DBSK: Broken Mirror, by Nikki

  
Broken Mirror

 

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BROKEN MIRROR
by Nikki

Ao reencontrar a irmã gêmea de quem esteve separada desde a infância, ela  desconfia que há algo de errado por trás da aparente vida perfeita. Sua suspeita se confirma quando, depois de um infeliz acidente, ela é confundida com a irmã. Diante da ameaça contra a vida do cunhado, ela se vê obrigada a assumir um lugar que não lhe pertence e onde tem dificuldades para se encaixar.
Gênero: Romance, Drama, Suspense, UA
Dimensão: Longfic
Classificação: NC-15
Última Atualização: 24/08/14

Betas: Lyssa, Anny

# Prólogo # Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 #

ܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔܔܢܜܔ

 

PRÓLOGO:
Reencontro

 

POV

Foi um choque quando a vi andando em minha direção. Não que eu não soubesse da sua existência, mas depois de vinte anos vivendo na mesma cidade e sem nunca ter me encontrado com ela, eu já não esperava mais que isso fosse acontecer. Principalmente porque tínhamos vidas completamente opostas.

Ela era Megan , minha irmã gêmea. Nós havíamos sido recolhidas pelo conselho tutelar aos seis anos e logo fomos adotadas por famílias diferentes. Ninguém se importou com o impacto que a separação nos causou na época, mas agora, depois de todos esses anos, eu muitas vezes até esquecia que tinha uma gêmea. Claro que eu acompanhava de certa forma a vida dela — ou pelo menos a parte que sempre estampava as colunas sociais —, mas na maioria das vezes era como ler sobre uma completa estranha.

Nós nos encontramos no aeroporto. Megan me reconheceu imediatamente e veio andando em minha direção com um sorriso no rosto. Ela era meu retrato perfeito. Bem, talvez não tão perfeito se considerarmos as roupas caras e joias que ela usava. Ela também parecia um pouco mais alta, mas era por causa dos saltos. Seu cabelo tinha um corte mais curto e obviamente mais sofisticado que o meu. E sua cintura parecia cirurgicamente mais estreita. Na verdade, todo o corpo parecia perfeito, como o de uma barbie.

— Há quanto tempo, irmãzinha — ela disse casualmente, como se não houvesse um muro de quase vinte anos de distância entre nós. Mas quando ela tirou os caros óculos escuros e eu olhei dentro daqueles olhos que eram uma cópia exata dos meus, eu me vi de volta àquele último dia no orfanato, quando ela me abraçou e disse que logo estaríamos juntas novamente, antes de ser levada até sua nova família. Foi como se toda a distância entre nós fosse reduzida a nada e eu senti meus olhos marejarem, mas afastei as lágrimas.

— Senti sua falta. — Eu não percebi o que estava prestes a dizer, até ouvir as palavras na minha própria voz. O sorriso dela se ampliou, um tanto condescendente, fazendo eu me sentir mais uma vez aquela garotinha que tinha acabado de perder a única família que lhe restava.

— Também senti, irmãzinha.

Ainda me incomodava a forma como ela me chamava. Apesar de eu ter nascido alguns minutos antes, ela sempre fora a mais corajosa e mais forte, o que a fazia se auto intitular de mais velha. E ela costumava fazer isso só para me irritar. Eu acabei sorrindo da minha tolice em trazer a tona um ressentimento de infância.

— Como você cresceu! — ela exclamou, entrelaçando o braço no meu. — Me conta, o que tem feito todos esses anos?

Nós havíamos nos correspondido por carta aos 17 anos, quando eu finalmente consegui descobrir onde ela morava. Na época, ela estava em um programa de intercâmbio na França, mas por algum motivo que eu nunca entendi — talvez por preguiça — nós simplesmente paramos de nos comunicar e só fui ter notícias dela por jornal anos depois, quando ela se casou com um dos herdeiros mais proeminentes do país.

— Eu terminei a faculdade de jornalismo e agora trabalho no Seul Times — resumi, um pouco constrangida pela minha vida ser tão sem graça e vazia comparada à dela.

— Uau, isso é ótimo! — exclamou, como se realmente estivesse empolgada com meu empreguinho de merda.

— E você? Quero dizer, eu sei que você se casou e...

— Você soube? Eu sou uma mulher de sorte, não sou? — ela sorriu, olhando para o grande diamante no seu dedo anular.

Não sei por que, mas alguma coisa no sorriso dela me pareceu meio forçado, como se quisesse esconder uma pontada de melancolia, talvez. Não era nada óbvio, na verdade, mas nós éramos gêmeas; eu ainda podia sentir essas coisas.

— Parece que sim — disse, para ser simpática.

— Você precisa conhecer meu marido! Ele é o homem mais perfeito do mundo! E a família dele também é incrível!

Ela me guiou até o Café e começou a discorrer sobre sua vida perfeita. Sobre suas viagens para o exterior, suas propriedades, suas roupas... Não era como se ela tivesse se gabando. Era mais como se a vida dela fosse fútil e vazia. Ou talvez, eu só estivesse com inveja.

Eu me senti aliviada quando se aproximou a hora do voo e nós tivemos que nos separar, porque estávamos em classes diferentes. Apesar de nossa conversa ter sido basicamente um monólogo da parte dela, eu senti um certo vazio me preencher enquanto a observava se afastar. Talvez toda aquela aparente futilidade fosse só para encobrir uma infelicidade que Megan não queria que ninguém descobrisse. Pensar nessa possibilidade fez meu peito apertar, afinal, ela ainda era minha irmã.

Eu estava me ajeitando no assento, quando uma aeromoça se aproximou.

— Srta. ?

— Sim?

— Me acompanhe, por favor. — Eu pisquei. Como que notando meu receio, ela deu um sorriso tranquilizador. — Traga suas coisas.

Eu assenti, soltei o cinto e acompanhei. Nós atravessamos a cortina que separava a classe econômica da executiva e a moça me levou até onde Megan estava sentada. Não havia ninguém nos assentos ao lado, então eu entendi que minha irmã havia mexido os pauzinhos para que eu viajasse ao lado dela. O sorriso que Megan me deu basicamente confirmou minha impressão, de que havia algo errado com ela. Pela primeira vez, eu me senti realmente grata pela estranha coincidência que resolveu nos juntar naquela viagem ao Japão.

— Espera — ela pediu, quando eu estava prestes a sentar. — Você prefere a janela, não é?

Eu estaquei, enquanto era inundada por lembranças de infância. Eu sempre passava mal nas viagens, por isso tinha que sentar na janela. Achei tocante que ela se lembrasse disso. Tão tocante que eu nem me preocupei de dizer que já tinha superado isso. Ela se levantou do seu assento na janela para que eu me sentasse lá.

Minha alegria pela nova oportunidade de interagirmos acabou quase no mesmo instante em que Megan recomeçou seu monólogo arrogante sobre sua vida perfeita. Eu suspirei mentalmente e agradeci a Deus porque o Japão não ficava muito longe.

 


 

I
Desastre

 

Geral POV

esfregou os olhos cansados antes de saltar do carro. Nos últimos meses, se tornara um hábito trabalhar até mais tarde, só pela necessidade de passar mais tempo fora de casa e evitar as brigas, que haviam se tornado uma constante. Mesmo quando Megan estava fora, a casa parecia impregnada com as energias negativas do seu mau humor. Ele bateu a porta do carro com força e se dirigiu para a porta da cozinha. Já passara da hora do jantar, mas tinha esperanças de que houvessem guardado alguma coisa para ele. Só de pensar em comida, seu estômago se contorceu de fome.

Seus pais estavam na cozinha, sentados na grande mesa de carvalho. Sua mãe parecia extremamente pálida e adquiriu uma expressão de dor quando o viu. Donghwan, seu pai, se levantou imediatamente e andou na sua direção. Instantaneamente ele soube que havia algo errado.

.

— O que aconteceu? — ele perguntou, intrigado. — Pelas caras de vocês parece que alguém morreu.

— Não estava ouvindo o rádio no carro?

— Não. Por quê? — As primeiras pontadas de pânico começaram a despontar em seu peito. — Que merda, o que aconteceu? — Seus olhos se voltaram para a televisão, que era o foco da atenção de seus pais quando ele entrara no cômodo.

— Um avião acabou de cair após alguns minutos de decolagem no aeroporto — disse Donghwan, com a voz carregada de emoção. começou a respirar entrecortadamente. — Ainda não confirmaram o número do voo, mas acho que...

Donghwan se calou e sacudiu a cabeça, tristemente. Nora, a mãe de , levou um lenço à boca.

— Que era o avião de Megan? — completou , com a voz rouca. Donghwan assentiu.

Ela quase desistira de tentar ultrapassar a névoa cinzenta que a dominava. Devia haver um clarão, um jeito de sair dali, mas simplesmente não conseguia se mexer. O que a fez persistir, no entanto, foi a sensação de movimentação ao redor.

Seu corpo inteiro doía e era uma dor que beirava o insuportável. Queria gritar, pedir ajuda, mas tudo o que fazia era entrar e sair do esquecimento. A dor foi substituída por uma sensação de alívio que correu por cada célula do seu corpo. Ela relaxou e voltou para a bem-vinda inconsciência.

Foi trazida de volta à superfície pelo barulho constante do respirador, das máquinas de monitoração e alguns outros sons ocasionais. Com um pouco de concentração, até conseguia distinguir as conversas, embora as palavras não fizessem muito sentido para ela. Quis voltar para a inconsciência tranquila, esquecer tudo a sua volta, mas de repente parecia que ela era o centro das atenções.

— Senhora ? Pode me ouvir?

Ela respondeu, quase sem se dar conta, deixando escapar um gemido arrastado. Tentou abrir os olhos, mas não conseguia. Uma por vez, suas pálpebras foram levantadas à força e um raio de luz perfurou dolorosamente seu cérebro. Finalmente desligaram a luz odiosa.

— Está recuperando a consciência. Ligue imediatamente para o marido dela.

Tentou virar a cabeça em direção às palavras, mas era impossível se mover. As palavras embora entendíveis, ainda não tinham significado nenhum.

— Sei que está desconfortável, senhora . Estamos fazendo o possível para aliviá-la. Tente relaxar. Logo sua família estará aqui.

A pulsação rápida soava na sua cabeça. Queria respirar, mas não conseguia. Uma máquina o fazia por ela, bombeando o ar diretamente em seus pulmões. Tentou novamente abrir os olhos e dessa vez conseguiu, ao menos parcialmente. Doía tentar focalizar, mas se esforçou até notar várias silhuetas indistintas ao seu redor.

Como já havia percebido antes, estava em um hospital. Mas por quê? Não queria realmente se lembrar, e o esforço era doloroso, então se concentrou no presente. Estava imobilizada. Não conseguia mexer as pernas, os braços e nem a cabeça. Mal conseguia descerrar as pálpebras! Sentiu-se a terrorizada. Seria a paralisia permanente?

tombou a cabeça para trás, apoiando-a contra a parede, enquanto tentava lidar com os sentimentos ambíguos que o dominavam. As palavras do médico martelavam na sua mente há dois dias e ainda não tinha certeza de como se sentia sobre isso. Ou talvez só não quisesse reconhecer seu ressentimento contra uma pessoa que estava à beira da morte.

— Mas e o bebê? O feto não foi afetado, foi?

— Não há feto — disse o médico, com a testa franzida.

— Quer dizer que... ela perdeu o bebê?

— Quero dizer que ela não estava grávida.

O bebê. Fora ele que os salvara do divórcio. Fora ele que o fizera se esforçar para manter aquele casamento, a despeito de todas as atitudes e discussões que desgastaram totalmente o relacionamento. Fora aquele bebê, que nem sequer chegara a existir. Ele se sentia completamente traído. Megan sabia o quanto queria ser pai, e sempre rira daquilo, dizendo que era nova demais para estragar o corpo. Até que percebeu que aquele era o único meio de manter o casamento e resolveu tirar o ás da manga. E ele havia sido tolo o bastante para acreditar. Não só acreditar nela, mas também acreditar que realmente havia uma chance de dar certo. Meg até se mostrara mais tolerante e menos disposta a brigar no último mês. Mas tudo não passara de uma farsa idiota.

Frustrado, tentou empurrar a raiva para longe; isso não o levaria a lugar algum. Não havia criança e agora Megan estava entre a vida e a morte. Era com isso que devia se preocupar.

Quando o telefone tocou, ele correu para atender. Era do hospital.

Sua esposa está voltando a si, senhor — disse a enfermeira do outro lado da linha.

— Já estou indo. — Não esperou por mais detalhes. Tudo, até o ressentimento, sumiu da mente dele. Trocou-se correndo e voltou para o hospital.

Apesar de tudo, queria a esposa viva. Viva e bem, só assim poderia culpá-la por enganá-lo. Mas como sempre, tudo o que cercava Megan tinha que ser dramático. Se fosse possível, ele acreditaria que até o acidente havia sido proposital, só para usar como desculpa por não haver um bebê ou para escapar da briga, que certamente viria. E talvez para prendê-lo por mais um tempo. Se. Mas não era e ele sabia. Respirou fundo. Agora teria que ser paciente e colocar a recuperação dela como prioridade. Se é que ela viria a se recuperar.

— Diga a ele para esperar aí fora até termos estabilizado — ouviu o médico dizer, quando a enfermeira entrou no quarto para avisar que ele havia chegado.

— O que aconteceu? — perguntou, sem esperar autorização para entrar.

— Senhor , por favor, espere...

— Megan? — Ele olhou para a esposa frágil, com a vida presa àquele monte de aparelhos. Os olhos fechados, a pele pálida e brilhante de suor. Ataduras em toda parte. Tão diferente da mulher glamorosa que, apesar da personalidade ruim, era sempre charmosa e cativante. Tão diferente da mulher por quem se apaixonara loucamente três anos atrás, a ponto de abrir mão de todo bom senso e se casar com ela depois de só quatro meses de relacionamento. Sentiu o peito se apertando diante daquela nova imagem e o instinto protetor imediatamente tomou conta dele.

Em um dos monitores, ele viu que seus batimentos cardíacos estavam acelerados.

— Megan, está tudo bem — disse em um tom tranquilizador, ignorando o médico e as enfermeiras e se aproximando da cama. — Sei que está assustada e preocupada, mas você vai ficar bem. Olhe para mim, Meg. Você sobreviveu, isso é o que importa agora.

Os dedos dela estremeceram, como se quisesse fazer contato. notou e envolveu seus dedos, com cuidado para não machucar. Os batimentos lentamente foram se acalmando e sua aparência parecia mais serena depois de alguns minutos. Provavelmente resultado do sedativo, mas talvez a presença dele também tivesse ajudado. Deveria ser angustiante estar no lugar dela.

— Ela adormeceu, senhor . Já pode deixá-la — disse uma das enfermeiras um tempo depois.

— Eu vou ficar.

Não importava se ela o havia magoado. Não importava se não a amava mais. Ele ficaria ao lado dela por todo o tempo que ela precisasse. Mesmo que isso significasse passar as noites numa poltrona pouco confortável e acordar a cada mudança suave no ar. E com torcicolo.

Megan voltou a si na manhã seguinte. Dessa vez, ela estava com os olhos abertos, o que deu certa sensação de alívio em .

— Oi! — O olhar dela parecia meio desfocado e ele não tinha certeza se ela podia vê-lo ou até mesmo se estava consciente. — Consegue me entender, Meg? Se sim, pisque.

As palpebras tremeram e ela piscou lentamente. O coração dele disparou.

— Se lembra de entrar no avião? Foi antes de ontem. Você ia passar uns dias em Tóquio. Se lembra do acidente? — Ela tornou a piscar, mas seus olhos pareciam trêmulos. Talvez pelas lembranças. — Só vinte e sete pessoas sobreviveram.

Lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela. se apressou a arrumar um pano para secá-las, com todo cuidado para não machucá-la.

— Estão investigando as causas. Parece que houve uma falha no motor assim que o avião decolou. Ele perdeu altitude e caiu no campo ao lado do aeroporto. O avião se partiu em três. — segurou a mão dela. — Você sofreu uma concussão cerebral. Que era o mais preocupante, mas já que está respondendo agora, eu acho que... — Ele suspirou e mudou o foco. — Suas mãos estão bem machucadas e você teve um corte profundo na coxa, que a fez perder bastante sangue. Graças a Deus, não houve nenhuma hemorragia interna. Sei que deve estar preocupada com seu rosto, mas só teve um corte que... bem, precisou de muitos pontos. Mas a cicatriz vai sumir com o tempo.

Ele respirou fundo, sentindo como se tivesse acabado de tirar um peso dos ombros. Mas, mesmo lá imóvel, Megan parecia agitada. Então achou melhor chamar a enfermeira para lhe dar um sedativo.

— Megan, está me ouvindo?

Ela gemeu, recobrando os sentidos. A medicação a fazia se sentir pesada e insensível, como se as únicas células com vida no seu corpo inteiro residissem no cérebro e estivessem mortas no resto do corpo.

— Megan? — sussurrou mais uma vez a voz, agora bem próxima a seu ouvido esquerdo. — Sua condição não está muito boa e pode ser que você não resista — continuou a voz. — Se achar que vai morrer, não faça nenhuma confissão de última hora, nem sequer pense nisso, entendeu?

Assustada, ela abriu os olhos. Talvez estivesse sonhando. Mas não. Como não conseguia mover a cabeça e ainda havia uma bandagem do lado esquerdo do seu rosto, que por pouco não cobria seu olho, ela não conseguiu ver quem falava. Mas podia sentir sua presença. Só tinha certeza de que não era o mesmo homem de antes. A voz não tinha nem um pingo da tranquilidade que sentira na voz do tal senhor .

— Nós dois estamos juntos nisso. E você está bastante envolvida para querer sair agora, portanto nem pense nisso.

Ela tentou clarear as ideias, para não se desorientar, mas estava tudo muito confuso. O homem continuava fora de sua visão periférica, era apenas uma voz sinistra vinda de uma presença indistinguível.

não vai viver para ocupar o cargo. Esse seu acidente foi só um inconveniente, mas nós vamos poder tirar vantagem da situação, se você não entrar em pânico. Olha, se sair dessa, vamos seguir com o planejado. nunca será diretor. Ele vai morrer antes disso.

Ela fechou os olhos com força, na tentativa de espantar o pânico que a invadira.

— Sei que está me ouvindo, Megan. Não finja.

Depois de alguns segundos, tornou a abrir os olhos e tentou olhar para o lado. Ainda não via ninguém, mas agora tinha a sensação de que o visitante havia ido embora. Estava agitada, mas teve que lutar com os efeitos dos remédios para se manter lúcida. Pouco depois, chegou uma enfermeira que praticou as rotinas de checagem e foi embora. Tinha certeza que se alguém tivesse entrado no quarto recentemente, a enfermeira comentaria, como de costume.

Quando voltou a dormir, ela se convenceu de que havia sido apenas um pesadelo.

olhava pela janela do seu quarto de hotel, observando as luzes do tráfego que iluminavam a pista molhada. Virou-se quando ouviu a porta sendo aberta às suas costas, se deparando com seu melhor amigo e futuro cunhado, .

— Liguei para o seu quarto agora a pouco — disse . — Onde estava?

— Tomando uma cerveja no bar. Seu pai ainda não voltou?

negou com a cabeça, soltou a cortina e se afastou da janela.

— Estou morrendo de fome — comentou , observando com preocupação quanto o amigo parecia abatido. — Também deve estar.

— Acho que sim. Nem pensei nisso. — se sentou na cama, cruzando os pés e fechando os olhos.

— Você está com uma aparência horrível, — disse , se sentando na frente do amigo.

— Obrigado.

— Estou falando sério. — Ele apoiou os cotovelos nos joelhos.

— Eu sei que fala sério. Você é sempre sincero e tem muito pouco tato.

— Isso não te lembra ninguém, não? — provocou , deixando escapar um pequeno riso.

— É por isso que sou seu amigo; nós somos parecidos.

— Nem tanto. — se recostou na poltrona, observando o amigo. — Tentar morrer por inanição não vai ajudar em nada na recuperação de Megan.

— Como se você se preocupasse com a recuperação dela.

— Eu me preocupo com você.

se sentiu incomodado por estar descontando o mau humor nele.

— Desculpe. — Ele pegou o controle remoto e passou os canais silenciosamente, sem nem prestar atenção no que via. — Consegui falar com Megan hoje. Ela está reagindo.

— E o que ela disse?

— Nada — respondeu apaticamente. — Ela só pisca e às vezes tenta mexer os dedos.

— Acha que se lembra do acidente?

— Parece que sim, mas não tenho certeza de até que ponto. — se lembrou da mulher lá deitada naquela cama, imóvel, mortalmente pálida, com os olhos cheios de lágrima. Suspirou, apoiando a cabeça na cabeceira da cama, pensando na centena de pessoas que não tivera a mesma chance que ela. Que ela poderia ter sido uma dessas. Estremeceu diante do pensamento e automaticamente desligou a televisão.

— Meu Deus, está um dilúvio lá fora! — exclamou Donghwan, quebrando o silêncio ao entrar no quarto. Ele trazia uma caixa de pizza numa mão e o guarda-chuva encharcado na outra.

— Estamos com fome — disse , com toda a liberdade de quem havia crescido mais com a família do que com a própria.

— Voltei o mais rápido que pude.

— Você é incrível, pai. O que quer beber? — perguntou , abrindo o frigobar, que sua mãe havia feito questão de encher no primeiro dia de estadia ali. — Cerveja ou algo sem álcool?

— Com pizza? Cerveja, óbvio.

?

— Cerveja.

— Como estão as coisas no hospital? — Donghwan perguntou, quando eles se acomodaram para comer.

— Na mesma. Se Megan acordar bem amanhã, talvez vocês possam entrar para vê-la.

— Espero mesmo que sim — disse Donghwan reverentemente. — Sua mãe vai estar de volta pela manhã, junto com , trazendo algumas coisas suas.

— Espero que não se importe, , mas eu tenho que voltar para Suwon amanhã — avisou . — Alguém aqui precisa trabalhar, não é?

— Se puder esperar até de tarde, pode levar de volta com você — sugeriu , ciente de que a irmã apreciaria ser dispensada de ficar na cabeceira da cunhada. — Não há necessidade de todos vocês ficarem aqui.

deu de ombros.

— Se ela concordar, está bem para mim.

— Nora e eu vamos ficar até termos certeza de que Megan está bem. — Donghwan foi logo avisando, antes que o filho sugerisse que eles também voltassem para casa. assentiu, sabendo que não adiantaria discutir. Ele se preocuparia com isso mais tarde.

— Você também precisa começar a pensar em voltar ao trabalho — disse , quase casualmente. Mas sabia que ele só estivera aguardando a oportunidade para tocar no assunto.

— Não vou nem pensar nisso até que Megan esteja estável.

— Não esqueça que os acionistas estão de olho — ele lembrou ao amigo. Um dos diretores da empresa ia se aposentar e queria o cargo, mas ele não era o único candidato. — Está chegando a época da votação. Não vai abrir mão de tudo o que conquistou com tanto esforço, não é?

suspirou, passando a mão pelos cabelos despenteados.

— Por mais que a empresa seja importante para mim, nada está acima da minha família. Nem mesmo minha carreira.

— Você tem o meu voto, filho — garantiu Donghwan, embora os três soubessem que não seria o suficiente.

— Pode demorar anos até que um dos outros dois diretores se aposente — insistiu .

— Não vou deixar Megan sozinha agora.

— Ela não merece sua consideração.

— Ela é minha esposa — disse entredentes, os olhos estreitados fixos nos do amigo. Um silêncio tenso se seguiu e Donghwan achou por bem interferir.

— É claro que deve ficar com Megan enquanto ela se recupera. É admirável que a coloque na frente da sua carreira. Já esperávamos que reagisse assim. Mas lembre-se que ela incentivou seu crescimento profissional. Pense no quanto ficaria desapontada se você tivesse que abrir mão do cargo de diretor por causa dela. Muito desapontada.

Cansado daquele assunto, jogou o guardanapo amassado na mesa e se levantou. Ele andou até a janela e ficou olhando lá para fora. Em seus pensamentos, estavam os olhos assustados da esposa.

— Não estou desistindo da diretoria, só estou redefinindo minhas prioridades.

— Tem um minuto? — O assistente forense perguntou a seu supervisor imediato. Ele havia verificado as informações mais de uma vez antes de abordá-lo para comentar sobre as estranhas conclusões.

O homem, exausto e mal-humorado, o olhou por cima do ombro.

— O que houve?

— A ficha dentária de — disse o assistente. — A vítima número sessenta e oito.

— Já está identificada e foi feita a autópsia — falou, consultando um diagrama na parede, só para confirmar. — Efetivamente.

— Eu sei, mas...

— Não tinha parentes vivos. Um colega de trabalho a identificou essa tarde.

— Mas esses relatórios...

— Olha, garoto — disse o supervisor, irritado. — Eu ainda tenho um monte de corpos sem cabeça e desmembrados para identificar. E eu tenho que terminá-los essa noite. Assim, se alguém já foi identificado e a autópsia foi feita, não me aborreça com outras informações, ok?

O assistente enfiou o raio-x de volta no envelope e guardou a papelada.

— Ok. Tudo bem. E eu só queria te ajudar!

— Claro, claro. — O supervisor fez um gesto com a mão, dispensando-o.

O assistente deu de ombros. Se ninguém se importara com aquela irregularidade misteriosa, por que ele se importaria? Não era pago para isso. Seu trabalho era puramente burocrático.

 


 

II
Troca

 

POV

Quando acordei, eu sabia quem era. Não que eu realmente tivesse duvidado em algum momento. Mas os medicamentos, junto com a concussão, haviam me deixado confusa. E era compreensível que eu estivesse desorientada depois de acordar de uns dias de coma.

Agora estava claro para mim que haviam me confundido com minha irmã, embora eu não entendesse realmente como. Isso significaria que ela estava morta? Talvez só estivesse na mesma situação que eu, ou pior.

O que importava é que eu precisava arrumar um jeito de desfazer o engano. Mas não sabia como fazê-lo e estava apavorada.

Nesta manhã, eu já estava sem o colar cervical e conseguia mover ligeiramente a cabeça, mas até o menor movimento enviava descargas de dor por todo o meu corpo e falar me parecia um esforço impossível. Além disso, a enfermeira disse que a inalação da fumaça havia deixado minhas cordas vocais temporariamente inoperantes. E ainda havia o tubo do respirador.

Meus pensamentos se voltaram involuntariamente para o acidente. Lembrar daquilo me deixava a beira do pânico, por isso eu tentava empurrar as lembranças para longe; mas dessa vez eu deixei que elas viessem. Lembrei-me de ser levada para a classe executiva, de trocar de lugar com Megan. Além da nossa semelhança física, isso também deve ter contribuído para que nos confundisse. Na hora do acidente, estava tudo um completo caos. Gritos horríveis de pânico. Vi Megan soltando o cinto. Tentei impedi-la, mas ela disse alguma coisa sobre a cauda, se soltou e correu para o fundo do avião. Eu me lembrei de ter ouvido que em caso de acidentes, geralmente era mais seguro na cauda e tentei também me soltar. Mas não consegui. O cinto estava emperrado ou talvez eu só estivesse nervosa demais. E então houve o impacto e depois disso, só me lembro de uma névoa cinzenta e então acordar no hospital.

Agora, com os pensamentos mais claros, eu tive a certeza de que Megan estava morta. Não pelos fatos, mas porque havia um imenso vazio dentro de mim. Durante os anos que ficamos separadas, era normal que eu sentisse dor sem ter me machucado ou passasse mal sem ter motivo. Também havia os sentimentos de ansiedade ou tristeza sem explicação. Tudo isso vinha do nosso vínculo. Mas agora eu só sentia um vazio, que me dizia que ela estava morta.

As lágrimas começaram a escorrer descontroladamente dos meus olhos. Um bom tempo se passou até que eu conseguisse me controlar e as lágrimas começassem a secar. Só então eu me dei conta de que se Megan havia morrido e me confundiram com ela, então achavam que eu, , estava morta. Não que isso fosse afetar muito a vida de alguém, já que eu não tinha mais família — nem real nem adotiva. Mas me deu um sensação de desconforto. Eu precisava arrumar um jeito de desfazer a confusão.

— Bom dia.

Eu reconheci a voz imediatamente. , o marido perfeito da minha irmã. O viúvo agora. Provavelmente meus olhos estavam menos inchados, porque consegui vê-lo claramente. Sua fisionomia perfeita, os lábios firmes, o nariz desenhado, o olhar penetrante. Ele tentava sorrir, mas não era difícil ver que era um sorriso superficial, já que não lhe chegava aos olhos. Como se algo o incomodasse.

— Soube que passou bem a noite. Não tem nenhum sinal de infecção pulmonar, o que é uma ótima notícia. — Ele olhou para um canto do quarto que eu não conseguia ver. — Você tem visita.

— Oi, Megan. — Ouvi uma voz feminina.

— Você tem que chegar aqui, mamãe, para que ela te veja.

Uma senhora de meia idade, estrangeira e muito bonita, apareceu no meu campo de visão. Uma moça mais jovem, que se parecia muito com ela, estava grudada em seu braço.

— Estamos todos muito aliviados que esteja se recuperando bem, Megan — disse a mulher mais velha.

— Diga alguma coisa, disse para a mais nova, que eu deduzi ser sua irmã caçula. Ela forçou um sorriso para ele, antes de se voltar para mim.

nos contou que os médicos estão muito satisfeitos com o seu progresso. Se continuar assim, logo vai poder voltar para casa. — Ela estava séria, mas não como se estivesse preocupada. Era quase como se ela não gostasse da ideia de me ter de volta em casa. Aliás, de ter Megan de volta. O que não fazia muito sentido, já que, pelo o que minha irmã dissera, ela se dava muito bem com a família dele.

— Nós não podemos demorar aqui — disse a mãe dele e eu notei indício de lágrimas em seus olhos. Bem, pelo menos ela parecia gostar de mim. Quero dizer, de Megan.

— Nem devíamos estar aqui, na verdade. — A irmã sorriu. — Teoricamente você só pode receber visitas depois que for para um quarto particular, por isso papai e não puderam entrar. Mas conseguiu dar um jeitinho para que a víssemos.

— Donghwan e mandaram desejos de melhora para você — disse a mãe. Os nomes não faziam nenhum sentido para mim. Acho até que Megan os havia mencionado, mas como eu não tinha boa memória para nomes... — Estão ansiosos para vê-la.

— Melhor nós irmos, antes que alguma enfermeira apareça aqui para nos expulsar — disse a irmã.

Elas se despediram e saíram, me deixando a sós com o marido da minha irmã. Ele voltou a se aproximar da cama, para que eu pudesse vê-lo.

— Escute, Megan... você sabe que tenho responsabilidades na empresa e há dias estou negligenciando meu trabalho. Não estou te culpando por isso, só... — Ele parou e suspirou, passando a mão pelos cabelos. Parecia incomodado. E devia estar, considerando que ele acreditava que eu era a esposa, que havia acabado de sobreviver a um acidente de avião, e mesmo assim ele parecia mais preocupado com o trabalho. — Está se aproximando da votação e ficar ausente não vai me ajudar a entrar para a diretoria. O que eu quero dizer é que preciso voltar para Suwon. Como não é longe, vou poder vir sempre. Me entende?

Eu pisquei, achando que ele entenderia o sinal. O que mais poderia fazer? Ele não era meu marido, eu não tinha o direito de querer que ele ficasse ali comigo. Embora só a ideia de ficar sozinha naquele hospital me aterrorizasse. Não por medo, mas na situação em que eu me encontrava, era bom ter alguém que se preocupava comigo. Mesmo que esse sentimento não fosse realmente direcionado a mim. Mas pelo menos eu me sentiria menos culpada se ele gastasse menos do seu precioso tempo comigo, uma cunhada que ele talvez nem soubesse da existência.

Uma enfermeira entrou com um carrinho.

— É melhor deixá-la descansar agora, senhor . Eu tenho que trocar as ataduras.

— Vou voltar mais tarde — ele me disse.

— Ah, antes que eu esqueça, o senhor foi chamado lá embaixo para pegar as joias da senhora que estão no cofre do hospital — disse a enfermeira. — Foram retiradas quando ela chegou na emergência.

Eu senti uma pontada de esperança brotar no meu peito. Era isso! Se ele pegasse as joias, veria que elas não pertenciam à Megan, poderia começar a questionar e descobriria que a gêmea de Megan estava no mesmo voo. Assim poderia desfazer o engano.

— Obrigado. Vou buscá-las mais tarde — ele disse, sem muito ânimo, e saiu.

Meu coração murchou. Talvez ainda demorasse um pouco até ele descobrir a verdade.

não vai viver para ocupar o cargo.

As palavras de repente piscaram na minha mente e eu me lembrei do pesadelo. De cada palavra, da voz perturbadora. Não havia sido um pesadelo. Não sei como eu sabia, mas tinha a certeza de que havia sido real. Alguém entrara no meu quarto, alguém que achava que eu era Megan . Alguém que era cúmplice dela e estava planejando a morte de . A questão era: quem era aquela pessoa? E o mais importante, quanto tempo eu tinha para avisar que estava correndo risco de vida antes de ser tarde demais?

Eu gemi, produzindo um som profundo e baixo dentro do meu peito. Isso chamou a atenção da enfermeira e eu comecei a piscar, tentando avisá-la de que precisava falar. Ela tinha que arrumar um jeito para que eu pudesse falar. Mas ela obviamente não me entendia. O que fez foi me dar mais sedativo e logo eu caía mais uma vez nas garras do sono.

————————————————————————

POV

— Por que não fica para almoçar conosco? — perguntou minha mãe. Nós estávamos do lado de fora do hospital, esperando , que tinha ido buscar o carro.

— Prefiro ir logo.

Eu não gostava de hospitais. E, por mais que lamentasse a situação de Megan, também não gostava dela. Desejava sinceramente que ela se recuperasse, mas eu a conhecia bem demais para ter algo além de simpatia pela sua situação.

— Ela não tem culpa de estar nessa condição, — relembrou mamãe, conhecendo bem meu ressentimento. — Ela não causou o acidente.

— Eu nunca disse que foi culpa dela. Só acho que ela não precisa de mim para se recuperar. Já tem gente suficiente aqui para mimá-la.

— Está sendo maldosa, filha.

Eu suspirei. Realmente estava, mas era quase inevitável.

— Tem razão, desculpe. Mas eu preciso mesmo voltar para casa. Ainda tenho que terminar meu trabalho antes da aula de hoje.

Ela acabou se conformando e me abraçou. Todos lá em casa sabiam o quanto Megan era impossível, tinha um gênio terrível e fazia meu irmão infeliz. Meus pais simplesmente tentavam se manter imparciais, mas mamãe havia amolecido totalmente com o acidente. E eu entendia. Só não conseguia me sentir do mesmo jeito que ela.

O carro de parou no acostamento.

— Me ligue se precisar de alguma coisa. Prometo que venho correndo.

Ela me deu um beijo no rosto e se abaixou para acenar para o futuro genro pela janela.

— Dirija com cuidado.

— Pode deixar, omoni. — Ele sorriu de volta para ela.

Eu entrei no carro e nós partimos.

— Tem certeza que não quer almoçar antes de pegar a estrada? — ele perguntou. Provavelmente porque ele queria parar para almoçar.

— Podemos almoçar na estrada, se estiver com muita fome.

— Por que tanta pressa para ir embora?

Eu olhei para ele e suspirei. Será que também teria que ouvir um sermão dele?

— Não estou com pressa. — Ele não respondeu, então eu me virei para a janela. — Só preciso cuidar de umas coisas quando chegar em casa.

— Que tipos de coisa?

Eu mordi a língua para me conter de mandá-lo cuidar da própria vida. Afinal, nós éramos noivos o que dava a ele todo direito de querer se meter na minha.

— Trabalho da faculdade. — O silêncio se estendeu por algum tempo depois disso, até que eu voltasse a falar. — Mamãe comentou que você e papai discutiram com ontem. Sobre ele voltar ou não para o trabalho.

— Não foi bem uma discussão.

O modo como seus dedos apertaram o volante me dizia que não queria falar comigo sobre o assunto.

— Imagino que o principal ponto de discórdia tenha sido a Megan — joguei a isca, esperando que ele falasse mais sobre o assunto. Não que eu realmente quisesse falar sobre isso, mas desde que havíamos ficado noivos, o silêncio entre nós sempre parecia opressor. Então qualquer assunto era válido. Também seria bom saber a opinião dele sobre ela.

— Megan é a esposa dele e ele vai ficar por perto enquanto ela precisar — replicou, meio irritado.

— E você não concorda com isso.

Ele respirou fundo, como se buscasse paciência. Eu sorri internamente. Adorava tirá-lo do sério.

— Eu só acho que ele não é necessário no hospital. Ela já está cercada por médicos e enfermeiras competentes.

— Mas não é a mesma coisa — deixei escapar, séria. Por mais que não gostasse de Megan, imaginava que devia ser horrível estar na situação dela. — Enfermeiras e médicos não são família. Eles não se importam com ela realmente, só estão fazendo seu trabalho.

— E se importa? — ele riu, cínico.

— Mesmo que não a ame mais, ele conhece sua obrigação.

— Mas a promoção dele está em jogo.

— Tenho certeza que os acionistas vão entender a ausência dele. Pelo amor de Deus, a esposa dele quase morreu em um acidente de avião há menos de uma semana atrás! É óbvio que ele não vai ter cabeça para voltar ao trabalho agora. E ela precisa dele.

Ele me lançou um olhar de esguelha que revelava a surpresa que ele sentia por eu defender a causa de Megan com tanta veemência.

— Você não entende muito do mundo dos negócios — resmungou.

— Entendo o suficiente para saber o quanto família é importante para eles. Não é mesmo? — retruquei ironicamente, bufando e apoiando o cotovelo na janela.

Casamento arranjado era uma coisa super comum no nosso mundo. Até meus pais haviam se casado por conveniência. E o resultado era que estavam juntos até hoje, se amando e muito felizes. Não foi estranho para ninguém quando meu pai propôs que eu e nos casássemos, afinal, ele praticamente fazia parte da família e até ocupava um cargo de confiança na empresa onde meu pai era um dos principais sócios. Se meu irmão conseguisse chegar à diretoria, era praticamente certo que seria promovido a vice-diretor. E ninguém chegava a um cargo tão alto, em uma empresa tradicional como a nossa, estando solteiro. Em uma sociedade onde família é a base, o estado civil pode ser um determinante, se você é de confiança ou não, se está apto ou não.

Também nem passou pela minha cabeça recusar. Mas tudo se tornou meio estranho depois que aceitamos o compromisso. A cumplicidade que sempre tivemos havia desaparecido, principalmente quando ficávamos sozinhos. Eu não sabia como ele se sentia a respeito e nem tinha certeza de como eu mesma me sentia. Queria muito conversar sinceramente com ele sobre isso, ou com qualquer pessoa, mas não conseguia. Não achava que alguém pudesse me compreender e não sabia como abordá-lo.

— Falando nisso, nós precisamos ir comprar seu anel — ele disse.

— Meu anel?

— Seu anel de noivado. Imagino que vai querer escolher.

Não, eu não queria. Já que havia sido boazinha em aceitar o compromisso sem nem questionar, gostaria que ele fosse ao menos um pouco romântico de vez em quando. Poderia fingir que estava realmente apaixonado por mim, comprar um anel divino e me fazer um pedido apropriado. Não um simples acordo com meus pais como intermediários. Mas um pedido decente, diretamente para mim. Internamente, debochei de mim mesma pelas expectativas bobas. O que mais eu poderia esperar de um noivo arranjado? Que era incrivelmente lindo, admito. E sexy. Tão sexy que me fazia gastar horas toda noite imaginando como seria estar casada com ele. Ir para cama com ele.

Sentido meu rosto esquentar com o pensamento, eu me inclinei para alcançar o painel e aumentar o ar condicionado. Com o gesto, meu decote se ampliou, oferecendo uma bela visão dos meus seios para , mas ele permanecia com os olhos fixos no transito. Irritada com sua falta de interesse, voltei a me recostar no banco.

— Pode ser uma aliança simples. Eu não me importo. — Dei de ombros. O que adiantaria dizer a verdade? Ele provavelmente acharia que eram só tolices de uma garotinha romântica. Coisa que eu não era.

surpreendeu a todos voltando ao trabalho no dia seguinte. Mas nós quase não o víamos, já que fazia questão de passar todas as noites com Megan no hospital. Obviamente ele estava esgotado e sua irritação parecia aumentar a cada dia. Parecia ainda pior no dia em que Megan teve que operar o joelho.

— Não entendo por que está tão irritado — disse diante do mau humor do meu irmão. Era noite e nós três estávamos em uma lanchonete próxima ao hospital.

— O que você esperava? — ele respondeu, nos lançando um olhar atravessado. — Minha mulher acabou de passar por uma cirurgia delicada.

Eu levei uma batata frita à boca antes de falar.

— Não foi uma cirurgia de risco.

Mais uma vez eu fui fuzilada com o olhar.

— Foi arriscada pelas condições atuais dela. Megan ainda está se recuperando, poderia reagir mal à anestesia, ter uma parada cardíaca ou sei lá o que.

— Mas correu tudo bem, não é? — Eu esfreguei a mão engordurada na toalha da mesa, antes de colocá-la sobre a de e apertá-la. Era estranho ver meu irmão, sempre no controle, tão descomposto. — Isso que importa.

— Aqueles jornalistas abutres também não ajudam — comentou , depois de alguns instantes de silêncio. E era verdade, quando estávamos saindo do hospital, fomos cercados por um monte deles, todos falando ao mesmo tempo, querendo saber das condições de saúde de Megan e sobre a empresa. Um verdadeiro pesadelo. Surpreendeu-me que não os tivesse mandado todos para o inferno e saído do meio deles na marra. Mas havia agido diplomaticamente, como de costume, e conseguiu organizá-los para que respondesse algumas perguntas. Só o suficiente para deixar os abutres satisfeitos.

— Graças a Deus, conseguimos nos livrar deles. — Suspirei, aliviada.

Eu continuei comendo minhas batatas, enquanto os dois começaram a discutir assuntos de trabalho, que definitivamente não me interessavam. Só voltei a prestar atenção, quando meu irmão assumiu novamente aquele ar preocupado, meio ausente.

— Um dos sobreviventes do acidente morreu hoje. Tinha muitas feridas internas, mas foi operado e achavam que ia sobreviver. Morreu de infecção.

e eu trocamos um olhar. Possivelmente era isso que o havia deixado estressado o dia inteiro. Devia ter ficado pensando que o mesmo poderia acontecer a Megan.

— Imagina ir tão longe para morrer de uma simples infecção — disse , com os olhos grudados no rosto de , analisando sua reação. Talvez lhe faltasse um pouquinho de tato.

Como era de se esperar, pareceu estar afundando em melancolia.

— O que os médicos disseram sobre Megan? — perguntei, tentando evitar que ele se fechasse.

— Ela deve ir para o quarto amanhã mesmo. Felizmente ela já não precisa mais do respirador, mas talvez ainda demore um pouco até voltar a falar. Se não houver complicações, deve voltar para casa em uma semana.

— Isso é ótimo — falei, embora ninguém estivesse muito empolgado com a perspectiva de tê-la novamente em casa, nem mesmo . Se ela já era insuportável quando estava saudável, imagine agora como seria?

— Acho que você vai ter que adiar a ideia do divórcio por mais um tempo — disse .

— Divórcio? — quis saber. Não era hora para pensar nisso.

— Nem vou tocar no assunto até Megan estar completamente recuperada. E ainda tem a votação. Um divórcio agora acabaria com as minhas chances de entrar para a diretoria.

— Não devia nem pensar nisso por enquanto — eu disse. — É insensível.

Eu continuava não gostando da minha cunhada, mas ela parecia um pouco diferente desde o acidente. Só o suficiente para que eu me simpatizasse um pouco mais com a situação dela.

— Megan não teve nem um pouquinho de sensibilidade quando mentiu sobre a gravidez — observou .

— E você tem muita, não é? — retruquei. — Trazendo isso à tona em um momento como esse.

— Crianças... Não briguem — pediu . — Além disso, esse assunto não é da conta de vocês.

— É da minha, sim, já que moramos na mesma casa! — Eu lancei um olhar para o . — O que exclui ele.

— Isso é só uma questão de tempo. — sorriu debochado para mim.

— Vou passar “procurar uma casa” para o primeiro lugar da minha lista de prioridades. — Meu irmão não parecia muito empolgado com a perspectiva de mais um candidato a intrometido na vida dele. Não que já não fosse.

— Não se preocupe — eu o tranquilizei. — Nós não vamos morar na mansão depois do casamento.

— Não vamos? — ergueu uma sobrancelha.

— Óbvio que não. Por mais que ame minha família, não quero ninguém se metendo na minha vida.

— Como vocês fazem comigo o tempo todo? — perguntou .

— Exatamente. — Dei de ombros. — Você quis ficar em casa, agora aguente.

olhou para , como se esperasse a justificativa dele.

— O que é? Eu sou seu melhor amigo, tenho o direito de dar palpite na sua vida.

bufou, obviamente prendendo o riso. Eu sorri, aliviada por ele estar descontraindo. Nós jogamos conversa fora por mais um tempo, até que eu notei que estava ficando tarde.

— Eu estou morrendo de sono e tenho que voltar cedo amanhã para Suwon — disse, pegando minha bolsa. — Então, acho que já vou indo.

— Eu te levo — se ofereceu , pegando a carteira no bolso da calça. Ele deixou o dinheiro na mesa e nós nos levantamos.

— Você não vem? — perguntei para . Ele balançou a cabeça, com sua expressão séria de volta.

— Vou ficar mais um pouco.

Andei até ele e lhe dei um beijo na testa.

— Se cuida, irmãozinho.

— Vocês também — murmurou. — Não fiquem brincando até tarde, ou vão acabar perdendo a hora amanhã.

Eu dei um tapa no ombro dele. se despediu e nós saímos. O caminho até o hotel foi bem silencioso e fez questão de me acompanhar até a porta do meu quarto.

— Devemos começar a procurar uma casa? — perguntou, quando saímos do elevador.

— O quê? — Eu me virei para ele, confusa.

— Você disse que não vamos morar com seus pais. — Ele colocou a mão nas minhas costas para me incentivar a continuar andando. Como era raro termos qualquer contato físico, eu senti o impacto em cada célula nervosa do meu corpo. Eu virei o rosto para frente abruptamente, fazendo com que meu cabelo tapasse um pouco do meu rosto acalorado.

— Sim... depois que nos casarmos — esclareci, para o caso dele não ter entendido bem essa parte.

— É claro.

Nós chegamos à porta do meu quarto e eu me virei, ficando de frente para ele.

— Então não teremos que nos preocupar com isso tão cedo — eu disse, pegando a chave na bolsa.

Ele me olhou, com a cabeça ligeiramente inclinada, me dando a estranha sensação de que queria falar alguma coisa. Ele balançou a cabeça de leve, como se mudasse de ideia, e deu um passo a frente, se aproximando de mim com os olhos estreitados. Eu instintivamente recuei, meus sentidos em alerta, mas ele se aproximou mais. Seu perfume invadiu minhas narinas, minha respiração ficou mais rápida, enquanto ele se inclinava na minha direção. Eu fechei os olhos e esperei. Até que senti o cartão-chave sendo tirado das minhas mãos. Abri os olhos e o vi destrancando a porta, para em seguida colocar o cartão de volta nas minhas mãos.

— Boa noite — sorriu pacificamente.

Eu pisquei, ainda confusa por ter entendido os sinais errados. Como eu era idiota! Óbvio que ele não me beijaria, o que havia me levado a acreditar nisso? O máximo que ele fazia era me dar um beijo no rosto quando me cumprimentava na frente da família.

— Boa noite — resmunguei. Empurrei a porta e entrei, torcendo para que ele não tivesse percebido meu lapso.

 

 


N/A: Agradecimentos especiais a Choi Thay, Duda e Anna B. Kwon por terem comentado! <3 Próximo capítulo coming soon! ;)
~Nikki


 

III
Welcome Home

 

POV

Eu odiava ficar presa a uma cama de hospital, mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. À medida que eu melhorava, as visitas de se tornavam mais rápidas e espaçadas. Eu entendia que seria cansativo viajar todo dia de Suwon para Incheon, apesar de não ser longe, e sabia que ele na verdade não tinha nenhuma obrigação comigo. Mas mesmo assim sua ausência me deixava triste. A vantagem era que suas visitas curtas diminuíam minha culpa por ainda não ter desfeito a confusão.

Minha voz estava voltando, mas ela saía muito rouca e aumentava e diminuía o tom involuntariamente, tornando díficil entender o que eu falava. Então, eu me limitava a escrever. Como minhas mãos haviam ficado imprensadas nas ferragens, eu ainda não tinha cem por cento de firmeza, então também tinha um pouco de dificuldade para escrever, embora elas já estivessem bem melhores a essa altura.

O ponto era que eu continuava adiando contar a verdade. Aparentemente ninguém havia se importado com as sutis diferenças entre eu e Megan. Como as mechas mais claras que ela tinha e eu não, ou o corte de cabelo diferente. Sem falar do corpo. Se alguém me questionasse qualquer coisa, seria mais fácil falar. Eu não sabia como abordar o assunto do nada. Além disso, será que teria paciência de esperar até que eu escrevesse tudo? Eu teria que explicar que não era Megan, contar que éramos gêmeas — se ele já não soubesse —, como havíamos nos encontrado no aeroporto e por que eu estava no assento dela. Com certeza a essa altura ele já estaria muito irritado por ter sido enganado e não esperaria pelo resto da história, que era o mais importante: a ameaça. E como eu contaria a ele que a própria esposa era cúmplice no planejamento do seu assassinato? Ele acreditaria em mim, uma completa estranha?

Tudo isso me fazia continuar adiando. Ainda tinha a questão do pretenso assassino. Quem seria ele? Tudo me levava a crer que era alguém muito próximo à família, ou jamais teria conseguido entrar na unidade intensiva. O que implicava que, a partir do momento em que eu admitisse não ser Megan, minha vida estaria automaticamente em perigo. E eu não estava em condições de me defender. Eu já havia conhecido a família e alguns amigos próximos, mas o contato com eles havia sido muito superficial para que eu pudesse achar algo suspeito.

— Desculpe por estar tomando seu tempo, Megan — disse , captando minha atenção. Ele, Donghwan e passaram a última meia hora no meu quarto conversando sobre negócios. — Mas é importante.

Eu sorri levemente e rabisquei “eu entendo” no caderno que havia comprado para mim há uns dias atrás. esticou o pescoço para ler e então assentiu. Eu havia apreciado observar a interação deles, que agiam como irmãos. Ambos eram altos e atraentes, deviam ter mais ou menos a mesma idade. Havia também outra coisa que eu tinha notado: os dois compartilhavam uma relação meio tensa com Megan, embora de uma maneira ligeiramente diferente um do outro.

nos contou que você está conseguindo falar um pouco — disse Donghwan, levantando e se aproximando da cama. — É uma ótima notícia.

Eu senti meu coração acelerar só com a perspectiva de voltar a falar, já que com isso vinha a obrigação de esclarecer as coisas. Eu esbocei um sorriso trêmulo, para esconder meus temores.

— Bem, está tarde e eu preciso voltar para casa. — se levantou, sendo imitado por . — Boa sorte na sua recuperação, Megan.

— Eu também vou indo — disse Donghwan. — É bom ver como está progredindo, Megan.

Eu assenti em agradecimento. Ele sorriu, mas era um só um sorriso pólido, o que fazia eu me perguntar pela milésima vez, qual era o problema entre minha irmã e a família do marido dela, já que ninguém parecia ter um afeto real por ela. Talvez eles não fossem tão bons quanto pareciam.

— Você não vem? — perguntou a .

— Ainda não, mas vou acompanhá-los até a saída.

Os três saíram e eu me recostei no travesseiro com um suspiro. Estava emocionalmente cansada. Minha mente não parava de trabalhar um só segundo nos últimos dias, tentando formar possibilidades, juntar as peças do quebra-cabeça... pensando numa maneira de contar tudo.

Quando voltou, estava mais introspectivo que nunca. Ele só se sentou e ficou olhando para a televisão, mas seus pensamentos estavam obviamente em outro lugar. Eu o observava discretamente, voltando os olhos para a televisão quando ele me olhava.

— Por que está escrevendo com a mão direita? — perguntou de repente.

Eu gelei. Até então não havia lembrado disso; Megan era canhota. Então essa era a hora. Ele estava finalmente me dando a deixa para entrar no assunto. Trêmula, segurei a caneta, mas quando encostei a ponta no papel, ela escorregou da minha mão, deslizando até o chão. prontamente se levantou e a pegou para mim. Eu o observei, pensando em qual seria sua reação. O que ele pensaria de mim? Será que me entenderia? Minha mão tremeu contra o papel. Não importava, eu não estava pronta.

Dói. Consegui rabiscar.

— Sua mão esquerda dói? — ele perguntou.

Eu assenti, olhando para meu próprio colo, enquanto minha mente procurava desculpas para que eu não me sentisse culpada: Seria complicado me explicar no papel; eu provavelmente não conseguiria transmitir tudo o que precisava; esperar era a melhor solução.

ficou preocupado. — soltou uma risada curta, sem humor. — Eu nem tinha reparado.

Claro que não, ele mal prestava atenção em mim.

Tive que conter um suspiro de irritação diante do meu próprio pensamento infantil. Tinha que parar de esperar qualquer coisa dele. Eu não era nada para , então ele não me devia nada. Era um bônus poder contar com sua companhia, embora não com tanta frequência. Eu precisava deixar de ser egoísta e covarde e começar a me preparar para a hora da verdade.

— Está ficando tarde e eu tenho que pegar a estrada.

Ele saiu em seguida, sem muita cerimônia, e eu voltei a ficar sozinha com meus receios.

O resto da semana se arrastou lentamente, enquanto eu pulava da fisioterapia para a cama. Até tentei aprender a escrever com a mão esquerda, já que havia tempo vago, mas eu acabava inconscientemente passando a caneta para a mão direita. havia me feito apenas uma visita rápida para avisar que estava indo a Hong Kong e eu não tive notícias dele o resto da semana. Donghwan e Nora eram os únicos a me visitar a cada dois dias.

Finalmente chegou o dia que eu tanto temia: o da alta. Minha voz já havia voltado, embora rouca e de vez em quando ainda falhasse. Eu soube que havia chegado de viagem na noite anterior e iria me buscar. Eu teria que falar com ele, não poderia adiar mais.

Ele entrou no quarto com um ar distraído, mas estacou ao me ver sentada na poltrona. Suas sobrancelhas se arquearam ligeiramente e ele parecia... admirado, talvez.

— Oi, .

— Olá, Megan. — Ele andou até mim e me entregou um buque de flores. Eu as segurei contra o peito e absorvi o perfume fresco. — Está muito bonita.

— Obrigada — sorri levemente. Nora me trazido alguns vestidos de Megan e uma das enfermeiras havia me ajudado a trançar o cabelo, deixando uma grossa mecha solta na frente para tapar a cicatriz que ia do alto da testa até a lateral do meu rosto, na altura dos olhos. Quanto ao vestido, eu não tive muita escolha, fui obrigada a escolher o mais folgado, já que os outros ficariam muito justos em mim. Não que eu fosse gorda, mas tinha mais curvas do que Megan.

— E já pode falar — acrescentou.

— Sim, finalmente.

— Está com a voz diferente.

Eu prendi a respiração. Minha voz também estava diferente da original, mas a médica havia dito que a rouquidão diminuiria com o tempo. Mas não era essa a questão. Essa era minha oportunidade e eu não podia deixar passar dessa vez.

, eu preciso falar com você.

— Não é o que está fazendo? — ele replicou, um tanto irônico. — Ah, eu peguei suas joias. — Ele mais uma vez se aproximou de mim e colocou um envelope nas minhas mãos. — Eu não verifiquei, mas é bom dar uma olhada antes de irmos embora.

Eu abri o envelope e espiei lá dentro, vendo meu relógio barato e o colar com o pingente em formato de coração que abria ao meio e tinha uma foto em cada metade: uma minha e outra de Megan ainda crianças. Megan, minha irmã gêmea que agora estava morta. Morta. Havia sido uma grande ironia do destino, nos unir depois de tantos anos só para nos separar novamente, mas dessa vez para sempre. Fechei o envelope, sentindo um aperto no peito, e antes que eu pudesse me deter, as lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas. Eu levei à mão ao rosto, tentando limpá-las antes que percebesse, mas um soluço acabou escapando. Tentei abafá-lo, mas quanto mais eu tentava me conter, com mais força chorava.

imediatamente me arrumou um lenço, mas não parecia saber como lidar com aquilo. Até que desistiu e desabou na cadeira ao meu lado.

— Não entendo suas lágrimas. Você poderia estar morta, pelo amor de Deus. Mas está bem e indo para casa, não percebe o quanto teve sorte? — Cada palavra só me fazia chorar ainda mais. Pensar que minha irmã estava morta e eu ali, viva, recebendo a atenção da família dela. — Me desculpe, eu sinto muito. — Ele repetiu essas palavras algumas vezes, esfregando minhas costas até que eu finalmente consegui controlar o choro.

... — comecei a dizer, mas nesse instante a porta do quarto foi aberta.

— Meu Deus, está um pesadelo lá fora! — exclamou , entrando afobada no quarto. vinha atrás dela, com uma cadeira de rodas. — Os jornalistas estão ansiosos para pegar um flash da madame quando deixar o hospital.

— J-jornalistas? — Eu me virei para , assustada.

— Não se preocupe, não é tão terrível quanto parece — disse , indo pegar minha mala em cima da mesinha ao lado da cama.

— É pior! — reforçou .

apertou minha mão.

— Infelizmente, não temos como evitar isso.

— Eu não posso — falei, sentindo o pânico me dominar. — , eu não posso sair daqui sem...

e pararam, suas atenções voltadas para mim. Eu corei.

— Eu queria falar com você em particular — pedi baixinho ao marido da minha irmã.

— Vocês terão tempo para conversar quando chegar em casa — disse . — O carro está parado em frente ao hospital, sem contar a horda de jornalistas, o que vai atrapalhar se chegar alguma emergência.

— Mas...

— Ele tem razão, nós temos que ir. — tirou as flores e o envelope do meu colo e aproximou a cadeira de rodas da poltrona onde eu estava.

Eu ergui os olhos da cadeira até encontrar os dele, que me fitava com as sobrancelhas erguidas. Mordi os lábios, sem coragem para despejar a verdade assim em cima dele, ainda por cima com os outros dois me olhando impacientemente.

— Eu não... — Pigarreei. — Eu não vou de cadeira.

Seria um erro prolongar aquela história ainda mais, mas eu simplesmente não conseguia contar. E se eu ia sair daquele hospital como Megan , não ia ser empurrada como uma mulher frágil. Estiquei as mãos para pegar as muletas encostadas na parede, os pensamentos a mil. pareceu surpreso, mas se apressou a me ajudar a levantar.

Enquanto eu me equilibrava, ele ajeitou a saia do meu vestido. Eu o observei, tentando me sentir culpada por enganá-lo, mas a culpa não veio. Eu sabia que era errado, mas algo dentro de mim parecia gritar dizendo que era o certo a fazer. No fundo, eu sabia que quanto mais demorasse, mais raiva ele sentiria quando soubesse a verdade. Eu só estava adiando o inevitável, mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento.

Espero que possa me perdoar.

se endireitou e seus olhos encontraram os meus, transmitindo preocupação.

— Tem certeza?

Não, eu não tinha. Eu abri a boca para falar, mas notei que se adiantou na direção da porta.

— Nós temos que ir — ele disse.

— Megan, é melhor você ir de cadeira até a recepção, para não se cansar — sugeriu , mas eu neguei. Ajudaria a controlar meu nervosismo se eu estivesse ocupada em manter o equilíbrio.

— Vamos, então — apressou , mais uma vez.

Engoli em seco e assenti. Não dava para vacilar agora. Eu me ajeitei nas muletas e dei um passo. tomou a frente, abrindo a porta, enquanto se colocava ao meu lado, pronto para me segurar caso eu vacilasse, e seguiu atrás. Eu já havia me despedido dos funcionários, mas alguns acenaram e fizeram sinal de positivo quando me viram. Eu me limitei a sorrir, já que estava com as duas mãos ocupadas.

Estaquei quando saímos do elevador, na recepção, e eu vi a quantidade de repórteres que estavam do lado de fora nos aguardando. notou minha apreensão e colocou a mão nas minhas costas.

— Calma, até parece que nunca fez isso antes — disse, tentando em vão me tranquilizar. Eu realmente nunca tinha feito aquilo. — Só... aja naturalmente, como sempre fez. — Ele suspirou quando notou que eu ainda parecia assustada. — Tente relaxar e ignore as perguntas. Só deixe que eles te vejam. Levante a cabeça.

— Mas se eu não olhar para o chão, vou acabar caindo — repliquei pateticamente. Ele suspirou mais uma vez.

— Ah, tudo bem. Vamos.

já estava com a mão na maçaneta da porta de vidro, só nos esperando. Nós quatro saímos e fomos imediatamente cercados. Eu fiquei repetindo mentalmente as instruções de , me esforçando para não ficar tonta diante dos flashes. Até consegui esboçar um sorriso tímido. passou a mão pela minha cintura protetoramente.

parou a nossa frente e falou com os jornalistas, dando uma pequena declaração. Os jornalistas se calaram até que ele acabou de falar, então houve uma nova enxurrada de perguntas. me guiou mais a frente e falou alguma coisa, até que ele se voltou para mim, como se esperasse que eu também tivesse algo a dizer. Eu consegui dizer alguma coisa sobre estar feliz por finalmente poder ir para casa e o quanto sentia pelas famílias que haviam perdido um membro. Logo depois surgiram quatro seguranças enormes — não sei de onde — e abriram o caminho para nós até o carro. me ajudou a entrar e se sentou ao meu lado, enquanto e ocupavam os bancos da frente. Eu suspirei aliviada, recostando minha cabeça no banco. Minha mente estava enevoada e tudo aquilo parecia fazer parte de um sonho. Se me perguntassem o que havia sido dito lá fora, eu não saberia dizer.

— Parabéns, você foi ótima — disse , se virando no banco da frente. Apesar do seu sorriso, eu tive minhas dúvidas se estava falando sério, já que ela claramente não gostava de Megan, então me virei para , esperando confirmação. Ele assentiu. — O jeito como você se apoiou nele, foi tocante.

Eu senti meu rosto esquentar ao lembrar que havia me agarrado a ele em busca de apoio.

— Acho que essa sua nova aparência frágil vai fazer sucesso nas colunas sociais — comentou , sério.

Eu me lembrei das revistas em que vira Megan. Ela sempre parecia linda, vibrante, confiante e adorável. Invejável. Acho que todos a amavam — ou, ao menos, à imagem que ela passava. Era mais comum vê-la nas colunas sociais do que qualquer membro original da família . Sempre quando o nome de um deles virava notícia, os jornalistas achavam um meio de colocá-la no meio e estampar a foto dela. Sempre. Eu devia ser um contraste e tanto.

Nós pegamos engarrafamento na saída de Incheon, o que duplicou o tempo da viagem para Suwon. Eu me perdi olhando a paisagem, enquanto as palavras “O que estou fazendo? Eu não sou Megan ” ecoavam na minha mente. Finalmente paramos em frente a uma mansão, como eu já esperava. Pelos fragmentos de conversa durante as visitas no hospital, eu deduzira que todos moravam juntos e, a julgar pelo tamanho da casa, eu estava certa.

— Por favor, me diga que ele não fez isso — suspirou, enquanto esperávamos o portão automático terminar de se abrir. Eu o olhei, assustada.

— O que?

— Todos esses carros...

— Mamãe disse que algumas pessoas queriam vir receber Megan — comentou .

Algumas pessoas? Megan está voltando do hospital, não de uma viagem. Não há motivos para uma festa de boas-vindas.

— Festa? — Eu engoli em seco. A última coisa que eu queria era um monte de testemunhas para receber a mim, uma impostora. — Não podemos entrar pelos fundos?

— Viu o lamborghini? — apontou , passando pelo portão da garagem. — É do Tomoya.

— Tomoya? — perguntei. me lançou um olhar estranho, antes de revirar os olhos.

— Nagase Tomoya — esclareceu , com a testa franzida. — Filho do velho Nagase. Ele é um dos concorrentes à vaga de diretor.

Da companhia obviamente. Esse assunto era o preferido durante as visitas coletivas ao hospital.

— Olha, Megan, vamos fazer igual com os repórteres, ok? Nós entramos, deixamos que todos vejam como você está bem e deslumbrante como sempre e então você se retira para o quarto. Eles vão entender que você está doente e—

— Por favor, , me deixe entrar pelos fundos — pedi, segurando sua mão, implorando com os olhos. Ele bufou e olhou para , como se o consultasse. Então, tomando uma decisão, tirou a mão de debaixo da minha e se afastou.

— Qual é o seu problema, Megan? Você sempre gostou de ser o centro das atenções, para que todo esse teatrinho agora? E essas pessoas vieram aqui, porque se importam com você e estão felizes por você estar bem e voltando para casa. Não custa nada deixar o egoísmo de lado uma vez na vida, por cinco minutos que seja.

Ele desceu do carro, batendo a porta atrás de si. Eu fiquei estática com sua explosão, sentindo a irritação crescer dentro de mim. Mesmo aquelas palavras tendo sido dirigidas a Megan e não a mim, a insensibilidade delas me atingiu.

me lançou um rápido olhar satisfeito, antes de também saltar do carro. me fitava do banco da frente com um certo ar de empatia. Ela então vasculhou na bolsa e tirou um espelhinho, entregando-o para mim. Eu ajeitei umas mechas que estavam fora de lugar e devolvi o espelho, ao mesmo tempo em que abria a porta do meu lado. Ele segurou meu braço, para me ajudar a levantar, mas eu me esquivei, pegando as muletas e descendo sozinha.

Nora me recebeu com um sorriso no alto dos degraus da entrada. Ela me guiou para dentro de casa e eu estaquei ao notar que a pequena comissão de boas-vindas devia chegar a quarenta pessoas. Logo fui cercada por um monte de estranhos que me cumprimentavam. Eu estava confusa e assustada. Olhei para trás, em busca de apoio, mas estava distante, conversando com o pai. Eu estava começando a ficar tonta, quando senti uma mão em meu braço. Era , que veio em meu socorro. Ela habilmente abriu caminho entre as pessoas e me guiou até um sofá.

— Obrigada — murmurei. Ela me olhou com a testa franzida.

— O acidente não te deixou com nenhum tipo de fobia social, não é?

— Não — balancei a cabeça. — Eu só... não estava esperando por isso.

— Como você geralmente adora estar cercada por pessoas, minha mãe concordou com a ideia quando papai sugeriu.

Eu me limitei a forçar um sorriso e logo um jovem casal se juntou a nós. Não era minha intenção prolongar mais aquilo, continuar fazendo o papel de Megan, mas acabei colocando um sorriso artificial no rosto e tentei ser sociável — embora vaga — com todas as pessoas que vinham falar comigo. parecia ter notado que eu estava tendo problema com os nomes, então ela sempre arrumava um jeito de me dar as dicas.

Nas pausas entre as conversas, eu aproveitava para olhar ao redor observando as pessoas — especialmente os homens. Alguma coisa me dizia que com certeza o cúmplice de Megan estava ali. Eu comecei a ficar tão paranoica que cada olhar me parecia suspeito. O quanto ele conhecia Megan? E se soubesse que eu era a irmã gêmea e que agora sabia do seu segredo? E se ele resolvesse me matar antes que eu pudesse tomar alguma providência para me proteger?

— Megan... você está bem?

Eu me virei para e notei que eu estivera inconscientemente apertando seu braço.

— Estou. — Eu a soltei e me ajeitei no sofá. — Desculpe.

— Acho que você já ficou aqui por tempo suficiente. O que acha de ir para o quarto?

— Acho ótimo.

sorriu da minha expressão de alívio.

— Vou chamar .

— Não. — Eu coloquei a mão no braço ela, para impedi-la. — Não precisa incomodá-lo.

Ele estava em um canto conversando com sua secretária e dois dos sócios da companhia e não havia se dado ao trabalho de verificar como eu estava nenhuma vez desde que entramos na casa.

me ajudou a levantar e nós fomos até a escada, nos desculpando com as pessoas que encontramos no caminho.

— Mamãe e eu achamos que deveria ficar aqui embaixo até seu joelho melhorar, mas achou que você preferiria o conforto do seu quarto. — Ela revirou os olhos, obviamente achando a atitude fútil. — Acha que consegue subir a escada?

Eu assenti. Já estava bem cansada, na verdade, meus braços estavam doloridos, mas não havia outro jeito. Eu entreguei uma das muletas à e comecei a subir, me apoiando em uma só e no corrimão. Quando finalmente chegamos lá em cima, eu fui obrigada a fazer uma pausa, porque meus braços estavam trêmulos. Em um segundo, apareceu ao nosso lado.

— Por que não me chamou? — perguntou para .

— Como se você se importasse! — retrucou , me surpreendendo mais uma vez por ficar ao meu lado, quando se mantivera tão obviamente distante quando eu estava no hospital. — Por que não ficou ao lado da sua esposa, que acabou de sair do hospital e foi obrigada a ficar fazendo sala por uma hora para aquele monte de gente?

— Ela só precisava ficar lá por uns cinco minutos, ficou até agora porque quis.

Eu pigarreei, incomodada por falarem de mim como se eu não estivesse ali, e se virou para mim. Ele analisou meu rosto e balançou a cabeça, tirando a outra muleta da minha mão e entregando a .

— Não precisa—

Eu nem terminei a frase e ele passou meu braço pelo seu ombro, fazendo com que eu apoiasse meu peso sobre ele. Seu perfume másculo inundou meus sentidos e eu tive que me conter para não enfiar o rosto no seu pescoço. Era um cheiro gostoso, reconfortante. Ele me levou até uma porta no final do corredor. Era o quarto dele e de Megan. Um cômodo amplo, com portas duplas, que provavelmente levavam a uma sacada e mais duas portas do outro lado.

me liberou ao lado da cama, eu deixei minha mão deslizar por seus ombros lentamente, relutante em me afastar. Seu olhar profundo prendia o meu.

— Você não comeu nada lá embaixo — disse , fazendo com que eu quebrasse o contato visual e recuasse, caindo sentada na cama. — Quer que eu traga alguma coisa?

— Não, obrigada. Eu não estou com fome.

Um silêncio desconfortável se seguiu por alguns instantes, até que encostou as muletas perto da cama.

— Bem, então vou voltar lá para baixo — ela disse e deixou o quarto.

— Precisa de alguma coisa? — perguntou em um tom frio. Eu neguei. — Ok, então eu também vou descer.

...

Ele parou e me lançou um olhar gelado.

— O que?

Eu queria entender por que ele tratava Megan assim. Aliás, por que a família inteira parecia não gostar muito dela. Qual era o problema com o relacionamento deles? O que ela havia feito para merecer esse tipo de tratamento do próprio marido? Talvez não fosse inteiramente culpa dela. Lembrei-me de como a felicidade dela havia me parecido superficial. Eu sabia que nada justificava planejar um assassinato, mas talvez ela tivesse seus motivos. poderia não ser uma boa pessoa.

Não. Apesar do sentimento de indiferença com a suposta esposa, ele não parecia ter má índole. De qualquer jeito, havia milhares de perguntas na minha cabeça e eu queria achar as respostas. Eu ia achá-las, mesmo que para isso eu tivesse que continuar mentindo.

Eu me dei conta que me fitava com uma sobrancelha erguida, esperando que eu falasse.

— Nada — murmurei, com uma nova resolução em mente.

Ele assentiu e deixou o cômodo, fechando a porta. Eu me deixei cair deitada na cama, pensando no que eu deveria fazer para não levantar suspeitas e esperando que o meu cúmplice entrasse em contanto. A partir daquele momento, eu seria Megan.

 


N/A: MDS, eu estava com esse capítulo pronto há séculos, e jurava que já havia sido postado! Mianhe!! >_<
E aí, o que estão achando? :3
~Nikki


 

IV
Moving On

 

POV

— Já está na hora de começarmos a planejar a festa de noivado.

Eu ergui os olhos da comida para fitar minha mãe, incerta se tinha ouvido direito.

— O que disse?

— A festa de noivado — respondeu meu pai. — Já passou da hora de pensarmos nisso.

Eu olhei para , esperando que ele protestasse. Ao invés disso, continuou comendo como se o assunto em questão não interferisse na vida dele. Então eu tive que tomar a palavra.

— Mas combinamos que só nos casaríamos quando eu terminasse a faculdade.

— Você está no último semestre — lembrou . Eu lancei um olhar para ele que dizia que se não queria ajudar, então que ficasse calado. Ele deu de ombros, parecendo estar se divertindo com a desgraça alheia.

— Vamos fazer a festa agora e marcamos o casamento para daqui a seis meses — disse meu pai.

— Podemos marcar o noivado para daqui a duas semanas — sugeriu minha mãe.

— Não acham que estão se precipitando? — me manifestei. — É do meu casamento que estamos falando!

Minha mãe suspirou e trocou um olhar com o meu pai, daqueles olhares típicos dos pais quando estão lidando com o filho problemático. O que não era o caso.

— Filha, se vocês vão se casar mais cedo ou mais tarde, por que não mais cedo? — perguntou minha mãe pacientemente.

— E por que não mais tarde?

No silêncio que se seguiu, eu passei os olhos pela mesa em busca de apoio. continuava indiferente, ainda se divertia e meus pais me encaravam sérios. Megan nos observava com uma estranha curiosidade e quando eu a encarei, ela abaixou os olhos para o prato.

— Não podemos fazer uma festa para daqui a duas semanas — coloquei astutamente. — Megan ainda não está recuperada.

— Eu já vou estar sem as muletas, até lá. — ela observou, ganhando um olhar fatal da minha parte. Ela pigarreou e voltou a atenção para sua comida. — Ou talvez o noivo tenha alguma coisa a dizer.

Toda a atenção se voltou para o dito cujo. Ele abaixou a taça calmamente e se virou para o meu pai, sorrindo.

— Em duas semanas... Parece ótimo para mim.

— O quê?! — eu praticamente gritei.

— Para que continuar adiando? — Ele se virou para mim.

— Além disso, eu quero que o noivado já tenha sido anunciado quando chegar o dia da reunião — disse meu pai.

Claro, a maldita reunião que poderia dar uma promoção tanto para quanto para . Como sempre, os negócios eram o centro das nossas vidas. Eu suspirei, irritada.

— Então basta publicar uma nota no jornal!

— advertiu minha mãe.

Eu bufei e resolvi deixar para lá. Pelo menos até ter a oportunidade de falar com a sós.

O resto do jantar seguiu com algumas conversas ocasionais, que eu nem acompanhei. Megan foi a primeira a acabar e pedir licença. Ela estava estranhamente silenciosa desde que chegou do hospital, na noite anterior. Sem provocações, sem tiradas sarcásticas ou comentários fúteis. Passava a maior parte do tempo sozinha no quarto. Isso não parecia estar fazendo muito bem para o humor do meu irmão.

Minha mãe foi assistir novela e os homens foram para o escritório, falar sobre a companhia, obviamente. Eu resolvi acompanhá-los, esperando a oportunidade para falar com . Papai se sentou perto da janela que dava para o jardim e acendeu um charuto. se acomodou na poltrona e eu me sentei no sofá com , colocando minhas pernas em cima das dele, como fazíamos antigamente. Ele traçava padrões na minha perna com os dedos distraidamente, enquanto conversava. Eu relaxei, quase cochilando, aproveitando a sensação gostosa. Só voltei a prestar atenção na conversa, quando pousou a mão no meu joelho, adquirindo uma postura meio tensa.

— Nós sabíamos desde o início que não seria um período fácil — disse meu pai. — O que esperava, ?

Meu irmão suspirou, se esticando na poltrona. Eu deduzi que o tópico era o cansaço e constante mau humor do .

— Não é a companhia. Eu estava preparado para isso.

— Então a questão é Megan — deduziu meu pai. — Você também sabia que não seria fácil lidar com isso.

esfregou o pescoço tenso.

— Notou o quanto ela mudou? — perguntou.

— Ela parece ter descuidado um pouco da aparência — disse meu pai, se levantando para jogar fora o que sobrara do charuto.

Eu não chamaria de descuido. Ela parecia... menos obcecada com magreza, mais bonita até. Não parecia mais tão preocupada com a aparência como antes, quando colocava maquiagem e usava roupas insinuantes até para um simples jantar em família. Menos fútil seria a expressão certa para definir a mudança. Bem, suponho que é isso o que uma experiência de quase morte faz a uma pessoa.

— Não falo da aparência. Me refiro à forma como tem agido.

— Como o que, por exemplo? — perguntou, voltando finalmente a passar os dedos pelas minhas pernas.

— Ela está mais calada — respondeu, pensativo. — Menos disposta a provocar ou começar brigas. Eu não sei, mas... às vezes olho para ela e tenho a impressão de estar olhando para uma pessoa totalmente desconhecida.

— Ela quase morreu — falei. Os três me olharam como se tivessem totalmente se esquecido da minha presença. Até mesmo , que ainda me acariciava. Eu dei de ombros. — Isso pode tê-la feito mudar.

balançou a cabeça.

— Isso é impossível. Megan é totalmente egocêntrica, nunca dá um ponto sem nó.

— Acha que ela está tramando alguma coisa? — perguntou .

— Eu não sei — suspirou. — Talvez ela só esteja tentando evitar o divórcio.

Era uma possibilidade, já que ela sabia que não poderia prender sem a suposta gravidez.

— Só resta esperar e ver no que vai dar — declarou meu pai. — Pode ser que ela tenha realmente mudado dessa vez.

Eu não sabia mais o que pensar. Se não estivesse vendo com meus próprios olhos o quanto ela parecia mudada, jamais acreditaria se me dissessem. E não era uma mudança de comportamento, mas de personalidade, o que parecia totalmente improvável. Eu pretendia ficar de olho nela, para garantir que não magoaria ainda mais meu irmão.

— Bom, acho que já vou dormir — ele disse.

— E eu já vou indo — afastou delicadamente minhas pernas, para poder levantar.

— Eu te acompanho — me apressei em dizer, feliz pela oportunidade finalmente ter chegado. Ele se despediu dos outros dois e nós deixamos o escritório.

— Pode falar agora — ele disse, se virando para mim, quando alcançamos a porta da entrada.

— Como sabe que eu tenho alguma coisa para falar?

— Você não teria nos aturado esse tempo todo à toa — ele respondeu astutamente. — Eu te conheço.

— Se você sabia, poderia ter me dado a oportunidade mais cedo.

— Na verdade, achei que você ia desistir se eu te fizesse esperar. — Ele riu cinicamente. Eu dei um tapa no peito dele, que levou as mãos dramaticamente ao local atingido.

, isso é sério! Não podemos deixar que eles decidam tudo por nós! É o nosso casamento.

— Sabia que ia falar sobre isso. — Ele suspirou, resignado. — Eu sinceramente não vejo diferença se vai ser amanhã ou daqui a um ano, o resultado vai ser o mesmo.

— Isso foi insensível — comentei, franzindo a testa, abalada pela aparente indiferença. Ele tornou a suspirar.

— O que eu quis dizer é... Não importa quando, o importante é que vamos nos casar. Se seus pais querem que seja logo, então qual é o problema? Alguns meses não vão fazer diferença.

— Para mim faz.

Eu não sabia dizer exatamente o que, mas alguma coisa me incomodava. Eu não gostava do jeito como as coisas estavam indo. E esperava que tivesse sensibilidade suficiente para entender isso.

Ele cruzou os braços e se recostou contra a porta, me encarando seriamente.

— Se o casamento te incomoda tanto, então por que aceitou? Ainda está em tempo de voltar atrás.

Não, não era isso que eu queria.

— Eu não aceitei. Vocês decidiram por mim e só me restou concordar. Simples assim. Mas eu nunca aceitei, porque eu nunca sequer fui pedida em casamento. — As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar no que estava falando. Mas eu não me arrependi, porque elas talvez ajudassem a abrir os olhos.

Ele ficou um tempo em silêncio, como se estivesse absorvendo o significado daquilo. Até que assentiu lentamente e se desencostou da porta.

— Ok, então vamos conversar com seus pais e pedir para não marcarem nada ainda. Assim, você tem mais um tempo para pensar se quer levar isso em frente ou não.

Ele me deu um rápido beijo no rosto e saiu, sem nem me dar tempo para xingá-lo por não ter entendido uma indireta tão... direta. Argh... O que eu tinha feito para merecer um noivo tão idiota?

Bati a porta e fui pisando duro em direção ao meu quarto.

— Tudo bem, irmãzinha? — perguntou , quando o encontrei na escada.

— Não! — Eu passei por ele e continuei meu caminho.

————————————————————————


POV

— Por que não está usando a aliança? — foi a primeira coisa que me falou naquela manhã.

Quando eu acordei, ele já não estava mais no quarto. Assim como no dia anterior, havia usado o banheiro social para se arrumar. Talvez para não me acordar ou talvez só para colocar uma distância entre nós dois. Eu, então, fiquei lendo, esperando que a empregada trouxesse meu café da manhã.

— Meus dedos estão inchados — improvisei, imaginando o que poderia ter acontecido com as joias de Megan. Haviam se perdido no acidente? Ou teriam sido enterradas com ela? Minha esperança era que tivessem entregado a alguém próximo a mim, provavelmente alguém do jornal. Eu abaixei meu livro e o observei. Ele estava lindo, com o cabelo úmido perfeitamente repartido e penteado para trás. Vestia uma camisa social branca que ressaltava seu corpo firme. — E você, por que não usa a sua?

Ele olhou para as mãos nuas e então me encarou com um sorrisinho cínico.

— Eu devo ter engordado. — Ele pegou o paletó e saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

— Bom dia para você também! — gritei, irritada.

Eu bufei, deixando o livro cair fechado em cima da cama. Eu estava naquela casa há menos de 48 horas, mas já me sentia prestes a enlouquecer. Eu tentava ficar na minha e só observar como eles esperavam que Megan agisse, já que não sabia muito sobre ela. E isso estava esgotando todas as minhas energias.

parecia sempre desconfiado e disposto a brigar. Não tinha certeza se ele era assim mesmo com Megan ou se suspeitava de alguma coisa. Donghwan e Nora se mantinham educados e reservados. Os mais intrigantes, entretanto, eram e . Ela obviamente não gostava de Megan, mas às vezes parecia quase amigável. Eu não conseguia entender o que se passava na cabeça dela. Já não escondia que não gostava de mim e eu me perguntava o porquê dessa repulsa. De vez em quando, eu o pegava me observando com um olhar analítico, como se tentasse descobrir o que eu estava tramando. Os quatro pareciam se dar muito bem, o que me levava a crer que Megan era o ponto de discórdia da família. O problema é que eu precisava colher o máximo de informações o quanto antes, e o tempo não estava ao meu favor. Em algumas semanas seria a votação para o cargo de diretor e meu visitante misterioso havia dito que não viveria para ocupar o cargo. Não era muito tempo para uma amadora como eu desvendar uma ameaça de assassinato.

Depois de tomar o café da manhã, eu chamei um táxi e fui até um salão de beleza armada com uma foto recente de Megan. Até então eu havia usado o cabelo propositalmente preso e ninguém havia reparado — ou demonstrado reparar — em como ele estava diferente. Quando eu saí do salão, depois de iluminar e cortar o cabelo, eu me senti como se estivesse finalmente deixando uma parte de mim para trás. A mudança foi o detalhe necessário para que eu conseguisse assumir melhor meu papel.

Eu peguei outro táxi e fui para Seul. Antes de sair de casa, eu tinha feito umas ligações e descobri que as joias de Megan haviam sido entregues a Daniel Choi, editor-chefe do Seul Times. Depois de visitar o túmulo de Megan — que estava com meu nome –, eu fui me encontrar com meu ex-chefe em uma cafeteria.

— Meu Deus, vocês são exatamente iguais! — Daniel exclamou, depois de me cumprimentar. — A não ser pelas roupas. E pelo cabelo, é claro.

Não estava sendo fácil controlar minhas emoções, mas consegui esboçar um sorriso arrogante, do tipo que eu, , não costumava dar. Havia feito questão, também, de manter os óculos escuros, porque ele era um jornalista muito astuto. Não queria que lesse nada em meus olhos.

— Nós somos gêmeas idênticas, é de se esperar que sejamos iguais — observei, contente pela minha nova rouquidão, que agora era um toque a meu favor.

— É claro.

— Trouxe o que eu pedi? — resolvi ir direto ao assunto, porque quanto mais rápido fosse o encontro, menos chance teria de ele desconfiar de algo.

Ele tirou um envelope volumoso do bolso interno do paletó.

— Aqui. — Ele me entregou o envelope lacrado. — Eu nem tive coragem de abrir. Eles me entregaram, porque constava que não tinha família e eu era o conhecido mais próximo... Ela nunca me falou sobre você.

— Nós fomos adotadas por famílias diferentes quando éramos crianças — expliquei, reforçando o que já havia resumido por telefone. — Perdemos totalmente o contato, até o dia do acidente, quando nos encontramos no aeroporto.

— Meu Deus, eu sinto muito. Deve ter sido difícil se encontrarem novamente só para se perderem de novo... E dessa vez, para sempre.

— É, foi — respondi o mais secamente possível, enquanto engolia as lágrimas. — Como eu disse por telefone, a família do meu marido não sabe sobre isso e... eu prefiro que continue assim. Você já deve saber quem eles são e eu não gostaria que começassem a surgir notícias sensacionalistas para arruinar a reputação da família.

— Eu entendo. — Ele assentiu. Eu tinha certeza que ele havia pesquisado tudo sobre Megan no segundo seguinte em que desligou o telefone, mas sabia que ele era um amigo leal e não faria nada para me prejudicar.

— Muito obrigada, senhor Choi, de verdade. Ter comigo alguma coisa de vai ser como se uma parte dela estivesse comigo.

— Ah, espera. — Ele tateou os bolsos e pegou uma chave. Era do meu apartamento. — O síndico me deu até o final do mês para esvaziar o apartamento dela, mas eu ainda não tive coragem... Talvez você queira...

Eu considerei, afinal, depois que toda essa bagunça em que minha vida tinha se transformado acabasse, eu precisaria de um lugar para voltar. Isso é, se eu não acabasse presa. Ou morta. Mas não queria deixar muitas pistas por aí. E se o meu assassino resolvesse me seguir e investigar?

— Você me faria mais um favor?

— Claro.

— Poderia arrumar alguém para juntar as coisas dela e mandar para um depósito? Eu vou pagar todas as despesas, mas não posso lidar com isso pessoalmente agora. — Eu fiz um gesto, indicando meu joelho enfaixado.

— É claro, com muito prazer.

— Obrigada. — Sorri. — Eu entro em contato com você.

— Quer que eu a deixe em algum lugar?

— Não precisa, obrigada. Vou pegar um táxi.

Eu peguei as muletas e me levantei, apertei sua mão e então saí, dessa vez para voltar para casa. Estava indo para o ponto de táxi, atenta para ver se não vinha nenhum, quando um carro amarelo parou no acostamento e buzinou. Eu me inclinei e vi um homem lindo, de óculos escuros, me olhando. Eu levei uns segundos para lembrar que o conhecia. Nagase Tomoya, o concorrente do que estivera em casa no dia da minha alta.

— Está perdida, mocinha?

Eu gelei. A última coisa que esperava era encontrar algum conhecido de Megan ali. O que poderia dizer?

— Oi.

— O que está fazendo aqui tão longe de casa?

— Indo pegar um táxi — respondi tentando parecer casual.

— E vai para onde?

Eu poderia tê-lo mandado cuidar da própria vida, mas já que não fazia ideia de como era a relação entre ele e Megan, resolvi ser educada.

— Para casa.

— Eu também estou voltando para Suwon. — Ele sorriu e desceu do carro, dando a volta para abrir a porta do carona. — Me dá o prazer da sua companhia? — perguntou, fazendo um gesto galante. Eu considerei. Se nós íamos para o mesmo lugar, que mal havia em aceitar uma carona?

— Por que não? — respondi, entrando no carro. Ele guardou as muletas no banco de trás e voltou para ocupar o assento do motorista.

— Eu só preciso fazer uma paradinha para pegar uma encomenda. Você se importa?

— Não — sorri.

Ele estacionou próximo a uma galeria de lojas e desceu do carro. Eu aproveitei para abrir o envelope com as joias de Megan. Havia um colar, várias pulseiras e 3 anéis. Coloquei o colar e peguei o anel com o diamante, deduzindo que era o de casamento. Ele entrou bem justo no meu dedo, provavelmente daria trabalho para tirar.

Nós seguimos viagem com uma conversa amena. Eu me esforcei o máximo para que não pisássemos em terrenos comprometedores. A tarde já estava chegando ao fim quando alcançamos o bairro onde a família morava. Eu me surpreendi quando o carro parou embaixo de uma árvore, notando que não estávamos em frente à casa dos .

— Onde estamos? — perguntei.

Tomoya soltou o cinto de segurança com um sorriso sinistro e se inclinou na minha direção. Antes que eu pudesse reagir, seus lábios capturaram os meus com uma estranha familiaridade. Como se já tivesse feito aquilo diversas vezes. Eu estava tão surpresa que demorei alguns segundos para reagir e empurrá-lo.

— O que está fazendo? — gritei sem pensar.

— Demonstrando o quanto estou feliz por você estar bem. — Ele tentou me abraçar novamente, mas eu o impedi.

— Não faça isso.

— Vai bancar difícil agora, Meg?

Ser chamada pelo apelido da minha irmã foi o que me despertou para a realidade. Teria Megan um caso com ele? Eu me senti repugnada, embora não devesse estar surpresa. Uma pessoa que ajudava a planejar a morte do marido seria capaz de qualquer coisa. Isso me fez perceber que Tomoya era meu primeiro suspeito.

— Estou cansada — falei, forçando minha voz a sair. Eu teria que ser cuidadosa para não deixá-lo desconfiado. — E com dor de cabeça. Quero ir para casa.

Ele ficou me olhando pelo o que me pareceu longos segundos antes de rir e ligar o carro.

— Ah, Megan, sempre orgulhosa! Será que podemos esquecer aquilo? É passado.

Eu quase ri de alívio por ele estar colaborando comigo sem saber.

— Um passado que ainda está muito nítido na minha mente — disparei, aproveitando a deixa.

Chegamos à casa em menos de cinco minutos. Tentei descer do carro rapidamente, mas minha perna sadia estava tensa por ficar tanto tempo dobrada. Tomoya saltou e deu a volta para me ajudar.

— Vou acompanhá-la até a porta.

— Não precisa — repliquei, irritada. Será que Megan costumava exibir o amante na cara do marido?

Felizmente, ele não insistiu.

— Eu entro em contato — avisou, antes de voltar para o carro e partir. Eu senti um calafrio percorrendo todo meu corpo. No que eu havia me metido?

Fiquei feliz por não encontrar ninguém na sala, mas minha felicidade terminou ao cruzar com no meio da escada. Foi muito estranho. Ele ficou parado, com as mãos nos bolsos, me observando fixamente enquanto eu subia. Não disse uma palavra, mesmo quando eu parei e o encarei diretamente. Cansada, confusa e irritada, eu continuei subindo. Tentando ignorar o olhar penetrante que parecia perfurar minhas costas.

Quando afundei na água quente da banheira percebi o erro que havia cometido ao passar todo o dia fora. Agora cada músculo do meu corpo doía. Eu fechei os olhos e tentei relaxar, expulsando da mente todas as coisas que me preocupavam. Não adiantaria pensar naquilo com a mente sobrecarregada.

Eu devo ter cochilado, porque quando dei por mim, a água já estava gelada. Eu me levantei, tremendo de frio, e me enrolei na toalha. Peguei a muleta para sair do banheiro, mas como o piso estava molhado, a muleta escorregou e acabei caindo de bunda no chão. No instante seguinte, a porta se abria e me encarava, preocupado. Ele estava lindo, com o cabelo despenteado, o colarinho aberto e a gravata pendendo frouxamente.

— Você está bem? — perguntou, se aproximando. — Se machucou?

— Não, estou bem — respondi entredentes, envergonhada por estar ridiculamente caída no chão. Ele passou meu braço por cima do seu ombro para me ajudar a levantar. Eu fui invadida pelo cheiro da sua colônia.

Estar tão perto dele, quase nua, mexeu totalmente com meus nervos já abalados. Eu agarrei com força a toalha, tentando expulsar aquela atração inconveniente. Quando eu estava finalmente de pé, senti sua respiração rápida batendo no meu pescoço. Eu ergui a cabeça para encará-lo e vi o desejo que eu tentava conter refletido em seus olhos. Ele prendeu meu olhar com o seu, como se quisesse desvendar alguma coisa. Como se lutasse internamente com alguma coisa. Eu podia ver a mistura de dúvida e desejo em seus olhos.

Não pensei mais. Com o peso do corpo apoiado em um pé só, ergui o rosto e rocei meus lábios nos seus. Ele afastou o rosto, parecendo surpreso. Eu não queria deixá-lo se afastar, mas não podia fazer mais nada. Então, esperei para ver o que ele faria. Não precisei esperar muito. Ele abaixou o rosto e encaixou os lábios nos meus. Passei os braços ao redor do seu pescoço, não só em busca de apoio, mas querendo aumentar o contato com seu corpo. Ele gemeu e chegou ainda mais perto, aprofundando o beijo. Seu dedo acariciava meu pescoço, enquanto sua língua pedia passagem na minha boca.

De repente, ele interrompeu o beijo e ergueu a cabeça.

— O que...?

Meu coração acelerou quando eu percebi sua confusão. Ele achava que eu era Megan. Mas eu não era ela. Ele devia ter notado que eu não beijava como ela. Fechou os olhos e balançou a cabeça, como se quisesse afastar um pensamento. Eu estava estática, sem reação. Aquilo havia sido um erro. Tentei recuar, mas ele me segurou com mais força e sua boca voltou a tomar a minha apaixonadamente. Eu retribuí, liberando um desejo que eu vinha tentando negar desde que o vira no hospital. O beijo era repleto de excitação. Quanto mais eu obtinha, mais eu queria dele. E mais queria dar a ele.

deslizou as mãos pela lateral do meu corpo, até chegar aos quadris, e então me atraiu contra sua ereção. Meu corpo se arqueou contra o dele, minhas mãos deslizaram para dentro da camisa, apreciando o contato com a pele quente.

E, naquele momento, tudo se acabou.

Ele se afastou tão rapidamente, que eu perdi o equilíbrio e tive que me apoiar na parede para não tornar a cair. Segurei a toalha, que já estava com as pontas soltas, contra os seios, tentando manter alguma dignidade. usou as costas da mão para limpar os lábios, como se quisesse apagar meu beijo, e deixou escapar um gemido de desprezo.

— Não vai funcionar, Megan — disse em um tom cortante. — Não conheço esse seu novo jogo, mas até aprender as regras, eu não vou participar disso. Se ainda estou ao seu lado é porque reconheço meu dever, não tem nada a ver com meus sentimentos. E só. Sinto muito pelo acidente, mas ele não mudou nada. Nada, entendeu? — dizendo isso, ele deixou o banheiro, batendo a porta com força.

Eu deslizei junto à parede, até cair sentada no chão, levando a mão à boca para conter um soluço. Não era fácil separar as coisas e lembrar que aquelas palavras haviam sido direcionadas a minha irmã e não a mim. Com raiva, passei as costas das mãos no rosto para afastar as lágrimas.

De alguma maneira, eu ia descobrir o que Megan havia feito para que seu marido a odiasse tanto.

 

~Continua~


N/A: Hi people! *cri cri*
Pelo menos tem uma pessoa que ainda tá acompanhando! Obrigada, anônimo! <3 Esse capítulo é dedicado a vc! ;)


Gostou? Então, curta e deixe um comentário!

23 comentários:

  1. ótima, perfeita quero muito ver essa estória.....
    continua, please

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  2. Wooow essa fic já está boa no começo, quero ver como vai ficar essa estória.....
    Por favor continua, please!

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  3. continua prfvr! é muito boa. :)

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  4. Nikki, sua história está tão maravilhosa, tão cativante e te imploro pelo amor de deus que você nunca a abandone!!!!!!!!!!!!!!! Por favor! Estou ansiosa pelo próximo capítulo, espero que poste logo. Ai meu deus estou desesperada porque eu realmente gostei da sua fanfic e não quero morrer sem antes vê-la terminada. :( bjbj e parabéns

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    1. Own, anônimo, mto obrigada! *---* Confesso que seu comentário me deu um super ânimo! hahahahahaha Não tenho intenção de abandoná-la, embora tenha uma detalhe que está me fazendo empacar nela ^^' Espero que vc viva bastante pra poder ler o final da fic xD Vou fazer o possível pra terminá-la logo ^^ Bjus <3

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    2. Meu deus Nikki, o cap 4!!!!!!!!! Acabei de ler e fiquei mais extasiada ainda, mais encantada ainda e prometi a mim mesma acompanhar com prazer a história e você cara Nikki, escreve muitíssimo bem... E o cap 4 foi dedicado a mim, eu fiquei "hcigknjdysudufjbjfjdteyfhb" e não esperava uma att logo hoje. Você é maravilhosa, ai. :") Obrigada.

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    3. hahahahaha Vc que é maravilhosa, flor! <3 Me sinto lisonjeada por ter "leitoras" tão gentis *-* Infelizmente, com a correria dos problemas aqui em casa, não estou tendo tempo para escrever, embora meus dedos cheguem a coçar de necessidade ^^' Obrigada por comentar <3 Bjs

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  5. Moça, moça, o que essa fic está fazendo comigo? Colocando-me em um conflito extremamente sério de me apaixonar pelo "marido" da minha irmã gêmea morta? ISSO SIMPLESMENTE FOI BRILHANTE, SÉRIO!
    Eu tinha lido a fic antes, mas como não era de comentar, não falei nada, porém agora que eu estou mais atenta neste blog, irei ler e comentar em tudo xD
    Ah, usei o JaeJoong como o filho da mãe que partiu o beijo e toda sensação de sensualidade da cena só porque achava que eu era a minha irmã gêmea... Socorr, só quero imaginar a cara dele quando a protagonista for revelar isso, e acho que irei rir LOL
    Não tenho que falar da escrita, tenho?
    De qualquer maneira irei comentar! Ela é tão... Envolvente e cheia de questionamentos de todos. A maneira como a irmã dele age, o modo como pensa é extremamente diferente da protagonista, mas ambas se encontram tão perdidas com tudo que eu... Não sei como falar, mas você caracteriza bem o que cada uma sente, dando a perceber a diferença das personalidades. Acho que é isso!
    De qualquer forma, parabéns pela linda fic <3

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    1. Nossa Aya... traduziu bem alguns dos sentimentos q nao estava sabendo expressar...
      Pois é nikky é tudo isso que ela disse e muito mais. Aiii ... sem explicação!!!

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    2. Primeiro, mto obrigada pelo comentário, Aya! *-*Me sinto lisonjeada por vc ler a fic :D
      JJ? OMG, ele não é meu bias, mas definitivamente ocupa o segundo lugar no meu coração! E consigo totalmente imaginá-lo como protagonista dessa história xD
      Fico feliz que goste da escrita! *-* Eu tenho uma tendência mais pro estilo chick lit, o que acaba me deixando insegura quando tento escrever algo mais sério. Quanto a diferença entre a protagonista e a "cunhada", foi quase que inconsciente, e eu até pensei em apagar o POV da cunhada,com medo de destoar do tom da fic. Mas fico satisfeita ao saber que ele ajudou a destacar a diferença de personalidade das duas. ^^
      Espero que eu consiga continuar com a fic de maneira que ela esteja à altura das leitoras ^^
      Bjus

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  6. Não só uma... Tem eu agora *-*

    AMEIIII
    Esse ultimo capitulo me deixou sem folego e cheia de duvidas... curiosidades... uuuf... tantos sentimentos!!
    Esperando anciosa.

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    1. Oba, mais uma! o/

      hahahah Espero que continue gostando e acompanhando! *-* E espero poder atualizar em breve!
      Obrigada por comentar! *-*
      bjus

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  7. Li tudo de uma vez, achei muito boa.
    Tô aguardando a continuação, tbm cheguei e vou continuar pode contar com mais uma leitora.

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    1. Oba! *-* rsrsrs

      Obrigada por comentar, Milla! Cruze os dedos pra que eu consiga atualizar em breve! ^^
      Espero vê-la por aqui novamente.
      Bjus

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  8. Cade capitulo novo unnie? esperando ansiosa

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    1. Desculpe pela demora! Vou tentar escrever e postar assim que possível! :*

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  9. Simplesmente maravilhosa.
    Fiquei fasinada.
    E pesso que pufavor atualize logo.
    Estou ansioza e estarei acompanhando essa maravilhosa fic.

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    1. Obrigada, flor! Fico mto feliz que esteja gostando! Estarei atualizando assim que possível! ^^'

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    1. Naah desculpa >_< Eu andei com um bloqueio horrível por meses e agora que desbloqueou, ainda n consegui parar pra pegar essa fic :( Vou ver se consigo retomá-la logo. ^^'

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