AZAR NO JOGO... SORTE NO AMOR?
by Nikki
@cassieotblock
Eram como óleo e água. Ela, impulsiva e inconsequente, mesmo que bem intencionada. Ele, responsável e sensato, embora tenha perdido o bom senso - junto com alguns milhares de dólares - em algum momento da noite. Poderia culpar o champanhe, ou talvez o clima mágico do Ano Novo de Las Vegas. O que importava era que precisavam achar um jeito de resolver a confusão em que haviam se metido, antes que chegasse aos ouvidos da família...
Gênero: Romance, Citrus, U.A.
Dimensão: Longfic
Classificação: Restrita
Aviso: Adaptação de Always A Hero, de Kate Hofmann.
Beta: Anny
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# Capítulo 1 # Capítulo 2 # Capítulo 3 # Capítulo 4 # Capítulo 5 # Capítulo 6 # Capítulo 7 # Capítulo 8 # Capítulo 9 # Epílogo #
CAPÍTULO 1
The New Year's Eve
POV
— Vamos dançar, . — Não era um convite, era uma ordem. Se o tom de voz não fosse uma pista, a maneira como seus dentes estavam pressionados seriam.
— Mais tarde, , agora estou conversando com esse adorável cavalh... Ai! — Seus dedos se fecharam com força no meu braço.
— Com licença — ele disse ao homem que estava há dez minutos conversando com o vão entre meus seios visível pelo decote exagerado, antes de me arrastar para o meio do salão, onde alguns poucos casais se balançavam de um lado para o outro ao som da música clássica.
— Suas garras estão me machucando.
soltou meu braço. Apenas para ficar de frente para mim e me puxar contra seu corpo, para então fingir dançar.
— Por que está aqui? — Seus olhos eram duas lanças afiadas perfurando os meus.
— Eu gosto de festas. E recebi um convite. — Sorri, erguendo ligeiramente o queixo. — Se não queria que eu viesse, deveria ter avisado a sua secretária que eu sou persona non grata para esta família.
Sua mão quente se tencionou contra a pele nua das minhas costas. Qualquer pessoa que não nos conhecesse poderia ter uma ideia errado sobre o tipo de relacionamento que tínhamos, a julgar pela proximidade excessiva, que quase não permitia me movimentar.
— Estou falando sério.
— Eu também. — Sorri lentamente. Escorreguei minha mão do seu ombro coberto pelo smoking caro e ajeitei a lapela. Era uma pequena distração para que ele não visse o que não deveria em meus olhos. — Senti sua falta, maninho.
Ele parou de repente, quase me fazendo tropeçar em seus pés. Sua expressão agora vazia encarava algum ponto distante atrás de mim.
— Por favor, não faça nada idiota. Sabe o quanto essa noite é importante para seu pai.
— Não devia ser importante para você? — perguntei simulando inocência. — Afinal, é a sua festa de noivado.
— É importante para nós dois.
Claro, afinal aquela noite era muito mais do que a mera comemoração de um noivado, ou do ano novo que se iniciaria em breve, mas a fusão de duas empresas de sucesso. Meu pai devia estar radiante — embora essa fosse uma palavra que eu nunca poderia associar ao poderoso homem de negócios que ele era — pela ocasião. E provavelmente furioso, com a possibilidade de que minha presença ali pudesse macular sua noite perfeita.
— E para a sua noiva, e para os pais dela também, é óbvio.
— Claro. — Nós voltamos a nos mover lentamente no ritmo da música, em silêncio, e sua postura foi relaxando aos poucos. Eu descansei minha bochecha de leve contra seu ombro. Apesar de não ser bem vinda, estava feliz por estar ali. Havia sido sincera ao dizer que sentira saudades. — Por onde andou, ? — perguntou de repente. — Por que não nos deu mais notícias?
Os músculos das minhas costas enrijeceram um segundo, antes que eu pudesse recuperar o controle e forçar meus lábios a se estenderem em um sorriso.
— Pensei que foi isso que papai quis dizer quando me expulsou de casa e me disse que nunca mais queria saber de mim.
— Não foi bem assim...
— Não?
Ele se calou e respirou fundo. Ao que parecia, sua habilidade como mediador estava meio enferrujada. Desde que meu pai havia se casado com sua mãe, quando eu tinha oito anos e ele treze, havia sido meu suporte, era ele quem me amaciava depois das muitas brigas que tinha com meu pai. Ele era sempre calmo, sensato e racional, tudo o que meu pai desejava que eu fosse. Não demorou muito para que desistisse de mim e colocasse todas suas expectativas em . Enquanto eu me desdobrava para chamar a atenção do meu pai — em vão — se tornara o menino dos seus olhos, sem fazer esforço algum.
Teria sido tão fácil odiá-lo...
— ... — Seu murmúrio familiar soou como uma carícia, próximo ao meu ouvido. Eu tive que me obrigar a me afastar antes que fosse inundada por sentimentos que não deveria semear.
— Ali está sua noiva — disse, após dar um passo atrás. A moça em questão parecia elegante e cara em seu vestido longo dourado. Eu só esperava que os saltos muito altos e finíssimos em que ela se equilibrava não partissem e a fizessem cair de cara no chão. Isso acabaria com todo o efeito. — Gostaria de conhecê-la.
— — sua voz agora transbordava advertência.
— Não seria educado não nos apresentar.
Ele estava claramente contrariado, mas não ia quebrar o protocolo, então colocou a mão na parte baixa das minhas costas e me guiou para fora da pista. O gesto era, na verdade, só para me deixar ciente de que estava no controle. Típico.
Nós nos aproximamos da loira, que agora estava acompanhada de um casal distinto de meia-idade. Mesmo antes da apresentação, eu percebi que eram os pais dela.
— Ah, a filha pródiga retorna à casa! — exclamou o homem depois de sermos apresentados, com um sorriso simpático. Tão diferente da educação fria que meu pai exibiria. Instantaneamente eu gostei dele.
— Papai! — se queixou Emilly, a noiva. — Estou feliz em finalmente poder conhecê-la — me disse, segurando minha mão entre as suas. — fala muito de você.
Eu me virei para ele com um sorriso satisfeito e as sobrancelhas erguidas, embora soubesse que ela só estava sendo educada. Ele pegou uma taça oferecida por um garçom e tomou um gole da bebida transparente sem me fitar.
— Infelizmente não posso dizer o mesmo de você — comentei casualmente, pegando uma taça para mim. As pálpebras de Emilly tremeram, enquanto seu sorriso vacilava ligeiramente. — Não fazia ideia que planejava se casar até que recebi o convite para a festa. — Sorri, observando os quatro relaxarem ao meu redor, ao se darem conta de que eu não tentara ser grosseira. — Muito oportuno, comemorar o início de uma nova vida no Ano Novo.
— Também acho — disse Emilly, sorridente. — Sempre achei essa época do ano mágica.
Ao contrário do que eu poderia ter imaginado, a garota era um encanto. Parecia até muito ingênua e sonhadora para a filha de um dos maiores empresários do país. Em pensar que eu havia chegado até ali pronta para odiá-la...
— E então, , o que fez depois que largou a faculdade? — perguntou o futuro sogro do meu irmão de criação. Eu senti uma pontada de irritação que eles haviam conversado sobre minha vida pelas minhas costas.
Eu havia abandonado a faculdade de economia aos 19 anos, finalmente cansando de tentar agradar meu pai. Foi depois de contar a ele minha decisão que percebi que ele não queria uma filha, mas alguém que pudesse facilmente manipular. Para o azar dele, eu havia puxado o temperamento latino da minha mãe e nunca iria mudar. Se queria alguém maleável, que ficasse com o .
E aqui estava ele, seis anos depois, um jovem empresário de sucesso. “Meu pai deve estar orgulhoso”, pensei amargamente.
Obriguei-me a afastar os pensamentos dolorosos e me concentrar no momento presente.
— Fiz um pouco de tudo para sobreviver. Obrigada — sorri para o garçom, depois de pegar um canapé de camarão. Depois de sair de casa, só com duas mudas de roupa e pouco mais de duzentos dólares na carteira, tinha sido obrigada a aceitar o que me oferecessem para não morrer de fome ou ter que voltar e implorar para ser aceita de volta. — Atualmente estou trabalhando em um clube de strip.
Houve um coro de exclamação coletiva. engasgou, cuspindo a bebida de volta na taça.
— Strip como em... — perguntou a mãe da noiva, cautelosamente, com as orelhas vermelhas. Era engraçado como as pessoas ricas conseguiam parecer elegantes mesmo quando constrangidas.
— Strip-tease. Sabe, onde as dançarinas dançam ao redor de postes e tiram a roupa por algumas notas... Esse tipo de coisa. — Eu tomei um gole da bebida para ajudar o petisco a descer.
— Hm, bem... suponho que todo trabalho tenha sua dignidade — disse o homem mais velho, embora parecesse em dúvida sobre o que falava.
— Ignore-a — advertiu . — Ela só está tentando chocar vocês.
Emilly forçou uma risada, embora obviamente sem nenhum senso de humor.
— Meu maninho sempre me conheceu tão bem — disse, piscando os olhos com exagerada doçura para ele.
— Olha, acho melhor irmos falar com seu pai. Com licença. — E, mais uma vez, me vi sendo praticamente empurrada pelo salão. — ...
— Não me venha com esse tom.
— Que tom? — Ele parou de andar e me fez virar de frente para si.
— Esse de quem vai começar um sermão.
Ele respirou profundamente e passou a mão pelos cabelos, deixando-os numa suave desordem — que lhe caía muito melhor do que aquela aparência estática e impecável proporcionada pelo gel.
— , o que você veio fazer aqui, de verdade?
Por cima do seu ombro, eu vi que meu pai rumava em nossa direção, determinado e furioso. Ele não daria um escândalo em público, obviamente, mas me arrastaria elegantemente até algum lugar privado onde pudesse me massacrar sem testemunhas.
— Eu vim para te resgatar — murmurei, antes de virar as costas e ziguezaguear por entre a multidão de convidados. Não sem antes ver a expressão de surpresa que havia tomado conta do rosto de .
Passei o resto da noite evitando minha família. Embora tenha tido fortes impulsos de ir dar um abraço em Grace, minha madastra, meu pai não se afastara mais do que alguns metros dela. Ela era uma mulher petit, serena e doce. Sempre havia me tratado como uma verdadeira mãe. Chorava cada vez que meu pai e eu brigávamos. Eu a amava. E sinceramente não fazia ideia de como uma mulher como ela pôde se apaixonar pelo homem frio que era meu pai.
Faltando poucos minutos para a meia-noite, a banda parou de tocar, enquanto as famílias dos noivos se dirigiam ao palco e meu pai assumia o microfone. Com um discurso que começou com “Estamos gratos pela presença de todos vocês aqui nessa noite” e terminava com um brinde coletivo e gritos de “Viva os noivos!”.
Eu teria virado as costas e ido embora naquele momento, se não fosse por um detalhe: . Na hora do brinde, ele havia entornado o champanhe todo de uma vez e parecia muito... ansioso, talvez. Antes que eu pudesse chegar a uma conclusão mais precisa, fui surpreendida pelo barulho de fogos, que indicava a passagem do ano, e todo mundo ao meu redor começou a se abraçar.
— Feliz Ano Novo — murmurei para mim mesma, erguendo minha taça de champanhe em um brinde solitário.
—✰—
— Estava falando sério mais cedo?
Eu me virei para ver atravessando a porta que levava à sacada. Ele tinha as mãos nos bolsos e parecia cansado.
— Sobre tirar a roupa por dinheiro? — Dei de ombros, sorrindo. — Depende de quanto você estiver disposto a pagar.
Ele se apoiou no corrimão ao meu lado e, por um tempo, ficou em silêncio fitando as luzes da cidade lá embaixo.
— Sobre ter vindo aqui para me resgatar.
Estava uma noite gelada, talvez por isso fôssemos os únicos ali fora, com exceção de um casal parado próximo à porta.
— Você precisa de um resgate?
— Pareço alguém que precisa?
Ele se virou para mim e, pela primeira vez naquela noite, eu me deixei observar o quanto havia mudado. Não havia mais nenhuma sombra do adolescente fofo de quando nos conhecemos. Era um homem completo agora, de ombros largos que preenchiam perfeitamente o smoking, de modo quase intimidante. Sua presença, seu cheiro, seu olhar íntimo... todo o conjunto me provocou uma atração tão poderosa como nunca havia sentido antes. Por ninguém. Eu deveria ter recuado, para afastar a estranha sensação, mas ao invés disso, eu me aproximei e ajeitei a gravata, que começava a afrouxar. Afastei alguns fiozinhos imaginários da sua lapela e, por último, peguei uma mecha rebelde que caía sobre sua testa e a coloquei de volta no lugar. Com a proximidade, pude sentir o cheiro de álcool que emanava da sua respiração.
não era do tipo que perdia o controle ou a compostura em nenhum momento da sua vida; costumava estar sempre pronto para assumir as rédeas e resolver o que quer que surgisse. E, apesar de não nos vermos há tanto tempo, eu tinha certeza de que isso não havia mudado.
Então, aquele leve desleixo e o fato de ter bebido mais do que deveria eram sinais de que alguma coisa o estava incomodando.
— Você a ama?
piscou. Ainda estávamos muito próximos e sua boca pairava a meros centímetros do meu nariz.
— O quê?
— Emilly. Você a ama?
— Claro — respondeu, se afastando ligeiramente e apoiando os braços no corrimão. — É por isso que vou me casar com ela.
— Não é por pressão do meu pai? Ou para melhorar os negócios?
— Não. — Ele soltou um riso desdenhoso, como se a ideia fosse ridícula. — O resto é só um bônus.
— Então está fazendo isso por si mesmo? — questionei, me virando para apoiar as costas no corrimão e cruzando os braços para me proteger do frio. — Sem segundos interesses?
Ele ergueu o corpo e respirou fundo o ar noturno.
— Pode ser difícil para você acreditar, , mas sim, eu tenho sentimentos. E jamais me casaria por interesses profissionais. Eu amo Emilly e foi só uma feliz coincidência que nossas famílias estivessem no mesmo ramo.
Eu refleti sobre o que acabara de ouvir. Sim, eu havia realmente acreditado que aquele compromisso era puramente estratégico, mas naquele momento eu sabia que estava sendo sincero. Ou, ao menos, ele pensava assim.
— Ok, então acho que me enganei.
Ele se virou, imitando minha posição. Seu braço se pressionou firmemente contra o meu, enviando uma onda de calor por todo o meu corpo. Eu tive que conter o impulso de me agarrar àquele braço e recostar a cabeça contra o ombro forte. Seria um gesto casual e inocente anos atrás, mas naquele momento me parecia de certo modo perigoso.
— Foi por isso que veio aqui?
Eu demorei alguns segundos para me lembrar do que falávamos.
— Achei que, mais uma vez, você estava sendo massa de manobra nas mãos do meu pai e, sim, queria impedi-lo de cometer um grande erro.
No silêncio que se seguiu, eu pude ouvir sua respiração curta e rápida. Eu o havia irritado.
— Devia parar de pintar seu pai como o diabo encarnado e parar de me ver como um tolo que não é capaz de pensar por si próprio — retrucou, com a voz tão gelada quanto o ar noturno.
— Tudo bem — ergui as mãos, me rendendo —, não vamos discutir, ok? Eu vim em paz.
Ele deixou escapar uma risada baixa que estranhamente mexeu com cada nervo do meu corpo.
— Difícil de acreditar. e paz não cabem no mesmo lugar.
Eu lhe dei uma cotovelada. Sentindo um pouco da velha camaradagem de volta. E eu estava relutante em perder isso outra vez.
— Olha, já que eu estou na área, porque não aproveitamos para fazer alguma coisa juntos? Alguma coisa de irmãos, tipo... uma despedida de solteiro!
— Não é o melhor amigo do noivo que costuma fazer isso?
Dei de ombros.
— Gosto de pensar que em algum momento da vida já fui sua melhor amiga.
— Está se referindo àquela época em que você costumava me colocar em confusões, antes mesmo que eu pudesse perceber o que me atingiu, só para tentar me deixar encrencado com seu pai?
— Eu não metia você em confusões! Era você mesmo quem fazia isso ao querer bancar o irmão mais velho chato e ficar se intrometendo na minha vida.
— Eu não me intrometia na sua vida, só tentava salvá-la de si mesma.
— Como se eu precisasse. — Ele me deu um olhar eloquente. — Ok, vamos voltar ao que interessa. Faz seis anos que não nos vemos, precisamos fazer alguma coisa juntos, só nós dois, antes que comece sua nova vida. Precisa descontrair um pouco ao invés de agir sempre como um velho chato! — balançou a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos da calça. — Por favor, pelos velhos tempos!
— Não tenho tempo para me envolver nas suas armações, .
— Não me venha com essa. Amanhã é feriado, prometo te devolver inteiro até meia noite. — Eu o fiz retirar uma mão do bolso e a segurei entre as minhas. Ele sacudia a cabeça com veemência, mas parecia querer convencer mais a si mesmo do que a mim. — Por favor.
Ele me encarou por um longo tempo, a resposta estava estampada na ponta de tristeza em seu olhar.
— Por que não almoça com a gente? Ele sente sua falta.
Soltei sua mão, como se tivesse levado um choque.
— Sabe, quando fui embora prometi a mim mesma que jamais permitiria que ele voltasse a me magoar. E isso só é possível enquanto eu estiver longe.
— E, mesmo assim, você está aqui hoje.
Senti um bolo se formando na minha garganta. Mas eu não ia chorar. Não chorara seis anos atrás ao ser expulsa de casa — ao menos não na frente de ninguém — e não faria isso agora.
Eu sentia falta dele. De todos eles. Odiava não poder passar as festas de fim de ano com minha família; porém jamais admitiria em voz alta.
— E acho que já fiquei tempo demais.
— Não vai falar com seu pai?
Neguei com a cabeça e me estiquei para beijá-lo no rosto.
— Feliz Ano Novo, maninho.
— Pelo menos me passe seu número para que possamos manter contato — pediu, segurando minha mão para impedir de me afastar. Eu fitei cada detalhe do seu rosto lentamente, desejando poder ficar e fazer qualquer coisa que ele pedisse, mas eu sabia o que tinha que fazer.
— Sua secretária conseguiu meu endereço, talvez ela possa conseguir meu telefone também.
Eu deixei minha mão deslizar lentamente por entre seus dedos e comecei a me afastar, fazendo um breve aceno antes de virar as costas. A cada passo eu me forçava a andar devagar.
— ! — chamou quando eu alcancei a porta. Puxei o ar lentamente, tentando impedir o sorriso que ameaçava se formar, e me voltei com uma expressão de desinteresse. Por dentro, estava radiante que ele relutasse em me deixar partir. — Está bem, vamos.
— O quê? — Eu pisquei várias vezes, sinceramente confusa.
— Vamos sair, fazer alguma loucura, pela última vez, juntos — falou, cada breve pausa pontuava sua afobação. Eu sorri, percebendo que nunca o vira assim antes.
— Agora?
— Por que não?
N/A: Olá, people!! Eu estava enfrentando um grande bloqueio, não conseguia escrever nada, mas quando comecei a escrever essa fic, as coisas foram fluindo naturalmente em grande velocidade. Não vou comemorar ainda, porque pode ser só fogo de palha! xD
Bem, eu comecei a escrever essa fic com a intenção de seguir baseado no livro Always a Hero, mas não vai rolar, porque acho esse livro perfeito demais. Então a partir do segundo capítulo, será uma adaptação, bem fiel ao livro. Só com as alterações básicas e necessárias, além da mudança no estilo de narração, para se encaixar ao cenário e às circunstâncias que eu comecei.
Anyway, espero que gostem, e não deixem de comentar!
~Nikki
CAPÍTULO 2
The Day After
POV
A sensação era de que havia sido atropelado por um caminhão. Abri um olho, depois o outro, gemendo quando a luz do dia pareceu atingir meu cérebro como um raio. Minha boca estava seca, e cada osso do corpo doía. Ao abrir completamente os olhos, vi minha própria imagem, refletida num enorme espelho no teto.
Esticando os braços, tentei afastar a sensação de que a cama se movia, percebendo que se mexia mesmo, lentamente. Com cuidado, me virei de lado, decidido a me levantar antes que meu estômago não aguentasse mais. Só que a cama parecia não ter fim. Gemendo, me apoiei em um cotovelo, percebendo que estava no centro de uma enorme cama redonda.
Do outro lado do quarto, uma banheira de hidromassagem, quase tão grande quanto a cama, borbulhava e lançava nuvens de vapor. O quarto também tinha uma parede coberta de equipamentos de áudio e vídeo, uma sala de estar, janelas enormes, uma pequena fonte e uma grossa parede de vidro, que devia esconder o banheiro. Toda a decoração era exagerada.
Com um suspiro, imaginei se conseguiria chegar ao banheiro sem desmaiar no meio do caminho. Sem vontade de arriscar, tentei recuperar o equilíbrio e me lembrar do que acontecera. Sabia que estava em Las Vegas. E lembrava, vagamente, de que viera até ali com , no jato da companhia. Com uma pontada de culpa, lembrei-me que havia deixado para trás minha noiva e nossas famílias, sem nenhuma despedida ou explicação. Mas, considerando o estado da minha cabeça, achei melhor pensar nisso mais tarde. Se sobrevivesse à ressaca.
Além disso, tudo parecia confuso, e tentei clarear os pensamentos. Mas a tentativa fracassou assim que vi uma figura feminina se movendo atrás da parede de vidro. A silhueta estava fora de foco, mas sem dúvida era uma mulher nua!
Ela inclinou-se lentamente, e os cabelos caíram para a frente. Então, enrolou uma toalha na cabeça, erguendo os braços. Meus olhos percorreram o corpo esguio, os seios, a cintura fina, a curva dos quadris. Era como se estivesse num show particular, vendo-a se enxugar lentamente, com gestos sensuais. A onda de desejo que me invadiu foi inevitável, e meu corpo deixou isso bem evidente.
O show continuava. Depois de se secar, ela aplicou sobre o corpo um creme, espalhando-o bem devagar. Meus dedos se contraíram, tentando lembrar se a havia tocado. Será que deslizara as mãos pela parte interna das coxas firmes, a nuca, o pescoço, os seios macios? Por mais que tentasse, não conseguia lembrar.
Quando ela finalmente vestiu o robe sobre o corpo nu, posicionei um travesseiro estrategicamente sobre o colo e esperei para ver com quem passara a noite. Nunca antes dormira com uma estranha. Tentava lembrar um rosto, um nome, mas assim que a mulher surgiu de trás da parede de vidro, descobri o pior.
Sabia o nome dela, e seu rosto era inesquecível.
—✰—
POV
— !
Tentei segurar a toalha enrolada no meu cabelo, mas ela escorregou e caiu no chão.
— Está acordado! — Sorri depois de ver me encarando de olhos arregalados. Ele estava esticado na cama, apoiado sobre um cotovelo, os cabelos despontando para todos os lados, os olhos quase fechados no rosto inchado de sono, e a parte superior do corpo à mostra. — Achei que fosse dormir a manhã toda, já que só adormeceu quando o sol estava nascendo.
Atravessei o quarto e me sentei na cama, dobrando as pernas sob o corpo e começando a enxugar os cabelos molhados. De esguelha, observei seus olhos descerem pelo decote formado pelo roupão felpudo e vi sua mão se tensionar sobre o travesseiro que levava no meio das pernas.
— Como está se sentindo?
— O que está fazendo aqui?
— Em Las Vegas? — perguntei, franzindo a testa. — Não se lembra? Voamos para cá no jato da companhia. Assim que escapamos da sua festa de noivado.
— É claro que lembro. — esfregou as têmporas. — Lembro de conversarmos na sacada, da limosine e... lembro de ter jogado. O que perguntei é o que você está fazendo nesse quarto.
— Estava tomando banho. Devia experimentar a hidromassagem. É tão relaxante... Aposto que o ajudaria a se livrar da dor de cabeça. Está com dor de cabeça, não é? Ou sempre acorda com essa aparência horrível? Bem, talvez seja efeito do champanhe.
pigarreou, parecendo escolher as palavras certas.
— Quer dizer que você... isto é, nós...
— Dormimos juntos? — completei. — Sim, passamos a noite na mesma cama, se é isso o que quer saber. Aliás, onde será que arrumam lençóis nesse formato?
— E nós...?
Eu o observei por um longo instante, tentando avaliar do que exatamente ele lembrava, o que eu deveria dizer e o que seria melhor ocultar. Por fim, dei de ombros.
— Bem, você dormiu assim que colocou a cabeça no travesseiro. E roncou a noite toda. Pode ter sido...
— O champanhe — completou. — Já entendi. — Ele virou a cabeça para olhar ao redor do quarto, mas seu rosto de repente assumiu uma coloração esverdeada. Ele fechou os olhos e gemeu baixinho. — Tem um jeito de fazer essa cama parar de rodar?
Eu ajoelhei na cama e engatinhei, me inclinando por cima dele. Tentei ignorar seu tórax nu logo abaixo de mim e seus lábios que estavam a poucos centímetros dos meus.
— O que está...?
— O controle fica na cabeceira — expliquei, esticando o braço. puxou o ar audivelmente e eu tentei não pensar no que acontecia debaixo daquele travesseiro.
A cama parou de rodar e eu saí de cima dele. Meu robe havia aberto, revelando mais do meu corpo do que jamais achei que ele veria. parecia incapaz de desviar o olhar, mas eu não me importava. Não diante das circunstâncias. Com gestos casuais, amarrei o cinto antes de voltar para o meu lugar, na ponta da cama.
— Me lembro de ter jogado — perguntou, depois de algum tempo. — Quanto perdi?
— Muito. — Dei de ombros. — Perdi a conta nos trinta mil dólares.
— Trinta mil! — Ele quase engasgou. — Mas eu não tinha todo esse dinheiro comigo!
— Perdeu o dinheiro que tinha nas duas primeiras rodadas de pôquer. Mas tinha um cartão de crédito. Só que eu pensei que seu limite fosse bem maior. Suficiente para comprar uma casa, ou um iate.
— Trinta mil dólares — repetiu , atônito ou com o tamanho da sua estupidez ou com sua falta de habilidade para jogar.
— Mas conseguiu ganhar na roleta — disse, tentando consolá-lo.
— Quanto?
— Duzentos.
— Duzentos mil?
— Não, duzentos.
— E como pagamos esse quarto?
— Não pagamos. A suite pertence a um cara chamado Ernest. Ele sentou ao seu lado na mesa de pôquer. Ficou com pena ao te ver perder e nos emprestou a chave. Vai voltar ao meio-dia. Foi uma tremenda sorte, não há nenhum quarto disponível nessa cidade.
— O que eu fiz? — gemeu, escondendo o rosto nas mãos.
— Quer saber se vomitou em público? Ou se se envolveu com alguma mulher casada?
Ele olhou por entre os dedos, não parecendo muito certo de que queria saber.
— Fiz isso?
— Não para o primeiro. Mas foi perseguiu uma loira até que o marido dela ameaçou matá-lo. —Achei melhor não mencionar que ele havia confundido a mulher com Emilly, embora isso pudesse servir de consolo. Confesso que, lá no fundo, estava me divertindo em torturá-lo. Era quase como nos velhos tempos.
— Como chegamos aqui?
— Viemos depois do casamento.
Ele fez uma careta e seu rosto pareceu se esverdiar novamente.
— Está tonto? É melhor fechar os olhos e respirar fundo.
— Casamento? — repetiu, ignorando meu conselho.
— Não se lembra? — Franzi a testa. — Foi a melhor parte.
— É claro que lembro. Só quero que me ajude a lembrar dos detalhes. Onde foi a cerimônia?
— Em frente ao cassino, na Rua Freemont. Havia uma porção de luzes e música.
— Havia uma multidão — disse , com o olhar distante.
— Sim. Eles estavam tentando bater algum tipo de recorde — expliquei, embora ele não parecesse prestar realmente atenção. — Dois mil e quinze casamentos em vinte e quatro horas.
— E... quem se casou?
— Nós — respondi, dando de ombros.
caiu na gargalhada, enquanto eu esperava pacientemente que caísse na real.
— Estou falando sério. Quem se casou?
Com toda a calma, eu o encarei diretamente nos olhos.
— Nós nos casamos. — Eu me levantei e atravessei o quarto, voltando com um papel na mão. — É perfeitamente legal — disse, colocando o papel diante de seu nariz. — Você assinou aqui: noivo, . E eu assinei aqui: , noiva. Fomos o casal número 1.282.
Depois de perder tudo no cassino, nós saímos para dar uma volta e acabamos no meio das comemorações de fim de ano. Bêbado e no clima da festa, me pedira em casamento, de brincadeira. Em um impulso que eu não fazia ideia de onde tinha vindo, eu o desafiei a ir em frente. Acho que ele nem mesmo havia percebido que era um casamento de verdade.
Pela expressão de pânico em seus olhos, ele estava começando a recordar.
— Eu... eu estou noivo da Emilly!
— Mas se casou comigo — disse, sorrindo docemente. Praguejando, cerrou a mão que segurava a certidão, amassando o documento, e jogou as cobertas de lado. Só então pareceu perceber que estava nu. Eu ergui uma sobrancelha ao observá-lo, uma parte de sua anatomia bastante desperta, mas ele arrancou o lençol da cama e enrolou na cintura.
— Não posso estar casado com você — disse, se levantando com as pernas pouco firmes. Por alguns segundos, achei que ele fosse cair. — Nós somos irmãos e eu vou me casar com Emilly.
— Não somos irmãos de verdade, você sabe. E algo me diz que Emilly não está muito feliz por você tê-la abandonado em plena festa de noivado.
— Foi um erro — ele afirmou. — Um erro que vou reparar agora. — Ele olhou ao redor, fazendo uma careta de dor. — Onde estão minhas roupas? Preciso sair daqui. Vou voltar para Chicago. Explicarei tudo. Ela vai entender. Vou me casar com Emilly.
— Será bigamia — retruquei, inocentemente. paralizou fitando meus lábios, com uma expressão estranha. Seus olhos passaram lentamente do meu rosto para a cama e então ele fechou os olhos, jogando a cabeça ligeiramente para trás.
— Ah, não — gemeu. Fiquei imaginando o que ele estaria pensando. Ele respirou fundo algumas vezes antes de recuperar a compostura. — Precisamos anular o casamento. Eu estava bêbado. Não sabia o que estava fazendo. Qualquer juíz vai entender.
— Mas se lembra do nosso casamento, não é?
— Sim, mas eu estava bêbado. E, além disso, não foi consumado.
Meu coração acelerou, enquanto eu tomava impulsivamente uma decisão.
— Foi sim — afirmei. — E estando consumado, o casamento é oficial.
Pânico passou por seus olhos por um segundo.
— Mas eu perguntei, e você disse que não aconteceu nada!
Eu suspirei, impaciente.
— Você dormiu e eu fiquei acordada a maior parte do tempo. Geralmente é o que acontece depois do sexo. Fico cheia de energia e não consigo dormir.
— Então... houve sexo.
— Não foi grande coisa, se é o que quer saber. Acho que foi o...
— O champanhe, já sei! — gritou. — Não precisa repetir. Que droga, ! Quantas garrafas eu tomei? Quero dizer, isso tudo é loucura. Eu não sou do tipo que foge para Las Vegas, perde trinta mil no jogo e acaba casado com a irmã de criação, pelo amor de Deus! Só pode ser algum tipo de brincadeira.
Era engraçado observá-lo andando descontrolado de um lado para o outro, como um tigre enjaulado. Apesar da ressaca e do pouco sono, ainda estava cheio de energia.
— Impossível. — Sem conseguir me conter, eu me aproximei e rocei de leve meus lábios nos dele. — Sabia, marido, que além do quarto, ganhamos também o café da manhã? Prefere ovos ou torrada?
Ele gemeu, mas não de prazer. Seu rosto adquirindo mais uma vez aquele tom esverdeado pela menção da comida. Ele se dirigiu para o banheiro.
— Vou tomar banho. E, quando terminar, vamos encontrar um jeito de resolver essa situação.
— Quer que eu vá com você e esfregue suas costas?
Ele pareceu vacilar por um segundo, mas então virou as costas sem se dar ao trabalho de responder.
—✰—
O serviço de quarto chegou em meia hora, trazendo o café da manhã. Deixei o garçom entrar, e logo ele colocava vários pratos sobre a mesa, junto à janela. O barulho do chuveiro parou e, como demorou a aparecer, imaginei se teria adormecido no banheiro. Um vulto se mexeu atrás da parede de vidro, e eu observei enquanto bebia o café quente.
Embora visse que ele tinha enrolado uma toalha em volta da cintura, eu não precisava de muita imaginação para saber o que havia sob o tecido úmido. Quando ele jogara os lençóis para o lado, eu tivera a chance de apreciar o corpo bem feito. Do tórax largo, descendo pelo ventre liso até as longas pernas torneadas, eu não conseguia achar nenhum defeito. E quanto ao resto, parecia estar funcionando muito bem, embora não tenha tido a chance de experimentar.
Uma pontada de culpa me atingiu. Talvez não devesse ter mentido para ele. Eu não tivera nenhuma segunda intenção ao trazê-lo para Las Vegas. Mas, depois de tê-lo visto se divertindo na noite passado, havia percebido que ele precisava mais disso em sua vida; deixar a responsabilidade um pouco de lado, curtir a vida, enquanto ainda tinha tempo. E eu sabia que assim que voltasse para Chicago, o lado sério reassumiria e, depois de tantas loucuras, ele nunca mais se permitiria baixar a guarda novamente.
Precisava de tempo para mostrar a ele que havia mais na vida do que trabalho. E se a consumação era a única coisa que o impediria de anular o casamento de imediato, eu continuaria mentindo. Manteria-o ocupado e longe de Chicago, ao menos por uns dias.
Tomei outro gole de café e observei o homem com quem dividira a cama. Aquele que eu conhecera ainda garoto e que eu sempre vira como um verdadeiro irmão; até o dia anterior. Não podia negar que sentia uma enorme atração pelo homem que ele se tornara. Mas é apenas atração física, disse a mim mesma. era inegavelmente bonito. E exatamente o tipo de homem por quem poderia me apaixonar.
Só que sob a aparência, havia um homem que passara toda a vida regida por disciplina e autocontrole. Muitas vezes mandão, arrogante e cheio de si. Ele precisava ver que a vida ia muito além do mundo que meu pai havia pintado diante de seus olhos.
Eu tomei outro gole de café antes de pousar a xícara na mesa. E se estivesse errada? E se o melhor para ele fosse voltar imediatamente para sua vida? E se amasse Emilly de verdade? Se amasse seu trabalho? Se fosse realmente feliz com as coisas do jeito que eram? Bem, se eu estivesse errada, provavelmente o perderia para o resto da vida.
Ao sair do banheiro, tinha os cabelos úmidos e apenas a toalha enrolada na cintura, deixando a vista o corpo bem feito. Ele pareceu procurar algo pelo quarto e então me olhou por sobre o ombro.
— Onde estão minhas roupas?
— No armário, do outro lado da banheira — disse, sentindo o rosto esquentando.
— Obrigado — disse secamente. Depois de pegar o smoking e os sapatos, aproximou-se da mesa. — Temos que resolver essa confusão. Vamos pedir o divórcio.
— Não quero o divórcio.
Seus olhos continuaram a me fitar diretamente.
— Pouco me importa o que você quer. Eu não posso estar casado com você.
— Devia ter pensado nisso antes de me arrastar até o juíz e todas aquelas testemunhas.
Atirando as roupas para o lado, ele apoiou as palmas das mãos na mesa, com os olhos faiscando de raiva. Pela tensão da mandíbula era possível ver o esforço que fazia para se controlar.
— Não vou discutir. Se não quiser o divórcio, vou arrastá-la ao tribunal e provar que não estava sóbrio quando me casei com você.
— É o que pretende fazer?
— Não podemos voltar a Chicago antes de resolver tudo. Não quero que Emilly, nem os pais dela... nem nossos pais, descubram sobre o casamento. Vamos conseguir um divórcio rápido, e esqueceremos o que aconteceu. Vou ligar para a recepção e pedir que indiquem um advogado.
Ele pegou o telefone e discou, enquanto eu continuava tomando o café e aproveitava para observar o seu corpo.
Embora não desse para ouvir a conversa, percebi que não ouvira o que esperava. Os músculos dos ombros pareciam tensos. Ele bateu o telefone.
— Que ótimo! — resmungou.
— Boas notícias?
— Não podemos nos divorciar em Nevada, a menos que moremos aqui pelo menos seis semanas. Mas há alguns escritórios na lista telefônica que anunciam divórcios em dez dias.
— Dez dias? Não é tão ruim.
praguejou, sacudindo a cabeça.
— Não posso ficar dez dias aqui! Além de não termos dinheiro, não posso ficar tanto tempo longe do trabalho.
— Então vamos voltar para casa e cuidar de tudo — sugeri, mesmo sabendo a resposta.
— Não vamos para casa! Tem que haver algum lugar onde possamos conseguir um divórcio rápido e sem problemas.
— Não olhe para mim! — ri. — Nunca pedi divórcio antes. Ligue para o seu advogado, ele pode orientá-lo.
— Não! — praticamente gritou. — Você e eu vamos ser os únicos a saber desse casamento! Não vou me arriscar a contar a alguém sobre esse desastre, nem mesmo meu advogado. Temos que resolver tudo sozinhos.
Suspirei, me sentando novamente. Se nosso casamento era um desastre, a julgar pela reação de , devíamos estar próximos a 7 na escala Richter. Com gestos lentos, servi uma xícara de café oferecendo-a a .
— México.
se sentou perto de mim, a toalha se abrindo e deixando ver a coxa torneada e parte do quadril.
— México?
Precisei fazer um esforço para desviar o olhar daquele corpo tentador e assentir.
— Acho que podemos conseguir um divórcio rápido em Tijuana. Pelo menos foi o que ouvi dizer.
Ele suspirou, visivelmente aliviado.
— Então vamos à Tijuana. Não estamos tão longe do México.
— Está bem. — Dei de ombros. — Se é o que quer.
— Vou ligar para o piloto e pedir para arranjar o voo, o quanto antes. — Ele me olhou, parecendo sem jeito. — Lembra-se de onde deixamos o avião?
— Você mandou o piloto de volta, junto com o avião. Estão em Chicago.
— Então pegaremos um voo comercial.
— Só se você tiver outro cartão de crédito escondido na carteira. Não tem dinheiro para as passagens. A menos que ligue para meu pai.
praguejou outra vez. Eu quase ri. Toda essa irritação era praticamente um efeito colateral da minha companhia, sempre fora assim.
— Como vamos chegar ao México?
— Vamos de carro. Provavelmente conseguiremos alugar um com meu cartão de crédito. Não tenho muito crédito, mas ainda devo ter algumas centenas. E o dinheiro que ganhou ontem à noite dá para gasolina e comida. Mas teremos que pagar pelo divórcio. E não é barato.
Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro. A toalha se abria a cada passo, e eu tinha que fazer um enorme esforço para manter o olhar fixo na xícara.
— Não posso ligar para casa e pedir dinheiro. Vão descobrir onde estou. — Ele me lançou um olhar atravessado. — E com quem.
— Acha que o piloto não vai contar? Nós não fomos exatamente discretos na nossa fuga, mais cedo ou mais tarde eles vão chegar até o piloto.
se virou e me fitou, pousando as mãos na cintura e estreitando os olhos, pensativo.
— Tem razão, não podemos ficar aqui. O que vamos fazer? Não temos dinheiro.
Eu bufei, aborrecida. Ele não tinha mesmo imaginação. Parecia ter passado a vida toda numa redoma de vidro. Será que não sabia como as coisas funcionavam na vida real?
— Cadê seu relógio?
— Por quê? Está atrasada para algum compromisso?
— Onde está? Aquele relógio enorme de ouro que usava a noite passada?
pegou a calça do smoking e vasculhou os bolsos. Pegou o relógio e colocou-o sobre a mesa.
— São onze e quarenta e cinco.
Peguei o Rolex de ouro e o examinei cuidadosamente.
— Vamos penhorá-lo. Se vale o que penso, teremos o suficiente para o divórcio.
— Penhorar?
— Sim, vender em uma loja de penhores. Nunca ouviu falar? Ou podemos tentar vendê-lo na rua.
— Está bem. Vamos vendê-lo.
— Quanto vale? — perguntei, examinando-o mais uma vez.
— Paguei cinco mil por ele.
— Pagou cinco mil dólares por um relógio e reclama por ter perdido quarenta mil no cassino?
— Você disse trinta mil.
— Trinta, quarenta, que diferença faz para quem anda com cinco mil dólares no pulso? — Fui até a mesinha de cabeceira e peguei meu próprio relógio. — Está vendo? Paguei setenta dólares por ele. — Estendi o relógio para ele. — Que horas são?
— Onze e quarenta e seis — respondeu.
Eu lhe estendi o Rolex.
— E no seu?
— Onze e quarenta e seis.
Sorri, satisfeita por provar meu ponto.
— Tudo bem, mas se eu não tivesse esse relógio, não teríamos o que vender. — Ok, ponto para ele. agarrou as roupas e caminhou para o banheiro. — Termine seu café e se vista. Precisamos alugar um carro.
Esse era o que eu conhecia, tão dominador quanto seu padrasto.
Escolhi um bolinho no prato de doces e atirei na direção dele. O bolinho atingiu-o na nuca, e ele parou, os ombros tensos e as costas contraídas. Por um instante, pensei que ele fosse revidar, mas apenas deu de ombros e continou andando. Eu praguejei, apertando o roupão contra o corpo. Estava casada com ele havia menos de sete horas e já tinha vontade de esganá-lo.
— Parece que a lua-de-mel acabou.
N/A: Parece que eles já encontraram a solução para os seus problemas.
Mas será tão simples assim resolver?
Para saber a resposta, não perca o próximo episódio, nesse mesmo canal, nessa mesma hora -q
CAPÍTULO 3
The Money
POV
— Quinhentos dólares! — gritei, animada. — Não pensei que ele fosse dar tanto pelo relógio.
Obviamente que um pouco de charme e a visão proporcionada pelo meu decote, que chegava literalmente ao umbigo, haviam contribuído para a generosidade do sujeito.
— Se a tivessemos oferecido em penhora, teríamos conseguido duas vezes mais — resmungou em tom baixo.
— O quê? — questionei, não muito certa do que tinha ouvido. Só não permitiria que seu mau-humor estragasse minha animação.
— Não acha esse vestido um tanto ousado?
— O que há de errado com ele? Olhe a sua volta, queridinho. Não somos os únicos vestidos para uma festa. Não viu aquela mulher de vestido de noiva descendo a rua? E os homens de smoking? Aliás, meu vestido serviu perfeitamente para o nosso propósito. O homem da loja não ia pagar mais de trezentos.
Ele ficou me encarando algum tempo em silêncio, como se travasse uma batalha interna. Eu aguardei pacientemente até que ele suspirou e desviou o olhar.
— Temos negócios para resolver — resmungou. — E não podemos fazer isso vestidos como refugiados da noite de Ano Novo.
Ignorando os amassados no smoking, havia se vestido impecavelmente. Nada de botões abertos ou gravata frouxa. O único leve sinal de revolta era dos seus cabelos, que estavam secando e, sem nenhum produto para fixá-los, insistiam em cair sobre a testa.
suspirou.
— Precisamos de roupas novas — falou. — O recepcionista do hotel disse que há um shopping center no final da rua.
— Não temos dinheiro para gastar — retruquei.
— Pretende usar esse vestido até chegarmos ao México? — perguntou, me olhando de lado. Que fixação com a minha roupa!
— Está preocupado com o meu conforto ou com o que as pessoas vão dizer? Estou muito bem com essa roupa. Você é que está incomodado — disse, estreitando os olhos e erguendo o queixo. Estava pronta para a briga.
— Por mim, pode andar nua — desdenhou, olhando para o outro lado da rua. — Só que estou usando um smoking que cheira a cigarro e champanhe amanhecido. Quero trocar de roupa.
Céus, como ele era teimoso.
— Nosso orçamento não dá para isso.
— Temos o dinheiro do Rolex. Podemos gastar uma parte em roupa.
Eu respirei fundo, buscando por paciência.
— O dinheiro é para o divórcio. Os duzentos dólares são para o combustível e a comida. E o cartão é para o aluguel do carro. É você quem quer um divórcio rápido. Poderíamos ficar aqui e conseguir o divórcio em dez dias.
— Não temos dinheiro para ficar dez dias aqui.
— Pode tentar a sorte de novo.
— Muito engraçado — resmungou.
— É por isso que temos que economizar. Temos apenas o suficiente para chegar a Tijuana e conseguir um divórcio rápido. Nada mais.
estendeu a mão, parecendo mentalmente cansado.
— Quero cinquenta dólares. Vou comprar só uma camisa e um jeans. — Eu meneei a cabeça, negando. — Esse dinheiro é meu, ! Me dê cinquenta dólares, agora.
Ele tentou pegar a bolsa, mas eu a puxei com força.
— Não!
cerrou os dentes, puxando a respiração como se tentasse manter o controle.
— Pode descontar os cinquenta dólares da minha parte na comida. Não vou comer.
Por que tinha que ser tão teimoso?
— Por favor! — desdenhei. — Então prefere estar bem vestido do que bem alimentado?
— Só me dê o dinheiro. Não quero discutir com você.
— Está bem — concordei, finalmente abrindo a bolsa. — Mas vou ficar com os duzentos dólares do jogo. Você fica com o dinheiro do divórcio. Se gastar, teremos que continuar casados.
— Acredite, não vou gastar tudo. — Ele se virou e começou a descer a rua, com o braço estendido, procurando um táxi. Quando viu que eu não o acompanhava, me olhou por cima do ombro. — Não vem comigo?
— Tem uma locadora de carros no próximo quarteirão. Espere aqui que volto logo com o carro. Não precisamos gastar dinheiro com táxi.
Sentando-se em um banco, estendeu as pernas longas.
— Alugue um carro com ar condicionado — disse. — Mercedes, ou BMW, de preferência.
— Claro. Também não vou esquecer o DVD.
— Seria muito bom, mas não necessário.
Com um suspiro de frustração, eu voltei, parando na frente dele.
— Você mora no mesmo planeta que eu ou vem de outro mundo? Não se pode alugar um Mercedes com duzentos dólares. Vou alugar um carro barato.
— Barato, mas com ar condicionado. Afinal, teremos que atravessar o deserto.
— E, claro, não vai querer suar nas suas roupas novas! — Pisando firme, comecei a descer a rua. — Esteja aqui quando eu voltar. Ou volto para Chicago e conto a todo mundo sobre o casamento!
—✰—
Meus dedos tamborilavam nervosamente no volante, enquanto esperava por . Fazia mais de uma hora que estava sentada no carro, no estacionamento do shopping, e ele havia prometido que voltaria em quinze minutos. sempre era pontual, mas não ajudava que ele estivesse sem relógio.
não tinha ficado muito satisfeito ao ver o carro que aluguei. Fora quase impossível arrumar um carro na cidade. Além da imensa procura devido ao feriado, não havia muitas opções disponíveis que eu pudesse pagar. Então tive que me conformar com o Toyota de vinte anos.
Não era um carro tão ruim. As rodas estavam firmes, e a buzina funcionava. Mas o escapamento tossia e soltava fumaça preta, e quando acelerava, o motor fazia um chiado estranho. E era necessário dar uns tapas no painel para que o rádio funcionasse. Alugara-o por uma semana, por cento e vinte e cinco dólares, com quilometragem livre. Assim, ainda tinha um crédito de setenta e cinco dólares para gastar no cartão. Com esse dinheiro, poderia comprar um vestido leve e um par de sapatos baixos numa ponta de estoque, quando estivéssemos saindo da cidade.
Na verdade, queria trocar de roupa tanto quanto .
Sem querer, me lembrei da cerimônia, no meio das luzes na Rua Freemont e dos vários casais. Nunca havia sonhado com um casamento tradicional; preferia algo mais ousado, divertido. Inesquecível. Teria sido examamente o tipo de cerimônia que eu escolheria.
— Pena que o noivo mal se lembre — murmurei, sentindo uma pontada de arrependimento. Talvez não devesse ter permitido que as coisas fossem tão longe. Mas quando ele fizera o pedido, em frente ao cassino, eu não conseguira recusar. E, desde o momento que dissera “aceito”, tentava me convencer de que só estava fazendo aquilo para provocá-lo.
Entretanto, quanto mais pensava no assunto, mais percebia que havia me casado pelos motivos errados. havia se tornado um homem atraente, charmoso... e até divertido, quando o champanhe o deixava mais relaxado. Ele até mesmo havia se ajoelhado para fazer o pedido! E, depois, eu tinha pensado na noite de núpcias...
Eu não tinha certeza se ele havia realmente mudado tanto ou se fora só o tempo que ficamos separados que havia feito com que eu o visse sob uma perspectiva totalmente diferente.
Sentindo-me frustada, eu suspirei. Nunca tivera muita sorte com homens. Mas não poderia culpá-los. Desde que começara a namorar, usara os namorados como forma de chamar atenção do meu pai, e de por consequência. Por isso, costumava sempre escolher aqueles que ambos reprovariam. E isso acabara se tornando um hábito na minha vida, mesmo depois que fui embora.
E ali estava eu, mais uma vez envolvida com alguém que não podia — não devia — amar.
Eu me recordei das primeiras horas da manhã, de como fora difícil me manter do meu lado da cama, resistindo ao corpo tentador, nu sob as cobertas, e ao que teria acontecido se ele não tivesse adormecido instantaneamente. E ao que poderia ter acontecido quando ele acordasse. Fora difícil dormir com a ansiedade povoando meus pensamentos e o observara por um longo tempo, antes de conseguir conciliar o sono.
Não importava que passara boa parte da minha vida com se arrastando nos meus calcanhares, vomitando regras que eu deveria seguir e tentando me manter longe de encrencas. Não importava que eu o invejara por ser o filho perfeito que eu não jamais seria, e sem fazer nenhum esforço. Não importava que eu era, muito provavelmente, a única pessoa capaz de tirá-lo do sério e que ele fosse a única pessoa a me despertar impulsos assassinos. Não importava que ele agisse demais como meu pai. Sempre havia aquela sensação de proteção e segurança quando ele estava ao redor.
Se um dia me casasse de verdade, com um homem que se lembrasse do casamento e não tivesse uma noiva esperando por ele, esperava que o noivo se parecesse um pouco com . Forte, confiante e direto. Sabia que sempre poderia contar com alguém como ele.
“Agora ele me detesta,” pensei. “Mal pode esperar para se livrar de mim e voltar para Emilly.”
Com um gemido, pressionei a testa contra a direção. Não tinha sentido pensar em como o homem dos meus sonhos. O casamento havia sido uma loucura, fruto da impulsividade. Meu pai me mataria se descobrisse, porque certamente o jamais cometeria tal atrocidade se não estivesse sob minha malévola influência.
Eu poderia desmentir sobre a consumação e tudo se resolveria depressa e sem dor. Mas eu não...
Uma batida na janela me fez pular de susto. Eu me virei e vi que estava parado ao lado do carro. Vestia calça cáqui, camisa pólo e uma jaqueta esporte, tudo de excelente qualidade. Também carregava uma mala de couro e sacolas de compras.
Comecei a perder a calma. Não devia ter confiado nele! Era evidente que havia gastado todo o dinheiro. Amaldiçoando até a décima geração dos , abri a porta do carro e saí. Muito bem. Se queria mesmo o divórcio, teria que arrumar o dinheiro. Eu não faria mais esforço nenhum.
— Belas roupas — comentei, cruzando os braços sobre o teto do carro.
deu a volta no carro, observando um dos faróis que estava quebrado.
— Não posso dizer o mesmo da sua escolha, mas conseguimos ficar dentro do orçamento.
Sacudi a cabeça. Devia estar com raiva, mas não conseguia. No fundo, estava contente ao ver que gastara todo o dinheiro do divórcio. Embora não soubesse se queria estar casada com , também não tinha certeza se queria me divorciar.
— Gastou tudo, não é?
Um sorriso satisfeito curvou os lábios dele.
— Não gastei um centavo — declarou, se aproximando e mostrando as sacolas de compras.
— Então roubou? — debochei.
— Havia uma loja Neiman Marcus no shopping.
— Claro, se é para ser um ladrão, então que seja um com classe.
— Tenho um cartão de crédito da loja, com um limite de compras bem alto. E gastei tudo.
— Então ainda temos o dinheiro do divórcio? — perguntei, enquanto tentava esconder o desapontamento.
— Sim — respondeu . — E também comprei coisas para você. — Ele apontou as sacolas. — Veja. Não tinha certeza do seu número, você... cresceu. Mas acho que acertei.
— Fez compras para mim — perguntei, surpresa e feliz ao ver que ele pensara em mim.
— Alguns vestidos e um suéter. Ouvi dizer que à noite faz frio no deserto.
Lentamente, eu tirei as compras das sacolas. comprara três vestidos de marcas famosas, e um suéter de cashemere azul. Também havia uma calça comprida preta, uma camiseta listrada e um chapeuzinho de palha. Eu o encarei, surpresa.
— Para o sol — explicou.
Observando o novo guarda-roupa, exposto sobre o capô do carro, me peguei admirando a atenção e o bom gosto de .
— Gostou? — perguntou, parecendo ansioso. — Se não gostar de alguma coisa, podemos trocar.
— Não. Está tudo perfeito. É exatamente o que eu compraria.
— Gosta de roupas coloridas. Eu ainda lembro.
Por um instante, desejei passar os braços em volta do seu pescoço e beijá-lo. Os homens raramente me surpreendiam, e eu jamais imaginara que algum dia o faria, mas ele me deixara sem palavras. Tinha feito compras pensando tanto no conforto quanto nas cores que eu gostava. A segunda sacola tinha sapatos, e a terceira, artigos de toalete: shampoo, perfume, artigos de maquiagem. Havia ainda outra sacola, com lingerie de muito bom gosto, além de uma camisola curta, de algodão.
— Não fui eu que escolhi. Pedi ajuda à vendedora.
— Então temos tudo para a viagem.
— Acho que sim — disse , olhando o Toyota. — É pena que não aluguem carros na loja. Queria que me dessem algum dinheiro, dentro do limite do cartão, mas não concordaram. Assim, decidi comprar isto — completou, mostrando o pulso.
— Comprou outro relógio?
— Se ficarmos sem dinheiro, podemos penhorá-lo — respondeu, tirando uma caixinha de jóias do bolso e me entregando. — Abra.
Prendendo a respiração, eu abri a tampa. Dentro havia um anel com um diamante solitário.
— Eu... não entendo.
— É mais uma coisa que podemos penhorar — disse, dando de ombros. — Vamos, coloque no dedo.
A jóia era linda demais, o sonho de qualquer garota que ia se casar. E simbólica demais.
— Não acho que...
pegou a caixa, tirou o anel e o colocou no meu dedo.
— Assim não poderá perdê-lo.
Soltei lentamente o ar, que nem notara que estava prendendo, e assenti.
Nós nos fitamos intensamente por um longo instante. Foi necessário muito esforço para controlar a vontade de ficar na ponta dos pés e beijá-lo. Queria ao menos pedir desculpas, dizer que lamentava tê-lo arrastado para aquela confusão, como de costume, mas não pude. Os sentimentos que brotavam dentro de mim não tinham sentido. Não podia me apaixonar por ! Nossos pais certamente ficariam escandalizados!
— Precisamos ir — eu disse, por fim.
— Eu dirijo.
Ao dar a volta no carro, não pude deixar de admirar o diamante em meu dedo. poderia ter comprado brincos, ou um colar. Por que escolhera um anel de diamante?
Abrindo a porta traseira do carro, atirei as sacolas sobre o banco. Era perda de tempo tentar adivinhar seus motivos. Tinha se casado comigo porque bebera champanhe demais. Sóbrio, só pensava no divórcio. O diamante significava apenas uma reserva financeira e não uma prova de amor e compromisso.
Suspirei, batendo a porta. Tudo estava acontecendo depressa demais. Enquanto não havia hesitado um segundo sequer para me casar com , com o divórcio era outra história completamente diferente. Agora que éramos marido e mulher, tudo havia mudado.
—✰—
POV
— Precisava se trocar no carro? Eu podia ter parado num posto.
Olhei de lado, vendo enfiar um dos vestidos pela cabeça. Embora tivesse comprado sutiãs, que combinavam com as calcinhas, ela não vestira um, e assim, eu pudera ver de relance os seios arredondados.
Por que estava tão fascinado pelo corpo de ? Eu já a vira seminua inúmeras vezes na adolescência e nunca sentira nenhum indício de nada. Só que agora parecia ter algo especial nela, e cada vez que a fitava a atração era maior.
— É você quem quer chegar depressa ao México — respondeu ela, enquanto tirava o vestido de festa e terminava de vestir o novo, com movimentos quase acrobáticos. — E trate de manter os olhos na estrada.
Olhando-a de relance, não pude deixar de sorrir. Era realmente linda. À noite, sob as luzes de Las Vegas, parecera exótica, sofisticada. Mas a luz do dia realçava sua beleza viva, natural. Ela prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha, e o diamente faiscou na mão delicada. O brilho me atingiu como um raio, me fazendo perceber que estava mesmo casado. Com aquela que deveria ser minha irmãzinha.
Menos de vinte e quatro horas antes havia anunciado meu noivado com Emilly, pronto para começar uma nova vida a dois, dentro dos padrões nos quais fora criado. Tudo parecia perfeito, até chegar com sua personalidade viva e brilhante e, como de costume, virar tudo de pernas para o ar.
Sempre fora assim. Ela levava o caos onde deveria haver paz e, de alguma maneira, eu sempre me via no olho do furacão antes que pudesse ter certeza do que acontecia. E quando estava prestes a perder o controle e explodir, ela ria com aquele seu jeito descontraído e alegre e, dentro de mim, tudo era paz novamente.
Não. Para ser justo, não podia culpar . Nem a bebida. Talvez só estivesse procurando uma desculpa para escapar, para dar um tempo de tudo, e a encontrara naquele salão, com um escandaloso vestido vermelho. Como sempre, ela abalava minhas resoluções e me fazia questionar a mim mesmo. Vê-la de repente depois de todos aqueles anos, ainda vibrante e irreverente, me obrigaram a reavaliar minha vida sóbria e regrada, e a ser honesto comigo mesmo. E, em algum lugar lá no fundo, sabia que faltava algo em minha vida. Era uma descoberta nova e pequena, como uma mosquinha, mas persistente. Incomodou-me durante toda a noite.
E, por um momento, desejei arriscar, viver livremente. Só que acabara casado com .
O que me preocupava era que havia algo entre nós, mais que uma simples atração. Era como fósforo e gasolina. Uma explosão prestes a acontecer. Ou que já acontecera, segundo . Eu franzi a testa. Como podia ter esquecido como era fazer amor com ela? Lembrava-me de alguns momentos daquela noite. Até mesmo do casamento. Mas nada além disso.
Observando a estrada, tentava imaginar como havia sido. Eu deveria me sentir sujo, culpado, por toda essa situação, mas não conseguia. Tudo o que queria era recordar...
— Como não consigo lembrar? — murmurei.
— O quê?
Eu pisquei, percebendo que me observava, curiosa. Como teria sido tocar aquela pele suave, segurar aqueles seios macios...? Tive que reprimir um gemido e me obrigar a mudar o rumo dos pensamentos.
— Nada. Só estava pensando alto.
Alguns minutos depois a estrada se alargou, e nós avistamos rochedos pontiagudos projetando-se das paredes de um desfiladeiro, erguendo-se ao lado do rio Colorado. Em um dos lados, um imenso lago de águas claras brilhava ao sol. Era uma paisagem de tirar o fôlego.
— Olhe aquelas pessoas — Niki apontou. — O que estão usando na cabeça?
— Algum tipo de chapéu estranho. Deve estar a venda nessas lojas de lembrancinhas.
— Não é um chapéu. Parece uma pirâmide, coberta com papel alumínio... Por que usariam algo assim?
Eu entrei no estacionamento e deliguei o motor. Depois de fechar o carro, subimos a trilha que levava ao topo. Logo, se inclinava sobre o muro de concreto, observando a vista magnífica e as águas límpidas, centenas de metros abaixo. Eu senti uma tontura e desejei puxá-la para trás, para a segurança.
O vento frio batia contra o vestido leve, e cruzou os braços, protegendo o corpo.
— Está tremendo — eu disse, tirando a jaqueta, e passando-a pelos seus ombros. Então, gentilmente virei-a de frente e a obriguei a me encarar. — O que quer de mim, ?
Eu não fazia ideia da resposta que esperava obter.
— Nada — ela respondeu, puxando as lapelas da jaqueta.
Seu rosto estava rosado, provavelmente em consequencia do ar frio, já que não era qualquer coisa que tinha a capacidade de fazê-la corar. Ela ficava linda assim. Aliás, eu a achava mais bonita a cada vez que olhava em sua direção.
Meus olhos desceram para a boca macia. Lentamente, eu me inclinei para frente até que meus lábios roçassem o dela, pensando em beijá-la de leve. A princípio, ela pareceu hesitar, mas não fez nenhum movimento para me parar. Fui eu que não pude me afastar. Passei a língua pelo contorno de seus lábios, e ela os abriu para me receber.
Seus lábios se moldaram aos meus, enquanto seu gosto despertava todos os meus sentidos. Passei as mãos pela cintura fina, puxando-a para mim. Todas as pessoas a nossa volta se dissolveram à distância, como se houvesse apenas nós dois no mundo. E o toque dos lábios dela, e o corpo feminino contra o meu.
Desejei acariciar seus seios, então me lembrei que estávamos rodeados de gente. Afastei-me e, curioso, estudei o rosto de . Queria ver como lidaria com isso, se havia se sentido do mesmo jeito que eu.
Para minha surpresa, ela me olhava, visivelmente embaraçada.
— Incrível — murmurou.
— Sim — concordei, beijando-a de leve. — Foi surpreendente.
Ela enrusbeceu e virou o rosto.
— Eu... estava falando da represa.
— Ah, sim... — disse, dando de ombros. — A represa.
Pouco me importava o local. Se pudesse, encontraria um lugar reservado e continuaria o que havia começado.
Charles me mataria se imaginasse o que estava pensando em fazer com sua filha. Apesar de todas as diferenças e distância entre eles, ele a amava demais. Só não sabia como lidar com ela a maior parte do tempo. Não que eu pudesse culpá-lo, já que eu também não sabia.
Em todo o caso, o mal já estava feito, afinal, já havíamos dormido juntos, não é?
— Estou com frio — disse , me tirando dos meus pensamentos. — Vou até o carro pegar meu suéter. — Eu lhe entreguei a chave do carro. — Volto em cinco minutos.
Ela se virou, caminhando para o estacionamento, e eu a vi desaparecer na multidão. Pensava que a conhecia bem, mas era cheia de surpresas. Ela sempre me parecera forte, quase inatingível, como se nenhum homem pudesse lhe chegar ao coração. Mas agora sabia que não era bem assim.
Só não queria que ela sentisse a mesma atração que eu experimentara. Se me apaixonasse por , eu sabia que podia deixar os sentimentos de lado e voltar à vida de antes. Mas se ela se apaixonasse por mim, tudo escaparia do controle. Precisava ter mais cuidado para que isso não acontecesse.
N/A: Oi, people! Como disse na att lá no blog, estou com uma inflamação no braço (algum tipo de nevralgia, I guess) e só pude postar esse capítulo porque ele já estava pronto. Está muito difícil digitar assim Ç_C
Bem, espero que tenham gostado do capítulo! E, sim, nossa doce e comportada protagonista (-sqn) vai conseguir metê-los em ainda mais problemas. Aguardem.
CAPÍTULO 4
The Journey
POV
havia me beijado! Sem motivo aparente, ele se inclinou e me beijou intensamente. Eu levei a mão aos lábios, tocando-os de leve.
Independente do modo como ele fazia meu sangue ferver, eu não queria me apaixonar por ele, embora fosse quase impossível. Mentalmente, calculei quanto tempo levaríamos para chegar até Tijuana. Oito horas. Mais oito horas sozinha com .
Eram quase três horas e provavelmente teríamos que parar no caminho para dormir. E só tínhamos dinheiro para um quarto. Engoli em seco, vestindo o suéter que ele comprara. Não podíamos parar para dormir!
Suspirando, me levantei do banco e dei uma última olhada no espelho. Já fazia quinze minutos que estava escondida no banheiro feminino, tentando entender. Enquanto voltava para o lugar onde deixara , vi uma mulher idosa parada ao longo do caminho, usando uma daquelas estranhas pirâmides na cabeça. Segurava um cartaz onde se lia “San Diego”. Naquele instante, eu sabia que havia encontrado a solução.
— Uma acompanhante — murmurei. — É exatamente do que preciso.
Caminhei até a mulher a apontei o cartaz.
— Está procurando uma carona para San Diego?
A mulher idosa sorriu, o rosto franzindo-se em milhares de rugas, a pirâmide balançando levemente sobre os cabelos brancos cacheados.
— Vai para lá?
— Sim — assenti. — Meu... marido e eu vamos fazer uma pequena viagem até Tijuana. Não é muito longe de San Diego, é?
— Não, querida. Terão que passar por San Diego para chegar a Tijuana.
— Qual é seu nome? — perguntei.
— Ômega Sete — respondeu a mulher. — Mas pode me chamar de Edith. Estava esperando a nave, mas houve alguma confusão. Devia ter chegado ontem à meia-noite.
— Nave?
— Sim, a nave-mãe. Estava esperando para voltar para casa, depois de trinta anos nesse planeta.
Sorri; a velhinha era bem simpática para uma maluca. Por um instante, me lembrei da história que ouvira sobre a invasão alienígena na virada do ano, mas logo afastei a ideia absurda.
— Você mora em San Diego?
— Sim. Sou aposentada dos Correios. Há muitos de nós trabalhando no governo. É uma estratégia para nos integrarmos. Eu deveria ficar apenas dez anos, mas minha missão era muito importante.
— Separar correspondência?
Edith aproximou-se, baixando a voz até um sussurro quase inaudível.
— Li tudo. Tenho visão de raio-X e memória fotográfica. Sei tudo sobre todos que usam o CEP 92101.
— Que ótimo — sorri. Edith era inofensiva. Um pouco maluca, mas, definitivamente, inofensiva. — Mal posso esperar para apresentá-la ao meu marido. Ele vai achá-la fascinante.
— Seu marido é extraterrestre? — perguntou Edith, pegando a bolsa de pano desgastada.
Peguei Edith pelo cotovelo, conduzindo-a em direção aonde deixara .
— Não tenho muita certeza — ri.
— É seu marido e não sabe quem ele realmente é? — perguntou Edith, curiosa.
— Bem, estamos casados há menos de um dia — expliquei.
— Então estão em lua-de-mel! Que romântico!
— Não. A lua-de-mel acabou alguns minutos depois de nos casarmos. Vamos para Tijuana nos divorciar.
— Oh, que pena! — Edith sacudiu a cabeça. — Meu marido e eu estamos casados por quase quarenta anos. Casamento é muito difícil, especialmente quando é misto.
— Ele não é extraterrestre?
— É da igreja episcopal, meu bem. Mas conseguimos resolver nossas diferenças. Tenho certeza de que você e seu marido podem fazer o mesmo.
— Acho que não — falei. — E acho melhor não falar sobre isso com . Ficaremos felizes em deixá-la em San Diego, mas depois iremos para Tijuana. Já está decidido.
— Está bem, querida. Se prefere assim — suspirou Edith. — Mas ainda acho que estão cometendo um erro.
estava esperando com os braços cruzados, apoiado contra a grade de proteção. Ao ver Edith, franziu a testa.
— Parece nervoso — comentou a mulher. — Tem certeza de que está tudo bem?
— Ele é sempre assim — expliquei, e ao me aproximar de , forcei um sorriso. — , esta é Ômega Sete. Ômega, este é meu marido. Nós duas acabamos de nos conhecer. Ela vai para San Diego e lhe daremos carona até lá.
me lançou um olhar de descrédito e me pegou pela mão.
— Muito prazer. Mas... pode nos dar licença por um momento? Preciso falar a sós com minha mulher. — As duas últimas palavras foram ditas com tanta ênfase que indicava não admitir nenhuma recusa.
— Volto logo — falei.
Os dedos dele apertavam meu cotovelo com força, enquanto nos afastávamos. Quando estávamos longe o suficiente para não sermos ouvidos, me fez virar de frente. Sua expressão era de pura raiva.
— O que pensa que está fazendo? Não vamos levar essa mulher até San Diego!
— Mas é caminho — disse. — Qual é o problema?
— É uma estranha. E, ainda por cima, não regula bem. Não percebeu? Não lê jornais? Ela pode ser uma assassina, uma psicopata.
— Edith não faria mal a uma mosca. É uma velhinha inofensiva. Se tiver o mínimo de compaixão, deixará que venha conosco. Estava parada à beira da estrada, esperando carona.
— Não! — exclamou, elevando a voz. — Não vou levar uma maluca no carro!
— Se ela não for, eu também não vou! — gritei. — E sem mim, não haverá divórcio!
Ele parou de repente, virando-se para mim.
— Isso é chantagem, !
— É a minha condição.
Furioso, ele resmungou, com os punhos cerrados contra o corpo. Por fim, nos acompanhou até o carro, abriu a porta de trás e ajudou Edith a entrar. Apesar da contrariedade, ainda era um cavalheiro, afinal. Quando eu me aproximei, ele abriu a porta do motorista.
— Você dirige. Eu cuido do mapa.
—✰—
— ? — Eu estendi o braço e o toquei no ombro. Ele adormecera havia algum tempo, com o mapa no colo, e não quisera acordá-lo. Tínhamos viajado duas horas para o sul, na deserta rodovia 95, quando Edith puxou o revolver. — , acorde!
Ele abriu os olhos, bocejando, e se ajeitou no assento.
— O que foi?
Dei uma olhada pelo retrovisor e forcei um sorriso.
— Nada. É só que Edith quer que mudemos o caminho. Vamos levá-la a Roswell.
esfregou os olhos, ainda sonolento.
— Roswell? É no caminho de Tijuana?
— Não, é no Novo México. Mas acho que não devemos recusar.
franziu a testa, virando-se para ver o que tanto eu olhava pelo retrovisor. Com a mão trêmula, Edith apontou a arma para a cabeça dele. Ele piscou, incrédulo, mas logo riu.
— O que é isso? Uma pistola extraterrestre?
— Não, é uma arma de verdade — eu disse, agarrando seu braço e obrigando-o a olhar para a frente. — Fique quieto e faça o que ela diz.
parecia atônito com a situação. Ao observá-lo, eu me perguntei por que não acreditara nele. Se acabássemos mortos no deserto, a culpa seria minha.
— Sinto muito — sussurrei.
estendeu a mão e pousou na minha perna. Assim que me tocou, senti o sangue correr mais rápido nas veias. Não queria morrer. Ainda não tinha feito tudo o que queria na vida. E, pensando nisso, só conseguia desejar passar mais tempo ao lado de .
— Não se preocupe — murmurou ele, mantendo um tom calmo. — Não deixarei que nada de mal te aconteça.
Edith se inclinou, um sorriso largo iluminando o rosto muito corado.
— Quando a nave-mãe chegar, terei meu próprio desintegrador. Então, poderei desintegrar vocês dois em um segundo. Seus átomos se espalharão por todo o carro.
— Acho que não haverá átomos se desintegrando por aqui — disse , num tom amigável. — , pare o carro.
— Não. — Eu sacudi a cabeça. — Edith quer que a levemos até Roswell. Esta estrada nos conduzirá diretamente ao Novo México.
— Todos pensavam que eles chegariam na represa. — Edith balançava o revólver ao falar, num tom ansioso. — Mas eu devia saber que chegariam no Novo México. Se bem que poderiam escolher a área 51, ao norte de Las Vegas. — Ela recostou-se no assento, como se ponderasse a possibilidade.
— Pare, agora. — Embora falasse baixinho, o tom era tão incisivo que eu obedeci. Quando o carro parou no acostamento empoeirado da rodovia, pegou a minha mão e beijou o pulso, me fitando intensamente. — Edith, vamos deixar descer agora. Eu a levarei a Roswell, está bem?
— Não me importa quem dirige, meu bem, desde que eu chegue lá antes de a nave-mãe decolar.
Eu sacudi a cabeça, mas apertou de leve a minha mão.
— Logo aparecerá algum carro. Você estará segura — disse, pegando a carteira. — Pegue o dinheiro e vá para casa. Nos veremos em Chicago.
— Não quero que vá — supliquei. Não podia deixá-lo arriscar a vida por minha causa. Não podia deixá-lo com uma maluca, apontando um revolver para a cabeça dele. — Vou ficar com você.
— Não se preocupe — insistiu . — Edith e eu iremos a Roswell, e depois voltarei a Chicago, prometo. Nos veremos lá. Agora, obedeça, por favor.
Eu sentia as lágrimas embassando meus olhos. Era a culpada de tudo, não podia deixá-lo ali!
— Não! — declarei, sem esconder a emoção. — Vamos juntos.
— Será que não pode, ao menos uma vez na vida, fazer o que peço? Estou tentando protegê-la, e continua tentando provar sua independência?
— Já lhe disse que não pode me dar ordens e...
— Parem! — gritou Edith, apontando o revólver para mim e em seguida para . — Passe a carteira.
Apavorada, atirei a carteira sobre o banco. Edith pegou o dinheiro do divórcio, contou as notas e colocou-as na sua velha bolsa de pano, devolvendo a carteira a .
— Agora, vocês dois, saiam do carro. Estou cansada dessa discussão.
Eu fechei os olhos, rezando baixinho. Por que não ficara quieta? Não devia provocar uma pessoa que tinha um revólver nas mãos. Hesitante, abri a porta, e desci, vendo fazer o mesmo. Ele deu a volta, aproximando-se de mim. Bem devagar, nós dois nos afastamos do acostamento, andando para os arbustos baixos, típicos do deserto, que ladeavam a estrada.
— Acha que ela vai atirar? — perguntei, baixinho, agarrada ao braço de .
Colocando-se à minha frente, como se pretendesse me proteger com o próprio corpo, ele respondeu num sussurro:
— Se ela começar a atirar, quero que corra. É uma mulher idosa. Não conseguirá alcançá-la. Corra o mais rápido que puder. Entendeu?
— Eu não...
Os músculos de se enrijeceram sob meus dedos. Nem precisava olhá-lo para perceber como estava tenso.
— , não discuta. Faça o que eu digo.
Respirando fundo, eu espiei sobre o ombro de , vendo Edith tirar a mala e as sacolas de compras do porta-malas, colocando-as no acostamento.
— Acho que não desceria nossa bagagem se pretendesse nos matar, não é? — perguntei, baixinho.
— Não dá para prever as atitudes de uma pessoa louca — resmungou .
Quando terminou de tirar a bagagem, Edith colocou o revólver sobre a mala. Com um aceno amigável, abriu a porta do carro e sentou-se atrás do volante.
— Obrigada pela carona — gritou. — Vocês, terráqueos, são muito generosos!
Em poucos segundos, Edith e o carro alugado, além do dinheiro do divórcio, desapareciam numa nuvem de poeira.
Saí lentamente de trás de , e nós dois ficamos imóveis, vendo o carro desaparecer no horizonte. Por alguns minutos, nenhum de nós falou. Eu esperava que começasse a habitual ladainha de "Eu não disse? Não avisei?..." Mas ele apenas suspirou, pegando minha mão e entrelaçando os dedos nos meus.
— Espero que não tenha feito um depósito como garantia do aluguel do carro.
Eu o olhei de lado, percebendo a ironia das palavras. Então, comecei a rir, sem conseguir parar. Estava quase histérica, quando soltou minha mão, aproximando-se das malas. Com uma praga, pegou o revólver, atirando-o para longe.
— É de brinquedo — gritou. — Como eu imaginei.
Eu tive outro acesso de riso. Sentei-me e cobri o rosto com as mãos, rindo até os olhos se encherem de lágrimas. Quando, por fim, me acalmei, estava parado a minha frente, a silhueta masculina delineada contra o sol do fim de tarde.
— Não é engraçado.
— É, sim. Olhe para nós — retruquei, a voz ainda trêmula de riso. — Somos de Chicago. E nos consideramos vividos e espertos. Só que uma velhinha, com alguns parafusos soltos e um revólver de brinquedo, conseguiu levar nosso carro e nosso dinheiro.
segurou minhas mãos, me colocando de pé.
— Não vai achar tanta graça quando a noite chegar, e as cobras e coiotes aparecerem.
— Cobras e coiotes não são nada comparados a Edith!
— Venha. Há uma cidade a uns oito quilómetros daqui. Vi uma placa pouco antes de você sair da rodovia. Se não conseguirmos carona, podemos andar e chegar antes do anoitecer.
Pegando a bagagem, nós dois começaram a caminhar depressa pela estrada estreita. Eu estava contente por termos saído do carro. A paisagem à nossa volta, embora um tanto desolada, tinha uma beleza selvagem. À distância, dos dois lados da estrada, podiam-se ver cadeias de montanhas, e embora soubesse que o deserto abrigava vários animais selvagens, não tinha medo. Não com a meu lado.
— Quero lhe agradecer por ter me protegido — falei, depois de algum tempo. — Foi... tocante
— É a força do hábito. — Deu de ombros.
Eu parei de andar e fez o mesmo.
— Não sei como não está furioso comigo. Foi tudo minha culpa.
— Eu fiquei zangado, sim, mas quando ela foi embora, só senti alívio. Fiquei feliz por não ter acontecido nada com você... isto é, conosco.
Um sorriso curvou meus lábios. Eu me aproximei e segurei sua mão.
— Você não é um marido tão ruim — disse, provocando-o. — É só um pouco mandão.
Ele me fitou por um momento, mas logo sorriu.
— E você não é má esposa. Só não escuta o que eu digo.
Sorri.
— E agora, o que vamos fazer?
— Você tem os duzentos dólares que eu ganhei. E também temos o relógio e o anel. E seu cartão de crédito.
— Não acho que muitos lugares por aqui aceitem cartão.
— Veremos ao chegar na cidade — declarou .
Retomando a caminhada ao lado dele, eu relembrei tudo o que acontecera nas últimas horas. Revendo cada detalhe, tive de admitir que era mesmo um bom marido. Diante da crise, mantivera-se frio e controlado, pensando apenas na minha segurança. E, de algum modo, essas qualidades compensavam qualquer ponto negativo que tivesse.
Eu suspirei, olhando de lado seu perfil contra o sol do deserto. Se uma garota tinha que se casar, não era má escolha.
N/A: Uma viagem esse capítulo, eu sei. xD Mas como diria Shakespeare: "Tudo vai bem quando termina bem". Não, pera, ainda está longe de terminar. Ainda mais "bem". Velhos hábitos são sempre difíceis de mudar e nossa PP é bastante teimosa, então pode demorar um pouquinho até ela aprender a lição. Mas não muito, prometo. ;D
Ahh, comentem dizendo o que estão achando, por favor! :*
CAPÍTULO 5
The Dessert
POV
— Não vamos roubar um carro — disse, agarrando pelo braço e afastando-a do posto de gasolina e da loja de carros usados, em Skull Creek, na Califórnia. A cidade era pequena demais para aparecer no mapa. Na verdade, era apenas um amontoado de construções: um hotel de quinta categoria, a mercearia, o posto de gasolina e algumas casas em estado de deterioração. A placa, na entrada do lugarejo, indicava duzentos habitantes, e todos estavam, suspeitei, no Happy Jackrabbit Saloon.
— Não é difícil — ela disse, apontando a fileira de carros, atrás do posto. — Todos têm placa de "Vende-se". Pegamos um deles e depois mandamos o dinheiro para o dono. Não é roubo, é só um empréstimo.
— Não vou deixá-la roubar um carro.
— E como vamos conseguir um? — perguntou , afastando dos olhos uma mecha de cabelos empoeirados. — Só temos duzentos dólares.
Eu observei o rosto zangado, reconhecendo que mesmo coberta de poeira e suor, continuava extremamente sensual.
— Temos o relógio e o anel.
— Não há um carro nesta cidade que valha tanto quanto o relógio ou o anel. E também não vi nenhuma loja de penhores. Aliás, podemos precisar deles para pagar o divórcio.
— Onde aprendeu a roubar carros? — perguntei, mudando deliberadamente de assunto, e puxando-a em outra direção.
— Tony Drew me ensinou. Namoramos no colegial, se lembra? Era aquele delinquente juvenil. Você nos pegou no banco de trás do carro da mãe dele, no cine drive-in. Também sei arrombar fechaduras, se for preciso. — Ela se virou, começando a voltar para o estacionamento. — Vamos ver. Sou muito boa com Pontiacs e Oldsmobiles.
— Não podemos roubar um carro!
largou as sacolas no chão, levantando uma nuvem de poeira. Colocando as mãos na cintura, me encarou, furiosa.
— Andamos uma hora e meia por uma estrada deserta. Três carros e dois caminhões passaram sem parar. É óbvio que ninguém vai nos dar carona. Não vi um único ônibus passar. Nossas opções são limitadas.
— Roubar é crime — insisti.
— Traremos de volta, assim que não precisarmos mais.
— Não — falei, firme. — Não deixarei que faça isso.
— Então pode ir a pé para Tijuana, enquanto eu dirijo. — Ela andou até o carro mais próximo e abriu a porta. Para minha surpresa, estava destrancada. — É melhor ir andando. Tem um longo caminho pela frente. E não quero testemunhas.
Minha paciência tinha chegado ao limite. Com passadas largas, me aproximei e agarrei-a pelo braço. Com um gesto brusco, bati a porta do carro.
— Eu não salvei sua pele no deserto para deixá-la apodrecer na cadeia. Vamos pegar um quarto no hotel, comer alguma coisa e rever nossas opções.
Recolhendo as sacolas, declarou, erguendo o queixo:
— Não vou dar meu anel em troca de um carro caindo aos pedaços. — E, com passos firmes, começou a andar na direção do hotel, as sacolas balançando junto às coxas.
— Não é seu anel — gritei. — É nosso.
— Então tente tirá-lo do meu dedo.
Apoiei-me no capo do carro, balançando a cabeça. A confusão ficava cada vez maior. Não queria estar casado com , mas só pensava nela como minha esposa. Quase não pensava em Emilly. Ou em Charles, e na bagunça que havia deixado para trás. Tudo isso era uma imagem apagada. E o motivo era . Cada vez que a fitava, parecia estar olhando para o sol. Era como se ela ofuscasse tudo, tirando o passado da minha mente e da minha vida.
Cada vez ficava mais evidente que não ia me casar com Emilly. Se realmente a amasse, não me sentiria tão insanamente atraído por outra mulher. E não estava disposto a ter um casamento sem amor. Assim que me divorciasse de , voltaria a Chicago, desmancharia o noivado, e retomaria minha própria vida.
Dei uma olhada no relógio. Menos de vinte e quatro horas antes, tinha saído da cobertura do Center e começado toda a confusão. Imaginara que o novo ano traria ordem a minha vida, mas, em vez disso, estava no meio do caos. Numa cidade perdida no deserto, ao lado de uma mulher que me enlouquecia, tanto de raiva quanto de desejo.
Sacudindo a cabeça, endireitei-me. Embora não quisesse admitir, estava me divertindo. Nunca tinha apostado antes, nem visitado a paisagem do deserto, a represa, o desfiladeiro do rio Colorado. E nunca me vira sob a mira de um revólver, mesmo que de brinquedo. Vivera mais emoções com nas últimas horas do que em sua vida inteira. E talvez ela estivesse certa. Deveria relaxar e aproveitar a viagem.
Bem devagar, atravessei o estacionamento, dirigindo-me ao hotel. O céu já estava ficando escuro, num tom violeta profundo. As primeiras estrelas brilhavam no céu límpido do deserto. O ar era puro, e um coiote uivou ao longe. Não era um mau lugar para começar o ano, pensei, sorrindo. E não podia pensar em ninguém melhor do que para me fazer companhia.
Ao chegar ao hotel, vi que se sentara num velho banco perto da recepção, com as sacolas ao lado. Ela comprara uma cerveja e bebericava tranquilamente.
— Consegui um quarto — declarou, ao me ver.
— Um só?
— É o que podemos pagar. Além disso, somos casados. Tenho certeza de que podemos dividir um quarto de hotel sem que nada aconteça. Afinal toda a magia já acabou.
— Ou não tem uma boa opinião sobre casamento, ou não tem uma boa opinião sobre mim. O que é? — perguntei.
baixou os olhos, como se examinasse atentamente a lata.
— O quarto custa vinte e nove dólares. Se gastarmos vinte e um no jantar, ainda teremos cento e cinquenta. O gerente disse que os hambúrgueres do outro lado da rua são muito bons.
Eu peguei as sacolas, junto com a mala.
— Está bem — disse, acompanhando-a pelo corredor estreito até o quarto número sete. Ela abriu a porta, e pude ver onde passaríamos a noite.
Não era exatamente como a suíte de Las Vegas. Havia uma cama de casal, com o colchão afundado no meio, ocupando quase todo o espaço. A mobília era dos anos sessenta, e junto à janela havia uma mesa de fórmica e duas cadeiras de vinil. Havia alguns quadros meio sujos e uma televisão velha.
De repente, não sentia mais fome. Tudo o que queria era cair na cama e dormir. Mas sabia que seria difícil, com no mesmo quarto. Mesmo que não dividíssemos a cama, teria que vê-la semi despida, e precisaria acalmar o desejo que parecia me dominar cada vez que chegava perto dela. Suspirando, atirei as malas sobre a cama, que rangeu.
— Então é isso que se pode conseguir com vinte e nove dólares em Skull Creek — murmurei. — Acho que eu deveria ter deixado você roubar o carro, afinal.
sorriu, e isso pareceu aliviar um pouco a tensão entre nós.
— Estou com fome. Vamos sair para comer? — sugeriu ela.
—✰—
O Happy Jackrabbit Saloon ainda estava em plena comemoração de Ano Novo, quando e eu entramos. Assim que dei uma olhada na clientela, eu a agarrei pela cintura, colocando-me entre ela e os frequentadores mais ousados. Por um momento, ela ficou tensa, mas logo relaxou, deixando que eu a conduzisse para as mesas, no fundo do salão.
Encontrando um lugar vazio, nos sentamos. Poucos instantes depois, uma garçonete vestindo uma camiseta grudada no corpo e uma saia minúscula, apareceu, colocando um cardápio à nossa frente. Embora fosse uma garota atraente, perto de nem merecia uma segunda olhada.
— Veio para o concurso? — perguntou a , sem parar de mascar os chicletes.
— Concurso?
— Se participar, poderá jantar de graça.
— Nós dois?
— Não. — A garçonete sacudiu a cabeça. — Só você.
sorriu, olhando na minha direção, como se me questionasse.
— É claro que vou participar. Qual é o prêmio?
— Dois mil e quinze dólares. Por causa do ano novo.
Os olhos de se arregalaram, e ela virou-se para mim.
— Dois mil! — sussurrou, inclinando-se para mim. — Sou mais esperta do que a maioria das pessoas por aqui. Com o dinheiro podemos comprar um bom carro.
— Não é um concurso de inteligência, meu bem — explicou a garçonete. — É de outros talentos.
— Quais? — indaguei.
— É um concurso de camiseta molhada. Querem beber alguma coisa?
Vi que mal controlava o riso, e me virei para a garçonete, pedindo uma cerveja. pediu um refrigerante, e quando a garçonete afastou-se com os pedidos, eu já sabia o que ela planejava. Assim, achei melhor cortar a discussão, antes mesmo que começasse.
— Minha mulher não vai entrar num concurso de camisetas molhadas. E ponto final.
Embora dissesse isso, bem podia imaginar como ficaria com uma camiseta molhada e transparente. E também imaginava que ela fosse uma dançarina maravilhosa, provocante e sensual.
— Por que não? — perguntou ela. — É perfeitamente legal. E você disse que devíamos pensar em outras opções, dentro da lei.
Eu tratei de afastar, com esforço, as imagens eróticas da mente.
— Nada que diga vai me fazer mudar de ideia. Pude defendê-la de uma velha senhora com uma pistola. Mas veja este lugar. Esse bando de marmanjos não vai ser a mesma coisa. Acho que o número de tatuagens por aqui é igual ao número de dentes perdidos por briga. E não pretendo perder nenhum dente.
— É apenas um concurso — disse . — E estarei vestindo uma camiseta. Qual é o problema? Acha que meus seios não são bonitos o suficiente?
Engoli em seco. Não era essa a questão. Os seios dela eram os mais perfeitos que já vira.
— Acho que tem seios... adoráveis — disse, por fim.
— O bastante para ganhar dois mil dólares.
— Não vai entrar no concurso — repeti, com o tom calmo e autoritário que costumava usar com meus funcionários.
— Sabe o que essas palavras me fazem sentir?
A garçonete trouxe as bebidas, e eu imediatamente tomei um longo gole de cerveja.
— Sei que quer fazer exatamente o contrário do que digo. Não gosta que lhe dêem ordens, sempre foi assim. Se eu tivesse lhe dito para entrar no concurso, teria me acusado de ser um explorador. — Me acomodei melhor no banco, esticando as costas. — Não precisamos do dinheiro. Temos o relógio e o anel.
— Posso entrar no concurso, se quiser.
Inclinando-me, eu cruzei os braços sobre a mesa.
— E poderia ter roubado um carro. Ainda lembro que você costumava dizer e fazer certas coisas só para testar a minha reação.
Resmungando, tomou o resto da soda e se levantou.
— Quando a garçonete trouxer o meu prato, peça para embrulhar. Vou voltar para o hotel. Perdi o apetite.
Observando-a se afastar, vi que ela conseguia evitar as mãos dos homens embriagados e fingia não ouvir os comentários provocativos. Depois de me certificar de que ninguém a seguira, recostei-me na cadeira e tomei outro gole de cerveja. Adoraria ver numa camiseta molhada. Só que todos os homens no salão veriam o que era meu. Havia certas convenções no casamento que deviam ser respeitadas. Mesmo que apenas por poucos dias. Obviamente, eu não a deixaria seminua na frente de um bando de vaqueiros bêbados.
Mais uma vez, a imagem da camiseta molhada, revelando os seios perfeitos, os mamilos eretos, voltou a me assombrar. Esvaziando a caneca de cerveja, pedi mais uma à garçonete. Um zumbido soou dentro do sistema de som, e eu vi um homem enorme surgir no palco, do outro lado do bar.
— Muito bem, rapazes! A diversão vai começar. Meu nome é Leroy e sou o dono desta casa. Por isso, é melhor se comportarem. Ou quebro seus pescoços pessoalmente. Temos um bocado de garotas bonitas por aqui, e um balde de água fria para cada uma delas. Nosso concurso da camiseta molhada vai começar!
A plateia começou a urrar, e eu me acomodei na cadeira. Nunca estivera num lugar como aquele. Geralmente preferia lugares mais refinados, com outro tipo de clientela.
Percebi que a garçonete se aproximava. A garota colocou um prato à minha frente, e olhou para o lugar vazio de .
— Quer que leve de volta para a cozinha? Posso mantê-lo aquecido até ela terminar.
— Ela não vai participar do concurso. Voltou para o hotel — expliquei.
— Mas eu acabei de vê-la atrás do palco...
Balancei a cabeça.
— Deve ser outra pessoa. Por favor, embrulhe que vou levar para o hotel.
A garçonete deu de ombros e afastou-se, levando o prato.
— Acho que estou pegando o jeito com esse negócio de casamento — murmurei, satisfeito comigo mesmo.
—✰—
POV
Eu estava parada no palco, ao lado de outras nove concorrentes. Como usava um vestido ao chegar, tinham me dado uma camiseta com o emblema do Happy Jackrabbit. Mas, na parte de baixo do corpo, usava apenas a calcinha preta que comprara, e os sapatos. Na verdade, estava mais vestida do que quando ia à praia. Embora a camiseta fosse justa, não era completamente transparente. E a calcinha cobria o essencial. Não estava nem um pouco preocupada com as roupas, mas sim com a reação de . Afinal, era o que interessava. Eu sabia que não precisávamos do dinheiro para chegar ao México, já que tínhamos as jóias. Estava usando o concurso para mostrar a ele que nenhum homem podia me dar ordens. Afinal, se queria ficar seminua na frente de um bando de bêbados, ninguém podia me impedir. Nem mesmo um marido.
ficaria furioso. Não desejaria mais me beijar, nem me olhar nos olhos, daquele modo que me deixava sem fôlego. Fechei os olhos, decidida a manter o desafio.
Em menos de vinte e quatro horas, eu havia transformado a minha vida, assim como a dele, em uma completa bagunça. E tudo começara com o simples desejo de recuperar um pouco do tempo perdido. Fora meu sempre presente impulso de provocá-lo que havia nos levado a mudar nosso estado civil. Assim como fora a vontade de salvá-lo de si mesmo que me fizera mentir sobre nossa noite — ou manhã — de núpcias. Mas, sinceramente, o que me impulsionava a levar o desafio adiante, era o desejo de fazer nossa relação voltar ao que era antes.
Cada minuto que passava ao seu lado, via nele um homem que poderia amar de verdade. Compreensivo, leal e protetor.
Mas não podia amá-lo!
Se as coisas tivessem sido diferentes, poderia estar em casa, curtindo uma ressaca de champanhe, em vez de estar no palco de um saloon, usando uma camiseta e pronta para levar um banho de água fria. E estaria aproveitando o feriado ao lado de sua adorável e dócil noiva.
O homenzarrão chamado Leroy anunciou o início do concurso, e eu coloquei um sorriso no rosto ao ver outro homem aproximar-se com o balde. Uma a uma, ele molhou as garotas antes de mim. Quando chegou minha vez, eu fechei os olhos.
Não esperava que a água estivesse tão fria, e quando o choque me atingiu, perdi o fôlego.
Antes que pudesse abrir novamente os olhos, senti que alguém me agarrava pela cintura, me erguendo no ar. Num gesto instintivo eu me defendi, atingindo o captor no rosto, com o cotovelo.
— Que droga, ! Eu já devia ter imaginado que faria isso.
Uma mistura de emoções me dominou. Raiva, surpresa e alívio. E quando me jogou sobre o ombro, segurando-me pelas pernas, eu me senti envergonhada. Sem se importar com minha reação, me carregou pelo salão lotado, enquanto uma das garotas do concurso corria atrás de nós com meu vestido e o suéter. Os homens gritavam sugestões obscenas, enquanto meus cabelos deixavam um rastro de água no chão.
— Me solte! — ela gritei, batendo nas costas de com o vestido.
— De jeito nenhum.
Eu tentei me soltar, mas apenas me segurou com mais força. Ao passarmos pela mesa, a garçonete lhe entregou um pacote de papel pardo, que colocou sob o braço, dirigindo-se para a porta da frente. Ao saírmos, o frio da noite atingiu o tecido molhado da camiseta, e eu comecei a tremer.
— Agora pode me pôr no chão — disse, batendo os dentes de frio.
Ele não pareceu ter me ouvido, e só parou quando chegamos ao hotel, diante da porta do quarto.
— Onde está a chave?
Resmungando, peguei a chave no bolso do vestido. Era humilhante ser carregada como um troféu de guerra! Sem dizer mais nada, ele abriu a porta e me atirou sobre a cama. Eu esperei, pronta para a briga, os cabelos molhados caídos sobre os olhos. Mas ele não discutiu. Apenas ficou em pé, olhando-me com expressão furiosa. abriu a boca, como se fosse falar, mas apenas passou os dedos por entre os cabelos, praguejando. Depois de alguns minutos, pareceu acalmar-se e me fitou nos olhos.
— O que está tentando provar?
— Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa — retruquei, afastando os cabelos dos olhos.
— Pensei que tivéssemos chegado a um entendimento. Sei que gosta de me provocar, mas poderia ao menos demonstrar um pouco de respeito.
Dessa vez fui eu que abri a boca para falar, mas parei. A raiva de parecia ter se transformado em decepção, e eu senti remorso. O que havia de errado comigo? Devia ficar feliz que alguém como se importasse comigo, arrastando-me como um cavaleiro galante, antes que me envolvesse numa confusão.
— Também devia respeitar minhas decisões. Se quero participar do concurso, tenho todo o direito.
Eu caminhei para a porta, mas agarrou meu braço. Eu lutei para me soltar, mas ele segurou também o outro braço, puxando-me contra si.
— Não vai voltar lá!
— Não pode me impedir!
Por um instante, nos desafiamos em silêncio, olhos nos olhos. E então eu vi algo que me fez estremecer. A raiva nos olhos de havia se transformado em desejo.
Um gemido escapou da garganta dele, e sem hesitar, ele me beijou. Seus lábios eram exigentes, e eu lutei para me soltar, com medo de não resistir ao meu próprio desejo. Se não podia me controlar, como poderia controlá-lo?
Quando minha cabeça começou a girar, tentei lembrar de como ele me tratara. E quando os joelhos enfraqueceram, disse a mim mesma que não significava nada para mim. Mas quando, gentilmente, deitou-me na cama, não consegui mais pensar.
A cama rangeu, mas o ruído não foi suficiente para diminuir a paixão. Deitando-se sobre mim, apoiou as mãos ao lado da minha cabeça, sem deixar de me beijar, mantendo-me prisioneira.
O peso dele, os músculos firmes contra meu corpo e a camiseta molhada, provocavam sensações que tentava ignorar. Sua boca deslizou pelo meu pescoço, chegando ao ombro. Afastando a camiseta, ele me mordeu de leve.
Suas mãos deslizaram até chegarem aos seios. Meu corpo traía qualquer tentativa de afastá-lo, enquanto uma onda de desejo incontrolável me dominava. E quando os dedos dele acariciaram de leve os mamilos eretos, quase não consegui respirar, e gritei, arqueando o corpo.
Com um gemido, segurou meu rosto, virando-se de modo a me colocar sobre ele, beijando-me com tanta intensidade que não conseguia mais pensar. A única coisa real era o desejo que nos dominava.
Procurei os botões da camisa dele, desabotoando-os com dedos trêmulos. A camisa se abriu, e eu me inclinei, beijando-o no pescoço, no peito. O pulso dele se acelerou, e eu soube que me desejava, tanto quanto eu o queria.
Apoiando-me nos calcanhares, vi que os olhos dele estavam embaçados de paixão. O membro ereto era evidente sob o tecido da calça, e podia sentir a rigidez entre minhas pernas. Com um sorriso malicioso, eu me acomodei melhor sobre ele, fazendo-o gemer, num misto de dor e prazer.
Como tudo aquilo podia ser tão errado, e tão certo, ao mesmo tempo? Queria que fizesse amor comigo. Queria esquecer todos os obstáculos que haviam entre nós. Eu suspirei, encostando a testa na dele. Lentamente, ele correu os dedos pelos meus cabelos, beijando-me de leve.
— Oh, ... O que vamos fazer?
Roçando os lábios contra os dele, eu provoquei:
— Você me quer?
— Quero — murmurou ele, beijando-me de novo, com paixão. — Quero muito. — As línguas se tocaram, lentamente. — Eu te amo, .
— Eu também te amo.
Eu percebi o que tinha dito no mesmo instante em que percebeu o que ele havia dito. Como num passe de mágica, a paixão desapareceu. Eu suspirei e fitei-o, surpresa, sem saber o que dizer.
— Eu... nós... — Eu me levantei, ficando ao lado da cama.
Com um gesto, ele interrompeu a explicação.
— Foi minha culpa.
— Não — protestei. — Foi minha culpa.
também levantou-se, ficando do lado oposto da cama. Rapidamente abotoou a camisa, ajeitando-a dentro da calça. Constrangido, forçou um sorriso.
— Preciso sair.
— Sair? — perguntei. — Para onde?
— Eu... — gaguejou. — Ao Happy Jackrabbit... Não paguei a conta. — Olhando à volta, procurou o vestido, encontrando-o ao lado da porta. — Vou pegar um pouco de dinheiro.
Assenti, vendo-o pegar algumas notas. Então ele dobrou o vestido, colocando-o sobre a mesa, junto à janela, e me olhou de esguelha.
— É melhor tirar essa camiseta molhada. Não quero que... pegue um resfriado.
Eu percebi que o tecido úmido revelava os mamilos eretos e cruzei os braços sobre o peito, sentindo o rosto queimar. deu de ombros e se virou, abrindo a porta. Deitando de costas, cobri o rosto com as mãos.
— Por que não posso ser como as outras esposas? Elas passam o tempo todo inventando desculpas para evitar o sexo. Dor de cabeça, cansaço...
Só que não queria inventar desculpas. Queria fazer amor com ele, sentir o corpo forte contra o meu, saborear seus beijos ardentes.
Só não queria me apaixonar!
N/A: Sem prévia do próximo capítulo dessa vez, porque ele não está pronto xD
Finalmente as coisas esquentaram um pouquinho... Mas, a cada capítulo que passa, eles ficam mais próximos do tão desejado - e temido - divórcio. O que será que precisa acontecer para que ambos abram suas cabeças-duras e parem de lutar com o que estão sentindo?
Talvez a resposta esteja no próximo capítulo. Ou não xD
Muito obrigada, meninas que comentaram <3 E as leitoras fantasmas tbm ^~
CAPÍTULO 6
The Gambling
POV
Achei um lugar no bar e me sentei no banco, perto de um vaqueiro grisalho, que vestia um colete de couro, e de uma mulher de meia-idade, que usava uma calça jeans muito justa. O homenzarrão que anunciara o concurso se aproximou. Tinha a palavra "Mamãe" tatuada no braço e a barba cerrada.
— Uma cerveja — pedi, colocando o dinheiro sobre o balcão.
— Eu não deveria servi-lo — resmungou o homem. — Não pode roubar uma concorrente no meio do concurso.
Eu suspirei. Talvez fosse melhor ir embora. Considerando o tamanho, e o temperamento, de Leroy, era melhor ser cauteloso.
— Minha esposa gosta de me provocar. É minha responsabilidade mantê-la na linha.
— Sua mulher? — riu Leroy, colocando uma cerveja à minha frente. — Acho que eu também não gostaria de ver minha patroa mostrando o corpo para esse bando de marmanjos. Mas tenho que dizer que sua garota era a favorita. Poderia estar mais rico se a tivesse deixado participar. — Enxugando a mão num pano encardido, estendeu-a para mim. — Leroy Harbinson. Sou o dono do saloon.
— . Muito prazer.
Enxugando o balcão à minha frente, Leroy me observou atentamente.
— Não é das redondezas, é?
Peguei um amendoim na tigela à minha frente e o abri com os dentes.
— Estamos de passagem, e tivemos um... problema com o carro. Por acaso conhece algum lugar onde possamos alugar um?
— Alugar um carro? — Leroy caiu na gargalhada. — Onde pensa que está? Los Angeles?
Eu me inclinei, apoiando os cotovelos no bar.
— Estamos indo para o México, e uma maluca roubou nosso carro, na rodovia que fica ao norte. Precisamos de um carro.
— Estão fugindo da polícia?
— Não. — Balancei a cabeça.
— Então, por que a pressa?
Quando eu não respondi, o homenzarrão serviu uma dose de tequila e colocou-a à minha frente.
— Beba. Qualquer problema fica mais fácil de lidar depois de uma dose ou duas.
— Prefiro não beber — expliquei, afastando o copo. — Na última vez que bebi, acabei casado com a minha irmã de criação, logo depois de ficar noivo de outra.
Leroy piscou, parecendo surpreso, e então sacudiu a cabeça, empurrando o copo de volta para mim.
— Você tem mesmo um problema — disse, servindo-se de uma dose e erguendo o copo. — Às mulheres. Ruim com elas, pior sem elas!
Relutante, eu peguei o copo, brindei com Leroy e engoli o líquido de uma vez só. A bebida queimou minha garganta, mas logo uma sensação agradável me dominou. Parecia que a tequila tinha clareado minha mente, afastando a confusão.
— Não é que eu não goste dela — expliquei. — Isto é, ela é uma mulher especial. Bonita, inteligente...
— Do tipo que faz a gente perder a cabeça — concluiu Leroy, piscando o olho.
Franzi a testa e pigarreei.
— Olha, sei o que pode ajudá-lo a esfriar a cabeça. Vou jogar pôquer com alguns rapazes na sala dos fundos, daqui a pouco. Por que não joga conosco?
— Não... Não sou bom jogador. Perdi tudo em Las Vegas.
— É só um jogo entre amigos — explicou Leroy. — Adoramos jogar com amadores. Fica mais divertido.
— Não tenho muito dinheiro.
— Nem precisa — insistiu Leroy, pegando uma garrafa de tequila e copos, enquanto gritava instruções para o outro barman.
Com um gesto na minha direção, dirigiu-se para o fundo do bar. A princípio, eu pensei em recusar. Afinal, não entendia nada de pôquer. Mas Leroy não era o tipo de homem que aceitava um não como resposta. E eu queria, precisava tirar da cabeça, ao menos por algum tempo.
Ao passarmos pelo palco, a imagem dela voltou à minha mente, afastando o efeito da tequila. Quase podia sentir o corpo dela sob o meu, a curva suave dos quadris, os seios macios. O desejo voltou, intenso, e eu gemi baixinho.
Por que fugira? Podiamos estar, naquele momento, entrelaçados na cama, nus e dominados pela paixão, o corpo dela arqueando-se sob o meu, até atingirmos um clímax que nenhum de nós jamais esqueceria.
Tudo estava indo tão bem... até eu dizer que a amava. Eu massageei a nuca, pensativo. As palavras tinham escapado sem querer. Não sabia por que as dissera. Claro que eu gostava de . Mas amar, e ainda mais do jeito que dera a entender? Era loucura. Além disso, ela me irritava profundamente.
Mas, pensando bem, como podia saber se estava amando ou não? Nunca amara ninguém, e nem percebera que não amava Emily. Mas não saberia dizer com certeza se amava . Havia algo nela que desafiava toda lógica. Era uma mulher excitante, que despertava em mim um lado que nem imaginava ter. Apaixonado, impulsivo.
— Não vem?
Mergulhado em pensamentos, não percebera que Leroy esperava por mim.
— Vou, sim.
A sala dos fundos era pequena e abafada, com uma pequena mesa coberta de feltro no centro. Sentei-me perto de Leroy e sorri ao ser apresentado aos outros rapazes. Havia Darnell, primo de Leroy e tão grandalhão quanto ele; Euby, outro primo, cerca de trinta quilos mais gordo que os outros dois, e um vaqueiro, Breezy.
Eu tinha uma noção das regras básicas do pôquer, mas assim que deram as cartas, Leroy me explicou o jogo. Cada um colocou dez dólares sobre a mesa, e o jogo começou.
Na primeira rodada, eu perdi. Mas a sorte começou a mudar. Minha experiência em negócios fazia com que blefar fosse natural. O dinheiro começou a se empilhar a minha frente, até que comecei a perder de novo, principalmente para Darnell.
Enquanto jogávamos, falávamos de esportes e trabalho. Mas enquanto as canecas de cerveja se esvaziavam, começamos a falar de mulheres. Especialmente da minha mulher.
— Aposto que é uma dessas mulheres modernas — disse Leroy. — Como se chamam mesmo?
— Feministas? — perguntei.
— Sim, isso mesmo. Esperam que você recolha as próprias meias, coloque o lixo para fora e feche a tampa do vaso.
— Bem... eu não sei — disse. — Fazia muito tempo que não a via. Nos reencontramos na véspera do Ano Novo, e casamos na mesma noite. Não tivemos muito tempo.
— É tempo suficiente — disse Leroy.
— Não acho. Estamos indo para o México, para nos divorciarmos.
— Caramba! — comentou Darnell. — Ela deve ser mesmo muito ruim, para querer se divorciar assim tão depressa. Pensei que Leroy tivesse o recorde de casamento mais curto. Um deles durou três semanas.
Eu sacudi a cabeça e pedi três cartas.
— Não sei, mas o casamento não é tão ruim. Estou até gostando. — Eu observei as cartas, planejando a próxima jogada.
— Sexo bom, não é? — disse Leroy.
— Bem, a verdade é que... não me lembro, porque só fizemos sexo uma vez, e eu estava bêbado. E não acho que faça diferença. Amo pelo que ela...
— Você a ama? — interrompeu Leroy.
Eu parei, atirando as cartas na mesa e esfregando os olhos.
— Não... Deve ser a cerveja.
— Isso mesmo — provocou Leroy. — Ponha a culpa na cerveja.
O jogo continuou até além da hora de fechar, o dinheiro passando de mão em mão. Eu achei melhor evitar outras confissões e acabei bebendo bem menos do que os companheiros. Quando decidimos acabar o jogo, eu tinha trezentos dólares. Todos afastaram-se da mesa, mas enquanto reclamavam das perdas, eu peguei meu monte denotas, atirando-o sobre a mesa.
— Preciso de um carro — anunciei, colocando também o relógio sobre a pilha. — É um relógio caro. Vale alguns milhares de dólares. Será que algum de vocês tem um carro? Podemos jogar.
Os homens olharam um para o outro, e também para o centro da mesa. Leroy puxou a cadeira e voltou a sentar-se.
— Tenho uma caminhonete. Ford 83, com cerca de 150 mil quilômetros rodados. Foi reformada no ano passado, mas não acho que vale o que está apostando.
Eu me acomodei na cadeira, embaralhando as cartas.
— Não faz diferença. Se tem uma caminhonete, temos um jogo.
Eu coloquei dez cartas à nossa frente, e ao pegar as minhas, não sabia se preferia perder ou ganhar. Vencer significava que eu e poderíamos seguir para o México, para obter o divórcio. Perder significava mais uma noite no hotel, e mais uma chance de ver o que aconteceria entre nós se continuassem no mesmo quarto.
Peguei as cartas, ciente de que estava abrindo mão da decisão e deixando-a a cargo da sorte. Fechando os olhos, hesitei ao olhar o que tinha em mãos.
Mais do que um relógio caro, era o meu futuro que estava em jogo.
—✰—
POV
Quando acordei, na manhã seguinte, estava sozinha. O outro lado da cama estava intacto, mostrando que ninguém dormira ali. A camiseta do concurso continuava ao lado da porta. saíra e não voltara.
Meu primeiro pensamento foi de que ele me abandonara, deixando-me entregue ao próprio destino. Mas imediatamente descartei a idéia. jamais faria isso. Levava a sério as responsabilidades de marido. Pelo menos as que ficavam fora do leito matrimonial.
Meus pensamentos voltaram à noite anterior. Tínhamos chegado tão perto! E não tinha certeza se estava aliviada ou desapontada, por termos parado. Jamais perdera o controle, como acontecera com . Tinham existido outros homens em minha vida, obviamente, mas sempre de acordo com minhas próprias regras. O sexo tinha sido interessante, excitante até, mas nada se comparava ao desejo que sentia perto de . Não tinha forças para resistir a ele.
Virando-me de bruços, cobri a cabeça com o travesseiro. As palavras dele continuavam ecoando em minha mente. "Eu te amo, ..."
Mas eu sabia o que isso significava. Os homens viviam misturando as coisas. Para eles, "Eu te amo" significava "Quero fazer amor com você". queria apenas meu corpo, não meu coração. Um homem como ele não era capaz de amar de verdade.
Eu saí da cama e fui para o banheiro. Ao ver meu reflexo no espelho, gemi. Dormir com os cabelos molhados não contribuía nem um pouco para a boa aparência na manhã seguinte.
Rapidamente, tomei um banho e me vesti, passando o pente nos cabelos embaraçados. Ao abrir a janela, a luz brilhante da manhã atingiu meus olhos, e eu me encolhi.
Uma velha picape estava parada bem em frente ao quarto, e ao olhar pela janela aberta, do lado do motorista, vi esticado no banco da frente, de olhos fechados. Por um momento pensei em deixá-lo dormir, já que parecia exausto, um braço sobre a cabeça, numa posição desconfortável. O cabelo estava despenteado, e no rosto havia uma mancha arroxeada.
— ? — chamei. Como ele não respondeu, repeti, mais alto: — !
Os olhos dele se abriram, mas logo cobriu-os com a mão, para protegê-los do sol brilhante. Ao me ver na janela, resmungou e virou o rosto.
— Me deixa!
Eu sorri, percebendo como ele ficava ainda mais bonito pela manhã, sonolento e indefeso. A sombra da barba escurecia o rosto, e eu reconheci que era o tipo de homem com quem gostaria de passar o resto da manhã na cama.
— Dormiu aí a noite toda?
— Desde as três da manhã.
— Não acha melhor sair daí antes que o dono apareça?
— Sou o dono — resmungou, virando de lado e tentando ficar mais confortável.
— É mesmo?
— Ganhei no pôquer. Agora temos nossa linda picape. Mais um de nossos bens.
— Não sabia que jogava pôquer — comentei, mais que um pouco surpresa.
— Nem eu. Agora, quer me deixar dormir? Estou estourando de dor de cabeça.
Eu dei meia-volta, atravessei o quarto e saí. Percorri apressada o corredor, saí para a rua e contornei o hotel até o estacionamento. Com algum esforço, consegui fazer se sentar.
— Vai se sentir melhor depois que tomar um banho.
— Nunca me senti melhor — retrucou , cambaleando para fora da picape.
Eu passei o braço dele sobre meu ombro, e o ajudei a caminhar até o quarto. tropeçou, e eu o segurei pela cintura, minha mão deslizando sob a camisa, que estava fora da calça. Quando meus dedos tocaram sua pele nua, uma onda de desejo me inundou e, sem querer, gemi baixinho. Eu o olhei de esguelha.
— O que aconteceu com seu rosto? Andou brigando?
Erguendo a mão, ele tocou o rosto, próximo ao olho, e encolheu-se de dor.
— Foi você. Na noite passada.
— Enquanto estávamos... na cama?
— Não. Quando a carreguei para fora do bar. Você me deu uma cotovelada.
— Não sei como me aguenta — provoquei, sacudindo a cabeça.
— Também não sei — riu . — Acho que devo ser meio masoquista. Esta ressaca é uma prova disso.
Eu consegui levá-lo até o quarto e o deixei em pé, ao lado da cama, enquanto ia ao banheiro abrir o chuveiro. Ao voltar, já havia tirado a camisa. Meu olhar percorreu os ombros largos, a cintura fina, os músculos suavemente delineados, e meu coração bateu mais forte. Imaginei minhas mãos deslizando por aquele corpo, os dedos percorrendo o caminho do tórax até a barriga lisa, sentindo a pele cálida ao toque.
Antes de fugirmos para Las Vegas, jamais havia pensado em como um homem atraente. Mas seminu, com os cabelos despenteados e olhos sonolentos, era o homem mais sensual que já vira. Eu forcei um sorriso, mas logo desviei o olhar.
— O que foi? — perguntou .
— Nada.
Atirando a camisa amassada sobre a cama, ele virou-se e me encarou.
— Vou tomar banho, e prefiro fazê-lo sem roupa. Se isso a incomoda, é melhor sair.
— Espero lá fora — retruquei, respirando fundo. Mas quando já estava na porta, me virei e percebi que ele me fitava intensamente. Não precisava perguntar o que ele estava pensando. Era óbvio.
— Na noite passada, eu... —comecei. — Não tive a intenção de...
passou distraidamente a mão pelo peito, os olhos presos aos meus. Eu queria cair nos braços dele, entregar-me ao desejo intenso que nos dominara na noite passada, explorar cada pedacinho da pele dele com a língua. Mas ambos ficamos parados, incapazes de nos mover.
Um sorriso iluminou o rosto dele, e ao falar a voz era suave, quase terna.
— Nem eu. Apenas nos deixamos levar por um impulso.
— É verdade — concordei. — Afinal... nós somos tão diferente, mal nos suportamos. Como poderíamos nos... — Engoli em seco.
— Nos amar?
Pronto! Ele dissera as palavras que eu tentara evitar. Não pronunciadas, elas não pareciam tão poderosas. Só que ouvi-las não fazia com que soassem menos reais. Ou menos ridículas. Ele era noivo de Emily, embora fosse meu marido. O único modo de consertar tudo era conseguir o divórcio. Se ele realmente quisesse voltar para Emily, eu não tinha o direito de impedi-lo. Mas como podia fazer isso, se o amava tanto?
Eu abri a porta e caminhei para o estacionamento. O vento forte da manhã levantava nuvens de poeira, erguendo minha saia e embaraçando meus cabelos. Skull Creek parecia bem mais deprimente à luz do dia. O Happy Jackrabbit estava vazio, com apenas alguns carros parados na frente.
Eu me perguntei quem teria levado para casa o prêmio de dois mil dólares.
Andando pelo acostamento da rodovia, não conseguia deixar de pensar como gostaria de ficar mais um pouco em Skull Creek. Como alguém que jogava tão mal quanto tinha conseguido ganhar uma picape? Será que o destino estava interferindo, e nos dizendo que devíamos chegar ao México e nos divorciar?
Eu me virei e olhei para o hotel. À frente dele estava parada a picape que me levaria ao fim do casamento. Um sorriso lento curvou meus lábios, assim que a ideia surgiu. Aquela picape era o único obstáculo que nos impediria de passarmos mais um dia juntos. Talvez não soubesse como lidar com , mas por certo saberia dar um jeito na picape.
— Estou tentando salvar meu casamento — murmurei. — No amor e na guerra, vale tudo.
N/A: Será que isso vai dar certo?
~Nikki
CAPÍTULO 7
The Feelings
POV
— Funcionou direito ontem à noite — eu disse, esfregando a testa para tentar diminuir a dor de cabeça. — Dirigi até aqui sem problemas.
Leroy inclinou-se sobre o capo e examinou o motor, mexendo nas peças cheias de graxa com os dedos gorduchos.
Depois de tomar banho, eu decidira abastecer a picape, enquanto esperava voltar. Ao ligar a chave, o motor não pegara. Eu não entendia nada de mecânica, e ao ver Leroy do outro lado da rua, acenara, chamando-o.
Em poucos minutos, havia uma multidão à nossa volta. O gerente do hotel, o sobrinho, o primo de Leroy, todos davam palpites. Só que, infelizmente, não pareciam saber muito mais do que eu sobre mecânica.
Leroy cuspiu o tabaco que mascava, voltando a examinar o motor.
— Nunca tive problemas. Dirigia esta picape diariamente, até comprar a nova. Não consigo imaginar o que aconteceu.
— Talvez seja melhor chamar um mecânico no posto — sugeri. — Não entendo nada de carros.
— Nem eu — disse Leroy. — Mas sempre a mantive em boas condições. — Inclinando-se, mais uma vez, sobre o motor, resmungou. — Aqui está o problema. Alguém andou mexendo no distribuidor.
Os outros homens aproximaram-se para espiar e fazer comentários.
— Veja — apontou Leroy. — Esta peça está solta.
— Passei num quebra-mola antes de entrar no estacionamento — eu disse. — Acho que se soltou com o tranco.
Leroy caiu na gargalhada, o som intenso carregado pelo vento.
— Vocês, garotos da cidade! Nenhuma lombada faria isso. Alguém abriu o capo e mexeu de propósito.
— Mas quem faria isso? — perguntei, confuso.
Leroy endireitou-se, limpando as mãos sujas de graxa na camisa de flanela.
— Não sei. Mas tem uns sujeitos estranhos rondando a cidade.
— Pode consertar?
— Já consertei. Vamos, tente agora.
Eu entrei na picape e virei a chave. Como Leroy dissera, o motor pegou de imediato. Desligando a chave, voltei a descer.
— Muito obrigado pela ajuda.
Leroy deu de ombros.
— Por nada. Você ganhou-a num jogo justo, embora nunca tenha visto um sujeito com tanta sorte. Apostei uma picape que funcionava perfeitamente, e é o que você vai ter.
Agradeci novamente ao grupo e em seguida eles se dispersaram em várias direções. Então, me virei para a picape e observei-a por um longo tempo. Lentamente, percebi o que acontecera. Se sabia como abrir e roubar um carro, por certo sabia como mexer no motor.
Mas por quê?
"Eu também te amo."
As palavras vontaram a minha mente, e eu fechei os olhos, sentindo o sol forte da manhã queimando na pele. Desde que a deixara, na noite anterior, tentava esquecer o que acontecera entre nós. E tinha conseguido, até aquele momento. Mas bastava parar por alguns instantes, e tudo voltava. O desejo incontrolável, a pele dela sob meu toque.
Abrindo os olhos, eu olhei a picape. mexera no distribuidor, pois assim teríamos que passar mais uma noite juntos. Só que as intenções dela deviam ter outra razão. Era claro que não me amava. Ela mal me suportava. Provavelmente mexer na picape era só mais um jeito de me provocar.
A dor de cabeça estava insuportável, e parecia atrapalhar mais ainda os pensamentos. Se não conseguia entender quando estava sóbrio e raciocinava com clareza, como poderia com uma ressaca daquela?
Jogando as chaves no bolso, voltei para o quarto. Com um gemido, me deixei cair na cama e fechei os olhos. Estava quase adormecendo quando ouvi a porta se abrir. Mantendo os olhos semicerrados, vi entrar na ponta dos pés e fechar a porta, silenciosamente. Ela colocou a sacola que carregava sobre a cômoda e me observou longamente, com uma expressão indecifrável. Então ela andou até a camisa que eu havia tirado antes do banho e a pegou. A princípio, eu achei que ela fosse dobrá-la e colocar na mala. Mas aproximou-a do nariz, respirando profundamente, os dedos apertando o tecido.
Ela gemeu baixinho. Nenhuma mulher ficava cheirando a camisa de um homem se não tivesse um forte sentimento por ele. Nem mexeria no distribuidor.
Virando-me de lado, me apoiei no cotovelo para fitá-la.
— Conseguiu o café da manhã?
deu um pulo e atirou a camisa na cadeira mais próxima.
— Eu... não percebi que estava acordado.
— Não estava. Mas agora estou. O que tem na sacola?
— Café e donuts.
Eu saí da cama, esticando os braços sobre a cabeça.
— Sabe, , eu estava pensando que poderíamos ficar aqui mais um dia.
— Aqui? — Ela piscou, surpresa. — E por que ficaríamos mais um dia?
Era mesmo uma boa atriz. E, se não estivesse enganado, mais uma vez faria o oposto do que eu dizia.
— Estou muito cansado. Não tenho a menor vontade de entrar agora naquela picape. Pensei que poderíamos ficar aqui, bem acomodados na cama, e dormir por várias horas.
— Acho... melhor irmos embora — ela disse. — Sei como está ansioso para obter o divórcio.
— Tanto quanto você — respondi, dando de ombros.
— Está bem — disse ela, num tom de desafio. — Vamos embora. Estou pronta.
Eu sorri, enquanto colocava minhas coisas na mala. Alguns minutos depois, abríamos a porta, saindo para o sol forte do deserto. Eu coloquei as sacolas de atrás do banco e atirei minha mala na carroceria. Então dei a volta, e abri a porta do passageiro.
— Sua carruagem a espera — brinquei.
me entregou o saco com o café da manhã e entrou na picape. Coloquei o saco no colo dela, fechei a porta e dei a volta. Assim que me acomodei atrás do volante, sorriu para mim.
Mas quando eu girei a chave e o motor funcionou, o sorriso dela desapareceu aos poucos.
— O que foi? — perguntei, vendo minhas suspeitas confirmadas.
— Nada. O motor... parece ótimo.
— É perfeito — comentei, sem fitá-la, enquanto manobrava para pegar a estrada. — Vai nos levar depressa ao México.
— Que bom — murmurou . — É exatamente aonde quero ir. México.
—✰—
POV
Não sabia se tinha adormecido. Depois de algum tempo, a paisagem que achara magnífica tornara-se monótona, com as mesmas montanhas cinzentas acompanhando o deserto. De vez em quando, um pequeno povoado ou um punhado de trailers quebravam a monotonia. Eu fechara os olhos para evitar a poeira, e ao abri-los novamente, a picape percorria ruas estreitas, cheias de turistas e vendedores ambulantes, vendendo chapéus de palha e cobertores coloridos.
Esfreguei o pescoço dolorido, me endireitando.
— Chegamos?
olhou para mim e sorriu.
— Dormiu um bocado. Devia estar cansada.
— Acho que estava. Você não?
— Não vejo a hora de estacionar — disse, dando de ombros. — Dirigem como louco por aqui.
A celebração do ano novo não dava sinais de que iria acabar em Tijuana. Embora fosse sexta à tarde, turistas e moradores da cidade se misturavam, cantando e dançando. Como Las Vegas, a cidade tinha um ar de festa. A mistura do consumismo americano com o charme do México dava a Tijuana uma atmosfera exótica.
— Sabe para onde estamos indo?
Ele espiou pela janela e virou uma curva, parando em frente a um pequeno hotel.
— É aqui. Hotel Florência. O guarda na fronteira o indicou.
Eu olhei para o hotel, um prédio simples de tijolos, pintado num tom suave de pêssego. Varandas com grades de ferro trabalhado cercavam as janelas do segundo e terceiro andar, e flores enfeitavam os vasos junto à entrada.
— Acho que vamos ficar mais uma noite — comentei.
— Já está um pouco tarde e nós dois estamos cansados — replicou . Ele saltou da picape, pegou as sacolas e deu a volta para abrir a minha porta. Meus joelhos fraquejaram ao descer, e ele me segurou pela cintura, enquanto andávamos até o hotel.
A aparência externa simples não correspondia ao interior, aconchegante e bem decorado. Embora fosse um hotel antigo, era limpo e conservado. O recepcionista imediatamente veio nos ajudar com a bagagem, e logo providenciou um quarto.
Enquanto os acompanhava, eu observei que o hotel fora construído à volta de um jardim adorável, cheio de plantas exóticas e flores. O barulho da rua parecia desaparecer, e eu vi um passarinho que cantava, empoleirado numa das árvores.
— É lindo — murmurei.
O recepcionista explicou que o hotel servia jantar aos hóspedes das sete às nove horas, e o café da manhã também estava incluído. Ele nos conduziu por uma escada externa, de ferro trabalhado, que levava ao segundo andar.
Como o resto do hotel, nosso quarto também era decorado com simplicidade. Eu coloquei as sacolas sobre a cama e espiei o banheiro, pequeno, mas impecável. Ao virar-me, percebi que me observava da porta.
— É bonito — eu disse.
— Também ganhei algum dinheiro ontem à noite, além da picape — disse ele. — Podemos gastá-lo para comemorar nossa última noite de casados.
Senti meu coração se apertar ao perceber que não haveria mais noites com .
— E o dinheiro do divórcio?
— Vou sair e vender meu relógio.
Olhei para a mão e tirei o anel, entregando-o a .
— Leve isto. Vamos precisar de dinheiro para voltar para casa.
hesitou antes de pegá-lo, mas por fim assentiu.
— Bem, logo estarei de volta.
— Vou com você — ofereci.
— Não. Fique aqui. Relaxe, tome um banho, durma um pouco. Volto para o jantar. — Ele virou-se para sair, mas parou e me olhou por sobre o ombro. — Não saia sozinha. Esta cidade não é segura para uma mulher.
— Não se preocupe. Não vou sair.
Ele sorriu, como se estivesse satisfeito com meu comportamento incomum. Depois que ele saiu, fiquei olhando por um longo tempo a porta fechada, imaginando por que parecia haver agora uma distância tão grande entre nós. parecia apreensivo, com medo de me encarar.
Olhando novamente para a mão, percebi como parecia estranha sem o anel. Em pouco tempo me acostumara a ele, que me dava a sensação de estar casada. Mesmo que de um modo não convencional. Sem o anel, parecia que o elo entre nós fora irremediavelmente quebrado.
Se acabar um casamento de dois dias já era tão doloroso, eu jamais ia querer passar por outro divórcio. Parecia haver um vazio no lugar do meu coração, e eu fiquei imaginando se, depois de tudo, aquela seria a última vez que veria .
— Eu não o amo — murmurei, cerrando os punhos. — Não quero. De jeito nenhum!
Meus pensamentos divagaram para um futuro próximo. Numa manhã estaria lendo o jornal, enquanto tomava o café, e veria o anúncio do casamento de . Talvez uma foto. Com Emily. Ou outra mulher, vestida de branco, já que duvidava que Emily o aceitaria de volta.
De qualquer modo, ele teria a esposa que sempre desejara. Dócil, respeitável e totalmente dedicada a ele. E teriam filhos, é claro. Todos com o sorriso e os lindos olhos do .
Eu gemi, apertando as têmporas. O divórcio ficava cada vez mais difícil. A esperança de um futuro com havia desaparecido. Nunca entraria com ele numa igreja cheia de flores, nem teríamos filhos.
Atirei-me na cama e cobri o rosto com um travesseiro. Não queria pensar nele, e logo percebi como estava suada, os cabelos embaraçados. Com um gemido, me levantei e tirei a roupa. Descalça, fui para o banheiro e abri a torneira de água quente na banheira.
A água tinha um efeito delicioso na pele resseca pela poeira da estrada, e eu submergi, molhando os cabelos. Deitada na água quente, eu fechei os olhos. Imagens de dançaram em minha mente. Parecia que quanto mais tentava afastá-lo, mais ele se enraizava nos meus pensamentos.
O único modo de esquecê-lo era dormir. Eu fechei os olhos, respirando fundo, sentindo a água me relaxar. Algum dia não me lembraria mais dele... como me tocava... e beijava.
Quando abri os olhos, o banheiro estava escuro, e a água, gelada. Com um gritinho, saí depressa da banheira e me enrolei na toalha. Os dentes batiam, e correndo para o quarto, enfiei pela cabeça o único vestido que ainda não usara, sem me importar com a roupa de baixo. Então me sentei na cama, para esperar a volta de .
Já fazia muito tempo que ele saíra. Ansiosa, fui até a janela, e a abri. Pouco depois, fui até a porta, do outro lado do quarto, e abri também. A brisa suave da noite encheu o quarto, mas não aliviou a minha tensão. Eu comecei a andar de um lado para o outro, e por fim saí para a varanda, observando o pátio abaixo.
Luzes coloridas haviam sido colocadas nas árvores, iluminando suavemente os hóspedes. Um guitarrista passeava entre as mesas, cantando canções em espanhol. Mas nem a música conseguiu me acalmar. Conforme os minutos passavam, ficava cada vez mais preocupada, imaginando que se perdera, ou que estava ferido. Que tinha sido sequestrado, ou pior, morto!
Quando ele chegou, meia hora mais tarde, já imaginara uma história terrível, envolvendo a loja de penhores, traficantes e policiais corruptos. sorriu ao me ver, mas ao perceber a expressão tensa no meu rosto, seu humor mudou.
— Onde esteve? — perguntei, quase correndo para ele. — Ficou muito tempo fora. Eu estava preocupada.
— Você? Preocupada comigo? — Ele riu, satisfeito. — Agora sabe como me senti o tempo todo.
— Fiz uma pergunta — insisti, sem querer reconhecer que ele estava certo.
— Voltei ao outro lado da fronteira — explicou. — Quando tentei penhorar o relógio aqui, queriam pagar com pesos. Então, voltei a San Isidro. — Ele tirou um envelope cheio de dinheiro do bolso, pegou algumas notas e estendeu-o para mim.
— O que é isso?
— Dinheiro.
— Não quero seu dinheiro — retruquei, afastando-me dele e entrando no quarto.
me seguiu e insistiu.
— Não seja teimosa. O dinheiro é propriedade comum. Compramos estas coisas enquanto estávamos casados. E você vai precisar de dinheiro para voltar para casa.
— Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim.
— Droga, , pegue o dinheiro. Não precisa usá-lo para ir a Chicago. Tire férias, afaste-se por uns tempos. Volte a Las Vegas e jogue tudo. Não me importo.
Praguejando, eu arranquei o envelope da mão dele e o atirei na cama.
— E claro que não se importa.
suspirou e aproximou-se de mim.
— Não foi o que eu quis dizer. — Ele ergueu com o dedo o meu queixo. — Só quero que seja feliz. Tem sido difícil para nós dois. Se precisar de algum tempo, antes de voltar a Chicago, acho que deveria aceitar.
Eu me virei, recusando-me a fitá-lo. O tempo não iria ajudar. Só tornaria a solidão ainda maior, e as lembranças mais difíceis de esquecer. Eu o ouvi suspirar, enquanto se afastava e pegava a mala que colocara sob a cama. Um vazio imenso tomou conta do meu coração.
Por que não podíamos retomar o que havíamos começado na noite anterior, entregando-nos à paixão, sem pensar em mais nada? Queria pegá-lo pela mão e levá-lo para a cama. Abraçá-lo, perder-me na sensação do corpo dele junto ao meu. Fazer amor com ele tinha sido apenas uma fantasia. Mas agora que estavámos tão perto do divórcio, de separar-nos para sempre, queria tê-lo ao menos uma vez, para aplacar o desejo que não podia mais controlar.
Eu engoli em seco, tentando reunir coragem para dar o primeiro passo.
— Aonde vai? — murmurei.
— Vou ficar no quarto ao lado. Acho que precisa de um tempo sozinha. Afinal, amanhã, a esta hora, estaremos divorciados. Precisamos nos acostumar de novo à vida de solteiros. — Ele tentava brincar, mas eu não achava a menor graça.
— É verdade — murmurei, vendo-o se afastar, mas desejando que ficasse.
Com um sorriso meio tímido, cruzou o quarto e me beijou de leve, no rosto.
— Boa noite, . Durma bem.
Eu arrisquei um olhar, tentando ver nos olhos dele o que sentia, mas vi apenas indiferença.
— Boa noite.
Quando a porta se fechou atrás dele, eu me sentei na beirada da cama, as mãos cruzadas no colo. Talvez estivesse certo. Era melhor nos acostumarmos à vida de antes... Separados, claro.
Eu senti meu coração se partir. Por mais que a mente me dissesse que isso era certo, não conseguia colocar no passado.
Se ao menos pudesse convencer meu coração...
—✰—
— Um divórcio imediato, señor ? Infelizmente, não é possível.
Lentamente, eu me recostei na cadeira, tentando não demonstrar o alívio que sentia. Seria verdade? Desde que chegara a Tijuana, tinha imaginado que o curto casamento chegaria ao fim.
Tínhamos encontrado dezenas de advogados na lista telefónica, todos oferecendo rapidez e bons preços. Mas confiara no recepcionista, que indicara um advogado cujo escritório ficava a poucas quadras do hotel. O homem ligara, marcando uma hora, no final da manhã, e nós chegamos ao minúsculo escritório no horário combinado.
Eu dormira mal, os sons de Tijuana invadindo-lhe os sonhos. Imaginava quantos casais haviam se casado no entusiasmo do milênio e que haviam se arrependido horas depois.
Deitada na cama, naquela manhã, só conseguia pensar no quarto ao lado. Imaginava na cama, nu, enrolado nos lençóis. A vontade de ir até lá e continuar o que havíamos começado era quase incontrolável. Eu sabia que, se fizêssemos amor, ele não poderia negar a ligação que havia entre nós.
Levantara-me da cama quatro ou cinco vezes, decidida a ir até lá, passar os braços pelo pescoço dele e beijá-lo até que fosse incapaz de resistir. Eu o provocaria, testaria, até que ele não conseguisse mais se controlar e deixasse a paixão dominá-lo.
Um suspiro escapou da minha garganta, trazendo-me de volta ao presente.
— Não é possível? — repetiu . Inclinando-se, colocou as duas mãos na escrivaninha do sr. Vasquez. — Eu não entendo. Se é dinheiro...
O advogado ergueu a mão e sacudiu a cabeça.
— Não é dinheiro, señor. É a lei. Embora não haja necessidade de morar aqui, no México é preciso estar casado há quatro meses para obter o divórcio.
— Quatro meses? — gemeu , deixando-se cair de volta na cadeira. — Se ficássemos em Las Vegas, nos divorciaríamos em seis semanas.
— É verdade — assentiu o advogado. — Infelizmente, é muito fácil casar-se em Las Vegas. Mas é preciso morar lá para se divorciar. E se pretende casar-se de novo, é melhor checar as leis americanas. Eu não as conheço muito bem.
— Não estou interessada em casar novamente — declarei, sorrindo. — Embora não possa dizer o mesmo do meu marido. Ele tem uma noiva, e está ansioso para voltar para ela.
virou-se para mim, olhando-me com uma expressão desaprovadora.
— Não acho que o senhor Vasquez esteja interessado nos detalhes, querida.
Luis Vasquez sacudiu a cabeça, dirigindo-se a .
— Na verdade, señor , para pedir o divórcio terá que dar um motivo.
— Motivo? — disparou , voltando a atenção para o advogado. — Não queremos mais estar casados. Não é razão suficiente?
— Então é um caso de diferenças irreparáveis?
— Não é bem isso — resmunguei. — Só que ele é ditatorial, controlador, nunca me deixa fazer o que quero. Fica tentando mandar em mim o tempo todo.
— E ela é teimosa e desobediente — revidou . — E não respeita a instituição do matrimônio.
— É você quem não respeita — acussei, levantando-me de um salto, com os punhos cerrados.
levantou-se e me encarou, mal escondendo a raiva.
— O que quer dizer com isso?
— Você me pediu em casamento, e eu aceitei — disparei, apontando para seu peito. — Agora, poucos dias depois, quer se divorciar.
— Estava bêbado quando fiz o pedido. E você não protestou quando falei em divórcio. Está tão ansiosa para resolver tudo quanto eu!
— Talvez não esteja! — retruquei, cruzando os braços e erguendo o queixo para desafiá-lo. — Talvez eu não queira o divórcio!
Sem esconder a surpresa, parou e me fitou intensamente. Eu baixei o olhar, passando o peso de uma perna para a outra, sem saber o que fazer. Não pretendera dizer aquilo. Embora fosse exatamente o que sentia. Meus sentimentos não estavam em jogo naquele momento. O divórcio ia acontecer por causa dos sentimentos dele.
O sr. Vasquez pigarreou, sem jeito.
— Se uma das partes contestar o divórcio, haverá problemas. Perderão muito tempo nos tribunais. — Ele pegou alguns papéis. — Vão querer dar entrada no processo?
pegou minha mão, mas eu a soltei bruscamente.
— É verdade? — perguntou. — Não quer mesmo o divórcio?
Eu respirei fundo, tentando afastar as lágrimas que enchiam-me os olhos.
— Eu... não quero um divórcio deste jeito.
— Aqui no México?
Assenti.
— , se quer algum tipo de acordo, nós...
— Não! — gritei, com os olhos cheios de mágoa. — E isso que pensa? Que quero seu dinheiro?
— Então o que quer? — perguntou, suavemente.
Era a oportunidade que eu esperava. Agora, ou nunca. Se acreditava que o casamento tinha uma chance, devia falar agora, ou ficar quieta para sempre. Eu respirei fundo, pronta para abrir seu coração. Mas enquanto as palavras surgiam em minha mente, percebi como soaria ridícula, patética e desesperada.
O que via nos olhos dele não era amor. Se realmente me amasse, por que insistiria no divórcio? Por que passara os dois últimos dias pensando em chegar ao México, o mais depressa possível? Eu estava vendo o que queria ver. O que minhas fantasias ditavam, e não a realidade.
Além disso, como poderia continuar casada com ? Ele queria uma esposa que se adaptasse ao padrão da família . Uma jovem adequada, obediente, um capacho, que soubesse ser gentil com os parceiros de negócios. Que mantivesse a casa em ordem, sem questionar nada. Alguém que meu pai aprovaria.
Eu gemi. Por mais estranho que fosse, sentia vontade de tentar. Crescera naquele mundo de privilégios e regras sociais, e não seria tão difícil. Se realmente me empenhasse, poderia ser como a mãe dele.
— ?
Ergui o olhar.
— Eu... não quero um divórcio assim, com briga. É isso. — Eu me virei e peguei o suéter na braço da cadeira. Então, virei-me para o advogado.
— Quero o divórcio — disse. — De verdade.
O sr. Vasquez olhou-me com uma expressão compreensiva.
— Posso fazer uma sugestão, señora ?
— Por favor.
— Vocês dois moram em Chicago, não é?
— Sim.
— Se querem um divórcio rápido, ou mesmo uma anulação, poderão consegui-los lá mesmo. Se não houver contestação, estarão divorciados em vinte e quatro horas. Sei disso porque tenho um primo que vive lá e conseguiu um divórcio rápido.
suspirou, e o som partiu meu coração. Era isso que ele queria, mas teria que me levar de volta a Chicago, como sua esposa. O que não parecia tão terrível, afinal.
— Podemos nos divorciar em vinte e quatro horas em Chicago? — repetiu ele.
— Eu falei que devia ligar para o seu advogado — falei. — Teríamos economizado tempo e dinheiro. — Ao dizer isso, virei-me para a porta, pronta para fugir dali.
me alcançou com passadas largas e me agarrou pelo braço.
— , espere!
Eu respirei fundo, afastei as lágrimas e fitei-o com um sorriso indiferente.
— Não se preocupe. Iremos para casa, conseguirá seu divórcio e viveremos felizes para sempre.
— Não é isso que eu...
— É exatamente o que quer. Nosso casamento foi um erro. E o que são mais um ou dois dias? Espere um pouco mais, e poderá voltar para Emily, livre.
— , eu...
Coloquei os dedos sobre os lábios de , impedindo-o de continuar. Só de tocá-lo, sentia o sangue correr mais rápido.
— Não há nada mais a dizer. Por que não volta ao hotel e liga para o seu advogado? Vou dar uma volta. Estou precisando de um pouco de ar fresco.
segurou-me pela mão, e por um breve instante eu imaginei que ele iria me beijar. Hesitante, afastou-se.
— Não acho que deva sair por aí sozinha. Se quer caminhar, vou com você.
Eu sacudi a cabeça e sorri. Ele não mudaria, nem em um milhão de anos. Ainda assim, iria sentir falta daquele cavalheirismo, daquele excesso de proteção, que se recusava a abandonar.
— Tem que parar de pensar em mim como sua esposa.
— Mas eu ainda sou...
— Não ouse dizer que é meu irmão. Porque você não é!
mordeu o lábio inferior, franzindo a testa. Por fim, assentiu.
— Eu sei — disse, enterrando as mãos nos bolsos da calça. — Vá em frente. Dê o seu passeio. Nos veremos no hotel.
Afastei-me em direção da porta, com a sensação de que cada passo me conduzia cada vez para mais longe de . E logo seria para sempre. Como seria o último adeus? Será que eu conseguiria esquecê-lo, ou guardaria aquelas lembranças para sempre?
Ao colocar a mão trêmula na maçaneta, desejei olhar para trás. Mas afastei a emoção e controlei meus sentimentos. Eu e tínhamos nos casado, e agora iríamos nos divorciar. E continuaríamos com nossas vidas, como se nada tivesse acontecido.
E, quando olhasse para trás, para toda aquela viagem louca, poderia rir de todas as encrencas que havia nos metido.
CAPÍTULO 8
The End?
POV
Eu estava sentada em uma mesa, no pátio do hotel, entre as folhagens exuberantes e flores perfumadas que enfeitavam o lugar. Um trio de guitarristas cantava músicas românticas em espanhol.
Depois que deixara o escritório do advogado, havia passado a tarde andando pelas ruas da cidade. Apreciando a alegria das festividades e comprando algumas coisas, como a roupa que estava usando naquele momento. Uma saia listrada comprida, de várias cores, e uma blusa que revelava a curva dos ombros. Usava também uma sandália artesanal e havia deixado meus longos cabelos soltos, o único enfeite era uma flor atrás da orelha.
Ao perceber alguém se aproximando, eu ergui o olhar e quase prendi a respiração ao ver . Estava tão lindo como sempre, uma camisa social branca com as mangas dobradas e os dois primeiros botões abertos, e uma calça jeans preta. Os cabelos, ainda úmidos do banho, estavam jogados casualmente para trás. A iluminação parca do local o fazia parecer ainda mais atraente, quase exótico. Seus lábios se curvaram em um sorriso provocante, e a tentação de beijá-lo subiu para um nível quase irresistível.
— Olá — consegui dizer, em um tom suave. — Você voltou.
puxou a cadeira à minha frente e se sentou.
— Já confirmei nosso vôo para Chicago — avisou. — Meu advogado nos encontrará amanhã à tarde para assinarmos os papéis.
E, simples assim, ele conseguiu empurrar para o lado qualquer resquício de desejo para fora da minha mente, deixando apenas a melancolia que havia me acompanhado todo o dia. Mas eu tratei de colocar minha máscara de apatia, que era o melhor que podia fazer para não demonstrar meus verdadeiros sentimentos.
Eu peguei o copo e tomei um longo gole da bebida, colocando-o de volta na mesa.
— Tão rápido. E indolor. É quase como se nunca tivéssemos sido casados.
assentiu, antes de apoiar os braços na mesa, se inclinando para frente. Voltei minha atenção para os músicos, com a intenção de evitar seu olhar.
— , acho que precisamos conversar...
— Não é hora para acusações — disse, forçando um sorriso. Estava amedrontada, porque sabia que uma única palavra errada poderia me despedaçar completamente. — É a nossa última noite de casados. Devemos comemorar. — Eu fiz um gesto para o garçom, pedindo duas margueritas. — Sei que não devia deixá-lo beber, mas prometo não arrastá-lo até a igreja e casar de novo. Não vamos repetir o desastre — provoquei, tentando parecer alegre.
— Não foi um desastre — disse , sério. — Na verdade, eu me diverti muito.
Eu me recusava a fitá-lo, matendo os olhos baixos, como se observasse atentamente a chama da vela. Quando os drinques chegaram, eu fiquei aliviada por ter algo para desviar a atenção. Pegando o copo, eu o ergui no ar.
— Um brinde. A começos estranhos e finais felizes.
— Ao nosso casamento — disse ele, erguendo seu copo.
Eu hesitei antes de tocar o copo dele com o meu, mas depois de fazê-lo, tomei um gole da bebida.
— Então, quais são seus planos para depois do divórcio? — perguntei. — Aposto que está ansioso para acertar tudo com Emily.
— Preciso mesmo falar com ela.
— E o que vai dizer? — perguntei, a voz tremendo ligeiramente.
— Que não posso me casar com ela.
Eu me engasguei e tossi, cobrindo a boca com os dedos. Meus olhos se enxeram de lágrimas, e eu peguei o guardanapo. se levantou e bateu nas minhas costas, mas logo hesitou.
— Você está bem?
Eu o afastei com um gesto e assenti.
— Só engoli pelo buraco errado.
Quando finalmente parei de tossir, ele voltou ao seu lugar diante de mim, me observando atentamente. Não devia ser uma imagem impressionante. Eu sabia que estava corada, e meus olhos úmidos. Uma lágrima deslizou pelo canto do meu olho, e pegou-a com a ponta do dedo, a mão encostando de leve no meu rosto.
— Tem certeza de que está bem? — perguntou.
Eu pigarreei para clarear a garganta, me esforçando para dominar as emoções conflitantes que me dominavam.
— Você... não vai se casar com Emily? Quando decidiu isso?
— Você estava certa.
— Estava?
— Naquela noite, na festa. Eu queria me casar pelos motivos errados. Não estava sendo honesto comigo, nem com ela. Você tinha razão.
Um sorriso trêmulo cruzou meus lábios. Eu peguei o cardápio à minha frente.
— Acho melhor pedirmos alguma coisa. Estou com fome.
Passamos a hora seguinte falando ocasionalmente sobre assuntos banais, nunca entrando em território mais pessoal, mais íntimo. Não falamos do passado, nem do futuro, mas de coisas superficiais como o tempo, a vista em Tijuana e as canções que o trio tocava.
Eu me sentia meio aérea, distante, perdida em meus próprios pensamentos. Diferente do meu eu habitual, que estava sempre pronto para expor minhas próprias ideias e argumentar.
Quando o garçom trouxe a conta, assinou a nota e se levantou, estendendo a mão para mim.
— Por que não vamos dar uma volta? — sugeriu. — Vamos aproveitar nossa estada no México. Logo voltaremos ao frio de Chicago.
Eu dobrei cuidadosamente o guardanapo e o coloquei sobre a mesa.
— Não estou com vontade de andar. Prefiro ir para o quarto. Estou cansada, e a última marguerita me deu dor de cabeça.
me deu o braço, conduzindo-me através do pátio. Nós subimos a escada externa para o segundo andar e andamos pela varanda, até chegar ao meu quarto. Segurando minha mão entre as suas, ele parou.
— Quero lhe agradecer — murmurou. — Não sei o que teria acontecido se não tivesse saído daquela festa com você.
— Poderia ter tido um casamento feliz... — hesitei. — Em vez desta confusão.
— Não foi uma confusão — retrucou. — E agora sei que casar com Emily não teria sido uma boa ideia.
Eu desviei o olhar, incapaz de fitá-lo, fingindo interesse numa trepadeira florida que subia pela grade.
— É melhor eu entrar — eu disse, quando o silêncio começou a se estender. — Vamos ter um dia cheio amanhã.
Ainda fiquei parada, como que esperando que ele tentasse me fazer ficar. A brisa quente da noite soprou, demanchando meus cabelos. inspirou o ar profundamente, os olhos insondáveis, mas nada disse. Então, eu me virei e entrei no quarto. Eu me apoiei na porta fechada atrás de mim e fechei os olhos, tentando acalmar as batidas desenfreadas do coração. Respirando fundo, tentei raciocinar direito.
Apenas um pensamento ocupava minha mente. Inacreditável, impossível. não ia se casar com Emily. Devia estar contente. Afinal, fora esse o motivo pelo qual o arrastara a Las Vegas: impedi-lo de arruinar sua própria vida.
Eu sempre acreditara em amor explosivo, o tipo de amor que podia deixar uma garota fora de si, enlouquecida, que explodia em um minuto e durava para sempre. Só que nunca imaginara que aconteceria comigo. E, de todas as pessoas do mundo, por que logo com ?
Mas tudo em que eu conseguia pensar era nos milhares de motivos que tinha para não amá-lo. E em todas as razões por que o amava.
Será que podia passar o resto da vida com ele? Tinha me apaixonado exatamente pelo tipo de homem que meu pai era. Estável, rico, seguro. Mas nada disso importava. era bom, generoso e apaixonado. Ao me tocar, trazia a tona todo o tipo de clichê, fazendo meu coração saltar e os joelhos enfraquecerem.
De olhos fechados, tentava imaginar nossa vida em Chicago. Mas não conseguia me ver no cenário — o mesmo do qual eu fugira anos atrás. Não suportaria as pressões e expectativas da família. Faça isso, faça aquilo. Guarde suas opiniões para si, obedeça a seu marido.
Haveria festas, obrigações sociais. Teria que deixar meu emprego e, no fim, acabaria presa numa armadilha. E esperando a menor chance para escapar.
— E acabaríamos onde estamos — murmurei, pressionando as têmporas com a ponta dos dedos. — Esperando para pôr fim a um casamento que nunca deveria ter acontecido.
“Mas se não posso ter um futuro com ele, terei ao menos uma noite”, decidi de repente. Ainda éramos casados. Ele não estava mais noivo. Não havia nenhum obstáculo entre nós. Podia sair do quarto, bater na porta dele e me entregar à paixão.
Eu corri para o banheiro e passei uma escova nos cabelos. Então, peguei o perfume que me dera e coloquei algumas gotas no pescoço e nos pulsos. Olhando meu reflexo no espelho, puxei a blusa mais para baixo, revelando o início dos seios.
— Não consegui dormir — ensaiei, diante do espelho.
Mas logo franzi a testa.
“Não vai funcionar... acabei de dizer que estava cansada.” Passei os dedos entre os cabelos. “É melhor ser sincera.”
— Vamos transar. — Eu gemi. “Agressivo demais.”
Saindo do banheiro, sentei-me na cama, alisando a saia com gestos nervosos.
— Respire fundo — murmurei. — Já seduziu homens antes. Este não é diferente. Você só está loucamente apaixonada por ele.
De repente, o quarto parecia pequeno demais. Levantando num impulso, eu abri a porta e saí, respirando o ar perfumado que vinha do pátio.
— Não conseguiu dormir?
Eu me virei e vi . Com os cotovelos apoiados na grade que rodeava a varanda, ele observava o pátio lá embaixo.
— O quarto estava abafado — disse, depressa. — Vou deixá-lo...
— Não — pediu. — Fiquei.
— Está bem.
Olhei para baixo e vi um casal se beijando, enquanto cruzava as taças de champanhe. O trio tocava canções de amor. Tudo parecia conspirar a favor do romantismo, e eu poderia tirar proveito. Ao menos por uma noite.
— Estava pensando...
— Eu também — interrompeu ele. — Sobre aquela noite em Las Vegas. A noite do nosso casamento. Ou nossa manhã de casamento, não sei.
— O que estava pensando?
— Não lembro muita coisa. É estranho... Lembro do resto da noite, do cassino. Até do nosso casamento... vagamente.
— Acho... melhor entrar — gaguejei, incapaz de manter o controle. Devia contar a verdade, que nunca havíamos consumado o casamento. Ele tinha o direito de saber. Mas não queria admitir que o enganara, isso destruiria qualquer frágil sentimento que ele poderia ter por mim. Eu me apressei a entrar no quarto, mas me seguiu.
— Não acha estranho? — perguntou.
— Bebeu champanhe demais. E agora, estou mesmo cansada...
— Conte como foi.
— O quê? — balbuciei.
— Só se tem uma noite de núpcias, e eu gostaria de saber o que aconteceu. — Ele se aproximou ainda mais. — Eu a beijei?
— É claro — menti. — Muitas vezes.
— Estávamos perto da cama — respondi, desviando o olhar.
Ele me agarrou pela cintura, puxando-me para perto da cama.
Tentei me soltar, mas era tão bom sentir seus braços à minha volta...
— Aqui? Ou do outro lado?
— Aqui — respondi, arriscando um olhar para o rosto dele.
— E depois? O que aconteceu?
— Acha mesmo importante? — exalei. — Vamos nos divorciar. Pensei que quisesse esquecer sua noite de núpcias.
— Não posso esquecer o que não lembro — respondeu, dando de ombros. — Como foi?
Senti meu rosto ficando vermelho.
— Foi... muito bom. Espetacular. — Pronto. Quem sabe assim ele daria a conversa por encerrada e iria embora. Devia ser por isso que estava perguntando. Como todo homem, queria saber do seu desempenho.
— E como começou? O que fiz primeiro?
Deixei escapar um gemido, sem querer. Tinha que haver um jeito de acabar com aquele interrogatório.
— Primeiro você me beijou. Já disse.
— Não. Onde a beijei? Na boca? — roçou os lábios nos meus, me fazendo estremecer. — No pescoço? — Ele pressionou sua boca ardente na minha pele sensível próxima à orelha. — Ou foi no ombro? — Seus dedos deslizaram, afastando a blusa, e deixando meu ombro descoberto, onde beijou gentilmente.
Eu engoli em seco. Quanto mais eu falava, mas perguntas fazia.
— Eu... não me lembro exatamente — disse, baixinho. Como se pudesse pensar em alguma coisa, sentindo seus lábios percorrendo minha pele.
— Mas foi bom?
— Muito bom — respondi, ofegante.
A língua dele percorreu o caminho sensível do pescoço até o queixo.
— Assim?
— Assim... — confirmei, com a voz trêmula.
Com um gemido rouco, ele me puxou para si, cobrindo minha boca com a sua.
— Conte mais, — murmurou, os lábios junto aos meus. — Diga o que você quer.
Queria que ele parasse de me tocar, parasse de fazer minha cabeça girar e meu coração bater acelerado. Mas, em vez disso, eu disse as únicas palavras que eram verdadeiras.
— Quero que faça amor comigo. — Inclinei a cabeça e fechei os olhos. — Quero que seja meu marido, apenas mais uma noite.
Ele segurou meu rosto entre as mãos, me forçando a fitá-lo nos olhos.
— E eu quero que seja minha mulher — disse, beijando-me de novo, com tanta ternura que me tocou profundamente a alma.
Sentia-me feliz e amedrontada ao mesmo tempo. Aquele homem tinha tanto poder sobre mim! Minha vida estava tão ligada à dele que já não sabia mais como controlar meu coração nem o desejo que sentia por ele. E nem queria.
Eu me afastei um pouco, procurando os botões da sua camisa, e comecei a abri-los, um a um. Quando acabei, deslizei as mãos sobre o peito firme, beijando de leve uma trilha pescoço abaixo.
— O que aconteceu depois? — perguntou ele, com o rosto mergulhado nos meus cabelos.
— Depois?
— Naquela noite. Depois que eu a beijei perto da cama.
— Não me lembro — respondi.
Ele arrancou a camisa, revelando os ombros largos e a cintura estreita. Eu não conseguia tirar os olhos daquele corpo perfeito.
— Eu tirei sua roupa, ou você tirou a minha?
— Não... lembro — gaguejei.
Deslizando os dedos pelo decote da minha blusa, a puxou para baixo, revelando a curva dos seios.
— Aposto que o fizemos juntos... assim... uma peça de cada vez... primeiro você... depois eu.
Lentamente, a blusa deslizou para baixo, até descobrir totalmente os meus seios. inclinou-se e os beijou, explorando com a língua cada pedacinho de pele que poderia alcançar. Ele tomou um mamilo entre os lábios e o sugou delicadamente.
Eu gemi, deixando que a sensação de prazer me invadisse. O desejo era tão intenso que não podia mais controlá-lo. Com um gesto rápido, arranquei a blusa, atirando-a longe. Ele se afastou um pouco, devorando com os olhos meu corpo nu da cintura para cima.
— Eu não me lembrava disso — murmurou. — Não me lembrava de como você é linda. — Ternamente, tocou um seio, acariciando com o polegar o mamilo ereto.
Eu tentava registrar cada sensação, para relembrá-la depois. Nenhum homem fizera eu me sentir tão feminina, tão desejada, tão... amada. sempre cuidara de mim e me protegera, especialmente nos últimos dias. E agora, pelo modo como me tocava, me fazia acreditar que sentia alguma coisa por mim. Nem que fosse um pouco.
Hesitante, procurei o fecho do cinto, começando a abri-lo. Mas quando minhas mãos tocaram a ereção, rígida e quente, sob o tecido da calça, eu parei, sem fôlego.
— Eu me lembraria disso. O modo como você me toca me deixa louco — sussurrou com a voz rouca.
— Eu... sinto muito.
— Não há por que se desculpar, . — Ele me puxou contra si e me beijou, a língua mergulhando profundamente na minha boca, exigindo, provocando, me enlouquecendo de paixão. Quase sem afastar os lábios, arrancamos o resto das roupas, parando apenas para uma ou outra carícia rápida.
Quando finalmente tiramos a última barreira que nos separava, ficamos nus, pele contra pele. Meus seios apertavam-se contra o peito dele, e o membro ereto pressionava meu ventre.
Quando senti minhas pernas fraquejarem, me guiou para cama, ajoelhando-se ao meu lado. Afastando-se um pouco, pegou algo no bolso da calça. Ele tirou um preservativo, e por alguns instantes eu apenas o encarei.
— Você sabia que ia acontecer? — perguntei, por fim.
Ele sorriu e me beijou de novo, ternamente.
— Tinha esperanças — respondeu, beijando-me no pescoço. — E agora conte. Como foi?
Minha respiração estava ofegante.
— Foi assim — disse, abrindo a embalagem da camisinha.
Com dedos trêmulos, eu a coloquei, cobrindo a rígida ereção de . Então, o guiei para dentro de mim, antecipando a sensação. estacou, fechando os olhos, como se saboreasse aquele primeiro contato, o que só aumento ainda mais meu desejo. Eu arquei meu corpo debaixo dele, ansiosa, até que ele se curvou para murmurar ao meu ouvido — as palavras só captadas pela metade devido ao meu estado abalado, mas era o suficiente para me fazer arder ainda mais. Ele agarrou meus pulsos, e segurou-os sobre a minha cabeça, me fazendo prisioneira. Então, desceu todo seu peso sobre mim e me penetrou, macio como seda, duro como aço, olhos nos olhos.
Minha pulsação se acelerou, e a respiração quase parou, enquanto me guiava em direção ao clímax. Fitara muitas vezes aqueles olhos e encontrara raiva, frustração e desejo. Mas agora, enquanto me penetrava cada vez mais fundo, movendo-se lentamente, eu via algo mais em seus olhos, embora não soubesse descrever. Algo que quase me fazia acreditar em um futuro para nós.
Suspirando, me arqueei contra ele, entregando-me à incrível sensação provocada por nossos corpos unidos. Não havia mais pergunta, nem exigências, apenas a certeza de que, naquele momento, pertencíamos um ao outro.
Fizemos amor de novo, e de novo, de tantas maneiras diferentes, até ficarmos exautos e saciados. Eu descansava em seus braços, o peito forte contra minhas costas, as pernas entrelaçadas.
— Então foi assim — ele murmurou.
— Não — sorri. — Desta vez foi diferente.
Ele me beijou na nuca e apoiou o queixo no meu ombro.
— Tem razão. Como se fosse a primeira vez. Por quê?
não precisava dizer mais nada. Ele sabia. De algum modo, percebera a mentira. E por que devia estar surpresa? Ele era inteligente, depois do que havíamos compartilhado naquela noite, ele sabia que teria se lembrado da noite de núpcias.
Eu segurei a mão dele, beijando a palma, os dedos.
— A primeira vez — repeti.
Beijando cada linha da mão, a ponta dos dedos, imaginei o que aconteceria. O que teríamos que enfrentar? Emily, o meu trabalho, a nossa família. Meu pai. Minha mente começou a se encher de dúvidas, a realidade finalmente me batendo.
Charles era do tipo vingativo, e ficaria furioso ao saber que seu favorito havia se casado com a ovelha negra da família. Fora o escândalo de sermos quase irmãos. As fofocas, as críticas... Meu pai romperia com ele, o expulsaria da companhia. Eu tinha certeza de que era qualificado o suficiente para conseguir um bom emprego só por suas capacidades, mas também sabia que meu pai tinha muitos contatos e faria o possível para atrapalhar seu caminho. Nosso caminho.
Podia parecer fácil, depois de um sexo fantástico daqueles, mas isso não era o suficiente para manter um relacionamento. Bastava lembrar os dias anteriores, de quantas vezes havíamos discordado e discutido. No final das contas, sem emprego, ficaria infeliz, as brigas aumentariam exponencialmente e acabaríamos nos odiando.
Meu coração quase parou. Era tudo um engano, a paixão, a emoção... Não podia amá-lo, nem ele podia me amar. Era errado, estúpido, e sempre haveria um monte de coisas entre nós, nos separando. E quanto mais tempo levássemos para admitir isso, maior seria a dor.
Lutando contra a necessidade de me afastar dele, de deixar a cama e tudo o que havíamos compartilhado, eu hesitei. me abraçou mais forte e suspirou. Eu não poderia escapar. Não agora. E fiquei imóvel, ouvindo sua respiração se tornar mais lenta, enquanto minha mente fervilhava.
Eu poderia lidar com muita coisa — com qualquer coisa — menos com o ódio de .
—✰—
— Levantou cedo. — A voz de me assustou, e eu me virei, apertando a mão contra o peito. Ele estava parado no vão da porta do seu quarto, pra onde eu havia ido assim que levantara. Fechando os olhos, eu respirei fundo.
— Não queria acordá-lo. Tomei banho aqui. Pensei que gostaria de dormir.
Ainda era cedo, sete e meia da manhã, o que significava que tivemos pouco mais de três horas de sono. Ou, ao menos, ele tivera.
Eu me voltei para a cama e peguei o suéter que ele havia me comprado, dobrei-o cuidadosamente e o pus em uma sacola.
— O que está fazendo?
— Arrumando as malas — respondi, me forçando a parecer descontraída. — Temos que sair às dez.
Ele atravessou o quarto e me puxou pela cintura, tomando-me em seus braços.
— Quando acordei e você não estava lá — sussurrou junto à minha orelha —, pensei que tivesse sonhado.
Eu me soltei, afastando-me para o outro lado da cama.
— Não foi um sonho. Foi real.
ficou parado me observando, eu quase podia ver as engrenagens girando em sua cabeça, por isso abaixei o olhar e voltei a arrumar as roupas.
— , sobre a noite passada... quero que saiba...
— Suponho que esteja ansioso para voltar a Chicago — interrompi. — E tenho certeza de que seus... sua mãe ficará feliz em vê-lo de volta. São e salvo.
— Talvez. Mas estava pensando que não precisamos voltar hoje. Poderíamos ficar mais alguns dias. Ainda temos o dinheiro do anel, e posso trocar as passagens.
Eu sacudi a cabeça, fechando os olhos por um segundo para reunir a força necessária.
— Não vou ficar. E não vou para Chicago. Decidi ir a São Francisco, visitar uma amiga. Eu estou de férias, só volto ao trabalho no fim de janeiro e terei algum... tempo.
franziu a testa, parecendo confuso.
— Vai embora? Não vai voltar para casa comigo? E a noite passada?
— O que tem? — Eu dobrei cuidadosamente a camiseta do concurso.
— Fizemos amor, .
— Fizemos sexo — eu disse, dando de ombros. — Satisfazemos nossa curiosidade. Agora não precisamos mais imaginar como seria. Você vai se lembrar, e eu também.
— Sabemos como pode ser, . Como é. Quer deixar tudo para trás?
— Eu... preciso. — Eu o olhei de relance e desviei o rosto. — Nunca vai dar certo. Você sabe, e eu sei. Somos muito diferentes.
— Mas isso pode ser muito bom. É bom.
— Precisa de alguém que faça parte do seu mundo. Que se encaixe na... sua família. Que eles aprovem.
— Espera. Você está com medo de enfrentar seu pai? É isso?
— É! Não! Você sabe que seu mundo não é para mim, . Nunca foi, eu não nasci para isso. Além disso, nós somos muito diferentes, estamos sempre brigando. Sempre irritando um ao outro.
— Não acredito nisso, . — Ele andava pelo quarto como um tigre enjaulado, obviamente se esforçando para se controlar. — Eu me recuso a acreditar que está fazendo isso outra vez. Você é uma mulher adulta e ainda está fugindo. Como sempre faz quando está com medo. Foge ao invés de enfrentar seus problemas. — Parou de andar para me encarar diretamente.
Eu me encolhi, como se tivesse levado um tapa. Em qualquer outro momento, eu ergueria minhas barreiras de defesa e reagiria com sarcasmo. Mas agora era diferente, não era mais uma briguinha de irmãos.
— Eu nunca vou sacrificar minhas escolhas para voltar a um mundo de onde eu consegui escapar com muito custo — disse lentamente. — Precisa voltar para Emily. Ela é bonita, gentil, educada... Adequada. A esposa perfeita. Sinto muito por ter me metido e atrapalhado tudo. Fui tola ao pensar que você não sabia o que estava fazendo, mas agora sei que eu estava errada.
— Eu não amo Emily — pronunciou, com os dentes cerrados.
— Mas deveria — insisti. — E vai amar, é só questão de tempo.
Ele me agarrou pelo braço, forçando-me a encará-lo.
— Que droga, , escute!
— Não precisa se preocupar. Ninguém nunca vai saber o que aconteceu, juro. Será nosso segredo. Nos divorciaremos, e você poderá voltar a sua vida de antes.
— Não é a vida que eu quero, . — Ele respirou fundo.
— O que aconteceu entre a gente foi errado. Quase um incesto. Foi uma completa... aberração. — Eu vi a pontada de dor nos olhos deles e isso me atingiu em cheio, mas eu me forcei a permanecer firme. — Não posso ser sua esposa, . Eu... não quero...
Ele segurou meu rosto entra as mãos, olhando-me intensamente.
— Já é minha esposa. — Seu polegar acariciou minha bochecha. — Não precisamos nos divorciar. Voltaremos para Chicago e anunciaremos o casamento. Podemos enfrentar as consequências juntos.
Nós últimos dias, não havia deixado de me surpreender. Ele, que nunca havia sequer precisado se esforçar para sempre agradar meu pai, parecia pronto a confrontá-lo sem vacilar. E por mim.
Ou seria simplesmente teimosia? Aquela coisa de nunca abandonar no meio do caminho algo que havia começado? Ou o orgulho de me dominar e ter a última palavra?
Não importava, o resultado final seria o mesmo.
— Não ouviu nada do que eu disse, não é? — Eu me permiti um breve sorriso triste. — Em poucos meses, , nós acabaríamos exatamente onde estamos agora. Então por que não terminar tudo de vez?
praguejou, mal contendo a frustação. Era quase irônico que terminassemos assim, eu tentando ser a racional e ele, o temperamental.
— Está bem. Vamos terminar tudo — declarou, por fim, dando um passo atrás. — Agora. Só precisa olhar bem nos meus olhos e dizer que não me quer. Você me deve isso.
— A única coisa que lhe devo é minha assinatura nos papéis do divórcio — disparei, já perto de perder a calma. — Volte a Chicago, fale com o advogado, e assinarei o que for preciso. — Eu peguei as sacolas com as minhas coisas. — Tenho que pegar o avião.
me seguiu até a porta e me agarrou pelo braço para me impedir de sair.
— , não faça isso! Não posso acreditar que vai jogar tudo fora por causa de pura covardia!
Eu me contorci, tentando me livrar de seu aperto.
— Viu, é exatamente o que falei — eu ri, amarga. — Nós não somos compatíveis, nunca seremos. Viveríamos brigando e nos mataríamos em menos de uma semana, se tanto.
Ele aliviou o aperto, mas manteve a mão.
— Nós vivemos anos sob o mesmo teto, . Nós podemos fazer isso funcionar. Você só precisa acreditar em nós.
— Não existe nós — disse, finalmente soltando meu braço. — Por isso, o divórcio é a única resposta.
Eu saí correndo, deixando-o atordoado, e desci a escada que levava ao pátio.
N/A: Finalmente, estamos chegando ao fim. O restante sai ainda essa semana.
Fiquem ligados!
~Nikki
CAPÍTULO 9
The Home
O Provocateur Club estava escuro e silencioso quando eu cheguei. Entrei no escritório nos fundos usando minha própria chave e passei lentamente pela mesa coberta de papéis, notas e contas acumulados em poucos dias.
Contornei a mesa e me sentei, pegando aleatoriamente um dos papéis. Estivera ausente uma semana, mas parecia que meu trabalho era parte de outra vida. Voltara a Chicago depois de poucos dias em São Francisco, ansiosa para chegar em casa. E pronta para esquecer tudo que havia acontecido.
Mas não conseguia esquecer. Meus pensamentos voltavam para Las Vegas, para o concurso em Skull Creek e para o quarto de hotel em Tijuana. E havia sempre a imagem de ... dormindo na cama redonda em Las Vegas... arrancando-me do palco do concurso... nu, abraçado a mim, em Tijuana. Estava tão certa de que poderia esquecê-lo, colocá-lo no passado, até perceber que aquele amor não ia acabar. Eu me dei conta que estava rabiscando inconscientemente na margem de uma nota meu nome e o dele, inúmeras vezes. .
Com um gemido, rasguei o papel e o amassei, atirando-o para o outro lado da sala. Até lembrar que eu precisaria dele, então o peguei de volta e coloquei sobre a mesa, tirando uma fita durex da gaveta.
Eu amava , e a tentação de correr para os braços dele era quase incontrolável. Em vez disso, eu o deixara.
Mas, assim que me afastei, tudo começara a mudar. As dúvidas já não eram tantas. sempre cuidara de mim, me protegera. E na verdade, jamais fora tão feliz quanto naqueles dias ao lado dele.
Cada momento fora cheio de alegria, de vida, como se de repente tudo fosse mais colorido, mais brilhante. Era assim também na minha adolescência. Ter ele por perto, mesmo que fosse me controlando, me irritando, havia me ajudado a passar por aqueles dias difíceis.
Eu queria de volta aquelas sensações, a voz presa na garganta ao vê-lo, o coração acelerado ao perceber que ia me beijar. Eu gemi, enterrando o rosto nas mãos. Uma batida na porta me trouxe de volta à realidade, e eu me forcei a colocar um sorriso no rosto.
— ?
Reconheci a voz de Dolores, a faxineira do clube.
— Entre — respondi. Ela abriu a porta e sorriu para mim.
— Tem uma visita. — Ela se pôs de lado, e eu gelei ao ver surgir de trás dela, como se meus pensamentos o tivessem invocado. — Vou deixá-los a sós.
Eu me levantei, as mãos apertadas juntas, quase sem fôlego. Era assim que queria me sentir. Tola, desajeitada, sem saber como agir. Ele estava ainda mais atraente, usando um terno elegante, gravata, e carregando um casaco de cashemere no braço. Os cabelos estavam penteados para trás, revelando os traços perfeitos do rosto.
Embora parecesse frio e distante, não pude deixar de lembrar o homem apaixonado e sensual que fizera meu sangue ferver nas veias e meu corpo arder de desejo.
— O que está fazendo aqui?
— Por que não telefonou, dizendo que estava de volta? Deixei vários recados na sua secretária eletrônica.
— Como me encontrou?
Cuidadosamente, ele colocou o casaco dobrado nas costas de uma cadeira.
— Do mesmo jeito que o convite para a festa de Reveillon achou você. Liguei para seu chefe e tivemos uma longa conversa. Sabia que o ramo de entretenimento noturno é bastante promissor e lucrativo? Estou considerando me aventurar.
Era bem típico dos ricos. Usar dinheiro e influência para conseguir o que queria. E para me espionar, pensei, voltando a me sentar.
— Robert lhe avisou que eu tinha voltado?
ignorou a pergunta, se acomodando na cadeira do outro lado da minha mesa, e avaliando o ambiente.
— Não devia estar surpreso por você ter falado sério na noite de ano novo, sobre trabalhar em um clube de strip-tease.
— Foi um exagero — resmunguei. — Nós temos alguns dançarinos profissionais, mas não stripers.
Eu sorriu friamente, novamente ignorando o que eu dizia.
— Saber que você era a gerente me surpreendeu. Quem diria, a espivetada e rebelde lidando com montanhas de contas e liderando uma equipe.
Eu me coloquei de pé mais uma vez.
— Se veio aqui para me tripudiar, então pode ir embora. Tenho uma porção de coisas para fazer e nada para conversar com você.
também se levantou e deu um passo à frente.
— Eu tenho algo a dizer, .
Eu ergui o olhar para fitá-lo e mais uma vez senti meu coração bater forte. Com esforço, desviei o olhar, sabendo que, se continuasse a encará-lo, perderia o controle.
— Não tenho que ouvir. Não somos mais casados, esqueceu?
Um sorriso curvou a boca bem-feita de .
— Na verdade, ainda somos casados. É por isso que estou aqui. — Ele atirou um cartão de visitas sobre a escrivaninha. — É de um advogado.
— Por que preciso de um advogado?
— Para representá-la no processo de divórcio. Não se preocupe com o dinheiro. Vou pagar os honorários. — pigarreou, uma expressão muito séria no rosto. — Eu pretendia contestar o divórcio, mas mudei de ideia. Afinal, se você acha que não vale a pena salvar nosso casamento, acho que também não devo fazê-lo. Mas acho que merece um acordo justo. Nós nos casamos. Acredito que merece alguma compensação por todos os problemas que teve.
— Não... quero nada de você. Só quero que saia da minha vida.
— Eu sou rico, . Posso arcar com isso. Um acordo lhe dará segurança financeira.
— O que pretende com isso? Comprar meu silêncio? Garantir que o nosso... deslize não acabe na boca da imprensa? — Eu apertei os punhos, tentando conter a raiva. — Acha que o seu dinheiro pode comprar qualquer coisa, não é? Mas eu não estou a venda, , embora pode ter certeza de que quero, até mais do que você, enterrar aquela estupidez que cometemos em um momento de insanidade. — Andei até a porta e a escancarei, em uma ordem muda para que ele fosse embora. — No final das contas, você é mesmo igual ao meu pai.
— E você não tem ideia do quanto está sendo patética ao tentar se prender a qualquer desculpa para se convencer de que o casamento foi um erro. Está tão decidida a rejeitar qualquer coisa que tenha a ver com as expectativas que seu pai tinha sobre você, que está disposta a jogar fora algo que não tem nada a ver com ele.
— Eu escapei, , deixei para trás esse mundo hipócrita em que você vive, há seis anos. Você ainda está preso. Para algumas pessoas, como meu pai e você, o dinheiro pode conseguir qualquer coisa. Para mim, o dinheiro era um muro, uma prisão. Eu não podia pensar por mim mesma, havia regras não escritas de como eu deveria ser, de como agir, o que dizer, com quem sair. Eu não quero voltar para esse caminho.
— Isso não tem nada a ver com a vida que você deixou para trás, . Tem a ver com orgulho. E com seu pai. Você preferiria ser infeliz pelo resto da vida do que admitir que, no final, o que seu pai queria para você é o que você também quer. — Ele respirou fundo e me fitou intensamente. — Podia dar certo, . Mas é claro que você não quis tentar. Da minha parte, está tudo acabado. — Ele pegou o casaco, colocando-o no braço. — Vou pedir ao meu advogado que prepare os papéis. Assim que assinarmos, estará livre para voltar a sua vida maravilhosa. E eu à minha.
Ele se virou e desapareceu porta à fora. Eu respirei fundo, tentando controlar o tremor do meu corpo. Mas quando as lágrimas começaram a escorrer, não contive a emoção. Soluçando, enterrei o rosto nas mãos.
Eu o amava. Mas cada vez que estávamos juntos, fazia de tudo para afastá-lo. Ele teria razão? No fundo, tudo o que eu queria era continuar contrariando meu pai?
— Sou uma imbecil — murmurei. — Casei com um homem que mal podia suportar, e estou me divorciando do homem que amo.
As lágrimas continuavam correndo, e eu as afastei com um gesto impaciente. Talvez estivesse certo. Já era hora de ser honesta. De parar com as desculpas. Dizer-lhe que o amava não seria tão difícil. Mas tinha medo do que vinha depois.
Será que ele poderia chegar a me amar o suficiente para enfrentarmos todos os contratempos que certamente viriam?
—✰—
Eu estava de pé, no canto do elevador, observando os números no painel ao lado da porta. Só naquele momento percebi que estava no mesmo elevador que havíamos usado para fugir da festa, na véspera do Ano Novo.
Recebera uma ligação do meu quase ex-marido, dizendo que os papéis do divórcio estavam prontos para assinar. Depois de desligar, eu me culpei por não ter deixado cair na secretária eletrônica. Queria evitar a conversa por mais alguns dias, até encontrar um modo de me desculpar e dizer que o amava.
Só que era tarde demais. Qualquer sentimento que tivera por mim devia ter acabado. Mais uma vez, conseguira destruir um relacionamento. Só que dessa vez era com um homem que amava. Levaria muito tempo para esquecer, se é que conseguiria.
Poderíamos ter sido felizes, apesar das diferenças. aprenderia a ser mais compreensivo, e eu sabia que poderia ser menos teimosa.
— É tarde demais — murmurei.
As portas se abriram e, por um instante, eu hesitei. Afinal chegara o dia que tentava adiar. Mas ainda tinha esperanças. Se visse qualquer sinal de que ele sentia algo por mim, nem tudo estaria perdido. Criaria coragem e revelaria meus sentimentos.
Respirando fundo, saí do elevador para o saguão da cobertura, no Center. O lugar estava completamente vazio, mas as portas do salão estavam abertas. Ao espiar por elas, vi a figura solitária, parada junto à janela, e meu coração quase parou.
Vendo-o contra o sol da tarde, senti como se ainda estivéssemos ligados por um laço invisível, mas mesmo assim forte e intenso. Aquele homem me conhecia como nenhum outro, e ainda assim estivera disposto a levar o casamento adiante.
Eu me aproximei devagar, supresa ao perceber que havia muitas coisas espalhadas pelo local. Três ou quatro mesas tinham arranjos de flores, louças ou objetos.
Quando finalmente o fitei, vi que ele me observava, com a sombra de um sorriso nos lábios, embora parecesse frio e distante.
— Estou contente que tenha vindo.
Olhei em volta, tentando evitar seu olhar.
— O que é tudo isso?
— Nada demais. Só algumas coisas para o casamento — respondeu , pegando-me pelo braço e me conduzindo para uma das mesas. — Os papéis estão aqui. Só vai levar um minuto e poderá ir embora.
Hesitante, eu me sentei e olhei os documentos a minha frente. Então era assim. Meu casamento com estaria acabado assim que assinasse. Ele me entregou uma caneta, que peguei com as mãos trêmulas.
— Onde assino?
Ele se inclinou sobre meu ombro, tão perto que eu podia sentir o calor do seu corpo.
— Aqui — disse, junto à minha orelha.
Sem ler, eu assinei o papel, e se inclinou ainda mais.
— Agora este — disse.
Mais uma vez eu assinei, e muitas outras vezes, sem saber o que estava escrito nos documentos. Queria acariciar o rosto dele, virar-me e beijá-lo de repente, para ver como reagiria.
Ao terminar, eu arrumei os papéis, que pegou, dobrando-os e colocando no bolso. Eu o fitei, tentando detectar alguma emoção no rosto dele, mas não consegui.
— Acho que está resolvido — disse, com a voz trêmula.
— Acho que sim. Não foi tão difícil, não é?
— Não — menti, sabendo que nada seria mais difícil nem mais doloroso do que perder . Mas era melhor assim. Só precisava convencer meu coração.
— Bem, agora tenho que ir — disse, levantando-me e abotoando o blazer.
Não ia dizer adeus. Não conseguiria sem me desmanchar em lágrimas. Assim, comecei a andar para a porta, mas a voz de me impediu. Por um momento, a esperança voltou. Virando-me, com o coração batendo forte, esperei.
— Já que está aqui... — disse ele — quem sabe pode me ajudar. O que acha destes arranjos? — Ele apontou uma das mesas. — Não sei qual é o mais bonito.
Franzi a testa. O que arranjos de flores tinham a ver com aquela situação?
— Todos são lindos — disse, me aproximando. — Rosas brancas são perfeitas. E os lírios também. Mas por que pergunta?
— Queria uma opinião feminina — explicou, dando de ombros. — Quero ter certeza de que tudo sairá perfeito.
— Perfeito?
— O casamento.
Incapaz de acreditar, eu o fitei, confusa.
— Que... casamento?
— Meu casamento. Tenho que escolher os convites, também. Não sei se prefiro branco ou creme. — Ele pegou um álbum com amostras. — O que acha?
— Vai se casar? — perguntei, sentindo-me tonta. — Você e Emily fizeram as pazes?
— Emily é muito compreensiva. Expliquei tudo, ela não guarda ressentimentos. Depois de tudo, acho que está muito feliz. E agora, o que acha do convite? Qual é o mais bonito?
— Acho que a noiva deveria escolher — respondi, confusa.
— Tem razão. Mas qual você escolheria?
Ele era tão persistente que eu queria gritar. Por que estava fazendo aquilo comigo?
Zangada, agarrei o álbum e folheei, até encontrar um modelo de convite que me agradava.
— Este aqui. Mas não usaria letras góticas.
— Boa escolha — disse . — Também gostei.
— Se já acabamos, gostaria de...
— Se não se importa, há alguns vestidos...
— Vestidos? Está maluco?
— Emily gostou do vestido que você estava usando na festa. Achei que você poderia dar sua opinião sobre os vestidos das damas de honra.
— Não. Não posso ajudá-lo a planejar seu casamento.
— Mas tem tanto bom gosto... Só vai levar alguns minutos.
Ainda atordoada, eu o deixei me puxar pela mão, conduzindo-me a uma arara cheia de vestidos, a um canto do salão. Eu vi também alguns vestidos de noiva, imaginando que algum deles seria de Emily ao tornar-se a senhora . “Mas eu sou a senhora ”, pensei, cerrando os punhos.
— Vi que notou os vestidos de noiva — disse ele, pegando um cabide. — O que acha deste?
Eu o examinei com expressão de descaso.
— Bom para uma princesinha — disparei.
— E este? — insistiu , pegando outro.
— Do século retrasado — resmunguei.
— Tem razão. Na verdade, não gosto de nenhum deles — admitiu .
— Posso ir agora?
— Só mais uma coisa — pediu, pegando um catálogo. — Bolos. Nunca sei escolher. — E pegando uma caixa de papelão, acrescentou: — Uma coisa foi fácil. Abra.
Eu peguei a caixa e a abri de má vontade. Envolta em papel de seda, havia uma escultura de porcelana. Um casal de noivos. Eu tive vontade de quebrá-la na cabeça dele, por me colocar naquela situação.
— O que acha? Vai em cima do bolo.
— É bonito. Mas os cabelos da noiva estão errados.
— Não. Está perfeito. Foi assim que pedi.
— Mas Emily tem cabelos loiros.
— Emily?
— Sua noiva. A mulher com quem vai se casar.
riu, sacudindo a cabeça.
— De onde tirou essa ideia? Não vou casar com Emily.
— Com quem vai casar, então?
— O que você acha? — perguntou , sorrindo.
Eu olhei para a figura de porcelana e em seguida para , com os lábios trêmulos e os olhos cheios de lágrimas. Queria falar, mas a voz estava presa na garganta. Seria verdade? estava mesmo me dando outra chance?
— O que acha, ? Qual é a única mulher que amo, apesar de ela me enlouquecer a maior parte do tempo, e com quem quero ficar pelo resto da vida? Quem é a mulher que vai me dar filhos e tornar minha vida completa?
— E... eu? — Minha voz soou trêmula, quase inaudível.
Com o polegar, ele ergueu meu queixo, fitando-me ternamente.
— Você. Tudo isto é para você. E se não gostar, começaremos de novo. Vamos planejar tudo, do jeito que quiser.
— Mas já somos casados.
— Não. Você assinou os papéis. E agora que estamos divorciados, podemos começar de novo. Vou tentar ser...
— Mais compreensivo — completei. — Espontâneo. E tolerante.
— Só isso?
Senti meu rosto corando.
— E eu prometo me comportar melhor, ser menos teimosa e agressiva.
— Então vai se casar de novo comigo?
Eu estendi a mão, pegando os papéis do divórcio no bolso dele, e rasgando-os em pedaços. Com um gesto deliberado, atirei-os por cima do ombro.
— Não preciso me casar com você, sr. . Já estou casada.
sorriu, tomando-me nos braços e girando, até me deixar tonta. Então, me pôs no chão e me beijou intensamente.
— Minha mãe disse que daria certo.
— Sua mãe?
— O convite que recebeu para festa do Ano Novo não foi um descuido da secretária.
— Foi Grace que... — eu me interrompi, sentindo um bolo na minha garganta. assentiu.
— Ela sente sua falta. E sabia que seu pai também. Charles pode não admitir, mas ele se culpa por não ter sido um pai melhor, capaz de manter a filha por perto. Só é muito orgulhoso para dizer em voz alta.
— Você contou a eles sobre o casamento?
Ele assentiu novamente.
— A reação de seu pai foi... perto do esperado. — Sua careta me disse que aquilo era um eufemismo. — Não acho que está muito contente, mas pelo menos não começou a gritar e nem me expulsou da casa dele. Minha mãe está radiante. E garante que é só questão de tempo até que ele aceite. — Ele segurou meu rosto entre as mãos, seus olhos sondando os meus. Naquele momento eu soube que jamais haveria alguém que me compreenderia mais do que . — Não que isso mude alguma coisa para mim. Eu o amo como um pai, mas quero que ele respeite minhas escolhas. E mesmo que ele me tirasse da companhia, eu não me importaria, começaria de novo em outro lugar. Também não quero pressionar você para se encaixar de novo naquele mundo. Eu vou arrumar um jeito de manter meu emprego e ainda assim viver às margens da sociedade. Posso comparecer só aos eventos que forem realmente necessários, até sozinho se você não quiser ir, posso mandar outros funcionários em meu lugar, não importa.
Eu balancei a cabeça e levei a mão à sua ainda em meu rosto, fechando meus dedos sobre os seus.
— Não é assim que funciona um relacionamento. Não posso permitir que só você faça os sacrifícios aqui. Eu posso fazer isso, posso acompanhá-lo a todos os eventos que precisar, posso me comportar também. Contanto que você não espere que eu me torne a esposa modelo.
— Nunca — ele riu, pressionando os lábios contra os meus. — Isso acabaria com a metade da diversão.
Eu ri, inclinando a cabeça para trás.
— E Emily? Ela realmente aceitou tudo bem?
— Bem, na medida do possível. Depois que ela se acalmou e acabou de jogar minhas coisas em cima de mim, nós conseguimos conversar. Acho que ela ainda quer ser a esposa modelo de alguém, mas de preferência de alguém que não esteja apaixonado por outra.
Eu ri novamente, e o puxei de encontro aos meu lábios.
— Eu te amo, . Não sei por quê, mas te amo!
— E eu te amo, — murmurou contra meus lábios, antes de aprofundar o beijo. Quando por fim se afastou, pegou uma caixinha no bolso. — É melhor tornarmos o compromisso oficial — disse, abrindo-a e tirando um anel de diamante.
Assim que o vi, reconheci o anel que ele me dera em Las Vegas. Ele colocou-o no meu dedo trêmulo, enquanto eu o fitava.
— Agora está no lugar certo — disse , sorrindo.
Passei os braços à volta do pescoço dele e o abracei. Fechando os olhos, entreguei-me ao abraço, desejando que nunca terminasse. Preenchida pela sensação de pertencer. Estar com ele, era como estar em casa.
Olhando para minha mão, o queixo apoiado no ombro de , observei o brilho do diamante na luz que vinha da janela.
— E eu também estou — murmurei. — No lugar onde quero ficar para sempre.
Epílogo
A rolha soltou, e o espumante borbulhou na garrafa. Eu observei encher as duas taças de cristal, na mesa à nossa frente. Ele ergueu a taça, as bolhas faiscando à luz das velas, e então me fitou ternamente. Um arrepio de prazer percorreu meu corpo, antecipando o que aquele olhar prometia.
Nós brindamos, e eu o observei por cima da taça, enquanto ele tomava sua bebida. ergueu uma sobrancelha, antes de virar a garrafa para ler o rótulo.
— Sidra — leu. — Sem álcool.
Eu dei de ombros, divertida.
— Você sabe, champanhe e Las Vegas são uma combinação perigosa. Prefiro não correr o risco de ver meu marido se tornar bígamo quando mal secou a tinta da nossa certidão de casamento.
— Bem pensado — murmurou apreciativamente, depois de tomar outro gole.
O casamento oficial acontecera três meses antes, mas a lua-de-mel não dava sinais de que iria acabar tão cedo. Para comemorar a chegada do novo ano, nós havíamos reservado a mesma suíte onde passamos nossa noite — ou melhor, manhã — de núpcias em Las Vegas. A diferença era que neste Ano Novo, nós pretendíamos desfrutar dela plenamente.
— O que acha de resevarmos essa suíte para todos os réveillons nos próximos cinquenta anos? — sugeriu. — Podemos fazer disso uma tradição.
Eu ri.
— Acho que nós vamos preferir um lugar mais... calmo no ano que vem.
— Por que acha isso? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Eu me levantei e dei a volta na mesa, para depositar um beijo demorado em seu rosto.
— Já volto. — Atravessei o quarto e peguei um envelope branco na minha bolsa. O diamante da aliança reluziu em meu dedo, e eu sorri, sendo inundada pelas recordações do ano mais feliz da minha vida.
Meu horário de trabalho poderia ter se tornado um empecilho, por isso eu não havia hesitado em pedir demissão. Com a ajuda de , abri meu próprio café. Era um estabelecimento pequeno, em um bairro tranquilo, mas que me permitia manter minha independência, ao mesmo tempo em que fazia algo que eu gostava. Também deixava minhas noites e fins de semana completamente livres.
também cumpria sua parte. Não havia sido necessário deixar seu emprego, mas só comparecíamos aos eventos mais importantes. No final das contas, eu até me divertia ajudando-o a estabelecer novos contatos e, principalmente, chocando a high society — em dose moderada, obviamente.
Ah, e eu ainda brigávamos — bastante. A maioria das vezes, por pura teimosia de ambas as partes. Mas eu diria que essas pequenas rusgas eram o tempero da nossa relação. E cada reconciliação era espetacular, se é que vocês me entendem.
Quanto ao meu pai, ainda era uma batalha a se ganhar. Grace dizia que ele se achava dividido entre estar zangado com por ter cometido tamanha estupidez — e consequentemente perdido uma grande parceria nos negócios ao romper com a Emily —, ou satisfeito por eu finalmente ter criado juízo. Apesar de ele ainda aproveitar cada oportunidade para me criticar ou tentar mandar em mim, isso já não me abalava mais. Eu tinha a aprovação constante de , e isso era o que me bastava.
No final das contas, Charles havia entrado comigo na igreja e me entregado ao meu marido. Para manter as aparências — ele dissera. Mas nós sabíamos que no fundo ele estava começando a amolecer.
— ? — chamou, se aproximando. — Está tudo bem?
Eu sorri e cobri a distância que faltava até ele. Fiquei nas pontas dos pés e toquei seus lábios com os meus, apreciando o sabor levemente ácido da bebida.
— Feliz Ano Novo, marido.
— Ainda faltam duas horas para... — se calou, quando eu coloquei o envelope em suas mãos. Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo preocupado. De dentro daquele envelope, ele tirou outro, menor. A ruga de preocupação em sua testa se intensificou por uns instantes, antes que uma expressão de choque tomasse seu rosto. — É o que eu estou pensando?
— Abra.
Como se temesse que as pernas falhassem, ele andou até a cama, onde se sentou. Com as mãos trêmulas, abriu o envelope menor e retirou a folha de dentro, lendo-a atentamente. Senti meu coração disparar de nervoso. Antecipação. Receio.
finalmente ergueu os olhos, marejados, para mim e abriu um sorriso lindo, esticando a mão na minha direção. Andei até ele, que me colocou entre as suas pernas, então tocou minha barriga reverentemente. Depois de depositar um beijo suave sobre o tecido leve do vestido, ele me fez sentar em seu colo.
— Eu te amo — sussurrou, antes de tomar posse dos meus lábios, sem nem me dar a oportunidade para responder. Não que fosse necessário; ele sabia.
E, assim, nós começamos nossa comemoração particular pelo novo ano que logo se iniciaria. E pela nova vida que havíamos concebido juntos.
~The End~
N/A: AEE! Cabou, finalmente!!
Antes de tudo, por que raios eu acabo sempre escrevendo essas paradas fluffys? Sério, this is NOT my style. Desculpem por subir um pouquinho a taxa glicêmica de vcs.
Não sei se o epílogo era realmente necessário, mas às vezes fico chateada — e curiosa — com o final de alguns livros, porque queria que os autores dessem pelo menos um vislumbre de como ficou a vida dos protagonistas. Como eles contornaram os problemas e tal.
Anyway, espero que tenham gostado e um grande MUITO OBRIGADA a todas as queridas que acompanharam, especialmente as amadas que comentaram. Se não fosse por vocês, eu não teria terminado essa fic. Aprendam com elas, leitoras-fantasmas u.u'
Quanto aos planos futuros, estou "tocando" três fics e com total intenção de terminá-las. Só esperando adiantar mais as coisas para poder começar a postar. Well, isso pode demorar um pouquinho. E elas saem do gênero fluffy, eu juro. Ok, não totalmente. Ah, vão ter que esperar para julgar por si msms.
Então é isso. Muito obrigada e até a próxima! E, por favor, comentem!! <3
~Nikki
Gostou? Então, curta e deixe um comentário!
Ebaaaaaa fic nova!!Já começou boa e sei q vai terminar divisa ainda mais se tratando d VC ;) Ansiando cap 2 ^.~
ResponderExcluirOwwn *-* Fico feliz que esteja gostando, flor! *-* Mais tarde tem capítulo novo! :*
ExcluirAmeeei! Nem li tudo ainda, mas minha mãe está com um cinto na mão e me obrigando a desligar o computador e.e'
ResponderExcluirPor isso vim dar uma comentada rápida kekekekekee
Continue, ok? Desafiei a minha mãe pra comentar isso, então por favorzinho inho inho *-*
^-^~
hahahahaha Nada como viver perigosamente! xD
ExcluirPode deixar que logo tem mais! ^^
Mto obrigada por comentar e espero que ainda esteja viva e bem ':D
Bjus
ELE BEIJOU?? MAS Q HOMI ESTRANHO ESSE!! rseses
ResponderExcluirhahaha Bipolar!
ExcluirEu quase Caio d tanto rir kkkkkkkkkk As ideia, meu! Jkkkk sim,esse capítulo foi uma viagem muito das boas LOL LOL Esperando o próximo ^•^ #FIGHTING
ResponderExcluirhahahahahah Fico feliz que tenha gostado! *-* Vou fazer o possível pra postar o próximo ainda hj! Bjus ^^
ExcluirMeu Senhor! Que fanfic fantástica!!! Meu Deus! Estou simplesmente amando essa história louca e ainda estou mega ansiosa para saber o que vai acontecer com esses dois. Depois dessa Edith, ou melhor, Ômega Sete, nem sei mais o que esperar kkkkkk mas sei que virá coisa boa! Esperando o próximo capítulo!!
ResponderExcluirhahahahah Waa, que bom que está gostando! *---* A PP ainda vai aprontar um pouquinho, só um pouquinho, mas nada comparado a Ômega Sete xD Brigada por comentar! ;*
ExcluirOMG *-* quase tive um trem lendo, que homem mais estranho (e perfeito), kkkkk,esse capítulo foi uma viagem muito das boas LOL Esperando o próximo ^^ #FIGHTING
ResponderExcluirhahahahahahah xD Espero que ainda esteja gostando! Logo, logo sai o último capítulo! Brigada, viu? :*
ExcluirQue história mais louca, engraçada, divertida. Adorei tudo q li. Depois que terminar essa fic tem que começar outra -porfavorzinho-
ResponderExcluirAguardando o próximo capitulo :)
hahahahah Owwn, que bom que gostou! Espero que goste também do final! hahahah Mto obrigada por comentar! ESpero poder postar mais logo! <3
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