OTHER: A Fábrica de Bonecas, by Anny

A Fábrica de Bonecas

A FÁBRICA DE BONECAS
by Anny

Há muito tempo uma família, dona de uma ilustre fábrica de bonecas morreu em um acidente em sua carruagem que misteriosamente explodiu. Contudo, só o corpo da esposa e do cocheiro foram encontrados. Onde o dono da fábrica e sua irmã mais nova foram parar? Por que seus corpos nunca foram achados? E o mais importante, por que depois de décadas as chaminés da Fábrica de bonecas misteriosamente voltaram a funcionar?
Gênero: Angst, dark fic, Universo Alternativo, Suspense
Dimensão: Longfic
Classificação: Restrita
Aviso: Cenas de sexo, incesto. Alguns nomes são fixos, mas isso vai passando no decorrer dos capítulos.

Beta: Nikki

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# Prólogo # Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 # Capítulo 6 # Capítulo 7 # Capítulo 8 #

 

 

“Bonecas são um dos brinquedos mais antigos e mais populares em todo o mundo. Reproduz as formas humanas, predominantemente a feminina e a infantil, e muitas vezes são consideradas como um brinquedo que prepara para a maternidade.”

 

PRÓLOGO

 

SÉCULO XVII

Século XVII. Certamente este era o século das bonecas, onde os brinquedos oferecidos para as meninas estavam recebendo cada vez mais atenção em sua produção. A fábrica Lotthus, que na época era uma das maiores fábricas de brinquedos de toda a Inglaterra resolveu investir também nos produtos.

As pequenas criaturinhas com olhos de vidros e cabelos humanos, contudo, não seriam apenas bonecas comuns, mas inspiradas na pequena , irmã mais nova de , o dono da fábrica.

A boneca foi um dos maiores sucessos da época, levando a família a um nível totalmente novo. Com o rosto arredondado, pele clara como a neve, lábios finos e rosados e o cabelo tão preto quanto o carvão, as bonecas eram vendidas em quantidades absurdas, provocando inveja por parte de outros produtores.

— Olha o que eu trouxe para você, querida irmã! — acabara de entrar no quarto da pequena . As roupas pretas e o cabelo colado ao rosto deixavam à mostra a beleza do jovem homem de peles claras e olhos amendoados que deixavam claro a origem estrangeira da família que perdera seu anfitrião (o pai) há poucos anos.

— Uma boneca, Oppa? — A menina perguntou, vendo o presente na mão do rapaz.

— Sim... Uma boneca sua! — O homem abaixou, entregando o pequeno objeto nas mãozinhas miúdas da garota.

— Obrigada, Oppa! — A menininha sorriu e se levantou, jogando os braços em volta do pescoço do irmão e o abraçando com toda a força que seus pequenos bracinhos podiam reunir. — Eu amo você, Oppa!

— Eu também te amo, querida! — O homem sorriu, permanecendo no quarto por alguns minutos até que fosse a hora de sua dongsaeng dormir. Ele a deitou e cobriu com uma manta rosa, que a aqueceria naquela noite gelada.

[X]

Os anos se passaram. já estava com seus nove anos de idade, e a família teria uma importante reunião com o prefeito da cidade, que lhe encomendaria bonecas da própria filha, afinal o sucesso da fábrica era tamanho que nem o passar dos tempos conseguiram ocultar-lhe.

e Kyunghee, sua mãe, estavam esperando descer de seu quarto e esta o fez minutos depois. A pequena usava um vestido que tinha traços de um cinza e preto e contrastavam com sua pele clara.

— Está linda, querida! — Kyunghee dizia para a filha, sorrindo de canto a canto.

— Obrigada, mamãe! Eu estou pronta, vamos? — A menina terminou de descer as escadas e correu para o irmão, abraçando-o.

— Vamos querida!

E assim todos saíram de casa, e mal sabiam que esta era a última vez que realizariam tal ato. foi à frente, seguido por sua mãe e irmã que andava saltitante, esboçando em seu sorriso a animação para aquele encontro com a filha do prefeito. Kyunghee parecia apreensiva, mas mesmo assim animada. Aquele seria mais um grande salto em sua fábrica e nada os deixavam mais orgulhosos do filho mais velho do que isso.

A família seguiu em sua carruagem, andando pelas ruas de pedras e virando por algumas mais estreitas por algum tempo até chegarem a um ponto da cidade que era cercado somente por árvores altas. Não era o tipo de lugar que as pessoas gostariam de passar, no entanto era preciso cruzar aquela parte da cidade para chegar ao destino desejado.

O silêncio era absoluto. A menina brincava com sua própria boneca, sorrindo e conversando baixo com a suposta “filha” e a mãe a olhava com admiração. Então, com a velocidade de um raio e o estrondo de um trovão, um brilho claro e forte que poderia cegar um ser humano, invadiu o local. Uma explosão sem explicação.

Os restos da carruagem lançados para todos os lados, corpos mutilados, ensanguentados. Restos de órgãos, cabelos, tecidos espalhados em uma coloração preta, carbonizada pelo fogo. Esta foi a descrição da polícia quando chegou ao local, horas mais tardes. Os corpos de Kyunghee, a mãe, e Raul, o cocheiro, foram identificados em pedaços espalhados pela estrada. Porém nunca foi encontrado partes ou todo o corpo de e sua irmã , o que deixou toda a população intrigada.

Algumas pessoas diziam que eles haviam sido afetados de tal forma que qualquer pedaço minúsculo que seja seria difícil de identificar (e não era para menos se comparado às tecnologias da época). Contudo, muito tempo depois do acidente (digo muito tempo, porque me refiro a anos, décadas), dois homens que passavam pela mesma estrada podiam jurar que viram entre as árvores ao redor, uma menina com o vestido preto e cinza rasgado, cabelos pretos bagunçados, descalça, lábios finos, olhos penetrantes e em uma de suas mãos uma boneca sendo segurada, acompanhada de um homem alto, igualmente imundo e parecido com a pequena.

A história, é claro, foi ocultada e os homens dados como loucos, mas depois de certo tempo, em um dia nublado, como que por mágica ou alguma força maligna, a fumaça de uma das chaminés da fábrica Lotthus voltou a invadir o céu de Londres.

 

 


 

CAPÍTULO 01

 

Os passos viraram no corredor, parando em frente a uma porta que foi aberta de forma lenta, sem pressa.

A sala estava mais iluminada, talvez pela maior quantidade de janelas que proporcionava mais receptividade para a luz do luar, ou pelo simples fato de que algumas velas haviam sido espalhadas pelo local, fazendo o seu trabalho de distribuir a luz por todos os cantos.

Aquele cômodo era grande, nas paredes laterais havia altas estantes repletas de livros empoeirados. Ao lado direito da porta um pequeno armário com bebidas que outrora foram de grande interesse de qualquer pessoa da alta sociedade de Londres enfeitava o canto. De costas para a janela havia uma mesa preta e de aparência pesada que estava repleta de papéis, castiçais e penas. Do outro lado da mesa, também de costas para a janela estava uma belíssima poltrona de madeira preta trabalhada com delicados traços de couro de uma coloração vinho.

A esquerda da porta, sentado no chão, de vestido preto, pele branca e cabelos intensamente negros, uma garota tirava o pó de alguns livros e passava as páginas de outro parecendo profundamente entretida em suas ações.

O homem fechou a porta atrás de si e caminhou até a janela, observando a rua abaixo, isolada àquela hora da noite.

— Não é necessário que faça isso. — O homem disse sem se virar para olhar a moça. As mãos se prenderam atrás do corpo, deixando sua postura ainda mais ereta.

— Eu não me importo! — Ela disse em um fio de voz, sem ao menos tirar os olhos das páginas dos livros antigos.

— Mas eu sim. — O homem suspirou e se moveu, arrastando os pés pelo piso sujo. As paredes negras do cômodo só lhe deixavam com um ar mais depressivo e as teias de aranha acumuladas com o passar dos anos dava a impressão de que o local fora preparado para uma festa de Halloween.

— Muitas coisas mudaram... — A garota disse, fechando o livro. — Você me compreende... As carruagens foram trocadas e são guiadas apenas por rodas, sem o acompanhamento de nenhum animal. — Ela parecia um tanto impressionada com tudo o que havia observado durante os últimos dias.

— Eu não me interesso pela evolução humana em si. Só é o meu desejo saber o que aconteceu. Saber por que esta fábrica está fechada quando eu tanto me esforcei para levá-la adiante. — O homem tinha ódio na voz, repulsa no olhar. Suas mãos repousaram sobre a mesa de madeira, entrelaçando os dedos logo depois de estalá-los.

— Acho que novas fábricas foram criadas... Eu vi... — A garota não terminou de falar, ela abaixou a cabeça atordoada demais com seus próprios pensamentos.

O homem que olhava para as próprias mãos levantou o olhar, encarando a menina com curiosidade, atenção e ordem. E aquilo foi o bastante para fazê-la continuar.

— Há bonecas novas... São lindas... — A voz parecia embargada pelo choro, ela abaixou o rosto e não pode ver a onda de raiva que tomava conta da feição do homem sentado perto da janela. Ele se levantou de um salto, batendo o punho com força na mesa e com passos mais rápidos do que o normal ele saiu da sala, puxando a porta com força ao sair, fazendo com que a garota saltasse levemente com o estrondo.

Não se sabe aonde o homem foi, mas sabe-se que ele não estava na fábrica. Ele só voltara horas depois, ensopado pela chuva que havia começado fraca e se intensificado mais a cada segundo. Raios e trovões faziam a menina se encolher cada vez mais no canto. A chuva lhe trazia lembranças ruins, lembranças que preferia ocultar.

A garota que um dia tivera apenas alguns anos de idade, hoje era uma moça formada, com belas curvas e uma feição encantadora, mas além de tudo, uma moça com seus medos e tormentos possíveis para ferir quem quisesse.

[X]

O temporal parou pela manhã e o sol lançou seus primeiros raios em toda a cidade. Os moradores passavam olhando para as chaminés da fábrica agora sem nenhum sinal de vida, mas estavam certos de que há alguns dias fumaças saíram do local, ou pelo menos puderam jurar que era. Porém, agora já corriam boatos de que era apenas uma queimada em algum lugar ali perto, causando a falsa impressão de que da chaminé saía o ar poluído.

O homem entrou no mesmo cômodo que entrara na noite anterior e encontrou a jovem deitada em um dos cantos. Provavelmente ela havia passado a noite ali, mas comparando-se aos locais por onde dormira em suas últimas décadas aquilo lhe parecia bastante confortável.

Em passos leves ele caminhou até a garota e se abaixou, ajoelhando-se e se apoiando em uma perna. A mão do homem fez um movimento rápido e no segundo seguinte ele estava acariciando a pele clara e macia da bela jovem.

— Hora de acordar, dongsaeng! — Ele a chamou com a voz doce. Não parecia o mesmo homem que saíra do quarto batendo a porta, cheio de ira.

A menina se moveu no chão e o homem sorriu satisfeito antes de se levantar e ir sentar-se à mesa que ficava logo na frente da janela do local. Alguns minutos depois a garota se levantou e permaneceu sentada no chão, olhando para o rapaz que observava a parede sem parecer prestar atenção.

— Levante-se, querida. Arrume-se porque hoje receberemos visitas. — Ele disse tudo sem tirar os olhos do ponto ao qual mirava distraído.

— Quem, Oppa? — A moça perguntou com a voz sonolenta.

— Você vai ver, mas trate-a bem... Pelo menos até o serviço estar todo pronto. — O homem disse e então se levantou, lançando um olhar para a menina e em seguida de seus lábios brotaram um sorriso maléfico, um sorriso que tenho certeza, ninguém jamais desejaria ver.

 

 


 

CAPÍTULO 02

 

— Seja... Bem-Vinda. — disse as palavras com uma pausa estressante. A mulher fez uma pequena reverência com a cabeça e sorriu.

— Está é minha irmã, ... — O homem apontou a garota que estava ao seu lado. — Tem bastante coisa para fazer, sugiro que comece pelo segundo andar, há muito o que limpar por lá... Depois esteja certa de que acertaremos nossa dívida. — O homem sorriu e aquele sorriso provocou um arrepio na jovem moça que não sabia se era medo ou apenas nervosismo e assim resolveu seguir para o segundo andar que foi apontado pelo rapaz, pegando antes alguns esfregões e baldes com água e sabão.

— Então essa era a visita? — A irmã perguntou um tanto decepcionada.

— Não podemos trabalhar nestas situações. — deu as costas para a irmã e seguiu andando.

— Não temos dinheiro, Oppa!

— Não precisamos de dinheiro. — O homem disse em voz grave, estava certo que havia ficado nervoso. A mandíbula estava cerrada e parecia que iria estalar. — Ela só tem que fazer todo o seu trabalho como uma boa serva. — Disse, voltando a falar de modo mais relaxado e aos poucos se aproximou da garota, lhe acariciando o rosto. — Prometo que ao final a diversão será toda sua...

— Você promete? — sorriu animada, olhando nos olhos do maior.

— Sim. — A voz do rapaz saiu sussurrada e seus lábios se aproximaram dos lábios da menor, selando ali de forma demorada.

 

[Flashback on]

“Soube que você anda procurando emprego.” O homem disse com a voz um pouco rouca. A mulher olhava-o da fresta da porta. Não teve coragem de abrir àquela hora e a principio achou que o rapaz estava lhe oferecendo um emprego de prostituta, mas resolveu que a educação viria em primeiro lugar, pelo menos até que ele lhe faltasse com respeito.

“Sim, eu estou procurando emprego”, ela respondeu de forma curta, apurando os ouvidos para escutar em meio à chuva que caía do lado de fora.

“O que você sabe sobre esta cidade?” o homem lhe perguntou e aquilo soou estranho para seus ouvidos, mas mesmo assim respondeu.

“Não sei nada, senhor. Por quê?” Perguntou. O olhar que era lançado a ela começava a lhe causar calafrios, mas não sabia o motivo.

“Eu tenho um emprego a lhe oferecer.” O homem sorriu, e embora fosse belo, o seu sorriso era um tanto quanto estranho, era como se por trás da bela face um homem totalmente diferente se ocultasse.

“Um emprego?” A jovem perguntou, desconfiada “Que emprego?”

“Tem um lugar que há muito foi abandonado. Preciso que seja limpo urgentemente.” A voz calma do homem não lhe tranquilizava, pelo contrário, vê-lo na chuva procurando uma empregada com tanta urgência lhe trazia um mau pressentimento.

“Tudo bem... Eu posso ver o local.” A mulher disse, suspirando. Então o rapaz lhe passou todos os dados e foi embora.

[off]

 

Sarah balançou o rosto, sorrindo com seus pensamentos. O homem agora lhe parecia uma boa pessoa e a irmã também. Ela era muito bonita e embora tivessem trocado poucas palavras, parecia um tanto educada.

A mulher procurou então se focar em seu trabalho. Começou pelo cômodo principal. O serviço ali não era muito, parecia um dos poucos lugares do local que não encontraria poeira, talvez a irmã do jovem houvesse limpado, de qualquer forma procurou não pensar nisso. Varreu e esfregou todo o chão e janelas até que estes ficassem limpos. Fez o mesmo com a janela que iluminava o corredor e parecia que aquilo melhorou a entrada da luz em 50%.

Sarah demorou um pouco limpando o corredor, este era grande e os pisos estavam um pouco arranhados. Era a parte que mais estava exigindo de si até o momento.
A próxima parte a ser limpa foi a escadaria que dava ao salão de entrada que ela também limpou, retirando a poeira dos castiçais e de alguns quadros antigos que haviam sido pendurados na parede.

Logo depois Sarah foi a uma sala grande com janelas no alto das paredes, certamente não as alcançaria, mas daria o seu melhor para que tudo ficasse impecável.

Aquele salão parecia ser onde os produtos da antiga fábrica um dia foram fabricados. Sarah não procurou prestar muita atenção e se pôs a fazer seu serviço, afinal, sabia que a recompensa seria boa.

Passaram-se cerca de uma hora até que a mulher saiu do salão. Seus braços e costas doíam, mas ela não se deu ao luxo de pensar em parar. Já estava escurecendo e queria terminar o seu serviço todo naquele dia.

Sarah passou as costas da mão na testa e deixou a vassoura encostada na parede para tomar um pouco de ar e quando se virou viu uma figura observando-a. Seu coração deu um salto até perceber que se tratava da irmã de . A menina segurava uma bandeja com algumas torradas e um copo de suco nas mãos e tinha um sorriso simpático no rosto.

— Você deve estar cansada! Tome... — Disse e estendeu a bandeja para Sarah que a pegou agradecendo.

— É um lugar grande! — A mulher desabafou, levando uma torrada até a boca.

— Realmente... E me impressiona que você termine tão rápido. — disse e sorriu. E mesmo sendo um lindo sorriso, um calafrio percorreu a espinha da empregada que retribuiu o gesto.

— Não tão rápido quanto eu desejo! — A moça deixou escapar e ao olhar sem graça para a jovem a sua frente, ela viu que a mesma a observava com atenção, cautela. — Por favor, não me entenda mal — Tentou reparar as palavras ditas segundos antes.

— Não há nada para entender, querida! — A menina sorriu e saiu do local, e por um segundo isto fez com que Sarah respirasse aliviada.

[X]

O sol ia se escondendo do lado de fora e isso estava causando um incomodo na inglesa. A jovem procurou arrumar a parte da cozinha o mais rápido possível e então quando terminou não precisou procurar o homem que lhe havia contratado, pois o mesmo a esperava na soleira da porta.

— Suba e receberá o pagamento pelas mãos de minha dongsaeng. — O homem ia se virar, mas parou para antes dizer mais algumas palavras. — Foi um ótimo trabalho, Sarah! — Ele sorriu e novamente aquele sorriso fez a jovem estremecer de medo.

Degrau por degrau Sarah subiu, batendo na porta do escritório antes de ser convidada a entrar. estava sentada na cadeira atrás da mesa e sorriu simpaticamente quando a empregada entrou.

— Aproxime-se, Sarah! — Ela disse, se levantando. — Você fez um ótimo trabalho!

— Obrigada, senhorita! — Sarah agradeceu, embora quisesse evitar as conversas. Tudo o que queria era sair daquele lugar.

— Diga-me como foi a sua infância...

Sarah estranhou a pergunta, mas resolveu responder de forma sincera.

— Eu morava no campo, senhorita.

sorriu de lado, passando os dedos pelos livros enfileirados na estante. Então caminhou um pouco mais e abriu uma pequena porta, tirando de dentro uma boneca. Os olhos de vidro, a pele de porcelana tão clara quanto a neve, e os cabelos... Pareciam de verdade, negros como o carvão.

— Veja, Sarah... Era minha! — A menina estendeu a boneca para a recém conhecida que a pegou, relutante. — Eu costumava brincar com ela, era a minha preferida. Fui a primeira a ganhar. Foi feita exclusivamente para mim. — A menina se virou novamente para a estante, olhando distraidamente os livros.

— A primeira a ganhar? — Sarah estranhou e um surto de adrenalina percorreu seu corpo. — Essas bonecas foram criadas no século XVII... — Neste ponto, a voz dela saía como um sussurro.

— Bingo! — se virou, sorrindo maleficamente para Sarah que recuou dois passos. — Me tiraram tudo... E eu não sei quem foi...

— Você... V-Você — A voz de Sarah falhava.

— Ah, eu sinto muito, Sarah... Você é uma boa mulher, mas eu também era. Minha mãe também e meu irmão era um bom homem e mesmo assim nos tiraram tudo... Tiraram-nos a vida.

— Impossível...

— Não... Mas eu prometo, vai acabar tão rápido para você quanto acabou para mim... Você não vai sentir dor. — sorria enquanto se aproximava de Sarah. Em sua mão ela carregava um punhal.

Sarah tentou recuar, mas a mesa a impediu. Tentou gritar, mas sabia que seria em vão. Então, com a velocidade de um flash, se aproximou, segurando a boneca no último minuto enquanto sua mão livre ia de encontro ao corpo da mulher.

Um líquido quente e vermelho escorregou do peito da empregada que tinha os olhos abertos pela incredulidade e a voz que tentava fazer seu último apelo.

retirou o punhal e deixou o corpo de Sarah cair sobre os seus pés. Ela sorriu e se virou, voltando a guardar a boneca em seu local sagrado.

 


 

CAPÍTULO 03

[Flashback On]

O barulho da pena contra o pedaço de papel era monótono e exageradamente relaxante. esticou o corpo na intenção de relaxar os músculos cansados e colocou as mãos no pescoço, massageando-os no exato momento em alguém bateu na porta.

Em uma voz calma e agradável o dono da fábrica convidou a visita a entrar e esta o fez, ringindo a porta de madeira ao abri-la.

Tratava-se de um homem alto, pele clara, cabelos loiros, olhos azuis e embora fosse bem esguio e esperto, sua idade já era um tanto avançada.

! — Ele exclamou atravessando a sala para saldar o homem que estava sentado.

— Por favor, sente-se! — disse, indicando uma das duas cadeiras disponíveis para as visitas.

— É muito gentileza sua! — O homem disse, sentando-se na mesma hora em que o coreano se levantou, indo até seu armário, onde guardava suas mais preciosas bebidas.

— Vai gostar de ter vindo! — O moreno disse, pegando uma garrafa de bebida importada.

— Eu espero mesmo, afinal eu não vim da Holanda para me deparar com assuntos banais, não é mesmo? — O loiro dizia de modo divertido, e um “o” foi formado nos lábios ao ver o dono da fábrica voltar à sua mesa com aquela bebida.

— Eu pareço um homem que trata de assuntos banais, meu caro amigo? — sorriu com o canto dos lábios, servindo um pouco da bebida em dois copos.

— Certamente que não. Afinal, é um homem importante agora, não é? — O loiro deu uma piscadela e pegou um dos copos oferecidos pelo outro.

— Eu lutei para isso, Frederic, eu corri atrás de meus ideais! — voltou a se sentar, levantando o copo a certa altura como se estivesse brindando às palavras ditas.

— Disso eu não tenho dúvidas, meu amigo! Mas acho que nosso encontro requer muito mais assuntos do que simplesmente me oferecer uma bebida importada, estou certo? Não é do seu feitio! — Frederic bebericou um pouco de sua bebida, fechando os olhos como se aquilo tivesse o sabor mais doce que um homem poderia provar.

— Ainda tem dúvidas? — O moreno sorriu e se ajeitou na cadeira. — O aniversário de minha irmãzinha se aproxima... E todos sabem bem que a Holanda criou bonecas de melhor aparência que alguns outros países, por assim dizer. Quero expandir os negócios da fábrica da minha família...

— Como um presente à sua irmã? — O homem ergueu uma sobrancelha, não se importando realmente com aquilo. — Acho que posso ajudá-lo, !

— Eu sabia que poderia contar com o seu apoio, meu amigo! —O moreno deixou o copo sobre a mesa, sorrindo de satisfação.

— Contudo... — O loiro voltou a falar. — Saiba que não é uma produção tão simples. Você terá que voltar a fábrica para isso também.

— Esteja certo de que assim eu o farei! — sorria, satisfeito. — Porém, quero algo único, algo especial. Um protótipo com algo diferente de todas as outras, exclusivamente para minha dongsaeng. Ela, é claro, irá ganhar o presente primeiro. Quero dar a ela uma amiga, educá-la de modo sensível como toda mulher deve ser.

— Sua irmã terá a boneca dos sonhos, . Afinal, você sabe quem eu sou!— O loiro sorriu, levando aos lábios o resto de sua bebida...

[Flashback Off]

A porta fez um leve barulho e o homem atrás da mesa levantou seu olhar, vendo a irmã entrar. Esta caminhou pela sala, dando a volta na mesa até sentar-se no colo do mais velho.

— Onde estava sua mente? — Ela sussurrou, acariciando os fios negros do homem.

— Certamente em um tempo distante. — Ele disse, virando o rosto para olhá-la nos olhos.

— Quando? — Ela queria mais detalhes.

— Frederic havia entrado por aquela porta — Ele apontou a porta com o dedo indicador e olhou para o local, relembrando tudo novamente. — Ele se sentou em uma das cadeiras de visitas e discutimos sobre as primeiras bonecas a serem criadas.

— Eu ainda tenho a minha... — A menina sorriu, deslizando os dedos pela face clara de seu irmão.

— Eu sei que sim. Guarde-a bem, querida! —O homem sorriu, colocando uma mão sobre a perna esquerda da menor.

— Shh... — Ela disse, tocando os lábios de seu Oppa com o indicador. — Apenas relaxe...

Então nos minutos seguintes as palavras foram poucas e no lugar disso os lábios de ambos se aproximaram, tocando-se de maneira leve, ficando parado um sobre o outro por eternos segundos. Então com uma rapidez repentina, a mão livre do homem subiu para a nuca da menor, apertando-a de forma selvagem contra si, enquanto seus lábios passavam a se mover com urgência sobre os dela.

A menina enrolou os dedos sobre os cabelos do homem, puxando-os com leveza, enquanto ambas as línguas se encontravam em tamanha urgência, provocando ondas eletrizantes nos corpos de ambos.

se levantou de súbito, deitando a irmã sobre a mesa e nos momentos seguintes derrubou todas as folhas e objetos que estavam nela. O homem se curvou diante do corpo da menor, tomando seus lábios em um beijo caloroso novamente.

As unhas de arranhavam sem piedade a nuca do mais velho que arfava por entre seus lábios. Ela abaixou as mãos tentando tirar aquela peça que estava impedindo que o corpo másculo e definido do homem ficasse à mostra, jogando-a no chão nos segundos seguintes.

abaixou os lábios para o pescoço da menor, passando a ponta da língua e mordiscando algumas vezes, causando ondas de arrepios no corpo jovem da garota.

prendeu as pernas em volta do corpo do maior, e uma das mãos do mesmo subiram pelas pernas da menina, adentrando o vestido negro que ela insistia em usar. sorriu triunfante, enquanto passava as mãos pelas costas agora nuas de seu oppa, arranhando-o também ali.

Em um súbito de adrenalina o homem ergueu o tronco, olhando de forma ardente para a jovem. Ele lhe rasgou todo o vestido, deixando-a apenas com as partes intimas que logo também tiveram seu fim.

se curvou sobre o corpo da menina, beijando-lhe um dos seios enquanto uma de suas mãos tratava de massagear o outro, e como recompensa os gemidos prolongados da jovem soavam como música aos seus ouvidos.

O homem sorriu, mordiscando o seio alheio que contorceu o corpo de prazer. Os beijos foram descendo pela barriga dela e pararam no umbigo, onde ele tocou com a ponta da língua circulando o lugar de forma sedutora, logo depois ele assoprou a pele molhada, causando um arrepio no corpo da irmã. era um homem maduro, experiente, e sabia como seduzir e proporcionar total prazer a uma mulher.

se ajeitou na mesa com a ajuda de seu oppa e no momento seguinte ele lhe tocou com os lábios a fonte de prazer que estava escondida por baixo dos panos. A menina se rendeu, mordendo os próprios lábios, tentando, em vão, impedir os gemidos.

O maior não economizou nas carícias, tocando-a tanto com os lábios quanto com a ponta da língua. Fazia tempo que não experimentava essas sensações, e era nesses momentos que não se arrependia de ter se entregado ao seu oppa.

subiu novamente os lábios pelo corpo da garota, tomando os alheios novamente em beijos urgentes. Enquanto suas mãos trabalhavam para tirar-lhe o cinto e as peças que ainda restavam.

Com toda a força que pode reunir, empurrou o homem, sorrindo maliciosamente. Ela se levantou da mesa e se virou, deixando o próprio rapaz encostado no móvel. selou os lábios do homem e lhe lançou um olhar pervertido, abaixando-se até ficar apoiada em seus joelhos.

A menina encarou o membro rígido do homem e sorriu, não imaginava ter tamanho prazer se algum dia se deitasse com outro homem. Ele, , seu irmão era tudo o que ela precisava.

tocou o membro do homem com a ponta da língua e este deixou escapar um gemido em protesto, o que incentivou a menor a continuar as ações.

A menina deslizou a ponta da língua em toda a extensão, provocando o máximo possível ao maior com os lábios e este a respondia com inquietação e gemidos de prazer.

O homem se abaixou um pouco, o suficiente para pegar a mais nova pelo braço e a fez deitar novamente na mesa. A garota sorriu e no momento seguinte, com um impulso do mais velho os corpos se tornaram um. arqueou o corpo de prazer e fechou os olhos por curtos segundos, enquanto deixava a menor se acostumar com a invasão. E então nos segundos seguintes, as investidas do moreno contra a pequena aumentaram e com eles os sussurros e promessas acompanhados dos gemidos soltados por ambos preenchiam a sala vazia, escura, depressiva.

Não demorou muito e ambos, oppa e dongsaeng, se renderam ao prazer, chegando ao clímax ao mesmo tempo. A menina relaxou os músculos do corpo, enquanto seu irmão lhe depositava mais um beijo nos lábios.

Realmente os pensamentos dos dois conseguiram chegar a um tempo muito longe daquele e o mais importante, o pedido da menina para que o mais velho relaxasse fora atendido.

 


 

CAPÍTULO 04

 

se levantou cedo, observando a menina que dormia enrolada em alguns lençóis ao canto da sala e deixou sobre a mesa um pacote embrulhado em papel marrom, parecia uma caixa, mas o conteúdo não era revelado. Contudo, o homem tinha em mãos uma outra do mesmo tamanho, também enrolada no mesmo tipo de material.

De modo rápido e objetivo, escreveu um bilhete. Sua letra redonda e rabiscada tão bela quanto à de um escrivão.

O moreno se retirou da sala, batendo a porta com leveza, mas antes lançou um último olhar à irmã que dormia angelicalmente.

12h30min

As portas da fábrica se abriram com um estrondo mais baixo do que esperado. As pessoas que passavam pela rua nem ao menos se viraram, preferindo ignorar qualquer coisa ao seu redor. Talvez essa fosse a coisa mais repugnante de Londres, as pessoas daquela época não eram tão receptivas quanto se gostaria que fossem.

saiu pela porta, segurando o embrulho que outrora fora depositado na mesa do escritório, no segundo andar da fábrica. A menina trajava um vestido preto com alguns detalhes vermelhos. A roupa acabava pouco acima de seus joelhos e nos pés calçava uma bota de cano curto que com certeza não fora barata.

A jovem sentou-se nos muros baixos que ficavam ao lado das escadas da fábrica e ficou com o pacote na mão, observando as pessoas que passavam como se esperasse por uma em especial.

Os minutos passaram e o sol parecia ficar cada vez mais forte. A menina passou a brincar com os próprios dedos, até que algo lhe chamou a atenção, justamente quem ela esperava apareceu.

Uma garota jovem de aparência mais nova que ela. O vestido lilás e branco e cabelos loiros presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, realçando seus olhos verdes.

se levantou e ajeitou o vestido, enquanto a menina passava e antes que esta pudesse se afastar, falou: — Olá!

A menina se virou nos calcanhares e sorriu ao ver quem a chamara.

— Olá! — Ela respondeu se aproximando da morena.

— Eu sou !

— Meu nome é Káthia — A loira disse subindo alguns degraus para se aproximar mais de .

— Eu vejo você passando todos os dias... Lá de cima. — virou o rosto em direção à janela do escritório de seu irmão e voltou a olhar a menina com um sorriso.

— Você mora aí? — A menina pareceu um tanto desconfiada.

— Algum problema? — perguntou.

— Bom, é que... Bem, não é nada! — Káthia sorriu, dando de ombros.

— Hey, acho que pode me contar, não é? — incentivou, entusiasmada.

— É só que... Não é legal!

— Não disse que precisava ser legal! — deu de ombros e aguardou.

— Algumas pessoas dizem que o local é mal-assombrado! — Káthia dissem, relutante.

— O QUE? — A voz de saiu um pouco mais alta e ela riu um pouco. — É claro que não é, eu moro aqui. De onde as pessoas tiram essas ideias?

— Bom, é que há histórias sobre o local!

— Então você pode me contar, não é? — deu alguns passos para trás voltando a se sentar e convidou a nova amiga para fazer o mesmo.

— Bem... — A menina suspirou, cruzando as mãos em seu próprio colo. — Dizem que há muito tempo um homem poderoso, não mal, só poderoso... — Ela se corrigiu, evitando qualquer dúvida. — Bem, ele tinha essa fábrica. Ela era de brinquedos, mas só produzia brinquedos para meninos.

— Isso parece um tanto machista — sorriu e a menina curvou os lábios, balançando a cabeça.

— Enfim, o homem teve uma irmãzinha e queria presenteá-la, então ele criou uma boneca. Dizem que a boneca tinha algo único e bem, por isso ela foi tão bem recebida na época. Contudo, logo depois que a fábrica alcançou o auge com seus novos brinquedos, aconteceu um acidente com a família.

— Um acidente? — parecia triste, mas tentou não se importar com aquilo.

— É, dizem que a carruagem explodiu, o que foi um tanto estranho, uma vez que, não se usava combustível nem nada do tipo na época. Mas o que foi realmente estranho é que nunca se achou o corpo da garotinha e seu irmão mais velho.

— Isso é triste... — olhou para o próprio colo.

— Eu sei... Mas há alguns dias um homem disse ter visto o homem e a menina entre as árvores do local em que o acidente havia acontecido. — Káthia sacudiu a cabeça como se aquilo fosse a maior bobeira já dita.

— Como ele poderia ver se a família é antiga? Quer dizer, não se sabe como eles eram...

— É aí que você se engana... Eles eram importantes para o comércio de Londres e há pinturas da família em alguns jornais da época. Porém o homem também disse que apesar de reconhecer a garota, ela parecia ter mudado, crescido talvez...

— E você acredita nisso? — perguntou, olhando a menina com curiosidade.

— Não sei em que acreditar. Realmente não acredito em fantasmas, mas recentemente foi visto fumaça sair da chaminé!

— Fumaça? Não saiu fumaça alguma! Eu moro aqui, posso garantir! — balançou com a cabeça, realçando a sua resposta.

— Sim, talvez tenha sido alguma queimada logo perto que causou falsa impressão. — Káthia suspirou.

— Bom, isso não importa, não é? — A morena sorriu e moveu a caixa nas mãos. —Você quer? Acho que não tenho mais idade e eu sempre vejo você passar com uma nas mãos.

— O que é isso? —Káthia perguntou curiosa.

— Uma boneca! — disse animada e Káthia sorriu.

— Vai me dar a sua boneca?

— Bom, como eu disse, acho que não tenho mais idade.

— Ah, bobeira! — Káthia disse, empolgada.

— De qualquer forma, eu não quero mais... Você quer?

— Mas é claro! — Káthia pegou a caixa nas mãos e abriu o embrulho. A boneca tinha os olhos de vidro, cabelos negros, vestido preto, lábios finos e rosados e pele pálida. — É tão linda!

— Eu também acho... — sorriu, satisfeita.

— Acho que novas fábricas foram criadas... Eu vi... — A menina não terminou de falar, ela abaixou a cabeça atordoada demais com seus próprios pensamentos.

O homem que olhava para as próprias mãos levantou o olhar, encarando a menina com curiosidade, atenção, ordem. E aquilo foi o bastante para fazê-la continuar.

— Há bonecas novas... São lindas... — A voz da menina parecia embargada pelo choro, ela abaixou o rosto e não pode ver a onda de raiva que tomava conta da feição do homem sentado perto da janela. Ele se levantou de um salto, batendo as mãos com força na mesa e com passos mais rápidos do que o normal ele saiu da sala, batendo a porta com força ao sair, fazendo com que a menina saltasse levemente com o estrondo.

se levantou despedindo-se de sua nova amiga. A lembrança ainda ecoava em sua mente. Exatamente nas mãos daquela menina ela havia visto as novas bonecas pela primeira vez.

A morena entrou na fábrica e um sorriso maléfico surgiu em seus pequenos lábios rosados.

 


 

CAPÍTULO 5

 

14h00min

A pequena menina saiu de casa saltitante, os cabelos estavam amarrados no alto da cabeça, divididos em duas partes que caiam um de cada lado do rosto. O vestido rosa claro tinha alguns traços de um cinza forte, que realçava alguns babados.

A menina tropeçou em um caixa que estava no chão. Formato quadrado, enrolado em um papel marrom. Curiosa, a criança pegou o embrulho nas mãos e entrou novamente em casa, chamando por sua mãe em seguida.

A mulher veio e ambas sentaram no sofá para abrir o embrulho. Era uma boneca de olhos de vidro, pele clara, cabelos negros igual ao vestido.

— Ela não é linda, mamãe? — A pequena perguntou com um sorriso radiante nos lábios.

— É realmente linda. Mas quem te deu, querida? — A mãe colocou o embrulho ao lado, observando melhor a boneca.

— Eu não sei, estava na porta! — A menina nem ao menos parecia ouvir o que estava falando, tamanha era sua empolgação para estrear a boneca nova.

A porta da sala novamente se abriu e dessa vez foi um homem quem entrou. A mulher se levantou, indo até o marido e lhe saudou com um beijo empolgado. O homem então passou pela filha e lhe lançou um sorriso enquanto se retirava para sua sala.

A menina parecia não se importar com o silêncio do pai, então apenas subiu as escadas, batendo a porta de seu quarto ao passar. Já era hora de brincar com sua nova boneca.

14h35min

Sandra, a mãe de Káthia havia ido até o quarto da para filha pegar alguns livros de que precisaria e ao entrar se deparou com uma nova boneca sobre a cama.

Sem entender, a mãe chamou pela filha que disse que a boneca foi dada por sua nova amiga e que não seria educado não aceitar.

Sandra então não se importou muito com aquele fato e apenas se retirou do quarto com os livros que precisava nas mãos.

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percorreu em passos calmos toda a extensão da antiga fábrica, caminhando em direção ao típico escritório, onde achou sua dongsaeng. Esta estava de costas e observava a rua pela janela, e mesmo tendo escutado o barulho da porta ranger, não se moveu.

O homem trancou a porta atrás de si e avançou para a irmã, colocando-se logo atrás dela. Passou também a observar a rua enquanto as suas mãos subiam para os ombros da garota.

— Você fez tudo certo? — O homem falou tão baixo que mais parecia um sussurro.
— Eu faço algo errado? — sorriu com o canto dos lábios, sem ao menos virar o rosto.

— Então acho que hoje começará os nossos dias de glória. — O mais velho deu um tapinha leve no ombro da garota e saiu da sala como se fosse fazer algo.

A menina soltou o ar por entre os lábios fazendo um barulho delicado de quem solta um pequeno jato de ar enquanto ri. Em sua mente, os únicos pensamentos eram “Eu sempre vivi dias de glória, Oppa”.

XXXXXXXXX

A noite chegou ligeira, a lua brilhava alto no céu, lançando à terra uma luminosidade fora do comum.

Em seu quarto, a garotinha dormia calmamente ao lado da nova boneca, mesmo sem saber quem lhe dera o presente ela seria eternamente grata, afinal naqueles dias não se ganhavam mais bonecas como aquelas.

“Essas bonecas são antigas, uma relíquia”, a mãe disse, cobrindo-a melhor com a manta antes de sair do quarto.

Agora a menina começava a pegar no sono, mas um barulho a fez dar um salto. Olhou em volta, mas parecia ser só o vento batendo contra a janela. Corajosamente a menina fechou novamente os olhos, e o silêncio invadiu o quarto.

— Você gostou do presente? —Uma voz soou e a pequena sorriu, achando que já estava sonhando.

— É linda! — Respondeu com a voz arrastada. E então de uma maneira brusca algo lhe apertou o pescoço impendido que a respiração passasse.

A menina levou as mãos acima daquelas que lhe seguravam e tentou se soltar, mas era em vão. A desconhecida era mais forte, maior e seus olhos transbordavam raiva.

Tentou gritar, mas o grito não passava-lhe pela garganta apertada. Tentou bater, mas aquilo também não adiantou. A força alheia era duplamente maior que a sua. Uma lágrima rolou pelo rosto pequeno e meigo da menina, seus olhos aterrorizados pela cena que estava presenciando.

— O-o que? — Ela tentou terminar a pergunta com a voz por um fio, então viu a estranha sorrir como se estivesse se divertindo com tudo aquilo.

— Eu sinto muito... — As palavras soaram de maneira falsa.

— M-mas...

— Sabe, querida... Há muito tempo eu estava indo brincar com a filha do prefeito, mas a carruagem simplesmente explodiu...

A pequena a olhava sem entender o motivo daquela conversa. A única coisa que ela queria era ser liberta, ou simplesmente implorar por piedade ou gritar por alguma ajuda, mas àquela altura as três opções pareciam as mais impossíveis do mundo...

A menina parecia ter uns nove anos de idade, era alegre e divertida e aquela cena parecia estar lhe causando um trauma muito grande.

— Eu nunca cheguei a brincar com a filha do prefeito, mas ela sim brincou de boneca e brincou muito mais do que eu... — A menina apertou mais as mãos em volta do pescoço da menor que fechou os olhos como se aquilo fosse salvá-la. — É muito tarde para me vingar de Rose, mas você está aqui e também é a filha de um prefeito, não é? — sorriu e suas mãos fizeram toda a força possível contra a parte do corpo tão sensível da criança.

O estrangulamento é um dos crimes mais cruéis, torturante. As artérias que levam o ar para o cérebro são comprimidas fazendo com que este se inche e logo depois o coração pare. A traqueia então é quebrada, e a morte é tudo o que resta.

sorriu, deixando o corpo da garota em cima da cama, novamente ao lado da boneca. Ela cobriu a pequena e lhe deu um beijo na testa.

Talvez a forma como tenha decidido matar a criança fora um pouco malvada demais, mas por que ela deveria ter pena, quando ela mesma fora privada de qualquer uma?

A morena saiu do quarto pela janela e seguiu pela rua escura. No final desta, a estava esperando com um sorriso de orgulho no rosto. Então ambos continuaram sua caminhada pela noite. Afinal, havia mais para se fazer...

 


 

CAPÍTULO 6

 

A noite estava acabando, a brisa da manhã começava a esvoaçar os cabelos, dando-lhes um ar de liberdade. O barulho de folhas secas sendo quebrados por passos era tudo o que se podia ouvir. A menina estava desorientada, não sabia por quanto tempo estava desacordada e podia jurar que aquilo não era um sonho comum, não era sequer um sonho.

Ela tentou se mexer, mas foi em vão. Algo a amarrava e estava em volta de todo o seu corpo. Se mexeu desesperada, mas algo a repreendeu, parecia a mão de um homem, mas estava amedrontada demais para prestar atenção a esses detalhes.

Então como que por sinal, o barulho de algo foi lhe enchendo os ouvidos. A mata ao redor lhe despertou certa curiosidade. Nunca estivera ali, realmente poucas pessoas podem dizer que estiveram. A garota fechou os olhos tentando se livrar do pesadelo, porém ao abri-los novamente o horror tomou conta de sua mente, não era um sonho, por pior que fosse era a mais verdadeira realidade.

A menina sentiu o homem parar e seu corpo ser colocado em alguma superfície não muito confortável. Ela abriu os olhos e olhou em volta procurando por algo que pudesse reconhecer. Uma canoa... Não sabia o que estava fazendo ali, mas era uma canoa. Algo fora colocado em cima, como se fosse outra canoa formando um recipiente como um tanque fechado, mas este tinha uma abertura que deixava sua cabeça à mostra.

Algo se mexeu ao lado da garota e ela olhou para o lado, tendo uma onda de surpresa. Não sabia se sorria ou chorava. Ela estava à salva, ela vira alguém que conhecia, agora tudo ficaria bem.

abaixou-se ao lado de Káthia e sorriu dizendo com a voz fria: — Confortável?

Então uma onda de terror invadiu novamente o psicológico de Káthia. não estava ali para salvá-la, pelo contrário, ela estava ali impossibilitada justamente por causa da menina que dizia ser sua amiga.

? — Disse em um fio de voz.

— Eu sinto muito, querida... Este é o meu Oppa. — Ela virou o rosto e Káthia olhou na direção, vendo o homem ao lado dela. Um homem alto, corpo definido, ele era bonito, embora parecesse muito maduro.

—O que está acontecendo? — Káthia disse, sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto.

moveu os lábios sem produzir som ao mesmo tempo em que lhe tocou o ombro direito de forma leve, era como se estivesse dizendo que ela não precisaria contar a mesma história duas vezes na mesma noite.

— Vou ser mais objetivo possível, senhorita. — O mais velho se abaixou, ficando de joelhos sobre uma perna. —Tudo o que eu planejei para a minha família, todo o meu esforço foi em vão... Alguém tem que pagar por isso, não é?

—MAS EU NÃO FIZ NADA! — A menina gritou, aterrorizada. Como poderia aquele homem dizer tais palavras de forma tão calma?

— Você comprou uma linda boneca! — praticamente cantou aquelas palavras antes do irmão responder.

— Isso não agradou a minha dongsaeng... — O rapaz completou.

— E-eu, eu... Eu brinquei com a sua boneca, a boneca que você me deu. Ela é linda, é...— Ela parou de falar, o choro lhe causava um nó na garganta e evitar já estava fora de questão. — Por favor...

— Eu sinto muito — disse em tom definitivo e se levantou.

O homem se moveu pegando uma garrafa de vidro ao lado do corpo. Não estava vazia, a garrafa continha um líquido de uma coloração marrom clara.

abriu a garrafa e despejou um pouco do conteúdo na mão. Parecia meio pastoso... Ou melhor, melado. Mel, Káthia pensou. Mas para que ele iria querer mel?

O homem então levou a mão ao rosto de Káthia e espalhou o conteúdo ali. A menina fechou os olhos sentindo o aroma doce lhe invadir as narinas. O homem despejou mais e também fez com que Káthia bebesse um pouco.

— Vai te manter hidratada... — O homem disse, mas aquilo não fez muito sentido. Certamente não era a intenção de que ela sobrevivesse, então por que este iria querer mantê-la hidratada?

Com um lampejo a memória da garota começou a processar as informações de forma mais rápida e ela fechou os olhos querendo que aquelas deduções fossem apenas aqueles tipos de pensamentos que temos quando estamos desesperados com algo. Contudo, não poderia se enganar mais... Hidratação... Mel espalhado pelo rosto... Ela estava em uma mata, com o corpo amarrado e preso entre duas canoas, mesmo se gritasse ninguém a escutaria e o pior era que como se não bastasse ter os insetos a picando pelo rosto, ele ainda queria que ela durasse muito tempo... “Uma morte lenta, dolorosa”, ela pensou e o choro novamente subiu por sua garganta. “O que eu fiz?” ela pensava e não achava nenhuma resposta óbvia. Esta vingança não pertencia a ela... Mas era tarde demais para questionar, ela havia sido escolhida para morrer no lugar de todas as outras meninas que haviam escolhido as bonecas atuas às antigas.

se abaixou ao lado da menina e sorriu de forma depressiva.

— Aproveite cada minuto... — disse e empurrou a canoa para o rio.

Obviamente a família daria falta de Káthia, mas se algum dia alguém a encontrasse seria tarde demais, porém isso não aconteceu. Tempos depois se falava de uma menina que mesmo jovem havia fugido com um amor da adolescência e nunca mais fora vista.

[X]

Horas depois da noite tumultuada o sol nasceu, porém não era um sol bonito como do dia anterior, era somente o sol, cumprindo a sua obrigação de clarear a Terra.

Eufóricos as pessoas se amontoavam para pegar um jornal que havia sido editado às pressas durante a madrugada daquele dia:

“Alice Turner, filha do Prefeito Jasper Turner foi encontrada morta em seu quarto nesta manhã. A mãe havia ido ver como a filha estava e se deparou com a trágica cena de sua filha pálida. Havia também uma coloração roxa em volta do pescoço. O médico logo foi chamado, mas a menina já estava morta. Não se sabe dos detalhes, mas pode-se afirmar que a causa da morte foi estrangulamento.”

estava sentado em sua cadeira e por trás do jornal deu um sorriso satisfeito. Tudo estava saindo como o esperado e agora a lista de pessoas diminuía. Sua vingança estava quase completa, contudo ainda havia pessoas para alertar, para mostrar-lhes como o mundo podia ser cruel.

 


 

CAPÍTULO 7

 

estava do lado de fora da fábrica exatamente no mesmo lugar em que havia entregado a boneca para Káthia. Pensava se a menina ainda estaria sendo devorada viva pelos insetos ou se a esta altura toda a sua força de lutar pela vida já se acabara. Então algo lhe chamou atenção do outro lado da rua, um rapaz. Ele era bonito, a pele branca como a dela e o corpo em perfeitas condições físicas, embora parecesse jovem. Os cabelos eram negros como os seus.

“Talvez algum dia eu encontre alguém que me ame... Como o meu Oppa me ama” A menina pensou, não julgando suas ideias. Amava o irmão, mas também queria experimentar novos prazeres, diferentes definições de paixão, embora aquilo parecesse a única coisa que não a pertencia.

deixou de lado os seus pensamentos e voltou a focar no que deveria fazer... Tantos anos sem esperança de que tudo fosse mudar e agora tudo estava ocorrendo da maneira esperada. Não sabia se isso era motivo para sorrir ou estudar cada vez mais as metas traçadas junto ao irmão. por outro lado, estava em seu escritório, parecendo não se preocupar muito com o sol fraco que poderia aliviar as preocupações mais bobas se acompanhado do barulho dos poucos pássaros que enfeitavam o céu de Londres aquele dia.

A essa altura o corpo de Alice Turner já havia sido enterrado e a segunda vítima estaria pedindo perdão ao Deus Pai antes de dar seus últimos suspiros.

[x]

O dia passou de forma lenta, mas segundo , foi suficientemente tedioso. Em seus planos eles dariam um tempo antes de continuar com cada passo que os envolviam cada vez mais nas situações atuais e talvez isso não fosse prudente, embora ninguém na grande Londres parecesse nota-los.

A lua iluminava as ruas com tal intensidade como se fosse um convite para um passeio a luz do luar, sendo isso algo que aceitou de bom grado embora não dispusesse de nenhuma companhia.

Não muito longe da fábrica havia uma praça e foi para lá que caminhou, sentando-se em um dos bancos enquanto admirava o chafariz bem ao centro.

Algumas pessoas também pareciam ter aceitado aquele convite da lua e caminhavam com suas famílias, sorrindo, aproveitando ao máximo cada sopro de vida que lhes eram dado. Isso soava meio irônico aos lábios de uma herdeira da fábrica Lotthus, mas não poderia negar que a forma como via isto era a mais sincera possível.

Em passos lentos e silenciosos alguém se aproximou da menina, sentando-se bem ao lado. Ela não virou o rosto de pronto, mas sentiu o perfume familiar lhe invadir as narinas sem ao menos pedir permissão.

— Achei que eu poderia caminhar sozinha hoje à noite. — A menina não virou o rosto, mas estava sorrindo.

— Não acho prudente.

— Eu sei me cuidar! — Ela retrucou, virando os olhos por aquela superproteção vinda do irmão.

— Não precisará enquanto eu estiver aqui.

— Eu posso ser independente, eu não sou nenhuma criança. — Neste ponto a menina virou o rosto vendo a face de seu Oppa. Era lisa, macia, perfeitamente desenhada por um ser divino, segundo ela havia aprendido.

— Estas não foram as minhas palavras, jagiya. — O homem sorriu e um segundo de silêncio passou entre eles.

— Quando estava na sala aquela noite, pensativo... Disse que pensava na vez que vira Frederic para tratar da produção de bonecas. — A menina disse e viu o mais velho estreitar os olhos como se estivesse lembrando de cada detalhe do dia mencionado. Afinal, fora uma longa noite, uma noite em que os dois fizeram amor e desviaram os seus pensamentos ultimamente tão focados em seus planos. —O que há de especial na boneca?

— Todas as bonecas são iguais — O maior disse com calma.

— Queria um protótipo diferente, perfeito... Único. — continuou esperando uma resposta mais complexa.

— O seu primeiro corte de cabelo... —O homem sorriu e não foi preciso mais nada para saber que os cabelos da primeira boneca eram os da menina, era comum antigamente fazerem isso e a menina não se assustou.

— Isso não é algo único, Oppa!

— Não veja com esses olhos... Sinta com o coração. — O homem disse levando uma mão ao peito da menina, onde tocou-lhe no exato lugar onde o coração deveria estar batendo.

sorriu e se aproximou mais do rapaz que lhe olhava com carinho, então aproximando ambos rostos eles selaram os lábios demoradamente começando um beijo lento em seguida.

O homem subiu uma das mãos para a face macia da jovem e lhe acariciou ali, enquanto a menor tombava um pouco a cabeça para um dos lados encaixando melhor os lábios uns aos outros. Ambas línguas se tocavam, dançando em um ritmo calmo e cheio de amor, provocando arrepios leves nos dois corpos.

O beijo durou alguns longos segundos. Ambos se separaram a procura de um pouco de ar, enquanto uma brisa noturna passava levando o perfume de até . A menina abraçou o mais velho pelo pescoço e lhe depositou um beijo na bochecha. — Por que esperar mais?

— Não queira fazer tudo de uma única vez, Jagiya. — O maior afastou a irmã, olhando-a nos olhos.

— Só acho que não há motivos para esperar...

O homem permaneceu em silêncio por alguns segundos, seus olhos se desviaram para o chafariz no centro da praça e nas poucas pessoas que por ali passavam.

— Mandaremos um aviso, nada mais... — Disse ao final.

— Tudo bem! — A menina sorriu animada e levantou do banco pegando na mão do mais velho que também o fez em seguida.

e saíram da praça andando em passos tranquilos de volta à fábrica. Caminharam diretamente para o escritório de onde o maior tirou um embrulho quadrado contornado em papel marrom envelhecido. A caixa e o papel eram do mesmo tamanho e cor dos embrulhos em que a boneca de Alice Turner fora entregue.

fez sinal para que ficasse no quarto enquanto ele saía pelas ruas escuras da madrugada fria. Seu destino era bem conhecido. Sua antiga casa, onde vivera feliz com sua família, e onde toda a geração da fábrica Lotthus crescera.

Sentia-se aliviado em dar andamento com todos os seus planos. Quem ousara tomar-lhe a casa? De certo ele não sabia, mas com certeza se arrependeria de seu feito.

 


 

CAPÍTULO 8

 

A imagem escura e depressiva foi se desfazendo aos poucos, porém tudo ainda estava meio nublado. A cabeça latejava um pouco e ao tentar se mover notou que suas mãos e seus pés estavam amarrados.

Olhou para o lado procurando por alguém ou alguma coisa familiar, mas tudo o que via era a sala escura iluminada apenas por uma lamparina fraca ao longe.

O homem se moveu tentando livrar as mãos das amarras, mas tal ato foi em vão, quem quer que fora a pessoa que havia lhe prendido esta sabia o que estava fazendo.

–ALGUÉM ME AJUDE!– O grito rouco rasgou a garganta seca. O eco pairou pelo lugar e o silêncio voltou a reinar, deixando que o escuro se transformasse mais uma vez em algo aterrorizante, medonho.

Uma. Duas. Três vezes. O homem cortava o silêncio com seu grito arrastado que implorava para que aquilo acabasse.

Ele fechou o olhos, logo aquilo acabaria, talvez demorasse um pouco, mas ele aceitaria esperar se soubesse que tal momento teria um fim. Passou então a orar com a voz sussurrada, talvez não fosse uma oração, mas certamente eram súplicas a alguém que não estava presente.

–Acredito que é o melhor que se pode fazer. – A voz era feminina e, embora fosse delicada esta tinha um ar frio que ao invés de aliviar o medo esta só lhe causava mais.

O silêncio tomou conta mais uma vez do lugar, o homem olhou para os lados procurando pela dona da voz, mas tudo o que conseguiu encontrar foi o vazio, a escuridão... Saber que alguns minutos antes ele estava em casa (pelo menos ele achava que fossem apenas alguns minutos, uma vez que estava desacordado)...

Passos começou a serem ouvidos ecoando contra o piso e as paredes grossas como uma pedra de granito antes de ser trabalhada. Em questão de segundos, tão rápido quanto o flash de um relâmpago alguém parou a sua frente. No primeiro momento seu instinto fez com que seu coração saltasse e seus olhos fechassem. A respiração  de repente foi liberada por entre os lábios finos do homem que abriu os olhos aos poucos vendo a garota que estava na sua frente, provavelmente a dona da voz que havia escutado segundos antes.

A menina se abaixou ficando na altura do homem que a olhava assustado. Ela seria sua salvadora? Afinal, uma menina tão doce como aquela poderia lhe ferir? O que ela estaria fazendo ali? As perguntas voavam pela cabeça do homem que não encontrava nenhuma resposta óbvia e única para todas as suas questões.

Mais passos puderam ser ouvidos e parecia que nada mais poderia piorar aquela situação. Infelizmente ele havia cometido um erro do tamanho do universo e pôde concluir isso ao ver a figura de um homem atrás da moça.

–Como se encontra o nosso convidado? – A voz fria lhe provocou uma onda de pânico ainda melhor.

–Rezando... –Os lábios da menina quase não se abriram ao falar.

–Você é esperto! – abaixou-se nos joelhos, olhando diretamente nos olhos de seu novo convidado. Então como um passe de mágica os flashes do passado pareciam ter despertado.

[Flashback on]

A porta se abriu lentamente e o pai entrou em seguida vendo sua pequena filha brincando com uma boneca que não lhe era familiar.

–O que é isso, querida? - Marcus se aproximou curioso.

–É uma boneca! – A menininha de apenas três anos disse em sua linguagem complicada.

–É um presente? – O pai se sentou na cama ao lado da menina, observando o brinquedo nas mãos da filha.

–Uhum. – Produziu o som com a garganta, entretida demais para tirar os olhos da boneca.

–É um presente de sua mãe? –O pai perguntou e viu a menina balançar a cabeça de forma negativa.

–Então quem lhe deu a boneca, querida? – Marcus voltou a perguntar e a resposta lhe surpreendeu. Lizzy, sua filha levantou os olhos e sorriu angelicalmente, esticou o braço direito deixando sua nova boneca no colo e apontou para o pai... O homem não entendeu a principio, então sentiu que algo estava muito errado. Lizzy não havia apontado para ele e sim para algo que estava atrás dele.

Marcus se virou de forma rápida e violenta e se surpreendeu ao ver um homem atrás de si. Ele tentou se levantar e entender o que estava acontecendo ou pelo menos acabar com o homem que havia entrado no quarto de sua filha sem permissão, mas como que em um piscar de olhos tudo ficou escuro...

[Flashback off]

Os minutos seguintes foram torturantes. Seus sequestradores pareciam arrumar algo que ele não sabia o que era... Contudo, parecia demais com uma mesa de cirurgia.

Marcus estava inquieto, mas a forma como a menina mantia-se tranquila lhe dava alguma esperança, embora soubesse que não deveria alimenta-la por muito tempo.

virou o rosto para o maior ao chão, sorrindo de forma assustadora e este viu em seus olhos um brilho estranho, algo quase demoníaco, mas constatou que aquilo não era nada se fosse comparado ao brilho dos olhos do outro homem, homem este que ele julgava ser o irmão. Não pela idade, mas pela familiaridade.

Os olhos de Marcus baixaram até a altura das mãos de e se pensava já estar aterrorizado o suficiente, viu que não era nada comparado ao que acabara de ver. A menina segurava uma faca na mão direita e esta parecia estar afiada.

se abaixou e tirou do bolso do vestido um pano de coloração amarelada, que mais parecia estar dessa forma por causa do passar dos anos. Amarrou em volta da boca do homem, amordaçando-o com tanta destreza que ele poderia jurar que ela era uma especialista naquilo e que ele não era a primeira vítima.

A menina então olhou com atenção para a faca enquanto Marcus se mexia em uma última tentativa de se livrar das amarras. Em vão olhou para o lado e sabia que nada que fizesse faria o homem que estava de pé ao seu lado mudar de ideia.

Em um movimento rápido, desferiu o primeiro golpe contra o braço direito do homem, rasgando-lhe a pele de modo que o sangue jorrasse nos segundos seguintes. Marcus tentou gritar, mas o único som que conseguia produzir era um chiado rouco com a garganta, acompanhado das veias de seu pescoço que cresciam e o vermelho que tomava conta de seu rosto com o esforço para produzir algum barulho.

então desferiu outro golpe na altura dos ombros do homem, primeiro de um lado e depois do outro. Em seguida o outro braço foi o alvo e então ambas coxas.

A menina apoiou a faca na perna esquerda na altura dos joelhos e desceu rasgando até a ponta dos pés e, em seus lábios um sorriso se formava com cada movimento de protesto e dor que Marcus realizava, demonstrando todo seu sadismo com a situação.

levou a faca ao rosto e feriu-lhe a bochecha, a testa e perto do nariz. O sangue jorrava por todo seu corpo e ele sentia uma onde gélida lhe percorrer, protestando pelo sangue perdido.

se moveu e Marcus chegou a pensar que o que quer que fosse havia acabado e tudo ficaria bem. Fechou os olhos e tentou orar, mas não acreditava mais que Deus pudesse atender qualquer prece que fosse.

se levantou e deu dois passos para trás apenas observando o irmão se abaixar.

Com destreza, desferiu um golpe contra a barriga de Marcus acertando-lhe provavelmente o pâncreas. Mais uma tentativa frustrada de gritar ecoou pela garganta do homem.

–Matar com dor é pecado, eu sei... – começou a dizer, sussurrando e mesmo que Marcus tentasse gritar, o torturador sabia que ele poderia escutar o que dizia. – Contudo, eu devo dizer que é encantador...

Ao terminar tais palavras mais um golpe foi feito contra o homem ensanguentado e este o acertara no estômago.

–Chega de sofrer! – Embora longe foi a última coisa que Marcus ouviu.

A faca foi de encontro certeiro com seu coração e mesmo que soubesse que era o seu fim, Marcus agradeceu a Deus por ter acabado com aquele pesadelo segundos antes de tudo escurecer. Não havia mais dor, o sangue derramado não importava mais. Para Marcus tudo havia acabado.

 

~Continua~


N/A: ...

N/B: Hello, aqui é a beta, só um pedido, gostou da fic, comenta... Vamos incentivar a autora a escrever mais capítulos maravilhosos!!
Unnie, amo suas fics!!! Qualquer erro na betagem me avisem no email - By: Pâms *-*


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3 comentários:

  1. Ansiosa pelo próximo capítulo, Anny! *-*

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  2. OMG! Você escreve tããão bem! Estou amando! *-*
    Ansiosa pelo próximo capítulo, Anny! *-* [2]

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