PIANO MAN
por May
Talvez a vida seja um mero piano e cada tecla seja cada pessoa que você conhece. Algumas teclas, juntas, causam harmonia e uma linda melodia. Já outras, o fazem querer perder a cabeça de tão péssimas combinações!
Quem sabe nós dois não focemos essa segunda opção? É uma pena te deixar partir, principalmente do modo que você saiu da minha vida, mas tomara eu conheça uma outra tecla.
Gênero: Drama, Fluffy, Tragédia, UA
Dimensão: Oneshot
Classificação: PG-15
Aviso: Essa fic foi originalmente escrita com Park Jihoon do Wanna One, mas pode ser lida com qualquer artista.
Beta: Nikki
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Capítulo Único
“Horário da morte: 05h59, no Hospital Life, no dia 31 de janeiro de 2018.”
Eu pude ouvir o médico falando no lado de fora do seu quarto. Era isso, você partiu.
Por quê? Por que você foi embora e simplesmente me deixou? Por que tinha de ser você?
Eu. Eu quem deveria ter morrido naquela merda de acidente. EU!
Mas o que adianta agora? Você foi atropelada em meu lugar.
Você. Quem tinha tantos sonhos, tantas coisas ainda pra viver... E eu não conseguia fazer nada por ti.
Eu era o tolo do melhor amigo. O garoto que viu você tocando piano naquela noite de chuva, enquanto todos os outros acampantes estavam em seus quartos, no sétimo sono.
Eu quem fui bisbilhotar a geladeira para ter o que comer, e te ouvi tocando Simple Gift.
Um dos meus sonhos de menino era tocar piano. Mas sempre fui muito preguiçoso pra isso.
Até te conhecer. Você me fez enxergar as coisas boas da vida... Você me fez abrir meus olhos.
Enquanto eu não podia fazer nada por você.
Você sabia andar sozinha. Tocar piano. Até mesmo, se virava pra fazer alguma comidinha no fogão... Eu era o inútil nessa relação.
Eu nunca te pedi em namoro, lembra? Depois que conversei com você naquela noite de chuva, você passou a me ensinar algumas notas no piano.
Tentava eu, inutilmente, encontrar com teu olhar e me afundar em seus olhos. Mas isso nunca aconteceu, e nunca aconteceria.
De tecla em tecla, eu fui aprendendo aos poucos o que era tocar piano. Qual a sensação de dedilhar sobre teclas brancas e pretas, que faziam uma melodia... Uma harmonia, música aos meus ouvidos.
E foi assim durante todo o mês naquele acampamento. Nos encontrávamos apenas durante o luar, quando você tocava piano escondida de todos os olhares curiosos.
Sempre que ouvia meus passos, você parava de tocar e ria.
“?”
E a sua voz. A sua voz virou meu porto seguro durante um mês.
Mas... Por que eu não podia te ver durante o dia? Por que você não se misturava com a galera toda?
Quando perguntei pra monitora chata sobre você, ela disse que tu nunca saias do quarto. Me perguntou até mesmo como eu te conhecia.
Dei uma desculpa qualquer de que esbarramos uma tarde quando fui tomar banho, e acabei derrubando minha toalha e que você havia visto e me atentado. A monitora duvidou um bocado, mas não se importou.
Faltava um dia para irmos embora. Como de costume, assim que o sinal tocava, eu aguardava uma hora para descer e te ouvir tocar o piano.
E naquele dia não foi diferente. Eu segui até o andar inferior e apoiei no corrimão da escada, esperando que você não virasse pra trás e não me visse.
Fui na ponta dos pés, pois parecia até mesmo que você tinha super audição.
Depois de um tempo, você parou de tocar e olhou para os lados.
“? Você não veio hoje?”
Decidi ficar quieto, e você suspirou, triste. Quase corri para te abraçar, quando uma música familiar começou a tocar.
E a sua voz. Foi a primeira vez que te ouvi cantando. E... Uau, que voz.
A melodia de Really Really soava no ambiente, junto da sua voz cantando um pouco mais lenta do que a música original.
Eu estava deslumbrado. Não sabia nem mesmo como agir.
Sua voz, seu jeito, seu sorriso... Tudo era perfeito aos meus olhos.
Enquanto você se aprofundava nos sentimentos dentro da música, me aproximei para procurar alguma partitura contigo ou algo similar. Mas não, era apenas você e as teclas.
Você e o piano se transformavam em um só. Como se tivessem nascido grudados um no outro, como se um completasse o outro.
Isso me encantava em você. A sua paixão pela música, os seus sentimentos e expressões se afloravam quando a melodia das cordas ecoava naquela grande sala.
Não importava se o piano era de cordas ou uma percussão. Só sabia dizer que ele era perfeito pra você.
Assim como você era perfeita pra ele... E pra mim.
Quando você parou de tocar, eu já estava ao seu lado. Bati palmas e você pulou de susto, colocando a mão no peito e suspirando pesado.
Eu procurava o seu olhar, que parecia perdido.
Te parabenizei e você agradeceu enquanto suas bochechas ficavam rosadas.
Segurei em sua mão sobre algumas teclas, podendo ouvir o som desafinado ecoar por poucos segundos, o que nos fez rir.
“Você é meu único e melhor amigo, .”
Uma facada doeria menos. Foi com aquela fala, naquele instante que percebi estar loucamente apaixonado por você.
“Olha pra mim...”
Você tinha um sorriso enorme, que se desmanchou quando pedi para olhar-me nos olhos.
Sua expressão de felicidade pareceu sair por longos segundos, trazendo uma aura triste para perto de si.
“Mas eu não posso te ver.”
Outra merda que fez para nossa listinha, não é mesmo?
Quando você me disse isso, abriu os olhos e, coincidentemente, bem quando meus olhos encontraram os seus.
Estavam brancos, parecia um transparente. Seus olhos não tinham íris, não tinham brilho, não tinha vida.
Eu nunca me senti tão culpado quanto estava me sentindo.
Queria me redimir. Mas como? Eu pedi para você me achar com os olhos, sendo que você é cega!
Eu não faço nada direito!
Pensei em algumas coisas enquanto você se concentrava para tocar mais alguma música.
Canon. Foi a música de Johann Pachelbel a qual você escolheu.
A melodia apaixonante passou a soar em meus ouvidos, e me percebi estar submerso na harmonia que meus neurônios entraram.
Sem preocupações, eu me senti no paraíso.
E foi então que pensei, o que você nunca havia experimentado de bom?
Você era jovem, tinha que conhecer algumas coisas nessa cidade maravilhosa que chamamos de Seul.
“Eu sempre quis saber como é andar em uma linha de pedestres...”
Esse era o seu pedido. O mais tosco e simples que já ouvi, mas vindo de você, chegou a ser fofo.
Não era nada caro, não era nada raro ou complicado de se fazer. O que você queria era, simplesmente, andar em uma faixa de pedestres.
Olhei para o lado de fora e percebi que começava a nevar.
“Você tem casacos?”
Quando você concordou, combinamos de nos encontrar em frente ao seu quarto, em vinte minutos.
Te deixei em frente à porta de seu quarto e corri para o meu.
Me agasalhei. Coloquei três casacos grossos, minhas luvas, cachecol e um gorro de tricô que minha avó tricotou para mim de Natal.
Peguei apenas meu celular e o coloquei no bolso, para se caso nos perdêssemos na mata que tem aqui do lado, teríamos sinal ou algo do tipo, né?
Cheguei em seu quarto e você saiu quando bati na porta.
Estava com casacos peludos, cachecol, touca e luvas de lã.
Peguei em sua mão e entrelacei nossos dedos, que estavam gordinhos por conta das luvas.
Descemos as escadas de pouco em pouco, pois meu medo de te fazer cair algum degrau me assustava.
Assim que chegamos no térreo, te levei ao lado de fora.
Quando sentimos a neve cair em nossos rostos, quase congelei. Você, entretanto, estava apaixonada com o que... Sentia.
“Nunca nem mesmo soube a temperatura da neve.”
Me contou e estremeci. Em que mundo você vivia, afinal? Ok que você tem uma deficiência, mas não saber sobre neve quando se mora na Coreia do Sul?
Estranho.
Ficamos um tempo em frente à cabana, enquanto você se divertia com os flocos de neve, que começaram a cair mais e mais.
“Se não formos logo, nunca atravessará uma pista.”
Você procurou minha mão e entrelaçou nossos dedos.
Um choque correu em meu corpo todo. Eu me sentia um adolescente bobo apaixonado pela garota diferente que ninguém do colégio conhece.
Andamos de mãos dadas, até que achei uma rua para atravessarmos.
“Estamos aqui, no fim da calçada. Se der um passo, estará na rua.”
Assim, você soltou minha mão e andou, com pequenos passos, até o outro lado.
A rua era larga, e você parecia encantada por sentir a brisa gélida em seu rosto, a neve caindo pelo seu corpo, e o chão áspero sob seus pés.
A sensação de estar viva.
Assim que você chegou do outro lado, eu corri e te abracei por trás, o que nos fez rir juntos.
Quando paramos, estávamos abraçados, um em frente ao outro. Claro que você não via a expressão que eu fazia, mas eu pude memorizar cada traço seu.
Pele branca, cabelos tingidos de vermelho, cachos nas pontas dos cabelos. Olhos levemente puxados e grandes, íris transparente que ainda me deixava perplexo. Nariz fino, levemente arrebitado, para parecer uma garotinha patricinha arrogante. Uma boca pequena, de lábios cheios e vermelhos pelo frio. Bochechas levemente rosadas pelo sangue correndo, e poucas sardinhas lhe marcavam. Cílios longos e charmosos. Uma leve cicatriz no queixo, que você deve ter ganho enquanto aprendia a andar.
E aconteceu. Não sei como, mas você se aproximou de mim e puxou minha nuca para próxima de si.
Você sempre foi pequena, mas dessa vez eu senti como se pudesse te abraçar por completo.
Seus lábios, macios e quentes. Foi um beijo calmo, com sabores e sensações indescritíveis, mas maravilhosas.
Eu segurava em sua cintura fina, de quem quase não comia. Eu podia circundar teu corpo com apenas um braço.
Não demorou muito para nos separarmos e eu ver seus lábios ainda mais vermelhos pelo recente beijo.
Você sorriu, sem mostrar os dentes.
Ah, eu realmente estava apaixonado naquele momento.
A gente tinha que voltar, mas a vontade de ficar naquela brisa gelada que nos unia era ainda maior.
Porém, não ficamos por muito tempo. Você soltou algumas tosses e optamos por voltar.
“Eu quero atravessar logo atrás de você.”
Era seu último pedido naquela noite. Era também, provavelmente, a última vez que lhe veria.
Então eu avisei que andaria. Você apenas pediu para eu andar bem devagar, pois apesar da rua ser larga, você queria aproveitar cada pequeno passo.
E assim fiz. De pé em pé, passo em passo, fomos seguindo pelo asfalto quase todo branco pela neve.
Eu sentia suas mãos pequenas batendo nas minhas costas, como se eu fosse um brinquedo de criança para batucar.
Aquele momento era único. Eu me perdi nos sentimentos, quando estávamos no meio da faixa.
A única coisa que vi, foram fortes faróis a minha frente, e ouvi sua voz gritando.
“Cuidado, !”
E senti suas mãos, dessa vez com um pouco mais de força, novamente nas minhas costas.
Como meus pés estavam um na frente do outro, eu tropecei e rolei umas duas vezes para frente.
Quando me dei conta e olhei em volta te procurando, ouvi a batida e seu grito fino.
Virei para trás quando percebi que o cara do caminhão havia parado e descido, logo ligando para alguma ambulância.
Eu te encontrei. Era tão pequena que mal pude te enxergar.
Você, largada no meio da estrada. Sangue escorria da sua cabeça e sua perna estava totalmente torta.
“... Me promete que você vai tocar todas as musicas que eu te ensinei?”
Eu não iria me despedir de você! Eu não deixaria sua partida ser tão triste assim.
Do nada, senti uma gota quente escorrer pela minha bochecha. Eu não medi esforços para segurar meu choro.
“Eu te amo, ...”
Por que você tinha de falar aquilo? Por que você me arremessou para longe? Por que não me deixou te proteger?!
“Eu também te amo...”
Eu queria poder te abraçar, mas tinha medo de deslocar algum osso seu.
A ambulância chegou e eles não me deixaram ir com eles.
Merda, eu pedi um táxi e ele ainda por cima demorou.
“Hospital Life, o mais rápido possível.”
Não demorei para chegar onde você estava, e me disseram que você estava descansando já.
Pelo menos isso, você não estava morta.
Bem... Pelo menos era isso que eu e os médicos achavam.
Olhei o relógio enquanto me dirigia ao seu quarto, eram quase cinco da manhã.
Pedi ao médico e ele, incrivelmente, me permitiu entrar.
Você não estava com tantos fios em você, apenas um soro em sua veia e alguns pregadores perto do seu coração para medir seu batimento.
“Está melhor?”
Você parecia me procurar com o olhar.
“Eu não consigo escutar bem... É você, ?”
Então era isso. Não tinha mais como eu me comunicar com você, estava quase surda.
Peguei na sua mão e você sorriu, logo uma lágrima escorreu de seu olho.
“É tão bom ter você aqui durante essa uma hora...”
Uma hora? Por que uma hora?
Eu não respondi, afinal, você nem mesmo conseguiria escutar bem.
Uns quarenta minutos se passaram e eu continuava ao seu lado, apertando seus dedos.
Quando, de repente, você começou a tossir e seus batimentos apressaram.
Médicos e enfermeiras começaram a entrar no quarto me pedindo para sair, pois você estava tendo um ataque cardíaco.
Eu saí rapidamente da sala, enquanto assistia pela janelinha da porta eles colocando placas de choque em seu peito para te fazer reanimar.
“Por favor... Por favor...”
Era as únicas palavras que saiam da minha boca naquele momento.
Respiração boca-boca, placas de choque e você não despertava...
Nervoso do lado de fora, sai um pouco da visão da janelinha e me sentei encostado com as costas na porta.
“Não dá mais para tentarmos.”
Ouvir aquilo fez a minha ficha cair. Não tinha como você sobreviver, e o culpado sou eu.
Você me avisou sobre a uma hora, você sabia que estava tendo um ataque cardíaco desde antes, mas não quis me preocupar.
Eles anotaram a sua morte e saíram de seu quarto, como se fosse apenas uma qualquer.
Quando tentei entrar, me barraram, e de canto, pude ver duas enfermeiras cobrirem seu rosto com um lençol branco.
Lágrimas voltaram a rolar em minhas bochechas e gritos de tristeza escaparam pelos meus lábios.
Eu não tinha mais o que fazer. Eu não podia mais te salvar. Não tinha como voltar no tempo e isso me destruía por dentro.
Você não podia ver o mundo a fora, mas tinha os sonhos mais puros e simples que qualquer pessoa podia ter.
Eu me senti na infância durante o mês que passei ao seu lado, mesmo que como posto de seu melhor amigo.
Você me fez viver a inocência... Eu sou muito grato.
Sua voz era um filtro para meus ouvidos, como se apenas palavras boas pudessem ser ouvidas por ele.
Você não tinha maldade em seu coração. Ele era sincero e puro, como de uma criança.
Apesar de você ser mais velha do que eu, eu me senti muito mais impuro do que você...
Eu não tenho forças mais para escrever, eu não consigo te tirar da cabeça.
Cartas e cartas irão se formar se eu não tentar parar de escrever... Meus dedos estão sangrando.
Eu vou escrever pra vocês e sei que do céu você irá ler cada palavra. Eu sei que você vai me acompanhar.
Eu tenho fé que você vai me fazer ver muito mais que os olhos do homem... Eu tenho fé.
Do seu melhor amigo,
.
~The End~
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