora, apenas tome um café comigo, ou melhor, um chocolate quente. — ele riu de leve, me fazendo rir também.
— Será um prazer.
Eu respirei fundo e sorri.
Por mais louco que parecesse, em meu coração tinha a certeza que aquilo não era o início de algo, mas a continuação de um sentimento desconhecido por nós dois. E eu estava determinada a entender e viver este sentimento da melhor forma, me permitindo estar próxima não somente das crianças como desejava, mas também estar ao lado de para sempre.
"Eu ainda não posso dizer que estou completamente apaixonado,
Tremendo para dizer aquelas palavras: amo você mais do que ninguém,
Apenas você e eu, e eu, e eu, e eu
Eu estou realmente feliz nesse momento, realmente grato por você ter vindo a mim,
Obrigado por ser quem me ama, apenas você e eu, e eu, e eu, exatamente você."
- All My Heart / Super Junior
~ To Be Continued... ~
N/A: Mais uma fic meio romance, meio comédia, desta vez um pouco diferente e fantasiosa que as primeiras, espero que gostem!! *-*
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By: Pâms
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