IT'S THE THINGS YOU DO
by Nicki Snows
@icarechadwick
Aos 17 anos, você se apaixona por um garoto no colegial. Ele não era o mais lindo, porém tinha uma beleza diferenciada e foi isso que chamou sua atenção. Com pouco tempo, vocês se tornaram amigos e na noite do Baile de Formatura, ele te pede em namoro. Você aceita, claro! E como já deve imaginar, essa noite ficou marcada. Não apenas pelo pedido de namoro… Mas, pelo que vocês fizeram. Na verdade, pela consequência de seu ato.
Gênero: Drama, Romance.
Dimensão: Longfic.
Classificação: Livre.
Aviso: Os nomes Travis, Nick, Lauren, Jake, Carlitos, Samuel (Sam), Logan e Kelendria já estão em uso.
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# Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 #
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Capítulo 6 # Capítulo 7 # Capítulo 8 # Capítulo 9 # Capítulo 10 #
# Capítulo 11 # Capítulo 12 # Capítulo 13 # Capítulo 14 #
Capítulo 1
Sabe aquele carinha gato do colégio que faz você sentir mil borboletas eufóricas querendo voar em seu estômago só por te olhar? Ou faz sua respiração parar por segundos somente por passar ao seu lado? Era sempre assim quando eu via . Ele não era o mais popular, mas conhecia grande parte do colégio. Também não era o mais lindo, mas tinha uma beleza diferenciada, e foi essa beleza que me chamou atenção...
Eu até tinha algumas amizades na turma e as melhores amigas do mundo! e eram e ainda são como irmãs para mim. Mas, nunca fui próxima de . O máximo que ele já falou comigo foi "Me empresta um lápis?" e essa pequena pergunta me fez cair da cadeira. Claro que foi vergonhoso, mas me aproveitei do meu lado dramático e fingi uma lesão no tornozelo. podia ter rido de mim, como a maior parte da turma fez. Mas, para minha surpresa, ele veio em minha direção com uma expressão preocupada e me pegou no colo, me levando para a enfermaria.
Claro que eu não podia contar para ele que era tudo fingimento, mas o que fazer nessa situação? Fingir um desmaio? Exatamente! Senti sua mão em meu rosto enquanto ele dizia: "Hey, acorda! Por favor, acorda! E agora, o que eu faço, Deus?". Sim, eu fiquei com pena. Ele estava desesperado, o que eu podia fazer? Isso mesmo! Acordar do "desmaio".
Quando abri os olhos e levantei meu olhar até seu rosto, o vi sorrindo e disse: "Graças a Deus! Eu não saberia agir com você desacordada em meus braços. Você tá legal?" eu sorri e o respondi: "Estou sim, obrigada. Não precisa me levar para à enfermaria, foi só um susto!". Ele se levantou, me ajudou a fazer o mesmo e perguntou: "Ok! Você tem algo para fazer depois das aulas?". Franzi o cenho e disse: "Tenho uma redação para fazer e entregar na sexta-feira, mas não farei hoje, então estou livre. Por quê?". Ele pigarreou e disse: "Ah, o sinal já vai bater, gostaria de tomar um sorvete comigo?". Eu podia ter me feito de difícil, mas, não perderia a chance de estar mais perto dele, e imediatamente, respondi: "Eu adoraria!". voltou na sala, pegou nossas mochilas, e saímos da escola, rumo à sorveteria... Esse dia é inesquecível!
ficou cada vez mais próximo de mim, e consequentemente, de e também. Com toda essa proximidade, veio a confiança e um segredo. Segredo esse que durou 3 meses.
Insisti para que me contasse, porém ele não quis, então tentei com minhas amigas e elas me contaram cada detalhe. Ai delas se não me contassem! O segredo era que, me pediria em namoro na noite do baile. Sim, ele já tinha me chamado para o nosso Baile de Formatura e eu não pude e nem quis recusar.
Capítulo 2
Enfim, o grande dia chegou! Meu cabelo tinha um penteado lindo, mas estava preso, para não tirar a atenção da maquiagem que, não era tão forte, mas também não fraca. O vestido era verde com detalhes bem delicados, enfeites bem discretos, mas que valorizava cada curva do meu corpo e minha sandália era de cor prata.
usava o cabelo de lado com um enfeite discreto. Sua maquiagem era forte, mas não tirava o glamour do seu vestido, que era roxo com detalhes também delicados, mas que a deixava com uma aparência bem mais madura, apesar de seu rosto de menininha. Sua sandália era de cor preta.
O penteado de possuía uma linda trança embutida com enfeites prateados sobre. Sua maquiagem era bem leve, dando destaque ao seu vestido azul turquesa, com detalhes elegantes e sua sandália era da cor de sua pele.
Como era amigo de Travis e Nick, os namorados de e , fomos todos juntos para o baile. Assim que chegamos no colégio, os olhares foram voltados para nós. Eu não gostava de muita atenção, mas aquela noite foi uma exceção.
Depois de algumas horas, Travis e foram indicados e nomeados rei e rainha do baile. Eles ficaram radiantes!
e Nick pareciam estar num mundo só deles, quando cantaram Sweater Weather para os casais dançarem no lugar da valsa.
Eu e estávamos dançando no corredor, porque queríamos ficar afastados da bagunça. Começou a tocar Everybody, e eu quis voltar para o ginásio, mas praticamente, me arrastou até a sala de teatro e trancou a porta.
Fiquei o olhando, sem entender sua atitude de andar pela sala, pensativo, até se aproximar de mim e me surpreender com um beijo. Segundos depois, me se afastou um pouco, olhou em meus olhos e disse: , sei que ficamos amigos há pouco tempo. Mas, estou completamente apaixonado por você e não consigo mais esconder isso! Agora que você já sabe... Você aceita namorar comigo?".
O encarei, estática e fiquei lembrando de todas as vezes que ele me fez sorrir, do quanto ele me fazia bem e do quanto eu gostava dele. Fixei meu olhos nos seus, engoli em seco e respondi: "Sim, . Eu aceito namorar com você!". Ele sorriu, abobalhado e me beijou mais uma vez. O beijo foi tomando intensidade e aconteceu..
Depois de me conscientizar sobre a gravidade das consequências do nosso ato, me levantei, rapidamente, e já estava me vestindo. se levantou, vestiu-se e perguntou: ", o que houve?". Não o respondi, destranquei a porta e corri até a entrada do colégio, veio atrás de mim e segurou meu braço. Estava prestes a dizer algo, mas, não o dei tempo para isso. "Sei que é estranho, mas, estou confusa e tudo o que mais quero agora é ir para casa!". Eu disse, o fazendo franzir o cenho. Ele assentiu, sem entender minha reação e fui embora.
Duas semanas depois do baile, eu já tinha me resolvido com . Apesar de ainda me torturar com alguns pensamentos negativos sobre aquela noite, nada aconteceu, estávamos bem, até minha mãe me contar que meu pai tinha sido transferido para outra cidade e teríamos que nos mudar. Não queria ficar longe das minhas amigas e do meu namorado. Tudo bem que a faculdade iria nos afastar por um tempo e sabíamos disso, mas não queria que esse dia chegasse. Infelizmente, não pude fazer nada quanto a isso, e três meses depois, me mudei.
Para diminuir minha tristeza, , e eu fomos aceitas na mesma universidade, que ficava na minha nova cidade. Conversei com minha mãe e meu pai e pedi para as meninas morar conosco. Eles impuseram suas regras e concordaram. Os meninos foram aceitos em universidades diferentes, e foi quem mais ficou distante, porém, ainda nos encontrávamos... Até ele pedir transferência para uma universidade em outro país, ficar lá por tempo indeterminado e eu perder totalmente contato com ele.
Capítulo 3
No primeiro dia de aula na faculdade tive um mal-estar. Na mesma semana tive outro mal-estar e, apesar de ter sido apenas um susto, professor Chang me liberou de sua aula, garantindo que eu não ganharia falta, então, fui embora. O que eu não esperava era encontrar minha mãe em casa, já que estava no horário de trabalho. Mal adentrei a casa e ela já ordenou: "Você passa mal na faculdade, não me fala nada e ainda tenho que ficar sabendo pelo seu professor, que ainda teve a consideração de ligar e me avisar sobre seus desmaios. Vamos agora mesmo para o hospital!".
Assim que cheguei no hospital, fui direto para a sala de exames. Aguardamos 1h até o médico chegar com os resultados e... BOOM! " , você está grávida. Meus parabéns! Sei que essa notícia é muito emocionante, mas precisamos fazer uma ultrassonografia agora mesmo! Não se assuste, é só para sabermos como está a saúde do seu bebê".
Não entendia como eu podia estar grávida! Estava sem ver há um tempo e mesmo assim, não tínhamos tempo nem em pensamento para fazer algo que resultasse numa gravidez. Mas, me lembrei do que fizemos na noite do baile de formatura, e a consequência do nosso ato foi essa, um bebê.
Fui para uma sala assustadora e fiz os exames. Descobrimos que eu já estava com 4 meses e esperando uma menina.
Voltamos para casa e minha mãe ligou para o meu pai, que estava no trabalho e pediu para ele sair cedo porque tinha um problema gigantesco para resolver. Meu pai chegou e minha mãe deu a notícia à ele. Primeiro ele me deu um tapa no rosto para eu nunca esquecer, depois ficou me encarando com uma expressão triste e jogou na minha cara a minha irresponsabilidade. Minha mãe só fazia chorar e me lançar um olhar de decepção. Ficaram tão desapontados comigo, que desejei nunca ter tido nada com . Tarde demais!
No fim, não fui morta pelos meus pais, mas decepcionei demais eles, e isso me dói até hoje. Meu pai só dirigia a palavra à mim para exigir que eu encontrasse com para contar sobre a gravidez, porque ele não pagaria as despesas sozinha e eu não tirava a sua razão. Mas como eu perdi o contato com e, da última vez que nos falamos ele estava para viajar e não sabia quando voltaria, tive que trancar minha matrícula e arrumar um trabalho para ajudar minha mãe com as despesas do bebê.
Claro que e me ajudaram em tudo que eu precisasse, mas a responsabilidade era minha, e no último mês de gestação, foi tudo mais complicado. Então, conversei com minha mãe e com as meninas, expliquei que não estava mais conseguindo trabalhar, elas compreenderam e continuaram me ajudando.
Num dia de sábado, estava voltando do mercado com e , quando senti uma pontada abaixo da barriga, um líquido escorrer entre minhas pernas e dor, muita dor. dirigiu até o hospital e ligou para minha mãe no meio do caminho e eu sentia dores cada vez mais fortes. Mal chegamos no hospital e já fui levada à sala de parto. Me prepararam, rapidamente, e o doutor Kim disse para que eu fizesse força, e assim fiz. Mas, havia algo errado, pois já havia passado um bom tempo, eu continuava fazendo força e nada do bebê vir. Os obstetras olhavam para o relógio, preocupados e doutor Kim fazia de tudo para me acalmar. Já não aguentava mais e doutor Kim disse para eu continuar, porque o bebê já estava vindo e na última vez que forcei, nasceu.
Quando a enfermeira me trouxe ela, tive medo de machucá-la, mas o medo logo passou quando a segurei em meus braços. Foi a melhor sensação da minha vida! Ter a minha princesa em meus braços e ver seu rostinho pela primeira vez.
Capítulo 4
Sabe aquela princesinha linda de quem eu falei? Essa mesma, a . Está completando seus 16 anos hoje. Ela não é do tipo de menina que sonha em ter uma "Sweet 16", mas como era tradição em nossa família, minha mãe a obrigou a fazer. Claro que ela relutou, mas com jeitinho eu a convenci.
– MÃEE... - me gritou do seu quarto.
– Está me gritando por quê? - eu perguntei, enquanto ia até seu quarto, fazendo-a rir.
– Também te amo, mamãe! - ela disse, sorrindo debochada, enquanto levantava da cama.
– Fala logo, filha. Ainda tenho zilhões de coisas para organizar antes da sua festa.
– Nem me fale dessa festa, você sabe que eu não queria isso! Poxa mãe, mil vezes fazer uma viagem com você, Lauren e Jake. - ela choramingou. E confesso que partiu meu coração ver sua carinha de choro.
– Filha, eu sei que você não queria essa festa. Mas pensa, você vai deixar sua vovó tão feliz, sua mamãe também, seu vovô vai vir só para te ver, seus amigos estarão lá e você vai gostar. - eu disse insegura. Essa menina tem um gênio forte, é igualzinha ao avô.
– Mãe, não apela! Eu vou fingir felicidade durante toda a festa, mas só porque amo vocês. - ela disse, cruzando os braços e fazendo uma carinha emburrada.
– Aw, vem cá minha linda. - disse a abraçando forte. – Nem acredito que minha princesa está fazendo 16 aninhos! Parece que foi ontem que vi esse rostinho de boneca pela primeira vez...
– Mãe, você vai me quebrar. - ela disse, tentando se soltar. – Tá me sufocando. - continuei a apertando. – Não vai me soltar, não é? Ai! Acho que você quebrou uma das minhas costelas, não vai dar pra curtir a festa com tanta dor. Teremos que cancelar!
– Você venceu! - ergui os braços em sinal de rendição. – Agora, vai para o banho que daqui a pouco o pessoal tá chegando. Hoje você vai precisar de cabeleireira, manicure e pedicure, maquiadora...
– Já entendi! A cambada vai chegar daqui a 10 minutos, okay. Vou para o banho. - ela disse, entrando no banheiro.
– Qualquer coisa grita, estarei na cozinha. - disse, saindo do quarto.
– MÃEE...
– , se você me gritar mais uma vez eu...
– TE AMO. - ela gritou, novamente, fazendo meu coração derreter.
– Aw, eu também te amo, meu amor. - disse, invadindo o banheiro.
– MÃE, SAI DAQUI! - ela gritou me empurrando em direção à porta.
– Não sei por que está desesperada. Já te vi assim muitas vezes, ou você esqueceu que não nasceu sabendo tomar banho e se trocar sozinha? - disse, com uma sobrancelha arqueada.
– Eu não nasci sabendo, porém, ao longo dos anos eu fui aprendendo. Muito obrigada por ter cuidado de mim, mas agora eu já sei tomar banho, sozinha. - bateu a porta na minha cara.
– Crianças... - eu disse, saindo do quarto. Mas, pude ouvi-la gritar "eu ouvi isso, hein".
Capítulo 5
Eram sete da noite quando recebi uma ligação da minha amiga de trabalho, dizendo que a decoração da festa era perfeita e estava ansiosa para ver . Comecei a ficar nervosa, porque todos nós deveríamos estar lá às 19:30h, mas minha filha ainda estava se maquiando e nem o vestido havia colocado.
– Se acalme! As festas nunca começam no horário planejado. Eu duvido muito que algum convidado vá embora sem antes comer um docinho. - minha mãe disse, me fazendo rir.
– Aw, mãe. Só você para me fazer rir num momento como esse. - falei, dando-lhe um abraço.
– Vai dar tudo certo! – tentou me acalmar, dando-me um beijo na bochecha.
– Tia , o carro que vai levar a chegou. - Jake avisou sorridente.
– Ok. Faz-me um favor, tudo bem? - ele assentiu. – Diga à e que eu já vou tirar o carro da garagem e que se elas não descerem em 3 minutos, vão perder a carona.
– Que maldade! - dei de ombros. – Mas seria engraçado. - ele saiu, rindo.
Fui até o quarto onde minha filha se vestia e me despedi. Ainda estava um pouco chateada por ela querer apenas Lauren e Jake na limusine. Oras, sou a mãe dela. Eu deveria estar ao lado dela o tempo todo, ainda mais neste momento tão especial. Mas deixei passar, afinal, ela nem queria essa festa. Só estava tentando agradar a mim e a avó.
Chegando à festa com minha mãe, meu pai, e minhas duas amigas; pude ver como a decoração ficou exatamente como imaginei. Cumprimentei alguns familiares distantes, alguns amigos da família, amigos de ... Até ver um convidado que fez tudo a minha volta sumir por segundos.
– , está estranha assim por quê? - perguntou ao notar.
– É ele. - eu respondi, já perdendo o ar.– É ele quem? Por que você está assustada? - dessa vez indagou, com uma expressão preocupada. Olhou na mesma direção em que eu olhava e viu o homem sorridente com Travis e Nick. – Não acredito! O que ele está fazendo aqui?
– E agora, o que eu faço da minha vida? - perguntei nervosa. Porém, minhas amigas não souberam responder.
– Filha, a chegou. - minha mãe avisou, fazendo meu desespero aumentar. – O houve com você?
– Mãe, o está aqui na festa. - surtei, e pude notar o espanto em seu rosto.
Minha mãe ia dizer algo, mas minha filha adentrou o salão, fazendo a atenção de todos se direcionarem a ela. Seu vestido era longo. Os detalhes prata estavam sobre o corpete rosa choque com listras azuis; tinha decote coração e abaixo da cintura havia babados das mesmas cores. Seu cabelo estava preso e desgrenhado, com uma pequena coroa do lado direito da cabeça. Sua maquiagem não era pesada, mas também nada discreta. Minha garotinha era uma verdadeira princesa!
Olhei de relance para e percebi que ele me observava. Imediatamente, voltei meu olhar para a aniversariante. Ela sorriu para mim e estendeu seu braço, mas, quando eu estava indo ao seu encontro, fui surpreendida por .
– ? Quanto tempo! - ele sorriu, largamente e me olhou de cima a baixo. – Você está lin...
– Mãe, até que essa festa não está tão chata. Você tinha razão quando disse que eu gostaria dela. - o interrompeu e me abraçou.
– Você tem uma filha? – o homem me olhou espantado. – Espera, essa festa é de 16 anos e sua filha é a aniversariante. Há 16 anos nós éramos namorados... - ele franziu o cenho. – , você me traiu?
– Quem é esse cara? O que ele está falando? – a adolescente perguntou confusa.
– Depois te explico! E , esse não é o momento para conversarmos sobre isso. - eu disse, tentando acalmar a situação.
– Nada disso! Quero saber dessa história agora. – minha filha exigiu, cruzando os braços.
– Agora não é o momento! Depois da festa nós conversamos. - retruquei, decidida.
– Mas, mãe...
– , eu disse depois. - encerrei o assunto e fui ao banheiro.
Isso não pode estar acontecendo! Depois de tanto tempo escondendo da essa história, ele aparece. E justo hoje.
– Amiga? - apareceu atrás de mim. – Você contou para eles?
– Esperem! - correu até nós. – Também quero saber.
– Não, eu não contei nada. Nem sei como vou fazer isso... - fechei os olhos e respirei fundo.
– É claro que sabe! - encarei , incrédula. – Você vai chamar eles agora e contar tudo. - ela disse, me empurrando até à porta.
– É fácil falar, não é mesmo?
– Amiga, só estamos querendo te ajudar! Sabemos que não é fácil para você, estamos acompanhando essa história desde... Desde sempre. - falou, me fazendo suspirar.
– É complicado, mas, será um alívio para você. E no fim, estarão todos felizes e com suas vidas resolvidas. - dizia, sorridente.
– Vocês acham? - perguntei ainda insegura.
– Certeza! - responderam em uníssono.
– Obrigada, meninas. Vocês sempre estiveram ao meu lado, não é mesmo!? Sempre me ajudando, me apoiando, puxando minha orelha... - nós rimos. – Mas sempre ao meu lado. Vocês são as melhores! - nos abraçamos.
– Agora vá! - me empurrou e a repreendeu com o olhar. – Que foi? Se ela não for agora vai perder a coragem. - se defendeu.
– Verdade. Vá logo! - dessa vez, era quem me empurrava.
Capítulo 6
Fui até a pista de dança procurar por
, mas ela não estava lá. Fui ao jardim e encontrei-a sentada, na beira da piscina. Ela estava com uma expressão triste. Caminhei devagar até ela e me sentei ao seu lado.
– Filha? - ela não respondeu. – Fala comigo, meu amor. - virei seu rosto para mim e reparei que seus olhinhos estavam vermelhos.
– Então aquele homem era seu namorado, você o traiu e engravidou? - perguntou sem me olhar.
– , não é nada disso!
– Então, me explica. - ela disse simples.
– É complicado.
– Você sabe que eu sempre compreendi muito bem as coisas. Se me explicar, tentarei entender o seu lado. - me encarou.
– Tudo bem. - respirei fundo e comecei. – Sabe aquele barbudo que falou comigo no meio do salão? - ela assentiu. – Ele é o cara por quem eu me apaixonei loucamente no ensino médio. Ele era um gato! - ela fez careta. – Na noite do nosso Baile de Formatura, ele me pediu em namoro e acabou rolando. - arregalou os olhos, surpresa.
– Vocês são rápidos, hein! E logo com aquele barbudo? Que nojo! - simulou vômito.
– Ele não estava barbudo no dia do baile! E mesmo se estivesse, teria ficado lindo. - sorri, relembrando aquele dia.
– Tá, mãe! Continua. - deu-me uma cotovelada, fazendo-me despertar.
– Agressiva! - ela deu de ombros. – Continuando... Eu, sua avó, e viemos morar aqui em Trainsturn dois meses depois do baile. vinha me visitar, raramente. Mas, ele viajou por tempo indeterminado e nunca mais nos vimos... Até hoje. E no primeiro dia na faculdade, eu me senti mal e fui para casa. Chegando lá, sua avó me obrigou a ir ao hospital fazer exames, e...
– É incrível como minha avó gosta de nos obrigar a fazer o que ela quer. - disse, revirando os olhos.
– Bom, não deixa de ser verdade. - rimos. – Mas, isso foi bom! Fiz os exames, descobri que estava com 4 meses de gravidez e esperava uma menina... No caso, você! - ela franziu o cenho. – Tranquei a faculdade e comecei a trabalhar. No último mês de gestação minha barriga cresceu tanto, que tive que largar o emprego. Depois você nasceu e foi a maior felicidade da minha vida!
– Então, esse barbudo...
– É o seu pai. - eu disse de uma vez e ela pareceu ficar em choque.
– O quê? E-eu não sei o que dizer! Nossa! Eu...
– Me desculpe, filha. - pedi, deixando uma lágrima rolar.
– Essa história é bem rápida e louca!
– Filha, eu sei que errei em não te contar, mas...
– Mas nada! Você foi muito egoísta! - ela me encarou, com os olhos cheios de raiva. – Você só pensa em si mesma!
– ISSO NÃO É VERDADE! - gritei, nervosa e se encolheu. – Desde quando descobri a minha gravidez tudo que faço é pensando em você! Eu nunca te contei sobre isso, porque achei que você sofreria menos se não soubesse de nada. Eu jamais faria algo para te entristecer! - eu já não conseguia mais conter as lágrimas e também. – Filha, eu também sofri. No momento que eu mais quis ter ao meu lado, não pude tê-lo, e isso foi triste demais, porque eu não pude nem dizer a ele que teríamos um bebê. - enxuguei as lágrimas que teimavam em cair. – Não existe culpado nessa história, simplesmente aconteceu!
– Ainda não sei o que dizer. - disse, sincera.
– Eu sei, meu amor! Desculpa ter escondido essa história de você por tanto tempo.
– Por mais que eu não seja a filha sentimental que um dia você sonhou ter, eu sempre quis ter um pai. - ela disse quase num sussurro.
– Filha, eu não tive muito tempo para sonhar, porque você chegou muito rápido na minha vida. Mas nem se eu tivesse sonhado todas às noites, teria imaginado que seria mãe de uma princesa tão linda quanto você! - ela engoliu o seco e eu beijei o topo de sua cabeça.
– Ele nem imagina, não é? - perguntou em relação a .
– Não. No momento, ele acha que eu o traí. - me encarou. – Não fica assim, meu amor. As coisas vão se resolver!
– Promete? - ela perguntou, chorosa e eu a abracei.
– Every word I say is true, this I promise you... - cantarolei, enquanto afagava seu cabelo.
– Não sabia que você cantava. - ela disse, franzindo a testa.
– Nem eu! - confessei, fazendo sorrir de lado. – Vamos voltar para a festa?
– Não quero vê-lo.
– Não deixe que as coisas da vida a entristeça, princesa. Hoje é o seu dia, divirta-se!
– Estou sem ânimo, mãe. Só quero ir pra casa! - disse sincera, me fazendo a abraçar forte.
– Desculpa ter acabado com sua noite. Realmente, não foi minha intenção!
– Eu sei. - ela respondeu baixo. – Acho que fui injusta com você.
– Você não sabia de nada, meu anjo.
– Pode soar falso, mas, apesar de tudo, eu te amo. - ela se afastou para me olhar. – Você é minha mãe e nada vai mudar isso! Sei que tentou proteger os meus sentimentos, só não deu certo. - assenti.
– Oh, filha. Você não sabe o quanto tentei... Mas de nada valeu.
– Valeu a sua intenção. - sorri de lado. – Palavras nunca irão descrever o amor que eu sinto por você! - a apertei num abraço e beijei sua bochecha.
– E agora como vai ser? - ela perguntou receosa.
– Eu não sei, meu amor. - enxuguei suas lágrimas. – Mas, vamos encarar juntas! - nos levantamos e seguimos até o centro da festa.
Capítulo 7
Chegando ao meio do salão, veio em minha direção.
– Amiga, retoca a maquiagem da , por favor. - pedi e assentiu.
– Não precisa! Estava querendo mesmo que todo aquele pó saísse do meu rosto. - respondeu e correu em direção à Lauren e Jake.
– Pela carinha de choro, você contou para ela. - suspeitou e eu assenti. – Tenta relaxar agora. - minha amiga me abraçou forte e foi de encontro à Travis.
Vi meus pais em uma das mesas e fui me sentar com eles. Senti alguém puxar meu braço, levemente e me virei para ver quem era... .
– Uma dama linda e especial como você não deveria ficar aqui apenas olhando os outros se divertirem. - ele estendeu sua mão. – Vem dançar comigo?
– Desculpa, , mas não estou no clima.
– Vai, filha. - minha mãe, disse. – Você ainda é jovem, vá se divertir! - ela me deu uma piscadela.
– Quem é esse? - meu pai perguntou, olhando feio para .
– Querido, deixe a . Nossa filha já está bem grandinha! - disse minha mãe, fazendo meu pai bufar.
– Tudo bem, mas que seja rápido! - eu disse, num tom de ordenança e assentiu, sorrindo.
Chegamos à pista e abriram espaço para nós. Desejei que ficasse por mais tempo na área de jogos, porque não queria que minha filha me visse dançando com , enquanto ela sofre com a notícia que recebeu. Mas, deixei um pouco os pensamentos longe disso tudo e por um momento, senti que tinha voltado aos meus 17 anos. Como se o DJ tivesse atendido ao meu pedido, mentalmente, começou a tocar Dancing Queen. De repente, me abraçou e todo aquele sentimento guardado há anos, estava borbulhando dentro de mim.
– You are the dancing queen, young and sweet, only seventeen... - cantarolou. – Dancing queen, feel the beat from the tambourine. You can dance, you can jive, having the time of your life. See that girl, watch that scene, dig in the dancing queen. - se afastou. – Toda vez que ouço essa música, lembro de você. - disse, fixando seus olhos nos meus.
– É sério? - perguntei animada, fazendo-o rir. – Eu amo essa música, você sabe! - disse, envergonhada.
– Sei sim. - sorriu.
– , está pedindo para terminar a festa. - nos interrompeu.
– Que horas são?
– 02:55H. - respondeu, olhando no seu relógio de pulso.
– Já? - perguntei, espantada e ela assentiu. – Tudo bem. Alguns convidados já foram embora mesmo. - disse, dando de ombros.
– CRIANÇAS, FIM DE FESTA! - gritou, fazendo os jovens reclamarem. – Palavras da titia aqui. - apontou para mim.
– Me desculpe, meus amores. Mas a titia aqui precisa descansar. - os jovens bufaram e silabou um "obrigada".
– ? - me chamou. – Vou ali falar com Travis e Nick.
– Okay! - ele sorriu e se afastou.
Fui ao banheiro dar um "jeitinho" no cabelo antes de ir para casa. Saindo de lá, corri em direção à .
– Estávamos te esperando! Vai levar as sobras?
– Não, isso vai me atrasar mais. Quero chegar logo em casa! - respondi, sincera.
– Então, vamos. - seguimos até a porta principal.
– Espera! já foi?
– Acha mesmo que ele iria embora sem se despedir de você? - arqueou uma sobrancelha. – Ele está te esperando.
Fomos para a garagem e todos já estavam em seus carros.
– , eu vou com o Nick, tá? - assenti. – A festa foi incrível, estava linda. - disse, me abraçando.
– Obrigada pela ajuda. - ela sorriu e correu até o carro de Nick. – A foi embora sem falar comigo mesmo? - perguntei e assentiu. – Diga para aquela cabrita que depois nós conversaremos seriamente! - ela riu e entrou no carro.
– Te vejo em casa, mãe. - disse e fechou a porta da limusine.
– ? - meu pai me chamou.
– Obrigada por ter vindo, pai. - o abracei.
– Por que achou que eu não viria? - perguntou, dando tapinhas nas minhas costas. – Leve a minha neta lá em casa!
– Vou ver um dia em que a não tenha aula.
– Só não espere suas férias acabar para ir, como fez ano retrasado. - ele disse, irônico.
– Vai me lembrar disso toda vez que me chamar para visitar vocês? - ele revirou os olhos. – Ano retrasado ficou doente nas minhas férias, ela só melhorou quando voltei a trabalhar.
– Tá ok, . Não adianta falar mesmo! - fez drama. – Se precisar de algo, me ligue. - beijou o topo da minha cabeça.
– Não quero te causar aborrecimentos. - abanei a mão.
– Sou seu pai e estou mandando você me ligar! - ele colocou o dedo indicador na ponta do meu nariz.
– Querido, nossa filha é uma mulher ocupada! - minha mãe disse, me abraçando.
– E eu não sei? Nem para me ligar ela tem tempo. Mas isso é só porque estou velho! - meu pai bufou e saiu em direção ao seu carro.
– OKAY PAI, EU TE LIGO. - gritei, mas ele fingiu não escutar.
– Não liga para ele. - minha mãe pediu e eu assenti. – Estava tudo tão lindo! Aw, minha neta é uma princesa mesmo. - ela disse sorridente.
– Obrigada, mãe. Se não fosse pela sua insistência, essa festa jamais teria acontecido. - rimos.
– Não precisa agradecer! - abanou sua mão. – é dramática e difícil, igualzinha ao avô! Porém, tem um coração de ouro. - minha mãe acariciou meu rosto. – Você fez um ótimo trabalho como mãe!
– Mas sem a sua ajuda eu não saberia o que fazer. - nos abraçamos.
– É claro que saberia, filha! - ela sorriu. – Agora eu já vou indo. Cuide-se! - me abraçou, mais uma vez e foi em direção ao carro.
Olhei tudo a minha volta procurando por uma pessoa, mas não vi ninguém, então desisti. Quando estava prestes a entrar no carro, senti pela terceira vez naquela noite, um leve puxão no meu braço.
– Achou mesmo que eu iria embora sem me despedir de você? - repetiu a pergunta que havia me feito minutos atrás.
– Não sei. Você sumiu! - eu disse, sem graça.
– É verdade! Sumi por 16 anos... - ele riu sem humor.
– Não diga isso como se fossem apenas alguns dias, ! - falei, sem pensar. – Você sumiu por 16 longos anos.
– Eu sei. - ele disse cabisbaixo. – Mas, agora que te reencontrei, não quero me afastar de você novamente! - engoli o seco.
– Acho que você perdeu sua carona. - desconversei, olhando ao meu redor.
– Não tem problema, eu pego um táxi. - respondeu, dando de ombros.
– Vai ficar onde?
– Na verdade, não tenho lugar para ficar. - franzi o cenho. – Eu só vim porque reencontrei Travis há umas três semanas e ele me chamou para essa festa. Nem sabia que o Nick viria. Só sabia que você estaria lá. - fixou seu olhar nos meus olhos.
– Entendi. - pisquei algumas vezes. – Quer que eu ligue para o Travis e avise que você vai para a casa dele? - ele assentiu.
Fiquei 10 minutos tentando ligar para Travis e , e nenhum deles me atendeu. Tentei falar com e Nick também, porém, eles só vivem com os celulares desligados.
– Me desculpe, mas eu desisto de tentar! - desliguei o celular e ele assentiu.
– Tudo bem, eu me viro!
– Bem, na minha casa tem um quarto de hóspedes, você pode passar essa noite lá. - supliquei mentalmente, para que ele não aceitasse.
– Tem certeza? - perguntou, receoso e eu assenti, mas querendo negar. – Então, eu vou, sim. - forcei um sorriso e entramos no carro.
Calamo-nos a partir do momento em que adentramos o carro, e até chegar a casa, não dirigimos uma palavra ao outro.
Estacionei o carro na minha garagem e saímos, adentrando a casa.
– Só não repara a bagunça que fizemos antes de ir para a festa. - eu disse, enquanto trancava a porta.
Ele reparava em todos os cômodos do primeiro andar, mas com olhar de admiração. Subi alguns degraus, porém, nem percebeu.
– Quer tomar uma ducha? - ele sorriu malicioso e subiu. – Pode parando de sorrir assim! Esse é o quarto de hóspedes, e seu banho você toma aqui, sozinho. - ascendi a luz.
– Desculpa! - ele pediu e fez uma linha com a boca.
– Vou te deixar à vontade. Qualquer coisa pode bater na porta ao lado. - me virei em direção à porta, mas me segurou.
– Sei que está sendo generosa me deixando passar a noite aqui, depois de tanto tempo sem me ver. Mas você sabe que precisamos conversar, não é mesmo? - perguntou receoso.
– Sim. - dei um longo suspiro. – Mas hoje não, tá? Estou muito cansada e, acredito que você também esteja. - respondi sincera. Ele soltou meu braço e eu saí.
Fui para o meu quarto e tirei minhas roupas, mas lembrei de dizer a
que as toalhas estavam no armário. Vesti a camisola mais comportada que tenho e voltei ao quarto de hóspedes.
Sem bater na porta, abri.
– Se quiser toal... - não consegui terminar a frase.
estava apenas de cueca boxer e me olhou, surpreso, até reparar na minha roupa e seu olhar se tornar malicioso.
Tentei não reparar em seu corpo incrivelmente definido, sem sucesso! Se aproveitando da situação, foi se aproximando devagar. Logo fixou o olhar em meus lábios e deu mais alguns passos à frente, acabando com a distância entre nós.
Colocou sua mão direita em minha nuca e foi me levando para trás, até me prensar na parede. Pousou sua mão esquerda em minha cintura, aproximou ainda mais seu rosto, e prestes a me beijar, se afastou.
– O quê? Por que voc... Esquece! - bufei de raiva e andei a passos duros até a porta.
– Nós até podemos... Mas, eu não quero ouvir depois "Sei que é estranho, mas, estou confusa e tudo o que mais quero agora é que você saia da minha casa!". - ele disse, afinando sua voz, tentando me imitar e me deixando com mais raiva.
– Eu não tenho mais 17 anos, ! - eu disse nervosa.
– Mas iria se comportar como se tivesse. , eu te conheço. - ele arqueou uma sobrancelha.
– Não, . Você não me conhece mais! - me encarou, mas dei as costas para ele.
Fui ao quarto de para saber se estava tudo bem e vi ela com metade do corpo fora da cama, Lauren por cima dela e Jake de cabeça para baixo no pequeno sofá. Peguei a câmera dentro do meu armário e para tirar uma foto deles. Sorri sozinha ao analisar a imagem. Pendurei a câmera no pescoço e desci até a cozinha para beber água. Não me incomodei com a escuridão, pois a luz da lua, que invadia a janela, iluminava o cômodo.
Tirei a jarra da geladeira, peguei um copo no armário, despejei água nele e bebi. No terceiro gole, tomei um susto com e me engasguei.
Ele correu até mim e deu tapinhas nas minhas costas.
– Quer me matar? - perguntei, recuperando o fôlego.
– Me desculpe, não foi minha intenção! Eu vim beber água também.
– Tudo bem. - me afastei dele.
– Mãe? - parou na escada ao ver . – O que ele tá fazendo aqui? - perguntou nervosa.
– Ele não tinha lugar para ficar, então o convidei para dormir aqui em casa. - respondi receosa e ela me olhou com desespero.
– Fica tranquila, é só por hoje! - disse .
– Você sabe como estou me sentindo, porque fez isso? - ignorou e me encarou, triste.
– Me descul... - não esperou eu responder e foi para o seu quarto.
– , se for melhor para você, eu posso ir embora. - disse e ficou me olhando com receio.
– Pode ficar. Amanhã eu converso com ela. - o olhei e ele assentiu. – Beba sua água.
Fui para o meu quarto e tomei um banho demorado. Não queria ter tempo para pensar em tudo o que aconteceu então me sentei na cama, com o notebook em mãos e fiquei pesquisando sobre alguns psicólogos. precisaria de um, com certeza.
Tentei insistir em não pensar em como contaria à que é sua filha e como ajudar com seus sentimentos, porém não consegui. Desliguei o notebook, me deitei e fiquei rebobinando em minha mente toda a história, desde quando conheci até eu contar à quem ele é. Sinto-me culpada por ter escondido dela quem era o seu pai, mas foi o que achei certo fazer.
Fui ao banheiro para lavar meu rosto, na tentativa de me fazer esquecer essa história, pelo menos, por uma noite. Deitei-me novamente, mas demorei alguns minutos, até ser vencida pelo sono.
Capítulo 8
– Mãe? Tá viva?
– Estou sim, filha. Como passou a noite? - perguntei, me sentando.
– Bem. Vim te chamar porque são 13:30h e você ainda tá aqui, o que não é normal.
– O quê? 13:30h? - perguntei incrédula.
– 13:31h agora. - ela respondeu, olhando para o relógio em cima do criado-mudo.
– Nossa! Não é normal mesmo eu acordar tão tarde, mesmo sendo domingo. - dei um pulo da cama. – Eu estava muito cansada. Ainda estou, pra falar a verdade.
– Vou para o meu quarto. - já ia saindo.
– Filha, já foi embora? - ela me encarou, com uma sobrancelha erguida.
– Nem passei pelo quarto de hóspedes, justamente, pra não ver ele. Só saí do meu quarto pra te acordar, caso ele precise de algo, você dá assistência. - engoli o seco.
– Prepare o almoço. - ela arregalou os olhos.
– O quê? Você que acorda tarde e sobra pra mim? - perguntou, indignada.
– Pra começar, você não faz mais que a sua obrigação! Eu te ensinei a cozinhar e você faz isso muito bem, deixe de ser preguiçosa. - ela bufou. – E eu estou com muita dor de cabeça.
– Se ele aparecer, eu não vou saber como agir. - percebi sua aflição ao se referir à .
– É só o tempo de eu tomar banho e descer. Prometo que será rápido! - sorri e ela suspirou.
– Não quero ver ele!
– Eu sei que não, mas uma hora ou outra...
– Mãe, eu realmente tô com medo do que vai acontecer. - fez uma carinha de choro.
– Já disse que enfrentaremos isso, juntas! - a abracei forte e ela suspirou, fazendo meu coração palpitar. – Se não quiser descer...
– Não, tudo bem. - ela se afastou. – Eu preparo o almoço, pode tomar seu banho.
– Tem certeza? - assentiu. – Okay.
– Só não se esqueça de uma coisa - franzi o cenho, sem entender. – Escove seus dentes! - ela abanou a mão perto do nariz, fazendo careta e a lancei um olhar mortal. Saiu do quarto rindo. Engraçadinha!
Peguei minha roupa no armário e entrei no banheiro. Tomei uma ducha rápida, o que não é de costume, mas eu precisava descer logo. Vesti um short jeans branco e uma camiseta azul safira, escrita: "Super Mom".
Desci para ver a gororoba que estava fazendo e a encontrei de touca e avental.
– Está como uma verdadeira dona de casa. - bati palmas a provocando. – Já pode casar.
– Deus me livre!
– - apareceu na cozinha, arrumado. se descontrolou e derrubou alguns legumes. – Agradeço por ter me hospedado na noite passada, mas nós...
– Disponha. - interrompi, sem o olhar.
– Não tente fugir! Está passando da hora de conversarmos. - o encarei.
– , pode nos dar licença?
– Até posso. Mas, não quero.
– Não vou perguntar de novo.
– Que bom, porque eu não vou sair daqui! - me aproximei dela. – Você disse que estamos juntas nessa.
– Vá agora para o seu quarto e só saia de lá quando souber usar os bons modos que eu te ensinei! - subiu batendo os pés como um soldado raivoso. – Vamos para a sala.
– Pode começar. - o encarei. – Quando você quiser, claro!
– Você se lembra do nosso Baile de Formatura?
– Como poderia me esquecer? Eu te pedi em namoro naquela noite.
– Então, você lembra que nós... - o lancei um olhar significativo e ele sorriu malicioso.
– Claro! Nossa primeira noite juntos. - mordeu o lábio inferior e eu desviei o olhar de sua boca.
– Dois meses depois do baile, eu me mudei e entrei para uma universidade na cidade. No primeiro dia de aula, senti náuseas e enjoos muito fortes, cheguei a desmaiar. - ele franziu o cenho. – Minha mãe me obrigou a ir ao hospital mais próximo e eu fiz alguns exames.
– O que você tinha? - respirei fundo.
– Descobri que estava grávida. - arregalou os olhos.
– Como grávida? Eu já tinha viajado.
– Eu sei, mas...
– Você me traiu?
– Não! Claro que não! - cocei a cabeça. – Engravidei na noite do Baile de Formatura, só que...
– Você perdeu a criança? - neguei com a cabeça. – , me explica essa história direito.
– , eu tive o bebê.
– Mas então onde... Espera! - engoli o seco. – Está tentando me dizer que...
– A é sua filha. - respirei fundo, esperando por sua reação.
– O quê? Isso é loucura!
– Não, é a verdade.
– Isso não tem cabimento! Como tem coragem de inventar algo do tipo?
– , estou dizendo a verdade!
– Você me traiu e quer que eu assuma a filha de outro.
– Eu nunca te traí! - me aproximei dele. – , acredite em mim.
– Vou acreditar no exame de DNA. - ele se afastou.
– Lembra quando o Nick deu aquela festa para comemorarmos nossa entrada na universidade? - assentiu, bufando. – Quando estava me levando para casa, você me contou que sua bisavó tinha uma manchinha de nascença na nuca, que parecia uma folha de uva. Você até me mostrou uma foto.
– O que está querendo dizer, ?
– tem uma manchinha de nascença na nuca, exatamente como...
– Agradeço a hospedagem, mas agora preciso ir. - ele saiu rápido, mas eu o segui.
– Estou dizendo a verdade - parou no portão. – é...
– Sua filha, . Sua. - se virou para mim. – Não faço ideia de quem seja o pai, mas com toda certeza, não sou eu!
– Por que não acredita em mim? - não consegui conter as lágrimas.
– Foi bom rever você, .
– VAI SUMIR NOVAMENTE? - gritei, mas ele me ignorou. – E QUAL SERÁ A DESCULPA DESSA VEZ?
Não consegui conter o choro e adentrei a casa em prantos. Queria poder colocar toda aquela dor para fora em forma de lágrima, mas eu precisava ver minha filha.
Fiquei alguns segundos no corredor tomando coragem para ir conversar com
. Tentei abrir a porta do seu quarto, mas estava trancada.
– Filha, vamos conversar? - ouvi o barulho de algo quebrando. – , o que foi isso?. - bati forte na porta.
– Mãe, eu quero ficar sozinha! Será que posso? - ela disse, num tom agressivo.
– Não pode, não. - bati na porta novamente.
– Para com isso, eu não vou abrir.
– Não fale comigo nesse tom, garota!
– Então pare de me encher, droga! - bufei de raiva e fui para o meu quarto.
Tomei um banho bem demorado, na tentativa de relaxar, e precisei do meu remédio para dor de cabeça, porque tinha aumentado. Eu não queria chorar, novamente, mas estava realmente difícil.
não acreditar em mim está doendo mais do que quando ele viajou, mas eu o compreendia, em partes.
Me virei para o outro lado da cama e adormeci, devido ao efeito calmante do remédio.
Acordei sentindo cheiro de queimado e quando dei por mim, meu quarto estava infestado de fumaça preta. Dei um pulo da cama e tentei correr até o quarto da , mas a fumaça tomou conta de tudo e eu mal conseguia respirar e enxergar as coisas à minha frente. Fui recuando rápido e cheguei à cozinha, onde a fumaça mais se concentrava, então corri para a rua e já avistei alguns bombeiros, junto è eles estava .
– Eu tentei ir ao quarto da minha filha, mas está tudo tomado pela fumaça e eu nem consegui chegar. - disse ao bombeiro que se aproximou.
– ! - me abraçou. – Você está bem?
– Faremos o possível para salvar a menina, senhora! Agora, peço que se afaste.
– Will, entre na casa e retire a menina de lá! Os outros já estão indo para cessar o fogo. - um homem ordenou ao que falava comigo. – Senhora, sabe o que pode ter ocasionado o incêndio?
– Eu não sei, minha filha estava preparando o almoço e depois... - arregalei meus olhos e empurrei .
– HOMENS, SEJAM RÁPIDOS! HÁ RISCO DE EXPLOSÃO! - o mais velho gritou e meu coração acelerou ainda mais.
– Eu sinto muito! - se pronunciou.
– CALE A SUA BOCA! EU NÃO QUERO OUVIR A SUA VOZ AGORA!
– Por favor, .
– SAI DE PERTO DE MIM! - gritei, descontroladamente. – A CULPA É TODA SUA!
Me afastei de todos e sentei na calçada, chorando intensamente.
– Senhor, não pode passar dessa faixa. É perigoso. - ouvi um dos bombeiros dizer e levantei minha cabeça. Um homem impedia de ultrapassar a faixa, mas não foi o suficiente. Ele correu até a casa.
– NÃO! - gritei. – AI MEU DEUS!
– Senhora, você precisa de cuidados. - outro bombeiro disse.
– EU SÓ PRECISO DA MINHA FILHA E DO PAI DELA AQUI COMIGO!
– Por favor, senhora... - me afastei, ignorando o homem. Sentia dificuldades para respirar, mas eu não queria dizer nada.
Depois de algum tempo, eu não aguentava mais aquela espera, alguns bombeiros diziam que não teriam como prosseguir. Eu ficava cada vez mais preocupada, não havia sinal de e nem de .
– Capitão, pelo tempo, já era pra ele ter retornado. - eu disse, me aproximando.
– Ele cometeu suicídio!
Na mesma hora, avistamos com desmaiada em seus braços. Não controlei o choro e quase pude sentir um alívio no coração, até ele se aproximar do portão e a casa explodir.
Capítulo 9
Eu estava em um quarto, fazendo nebulização, quando vi um médico passando pelo corredor. Pulei da cama e corri atrás dele.
– Doutor, como está minha filha? E o pai dela?
– ainda está inconsciente, mas por conta dos medicamentos. Acredito que em breve ele se recuperará, o caso dele não foi tão grave, mas precisamos saber como está seu pulmão e como ele reagirá sem os remédios.
– E quanto à minha filha? - respirei fundo.
– O caso é mais delicado. - cocei a cabeça, deixando uma lágrima escapar. – Por favor, peço que tenha calma.
– Desculpe, mas isso é pedir demais!
– Tenho um filho de 17 anos, também ficaria louco se algo acontecesse com ele, novamente, então eu posso compreender sua preocupação. Mas preciso ser sincero com você. - engoli o seco. – foi quem mais sofreu neste incêndio. A fumaça que ela inalou era tóxica e quente, por isso sofreu queimaduras internas e está respirando com a ajuda de aparelhos. - senti uma tontura forte. – Está tudo bem com você?
– Não, eu não estou bem.
– Não devia ter saído do quarto, você também inalou muita fumaça e precisa de nebulização. - estava com dificuldade para respirar. – Venha, vou te levar de volta.
O médico me ajudou a chegar ao quarto e eu me deitei, tornando a fazer nebulização.
– Obrigada. - ele sorriu fraco. – Por favor, continue falando sobre .
– Ela está com um ferimento profundo no pulso direito, parece ter sido causado por vidro ou algo do tipo. Fizemos uma sutura, mas ela perdeu muito sangue e isso agravou ainda mais seu quadro.
– Minha filha deve estar sofrendo muito.
– Não mais - arregalei os olhos. – Assim que chegou, nós fizemos a sedação, que é um coma induzido.
– Coma induzido? Vocês induziram o coma dela? - eu já me preparava para reclamar.
– Foi necessário! precisa de ventilação mecânica, seu pulmão não está bem e seu corpo está frágil, ela sentiria dores fortíssimas - respirei fundo.
– Ela corre risco de vida?
– Não quero que fique mais preocupada.
– Sem rodeios, por favor! - eu disse impaciente.
– Nos casos mais graves, como o dela, sempre há possibilidade do paciente vir a óbito.
– Mas isso não vai acontecer! - eu disse, me descontrolando. – é forte e vai resistir, não é mesmo?
– Por favor, se acalme.
– Eu quero vê-la! - me alterei, saindo da cama e correndo pelo corredor do hospital, procurando pelo quarto de . – EU QUERO VER MINHA FILHA, AGORA!
– ? - me puxou pelo braço e eu parei.
– corre risco de vida. - pus as mãos na cabeça, enquanto chorava desesperadamente. – Eu posso perder a minha filha.
– Isto é verdade? - pediu confirmação.
– Eu sinto muito, mas há esta possibilidade.
– O que está acontecendo? - se aproximou.
– Nós faremos o possível para que...
– Eu não quero mais te ouvir! - toquei em seu peitoral com o dedo indicador e arqueei uma das sobrancelhas. – Tudo que você vai fazer agora é me levar até !
– ALGUÉM PODE TRAZER UM TRANQUILIZANTE PRA ESSA LOUCA? - uma mulher saiu de um dos quartos gritando e, foi o suficiente para eu partir pra a violência.
– É A SUA FILHA QUE ESTÁ EM COMA? É A SUA FILHA QUE CORRE RISCO DE VIDA? - fechei minhas mãos em seu pescoço. – RESPONDA!
– N-não. - respondeu quase num sussurro.
– , pare! - pediu, tentando me afastar.
– ENTÃO NÃO OUSE CHAMAR DE LOUCURA A MINHA DOR! - depositei ainda mais força nas mãos, enquanto chorava de raiva.
– Isso vai ajudar. - fui puxada, repentinamente, para longe da mulher e vi uma das enfermeiras, segurando uma seringa. Olhei para o médico que ainda me segurava.
– Não deixe que eles façam isso comigo, por favor! - pedi, desesperada.
– É para o seu bem, . - tentei me soltar, mas falhei.
– ? ? Não permitam isso! - elas me olharam, chorosas.
Enfermeiros se aproximaram de mim e injetaram um líquido estranho em meu braço.
– NÃO! POR QUE ESTÃO FAZENDO ISSO COMIGO? - tentei me debater, porém eu já não tinha mais firmeza em minhas pernas e tudo ficou escuro à minha frente.
Acordei no mesmo quarto que havia feito nebulização, vi e conversando.
– Como ela está? Eu quero vê-la! - já ia saindo da cama, mas me empurrou, fazendo-me deitar, novamente.
– Se acalme! está se recuperando. - disse, segurando minhas mãos.
– Meu coração está tão apertado. - eu disse, chorando.
– Podemos imaginar, mas vamos pensar positivo, ok? disse, indo em direção à porta.
– O que você vai fazer? - perguntei, franzindo o cenho.
– Chamar o médico. - ela respondeu, saindo do quarto.
– Acho que vou surtar! - bufei.
– Na verdade, você já surtou. - riu fraco.
– Fui desrespeitosa com alguém?
– Sim, com várias pessoas. - arregalei meus olhos. – Você chegou a agredir uma mulher.
– Está brincando! - ela negou com a cabeça. – Quem é essa mulher? Quem são as outras pessoas?
– Acompanhante de um paciente idoso, o médico da sua filha e os enfermeiros que te acalmaram. Mas, foi incômodo para todos no hospital. - fiz uma careta, demonstrando a minha insatisfação com minha atitude.
– Que vergonha! Preciso desculpar-me com todos.
– Já fizemos isso por você - ergui as sobrancelhas e assentiu. – Todos compreenderam a sua situação, exceto a mulher que te chamou de louca.
– Agora estou me lembrando. - suspirei, lembrando-me da mulher e da raiva que senti ao ouvir suas palavras. – Estou muito envergonhada!
– Você só não soube lidar com as notícias, acontece. -
– Vejo que já está mais calma. - o médico disse, assim que adentrou o quarto.
– Doutor, eu quero me desculpar pelo constrangimento que causei a todos.
– Nós já nos encarregamos de fazer isso, fique tranquila. - assenti. – Está pronta para ver ?
– Mesmo? - ele assentiu.
– Não é o que você tanto quer? - concordei. – Então, vamos.
Passamos pelo corredor e entramos em um elevador, que nos deixou quase em frente ao quarto.
Quando adentramos, me deparei com
intubada, cheia de aparelhos e totalmente incapaz de tudo. Senti como se meu coração estivesse se despedaçando.
– Bom, vou deixar vocês a vontade. Qualquer coisa me chamem o mais rápido possível, tudo bem? - assentimos.
– Olhem como ela está fraca, desprotegida - me aproximei de . – Minha filha não merecia passar por isso!
– , quer ficar sozinha com ela? - perguntou.
– Vocês se importam?
– De maneira alguma! Qualquer coisa, estaremos na recepção. - respondeu, me dando um beijo na bochecha.
– Obrigada. - sorri para elas e tornei a olhar . – Oh, minha pequena! Eu preferia estar em seu lugar, só para não te ver assim.
– Desculpe voltar agora - o médico adentrou o quarto. – Preciso verificar a pressão arterial dela.
– E como está? - perguntei aflita.
– Um pouco baixa, mas estamos observando, fique tranquila.
– Peço desculpas mais uma vez, pela forma como tratei você e as outras pessoas. - ele me olhou. – Pode parecer que não, mas estou muito grata por tudo que estão fazendo por minha filha. Dá para perceber o quão ela está debilitada, é visível! - me emocionei, ao voltar meus olhos à . – Mas está sendo bem cuidada.
– Faremos tudo que estiver em nosso alcance para ela se recuperar logo!
– Eu acredito nisso. - sorri fraco e ele se retirou.
Continuei a observando e segurei sua mão direita, com um curativo.
– Minha princesa, por que fez isso com você? Cortar o pulso, filha? - beijei sua mão. – Eu não quero te perder, meu amor. Eu nem gosto de pensar nesta possibilidade! - acariciei seu rosto pálido. – Fique bem logo, meu anjo. Eu te amo tanto.
– Desculpe, mas poderia nos dar licença? Precisamos fazer mais alguns exames na paciente. - um dos enfermeiros pediu.
Olhei mais uma vez para e me retirei.
Segui para a recepção, encontrando minhas amigas.
– - olhei na direção da voz, era o doutor. – Pelo tempo que você esteve sobre o efeito do tranquilizante, não houve nenhum tipo de complicação na respiração, mas você ainda precisa ficar em observação.
– Isto quer dizer que ela deve voltar para o quarto? - perguntou.
– Sim.
– Podemos ficar com ela? - perguntou.
– Bem, vocês ainda estão no horário de receber visitas, podem sim.
Elas me acompanharam até o quarto e eu me deitei, após sentir uma tontura.
– Amiga, conte o que aconteceu. - pediu.
– passou a noite lá em casa. - elas arregalaram os olhos. – Sei o que estão pensando, mas não aconteceu.
– Ele já sabe de ? - perguntou e eu assenti. – E ela já sabe dele?
– Contei a ela na festa.
– Você não devia ter feito isso! Não na festa! - disse séria. – Por isso ela ficou tão desanimada e quis ir embora.
– , você tinha que ter contado aos dois, juntos. - disse , calmamente.
– É, acho que fiz besteira. - assentiu. – Por que está assim?
– Porque você fez uma besteira das grandes e eu nem sei como te ajudar, só por isso! - ela andou pelo quarto. – é uma menina com gênio forte, não vai...
– , se acalme! - pediu. – também é sensível e emotiva, vai entender as razões da .
– Ela já me perdoou por ter escondido a verdade, mas não sabe como agir. está realmente confusa.
– Travis fez muito mal em chamar para esta festa.
– Tenho certeza que foi com a melhor das intenções. Travis é como um pai para ela, jamais faria algo para magoá-la. - eu disse.
– tem razão, amiga. - concordou e se aproximou de mim.
– Desculpa - respirei fundo. – Eu estou muito abalada com tudo isso e fui um tanto egoísta, não pensei em como você está se sentindo. - ela enxugou algumas lágrimas de seu rosto. – também é como uma filha pra mim e eu só quero que ela se recupere logo. Vamos pensar apenas na melhora dela, ok?
– Acho que fiz besteira atrás de besteira.
– Por que diz isso? perguntou preocupada.
– Eu contei a sobre .
– E o que ele fez? - se empolgou.
– Foi embora, sem nem se despedir.
– Mas ele não disse nada? - foi a vez de .
– Disse... Que eu o traí, porque não é filha dele. - respirei fundo. – Depois de 16 anos, longe um do outro, foi como se ele nem tivesse sentido a minha falta. - elas se entreolharam. – Eu fui ao quarto da para saber como ela estava e ouvi o barulho de algo quebrando, mas ela não quis falar comigo. Eu estava chateada e com raiva de mim mesma, o que me resultou num aumento de dor de cabeça, fui para o meu quarto e tomei um remédio que me fez dormir rápido, quando acordei só vi fumaça. - fechei meus olhos, lembrando a cena. – Eu tentei ir ao quarto da minha filha, mas não consegui. Saí de casa e encontrei com os bombeiros, o culpei por tudo que estava acontecendo e ele entrou na casa para tentar salvar .
– Eu não acredito que ele duvidou de você! - disse, visivelmente indignada. – Eu sei que você está se sentindo culpada, mas não fique assim. Tentar salvar a filha era a obrigação dele naquele momento!
– Não queria admitir, mas está certa, então não se sinta culpada. - olhei para . – Foi um gesto muito bonito da parte dele tentar tirar da casa.
– Com licença, desculpe interromper - o médico adentrou o quarto. – Mas o horário de visitas acabou.
– Tudo bem.
– Quer que eu ligue para os seus pais? - tirou o celular de sua bolsa.
– Não, agora não.
– , não é certo esconder isso deles.
– Eu só estou preservando a saúde deles! Agora venham me abraçar.
– Amanhã eu volto, com o Nick. Ele quer muito ver vocês. - disse, caminhando até a porta.
– Travis também virá, ok? - assenti. – Fique bem!
– Você tem boas amigas! - o médico disse e eu sorri fraco. – Agora descanse e use o nebulizador, talvez você receba alta amanhã, depois de mais alguns exames.
– Obrigada. - ele saiu do quarto e eu me virei, dormindo em seguida.
Acordei com uma enfermeira abrindo a janela, a claridade logo incomodou meus olhos.
– Ah, me desculpe - ela se virou para mim. – O médico disse que seria bom você acordar bem cedo e sentir a brisa.
– Tudo bem, eu agradeço.
– Daqui a pouco ele vem te ver. Agora, se me der licença, tenho que medicar alguns pacientes. - sorri, em agradecimento.
Eu queria poder usar minhas roupas, mas lembrei-me que perdi todas no incêndio. Não tive escolha, tomei um banho bem rápido e vesti a roupa do hospital, em seguida, fui até a janela e fiquei admirando a vista e aproveitando o ar puro da manhã. Ouvi o barulho da porta se abrindo, mas nem me movi, sabia que era o médico.
– Espero não estar incomodando. - olhei para o lado e ele sorriu para mim.
– De maneira alguma. - dei espaço para ele se achegar à janela.
– Como se sente hoje?
– Não sinto tanta dificuldade para respirar.
– Isso é muito bom.
– Mas meu coração ainda está apertado. - olhei para ele, esperançosa. – teve alguma melhora?
– Bem, ainda estamos a observando...
– Por favor, seja sincero. - ele assentiu e desviou seu olhar da janela para mim.
– Ela ainda não apresentou melhora - apertei meus olhos para não deixar as lágrimas escaparem. – Seu quadro ainda é grave, mas precisamos manter a esperança.
– Agradeço pelo seu cuidado com minha filha.
– Não só por ela, mas também por você - ele passou a mão no meu rosto. – Vejo o quanto está preocupada e isso me comove. - sorri fraco e me afastei da janela, envergonhada por seu gesto.
– Já posso receber alta? - sentei-me na cama.
– Talvez depois de mais alguns exames, uma equipe de enfermeiros virá para te dar assistência. - assenti. – Agora eu vou ver como está seu marido. - ele se retirou.
“Seu marido”. Há anos atrás, eu sonhava em ter como marido, realmente. Até fazíamos planos, mas tudo mudou e eu não espero que isso aconteça agora, minha prioridade é e, se ele não aceitá-la, então manterei distância.
– Com licença, faremos alguns exames em você. - suspirei, enquanto entravam no quarto. – Está pronta? - assenti.
Passadas duas semanas do ocorrido, eu já tinha recebido alta, mas não saí do hospital, para ficar com , ainda não tinha visitado e me sentia mal por isso.
– - Nick adentrou o quarto. – Como ela está? Dei uma fugidinha do trabalho para vê-la.
– O médico disse que seu organismo está recebendo bem os remédios.
– E quanto ao coma? Já faz duas semanas. - Nick observava .
– Eu não sei - olhei para ele. – Às vezes ela mexe os olhos, aperta minha mão, mas nada além.
– Antes de voltar ao trabalho vou conversar com o médico. - ele disse firme.
– Só não o ameace ou algo do tipo. - ele me olhou, indignado. – Não me olhe assim, eu te conheço!
– Só quero que ele saiba que nos preocupamos.
– Você se preocupa até demais. - nós rimos.
– é minha princesinha - ele beijou a testa dela. – Tenho que zelar por sua vida.
– Nick, pode ficar com ela pouquinho pra mim?
– Vai ver ?
– Eu já devia ter feito isso! - ele assentiu.
Saí do quarto tão rápido, que acabei esbarrando em alguém no corredor.
– Nossa! - olhei para a pessoa e arregalei os olhos, ao perceber que suas mãos se encontravam em minha cintura. Ele me soltou, enquanto coçava a cabeça.
– Desculpe. - o médico disse. – Eu estava meio distraído.
– Não, tudo bem - sorri fraco. – Doutor...
– Por favor, me chame pelo nome.
– Desculpe a ignorância, mas eu ainda não sei como você se chama. - mordi o lábio e ele riu.
– Samuel Henderson. Mas, por favor, me chame de Sam.
– Ok, Sam. - ri, envergonhada. – Será que eu posso conversar com agora? É que eu não quero atrapalhar o trabalho de vocês. - ele me olhou, confuso. – , o...
– Seu marido. - Sam ficou sério, repentinamente.
– Na verdade, ele é só o pai da minha filha. - eu afirmei e ele ergueu as sobrancelhas. – Posso entrar?
– Claro! Sem problemas! - assenti e adentrei o quarto.
Para minha surpresa, encontrei com uma mulher, que não aparentava ser uma das enfermeiras.
– ? - me chamou, quando eu estava prestes a me retirar.
– Pensei que estivesse sozinho, desculpe.
– Esta é Carly, uma amiga dos tempos da faculdade.
– Prazer, Carly - forcei um sorriso para a mulher. – Eu sou...
– , a mãe da menina que quase perdeu a vida tentando salvá-la, por desencargo de consciência.
– Como é? - ergui as sobrancelhas.
– Você está querendo forçar a assumir paternidade da filha de outro homem para não desconfiarem de sua traição. - ela revirou os olhos. – Confesse!
– A única coisa que vou confessar, e isso é bem verdade, é que eu estou prestes a meter a mão na sua cara! - ela deu um passo para trás. – Primeiro, você não tem que tomar as dores de , acredito que ele já tenha maturidade suficiente para saber lidar com as situações da vida. Segundo, você não sabe nada sobre nós dois e o que vivemos, e muito menos sobre a minha vida, que não te diz respeito. Terce...
– Sei sim. Mais do que você imagina!
– , o que ela está falando?
– Diz logo pra ela que tivemos um relacionamento assim que você se mudou para o campus da universidade. - ele desviou o olhar. – Diz também que recusou todas as oportunidades que teve de ir visitá-la para me levar à casa de seus pais ou você ir a minha.
– O quê? - meus olhos já queriam marejar. – Isso é mentira, não é?
– , precisamos conversar com calma.
– Então é verdade. - engoli o choro e respirei fundo. – Quer saber, não me importa.
– Você não queria conversar comigo?
– Sim, eu vim para isso. Queria pedir desculpas por não ter vindo te visitar durante essas duas semanas, queria agradecer pelo que fez por , queria tentar esclarecer alguns fatos do passado... - o encarei. – Mas agora tanto faz!
Eu me recusei a ouvir qualquer tentativa de explicação e a continuar na presença daquela mulher. Não merecia isso! De forma alguma!
Voltei ao quarto de
, quase tombando a porta.
– , o que é isso? - Nick se assustou.
– Desculpe, Nick! Eu estou nervosa!
– Percebi. - ele veio em minha direção. – O que houve?
– Descobri que é um babaca!
– Explica isso.
– Olha, Nick. Eu não consigo nem falar sobre isso agora, estou muito nervosa.
– Respire fundo, vou buscar um calmante pra você.
Olhei para minha filha e me relembrei de tudo que fiz por ela, sozinha, sem a ajuda do pai. Tudo porque o imbecil não quis me ver, não quis me visitar... Tenho certeza que, se ele tivesse me procurado, tudo teria sido diferente. Tudo.
– , seu amigo me chamou e pediu calmantes - Sam parecia preocupado. – É algo com ?
– Não é nada com ela.
– Então o que houve?
– Estou muito aborrecida e não quero falar sobre isso. Não agora. - ele assentiu.
– Tudo bem, mas tome esse remédio. Ele vai te relaxar.
– Obrigada. - Nick adentrou o quarto.
– Preciso voltar ao trabalho agora, amanhã eu volto para ver minha princesinha. - ele disse, beijando a testa de . – virá mais tarde com e Travis.
– Obrigada por ter ficado com ela, Nick.
– Não foi nada. - o abracei. – Fique bem, tá? - sorri e ele saiu.
– Sam, Nick conversou com você?
– Sim, ele me fez muitas perguntas sobre sua filha - Sam se aproximou de . – Ele quer saber quando iremos retirá-la da sedação.
– Quando?
– Queremos ver se ela reagirá aos testes, mas até agora não houve respostas.
– Mas ela já forçou os olhos, apertou minha mão.
– Nick me falou e eu gostei de saber disso! - ele me olhou. – Se ela continuar assim, em breve a retiraremos da sedação.
– Espero que não demore. - beijei a mão dela e acariciei seu rosto.
– Adoraria ficar te fazendo companhia, mas preciso dar alta a um paciente.
– Tudo bem, não quero atrapalhar o seu trabalho.
– Você nunca atrapalha! - ele sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. Retribui o sorriso, enquanto ele se retirava do quarto.
Sentei-me na poltrona de frente para a cama de e fiquei a observando, até eu adormecer.
– - acordei assustada. – Que sono pesado, hein!
– Que susto, ! Credo! - olhei em volta do quarto e só tinha ela. – Você não viria com Travis e ?
– saiu cedo do trabalho para visitar a mãe.
– O que aconteceu?
– Ela caiu no banheiro enquanto tomava banho e fraturou a perna esquerda. -
me olhou com as sobrancelhas erguidas. – Quando vai contar para os seus pais?
– Eu não sei, eles estão viajando.
– Não acredito que você vai usar isso como desculpa pra não contar a eles o que aconteceu! - eu fiz que não com a cabeça. – , eu te conheço.
– Esqueça isso. - ela bufou. – Por que Travis não veio?
– Ele veio, mas está com . - revirei os olhos ao ouvir o nome dele. – O que houve?
– Eu não quero te encher com assuntos relacionados à .
– Já estou envolvida com esses assuntos há anos - ela se sentou ao meu lado. – Conte tudo.
– O babaca contou a uma amiga dele de faculdade sobre e ela disse que eu estou o forçando a assumir paternidade da filha de outro homem, pra não descobrirem a minha traição.
– Quem essa vagab...
– O pior não é isso! - cocei minha cabeça. – Ela disse que deixou de me ver para levá-la a casa dos pais dele ou na casa dela.
– Filho da... - ela respirou fundo, e olhou para . – Se ele tivesse voltado pra te ver, tudo teria sido diferente.
– Eu sei. Mas agora não importa mais e, eu só quero distância dele.
– A minha vontade é... - Travis entrou no quarto.
– Por que está tão brava? - me olhou e eu fiz que não com a cabeça. Travis veio me abraçar. – Como você está?
– Já estive melhor.
– Vai melhorar! - ele sorriu. – E ?
– Está na mesma, mas o médico ainda precisa de tempo para retirá-la da sedação.
– Mais tempo? Ela já está assim por tempo demais!
– Travis, o médico sabe o que é melhor para , no momento! - disse .
– Tem razão.
Quase terminando o horário de visitas, chegou.
– e Travis já foram?
– Sim. - ela assentiu. – Como está sua mãe?
– Por sorte não vai precisar de cirurgia. Acredita que ela caiu porque estava dançando no banho?
– O quê? - nós rimos. – Ela sempre foi muito agitada, tente entender.
– Ela parece criança, isso sim!
– O importante é ela se recuperar logo.
– Por falar em recuperação, se você quiser, eu fico aqui com a hoje.
– Não, imagina se vou te dar esse trabalho!
– Que trabalho? só está recebendo cuidado dos médicos e enfermeiros, no momento. Eu nem vou me esforçar, pode ir para o meu apartamento.
– Mas...
– O Nick vai dormir na casa dele, nós já tínhamos conversado.
– E se...
– , pare de arrumar desculpas! - ela ergueu a mão. – Eu sei que não quer sair de perto da sua filha, mas você precisa descansar.
– Eu só temo que algo de ruim aconteça, novamente, e eu não esteja perto dela.
– Eu te entendo, amiga - me abraçou. – Mas na sua ausência, eu sou a mãe da .
– Espere só até te ouvir falando isso. - nós rimos. – Tudo bem, eu vou para a sua casa.
– Aqui estão as chaves - ela tirou da bolsa. – Só não se esqueça de alimentar meu filhote.
– Aquele sanguinário. Tinha até me esquecido dele.
– Dino é só um cachorrinho agitado, não fale assim dele! - revirei os olhos. – Vai com o meu carro e dirija com cuidado.
– Pode deixar. - dei um beijo em minha filha. – Obrigada, amiga.
– Não precisa agradecer! Você sabe que pariu , mas o cuidado com ela também é responsabilidade minha. - ergui as sobrancelhas. – Eu falo sério!
– Eu sei, boba. - a abracei. Não demorou muito para eu sair do hospital.
Enquanto dirigia, coloquei Wannabe para tocar, havia tempos que não escutava e eu precisava me distrair um pouco, nem que fosse por minutos.
Não demorou muito para eu chegar ao apartamento de
. Assim que entrei, Dino se jogou em cima de mim. Ele até é um cachorro amigável, mas sanguinário quando quer. Me recompus, mas deixei a bolsa jogada no chão, abri a geladeira certa de que teria sorvete,
sempre compra. Peguei um pote pela metade e me deitei no sofá, ligando a TV.
Passaram-se 40 minutos do filme e eu já sentia sono, acho que pelo efeito do remédio. Fui para o quarto de
e peguei um de seus pijamas, entrei no banheiro e afundei meu corpo na banheira quente e espumada.
Demorei um pouco no banho, porém me senti mais leve e relaxada. Aproveitei essa reação do meu corpo para deitar-me, logo adormeci.
No dia seguinte, acordei mais dispostas, não queria que nada abalasse o meu psicológico. Ouvi o latido de Dino e lembrei-me que eu não tinha o alimentado,
me mataria se soubesse. Peguei uma de suas roupas no armário, ela não se incomodaria de qualquer forma, ainda mais sabendo que é caso de necessidade.
Saí do banho e fui até a cozinha, peguei uma caneca, despejando suco de laranja. Prestes a dar a primeira golada, meu celular tocou.
.
– O que houve? - perguntei preocupada.
– Nada de ruim! - suspirei aliviada e bebi o suco.
– Você me assustou ligando tão cedo, achei que o pior tinha acontecido.
– Na verdade aconteceu algo, sim - pus a mão no peito.
– Fale de uma vez, !
– acordou. - ao ouvir a notícia, me engasguei. – ? Está tudo bem? – Quando foi que isso aconteceu? - perguntei, recuperando o fôlego.
– Pela madrugada, agora estão fazendo novos exames nela.
– E como ela está?
– Eu não sei, ainda não pude vê-la. - corri para pegar a ração de Dino. - Quando você vai vir para o hospital?
– Agora.
– Dirija com cuidado! Beijos. - finalizei a chamada.
Peguei minha bolsa, que estava no chão da sala desde a hora em que eu cheguei e corri para o quartinho de Dino, ele mal esperou eu misturar sua ração com leite e já foi devorando tudo. o acostumou a comer dessa forma.
Já estava dentro do elevador, quando uma senhora entrou, me lançando um olhar de compaixão.
– Bom dia, jovem.
– Bom dia.
– Está tudo confuso demais, não é mesmo? - franzi o cenho e ela me olhou. – Pode estar complicado agora, mas tudo irá se resolver! - arregalei os olhos.
– Como assim, senhora? Eu nem te co...
– Eu sei, querida - ela sorriu. – Você só precisa deixar as coisas acontecerem, é tudo uma questão de tempo.
– Senhora, qual é o seu nome?
A porta do elevador se abriu e ela saiu na frente, sem me responder. Fiquei a observando até lembrar que precisava ligar para o taxista, me virei para olhá-la, novamente, mas não a vi.
Carlitos chegou em 15min e me levou até o hospital, rapidamente.
– Muito obrigada, Carlitos! - o paguei, permitindo que ficasse com o troco.
– Qualquer coisa é só me ligar.
– Bom saber, porque eu devo precisar de táxi por mais um bom tempo. - eu disse, enquanto saía do veículo e ele riu.
– Desejo melhoras a . - assenti e afastei-me.
Adentrei o hospital, indo direto ao balcão.
– Olá! Bom dia. - sorri para a recepcionista. – Vim visitar a paciente .
– Bom dia. - ela sorriu, gentilmente. – Não sei se a senhora poderá subir agora, o horário de visita é apenas pela tarde.
– Puxa! - suspirei, sentindo-me frustrada.
– Mas acho que não terá problema, já que a senhora é mãe da paciente. - ela fez uma ligação e eu esperei, pacientemente. – Pode subir! - sorriu simpática.
– Obrigada. - corri até o elevador e subi.
Chegando ao corredor, vi minhas amigas e meus pais.
– O que fazem aqui? Não estavam viajando?
– Minha neta foi vítima de um incêndio, que resultou numa explosão, entra e sai de um coma induzido e você não nos avisa? - meu pai estava realmente nervoso. Eu ia tentar me explicar, mas ele não permitiu. – É melhor você nem abrir sua boca se for para inventar desculpas sem cabimento! O que pensou que estava fazendo quando nos escondeu algo tão grave?
– Acalme-se, querido!
– Não vou me acalmar coisa nenhuma! - ele disse a minha mãe. – Você sempre encobriu os erros da menina e olha o resultado disso.
– Querido, já é uma mulher. - minha mãe disse firme – E cabe a ela tomar as decisões que achar melhor para sua vida.
– Não é bem assim! Se não fosse a para nos ligar e contar a verdade, continuaríamos achando que estava tudo bem, enquanto nossa neta estava quase morta. - olhei para minha amiga, mas ela abaixou a cabeça.
– Desculpe, pai. As coisas aconteceram rápido demais, depois da festa.
– , fique quieta! Eu não quero ouvir sua voz. - arregalei os olhos. – Já está sendo difícil olhar para você.
– Mas eu sou sua filha, tente me entender!
– Querido, está exagerando.
– Não estou, não! - meu pai aproximou-se de mim. – Você lembrou que é minha filha quando estava quase morrendo naquela cama, enquanto eu e sua mãe estávamos numa viagem e todas as vezes que nós ligávamos preocupados, você dizia que estava tudo bem? - minhas lágrimas foram caindo sem eu perceber.
– Assim que a explosão aconteceu, nós viemos para o hospital. Eu já acordei em um dos quartos e não sabia o estado de , depois que falei com o médico, tive um surto e precisei ser sedada, fiquei assim até o dia seguinte. Passaram-se duas semanas, tive preocupações e aborrecimentos aqui dentro do hospital, percebeu o meu estado de esgotamento físico e mental, e me deixou passar a noite no apartamento dela. Hoje cedo ela me ligou dizendo que tinha acordado, eu não perdi tempo e aqui estou. - respirei fundo. – Não contei nada a vocês porque eu sabia que deixariam de curtir a viagem e ficariam aqui comigo o tempo todo, não seria justo.
– Filha, é claro que ficaríamos aqui com vocês! Meu Deus do céu! - minha mãe abraçou-me. – Vocês são meus amores!
– Mãe, por favor - limpei meu rosto e afastei-me do abraço – Eu que sou mais nova já estava no meu limite, imagine vocês como ficariam.
– E ainda está nos chamando de velhos - meu pai bufou.
– Minha intenção era poupar vocês, pelo menos até acordar.
– Você conseguiu! - disse meu pai. – Já até vimos ela.
– Querido, por favor! - minha mãe lançou o seu típico olhar de reprovação ao meu pai e ele se afastou. – Conseguimos ver , de longe, mas fomos expulsos pelos enfermeiros.
– Como conseguiram ficar aqui? As visitas são permitidas apenas pela tarde.
– Você não conhece o meu poder de persuasão? - minha mãe ergueu uma sobrancelha. – Filha, como eu e seu pai voltamos agora da viagem, precisamos descansar um pouco.
– Entendo. Mas se vocês puderem voltar à tarde.
– Sim, nós voltaremos - ela sorriu. – É que eu preciso de um tempo para os meus pés desincharem.
– Desculpe, mais uma vez.
– Está tudo bem, o durão aqui é o seu pai.
– Decepcionei ele, mais uma vez.
– Não é bem assim, ). Ele compreende as suas razões, só está chateado. - ela me abraçou. – Mais tarde eu volto.
Minha mãe foi se afastando e se aproximou.
– Tudo bem - a olhei. – Já era para eu ter feito isso.
– Mas eu não tinha esse direito, desculpe-me.
– Pelo menos agora eles sabem - ela entortou a boca. – Não quero que você fique se sentindo mal por isso!
– Vou tentar não ficar. - nós rimos. – Queria muito ficar e ver , mas preciso trabalhar.
– Claro, eu entendo.
– Não sei se vou conseguir voltar ainda hoje - ela pegou sua bolsa. – Mas eu dou um jeito de voltar amanhã.
– Obrigada por ter ficado aqui com . - ela abanou a mão.
– Não precisa agradecer! Esse é o trabalho de uma segunda mãe. - eu ri.
Fiquei mais um bom tempo esperando por notícias de , mas nada. Vi Sam se aproximar.
– , como está?
– Muito ansiosa para ver minha filha! - confessei e ele sorriu.
– Ela está bem, na medida do possível. - franzi o cenho. – Seu quadro ainda é delicado e necessidade de bastante cuidado.
– Ah sim, eu compreendo. - forcei um sorriso.
– Não fique assim, ela vai se recuperar logo!
– Assim espero. - suspirei – Posso vê-la, agora?
– Sim.
Segui Sam até o quarto de , assim que adentrei, não consegui segurar a emoção.
– Filha - me aproximei, mas estava inconsciente. – Ela não estava acordada?
– Ela ainda está sobre o efeito da sedação.
– Mas é estranho, ela estava acordada há poucos minutos. - olhei para Sam, aflita.
– Sua filha só está dormindo, ). - eu engoli o seco. – É até melhor para a recuperação dela.
– Então por que a tiraram do coma? - cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha.
– O estímulo espontâneo de sua respiração estava entrando em conflito com o estímulo dos aparelhos, por isso aumentamos os sedativos. - olhei para minha filha.
– A minha vontade é de gritar - passei a mão pelo rosto. – Mas não farei isso em respeito a .
– Eu espero que você possa compreender. Além do sedativo, ela precisa de analgésico.
– O que eu posso fazer por ela, agora? - olhei para Sam.
– Continue acompanhando a sua recuperação de perto, acredito que ela sinta a sua presença. - assenti. – Preciso atender outro paciente, te vejo mais tarde.
Assim que Sam saiu do quarto, tornei a olhar para e fiquei a observando durante um longo tempo.
Fiquei lembrando-me de tudo que aconteceu antes do incêndio, e depois também. Senti-me culpada. Como se já não bastasse a culpa de ter escondido de que ela tem um pai, carregarei para sempre a culpa de ter feito minha filha sofrer tanto, física e mentalmente.
Capítulo 10
Depois de dois meses,
deixou o hospital e seguia com sua recuperação em casa. Ainda não estava totalmente bem, mas o suficiente para estarmos aliviados do pior não ter acontecido. Precisei voltar ao trabalho e a maioria do tempo de
era com minha mãe, que cuidava dela enquanto eu não podia. Eu ainda não tinha o suficiente para comprar uma nova casa, e nem recuperar tudo que perdemos, por isso ficamos na casa dos meus pais. No início foi difícil para mim e
, mas até que ela está gostando.
Era quarta-feira de manhã, eu já estava no trabalho e recebi uma ligação da minha mãe.
– Oi, mãe. Aconteceu algo?
– está reclamando de dificuldade na respiração.
– É só ela fazer uma nebulização.
– Tem certeza, filha? Não acha melhor levar ela ao hospital?
– Não acho que seja necessário. - mordi o lábio, olhando minhas anotações. – Sam disse que seriam comuns essas sensações de falta de ar, mas com uma nebulização aliviaria.
– Tudo bem, ). - suspirei calmamente, enquanto ouvia minha mãe. – Depois vou dar um chiclete de menta para ela, pode ser que também alivie a sensação de asfixia.
– Até porque, pode ser apenas a ansiedade excessiva dela. - olhei para a janela aberta. – Tenho que continuar o meu trabalho, mas qualquer coisa me ligue.
– Pode deixar. Bom trabalho! - ela finalizou a chamada.
O telefone comercial tocou, sabia que era Suri, minha secretária.
– Doutora, seu paciente das 08:35h chegou. - assenti. – Posso pedir para que ele entre?
– Por favor, faça isso. - finalizei a chamada e sentei-me de uma forma mais aconchegante.
Atendi mais alguns pacientes ao longo do dia, mas preferi ir para casa mais cedo. Apesar de ter transmitido tranquilidade a minha mãe, confesso que estava preocupada com
.
Carlitos demorou um pouco até chegar à casa dos meus pais, o que não era de costume, mas o trânsito não estava cooperando. Aproveitei esse tempo para ler meus novos e-mails.
20 minutos se passaram, e eu finalmente consegui chegar à casa dos meus pais.
– , chegou tão cedo por quê? - perguntou meu pai, indo para a cozinha.
– Fiquei preocupada com . - ele assentiu. – Eu estaria aqui mais cedo se o trânsito não estivesse tão lento.
– Um caminhão tombou na Avenida Pesadelo e ainda não foi retirado da pista, com certeza é esse o motivo do congestionamento no trânsito. - ele pegou alguns legumes de uma sacola.
– Onde minha mãe está?
– Me passe esta faca. - ele apontou para trás de mim. O entreguei o objeto, observando a habilidade dele em cortar os alimentos. – Sua mãe está em seu quarto, com .
– Precisa de ajuda? - ele negou com a cabeça. – Tudo bem, então eu vou vê-la.
Assim que cheguei ao quarto, retirei meus sapatos e pendurei a bolsa. estava fazendo nebulização e minha mãe cochilava, ao seu lado.
– Está tudo bem, filha?
– Estou me sentindo meio cansada, sabe? - assenti.
– Quando você inspira seu peito dói?
– Não, só me sinto cansada. - mordi o lábio. – Muitas coisas estão me esgotando.
– Quais coisas? - sentei-me na poltrona à sua frente. – Pode se abrir comigo.
– Mãe, você me conhece! - ela desviou o olhar para a porta.
– , não é bom guardar tudo para si. Isso faz mal à nossa saúde mental e física. - desliguei o nebulizador e ela me olhou.
– Minha avó não para de roncar. - ela sussurrou e eu ri baixo.
– Mãe - mexi em seu braço e ela despertou. – Há quanto tempo ficou aí entregue ao sono, hem?
– ? - ela olhou para . – Chegou mais cedo hoje.
– É, fiquei preocupada com essa mocinha aqui.
– Está melhor? - perguntou a , que assentiu. – Fico mais aliviada. Espero que o seu avô já esteja aprontando o jantar.
– Ele estava cortando alguns legumes. - minha mãe se levantou.
– Vou ajudá-lo. - ela se retirou, fechando a porta. Olhei para .
– Eu pensei bastante em tudo que aconteceu, mas não consigo entender por que comigo. - ela passou a mão no rosto. – Estou com problema no pulmão, sinto dificuldade em respirar, posso pegar uma infecção a qualquer momento e morrer por conta disso.
– Filha, eu não quero te amedrontar, mas nós não viveremos para sempre aqui nesta terra. Claro que isso não é desculpa para vivermos de qualquer forma, temos que nos cuidar, e tudo mais, só que, se não for de um jeito, será de outro. Está me entendendo?
– Sim, se eu não morrer de algo relacionado ao pulmão, morro de outra coisa. - ela me encarou. – Mas se você sabe disso, por que teve um surto no hospital? Por que ficou tão desesperada, com a possibilidade da minha morte?
– , eu não imagino a minha vida sem você! - ela ergueu as sobrancelhas. – Não faz essa cara, você sabe que é verdade.
– Mãe, você deveria ser mais controlada, já que é psicóloga e entende dessas coisas.
– Quando nós temos um problema e sabemos que, mesmo sendo trabalhoso podemos resolver, conseguimos encarar. Mas, quando nós temos um problema, tão grande que foge do nosso controle, muitas das vezes, não sabemos como lidar. - suspirei. – Algumas pessoas têm comportamentos diferentes, outras têm comportamentos iguais, . - pigarreei. – ficou muito estressada, já ficou mais sensível, Nick e Travis queriam te proteger de tudo e todos, inclusive do médico. - ela arregalou os olhos. – Eu estou dizendo a verdade! - nós rimos.
– Como é bom te ver sorrindo assim.
– Desculpe, mãe. Acho que eu exagero, às vezes. - assenti. – Mas, eu não entendi por que você sendo uma pessoa doce e tranquila, pôde ficar tão descontrolada.
– Eu não soube lidar com a situação inicialmente, mas precisei me equilibrar e ser forte, por você.
– Você ainda se sente mal pelo que aconteceu?
– Por que está me perguntando isso? - franzi a testa. – Eu me sinto muito alegre por você estar aqui comigo, em casa.
– Acho que eu estou me sentindo melhor quanto à isso. - ela confessou, suspirando.
– Há algo mais te perturbando? - ela meio que paralisou. – Já disse que você pode se abrir comigo, filha.
– Você contou a aquele homem que ele é o meu pai? - foi a minha vez de paralisar.
– Esse assunto de novo, ?
– Sim. Porque não faz sentido um homem arriscar sua própria vida num incêndio, para salvar alguém que mal conhece.
– Muitas pessoas solidárias fazem essa boa ação, filha. - ela rolou os olhos. – Um bombeiro, por exemplo.
– Mãe, pare de tentar me enrolar! - ela se irritou. – Eu tenho o direito de saber.
– E eu tenho o direito de tomar um banho, agora. - beijei sua bochecha. – Conversamos sobre isso depois do jantar.
Levantei-me, ignorando as reclamações de e peguei minha roupa, indo para o banheiro, rapidamente.
Afundei meu corpo na banheira e fiquei pensando. Eu sempre fazia isso, mas dessa vez, os pensamentos não eram agradáveis.
é emotiva e sempre sofre calada, eu não gosto disso, sei que não é bom para ela. A minha felicidade é vê-la feliz, mas se eu não demonstro isso, ela se sente culpada. Eu não quis dizer a ela, mas não há um dia em que eu não me culpe pelo ocorrido, e conhecendo minha filha, sei que ela iria transferir a minha culpa para si.
O assunto
é sempre delicado demais para se conversar, ainda mais com
. Eu não posso simplesmente dizer que o pai a rejeitou, ainda mais agora que ela está se recuperando.
– - minha mãe me interrompeu. – Responde logo ou vou arrombar essa porta, achando que você se afogou na banheira.
– Que desespero é esse, mãe?
– O jantar está pronto, seja rápida.
Nem adiantaria eu agradecer a ela pelo aviso, minha mãe não gosta de esperar.
Precisei apenas de mais 10 minutos e já estava na sala de jantar.
– Achei mesmo que tinha se afogado. - minha mãe disse, passando por mim com uma tigela.
– Que exagero! - meu pai disse, me fazendo rir. – , como foi no trabalho hoje?
– Não foi tão cansativo - preparei meu prato. – Mas, me impressiono a cada dia mais com as histórias de vida dos pacientes.
– Eu não teria paciência pra ficar sentado ouvindo as pessoas falando sobre seus problemas - rolei os olhos. – Já tenho os meus, e são suficiente pra encher minha cabeça.
– Não seja tão ignorante, homem! - minha mãe se irritou. – Acho lindo quem tem essa disposição e empenho para ajudar ao próximo, independente do sacrifício.
– Minha mãe gosta de ser boazinha, não é sacrifício algum. - provocou.
– Acho bom você ser também, se não quiser ficar sem o notebook que ganhou, recentemente. - ela abriu a boca, incrédula e eu apenas tomei um gole do suco.
– , não faz isso com a menina. - meu pai sempre defendia .
– Não se intrometa na educação de sua neta, querido. sabe o que faz.
– Será que nós podemos jantar? - arqueei as sobrancelhas. – Paz e amor, mãe. - ela sorriu, erguendo os dedos indicador e médio.
Eu tentei fazer o meu típico olhar de raiva a ela, mas não aguentei e comecei a rir. me acompanhou e acabou contagiando meus pais, com sua risada escandalosa.
Depois do jantar, fiquei na cozinha lavando a louça.
– Já estamos indo dormir - meu pai disse, saindo da cozinha com minha mãe. – Boa noite para vocês.
– Boa noite! - eu e dissemos em uníssono.
– Mãe, quer ajuda? - perguntou , já pegando um pano seco.
– Por que pergunta se nem espera a minha resposta? - pus as mãos na cintura.
– Porque eu sei que seria “não”. - continuei lavando os pratos e ela ia secando os copos. – Mãe, você está tão ocupada, ultimamente.
– Eu aumentei a minha carga horária de trabalho - ela me olhou, confusa. – Antes que me pergunte, fiz isso para acrescentar nossa renda e, precisamos comprar logo outra casa.
– Mas nós vivemos tão bem aqui. - terminei de lavar a louça.
– Só que a casa não é nossa. - ela rolou os olhos. – Filha, eu amo ficar aqui, é tão aconchegante. Mas, nós precisamos da nossa privacidade, assim como seus avós.
– Tem razão. - terminou de secar a louça e a ajudei a andar. – Mãe, não precisa. Estou conseguindo caminhar melhor.
– Se você se desequilibrar, estarei bem atrás de você.
Segui-a, caminhando devagar em direção ao quarto. ficou dois meses na cama do hospital, sem andar nem um pouco, isso atrofiou seus músculos. Foi necessário fisioterapia para ela tornar a andar, nos fins de semana ela continua seus exercícios, mas está melhorando.
– Vá logo escovar os seus dentes - a acompanhei até o banheiro. – Ficarei aqui na porta te esperando.
– Mãe, eu não sou mais um bebê! - ela bufou. – O máximo que pode acontecer é eu cair.
– E se machucar! - rolou os olhos. – Só saio daqui para levar você à cama.
Passaram-se alguns minutos e já estava deitada, peguei meu notebook e deitei-me ao seu lado.
– Já tomou seu remédio hoje?
– Não, eu me esqueci. - ela confessou, fazendo careta. – Agora deixa para amanhã, estou com muito sono.
– Tudo bem! - a olhei, séria. – Mas que isso não se repita!
– Okay - abri meu notebook e fiquei lendo dois novos e-mails. Reparei que continuava me olhando. – O que você quer?
– Sua atenção, se não for incômodo, claro! - respirei fundo, não queria começar uma discussão com ela.
– Sou todo ouvidos. - respondi, calmamente, e ela continuou me olhando. – Tudo bem. - fechei o notebook e me virei em sua direção.
– Sinto falta de Jake e Lauren - ela balançou a cabeça em negação. – Não consigo entender por que até agora eles não vieram me visitar, nem no hospital.
– Filha, aconteceu tudo rápido demais!
– Isso não é desculpa! - cruzou os braços. – Eles jamais me abandonariam! Pelo menos, era o que diziam.
– Eles te visitaram, filha - ela me olhou, surpresa. – Mas você estava desacordada, o máximo de reação que obtia era o forçar dos olhos.
– Nossa! - ficou pensativa. – Que droga!
– Se você parar para pensar, não há tanto tempo que recebeu alta. - ela assentiu. – Procurei saber com a diretora da sua escola como você poderia recuperar as aulas perdidas, mas ela disse que não há muito que fazer.
– Nesse período é sempre uma droga repor as aulas, mas eu tenho certeza que consigo.
– Não é pelas faltas, mas pelas notas. - ela passou as mãos no rosto. – Eu darei um jeito de contratar um professor particular para você, mas agora...
– É tarde demais, mãe! - eu a abracei de lado.
– Agora, você ainda não pode frequentar o colégio, também não sei se está em condições de ter aulas particulares. - acariciei o seu cabelo. – Você precisa focar na sua recuperação, a fisioterapia exige muito do seu esforço, os remédios te deixam desacelerada e sonolenta.
– Eu já melhorei.
– Mas pode melhorar ainda mais! - respondi empolgada. – É tudo uma questão de tempo, filha.
Lembrei-me da senhora que encontrei no elevador, quando saía do apartamento de . Confesso que fiquei surpresa e um tanto assustada com suas palavras, afinal, eu não a conheço, mas, de certa forma, me senti reconfortada.
Dei-me conta de que estava pensando demais quando virou-se de costas para mim, já adormecida. Tirei meu braço debaixo de sua barriga com cuidado e sentei-me, tornando a abrir meu notebook, não para ler os e-mails, mas para fazer acontecer o que há poucos eu estava planejando.
“
, preciso de um favor!” - mandei a mensagem.
“Aconteceu algo com
? Pelo amor de Deus! Diz logo!” - ela respondeu, imediatamente.
“Ela está bem, dormindo inclusive, rs... Mas o que eu quero é relacionado à ela!”
“Você está me deixando aflita, vá direto ao ponto.”
“Preciso do número de
! Por favor, não me faça perguntas.” - respirei fundo e mandei de uma vez.
“Sei que normalmente eu não faria isso, mas dessa vez, sem perguntas!” - respirei aliviada.
“Pedi para você porque desde quando
voltou, Travis teve mais contato com ele que o Nick, mas não quero que nenhum deles saibam.”
“Pode ficar tranquila! Vou te enviar amanhã bem cedo. Travis está se aproximando! Beijos.”
Difícil acreditar no que minha mente estava planejando, seria uma tortura para mim, mas, por minha filha, eu passo por cima do meu orgulho.
Desliguei meu notebook e deitei-me de frente para
, fiquei a observando, até eu adormecer.
– Mãe - acordei com
chacoalhando meu braço – Desliga esse despertador!
– O que é isso, garota!? - sentei-me e desliguei o barulhento. – Isso é jeito de me acordar?
– Eu não sou obrigada a ficar de pé às 05:30h junto com você! - ela disse irritada, se virando de costas para mim.
– Mas já que acordou, levante e tome seu remédio. - saí da cama, indo pegar minhas roupas. – E eu não quero ouvir reclamações!
– Sim, senhora.
Olhei-a séria e entrei no banheiro, desta vez, o banho foi rápido, não demorou muito para eu estar pronta. Peguei meu notebook e celular, pus na minha bolsa, olhei em volta certificando-me de não ter esquecido nada.
– Esqueceu do meu beijo. - disse, me fazendo rir.
– Esqueci nada! - andei em sua direção e beijei o topo de sua cabeça. – Se sentir qualquer coisa fale com a sua avó.
– Ok. - disse sonolenta.
– É para falar mesmo, ! - disse firme.
– Tá bom, mãe. - suspirei.
– Tenha um bom dia - beijei sua bochecha. – Te amo.
Fui direto para a cozinha, sem fazer muito barulho, preparei o meu café. Ouvi uma buzina, sabia que era o táxi a minha espera, imediatamente, saí de casa.
Diferente do dia anterior, o trânsito estava mais rápido e eu não demorei a chegar ao trabalho. Paguei Carlitos e entrei no prédio.
– Bom dia, Suri. - cumprimentei a minha secretária.
– Bom dia, doutora. - ela sorriu. – Marquei um paciente para 07:30h, tudo bem?
– Sim - assenti. – Eu vou para minha sala.
Já adentrei pendurando minha bolsa e jaqueta, abri a janela, sentindo a brisa invadir o lugar. Acomodei-me em minha cadeira e liguei para .
– Por que está demorando tanto para me mandar o número de ?
– Então, eu tive uma noite cansativa com Travis, se é que me entende.
– Poupe-me de qualquer detalhe! - rolei os olhos.
– Eu não ia contar mesmo. - ri sozinha. – Então, eu vou te enviar como mensagem e depois apago. Travis não sabe de nada, peguei o celular dele escondido.
– Melhor ser rápida!
– Acabei de te enviar.
– Muito obrigada.
– , eu sei que não devo me intrometer nos seus assuntos, mas cuidado com o que você vai fazer.
– Agradeço a preocupação, mas pode ficar tranquila - ela suspirou alto. – Depois te conto tudo!
– Preciso me arrumar para o trabalho, agora. Beijos.
– Beijos. Assim que finalizei a chamada, dei uma olhada nas mensagens, meu coração deu uma leve acelerada ao ver uma delas com o número de .
O telefone comercial tocou, forçando-me a desviar meu pensamento para o trabalho.
– Oi, Suri.
– Doutora, sua paciente de 07:30h já chegou, posso pedir para que ela suba?
– Por favor.
– Ok, ela já está subindo.
– Obrigada!
Não demorou e a paciente já estava em minha sala.
Depois de 40 minutos de conversa...
– Eu tentarei encarar esse medo. - ela disse firme.
– E você vai conseguir! Todos nós temos receio de algo, mas não podemos deixar isso nos dominar, entende?
– É difícil! - ela suspirou. – Todas as vezes que passo por isso, sinto como se eu fosse morrer.
– Continue tentando, mas com outro tipo de pensamento. - ela franziu a testa. – Essas reações do seu corpo não passam de uma impressão, o nosso psicológico também faz isso.
Mas, quero que você pense positivo! Todas as vezes que o seu corpo reagir dessa forma, lembre que você é saudável, que isso tudo não passa de pensamentos negativos, é tudo invenção da sua própria mente, nada disso é real, você está bem e é assim que vai continuar, bem!
– Confesso que não será fácil, mas tentarei.
– Você vai conseguir! - ela sorriu para mim.
– Obrigada, doutora. - nos levantamos e caminhamos até a porta. – Semana que vem eu volto, e espero que com boas notícias.
– Se Deus quiser! - despedi-me dela.
Fiz algumas anotações no meu notebook e recebi outra ligação de Suri.
– Doutora, tem dois adolescentes aqui querendo falar com a senhora.
– Suri, sem tanta formalidade entre nós. - ela sabia que eu não fazia questão de ser chamada de “doutora” e “senhora”, somos colegas de trabalho há anos.
– Desculpe, doutora, mas é força do hábito e eu sempre preferi me referir à senhora dessa forma na presença dos pacientes.
– E na ausência deles também, não é mesmo? - ela riu. – Mas ok, conversamos sobre isso em outra hora.
– E quanto aos adolescentes, posso deixá-los subir?
– Sim. - desliguei o telefone.
Aguardei eles entrarem e para minha surpresa, eram Lauren e Jake.
– Tia , que saudade! - Lauren foi a primeira a me abraçar.
– Menina, você está com piolho? - ela fez careta e Jake riu.
– Foi a mesma coisa que pensei quando a vi de cabelo curto! - ele disse, recebendo um olhar fulminante de Lauren.
– E você não vem me abraçar? - ele veio em minha direção, todo preguiçoso.
– Meu cabelo está ainda mais lindo! - Lauren afirmou, de braços cruzados.
– Tenho que concordar. - ela sorriu. – Aliás, os dois estão ótimos!
– Já a ... - Jake disse, recebendo uma cotovelada de Lauren.
– Ela está melhorando, mas sente falta de vocês.
– Também sentimos falta dela, e é por isso que matamos aula pra vir aqui falar com você - pus as mãos na cintura.
– Não estou acreditando que fizeram isso! - eles abaixaram a cabeça. – Lauren, você sempre teve mais juízo que Jake e . O que aconteceu?
– Tia, relaxa - Jake andou até a janela. – Um dia só, ninguém vai sentir nossa falta.
– Nós viemos te pedir para vermos - ergui as sobrancelhas. – Podemos ajudá-la com as matérias, ainda dá tempo de recuperar as notas.
– Agradeço o que querem fazer por ela, mas isso tomaria muito o tempo de vocês e...
– Tia, já nos organizamos - olhei para Jake – E nós estamos decididos a ajudar !
– Venham me abraçar, agora! - eles riram, me abraçando forte. – Estou muito feliz com a atitude de vocês, e tenho certeza que a ficará ainda mais.
– Demoramos tempo demais para fazer isso. - Lauren disse arrependida.
– E ela é como nossa irmã. - Jake completou.
– E como meus filhos emprestados, ordeno que voltem agora para o colégio!
– Mas nós...
– Tudo bem, tia - Lauren deu outra cotovelada em Jake, que reclamou. – Nós vamos voltar para a escola. - eles foram caminhando até a porta.
– Juízo! - antes mesmo de eu terminar, Lauren fechou a porta.
Essas crianças sempre me alegram, vai fazer muito bem à a visita deles.
Despedi-me de mais um paciente e sentei-me novamente, olhei para o meu celular e finalmente tomei coragem de ligar para
.
Já estava desistindo de esperar ele atender, até que ouvi sua voz do outro lado da linha e meu coração acelerou.
– Alô? Quem é que está...
– Sou eu, . - respire fundo. – Não reconhece minha voz?
– Sim, eu reconheceria sua voz em qualquer lugar desse mundo. - apertei meus olhos, ao ouvi-lo.
– Sei que deve estar se perguntando por que te liguei, mas eu preciso muito falar contigo.
– O que aconteceu dessa vez? - pude perceber a preocupação em seu tom de voz.
– Podemos conversar, pessoalmente?
– Claro! - ele respondeu, imediatamente. – Tudo bem se nos encontrarmos na Toca da Tia Jô?
– Na Toca da Tia Jô? - minha voz saiu um tanto alterada.
– Algum problema?
– Nenhum. Só estou surpresa com a escolha do lugar, mas ok. - engoli o seco.
– Quando você...
– Ainda hoje. - o interrompi, olhando para fora da janela.
– Qual horário?
– Agora.
– …
– Te encontro lá! - finalizei a chamada.
Minhas mãos suavam, como no dia em que eu falei com ele pela primeira vez. Tantos lugares para nos encontrarmos e sugere logo na Toca da Tia Jô, esse era o nosso ponto de encontro quando ele ainda me visitava, antes de viajar. Serão tantas lembranças que virão à tona, não sei se estou preparada, mas preciso ser forte. Por , eu preciso.
Fechei a janela, vesti minha jaqueta e peguei a bolsa, saí da sala quase que correndo.
– Preciso sair agora, é urgente!
– Mas, e os pacientes já marcados? - Suri levantou-se de sua cadeira, preocupada. – A senhora Jocasta chega daqui a 20 minutos, ela vai me tratar muito mal se eu disser que a doutora teve um imprevisto e precisou sair.
– Desculpe, Suri, eu entendo a sua situação, essa mulher é muito grossa, realmente. - ela fez uma expressão de derrotada. – Mas, não permita que ela te trate mal, ainda mais na frente de outras pessoas.
– Não posso fazer isso, doutora! Eu sou apenas...
– Uma pessoa maravilhosa que merece respeito como qualquer outra! - ela sorriu, envergonhada. – Eu me responsabilizo por qualquer consequência disso, mas não permita que ela te destrate.
– Obrigada. - sorri, enquanto arrumava minha jaqueta.
– Suri, vá para casa! - ela ergueu as sobrancelhas. – É, fique com o dia livre.
– Mas...
– Eu não tenho hora para voltar e, provavelmente, não terei condições de continuar o trabalho por hoje. - ela assentiu. – Não atenda a mais nenhuma ligação, deixe tudo como está e vá para casa.
Antes que ela pudesse me agradecer, saí do prédio e entrei no primeiro táxi que vi à minha frente, não esperaria por Carlitos, já havia demorado demais.
Cheguei a Toca da Tia Jô, olhando ao redor, procurando por .
– - olhei para trás e ele me observava.
– Demorei? - ele negou com a cabeça, mas eu sabia que estava mentindo. – Desculpe, eu vim do trabalho e...
– Tudo bem, não precisa se explicar. - sorriu e eu assenti. – Podemos nos sentar no lugar de sempre, o que acha?
– Péssimo. Esse lugar já me traz muitas lembranças, eu não quero ter que lidar com mais isso agora. - respirei fundo, sentindo minhas mãos suarem. – Espero que entenda!
– Claro. Vamos ficar num local mais afastado, então.
Passei a sua frente e ele me seguiu em direção a um banco de madeira, que ficava abaixo de uma árvore. Aquele lugar era o nosso ponto de encontro, mas sempre ficávamos dentro de uma das “tocas”, desta vez, preferi ficar ao ar livre.
– Qual é o assunto de hoje? - perguntou interessado.
– Você já deve imaginar.
– Olha, , não quero brigar com você. Eu vim porque quero resolver o mal entendido do hospital - ele fixou seus olhos nos meus. – E também porque queria te ver, novamente.
– Não houve mal entendido algum, pelo contrário, ficou tudo bem esclarecido. - desviei meu olhar para uma das tocas. – Mas, algumas coisas não podem mudar, querendo ou não, você é o pai da .
– , eu não vou acreditar nisso, se é o que você espera. Ela não parece com você e muito menos comigo! - afirmou. Peguei meu celular de dentro da bolsa. – O que vai fazer?
– Olhe bem para esta imagem - o mostrei uma foto de sorrindo de lado, como ele costumava fazer quando estava aborrecido e eu tentava animá-lo. – Vai me dizer que não há semelhança entre você e ela?
– É coisa da sua cabeça.
– Então assista - pus o celular em sua mão e ele observou a contragosto. No vídeo, estava tentando se esconder da câmera e virou de costas, mostrando sua manchinha. – Olhe bem para a nuca dela.
– E-essa manchinha... É idêntica a da minha bisavó, como uma folha de uva. - ele disse incrédulo. – Não pode ser!
– Assuma a paternidade de , estou te pedindo.
– Que diferença isso vai fazer agora? - ele me encarou. – Depois de tanto tempo, o que você quer de mim? - segurou meus braços.
– Que você seja o pai que nunca foi.
– A CULPA NÃO É MINHA! - ele se levantou nervoso. – E-EU...
– - me aproximei dele, segurando em sua mão. – Acalme-se. - o puxei de leve e ele me seguiu, sentando-se novamente.
– Não consigo acreditar que isso esteja acontecendo comigo! - ele abaixou a cabeça, estava chorando. – Por que você não procurou por meus pais, eles certamente teriam me contado.
– Sua mãe nunca gostou de mim, você sabe. - lembrei-me das vezes que aquela mulher me ofendeu. – Acho que ela era capaz de me pedir para abortar.
– Não diga isso, ! - ele me olhou. – Minha mãe jamais faria isso!
– Quando penso que tudo podia ter sido diferente... - suspirei, tentando segurar o choro. – Eu sinto tanta culpa.
– Não se culpe por nada, as coisas, simplesmente, acontecem.
– As coisas acontecem por conta das nossas escolhas.
– Você tem razão. Se eu tivesse procurado por você antes, não estaríamos passando por isso agora. - confessou, e eu não consegui conter a minha vontade de chorar. – Carly...
– , não mencione o nome daquela mulher, por favor. - pedi, irritada.
– Você está certa, eu fui um babaca e nem sei como me desculpar.
– Eu não quero que...
– Mas vou tentar! - olhei para baixo, não queria encará-lo nesse momento. – Me perdoe por ter sido um pai ausente para , me perdoe por ter sumido durante esses 16 anos e ter te deixado sozinha nos momentos que você mais precisou, me perdoe por ter te causado tanta dor. - pus as mãos no rosto, estava muito emocionada. – Eu te amo.
– Não, eu não quero ouvir essa frase. Não de você. - enxuguei minhas lágrimas. – Se quer o meu perdão, comece ir à casa dos meus pais para visitar .
– E depois disso? - perguntou confuso.
– A sua consciência te dirá o que fazer. ¬- ele assentiu, dando um meio sorriso. – Pense nos sentimentos de , ela não é de se expressar, apesar de ser bastante emotiva, mas ficou me perguntando o porquê de você ainda não ter a visitado. Ela queria mesmo saber se eu tinha ou não contado a você que é o pai dela.
– quer me ver? - fiz que sim com a cabeça, ele suspirou. – Você contou a ela que eu a rejeitei?
– Não, por isso estou aqui. - disse a verdade.
– Podemos fazer o exame de DNA? - a pergunta de me deixou um tanto ofendida. ¬– Desculpe-me, eu não quero...
– Se esta é a sua vontade, assim faremos. - peguei minha bolsa.
– Por favor, fique. - ele segurou meu pulso, eu apenas mantive o olhar à minha frente. – Eu jamais faria algo para te magoar.
– Você já fez.
– Eu sei, mas... Não foi por mal, ! - tornei a me sentar. – Tente compreender a minha situação, depois de 16 anos eu descubro que tenho uma filha com você. Entre nós, só rolou uma vez, e foi no Baile de Formatura.
– Exatamente! - o olhei, percebendo seu espanto. – Não te contei antes porque também não sabia, só descobri quando já estava com quatro meses de gestação.
– Me tire uma dúvida, se eu tivesse voltado para te visitar, depois que viajei, teria acompanhado a gravidez desde o começo?
– Pelo menos, desde quando eu também descobri.
– Que merda eu fiz! - assenti, percebendo o arrependimento em seus olhos.
– A minha vontade é de te dizer “bem feito!”, por tudo que você me fez sentir. Uma mistura de raiva, com frustração, culpa e arrependimento. - ele me olhou, incrédulo. – Mas, eu não te desejo o mal.
– Você me perdoa? - fiz que sim com a cabeça.
– Eu já te perdoei, apesar de nunca ter compreendido sua ausência.
– Eu espero que possamos continuar de onde paramos.
– Não espere por isso. - franziu o cenho. – Para mim, você será apenas o pai de .
– Não quer voltar comigo? me olhou, intensamente. – Depois de tudo que dissemos um ao outro, você não quer ficar comigo?
– Você mudou demais, ! Eu nem te reconheço.
– Sim, eu amadureci ao longo dos anos. - ele segurou minha mão. – Mas nunca deixei te amar.
– Chega! - ele tentou continuar, mas eu pus a mão, delicadamente, em sua boca. – Eu não quero mais ouvir isso!
– Eu sei que você também me a...
– , estou feliz por você ter aceitado a situação, mas isso não muda nada entre nós.
– Tudo bem. - ele soltou minha mão. – Eu comprei uma casa aqui perto, acho que vai ser de fácil acesso para .
– Você pode visitá-la quando quiser! - sorriu de lado, eu me levantei pronta para ir embora.
– - me virei para ele. – Posso visitar , agora?
– Agora? - ele assentiu. – Eu acho que...
– Por favor. - suspirei.
– ainda está muito fragilizada física e psicologicamente. - ele assentiu. – Mas, acredito que ela ficará feliz com sua visita.
– Posso te pedir mais uma coisa? - rolei os olhos, mas consenti. – Me dá um abraço?
Fiquei pensando por alguns segundos, mas não me custava dar um abraço nele, depois de toda essa conversa, eu senti que ficou muito sensibilizado. Aproximei-me dele e o abracei, sentindo o calor de seus braços em volta de mim, descansei minha cabeça em seu peito. Acredito que, tanto eu quanto ele, estávamos aproveitando cada segundo desse abraço, até meu celular tocar.
– Desculpe, preciso atender. - peguei o celular na bolsa. – Pode ser minha mãe para falar de .
– Filha, quer ir à casa da Lauren.
– Mãe, hoje não. Tenho uma surpresa para ela.
– Ela vai ficar uma fera, mas tudo bem. - imagino o quanto a mocinha irá reclamar! – Você já está vindo?
– Sim, até daqui a pouco. - ela finalizou a chamada. – queria ir à casa da amiga.
– Ela vai me culpar por você não ter deixado?
– Provavelmente! - nós rimos. – Me esqueci de ligar para o taxista.
– Não precisa, meu carro está aqui perto. - passou por mim, tirando a chave do bolso, fiquei o observando. – O que houve?
– O quê? - franzi a testa.
– Você continua parada no mesmo lugar. - eu ajeitei a minha sandália, como uma forma de disfarce e fui até ele. Abriu a porta para mim.
– Obrigada.
Não nos falamos durante todo o caminho, estava muito tenso, preferi deixá-lo pensar em como agiria.
– Nossa! A casa dos seus pais continua da mesma forma!
– Sim, nada mudou por aqui. - nos aproximamos da porta. – Está nervoso?
– Demais! - soltei uma risada. – Espero que goste de mim.
– Não se preocupe com isso. - adentramos a casa e minha mãe nos olhou, surpresa.
– Ai meu Deus! - ela apertou seu próprio rosto. – !
– Mãe, se acalme. - dei passagem para , que estava desconfortável.
– Como vai, ? - ela perguntou por educação.
– Bem, obrigado. - ela assentiu. – E a senhora?
– Agora estou preocupada, mais tarde eu espero não estar pior que isso.
– Mãe, por favor! - a lancei um olhar de reprovação. – está no quarto?
– Sim, se prepare para a rebeldia.
– Vamos ao quarto. - chamei e ele me acompanhou meio tímido.
– Estou realmente nervoso.
– Eu entendo, mas é normal, depois você vai se sentir mais confortável. - toquei a maçaneta. – Preparado? - ele respirou fundo e me olhou, negando com a cabeça. – Vamos fazer assim, eu entro primeiro e falo com ela, depois te chamo aqui.
– Tudo bem. - adentrei o quarto.
– Filha - tirei minha jaqueta e pendurei, junto com a bolsa. – Como se sente hoje?
– Irritada. - tirei minhas sandálias e me aproximei dela. – Você podia ter me deixado ir para a casa da Lauren, Jake também estaria lá.
– Primeiro, você ainda não está podendo sair, ainda mais só com seus amigos.
– Eu tenho 16 anos, sei me cuidar. - ela ergueu as sobrancelhas. – Já tomei meus remédios, mas se eu sentisse qualquer coisa, os pais da Lauren me levariam ao hospital.
– Eu sei disso, moçinha - segurei sua mão. – Mas, eu tenho uma surpresa para você.
– E não poderia me surpreender mais tarde ou num outro dia?
– , deixa de ser chata - dei uma leve tapa em sua perna e ela riu. – É especial, tenho certeza que você vai gostar!
– Me surpreenda. - ela deu de ombros.
Levantei-me, rápido e segui até a porta.
– Pode vir. - ele suspirou e entrou, logo após.
– . - a chamou e seus olhos quase saltaram.
Emocionei-me ao presenciar a cena. Olhei para minha filha e sua expressão que antes era de tédio, se transformou em espanto.
Capítulo 11
Ela não obteve reação alguma, me olhou.
– Será que foi uma boa ideia? - ele perguntou num sussurro, e eu a olhei.
–
- ela desviou o olhar para mim – Está tudo bem?
– Sim, eu só... - engoli o seco – Não sei o que dizer!
– Não precisa dizer nada. -
sorriu, fazendo sinal para aproximar-se dela. – Posso?
– Claro. -
respirou fundo.
– Fico feliz que esteja melhor, depois daquele susto. - ele disse, sentando-se na cama – Olhe, eu não sei como te contar...
– Que você é o meu pai? - arqueei as sobrancelhas – Minha mãe já fez isso por você.
–
... - ela me olhou.
– O quê? - eu sabia o que ela estava tentando fazer. – Só quero que ele saiba que, por mais essa vez, foi você quem fez algo por mim, no lugar dele. Logo, eu não preciso de um pai.
–
! - olhei para
. – Ela não quis dizer isso, o maior desejo dela é ter um pai.
– Mãe, pare de tentar falar por mim. - desviei meu olhar para ela. – Estou sendo sincera, não sei qual será a utilidade dele agora que já tenho os meus 16 anos. - ela o olhou – Ou ainda dá tempo de me ensinar algo? Porque a andar eu já aprendi, a falar também, andar de bicicleta, foi moleza, a não ter um pai, eu aprendi desde cedo...
– Filha, por favor -
estava constrangido, e eu me sentia mal por ele – Pega leve!
– A esconder os meus sentimentos, também aprendi rápido. Inclusive, a raiva que sinto agora você, provavelmente, nem está notando. - ela tombou a cabeça, franzindo a testa – Ou está?
– Filha, não era isso que você queria? - aproximei-me dela. – Por que está agindo assim? -
– Porque eu realmente não sei qual será a serventia dele agora que já sou quase uma jovem adulta.
– Bem -
se levantou. – Acho melhor eu ir para casa.
– Não. Fique! - ele me olhou, tornando a se sentar – Precisamos ter essa conversa. - assentiu.
– Tudo bem. - desviou seu olhar a
– Como...
– Eu estou? - ela o interrompeu – Acamada, como você mesmo pode perceber. Mal posso me levantar e caminhar, sozinha, e, a culpa é sua. - fechei meus olhos, respirando fundo – Mais alguma dúvida?
– Por que está me culpando por isso? -
parecia irritado.
– Estou nessa situação, graças a você. - ela riu, sem humor.
– Preferia morrer? - perguntou, deixando
sem fala – Existem tantas pessoas em situações piores que a sua, que teriam o direito de reclamar por isso, mas elas apenas levantam as mãos para o céu e dão graças a Deus por estarem vivas. - olhei para ele – Então pare com o drama e rebeldia, e agradeça por não ter sido queimada até a morte.
– Bem, eu - ela desviou seu olhar para mim e eu fiz sinal para que continuasse – Não quero que pense que não sou grata por ter salvado a minha vida.
– Olhe, eu não sabia que tinha uma filha, até o dia do incêndio.
– E depois que soube? -
perguntou.
– Confesso que eu não quis acreditar em sua mãe e fui embora. - ele suspirou – Na verdade, eu fiquei na rua, sentado no meio-fio, pensando... Até que vi a fumaça e o fogo consumindo toda a casa.
– Por isso te encontrei com os bombeiros. - franzi o cenho e ele assentiu.
– Eu os chamei.
– Então por que entrou na casa? -
estava curiosa.
– Eu culpei
pelo que estava acontecendo. - eu respondi cabisbaixa – Por isso ele se arriscou.
– Confesso que me senti, realmente, culpado, mas também tive outro motivo para ter feito aquilo. - ergui a minha cabeça para o olhar, ele fez o mesmo – Sabia que você jamais mentiria para mim, por isso eu não podia perder minha filha sem nem ter tido a oportunidade de conhecê-la melhor. Precisava salvá-la, mesmo que isso custasse a minha própria vida. - senti algumas lágrimas escorrerem pelo meu rosto, involuntariamente.
– Então por que você...
– Sou um covarde,
. Sempre fui. - suspirou – A começar pelo meu erro de te deixar por uma garota que eu mal conhecia, na época.
– Você estava grávida quando isso aconteceu? - assenti à pergunta de
, ainda olhando para
.
– Sim, mas nós não sabíamos. - disse a verdade – Só tomei conhecimento da gravidez quando já não tinha mais contato com
.
– Mas, a verdade é que, se eu tivesse voltado para encontrar sua mãe, não estaríamos tendo esta conversa. - ele assumiu culpa.
– Essa história toda é muito complicada de se explicar, e, de se entender também - passei a mão pelo cabelo dela – Mas, conforme você for amadurecendo, compreenderá.
– Mãe, eu já sou bem madura, consigo entender a situação de vocês... Mais ou menos. - eu ri fraco, beijando sua bochecha. Ela olhou para
– Acredita mesmo que sou sua filha?
– Se ainda me restasse dúvida, a manchinha que você tem na nuca me daria certeza.
estava meio confusa, mas eu conheço minha filha o suficiente para saber que ela estava liberando o perdão ao pai, afinal, ele não teve culpa do que aconteceu. E não dá para mudar o passado, agora é encarar as mudanças que estão por vir.
–
-
a chamou – Quero que você saiba que pode contar comigo de agora em diante, eu vou protegê-la, sempre.
– Não se preocupe com isso,
- me levantei e os dois me olharam – Eu sempre protegi minha filha, e isso nunca irá mudar.
– Sim, eu sei. Mas agora ela tem um pai presente, e eu também zelarei por sua vida. - ele disse um tanto firme, me fazendo o encarar.
– Mãe -
chamou minha atenção – Por que está agindo assim?
– Eu estou agindo normalmente. - cocei a cabeça e respirei fundo.
– Mãe, eu só quero conhecê-lo melhor. - encarei seus olhos que estavam marejados.
– Eu te entendo. - caminhei em sua direção, e a apertei num abraço.
– Será que eu também posso receber um abraço apertado assim? -
pediu, apontou para nós.
– Ah... - ela me olhou como se esperasse por uma aprovação, e eu assenti, encorajando-a – Sim.
Eu nem lembro quando foi a última vez que imaginei conhecendo , mas imaginação nenhuma se compara a real sensação e emoção que senti ao presenciar este momento. A cena dos dois abraçados, demonstrando o princípio de afeto, não sairia da minha memória jamais.
– Não me aperte tanto. -
a soltou do abraço – Tô ficando sem fôlego. - ela riu fraco.
– Respire fundo. - ela assentiu, me obedecendo.
Fiquei a observando, aflita e parou ao meu lado. Parecia nervoso.
–
, não é melhor levá-la ao hospital?
– São apenas alguns dos sintomas que ela sente quando está ansiosa. - disse sem certeza – Melhorou? -
me olhou, dando de ombros.
– Desta vez, eu não sei dizer. Sinto-me fraca e não consigo respirar bem. - ela dizia, estava ofegante. Respirei fundo, tentando manter a calma.
– Tome - liguei o nebulizador e o entreguei a ela – Faça a nebulização. Se você não melhorar, te levaremos ao hospital.
– Acha que a nossa conversa pode ter a deixado assim? -
me perguntou num sussurro, e eu assenti. Ele se surpreendeu. – Acho melhor eu ir embora.
– Embora para onde? - seu tom de voz deu uma leve alterada.
estava preocupada.
– Filha, não é bom para você ficar assim tão agitada, se acalme. - ela continuou olhando para
, esperando por sua resposta.
– Eu comprei uma casa aqui em Trainsturn, fica bem perto.
– Bem, eu pensei que você... - ela riu de nervoso – Deixa pra lá.
– Eu já entendi. -
me olhou e eu ergui as sobrancelhas. – Não quero que pense que me afastarei de você, isso não vai acontecer.
– É bom saber disso. - ela disse sem graça.
– Também acho. - cruzei os braços.
me olhou, ela parecia irritada.
– Mãe, será que você pode nos dar licença? - fiquei boquiaberta com seu pedido. Sério que eu ouvi isso?
– Como é?
– Só por um instante.
– Tudo bem. - olhei para
, se pudesse o fuzilava com os olhos – Vou deixá-los a sós.
Saí do quarto ainda incrédula pelo pedido de
.
Não queria parecer egoísta, estava feliz por minha filha, mas senti uma tristeza dentro de mim. Como se eu fosse perdê-la... Mas para
.
Pus a mão na boca e desatei a chorar, enquanto caminhava devagar até a sala. Não queria que ouvissem meu choro, mas fui descoberta por minha mãe.
– Filha? - minha mãe me observava.
– Estou perdendo a minha menininha. - sentei-me no sofá, chorando como
costumava fazer, quando menor.
– Sabe que não é bem assim.
– Ela pediu para ficar a sós com
. - suspirei – Talvez eu estivesse sendo invasiva, ou inconveniente. Eu não sei dizer. - minha mãe continuou me observando – Só achei que podia participar disso, afinal, a história envolve a mim também.
–
precisa desse tempo com
, é normal. Você só não pode impedi-los.
– É normal? Ela é mais minha do que dele. - minha mãe soltou uma risada ao me ouvir – Eu falo sério, mãe.
– Sinto em lhe dizer, mas está sendo imatura e egoísta. - olhei para ela, que se sentou ao meu lado – Minha filha, se coloque no lugar de
, ela descobriu que tem um pai. Você sabe o quanto ela desejava tê-lo, mesmo sem saber quem era. Essa menina raramente tocava no assunto, mas sempre deixou claro o seu desejo de conhecer o pai.
– Sim, eu sei. - disse chorosa. – Mãe, eu não estava preparada.
– Minha filha, nós nunca estamos preparados para os acontecimentos da vida. - fiz uma linha com a boca – Você achou que estava, mas, agora sente o verdadeiro impacto da realidade.
– Sim - suspirei frustrada – Às vezes, penso que me conheço bem, mas você sempre...
– Filha, eu te conheço há 33 anos. - ela sorriu – E, além disso, tenho muito mais experiência que você nessa vida. Sei, exatamente, sobre o que estou falando.
– Então, sabe também que eu não quero alimentar nenhum tipo de sentimento ruim em relação a tudo isso.
– Sim, e eu entendo que você esteja se sentindo jogada para escanteio - assenti – Mas, esse é o momento deles, de descobrir os defeitos e qualidades um do outro, no que eles se parecem, do que gostam, do que não gostam... De agora em diante, eles vão se descobrir, juntos. E, você não pode ficar no meio disso sendo implicante, só atrasará ainda mais o processo e irá irritar sua filha.
– E quanto a mim? - minha mãe, novamente, riu. – Não tem graça, mãe!
– Tem sim. Sua carinha de choro fez-me lembrar de quando você era pequenina - ela suspirou – De quando você se irritava, quando suas primas pegavam sua boneca favorita, e diziam que levariam para casa.
– Mãe, por que está lembrando isso?
– Porque você fazia essa mesma expressão e dizia: “Mamãe, Nana e Rosé pegaram minha boneca pra levar para a casa delas, e quanto a mim? Vou ficar sem boneca?” - minha mãe ria – Então eu disse: “Filha, você têm outras bonecas tão lindas quanto a que elas querem levar”, mas você irredutível respondeu: “Mas eu não deixei”. - ela fixou seu olhar nos meus olhos – Eu olhei dentro de seus olhos, e disse: “Filha, hoje mesmo você ganhou uma bonequinha de porcelana da Dona Clotilde, mas há quanto tempo suas primas não ganham uma boneca nova? Não seja egoísta!”.
– E então? - queria continuar ouvindo.
– Você ficou pensativa, pois sabia que suas primas tinham condição financeira bem menor que a nossa, e depois me respondeu: “Eu tenho tantas bonecas e nem brinco com todas... Acho que não terá problema se elas levarem aquela, mesmo que seja minha favorita.” - respirei fundo. – Você esteve com
durante todos esses anos, mas ela e
não tiveram um ao outro. Ele não teve condição circunstancial de estar com ela.
Por mais difícil que estivesse sendo ouvir minha mãe dizer todas aquelas palavras, eu me vi obrigada a concordar, pois é a verdade. E quanto a isso eu nada posso fazer, além de aceitar. Seria mais fácil aceitar.
– Mesmo que
seja sua bonequinha de porcelana favorita - eu ri ao ouvi-la – Deixe que ela e o pai aproveitem o momento. Quanto tempo há que essa menina espera por este dia?
– A vida toda.
– Então, mais uma vez eu te digo, não seja egoísta! - assenti, compreendendo a história. – Me dê um abraço.
– Obrigada, mãe. - a apertei – Eu não sei o que seria da minha vida sem você!
– Uma hora eu não vou mais estar entre vocês. - ela me soltou e ficou me olhando.
– Eu não quero nem pensar nisso! - minha mãe riu – Você ainda tem muito que viver, com a gente.
– Tem razão! - ela disse animada, se levantando – Por isso vou com o seu pai no aniversário da Dona Clotilde, vai ser como um Bailinho da 3º Idade.
– E como ela está? - perguntei curiosa. Dona Clotilde já tinha uma idade meio avançada quando ainda éramos vizinhas, antes de nos mudarmos.
– Com disposição para dar e vender. - minha mãe disse, enquanto ia até a cozinha. Eu ri. Dona Clotilde sempre foi uma mulher muito agitada e não se deixava abater por qualquer situação, todos na antiga vizinhança sabiam disso. – Aquela mulher é uma inspiração para todos nós!
– Há anos que não a vejo! - eu disse me lembrando da última vez que a visitei. – Uma pena Dona Clotilde não poder ter vindo à festa de
.
– Ela estava recém-operada, e mesmo assim quis vir. - minha mãe voltou da cozinha, despejando um pouco de água em suas plantinhas. – Mas, eu disse para ela se recuperar melhor e depois marcaríamos outro dia para nos vermos.
– Fez bem. - minha mãe assentiu, trocando a água de suas flores.
– Imagino que você não queira ir à festa dela. - ela me olhou, de sobrancelhas erguidas.
–
não está se sentindo muito bem hoje - respirei fundo. – E eu não estou no clima de festa.
– Entendo. - sorri de lado – Bem, vou aprontar o almoço, quer me ajudar?
– Claro! - levantei-me.
–
vai almoçar conosco? - quando eu ia responder, ele apareceu na minha frente.
– Não, eu já estou indo para casa. - sorriu – Mas, agradeço a preocupação.
– Quero que saiba que você pode voltar aqui para visitar minha neta quando quiser. Imagino que vocês tenham muito que aproveitar da companhia um do outro! - minha mãe disse, segurando as mãos de
e ele enlargueceu o sorriso, mas ainda me olhava.
– Isso é tudo que eu mais quero! - minha mãe o abraçou. Respirei fundo, olhando o chão, até
chamar minha atenção, levantei meu olhar – Podemos conversar um pouco, a sós?
– Ah, eu já estou de saída para a cozinha - minha mãe sabia que eu iria recusar. – Não precisa se preocupar em me ajudar,
.
– Tem certeza? - a lancei um olhar significativo, mas a mesma fingiu que não foi com ela.
– Sim, você sabe que eu dou conta, sozinha. - me deu uma piscadela e saiu da sala.
– Só quero deixar claro que...
– Não precisa se preocupar,
. - o olhei – Não farei nada que atrapalhe a aproximação de entre você e
. - ele assentiu.
– Bem, eu tenho que ir.
– Te acompanho até a porta.
Ele foi a minha frente, e antes de sair, me olhou novamente.
– Ela é tão linda quanto você! - disse abobalhado e eu segurei a risada.
– Mas quando fica com raiva...
– Parece com o seu pai. - eu fiz que sim com a cabeça. – Eu percebi.
– Você ainda perceberá muitas coisas vindas dela.
– Eu mal posso esperar por isso! -
estava, realmente, empolgado e, de certa forma, sua alegria estava me contagiando. – Bem, agora
está dormindo.
– São os remédios, o efeito deles deixa ela meio sonolenta. - ele assentiu – Foi bom ter ver,
.
– Melhor ainda foi ver você e minha filha - ele franziu a testa e me olhou. – É meio engraçado dizer: “minha filha”.
– Mais engraçado ainda é descobrir, de repente, que tem uma, não é mesmo? - ele riu.
– Eu diria que é emocionante. Demais até. - eu sorri – Só queria dividir a felicidade que eu estou sentindo com alguém.
– Você pode contar para...
– Não diga o nome dela. - engoli o seco – Quero dividir esse momento com pessoas importantes para mim, como você.
– Está querendo demais! - eu disse rapidamente.
– Eu sei. - ele ficou cabisbaixo – Tudo bem.
estava na cidade, sozinho, seus pais moram distante de nós, os únicos amigos que ele tem aqui em Trainsturn são Nick e Travis. Sabia o que ele estava sentindo porque me senti da mesma forma quando tive
.
– Se quiser conversar ou desabafar, pode contar comigo. - me aproximei dele, segurando em sua mão.
– No momento, eu me contento com um abraço seu, que para mim, significa muito. - ele disse sincero, e eu o apertei num abraço. Como eu senti falta disso! – Ainda não sei como conseguia passar tanto tempo longe de você.
– Não vamos pensar nisso agora, não é mesmo?! - me afastei para olhá-lo – Nosso foco é
, certo?
– Sim - ele assentiu, sorrindo fraco – Eu vou indo, me ligue para dizer se ela melhorou?
Fiquei pensativa durante um tempo, agora nossa vida seria assim, por mais que eu não quisesse tanta aproximação com , teria que fazer isso, por . Como pai e mãe, temos o dever de nos manter informados.
– Claro. - sorri e ele foi. Adentrei a casa.
– Vai ter que se acostumar! - minha mãe disse, passando pelo corredor e adentrando a cozinha. Segui-la.
– Eu sei. - estava prestes a mexer na panela, quando levei uma tapa na mão – Eu só quis ajudar.
– Eu já disse que dou conta, sozinha. - ri fraco, enquanto saía da cozinha.
Estava passando pelo corredor quando vi que meu pai havia chegado.
– Hoje a sobremesa é por minha conta. - ele disse animado, levantando a sacola que estava segurando.
– Quer aju...
– Não! Já basta sua mãe se intrometendo na minha cozinha. - eu ri com o mau-humor dele.
– Vocês dois hoje, hein. - ele deu de ombros e eu revirei os olhos – Vou ficar com a minha filha.
Fui para o quarto e
ainda estava cochilando, aproveitei o momento para tomar um banho e colocar uma roupa mais casual.
Quando retornei,
já estava acordada e mexendo em meu celular.
– Eu ia te pedir, mas achei que fosse demorar no banheiro. - ergui as sobrancelhas – Relaxe, eu só to contando a novidade para Lauren e Jake. Se eles tivessem ficado mais um pouco veriam tudo.
– Eles estavam aqui? - ela fez uma careta e esbugalhou os olhos – Tudo bem, eu já tinha desconfiado, porém não acho certo que eles tenham faltado aula para vim te ver. Eu cheguei a pedir que voltassem para o colégio.
– Você falou com eles?
– Sim, eles queriam te ver e ajudar com as matérias da escola. - ela parecia surpresa – Mas, não me falaram que viriam.
– Normal. - ela deu de ombros – Mas, mudando de assunto, não está brava comigo? - franzi a testa. – Mãe, não disfarce, eu sei que você sabe do que to falando!
– Claro que não. -
parecia confusa – Eu só não estava preparada para esse acontecimento. - a olhei – Sempre achei que estivesse, mas não.
– Eu acho mesmo que ele quer ser um pai pra mim. - ela disse sem disfarçar o sorriso largo que abriu. – Agora entendo que ele não teve culpa.
– Fico feliz que você esteja feliz, porque a minha felicidade é ver a sua felicidade. - ela riu – Parece redundante, mas é a verdade.
– Eu sei. - ela confessou – Mas é que você tava meio dramática.
– Drama é o meu segundo nome, meu amor - ela riu – Como eu disse, eu não estava preparada e ver
com você me fez ter medo de te perder, porque você aceitou tudo muito rápido, você o perdoou mesmo. E como te conheço bem, eu sei que você realmente quer se aproximar dele.
– Sim, é verdade. - ela segurou minha mão – Mas não vou te amar menos só porque agora, eu terei que ser dividida entre você e meu pai.
– Eu te amo, minha bonequinha de porcelana - a abracei – Mais que tudo nessa vida.
– Me desculpem por estragar o momento dramático que a
tanto gosta - minha mãe invadiu o quarto, nos interrompendo e fazendo
rir de mim – Mas o almoço está pronto e à mesa.
– Finalmente! Eu to com muita fome. -
disse, se levantando, a ajudei.
Depois do almoço,
passou a tarde assistindo séries e meus pais dormindo.
À noite se aproximou, rapidamente, e eu ainda estava organizando e atualizando as evoluções dos meus pacientes, em meu notebook. Por mais que eu pudesse tirar o dia de folga, não acho certo fugir das minhas responsabilidades, e, essas atualizações são necessárias. Toda semana eu avalio evolução ou involução de cada paciente, assim eu tenho noção se os métodos que aplico estão sendo eficazes; dependendo do paciente, e se realmente for o caso, isso tudo pode variar.
– Filha - minha mãe me chamou da porta – A
pode ir comigo na festa da Dona Clotilde?
– Eu não sei é uma boa ideia, ela não estava muito bem hoje cedo.
– Mãe, deixa -
apareceu atrás da avó – Eu sei, só terão velhos na festa.
– Mais respeito com a maior idade, menina! - minha mãe a repreendeu.
– Eu sei, só terão pessoas de idade avançada na festa - se corrigiu olhando para minha mãe, que assentiu – Mas, pelo menos, vou sair um pouco de casa. Eu não aguento mais ficar aqui trancada.
– Acabo de ter uma ideia! - minha disse animada.
– Que perigo! - eu disse a fazendo me lançar um olhar de reprovação.
– Por que não chama os seus amigos para ir conosco,
? - minha mãe sugeriu, fazendo a neta abrir um sorriso enorme.
– Não é má ideia. - peguei meu celular. – Vou ligar para os pais deles e pedir, enquanto isso, você vai tomando banho. - apontei para
e ela assentiu.
Fiz a ligação e falei com a mãe de Lauren e Jake, que permitiram no mesmo instante. Nossos filhos são amigos desde quando começaram na escolinha, mas ainda assim, é sempre bom ter o consentimento dos pais.
Meus pais e
estavam esperando por Jake e Lauren, que atrasaram um pouco, devido ao convite inesperado, porém assim que chegaram aqui, já seguiram viagem para a festa.
Não esperei por eles, estava cansada demais para isso. Aproveitei o silêncio e tranquilidade para dormir, eu precisava disso.
Capítulo 12
Algumas semanas depois,
e
já começaram a ter certa intimidade, o que me deixava alegre. Já não sentia mais ciúmes ou algo parecido, só mantinha a minha mente ocupada com outros assuntos, trabalho e mais trabalho.
– Mãe?
– Oi, filha - entrei no corredor de massas – Eu estou no mercado, quer algo?
– Chamei o meu pai pra jantar com a gente hoje, tem problema? - respirei fundo – Estaremos sozinhas na casa, de qualquer forma.
–
, por que você só me pergunta as cosias depois?
– Porque eu já sei que sua resposta sempre será não, mas, se você souber depois, não tem volta. - bufei, enquanto andava com o carrinho até o corredor de guloseimas.
– Olhe, eu nem vou...
– Não se esqueça das minhas balas e sorvete! -
finalizou a chamada. Eu já devia estar acostumada.
Não demorei muito. Comprei tudo que seria necessário para o jantar e sobremesa, além de outras coisas que eu já ia comprar. Passei rápido pelo caixa.
Saí do mercado, Carlitos estava a minha espera.
–
? - a chamei, colocando as sacolas em cima da mesa.
– Ah, chegou rápido. - ela cruzou os braços, se encostando entre a parede – Trouxe o sorvete?
– Nossa! Quantas perguntas, filha! Sim, eu estou bem, hoje o trabalho foi tranquilo, meu dia foi ótimo, estou até mais disposta a fazer esse jantar surpresa. - eu disse, tirando os alimentos das sacolas. – E o seu dia, como foi?
– Nada legal como o seu, mas pelo menos meu pai estará aqui pra alegrar a minha noite. - ela já ia saindo da cozinha, mas parou e me olhou – Por falar nisso, ele chega daqui a pouco.
– Como assim? Eu nem comecei a preparar nada. - a olhei, séria.
– Eu sei, mas eu fico fazendo companhia a ele até você terminar tudo.
– Suma da minha frente! - a ordenei, irritada e ela saiu da cozinha rindo. Tem horas que essa menina passa dos limites.
Deixei tudo que eu precisaria em cima da mesa..
–
, venha aqui. - lavei as minhas mãos, enquanto ela se aproximava devagar. – Vai adiantando as coisas aqui pra mim, enquanto eu tomo um banho.
– Você sabe o que aconteceu da última vez que eu cozinhei, a casa foi incendiada.
– Sim, eu sei - enxuguei minhas mãos – Mas, não é porque aconteceu uma vez que vá acontecer, novamente.
– Mas, se acontecer de novo? - a olhei, preocupada. Não preocupada com o que poderia acontecer, mas com ela, que parecia um tanto nervosa. – E se acontecer e for da mesma forma?
– Filha - me aproximei dela – Nós sempre estamos sujeitos a tudo nessa vida, mas não podemos viver pensando nisso, só nos causa mais medo e insegurança, e, às vezes, até nos prejudica. - suspirei.
– Parece impossível.
– Aparentemente, sempre é. Mas só, aparentemente, mesmo. - ela abaixou o olhar – Eu também fiquei abalada, foi um susto muito grande para mim, mas há coisas na vida que não podemos deixar de fazer. Qualquer casa está sujeita ao que aconteceu com a nossa, por qualquer motivo, até os mais bobos. - respirei fundo – Pense, eu vou tomar banho daqui a pouco, e por um descuido, posso acabar deixando o chuveiro ligado por muito tempo, enfraquecendo a resistência e causando um curto-circuito, que pode resultar em um incêndio.
– Mas, não é você que diz que as pessoas têm reações diferentes?
– Sim, eu digo isso porque é a verdade.
– Então a minha é diferente da sua, não fique me amedrontando.
– Não quero te amedrontar. - ela assentiu. – O que eu quis dizer é que eu não posso...
– Deixar de tomar banho por conta disso, blá blá blá... - a olhei, séria.
– Eu entendo que você passou por um grande trauma, seu comportamento é compreensível - pousei minhas mãos em seu rosto – Filha, esquecer você não vai, a menos que tenha amnésia, mas, você pode superar esse trauma e viver melhor daqui para frente, sim - ela arqueou as sobrancelhas – Mas, claro, vai levar um tempo.
– Ok. - a abracei forte.
– Desculpe se pareço insensível ou meio áspera, mas não faço por mal. Eu te amo demais e só quero o seu bem. - beijei sua bochecha e me afastei, ouvindo a campainha. – Só pode ser o seu pai.
– Eu atendo. - ela tentou caminhou mais rápido para atender a porta.
Suspirei forte, a noite seria longa...
– Oi,
-
me cumprimentou. Ele parecia desanimado.
– Que bom que você chegou! - sorri – Você pode ajudar
a ir preparando algumas coisas por aqui enquanto eu tomo um banho?
– Claro! Nem precisava perguntar. - ele sorriu bobo.
– Então
, encha aquela panela de água e a deixe no fogo alto - apontei para a panela. – Corte isso aqui desta forma - a mostrei como fazia – Depois lave tudo e despeje na panela.
– E depois? - ela perguntou.
– Faça o mesmo com os outros. - ela assentiu.
–
, fique observando as panelas no fogão, ok? - ele deu uma piscadela e eu sorri, antes de sair da cozinha.
Já fui para o meu quarto, retirando minhas roupas. Pendurei jaqueta e bolsa, e coloquei a sandália num canto qualquer. Tomei um banho revigorante, porém rápido, eu confio em
, mas como mãe, eu tenho minhas preocupações com
. Ela não está muito bem hoje, mas essa visita do pai pode melhorar seu humor.
Vesti-me, sem demora e voltei à cozinha.
Eles estavam tão distraídos na conversa que nem perceberam quando eu adentrei a cozinha, fiquei os observando.
tirou de seu bolso uma pequena barra de chocolate.
– Acha que levaríamos uma bronca da sua mãe se comermos antes do jantar? - mostrou o chocolate a
.
– Não se comermos antes de perguntar a ela. - sorriu cúmplice. – Sério, dá muito certo fazer isso.
–
!
– Ela não precisa saber. -
estava a ponto de ceder. – Por favor, pai.
Eu tive a certeza de que
iria ceder! Chamá-lo de pai mexe com ele e
sabe bem disso.
– Isso é golpe baixo - ele suspirou – Mas, tudo bem.
– Sério que eu não vou receber um pedacinho? - eu perguntei, os assustando.
– AH! - gritaram juntos.
– Que é isso,
?! -
pôs a mão no peito.
– Não podia anunciar que estava entrando na cozinha? - vez da
. Eu só conseguia rir. – Vou até sair daqui. - ela foi para a sala.
– Me desculpe,
. - ele riu fraco. – Eu não pretendia esconder de você que...
– Sem problemas! - abanei a mão, me aproximando da panela. –
sempre faz isso com o meu pai.
– E com você ela consegue? - o olhei, negando com a cabeça e rindo. – Então eu que sou bobo mesmo. - disse decepcionado.
– É compreensível. - ele forçou um sorriso –
, está tudo bem com você?
– Sim, eu já pedi transferência para a empresa filial aqui de Trainsturn, começo a executar minha função na próxima semana.
– Fico feliz por você, acredito que tenha sido uma decisão muito difícil. - ele assentiu – Mas,
está amando ter você por perto.
– Essa era a minha intenção, ficar por perto. - mais uma vez forçou o sorriso.
–
- ele levantou o olhar para mim – É só isso?
– Na verdade, eu estou tendo dias meio conturbados, mas vai passar.
– Eu posso te ajudar em algo? - franzi o cenho.
– Ah, eu não sei. Prefiro não te incomodar com meus assuntos. - ele respirou fundo – Não me entenda mal, é que eu só quero te poupar disso. - sorri para ele, assentindo.
–
, não precisa se explicar. Não mesmo. - sorri para ele e continuei cozinhando. – Mas, se precisar de algo, pode falar comigo.
– Eu agradeço,
. - o olhei – Ouvindo você falar assim, até tenho vontade de contar, mas eu não quero estragar a nossa noite.
– É grave? - fiquei um tanto preocupada.
– Bem...
– Pai -
nos interrompeu – Esse livro parece ser muito bom.
– Qual livro? - perguntei curiosa, mas ainda pensando no que
diria.
– Enviada. - respondeu empolgada.
–
disse que gosta de ler, então resolvi comprar o livro - ele disse, a olhando – Espero que goste.
– Já tô gostando. - me virei para o fogão, estava tudo pronto – Terminou?
– Sim, vai preparando a mesa. - ela assentiu, e, por mais incrível que pareça, sem reclamar. –
...
–
, não se preocupe, ok?! - engoli o seco – Eu quero apenas esquecer os problemas, pelo menos por enquanto, e aproveitar o restante da noite ao lado da minha filha e da mãe dela.
– Tudo bem. - ele deu uma piscadela e fomos para a sala.
Tivemos um jantar tranquilo e divertido,
já se sentia mais à vontade e
estava amando isso. Era bom ter ele por perto, mesmo que apenas como o pai da minha filha.
– Mãe - a ouvi me chamar – Meu pai tá indo embora, não vai se despedir?
– Sim - levantei-me do sofá, preguiçosamente, e a olhei, estava ofegante e pálida – Você está bem?
– Sim, vamos. - ela me puxou pela mão até o portão, me largou e deu uma breve corridinha em direção a
. Antes de chegar até ele,
caiu desmaiada.
– Ai meu Deus! - pus as mãos na boca, de olhos arregalados.
a pegou no colo.
–
, abra a porta do meu carro. - me deu a chave e assim o fiz. Ele a colocou deitada no banco de trás. Sentou-se no banco da frente, já ligando o veículo – Entre logo.
Ele dirigia, rapidamente, mas pareceu uma eternidade até chegarmos ao hospital.
pegou
no colo e adentrou o local, desesperadamente.
– Por favor, a minha filha precisa ser atendida, é urgente! - ele disse à recepcionista.
– Senhor, hoje é o dia de folga do médico dela, mas...
Não esperamos por resposta, invadimos a sala de emergência.
– Vocês devem esperar como todos os outros. - um enfermeiro tentou nos barrar.
– Por favor, é urgente! - eu disse.
– Aqui todos os casos são urgentes, senhora.
– Tá brincando comigo? A minha filha está desmaiada. - o enfermeiro deu de ombros –
segurou
em um braço e com o outro puxou a gola da camisa do homem – Eu juro que se a minha filha morrer, você vai junto!
Vimos um homem com aparência de médico, largou o enfermeiro, pegando na minha mão e correndo.
– Doutor, a minha filha...
– Eu sei do caso dela. - ele disse a olhando – O meu nome é Dean, em que posso ajudar?
–
desmaiou, repentinamente. - eu disse aflita.
– Ela sentiu falta de ar ou algo do tipo?
– Ah, ela só correu. Por que, doutor? -
perguntou, preocupado – É grave?
– Com licença - o médico apalpou o pescoço de
e parou o olhar em seu tórax. – Sua frequência cardíaca está caindo, assim como a frequência respiratória. - olhei para
, que apenas mantinha sua expressão de preocupado. – ME AJUDEM A LEVÁ-LA AO BALÃO DE OXIGÊNIO, RÁPIDO! - o médico gritou e uma aglomeração de enfermeiros levou
até a maca, correram para uma sala.
– Doutor, o que vai acontecer com a minha filha? - perguntei chorando e
me abraçou.
– Ela não está respirando normalmente, por isso o desmaio. - me desesperei. – Não se preocupem, cuidaremos dela. -
assentiu e o médico se afastou, com pressa.
– E agora? -
me olhou triste, e beijou o topo da minha cabeça.
– Calma, vamos manter a esperança. - ele sussurrou.
– Preciso ligar para os meus pais, para as meninas e nem estou com meu celular.
– Acho que não seria uma boa ideia ligar para eles agora - o olhei confusa – Vamos esperar para ter mais notícias. - assenti.
–
? - olhei na direção da voz.
– Sam - ele se aproximou – Ainda bem que chegou,
teve um desmaio.
– Já estou ciente do ocorrido, vim o mais rápido que pude.
– Muito obrigada. - ele sorriu fraco, me olhando.
– Será que você pode atender a minha filha? Ou vai continuar aqui secando a mãe dela com os olhos? -
estava me envergonhando.
– Me desculpe por isso, Sam.
– Tudo bem, a verdade é que eu também estou aqui por você.
Não tive tempo de me surpreender com sua resposta, pois o socou no rosto. Pensei que Sam revidaria, mas ele apenas manteve a mão sobre o nariz.
– Oh, meu Deus! Desculpe por isso também. - pedi nervosa. – Você está bem? Quer que eu chame alguém? - perguntei, preocupada.
– Agradeço a preocupação, mas não será necessário. - seu nariz sangrava.
– Deixe-me dar uma olhada nisso - me aproximei, retirando sua mão do nariz. – Está com um pequeno corte.
–
, pare com esse drama. Ele é médico, sabe se cuidar. -
estava nervoso demais, e por isso, me irritando.
– Acho melhor você ir embora.
– Vou ficar aqui até receber notícias da minha filha, afinal, estou aqui por ela. - ele cruzou os braços.
–
fez algum esforço? - Sam perguntou, preocupado.
– Ela só correu, mas já estava ofegante e pálida.
– Há quanto tempo que a levaram?
– Não tem muito tempo. - ele apertou os olhos. – Por quê?
– Preciso ir. - Sam correu, procurando a sala que haviam levado
.
Sentei-me na poltrona, junto a . Estava irritada com ele, mas ainda preocupadíssima com .
– Não me faça ficar com mais raiva de você.
–
, se ele está interessado em você e gosta de demonstrar isso, ok. Você é linda, gentil, uma pessoa incrível, eu não o culpo. - o olhei surpresa – Mas, com a minha filha desfalecida numa maca, precisando de cuidados, eu acho desrespeito.
– Mas não precisava daquela reação.
– Desculpe. - ele me olhou nos olhos.
– Quer saber, tudo bem. Não quero discutir sobre isso, agora.
– Eu só não...
–
, esqueça isso! - suspirei.
Depois de um longo tempo, Dean e Sam voltaram, com expressões nada agradáveis.
– Como ela está? -
perguntou, se levantando.
– Devido à inalação a fumaça, com uma pequena sequela. - olhei para
, que abaixou a cabeça. –
precisará de medicamentos para sustentar seu pulmão e usar aparelho respiratório sempre que necessário, por enquanto. Também não poderá realizar certas atividades que antes faria sem problemas, a menos que seja com a instrução de um profissional. - disse Dean.
– Ela precisará manter sua rotina com a fisioterapia normal, mas, principalmente, com fisioterapia respiratória. - Sam disse, olhando para mim – Também recomendo aulas de natação, vai melhorar seu condicionamento físico e ao mesmo tempo, trabalhará a respiração, os benefícios são ótimos.
– E quanto à escola? Ela poderá frequentar as aulas, normalmente? - perguntei.
– A princípio eu prefiro que ela comece com o tratamento adequado e depois de um tempo, retorne às aulas. A menos que ela ainda esteja com muita dificuldade na respiração. Mas, para esses casos, eu indicaria um aparelho respiratório portátil. - Sam dizia com tranquilidade – Caso ela retorne, avise a escola sobre sua atual situação e não permita que ela faça aulas de educação física, a menos que seja na piscina, sem muito esforço, e com um profissional a observando e orientando, constantemente.
– A minha filha não poderá mais ter uma vida normal? -
levantou sua cabeça.
– Por enquanto,
precisará de cuidados que a maioria das pessoas não necessita - Sam o respondeu – Com o tempo, o tratamento contínuo terá seus efeitos positivos e vocês notarão a diferença na rotina dela, então vai melhorar.
– E não dava para descobrir isso antes? -
estava nervoso – Precisava
desmaiar e quase morrer?
– Bem, ela ficou dois meses internada e não teve muitos problemas aqui, mesmo assim recomendamos medicamentos para ingerir em casa mesmo. Não nos foi informada nenhuma anormalidade. - respondeu Sam.
– Bem,
sempre estava sentindo tonturas, fraquezas, respiração falha... Enfim, eu dizia para ela fazer nebulização, e melhorava.
– Por que não a trouxe ao hospital, em pelo menos, uma das vezes que ela sentiu esses sintomas? -
perguntou, meio alterado.
– Porque sei que
tem problemas psicológicos e quando as crises são muito fortes, ela fica assim. - olhei para os médicos – Sei que esses são alguns dos sintomas, eu lido com isso, diariamente.
– Você devia ter sido mais prudente! Não podia ter vindo ao hospital para ter certeza que ela estava bem? Porque não estamos falando dos seus pacientes, estamos falando da sua filha. -
me olhou – Que tipo de mãe você é?
– O tipo de mãe que não precisa do pai da filha para cuidar dela. - Sam disse com um tom um tanto elevado.
– Samuel, não entre nesta situação, o assunto é pessoal, de família. - Dean o aconselhou.
– Ouça ao seu amigo. -
disse de sobrancelhas erguidas.
– Quem está sendo desrespeitoso agora,
? - o olhei firme.
– Aonde você vai? - perguntou, elevando seu tom de voz.
– Apenas se preocupe em ficar com
, porque o que eu faço da minha vida já não lhe diz respeito.
Saí do hospital a passos firmes, não aguentava mais toda essa confusão na minha mente.
Todas essas emoções que eu precisava controlar, mas que já não aguentava mais ter que controlar! Precisava espairecer antes que eu enlouquecesse.
– Oh!
! - ouvi alguém me chamar e parei de andar – Você está muito nervosa, tente relaxar.
– Todos os dias, o mesmo estresse de sempre, isso está acabando comigo! - me virei para a pessoa, era Samuel. – O que está fazendo aqui?
–
já está sendo cuidada, melhorou bastante e, sim, está consciente. - respirei aliviada – Ainda estou de folga, mas Dean cuidará dela.
– Agradeço por ter vindo, mas é melhor você aproveitar o resto da sua noite. - disse sincera – Se já é estressante para mim, imagine para você, se poupe disso por pelo menos hoje.
– Eu gosto de estar perto de você. - ele fixou os olhos nos meus.
Ainda me sentia um tanto envergonhada todas as vezes que percebia algum tipo de intenção a mais da parte de Sam, mas confesso que gostava, apesar de estar sempre pensando muito em
e não dar espaço para mais ninguém, além dela, na minha vida.
– Se quiser fico aqui com você - ele disse.
– Ah, eu agradeço, mas não quero ficar por perto. - suspirei – Sei que minha filha precisa de cuidados, mas, no momento, eu não posso fazer muito por ela, e se eu continuar estressada assim, só a irei prejudicar, mesmo que sem intenção.
– Eu entendo, mas insisto em dividir o meu fim de noite contigo. - estava surpresa com sua insistência, não que fosse ruim. – Como já disse, eu gosto de estar perto de você.
– É muita gentileza de sua parte, Sam. - disse sincera e sorri fraco.
– Seu sorriso me encanta - ele disse, de repente e olhou para os meus lábios. – Oh, me desculpe por isso.
– Tudo bem.
– Então, não quero parecer atrevido, mas nós podemos sair agora, se você quiser. - ele sugeriu. – Apenas como amigos, claro.
– Ok - passei as mãos pelo cabelo – Mas, para onde vamos?
– Se me permite, farei uma surpresa.
Estava curiosa durante todo o trajeto até o local da surpresa. Tentei descobrir para onde Sam me levaria, porém, ele só dizia: "não se preocupe, você vai gostar!". Depois de uns 15min, chegamos.
– Não acredito! Você me trouxe para a sua casa? - perguntei incrédula.
– Ah, não gostou da surpresa? - percebi sua decepção.
– Não é isso... Mas, nós nem...
– Fique tranquila, não é o que está pensando. - forcei um sorriso, sem graça.
– Não tinha outro lugar para irmos?
– Tinha, mas achei que você ficaria mais à vontade num lugar aconchegante. - assenti ainda intrigada – Quer comer algo?
– Não se incomode comigo, eu estou sem fome.
– Nada disso - o olhei – Vamos pedir algo para comer ou nós vamos cozinhar? - ele perguntou, enquanto retirava seu jaleco.
– Com licença. - pedi e me sentei no sofá – Por que não pedimos apenas um lanche, já que faz tanta questão que eu coma?
– Pizza?
– Prefiro hambúrguer.
– Por mim, tudo bem. - ele deu de ombros.
Eu estava me sentindo um pouco receosa, não tinha intimidade com Samuel, sempre conversávamos sobre
e sobre como ela estava, mas nada além disso. Confesso que criei uma defesa dentro de mim, principalmente contra homens e me aproximar tanto de um, depois desses 16 anos, era quase impossível.
Depois que
foi viajar, eu me fechei de tal forma que não me envolvi com mais ninguém. E a dúvida que eu sentia dentro de mim era se eu poderia dar uma chance a Sam, ou se estava sendo imprudente e egoísta, já que eu tenho
em minha vida e precisava pensar nela antes de tudo.
Enquanto Sam fazia os pedidos, com sua permissão, andei um pouco pela casa, e me deparei com um quarto bem exótico, no 2º andar. Adentrei o local e vi algumas fotos num mural verde escuro.
Havia fotos de Sam com um menino de cabelos negros e pele bronzeada, outras apenas do menino andando de skate, porém uma foto em especial me chamou atenção. Sam estava ao lado do menino, que se encontrava num lugar parecido com um quarto de hospital. O menino estava de bandana azul e sem o dente frontal, mas sorria para Sam, que fazia uma careta divertida. Distraí-me tanto observando a foto, que nem percebi quando Sam adentrou o quarto.
– Esse é Logan, meu filho. - dei um pulinho devido ao susto, o fazendo rir.
– Acho que você já mencionou que tinha um filho. - ele assentiu.
– Sim, no dia do seu surto, no hospital. - me lembrei da vergonha que foi aquele dia, apenas suspirei.
– Ele não parece muito com você - desviei o assunto – Quero dizer, os olhos e sorriso sim, mas nada além.
– Geralmente, as pessoas dizem que ele é a minha cara. - riu fraco.
– Exagero. - ele se fez de ofendido, me fazendo rir.
– Mas, parecendo ou não, meu filho é lindo. - ele disse orgulhoso.
– Tão lindo quanto você, não dá para negar isso. - ele alargou o sorriso, então me dei conta do que havia dito.
– Não precisa se envergonhar por dizer a verdade. - revirei os olhos e ele riu forte.
– Vocês estavam em algum hospital? - apontei para a foto.
– Sim - ele fixou o olhar na imagem – Quando Logan fez 7 anos, eu e a minha mãe fizemos uma festinha para ele, em casa mesmo. Chamamos todos os seus coleguinhas de escola, e eu estava feliz por ver meu pequeno brincando e se divertindo. Até que ele subiu a escadinha que levava até sua casinha da árvore, e de repente, o vi cair. Ele começou a chorar e gritar muito forte. Corri, desesperadamente, em sua direção e o peguei no colo, quando olhei para sua perna, estava quebrada em dois lugares. Imediatamente, o levei para um hospital. Chegando lá o levaram para a sala de emergência, antes de fazerem a cirurgia, o médico me perguntou como ele havia se machucado e eu o expliquei. - assenti, atenta a história – Depois da cirurgia, o médico me chamou e disse que teria uma notícia nada boa, Logan estava com metástase óssea, mas estava no primeiro estágio da doença. - fiquei boquiaberta e sem reação – Ele perguntou se havia caso parecido na família, então lembrei que a mãe de Logan morreu de câncer com metástase na mama. Logan começaria uma sessão de radioterapia rapidamente, e essa foto foi tirada no dia em que o médico deu alta permanente para ele.
– Posso imaginar como você se sentiu!
– Quando olho para esta foto, lembro que a maior felicidade do meu filho foi saber que não precisaria mais passar por todo aquele sofrimento, novamente. Eu me emociono até hoje. - confessou, enxugando algumas lágrimas – Por isso eu me empenhei tanto na minha profissão. Eu queria que as pessoas sentissem a mesma sensação de alívio que eu senti, e sinto todos os dias. - ele me olhou – Entende por que eu me envolvi tanto no caso de
, apesar de ser diferente?
– Entendo sim, e não vou me cansar de agradecer a você por cuidar tão bem da minha filha. - disse sincera – Imagino o quão difícil foi para você ter que ver seu filho sofrendo. Meu coração se aperta só de pensar.
– Sim, mas agora Logan já têm seus 17 anos, graças a Deus, é um garoto saudável. Mas eu não descuido, estou sempre pedindo minha mãe para levá-lo ao hospital, fazer novos exames é indispensável. - assenti – Os casos são totalmente diferentes, mas assim como Logan,
também ficará bem, conforme for se tratando.
– Sim, obrigada pela força.
– Você não se cansa de me agradecer? - perguntou num tom de brincadeira.
– Não mesmo! - nós rimos.
Voltamos ao 1º andar, Sam estava no banheiro quando, de repente, a campainha tocou.
– , atende para mim, por favor. Deve ser o entregador.
Abri a porta esperando pelo lanche, mas não parecia ser o entregador.
– Oi, meu pai tá aí? - um menino alto, de voz grossa, cabelo negro até os ombros e pele bronzeada, perguntou.
– Se está falando de Samuel, sim, ele está. - ele assentiu – Você é o Logan?
– Sim, sou eu. - sorriu simpático.
– Entre. - dei lugar para ele passar e fechei a porta – Seu pai tem razão, você é muito bonito, Logan.
– Ah, obrigado. - ele sorriu largamente.
– Vejo que já conheceu
. - Sam adentrou a sala, abraçando o filho.
– Dessa vez você acertou em cheio pai, ela é linda. - Logan disse, envergonhando o pai.
– Garoto, fique quieto. - ele sorriu sem graça, me olhando – O que te traz aqui hoje, filho?
– Eu estava com saudade. - Logan respondeu, e pude notar a expressão de Sam se transformar. Sentamo-nos no sofá.
– Filho, eu sei que não estou tendo muito tempo para ir te visitar na casa da minha mãe, mas é que tenho trabalhado muito. - Logan fez uma linha com a boca – Você me entende, não é mesmo?
– C-Claro. - Logan não foi convincente em sua resposta – Eu posso dormir aqui hoje?
– Você nem precisa perguntar! - Sam o apertou no abraço – Está emocionada,
?
– Ah, me desculpe - sequei a lágrima que escorreu – Eu me lembrei de
e
. Eles se conheceram há pouco tempo, você não sabia até hoje.
– Você tem filhos? - Logan perguntou curioso.
– Eu tenho uma filha,
é o seu nome.
é o pai dela.
– Eles não se conheciam? - neguei com a cabeça – Nossa! Que esquisito!
– Menino, fica na sua. - Sam disse, me fazendo rir.
– O mais estranho agora é ver a forma como os dois se tratam. - suspirei – Parece que se conhecem desde o nascimento de
.
– Como você se sentiu? - Sam perguntou, me olhando nos olhos.
– Parecia que eu estava perdendo a minha filha para ele, mas esse sentimento passou. - ele sorriu – Eu fico muito feliz em vê-los dessa forma.
– Não temos nada para comer? - Logan perguntou, esfregando a mão na barriga – Estou com fome.
– Pedimos hambúrgueres, mas até agora não chegou. - Sam pegou seu celular – De qualquer forma, tenho que pedir mais um para você.
– Não precisa. - eles me olharam – Eu estou sem fome, dê o meu para Logan.
– Ah, eu não posso aceitar. - Logan falou olhando para o pai.
– Eu já havia jantado antes de ir ao hospital.
– Você estava passando mal?
– Eu não, minha filha. - suspirei, pensando se
estava bem com
. É claro que estaria!
– Por quê? O que ela tem? - Logan perguntou curioso.
– Filho, não seja inconveniente. Vamos mudar de assunto. - Sam piscou para o menino e ele assentiu.
– Na verdade, eu preciso voltar ao hospital - olhei para Sam – Por mais que eu tente, não consigo parar de pensar em
, quero vê-la.
– Tudo bem, eu te levo. - Sam se levantou e Logan já estava subindo a escada.
– De forma alguma, fique com seu filho. - eu disse.
– Não tem problema, estou acostumado a ficar longe do meu pai. - Sam fechou seus olhos, os abrindo em seguida e respirou fundo.
– Vou levar
ao hospital - Logan parou na escada e assentiu – Não saia daqui enquanto eu não chegar.
– Tchau, Logan - ele acenou e sorriu – Você além de bonito é muito simpático.
– Obrigado, foi bom ter você aqui. - eu sorri e ele subiu.
Não demorou muito para chegarmos ao hospital, o trânsito estava tranquilo.
Sam estacionou o carro e ficamos um tempo em silêncio, senti que ele me olhava, mas eu não tinha coragem de encará-lo.
– Está com vergonha de mim? - ele perguntou, rindo fraco e o olhando, assenti – Por quê?
– Sou uma boba.
– Eu diria que você é encantadora. - sorri fraco.
– Agradeço pela sua companhia, e a de Logan também.
– Você não se cansa de me agradecer? - eu balancei a cabeça em negação, nós rimos.
– Seu filho é um garoto muito especial. - ele suspirou.
– Eu gostaria de dar mais atenção a ele, mas meu trabalho não permite.
– Também tenho passado pela mesma situação. - Sam se virou em minha direção – É difícil!
– Não vamos pensar nisso agora - assenti, sorrindo – Seu sorriso é tão lindo, que me deixa desnorteado, toda vez que o vejo.
– Que exagero! - Sam olhava fixamente para a minha boca, meu coração acelerou – Acho melhor eu ir ver
.
– Tem razão. - soltei-me do cinto de segurança – Até... - ele olhou para seu relógio de pulso – Daqui a pouco.
– Até. - nós rimos – Dirija com cuidado! - ele assentiu e eu saí do carro.
Capítulo 13
Adentrando o hospital, cumprimentei as recepcionistas e fui até o elevador. Vi alguns familiares de pacientes chorando pelo corredor, meu coração se apertou.
Cheguei ao quarto de , ela estava dormindo. Olhei para e o chamei para o lado de fora.
– Não quero brigar com você na frente , então quando ela acordar, por favor, não me provoque.
– Não era para você estar mais relaxada?
– Acontece que quando eu te olho, sinto o meu sangue ferver. - ele desfez o sorriso cínico – Por , não vamos discutir. Não na frente dela.
– Claro. - assenti – De qualquer forma, eu não tenho a intenção de discutir com você.
– Melhor assim. - olhei pela porta – Ela acordou. Já sabe!
Adentramos o quarto, observando nossa filha. Ela parecia meio confusa e grogue, estava usando um aparelho respiratório.
– Como está se sentindo, filha? - perguntei, enquanto a abraçava.
– Além de sonolenta, com raiva. Não acredito que estou aqui, de novo! - ela me olhou, começando um choro baixo.
– Oh, meu amor, não chore. - a apertei ainda mais – Você sabe que eu jamais te deixaria ficar aqui sem um motivo forte, mas é para o seu bem!
– Meu pai... - ela olhou para os lados e encontrou – Pelo menos desta vez, você está aqui comigo.
– Eu não te deixaria, de qualquer forma. - ele se aproximou dela, beijando o topo de sua cabeça – Você vai melhorar logo, apenas espere mais um pouco.
– Isso me cansa! - disse irritada, secando as lágrimas que não paravam de escorrer.
– Eu sei. - revirou os olhos.
– Não. Você não sabe. - arqueei as sobrancelhas – Quem fica deitada aqui o tempo todo, com o braço cheio de furinhos das agulhas, e tendo que usar esses aparelhos, é eu.
– , eu vou relevar o que você está dizendo desta vez, mas...
– Ah, por favor! To cansada de você também! - a olhei firme – Já falei com meu pai que vou morar com ele.
– O quê? Enlouqueceu? Tomou o remédio errado? - tentou me acalmar – Fique longe de mim! Está fazendo a cabeça dela? Há quanto tempo estava tramando isso pelas minhas costas?
– Mãe, eu não sou mais criança, posso muito bem tomar decisões sobre a minha vida, já que sou quase uma jovem adulta.
– Disse bem, você é quase, mas ainda não chegou lá. E, por enquanto, eu tomo as decisões sobre sua vida. - respirei fundo – Jamais permitirei isso!
– Eu sei disso e por isso não te pedi, falei diretamente com meu pai.
– Percebe a merda que está fazendo? - olhei de para , estava a ponto de socar os dois.
– Percebo que você deixou sua filha doente no hospital para se encontrar com o médico dela. - engoli o seco.
– Você fez isso? - começou de histeria. Fechei os olhos, respirando fundo mais uma vez – Que tipo de mãe você é? - perguntou, alterando a voz.
– Abaixe o seu tom de voz para falar comigo, menina - a ordenei com firmeza – Sou o tipo de mãe trouxa que cria uma filha, sozinha, e faz tudo pensando nela, para receber em troca a ingratidão da mesma. - bufei – Mas a culpa é minha, eu te mimei demais.
– Você sempre escondeu de mim quem era o meu pai, então não comece com seu drama agora que quero ter convívio com ele. - já estava a ponto de explodir – Como você mesma disse, a culpa é sua!
– Não seja tão imatura, ! - ela arqueou uma sobrancelha – Não tem nem um mês que você conheceu o seu pai, quer mesmo ir morar com ele?
– , as coisas simplesmente acontecem. É a vida.
– , cale a sua boca antes que eu mesma faça isso por você! - ele engoliu suas palavras e eu voltei meu olhar para – E quanto a mim, menina? Sempre te dei amor e carinho, fiz tudo que estava ao meu alcance para te ver bem.
– A verdade é que, você nunca me deu tanta atenção. - cruzei meus braços, para não usá-los a golpeando – E agora menos ainda, já que tudo o que importa na sua vida é o seu emprego.
– Eu não te dou atenção? - ela negou com a cabeça – Então, por que estou aqui agora, ouvindo tanta besteira ao mesmo tempo, enquanto poderia estar em casa continuando o meu trabalho que nunca acaba ou até mesmo relaxando? - ela se ajeitou na cama, olhando para o pai – Pense um pouco e depois me dê sua resposta.
Saí do quarto me segurando para não gritar. veio atrás de mim.
– ... - me virei para ele.
– Qual é a sua, ?
– Como assim? - ele franziu a testa – Eu não fiz nada. - arqueei as sobrancelhas.
– “Já falei com meu pai que vou morar com ele”, te lembra de algo?
– , até mencionou isso em uma de nossas conversas, mas eu achei que ela estivesse brincando. - assenti, sem acreditar – Eu jamais permitiria isso, não porque eu não queira, mas porque não seria justo com você.
– Tá bom. Só saia da minha frente antes que eu desconte em você toda raiva que estou sentindo agora. - falei em meio ao choro e ele tentou se aproximar – Sai!
Sentei-me na poltrona fora do quarto e tentei me acomodar, ainda chorando. Estou cansada de tudo e todos.
Acordei com a claridade da luz forte sensibilizando ainda mais minhas vistas e, como um bônus, dor nas costas. Levantei-me devagar e olhei para o relógio, 06:23h.
Lembrei que precisava ligar para os meus pais, mas estava sem telefone. Fui ao banheiro do quarto, lavei meu rosto, que por sinal estava meio inchado e dei um "jeitinho" no cabelo. Saí do banheiro, olhando para , parecia estar bem. ainda dormia, então apenas saí do quarto.
Fui até a recepção para tomar uma xícara de café, precisava me manter acordada durante o dia inteiro.
Quando voltei, já havia acordado e me chamou para conversar.
– , eu quero mesmo me desculpar por ontem, não medi as palavras quando disse aquelas coisas na frente da . - virei o rosto, bufando – Eu também estava irritado, tente me entender.
– Você se irritou por ter me visto com Sam. - o olhei firme – Dá próxima vez, apenas confesse. Não use a sua filha para tentar me atingir, ou para camuflar a sua covardia.
– Tudo bem. - ele que mantinha seu olhar para baixo, levantou o rosto e me encarou – Eu ainda gosto de você, é difícil para mim te ver com outro homem. - revirei os olhos – Sei que você não acredita, mas é a verdade. É o que eu sinto.
– Por que estamos conversando sobre nós aqui no hospital mesmo?
– Porque fora daqui você sempre tenta fugir do assunto, como está tentando fazer agora. - engoli o seco. fixou seu olhar nos meus olhos, apenas suspirei, sentindo meu coração pulsar mais forte – Nós ainda podemos ser como antes.
– Nada mais será como antes. - ele acariciou meu rosto, o segurando com leveza e aproximando o seu – , por favor!
– Me desculpe por atrapalhar - vi Sam parado na porta do quarto. apenas se afastou, bufando – Só queria desejar um bom dia a você, .
– Obrigada, Sam. - ele sorriu – Te desejo o mesmo.
– Obrigado. - ele se aproximou de – Durante a madrugada ela teve uma pequena complicação, então eu prefiro que ela continue usando o aparelho.
– Durante a madrugada? - ele assentiu – Você ouviu algo?
– Não, eu estava num sono pesado. respondeu incrédulo.
– Eu percebi. - Sam provocou, deixando ainda mais irritado – Bem, quando acordar, ela precisará ingerir este comprimido - colocou em cima da pequena mesinha – Mas não se preocupem, eu volto para vê-la tomando o medicamento.
– Agradecemos por sua atenção à . - ele sorriu, saindo do quarto.
me olhou sério.
– Você não tem noção do quanto esse médico me tira a paciência! - confessou, sentando-se – Ele atrapalhou, propositalmente.
– E foi bom.
– Claro, para você foi ótimo.
– , aqui não é lugar para discutirmos sobre isso, você sabe. - ele assentiu – Não fique assim tão irritado.
– Coloque-se em meu lugar. - pediu, arqueando as sobrancelhas.
– Faça o mesmo, coloque-se em meu lugar. - desviamos nossa atenção à , que se espreguiçava. – Filha, está se sentindo bem?
– Bom dia? - ela ergueu uma sobrancelha, me provocando.
– Bom dia, mocinha. - se aproximou.
– O médico disse que você não estava bem pela madrugada. - ela me olhou.
– Eu não lembro de nada. - respondeu ainda sonolenta.
– Ele pediu para você tomar esse comprimido assim que acordasse - a entregou o medicamento.
– Não é melhor esperar por Sam?
– Já quer vê-lo? - olhei séria para .
– Na verdade, sua mãe já o viu. - me olhou – Mas concordo, melhor esperar o médico avaliar como você irá reagir tomando o comprimido.
– Voltei exatamente para isso - Sam adentrou o quarto, novamente – Como se sente, ?
– Eu tenho sentido tantas coisas que nem sei mais identificar. - Sam riu fraco – Posso? - mostrou o medicamento e ele assentiu.
Assim que ela ingeriu o comprimido, se engasgou. Coloquei a mão no peito, sem saber o que fazer. Sam inclinou um pouco o corpo de para frente, e pediu para ela tossir mais forte.
– O que foi isso? - perguntou. Estava realmente assustado, era visível.
– Apenas um engasgo, eu já sabia que aconteceria. - disse tranquilamente – A boca dela estava seca, o que é normal em seu caso, e por tomar a água rapidamente, sofreu o engasgo. É comum que aconteça, mas eu tinha certeza que vocês teriam essa reação, por isso preferi vir.
– Oh, nossa! - olhou para Sam – Obrigado por isso.
– Só fiz o meu trabalho - Sam sorriu e me olhou – já está liberada para ir embora, mas já sabem minhas recomendações, nada de esforço a menos que esteja com a fisioterapeuta. Não esqueçam que é essencial que ela faça aulas de natação.
– Graças a Deus! Eu não aguentava mais ficar aqui. - disse animada – Agora, me deem licença, vou me trocar. - foi para o banheiro.
– Muito obrigada, Sam. - sorri – Você foi muito atencioso com minha filha, comigo. - bufou, saindo do quarto.
– Ainda nos veremos?
– Claro. Sempre que necessário eu trarei aqui. - tentei desconversar.
– Você entendeu. - ele lançou um olhar significativo.
– Se você me ligar, nos veremos mais vezes. - dei meu número a ele.
– Mãe, to pronta - saiu do banheiro, arrumada – Vamos?
Saímos do quarto, encontrando de braços cruzados, nos olhando.
– Mais uma vez obrigada, Sam. - ele sorriu satisfeito.
Fiz sinal para e ele nos seguiu, saindo do hospital.
Quando chegamos à casa dos meus pais, levou para o seu quarto e voltou para a sala.
– , eu...
– Agora não, . - disse, me sentando no sofá e fechando meus olhos.
– Vai mesmo tentar fugir, novamente? - suspirei.
– Eu não estou com cabeça isso agora.
– Você nunca está! - bufei. – Eu só quero que você me diga se ainda podemos ser como antes.
– Não tem como! - mexi em meu cabelo – As coisas mudaram, eu e você mudamos, não dá pra sermos como antes.
– Você tem razão - o olhei de relance, fechando os olhos, novamente – Nós mudamos bastante, mas e o nosso sentimento um pelo outro? Mudou? - senti sua respiração perto do meu rosto.
– ...
– Olhe em meus olhos e responda. - abri os olhos devagar, fixando no olhar dele – Você não sente mais nada por mim? Porque eu ainda sinto por você. - ele se aproximou ainda mais de mim, fazendo meu coração acelerar e minha respiração ficar falha.
Não tive tempo de responder, pois surpreendeu com um beijo.
O beijo longo e não tão calmo, que eu tanto sentia falta. O sentimento de borboletas eufóricas querendo voar em meu estômago, a respiração que parava por segundos. Era como se fosse o nosso primeiro beijo. Bem, de certa forma, depois de 16 anos, era o nosso primeiro beijo.
prensava o seu corpo contra o meu, e me beijava com mais intensidade a cada segundo, eu estava em uma situação perigosa e precisava ser salva, mesmo que contra a minha vontade.
Meu celular, que estava em cima da mesa, começou a tocar. parou o beijo e me olhou, mordendo o lábio e erguendo as sobrancelhas.
– É melhor você atender. - se afastou.
Levantei-me, indo em direção ao celular. Fui salva pela minha mãe.
– Filha, está tudo bem com você e ?
– Agora sim. passou a noite no hospital, mas agora está bem.
– O que ela teve?
– Está com sequelas, lembra que havia essa possibilidade?
– Lembro, mas por que não me ligou?
– Na verdade, eu estava sem celular, mas também não queria deixar você e meu pai nervosos. - a ouvi bufar de raiva – Mas, ela está bem agora.
– ficou com vocês no hospital?
– Sim.
– Menos mal. - pigarreei – Quer que eu volte para casa?
– Não é necessário, aproveite o restante da viagem.
– Mande um beijo para minha neta. - ela suspirou – Amo vocês.
Antes mesmo que eu pudesse responder minha mãe já havia finalizado a chamada. Desliguei a tela do celular e me virei, encontrando me observando.
– O que é? - sentei-me novamente no sofá.
– Só estou te admirando. - sorri fraco, sem o olhar – Está com vergonha?
– Eu? Com vergonha de você? - ele riu.
– Vai negar? - eu apenas revirei os olhos, bufando. se sentou ao meu lado e puxou meu rosto levemente para si – Por que não continuamos?
– Porque se continuarmos daqui a 9 meses teremos uma segunda versão da vindo ao mundo. - ele riu forte.
– Não seria ruim! - dei uma tapa em seu peito. segurou meu braço e empurrou seu corpo contra o meu, me fazendo deitar.
– , sério, melhor pararmos por aqui. - ele beijou o canto da minha boca.
– , desde quando eu voltei tento me controlar perto de você, mas está sendo cada vez mais difícil. - ele sussurrava em meu ouvido.
Tentava manter minha consciência sã, porém não conseguia já que tentava me beijar a cada suspiro que eu dava. Meus sentidos não me obedeciam mais, pelo contrário, só correspondiam às investidas dele.
Num impulso, afastei seu rosto do meu e o empurrei, deixando claro que eu não iria a fundo com aquilo. Ajeitei-me no sofá e ele ficou me olhando, confuso.
– Antes que me pergunte eu já vou lhe responder de uma vez, estamos indo rápido demais. - o olhei, abaixando sua camisa que mostrava uma pequena parte de seu abdômen.
– Achei que você queria tanto quanto eu, e digo isso em todos os sentidos. - fiz uma linha com a boca – Eu sinto sua falta, .
– É isso que me intriga - o olhei firme – Depois de todo esse tempo, só agora você sente a minha falta.
– Não, claro que não. - ele respirou fundo, desviando seu olhar para o outro lado – Mas, só agora estou tendo coragem de lidar com tudo que vêm me acontecendo. A verdade é que o sentimento que eu tinha por você estava adormecido, confesso.
– É a forma que encontramos de continuar convivendo com o sentimento sem nos machucarmos tanto, eu entendo. - voltou sua atenção para mim.
– Sim, mas esse sentimento adormecido está se despertando cada vez mais, e com mais força. - respirei fundo ao ouvi-lo.
Queria acreditar em , queria mesmo, mas eu tinha receio de ser muito ingênua, de cair de cabeça novamente, e sofrer tanto quanto ou, talvez até mais que antes.
– Eu preciso de um tempo.
– Precisa de um tempo para dizer que não quer me dar uma chance? - seu tom de voz estava mais baixo – Tenho certeza que durante esse tempo aquele médico vai investir pesado para me tirar do seu caminho, e você vai permitir, porque ainda está indecisa. - eu fechei meus olhos, suspirando – Você está com receio de conhecer alguém diferente, mas também tem receio por continuar alimentando um sentimento antigo.
– Desculpe, mas é exatamente por isso que eu não posso te dar uma resposta definitiva agora. - disse sinceramente – A verdade é que não sei como agir, eu estou confusa. - passei as mãos pelo rosto.
– Por mais quanto tempo terei que esperar? - abri meus olhos e o encarei.
– Até quando você acha que esse sentimento pode durar? - eu já me preparava pela resposta que não gostaria de ouvir.
– Se for necessário te esperar por mais 16 anos, então eu esperarei.
Fui surpreendida por , contendo o sorriso de satisfação. Ouvir aquelas palavras era o que eu precisava para poder soltar o suspiro de alívio, um problema a menos na minha mente.
aproximou seu rosto do meu, eu já me preparava para beijá-lo, quando o mesmo se afastou.
– Esqueci que você quer um tempo, desculpe. - ele disse de um jeito sonso e eu bufei de raiva. Então seria assim?
– Escute aqui - ele aproximou o rosto do meu, novamente. Eu apenas tentei manter meu olhar e voz firmes – Não vou ceder às suas provocações, ok?!
– Provocações? - soltou uma risada gostosa e eu fui obrigada a mirar o olhar em seus lábios. – Eu só estou respeitando o seu pedido, e me controlarei ao máximo para que continuemos assim. - suspirei. – Mas antes...
Agilmente, segurou meu rosto e roubou-me um beijo.
– Mãe? - olhei para o lado e vi de olhos arregalados, incrédula. Desviou seu olhar de mim para – Pai?
Entreolhamos-nos, incrédulos e ela pôs as mãos na cintura, como se esperasse por uma explicação.
Capítulo 14
– Filha?! - empurrei – O que você acabou de ver foi...
– Um beijo, eu sei.
– Bem - me olhou, sem saber o que responder. – , me ajude!
– - me ajeitei no sofá. – Não foi nada demais.
– Como não? - franzi a testa. – Até pouquíssimo tempo eu descubro que tenho um pai, e de repente, o vejo beijando você. É estranho.
– O que há de estranho nisso? Eu e sua mãe nos conhecemos há anos. Nós éramos namorados.
– , isso não quer dizer nada. - o olhei – E, tem razão em estranhar, nunca me viu em um relacionamento antes.
– Não? - ele me olhou de olhos arregalados e eu neguei. – Você não se envolveu com mais ninguém?
– Não. Eu não quis mais me envolver, me sinto bem pensando só em minha filha. - respondi simples. – E eu te disse que estávamos indo rápido demais.
– Mas, foi só um beijo. - ele se explicou.
– Não deixa de ser estranho. - arqueou as sobrancelhas, pesando um pouco o olhar.
– Filha, vai descansar um pouco mais - ela me olhou – Conversamos melhor sobre isso em outra hora.
– Tá tudo bem, eu não quero atrapalhar vocês dois. - ela estava meio aérea, parecia tentar encontrar as palavras certas a dizer. – Só que é diferente. Eu nunca vi minha mãe beijar alguém antes, daí acontece tudo muito rápido, e... Bang, eu descubro que tenho um pai, o conheço, finalmente, e, de repente, os meus pais estão juntos. - suspirei, atenta a cada palavra. – Depois de todo esse tempo sem ver um ao outro, é confuso. Eu não to entendendo mais nada. - ela passou a mão pelo seu cabelo.
– Filha, nós não estamos juntos. - eu disse.
– Por enquanto - disse, me olhando firme – Mas, nós temos a pretensão de ficarmos juntos, sim.
– Por que parece que só você quer isso, pai? - perguntou . Ele desviou seu olhar de mim para ela.
– Talvez, porque só eu realmente queira. - respirei fundo, o vendo levantar do sofá.
– Quem é que está fugindo agora? - ele me olhou, meio impaciente.
– Continua sendo você. - respondeu simples.
– Olha, acho que vou voltar para o quarto. - tentou escapar, mas a interrompeu. – Vocês vão ficar mais à vontade pra conversar.
– Não precisa, eu já estou de saída. - ele beijou o topo de sua cabeça. – De qualquer forma, sua mãe não quer continuar essa conversa.
– , fique mais um pouco - pedi.
– Sinceramente, eu não...
– Pai - olhamos para – Fique, almoce com a gente e depois eu te libero.
– Tudo bem, eu posso fazer isso - ele olhou para mim, mas desviou o olhar para ela – Por você.
Engoli a seco todas as palavras que me vieram à mente para dizer a , mas não o fiz em respeito à nossa filha. Os deixei na sala e fui para o meu quarto.
Tomei um banho demorado e um tanto relaxante. Os últimos dias têm sido uma loucura! Não é sempre que posso ter um momento mais tranquilo, estou sempre na correria e de cabeça cheia, mas aproveito, pelo menos, a hora do banho para aliviar o estresse.
Deixei ficar o restante da manhã com o pai, não queria mesmo ter que encará-los. Confesso que me senti um tanto envergonhada, minha filha jamais me viu tão próxima de algum homem, além do meu pai, Nick e Travis, mas é totalmente diferente. Minha relação com foi tão boa, porém tão rápida, que eu não queria passar por isso, novamente. A verdade é que, eu não abro espaço para esse tipo de relacionamento. Às vezes, me sinto hipócrita, tento ajudar pessoas com os conhecimentos que eu tento não limitar, e, no entanto, não consigo aplicar em minha vida. É frustrante.
Juntei-me a e para almoçarmos, eu não quis cozinhar, então fiz o pedido para entrega, na Toca da Tia Jô.
Terminamos nossa refeição, estava tudo silencioso demais, isso me incomodava um pouco, mas não seria eu a primeira a quebrar o silêncio. Principalmente, por saber que o faria.
– Não gosto desse silêncio - ela resmungou – E vocês estão agindo como dois adolescentes.
– !
– Mãe, você quer ou não ficar com meu pai? - ela me interrompeu – Porque às vezes parece que você gosta do médico.
– Ah, por favor - respirei fundo. – Por que temos que falar sobre isso, agora?
– Se não agora, quando?
– Eu não sei, por isso não quero falar sobre. - confessei.
– Tudo bem. - ela suspirou, olhando para – Pai, eu posso entender a sua frustração, mas minha mãe precisa de um tempo. Você percebe o quanto ela está confusa? - a olhei de sobrancelhas erguidas.
– Sim, mas...
– Apenas respeite o momento dela. - ela o interrompeu.
– Como eu vou saber...
– Ela não vai ficar com o médico.
– Como você pode ter certeza se nem a sua mãe tem? - olhei séria para .
– Eu não estou pedindo um tempo para ficar com Sam e, se der errado, voltar para você, . Quero apenas colocar meus pensamentos no lugar para tomar decisões, sem pressa. Até mesmo porque eu não posso pensar somente em mim, tendo em minha vida, e ela é a minha prioridade.
– Mas, mãe - olhei-a – Por que você saiu com o médico na noite em que eu voltei ao hospital?
– Eu não tinha essa pretensão.
– Sei. - provocou.
– Será que eu posso continuar? - bufei, o olhando. Ele fez sinal para eu prosseguir. – Como já disse, eu não tinha a pretensão de sair com Sam, mas sozinha. Porém, ele me chamou e fez a gentileza de passar o restante da noite de sua folga comigo. - e arquearam suas sobrancelhas – Não houve nada demais, ele me levou à sua casa, conheci Logan, seu filho, e conversamos o suficiente para eu conseguir aliviar um pouco da tensão que sentia.
– Foi só isso? - indagou incrédula.
– Queria mais?
– Sinto-me mais aliviado ao ouvir isso. - confessou, respirando fundo. Fiquei o observando, sabia que ele tinha mais a falar. – Mas, ele não vai parar por aí, esse médico irritante gosta de você, . - suspirei forte.
– Pelo que você teme, ?
– Você sabe bem! - respondeu firme.
– Olhando pra vocês agora, eu me sinto no colégio - fiquei confusa ao ouvir – Parece que to assistindo as cenas dos casaizinhos chatos de lá quando ficam discutindo, sempre pelo mesmo motivo: os garotos ficam revoltados com suas namoradas porque os outros meninos se fazem de amiguinhos delas pra finalmente conseguir conquistá-las.
– Não tem nada a ver.
– Tem tudo a ver, porque é desta forma que o seu novo amiguinho está agindo para se aproximar de você. - nem escondia seu ciúme.
– Mas tem diferença, pai - ela riu – Você e minha mãe não estão juntos, então o caminho tá livre para...
– Não tem caminho nenhum livre. - massageei minhas têmporas – Sam é muito atencioso e gentil, mas eu não tenho pretensão.
– E quanto a mim? - me olhou esperançoso.
– Apenas espere, sem me pressionar - ele fez careta – Não faça essa cara, isso nem é pedir muito.
– É pai, você aguenta. - deu duas tapinhas no ombro do pai. – Agora eu vou para o quarto, me sinto um pouco cansada.
– Tudo bem, eu já vou para casa mesmo. - a abraçou, e ela saiu da sala. – Eu não contava com a aparecendo aqui.
– Você sabia do risco!
– Você também, e no entanto, se rendeu aos meus beijos. - apertei meu olhar.
– Sai daqui! - o lancei uma almofada.
– Não vai se despedir? - abriu os braços.
– É realmente necessário? - ele rolou os olhos e veio em minha direção, selando seus lábios nos meus. – Ei!
– Se pensar em mim - arqueei uma sobrancelha – Pense com carinho. - ele riu fraco e se afastou, saindo.
– Ah, esse homem... - sussurrei para mim mesma.
Ouvi meu celular tocar e fui até a mesa para pegá-lo.
– Oi, Suri.
– Me desculpe por ligar a essa hora, mas aconteceu algo? - pelo seu tom de voz, sabia que ela estava receosa em perguntar – Bem, a senhora não costuma faltar, ainda mais sem avisar antes.
– Eu que peço desculpas, Suri - caminhei até o quarto – Tive que levar ao hospital e acabei esquecendo o celular em casa. Voltamos hoje cedo.
– Ela está bem?
– Está sim, agradeço a preocupação. - suspirei – Desculpe-me por não avisar.
– Tudo bem, doutora, eu compreendo. - adentrei o quarto, encontrando cochilando. – Quer que eu remarque as sessões de hoje para qual dia?
– Então Suri, eu estava mesmo querendo conversar com você sobre isso. Descobri que está com sequela e isso é meio delicado, eu sinto que preciso estar mais perto da minha filha agora, para acompanhar seu tratamento, entende?
– Claro, eu entendo. A senhora vai entrar de férias?
– Eu bem que gostaria, mas não posso. Terei gastos maiores a partir de agora, então nem me dou ao luxo de pensar em férias, por enquanto. - fui à cozinha – Mas quero, pelo menos, duas semanas em casa.
– Bem, eu posso remarcar as sessões de hoje e dos próximos dias para daqui a duas semanas. - suspirei aliviada – Já vou começar agora.
– Aproveite esses dias para descansar, Suri - peguei um potinho de sorvete. – Fique tranquila, não vou descontar em nada o seu salário.
– Agradeço, senhora. - sua voz estava mais suave que de costume. – Bem, agora preciso desligar, vou começar a remarcar as sessões. Ah, desejo melhoras à .
– Tudo bem, eu não quero te atrapalhar. - ri fraco – Muito obrigada por tudo, Suri. Beijos. - finalizei a chamada.
Meu restante do dia foi assistindo TV, lendo alguns e-mails novos e indo observar no quarto. Também procurei pela internet aulas de natação, eu não queria tardar o tratamento da , quanto antes melhor.
Fiz sopa de legumes para jantarmos, mas não se agradou tanto, já que não é o que ela costuma comer.
Logo após, nós fomos dormir. Eu, porque ainda estava cansada do dia anterior, e minha filha, por conta dos medicamentos.
Acordei às 10:21h, com me chacoalhando.
– Mãe?
– O que aconteceu? Tá sentindo algo?
– Só o meu coração batendo - ela riu me fazendo rolar os olhos – Mas você tá atrasada para o trabalho.
– Filha, eu só volto a trabalhar daqui a duas semanas.
– Por minha causa? - sentei-me na cama preguiçosamente, olhando-a – Mãe, eu sei me cuidar.
– Ah, sabe? - ela assentiu. – Já tomou o remédio hoje?
– Bem, eu - cruzei os braços, arqueando as sobrancelhas – Esqueci.
– Não me surpreendo. - ela bufou – Você sabe a importância desse medicamento.
– Pra limpar e fortalecer meus pulmões, eu sei.
– Filha, se eu trabalhasse, teria que te deixar sozinha em casa, e isso eu não posso fazer, não agora. - respirei fundo. – Seu pai começa a trabalhar na próxima semana, seus avós ainda estão viajando, e têm as suas vidas. E mesmo que algum deles fique com você por um dia ou dois, eu não posso passar a responsabilidade de cuidar de você para outra pessoa.
– Você não faria isso, de qualquer forma. - fez sua típica expressão de tédio.
– De jeito nenhum! - afirmei, levantando-me. – Tome o seu remédio.
– Podemos sair hoje?
– Nós vamos sair, encontrei uma academia de natação pela internet, mas quero ir para conhecer o lugar e me informar melhor. Talvez eu te matricule ainda hoje. - peguei uma saia longa estampada e um cropped branco em meu armário.
– Ah, só pra isso? - a olhei de relance.
– O que mais você quer? - estiquei as roupas na cama e entrei no banheiro.
Tomei um banho rápido e saí do banheiro apenas de lingerie, vestindo minha saia e cropped. Logo após, procurei por minha sandália rasteirinha cor de pele.
– Já tomou seu remédio?
– Já, mãe - disse impaciente – Eu posso pelo menos convidar o meu pai pra ir com a gente?
– Pra que, ? - peguei meu calçado nas coisas dela. – O que minha sandália está fazendo no seu lado do armário?
– Não estou nervosa, mas sei o que você está tentando fazer e não quero isso. - calcei as sandálias – E não mexa nos meus calçados.
– Não to tentando fazer nada. - arqueei as sobrancelhas – Tá sendo egoísta, mãe.
– Ok, . - peguei minha bolsa – Já está pronta?
– Eu não sei qual roupa usar.
– Como não? Você nunca teve esse tipo de problema. - ela me olhou esperando por uma sugestão – Que tal o conjuntinho que a te deu?
– Aquele short e blusa azul rendado? - assenti. pegou no armário e vestiu, colocando um arco preto no cabelo e calçando as sapatilhas pretas. – Bem, eu gostei. - ela disse ao se olhar no espelho.
– Eu também - a olhei, admirada – Agora vamos. - peguei minha bolsa e saímos.
Depois de conhecermos o local e todos os professores, matriculei na academia de natação, era apenas para crianças e adolescentes. A minha primeira impressão do lugar foi ótima, os professores demonstraram ser muito atenciosos com os alunos, e isso me agradou bastante, já que precisa de uma atenção um pouco maior.
Uma semana havia se passado e eu só tentava aproveitar ao máximo esse tempo em casa, com minha filha. começou suas aulas de natação, e parecia estar gostando, sempre chegava empolgada e ansiando pela próxima aula.
Ouvi a campainha tocar, enquanto eu estava na cozinha, analisando a dispensa. Corri para atender.
– Por que demorou tanto para abrir a porta? - reclamou, enquanto eu dava espaço para a mesma adentrar a casa.
– Eu estava ocupada, oras. - ela deu de ombros – O que faz aqui tão cedo?
– ! - se fez de ofendida.
– , você não gosta de acordar cedo e tem preguiça de vir aqui. - ela se sentou no sofá – Qual é o motivo desta vez?
– Quero levar a um passeio.
– Ah, ela está na natação agora - pensei um pouco – Mas eu também não acho que seja uma boa ideia.
– Amiga, eu sei que você tem preocupação excessiva quando se trata da nossa filha, mas ela é jovem e precisa sair de vez em quando.
– Ela não está tão bem a ponto de sair para lugares distantes.
– está se sentindo sufocada. - franzi a testa. – Nós conversamos um pouco durante os últimos dias, e ela me contou como se sente. - respirei fundo, me sentando no sofá, de frente para – Sei que você só quer protegê-la, mas vá com calma.
– Você tem razão.
– Eu sempre tenho. - disse convencida. Joguei uma almofada em sua direção. – Bem, Travis teve a ideia de acamparmos, acho que vai ser bom para . Pensamos em chamar Jake e Lauren também, eu amo àquelas crianças.
– Ainda não quer filhos? - ela negou com a cabeça.
– Não mesmo, me contento com essas três doçuras que não se desgrudam. - eu ri – Espero que possam ir comigo.
– Bem, converse com os pais deles, com certeza eles irão permitir.
– Queremos chegar antes do anoitecer.
– Tudo bem, quando chegar, nós vamos arrumar as coisas e eu te ligo. - se levantou – Ah, ela precisa tomar o remédio pela manhã e noite. Por favor, não a deixe esquecer.
– Como segunda mãe de , eu também me preocupo com ela, por isso cuidarei de sua saúde. Deixa comigo! - deu uma piscadela e eu sorri – Você não quer ir também?
– Na verdade, eu prefiro ficar e me organizar. Na próxima semana eu já retorno à minha rotina de trabalho normal, então quero me preparar.
– Ok, eu já vou indo então - a acompanhei até a porta – À noite eu volto para levar os inseparáveis. - ela me abraçou – Até.
– Dirija com cuidado! - fechei o portão.
Terminando de regar as plantinhas da minha mãe, na varanda, observei um carro que estava parado em frente a minha casa, era . Ele saiu ajeitando seu blazer azul escuro e carregando uma bolsa transversal, deu uma corridinha em minha direção e me beijou, brevemente.
– Ah, esses lábios macios - dei uma tapa em seu braço, arqueando uma sobrancelha – Não brigue comigo agora, preciso te contar algo.
– É grave? - ele ficou pensativo – Entre, vamos conversar.
Guardei o regador e me sentei ao seu lado, no sofá.
– Bem, não é grave, mas preocupante - engoli o seco – Ainda não contei à minha família sobre .
– Meu Deus, isso é grave! - ele suspirou forte – Já imaginou a reação da sua mãe quando ela descobrir?
– Então, ela virá à Trainsturn e ficará na minha casa. - assenti – Neste exato momento, minha mãe já deve estar chegando.
– O quê?
– Quero que minha mãe saiba a verdade ainda hoje, mas eu gostaria de ter sua compan...
– - me levantei. Aflita, fiquei andando de um lado para o outro – Eu não estou psicologicamente preparada.
– Eu entendo, mas preciso da sua ajuda! - ele me parou – Não fique assim, eu estarei com você, o tempo todo.
– Tudo bem, mas irei sem .
– Por quê? - perguntou confuso.
– Ela vai acampar com seus amigos, e Travis - ele assentiu – E eu não quero que ela passe por mais esse estresse. Conheço sua mãe, ela não hesitaria em rejeitar e magoar .
– Sei que minha mãe é uma pessoa difícil, mas ela jamais faria isso.
– Faria sim! - afirmei – E nós dois sabemos disso. - ele respirou fundo.
– Bem, eu preciso ir trabalhar agora, devo chegar um pouco atrasado.
– Podia ter me ligado.
– Não, eu queria te ver - fiz que sim com a cabeça, rindo fraco – Nos vemos mais tarde?
– Sim. - ele ia selar nossos lábios, mas eu virei meu rosto. – Nada de beijos aleatórios.
– Ah, - ele suspirou, fixando seu olhar em meus olhos – Você me enlouquece, sabia disso?!
– Acho que sei, sim - ele fez careta – Agora, tchau. - resmungando, ele se foi.
Busquei na academia e já que estávamos no mesmo caminho, aproveitamos para almoçar na Toca da Tia Jô.
Terminamos a nossa refeição e na saída, avistamos tia Jô.
– Nossa! - ela deu uma leve requebrada no quadril e descansou uma das mãos na cintura – Mas essa boneca está tão grande - nos abraçou, calorosamente – E cada vez mais linda! - elogiou , que ficou um tanto envergonhada.
– Obrigada, tia - ela respondeu meio acanhada.
– A titia ficou tão preocupada quando soube que você estava no hospital, bebê - disse sincera.
Tia Jô me conhece desde os meus 17 anos, porque assim que me mudei, eu e sempre frequentávamos o seu estabelecimento. Então, ela acompanhou a minha gravidez e toda infância de , até agora na adolescência.
A Toca da Tia Jô era o ponto de encontro dos casais da minha época, e por mais incrível que pareça, continua sendo. O que mais chama a atenção no local são as tocas que foram construídas, especialmente, para os casaizinhos, mas também há alguns banquinhos junto às árvores, para quem gosta de ficar ao ar livre.
Atualmente, tia Jô vem expandindo o espaço e construindo lojinhas e, recentemente, inaugurou seu tão sonhado restaurante de comida caseira, com seu tempero único.
– Puxa, nem fale! Foi muito difícil lidar com todo esse estresse - ela assentiu, pesando o olhar – Mas está se recuperando, aos poucos.
– Graças a Deus! - ela beijou a testa de – Você vai melhorar logo, logo.
– Agora precisamos ir, tia.
– Tudo bem, filha. Mande um beijo para a sua mãe.
– Mando sim - ela sorriu.
Não nos demoramos mais e seguimos para casa. Eu e arrumamos todos os seus pertences, ligamos para e esperamos por Jake e Lauren.
– Finalmente! - disse ao atender a porta – Por que demoraram tanto?
– Lauren me obrigou a ir à sorveteria com ela - disse Jake.
– Desculpa gente, mas é que eu não aguento mais fazer dieta. - Lauren ficou chorosa – Aproveitei que eu estava longe da minha mãe e fui à sorveteria.
– Ah, agora entendi. - disse, abanando as mãos no ar.
– Mas eu não - franzi o cenho – Que história é essa?
– A mãe da Lauren a obriga a fazer dieta. - explicou Jake. – Vive dizendo que ela está gorda e feia.
– Mas eu não me sinto assim. - confessou – Quero dizer, sei que estou acima do meu peso ideal, mas não me sinto feia por isso.
– E nem deve se sentir, por nada. - ouvimos uma buzinada, com certeza era – Conversamos melhor sobre isso quando vocês voltarem.
– Não esquenta com isso, tia - Lauren disse – Já estou acostumada com as ofensas da minha mãe.
– Eu não vou deixar isso passar despercebido, Lauren. Não vou mesmo!
Os acompanhei até a porta. Eles foram à minha frente, sem nem se despedir.
– Eu não ganho um abraço? - eles se entreolharam – Ainda estão pensando se vão ou não me abraçar? - franziram a testa – Quer saber, eu não quero mais.
– É muito dramática mesmo - ouvi dizer de dentro do carro.
– Ah, estamos falando da , a rainha do drama - disse Travis, me fazendo bufar – Foi mal aí! - ele acenou e riu.
– Tá tudo bem tia, nós te amamos mesmo assim - Lauren me abraçou junto a Jake.
– E você, mocinha?
– Mãe, por favor.
– Deixa de ser chata , é só um abraço - Jake disse, a fazendo rolar os olhos.
– Tá bom. - a contragosto, ela me abraçou e eu a apertei ainda mais – Mãe, você tá me sufocando.
– Eu te amo. - beijei sua bochecha.
– Vamos crianças - os chamou – Aproveite esse tempo para relaxar, tá?! - disse antes de Travis arrancar com o carro.
Assim que eles foram, passei o restante da tarde fazendo uma limpeza caprichada na casa, excesso de poeira nunca é bom, ainda mais para e na situação em que ela se encontra.
Sentia todo o meu corpo dolorido devido ao esforço exagerado que fiz na limpeza e confesso que pensei nisso como uma desculpa para não ir à casa de , a ideia de ter que encontrar com sua mãe não me agradava em nada.
Meu celular começou a tocar, era .
– Estou saindo agora do trabalho, daqui a meia hora chego aí.
– Tudo bem, esse é o tempo para eu tomar um banho e me arrumar. - andei preguiçosamente até o meu armário.
– Ok, até logo. - finalizei a chamada.
Tirei do armário uma calça jeans clara e uma camiseta qualquer, estiquei a roupa na cama e fui ao banheiro. Tomei um banho breve, porém revigorante.
Saí do banheiro e me vesti rápido, não fiz minha maquiagem usual, apenas usei um batom claro, calcei o tênis e vesti minha jaqueta.
Ouvi a campainha, sabia que era . Peguei minha bolsa e joguei o celular dentro dela, dei uma leve bagunçada no cabelo e saí do quarto.
Abri o portão, encontrando me olhando admirado.
– Você está...
– Normal, eu sei. - ele bufou, abrindo a porta do carro para mim – Obrigada.
– Na verdade - ele deu a volta e se sentou, já ligando a carro – Quero dizer que você está linda.
– Eu estou sempre assim, fora do trabalho.
– Então, eu te acho linda sempre - disse, me fazendo rir – Por que está rindo?
– Só lembrei que você sempre dizia isso no colegial - ele riu junto – Aquele uniforme escolar era horrível.
– Eu gostava - o olhei franzindo o cenho – É sério, aquele tempinho era ótimo.
– Sim, era. - fiquei pensativa – Você me levava em casa todos os dias.
– É verdade, e eu adorava quando ficavam nos olhando - riu fraco – Nós éramos um casal invejável.
– Sim, nós éramos. - ele me olhou rapidamente, desfazendo o seu sorriso.
– Ainda podemos ser - parou no sinal e fixou seu olhar em mim.
– - aproximou seu rosto do meu e me beijou suavemente.
– Desculpa - ele se afastou, tornando a dirigir e me deixando um tanto desnorteada.
– Chegamos. - estacionou o carro e já ia saindo, sem nem me olhar.
– Espera - puxei seu braço de leve e ele tornou a se sentar, me olhando confuso – Por que está agindo assim?
– É difícil controlar meus sentimentos e desejos quando estou perto de você, mas eu sei que isso te causa confusão - ele respirou fundo – Você me pediu um tempo, preciso respeitar.
– , eu sei que te pedi um tempo, mas tem sido difícil para mim também. - desviei meu olhar para frente – A verdade é que eu cedo aos seus beijos, porque desejo-os tanto quanto você deseja os meus.
– O que está tentando me dizer? - o olhei novamente e seu celular tocou. – Já estou indo, mãe.
– Melhor não fazer sua mãe esperar mais. - eu já ia saindo do carro, mas me puxou.
– Quando poderíamos terminar essa conversa?
– Não fique ansioso, . Não agora. - ele assentiu e eu saí do carro.
– Está preparada? - fiz que não com a cabeça, ele segurou minha mão – Calma, eu estarei com você, o tempo todo.
Respirei fundo ao ouvir suas palavras e o acompanhei, adentrando a casa. Mas, quando vi sua mãe sentada em uma poltrona e me olhando com fúria, gelei.
~ To Be Continued... ~
N/A: Eu peço mil desculpas pela demora da att, de verdade!! Mas, espero que vocês gostem dos novos capítulos, foram meio trabalhosos, mas vale a pena!
BJoo <3
N/B: Hello, aqui é a beta, só um pedido, gostou da fic, comenta... Vamos incentivar a autora a escrever mais capítulos maravilhosos!!
Qualquer erro na betagem me avisem no email - By: Pâms *-*
Gostou? Então curta e deixe um comentário!
Wow q tenso!!! Muito divertido ^•^
ResponderExcluirPs( Backstreet boys minha vida ♥ E This i promise you do Nsync. Amo d+.)
Hahaha
ExcluirObrigada por ter lido e comentado, Adriane <3
PS: BSB e NSYNC são minhas paixões desde a infância *-*
Muito legal.Adorei
ResponderExcluirQue bom que gostou, Park!
ExcluirObrigada por ter lido e comentado ^^
Wooow.. que isso... Estou torcendo pra que os dois fiquem juntos logo!! ^^
ResponderExcluir"Sua filha ficará bem logo, logo. E quanto ao pai dela, vocês ainda tem muita história pela frente... É tudo uma questão de tempo." Essa foi a previsão daquela senhora do elevador. Vamos ver no que vai dar... ^^
ExcluirVai dar treta ;-; Serio o negocio tá meio -super- tenso :v Serio tou quase entrando no macumba online .-.
ResponderExcluirEnfim... Uaaaaaaaar Que coisa naun? Valeu apena esperar :3 Vc tem um ótimo jeito de "levar a história" Sinceramente, já disse isso e digo de novo. SUAS FICS SÃO PERFEITAS *---* *3*
Continuarei esperando Hum :3
hahahahahaaha tá tenso, né... KKKKKKKKKKKKK
ResponderExcluirPoxa, Lay, eu fico super feliz de ler comentários assim, me dá mais vontade de continuar escrevendo. <3 É tão bom saber que estão gostando de algo que gosto tanto de fazer *-*
Obrigada por ter a paciência de esperar por att. <3
Ameiii essa história; altas emoções; você escreve muito bem; e quando sai a continuação???? =D
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Jhosy! :D
ExcluirOlha, eu ainda to tentando escrever bem, mas obrigada. <3
Em breve terá continuação. ^^