OTHER: Jogando Pra Valer, by Nikki

Jogando Pra Valer

JOGANDO PRA VALER
por Nikki

Universidade da Califórnia em Berkeley. Primeiro ano.
Um grupo de amigas decide dar uma lição no maior galinha da faculdade - que acontece de ser o irmão gêmeo de uma delas. O objetivo? Fazê-lo se apaixonar e descartá-lo. Enquanto isso, a gêmea está muito tentada a se aventurar entre os lençóis com o melhor amigo do irmão ciumento, que é outro cafageste notável.
O verdadeiro desafio para ambas é: Como entrar no jogo sem perder o coração no caminho?
Gênero: Romance, New Adult, Citrus
Dimensão: Longfic
Classificação: Restrita
Aviso: Esta fic é uma adaptação e fusão de dois livros. Características físicas das protagonistas pré-determinadas. Nomes em uso: Brittany, Carly, Darla, Michael, Frank e Phillipe.

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~ Capítulo 1 ~ Capítulo 2 ~ Capítulo 3 ~ Capítulo 4 ~ Capítulo 5 ~ Capítulo 6 ~ Capítulo 7 ~ Capítulo 8 ~ Capítulo 9 ~

~ Parte II ~

 


N/A: Olá, pessoas! Então, quando comecei a escrever esta fic, há uns meses, eu fiz por puro entretenimento (especialmente para Lyssa, minha bestafriend <3) e não tinha intenção de postar. Mas eu mudei de ideia e resolvi postar. O problema: são DUAS protagonistas e elas têm suas características físicas pré-estabelecidas - uma coisa que evito sempre fazer. Mas espero que isso não tire a diversão!
As duas tem peso igual na história, embora nos primeiros capítulos tenha um ênfase maior na história de uma delas, mas logo o desenvolvimento dos dois romances vai se desenrolando. A fic será grande, com mais de 20 capítulos, e dá um certo trabalho revisar tudo pra modificar e adaptar certas coisas pra que ela se torne interativa. Então se alguém tiver acompanhando, eu vou liberando os próximos capítulos.
^^
Enjoy!


 

Capítulo 1


Se eu fosse do tipo de odiar à primeira vista, eu o odiaria desde a primeira vez que meus olhos recaíram sobre ele, cerca de seis meses atrás.

Talvez fosse pelo sorriso presunçoso que repuxava seus lábios cada vez que uma garota deitava seu olhar de admiração sobre ele, ou talvez fosse o modo como ele as despia com os olhos. Talvez por ele ser convencido, pela atitude de quem não dá a mínima para nada ou por saber que ele poderia ter qualquer garota do campus. Ou melhor, qualquer garota da cidade.

Talvez fosse porque eu estava atraída por ele, quando definitivamente não queria estar.

Eu me forcei a afastar os pensamentos e passei os olhos pela sala da fraternidade, tentando ignorá-lo. Não era uma tarefa fácil, especialmente com as garota ao redor dele, que quase subiam em seu colo. Não que eu pudesse culpá-las totalmente; era pecaminosamente gostoso.

Os cabelos castanhos arrepiados que ficavam loiros ao sol. Os olhos hipnotizantes, combinando com a pele suavemente bronzeada de quem praticava atividades ao ar livre. Os lábios desenhados e tentadores, junto com a covinha no queixo. Sem mencionar o corpo, perfeitamente muscular digno de um atleta.

— Pare de comê-lo com os olhos. — Carly parou ao meu lado, esbarrando em meu ombro.

— Eu não estou fazendo isso! — protestei, sendo replicada por um riso debochado. — Eu jamais faria isso. Seria mais fácil você me ver subindo na mesa e fazendo um strip-tease para a casa toda.

— Uh, sei de vários caras que fariam fila para ver isso — ela provocou.

Frank piscou para mim do outro lado do balcão, e eu suspirei.

— Que pena que isso nunca vai acontecer, Carly.

— Realmente é uma pena. — Ela sorriu para mim. — Eu não perderia isso por nada.

Eu meneei a cabeça, sorrindo. Desde que chegou ao nosso dormitório, Carly deixou claro que era bissexual e não se incomodava de esconder. Sua sinceridade e espontaneidade ganharam meu respeito imediato.

— Você é incorrigível.

— Eu prefiro o termo direta. — Ela piscou e estalou os dedos para Frank. — Ei, barman, bebidas aqui!

— Espere a sua vez, chata — ele respondeu, servindo duas doses de vodca e entregando a alguém no final do balcão.

— Aposto que ele viria correndo se fosse você pedindo — ela resmungou, não tão baixo quanto deveria. Aceitando a provocação, Frank se colocou à minha frente com seu sorriso de mil watts.

— Quer uma bebida, princesa?

— Não, obrigada — sorri educadamente. — Mas você pode trazer algo para a Carly aqui.

 — Quero quatro doses de vodca, Frank. — Carly se inclinou para frente e bateu a mão contra a superfície do bar. — Essa noite eu vou mostrar à senhorita aqui como é que se faz.

— É para já. — Ele se virou e alinhou quatro copos.

— Carly, você sabe que eu não bebo.

— Não bebia — corrigiu. — Agora você bebe.

— Carly.

— ela imitou meu tom de voz, recebendo os copos que Frank deslizou para nós. — Beba os dois no três. Sem pensar, sem desculpas.

— Isso é uma péssima ideia — murmurei, pegando os dois copos e olhando para o líquido de cheiro forte. — Se eu vomitar, você limpa.

— Não venha bancar a menina certinha comigo, meu bem. — Ela piscou. — Pronta? Um, dois, três!

Virei um copo e engoli. Virei o outro e tive que fazer um esforço para não engasgar. Minha garganta ardia enquanto o álcool descia rasgando. Eu esfreguei o pescoço como se isso pudesse ajudar a aliviar. Frank sorriu para mim.

— Pensei que você não bebia.

— Eu não bebo — respondi, empurrando os copos vazios.

— Tem certeza que nunca bebeu antes, ? — perguntou Carly, parecendo impressionada.

— É obvio que já bebi, mas não o suficiente para me embebedar.

— Isso muda hoje à noite! — ela bateu no balcão novamente. — Frank, mais seis doses.

— De quê?

— Do que você tiver de mais forte.

— Faça doze — disse Brittany, deslizando para o meu lado. — Três para mim e três para quando chegar aqui.

— Doze? Quantos copos vocês acham que eu tenho? — Frank brincou e abriu outro armário. Havia uma prateleira de copos de dose perfeitamente alinhados.

— Odiaria ser o responsável pela limpeza amanhã — comentei.

. — Frank riu. — Azar o dele, e sorte a minha por poder servi-las. — Ele se inclinou para frente com um sorriso que derreteria qualquer coração. Eu ergui uma sobrancelha e esperei pacientemente que ele entregasse todas as doses.

— Perdi alguma coisa? — perguntou , se espremendo entre mim e Brittany, seu cabelo castanho claro balançando enquanto ela saltitava animadamente. — Tantas doses! Qual é a ocasião?

— Deixar bêbada! — anunciou Carly, levantando o primeiro copo.

— Mentira! — se virou para mim com uma expressão de choque dramática. — É sério?

— Parece que sim — respondi secamente.

— Inacreditável, . Isso vai ser divertido! — Ela deu mais alguns saltinhos, que fizeram os olhos de Frank descerem para seu colo. usava um macaquinho com um decote que descia até a cintura, deixando o vão entre os seios, e parte deles, à mostra. Eu segurei seu braço para contê-la, temendo que a movimentação acabasse mostrando demais. Mas ela não parecia se preocupar e nem se dar conta do risco que estava correndo.

— Chega de papo! — gritou Brittany, pegando um copo. — No três?

— Claro! — riu Carly. Eu respirei fundo e peguei dois copos. O que diabos havia de errado comigo? Eu não era de beber. — Um, dois, três!

Eu virei um atrás do outro, pisquei algumas vezes e engoli. Fogo. Bleh.

— Puta que pariu.

— Está funcionando! — riu Britt. — nunca xinga.

— Eu xingo sim. Ocasionalmente.

— Meu bem, te garanto que até o final da noite todo seu repertório de palavrões vai ter passado por esses adoráveis lábios cor de rosa.

Eu resisti à vontade de revirar os olhos.

— Eu posso pensar em algumas coisas que eu gostaria que passassem por esses belos lábios cor de rosa — comentou Frank, piscando para mim.

— Seu porco nojento! — Carly se inclinou sobre o balcão e socou o braço dele.

— Puta merda, Carly. — Ele esfregou o braço atingido. — O que você tem nessa mão? Ferro?

— Contenha seus hormônios se não quiser saber o que mais essas mãos podem fazer — ela disse, piscando. Eu não tinha certeza se era uma ameaça ou uma proposta. Carly ficou de pé e segurou minha mão. — Vamos lá, garota, vamos colocar nossas bundas para mexer!

Eu lancei um olhar desesperado de “me ajude!” para Brittany e dei um puxão na roupa de .

— Ah, tudo bem, estou indo! — Ela se voltou, arrastando Brittany junto também.

A sala da frente estava lotada, a música bombando pelos alto-falantes e os corpos se contorcendo no centro. Um casal estava se pegando no sofá e— oh, meu Deus. Não, aquilo era definitivamente mais que uma pegação.

Desviei o olhar e permiti que as meninas me arrastassem para a massa de corpos dançantes. O álcool começava a fazer efeito, e eu me senti relaxar um pouco. pegou uma das minhas mãos e me incentivou a dançar. Eu ri e acabei me soltando também.

— Manda ver, menina! — grita Carly. — O próprio sr. está de olho nesse seu corpinho sexy!

Fantástico. Era tudo o que eu queria — ser a próxima na sua lista de coisas a fazer. A próxima em uma lista muito, muito longa.

— Ele pode continuar olhando, porque isso é o mais perto que ele vai chegar. — Eu o vi observando de um canto da sala e virei as costas para ele.

— Alguém deveria dar uma lição nele — disse Brittany, jogando o cabelo por cima dos ombros. — Derrubá-lo do alto daquela ego gigantesco.

— Não é uma tarefa para qualquer um — afirmou . — Ele é assim, hm, desde sempre.

Ela, sendo irmã gêmea dele, era a especialista em . Felizmente para ela, a cor do cabelo e dos olhos era tudo que os dois tinham em comum. Contando com ela, nós quatro éramos provavelmente as únicas naquela que casa que não rastejávamos aos pés dele.

— Sabe o quê? — disse Carly, captando de volta nossa atenção. Eu lancei um olhar para trás e vi uma garota ruiva esfregando os seios no decote baixo no braço dele.

— O quê? — perguntei, lançando a ele um olhar de desgosto.

— Esse garoto precisa sentir na própria pele como é ser usado e descartado.

Os três pares de olhos se voltaram para mim. Eu balancei a cabeça, dando um passo para trás.

— Ah, não. Não, não, de jeito nenhum! — Eu virei e saí da sala, abrindo meu caminho pela cozinha até o quintal, com todas as três meninas em meu encalço.

, vai ser divertido! — Brittany se colocou à minha frente e segurou minhas mãos. — Vamos lá!

— Hum... — olhou para a casa, então para mim. — Eu acho que não faria mal.

— Não. — Balancei a cabeça novamente.

— Você só tem que usá-lo uma vez — disse Carly. — Além disso, não é como se ele fosse ruim de se olhar, né? Eu poderia bem me imaginar apertando aquela bundinha gostosa.

— Então faça isso você!

— Ah, não — interveio. — Não pode ser ela. Carly pode ser bi, mas todo mundo sabe que ela prefere garotas, então ele não vai cair. Britt namora o amigo dele, e eu sou irmã. Ela bufou. Só pode ser você.

— Não entendo o que vamos ganhar com isso. — Suspirei, olhando para cada uma delas.

— A satisfação de saber que o imbecil finalmente quer algo que não pode ter. — Carly encolheu os ombros. — Vamos lá, . Vai levar duas semanas, três, no máximo.

— Um mês, talvez — acrescentou , parecendo cada vez mais empolgada. — Depois disso, ele vai se cansar e desistir ou vai se apaixonar por você. Ele está sempre te observando, . Até na sala de aula, quando você está distraída. E ele se recusa a falar comigo sobre você, então eu sei que está atraído por você, já que ele sempre me conta sobre as conquistas do fim de semana.

— Além disso, nós temos a aqui que sabe perfeitamente como a mente dele funciona — disse Brittany. — Uma imensa vantagem a nosso favor.

— Vocês não vão aceitar um ‘não’ como resposta, né? — Suspirei, passando os dedos pelos  meus longos cabelos loiros.

— Não — Carly meneou a cabeça enfaticamente.

— Ah, merda. Tenho a sensação de que vou me arrepender disso.

, esta é a sua missão: virar a mesa. — Ela sorriu, erguendo a mão espalmada para baixo. Brittany e colocam as suas em cima da dela. — Mostrar como é estar do outro lado do jogo. Fazê-lo provar do próprio veneno. Você aceita?

Eu inspirei profundamente, cada pedaço da minha mente me gritando para dizer não e correr. Ao invés disso, eu estiquei minha mão sobre a delas.

— Aceito.


Eu rolei na cama, estremecendo com a luz que penetrava através das cortinas. Quanto eu havia bebido na noite passada? Demais, obviamente.

— Bom dia, raio de sol! — gritou Carly, fechando a porta do quarto com um chute.

— Não para mim. — Puxei as cobertas por cima de mim, enterrando a cabeça no travesseiro.

— Eu trouxe café e muffins! — Ela puxou a coberta para baixo e eu gemi, abrindo os olhos.

— Por quê? Por quê? — gemi.

— Por que o quê?

— Por que eu sinto como se acabasse de ser atropelada por uma manada de gnus?

— Um, eu não faço ideia do que seja um gnu, e dois, isso se chama ressaca. — Carly ergueu um copo para viagem do Starbucks e meu muffin favorito de mirtilo. Eu me sentei e os peguei dela.

— Obrigada. Por que você não está se sentindo assim?

— Eu sou uma dessas pessoas sortudas. — Carly tirou os tênis e pulou em sua cama. — Não tenho ressacas. Já você parece que tem. também é assim. Ela normalmente ficaria na cama o dia todo.

— Parece bom para mim. — Tomei um gole de café.

— Mas não hoje — ela cantarolou. — Hoje nós temos que começar a trabalhar.

— Começar a trabalhar?

Ela ergueu as sobrancelhas para mim.

— Você se lembra do nosso acordo na noite passada? Da sua missão, sra. Bond?

Ah, aquilo.

— Eu pensei que estavam brincando.

— E você já me viu brincar sobre algo tão sério quanto sexo?

— Ok, ok — eu cedi, suspirando. — Mas o que você quer dizer com “trabalhar”?

— Precisamos elaborar um plano de ataque! — Ela cruzou as pernas em estilo indiano e deu dois saltinhos sobre a cama. Ver minha colega de quarto tão animada era uma indicação de como aquele dia já havia começado estranho.

— Um plano de ataque — repeti em tom baixo.

— Claro! Acha que pode entrar nisso às cegas? Oh, não, querida. — Ela balançou a cabeça enfaticamente, fazendo as ondas curtas do seu cabelo marrom balançarem. — Não se pode enfrentar sem estar devidamente preparada. Porque essa é uma missão de risco. Você tem que fazê-lo se apaixonar por você, mas nós sabemos que ele é um especialista, o que pode reverter o quadro e fazer você se apaixonar por ele.

— Daí não haveria um pegar-usar-largar, o que iria contra nosso objetivo. — Suspirei.

— Precisamente. — Ela bateu as mãos, juntando as palmas. — Por isso, temos que descobrir um plano infalível para garantir que, enquanto ele perde o coração, o seu fique seguro. Porque isso seria um desastre.

— Carly, eu não sei. não se apaixona. Se ele tivesse um livro de regras, esta estaria no topo, logo acima da regra que diz que regras são para otários. Eu tenho um mês para fazer isso, não é? Sinceramente, não sei como é possível.

— Nada é impossível se você acreditar o suficiente. — Ela provavelmente tirou isso de um biscoito da sorte.

—Mas eu não sei se acredito.

— Você vai — disse ela, confiante. — Você vai.

— Espero que você esteja certa — respondi, — Porque está parecendo um fracasso antes mesmo de começar.

— Toc, toc. — A porta se abriu dando passagem para Brittany, seguida por , segurando uma cartolina branca enrolada e vários hidrocores debaixo do braço.

— O que é isso? —perguntei.

— Operação Virando o Jogo — respondeu , sentando-se no chão entre as camas. Ela desenrolou a cartolina, usou dois livros para mantê-lo esticado  escreveu “OVOJ – Operação Virando o Jogo” no topo da folha.

Eu sacudi a cabeça em descrença. Ia mesmo fazer aquilo? Tinha a impressão de que a faculdade significava crescer, mas estava errada. Eu me sentia como se tivesse treze anos outra vez e estivesse tentando armar para minha paixonite da escola admitir que também tinha uma quedinha por mim.

— Pare de balançar a cabeça. — Brittany pulou para minha cama, ao meu lado. — Vai ficar tudo bem. Você pode fazer isso.

— Vocês percebem que em termos de amor e relacionamentos, um mês é curto, né? E em termos de , um mês é uma vida? — questionei. — Quem me garante que em uma semana ele não vai ficar entediado e vai atrás de uma das vacas de sempre para aquecer sua cama?

— Você tem que impedi-lo de fazer isso — disse baixinho. — Tem que fazê-lo não querer sair do seu lado.  Eu te dou uma semana para enrolá-lo, conquistar seu interesse e, então, ...

— Uma semana?

— Se puder mantê-lo interessado por uma semana, ele vai se apaixonar em três — ela esclareceu, destampando uma canetinha azul. — A primeira etapa. Interesse. — Ela anotou no cartaz, me dando até o próximo domingo.

— Espera, isso não vai começar até amanhã!

— Errado — Carly meneou a cabeça.

— Os garotos vão jogar futebol no quintal da fraternidade mais tarde — contou Brittany. — Nós todas estaremos lá.

Eu suspirei. Dava para encher um balão com a quantidade de suspiros que eu dei só na última meia-hora

— Tudo bem. Começa hoje à tarde.

sorriu para mim, com a canetinha verde na mão.

— A segunda etapa, na próxima semana, afeto público.

Eu franzi a testa.

— E, nos meus termos, isso seria...?

— Dar as mãos, beijar em público, exclusividade.

Bufei.

— Vocês tem uma maldita fé cega em mim, sabiam?

— A etapa três, na terceira semana — continuou Carly. — Quase sexo e reconhecimento público da relação.

— Todo mundo tem que saber?

— É claro. — Brittany ergueu uma sobrancelha bem feita para mim. — Essa coisa de pegar, usar e largar não vai ter graça se todos que nós conhecemos, e mais alguns, não ficarem sabendo.

— Parece um pouco... demais.

— Você tem que ser cruel para ser bom — disse Brittany, me fazendo pensar na música de Nick Lowe, Cruel To Be Kind.

— Elas têm razão — concordou , sem tirar os olhos do papel. — Eu não gosto muito da ideia de magoá-lo, mas já está na hora de ele aprender certas coisas. Se já está assim em seis meses de faculdade, imagina como vai estar daqui a dois anos. Ele precisa pegar a mensagem clara e direta.

— Por que não falar com ele? — tentei. — Por que ir direto para as medidas extremas?

— Porque é assim que funciona. Você acha que eu nunca tentei conversar com ele? Ele é consciente o suficiente para quebrar a cara de um garoto “inadequado” que se aproxime da irmãzinha dele, mas não percebe que para as irmãs dos outros, ele é o cara inadequado. O cachorro, cafajeste, egocêntrico...

— Ok, já entendi. Então vamos dizer que dê certo. E ele se apaixone por mim. Eu o uso e descarto, mas e depois? Você sabe que ele não vai simplesmente abrir mão. Ele vai lutar para me ter de volta. O que eu faço então?

Todo mundo parou, e se recostou na cama, colocando a extremidade do hidrocor na boca. Carly inclinou a cabeça para o lado, e Brittany começou a morder o canto da unha.

— Não tinha pensado nisso — disse calmamente. — Se tem alguma coisa em seu favor—

— Além do óbvio? — Brittany riu.

— Além do óbvio. É que ele vai atrás do que quer. Meninas, eu odeio dizer isso, mas tem um ponto. Se ele se apaixonar, e ela o deixar, ele vai tentar recuperá-la feito louco. Ele não vai abrir mão dela facilmente. Não mesmo.

Meus olhos se arregalaram.

— Mas e se se apaixonar por ele? — perguntou Brittany. — E se ela não conseguir só usar e jogar fora?

— Por favor. — Eu fiz um gesto de desdém. — encarna tudo o que mais odeio. Ele é arrogante, egoísta e um nojento. Eu jamais me apaixonaria por alguém assim.

— Mas ele também é engraçado, muito protetor e, por baixo da fachada de moleque piranha, ele é o tipo de cara que você levaria para casa para conhecer sua mãe. Eu o conheço, . Se ele quer uma coisa, vai fazer o que for preciso.

— Então nós vamos lembrá-la todos os dias por que ela o odeia — disse Carly, dando de ombros.

— Pode não ser o suficiente — reiterou , com um suspiro triste.

— Vai ser — eu disse com firmeza. — Vai ser.

— Ok, de volta ao problema original — acenou Brittany, balançando as pernas. — Se ele se apaixonar.

— Então lidaremos com isso quando chegarmos lá. — Carly encolheu os ombros. — Não sei o que mais podemos fazer.

Ugh.

— Ok, qual é a última etapa? — perguntei.

— Fase quatro, usá-lo e dispensá-lo. — escreveu e sublinhou com um floreio. — Não acho que preciso elaborar isso.

— Não — afirmei. — Não precisa.

Olhei por cima do ombro dela para o cartaz colorido no chão. Estava dividido em quatro, coordenado por cores, e cada etapa explicada. Eu suspirei, me perguntando — não pela primeira vez — por que diabos havia concordado com aquilo.

 


 

Capítulo 2


Culpa. Eu me sentia extremamente culpada pelo o que estava fazendo com a e o . Minhas intenções eram as melhores, mas havia o medo de que nada desse certo. A última coisa que eu queria era que um dos dois saísse machucado.

Eu não ia voltar atrás agora. Os planos já estavam em andamento e eles precisavam de mim para que tudo desse certo. Apesar de a ideia não ter partido de mim, assim que foi proposta, todo um esquema se desenrolou na minha mente, mostrando que aquilo era a solução perfeita. Eu afastei a noção de que — aparte de querer resgatar meu irmão de uma vida desregrada — eu estava agindo por um impulso primariamente egoísta. Talvez eu não fosse tão diferente dele, afinal de contas.

O celular de Brittany tocou, tirando sua atenção do espelho. Ela pegou o aparelho e digitou alguma coisa com uma mão só.

— Já deve estar começando — disse, terminando de prender sua trança. — Vamos?

Eu fechei o livro — que estivera olhando pela última meia hora sem captar nenhuma palavra — e me levantei da cama, calçando a sandália. Brittany andou até a porta e segurou a maçaneta, antes de se virar para mim.

— Você vai assim?

— É só um jogo de futebol. — Ok, minha aparência não era das melhores. A camiseta que eu usava, além de estar um pouco desbotada, estava toda amarrotada, o cabelo despenteado, o short era uma velha calça jeans mutilada...

Uma batida impaciente na porta interrompeu minha avaliação.

— Vocês vêm ou não? — gritou Carly do outro lado. Eu suspirei, resignada.

— Vão na frente, eu encontro vocês lá — disse para Brittany. Ela assentiu e saiu para encontrar as meninas no corredor.

Eu abri o armário e escolhi uma camisa cinza larga e curta, com os dizeres “So you wanna make my every fantasy come true?” em letras cintilantes e garrafais na frente. A conclusão debochada estava na parte de trás em pequenas letras cursivas: “I don’t think so”. Eu a vesti com um top preto por baixo e um short jeans de cintura alta. Prendi os cabelos em um rabo frouxo e calcei uma sapatilha azul. Completei o look com uma maquiagem bem leve, só para disfarçar a cara inchada de quem passou o dia inteiro na cama, e um colar de duas voltas de contas brancas e lilás.

Quando finalmente cheguei ao quintal da casa da fraternidade, o jogo já havia começado. Eu localizei onde as minhas meninas estavam sentadas — próximo às namoradas de alguns dos garotos — e andei até elas. Poderia ser só um joguinho informal entre amigos, mas nem por isso havia pouco esforço, tanto da parte dos jogadores quanto da pequena “torcida”.

Estávamos no outono, mas como era comum ali na Califórnia, a temperatura estava alta. Pela milésima vez, eu observei — amigo e companheiro de fraternidade do meu irmão — erguer a camisa para enxugar o suor do rosto. Era uma visão privilegiada, porque nos dava um pequeno vislumbre tentador do seu abdômen.

— Tempo — pediu Tony Adams, apoiando as mãos nos joelhos. — Por favor?

— Você é um covarde de merda, Adams — provocou, embora eu pudesse dizer que até mesmo ele apreciaria uma pausa.

— Desculpe, eu sou do Maine, e não estamos acostumados com essas temperaturas do deserto.

— Nós não vivemos no deserto, idiota. — Frank deu um tapa na parte de trás da cabeça dele.

— Pelo o que parece, poderíamos muito bem estar — resmungou Adams. Michael Murray andou até nós e se jogou ao lado da namorada, Brittany. pegou uma garrafa de água e seguiu o mesmo caminho que o amigo.

— Meninas — ele cumprimentou, sorrindo especificamente para . Eu cheguei a sentir um friozinho no estômago vendo-a retribuir. Havia oficialmente começado.

— Pode parar com o charme, Casanova — impliquei, rindo e me deslocando para que ele pudesse se sentar. — Ninguém aqui está interessado.

— Exceto eu — disse ele, piscando para .

— Sim, , todos nós sabemos do seu imenso interesse por si mesmo — disse Brittany, revirando os olhos.

— Mike, controle a sua garota — ele brincou.

Eu totalmente perdi a réplica da Brittany, porque parou à minha frente, prejudicando seriamente minha capacidade de raciocínio — como de costume. Ele inclinou a cabeça para trás para beber água. O líquido transparente escorrendo pelo seu queixo, pescoço, o pomo de adão se mexendo a cada golada. O tórax forte marcado pela camiseta azul-escuro molhada. Pela milésima vez eu me perguntei onde raios ele conseguia aqueles músculos se a única atividade que eu sabia que ele praticava era o futebol com os amigos.

Ele parou de beber e enxugou a boca com as costas da mão. Eu me obriguei a desviar o olhar, torcendo para que ele não tivesse percebido que o estivera encarando. Se havia alguém no campus inteiro que poderia bater de frente com em termos de ego, esse era o . A última coisa que eu precisava era que ele percebesse meu interesse.

— Vai para alguma festa depois daqui? — perguntou, apontando minha roupa com a garrafa. Eu me reclinei para trás, apoiando meu peso nas mãos, assim eu podia olhar para ele sem ficar com o pescoço dolorido. Não foi intencional que minha blusa se reajeitou provocantemente, deixando um ombro à mostra.

— Eu gastei menos tempo me arrumando do que você leva para ajeitar seu cabelo — retruquei. Eu era conhecida por ser uma pessoa agradável e simpática com todo mundo, mas havia alguma coisa em que me tirava totalmente do sério. De algum modo, ele despertava em mim alguma coisa primitiva que me cegava para toda lógica e razão. O que mais me irritava é que eu percebia que ele se divertia em me provocar. Para minha surpresa, ele ignorou minha réplica, porque estava mais concentrado em analisar minha blusa.

— Não deve ser tão difícil. — Os lábios dele se repuxaram em um sorriso presunçoso, enquanto seus olhos se estreitavam em direção ao meu colo. Eu não precisei olhar para baixo para saber o que ele estava lendo: “Então você quer tornar cada fantasia minha realidade?” — O que uma garota como você pode querer?

Uma garota como você... Eu mordi o lábio inferior, sentindo uma raiva fervente borbulhado no meu peito.

— Não me nivele por baixo, querido. As garotas com quem você dorme podem ser fáceis de agradar, mas garotas como eu estão em um nível completamente diferente.

— Ah, eu não tenho nenhuma dúvida disso. — Aquilo não me soou lisonjeiro, mas eu não tive a oportunidade de perguntar o que ele queria dizer.

Frank havia se aproximado e forçado a dar espaço para ele se sentar, acabando com qualquer chance de avanço que poderia estar prestes a fazer. Não era nenhum segredo o interesse de Frank pela minha amiga, assim como não era segredo o fato de que odiava concorrência.

O que poderia ser um ponto a favor para nós.

— Como vai, linda? — Frank perguntou, depois de se acomodar. sorriu largamente para ele, e eu pude ver que isso irritou ainda mais.

— Bem, e você?

— Muito melhor depois de vê-la.

Ugh, isso era enjoativo, embora eu até pudesse entendê-lo. parecia uma boneca, com seu rostinho de menina, os longos cabelos loiros ondulados e os adoráveis olhos acinzentados. Ela ainda tinha essa estatura pequena para ajudar. O corpo mignon e os seios fartos, no entanto, serviam para quebrar a imagem angelical. Era um conjunto absolutamente encantador.

 Eu cutuquei meu irmão com o braço, percebendo que ele continuava encarando os dois com o cenho franzido.

— Com ciúmes, ?

— De Frank? — Bufou com desdém. — É, claro.

certamente tinha um conceito bem alto de si mesmo, já que Frank era definitivamente um bom pedaço de mau caminho.

— Se esse seu tom esverdeado não é de ciúme, então suponho que você seja o Incrível Huck?

— Não enche, .

— Olha, , se você quer chegar nela, é só conversar. Sério, ela não vai morder.

— Eu ia gostar se ela mordesse.

Argh, você é nojento! — Eu dei um tapa em seu ombro. — Dá para ver que você está interessado nela, então por que não a convida para sair?

— Você sabe muito bem, , que eu não levo garotas para sair.

Claro que não, o único lugar para onde ele as levava era para sua cama. Provavelmente ele não teria ideia do que fazer em um encontro.

— Ela adora os muffins de mirtilo do Starbucks — joguei, esperando que ele aproveitasse a dica. — Deveria dar uma chance para ela conhecê-lo. Não o cachorro no cio que aparece para as outras garotas, mas o verdadeiro .

— Talvez. — Ele virou a cabeça de volta para ela, e eu segui seu olhar. estava nos encarando com os olhos estreitados. Ela meneou a cabeça, e se voltou para mim com uma interrogação no rosto.

— Já deu para as mocinhas se refrescarem, né? — gritou , jogando a bola na direção de . Felizmente meu irmão tinha bons reflexos, então a agarrou e jogou de volta. Ele entregou sua garrafa de água para , piscando um olho para ela, e foi se juntar aos garotos. Minha amiga o acompanhou com os olhos até que Frank, possivelmente se ressentindo da falta de atenção, decidiu tirar a camisa.

Ouviu-se basicamente um suspiro coletivo da plateia feminina. Frank tinha um rosto perfeito de modelo que, em conjunto com seu corpo magro e definido, era uma injusta desvantagem com a maioria dos seus concorrentes. Obviamente, não se incluía aí. Ele não perdeu tempo em arrancar a própria camisa e jogá-la para mim. Seu sorriso me disse que ele havia conseguido seu objetivo: se em algum momento havia se fixado em Frank, isso era passado. era maior e mais bem construído que qualquer outro garoto ali.

O jogo recomeçou e, dessa vez, muito mais quente. Havia uma tensão óbvia entre meu irmão e seu rival. A partida amigável basicamente se tornou um duelo sangrento, com os dois se enfrentando diversas vezes. Até que em um drible, Frank tirou a bola de , que esbarrou no outro, derrubando-o na grama.

— Que porra foi essa, ?

— Escorreguei. Desculpe — respondeu meu irmão, com um enorme sorriso cara de pau.

— Escorregou o caralho! — Frank se levantou e foi para cima de . Eu fiquei de pé em um pulo e corri para onde eles estavam.

— Woah, woah! — se interpôs entre eles. — Vamos controlar a testosterona, pessoal. É só um jogo.

— É, Frank, controle a testosterona — provocou meu irmão, me fazendo gemer.

— Se está tentando convencê-la de que é o melhor de nós dois, então boa sorte. Ela não é tão estúpida quanto sua freguesia habitual.

Droga. Isso fez com que avançasse, mas o parou, colocando a mão em seu peito.

— Cara, não. Vá esfriar a cabeça.

e Frank ainda se encararam por vários segundos tensos, até que respirou fundo e assentiu.

— Tudo bem. — Ele chutou a bola para longe e veio andando.

— Você não consegue nem jogar uma partida de futebol sem transformar em uma disputa de macho alfa, né? — ri, sentindo minha tensão se esvair. Ele me atirou um olhar afiado e pegou a camisa da minha mão. Quando chegamos onde as meninas estavam, entregou a garrafa para ele.

— Tudo bem? — ela perguntou suavemente. Ele bebeu um gole antes de se voltar para ela.

— Sim, está tudo bem, anjo.

— Bom. — Ela sorriu para ele, e Carly, que havia sentado ao seu lado, suspirou.

— Estou saindo — ela disse, em um tom de falsa irritação.

— Ah, obrigado, Carly — ele disse, sentando-se no lugar que ela tinha acabado de desocupar. — Como adivinhou?

— Nah, parecia que você estava precisando ser colocado contra a parede. — Carly piscou, me fazendo rir.

— Ou contra — provoquei. Foi a vez de Brittany rir.

Meu irmão se virou para e até eu pude ver que ela estava um pouco corada.

— Eu colocaria um monte de coisas contra , mas nenhuma delas adequada para exibição pública.

Eu e minhas duas amigas gargalhamos, enquanto abriu e fechou a boca, como um peixe buscando por ar. a cutucou, assumindo um ar mais íntimo.

— Desculpe. Te embaracei?

— Não — ela grunhiu. — Nem um pouco.

riu e colocou um braço em volta do seu ombro amigavelmente.

— Eu acho que sim, e sinto muito. Não era minha intenção.

— Está tudo bem — ela respondeu, mas mesmo de onde eu estava era possível ver seu corpo tenso.

— Não, não está — ele insistiu.

Os garotos começaram a se deslocar para fora do campo improvisado.

— O jogo acabou! — anunciei, sentindo que precisava aliviar o clima. Eu fiquei de pé, e estendeu a mão para ajudar , sorrindo.

— Obrigada. — Ela sorriu para ele, recolhendo a mão, e veio para o meu lado. Eu peguei o braço dela, e nós começamos a andar.

— Ei, ? — ele chamou. Eu estaquei, enquanto ela se virava, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Sim?

— Nós temos aula de Literatura Inglesa juntos amanhã, não é?

Eu franzi a testa, me perguntando aonde ele queria chegar.

— Sim — ela respondeu.

— Você tem aula antes dessa?

— Não, está livre. Eu costumo ir à biblioteca estudar.

— Faz uma exceção amanhã? — sugeriu, se recostando na parede, de frente para ela. Eu quase me senti mal por estar ali parada assistindo, então me virei de costas e dei alguns passos adiante, mas continuei por perto, ouvindo.

— Para quê? — ela perguntou, com um sorriso na voz.

— Nós poderíamos tomar um café antes da aula. Ouvi dizer que você gosta dos muffins do Starbucks.

, você está me convidando para um encontro?

Eu assenti freneticamente, me contendo para não me virar e gesticular positivamente para ele, esperando que ele desse a resposta certa.

— Hm... Sim. Estou sim.

Isso, garoto.

— Diga — ela exigiu. Espera, o quê?

— Dizer o quê?

— Eu quero ouvir você dizer que está me convidando para um encontro, porque isso tem que ser um momento histórico.

— Ei! — ele protestou. — Tudo bem. , gostaria de ir a um encontro para tomar um café antes da aula de literatura amanhã?

— Eu adoraria. — A voz dela transbordava de um sorriso vitorioso.

Eu estava praticamente saltitando de empolgação enquanto eles combinavam os detalhes. Meu Deus, aquilo foi tão fácil.

Oh, espera. Não era para ser fácil assim.

Eu me virei, enquanto minha amiga andava na minha direção, e vi ainda recostado na parede com seu costumeiro sorrisinho arrogante. se aproximou dele e murmurou alguma coisa, rindo, e eles trocaram um discreto high five. Franzi a testa.

certamente estava tramando alguma coisa. E eu ia descobrir o que era ou não me chamava Olivia .

~ ♡ ~

Assim que começou meu horário vago, eu corri para o dormitório. Fechei a porta do quarto atrás de mim ruidosamente e me recostei contra ela, balançando a cabeça.

Estava mesmo prestes a ir a um encontro com o playboy , só por causa de um desafio estúpido? Oh, espera. O desafio que era estúpido, ou o fato de eu aceitá-lo? Nah, tudo era.

Eu ajeitei o cabelo e retoquei a maquiagem, lançando olhares de esguelha para o cartaz na parede. Etapa Um, Interesse. O objetivo de hoje era deixá-lo querendo um pouco mais, para voltar no dia seguinte. E no outro, e no outro. Eu suspirei pesadamente e deixei o dormitório, saindo no sol quente da Califórnia. Minha saia esvoaçante balançava enquanto eu andava em direção ao Starbucks do campus, borboletas surtando no meu estômago. Por que a ansiedade? Eu odiava o cara.

Não era nem um encontro de verdade.

Esse pensamento não impediu meu coração de acelerar quando eu o vi. Ele estava encostado na parede do lado de fora, com fones de ouvido, e a cabeça balançando suavemente no ritmo do que quer que estivesse ouvindo. Suas mãos estavam nos bolsos do jeans azul escuro. Como se pudesse me sentir observando-o, ele olhou para cima e seus olhos verdes colidiram com os meus.

sorriu enquanto me aproximava, e as borboletas no meu estômago viraram elefantes. Eu me sentia nauseada.

— Ei, anjo — disse , se adiantando para abrir a porta para mim.

— Ei — respondi, passando pela porta. — Obrigada.

— De nada. — Ele pôs a mão nas minhas costas e me guiou em direção ao balcão. — O que vai querer?

— Um choco chips frappucino duplo, por favor. — Eu sorri, vendo sua expressão confusa. — Que foi?

— Gotas de chocolate no café? Por quê?

— Por que não? — Dei de ombros. — É gostoso.

— Ok, vou provar.

— O que você pede normalmente?

— Uh, café normal. Sabe, como o que as pessoas normais bebem.

— Você está dizendo que eu não sou normal? — perguntei, erguendo uma sobrancelha, quando chegamos ao balcão.

— Nem um pouco. — sorriu e se virou para a barista. — Oi, nós queremos, er, o que era mesmo? — Ele olhou para mim timidamente.

Eu revirei os olhos e meneei a cabeça.

— Dois choco chips frappucinos duplos, grandes, por favor.

— E dois muffins de mirtilo — ele acrescentou, olhando para mim. Eu me senti corar suavemente, e ele deslizou a mão, envolvendo minha cintura. Enquanto preparava nossas bebidas, a barista jogava várias olhadas para ele. Não sei realmente se eu podia culpá-la, mas fiz um enorme esforço para não revirar os olhos novamente.

— É sempre assim com você? — perguntei, quando chegamos a uma mesa vazia.

— Assim como?

— Garotas olhando para você.

— Quem estava olhando?

— A barista. Você não percebeu? — Meu tom era quase acusatório, já que ela foi bem pouco discreta.

deu de ombros despreocupadamente.

— Não reparo muito nisso. Quando elas são boas o suficiente para chamar minha atenção, então eu presto atenção.

— Oh, eu me sinto tão privilegiada — disse sarcasticamente.

— Ei. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Estou em um encontro com você, então você não é só boa o suficiente, . Na verdade, você provavelmente é boa demais.

Eu tomei um gole da minha bebida e peguei um pedaço de muffin, colocando-o na boca.

— Então por que você está aqui? Se eu sou boa demais.

 — Eu nunca vou saber se não tentar, não é? Como este café. Eu nunca saberia o quanto ele é bom até que eu experimentasse. Então, eu nunca vou saber se sou bom o suficiente para você se eu não tentar.

Uau. queria mesmo entrar nas minhas calças.

— Ponto para você. — Sorri.

— E Frank está de olho em você. Eu não lido muito bem com concorrência.

— Ah, então aquilo ontem foi por isso. — Eles estiveram brigando por mim? Neandertais.

— Há uma pequena chance de ter sido por sua causa, anjo.

— Eu diria que há uma grande chance. — Suspirei. — Vocês estavam mesmo brigando por mim? Por mim? Uau. — Balancei a cabeça, em descrença. Isso não era o tipo de coisa que me acontecia todo dia. Dois caras gostosos, e disputados, se estranhando por minha causa.

— Não finja que está surpresa, . Nós não somos os únicos daquela casa que temos interesse em você — ele admitiu.

— Você só achou que deveria se adiantar e chegar primeiro? — comentei ironicamente.

— Sim. Quero dizer, não. Quero dizer. Porra. — Ele grunhiu. — Não está saindo do jeito que eu quero. — Eu ergui nas sobrancelhas e olhei para o relógio. — Sim, eu pensei em chegar primeiro, mas só porque eu ia ficar estupidamente com ciúmes se eu te visse com outro cara.

— Certo — eu disse lentamente. — Temos que ir para a aula. Vai começar em cinco minutos.

suspirou, e eu envolvi as mãos em volta do meu copo. Nós voltamos para o campus principal em silêncio, e eu quase desejei que tivéssemos que pegar caminhos separados. Essa coisa de não falar era tenso, mesmo eu odiando o cara.

— disse, me puxando de lado, antes que entrássemos na sala. — Não deveria ser assim. Desculpe.

Para não encará-lo, eu olhei para a porta aberta da sala.

— Não tem importância, . Quero dizer, você não tem encontros, não é? Com certeza, é melhor continuar assim.

— Tem importância para mim, sim. Deixe-me tentar de novo. Por favor?

Eu estreitei os olhos e o encarei.

— Está me convidando para um segundo encontro?

— Sim — respondeu em um tom suave. — Estou convidando você para um segundo encontro.

— Vou pensar nisso, e então eu te ligo.

Ele me deu um pequeno sorriso.

— Você não tem o meu número.

Eu andei em direção à sala, parando para olhá-lo quando cheguei à porta. Ele ainda estava de pé, me olhando com aquele mesmo sorriso nos lábios.

— Então você vai ter que esperar, não é? — Eu sorri e vi dobrando no corredor. Seus olhos passaram freneticamente entre mim e seu irmão.

— Quanto tempo? — perguntou. Eu apostaria que não eram muitas as garotas que ousavam fazê-lo esperar.

— Pelo tempo que eu quiser fazer você esperar. — Meu sorriso se converteu em uma gargalhada, diante do seu olhar exasperado. — Vamos lá, você vai se atrasar para a aula.

Eu me juntei a para entrar na sala, e nós deslizamos para nossos lugares habituais.

— Segundo encontro? — ela sussurrou no meu ouvido.

— Sim — respondi. — Ele só não sabe ainda.

 


 

Capítulo 3


— Nunca pensei que chegaria o dia em que o Todo Poderoso estaria precisando de conselhos amorosos. — Eu estava deitada de bruços no chão do quarto do meu irmão gêmeo, abraçada a uma almofada e folheando uma revista.

— Eu definitivamente não preciso dos seus conselhos, docinho. — Ele fechou a porta atrás de si e se sentou no chão à minha frente.

— Mesmo depois do desastre que aparentemente foi seu primeiro encontro? Quero dizer, a não parecia particularmente impressionada e aquela ruguinha de preocupação na sua testa está aí até agora.

Ele bufou.

— Para começo de conversa, eu não teria entrado nessa merda de encontro se não fosse por sua culpa.

Eu pousei a mão espalmada sobre a revista e ergui os olhos para ele.

— Se foi uma merda de encontro, creio eu que a culpa foi única e exclusivamente sua, irmãozinho. Mas não há nada que nós não possamos remediar.

— Pode parar, — disse, se levantando e andando até o armário. — Eu sei muito bem como a sua cabecinha funciona e não, não tenho a menor intenção de seguir a sua agenda. Seja ela qual for.

Eu fechei a revista e rolei de barriga para cima, me apoiando nos cotovelos.

— Falando em seguir agenda, qual é o objetivo da sua, exatamente?

— Não sei do que está falando — grunhiu, sem se virar. É claro que ele não me encararia, pois sabia que não poderia me enganar.

— Ok, vamos dizer que tudo o que você quer é pular na cama com a ...

— Se tem um conceito tão bom a meu respeito, irmãzinha, então por que está me ajudando? Afinal, ela é sua amiga, não é? Onde fica a lealdade com seu gênero?

— Querer ajudar você a se tornar uma pessoa civilizada não quebra meu código de honra de maneira nenhuma. — Embora, fazer jogo duplo certamente quebrava muitos parágrafos dele.

Eu me sentei, cruzando as pernas.

— Não preciso da sua ajuda, muito obrigado. — Ele curvou levemente a cabeça, fazendo um floreio irônico.

— Sexta é um bom dia para um encontro.

— Sexta é dia de festa.

— Melhor ainda. Você ganharia pontos extras com ela por perder a sua própria festa.

Ele recostou o quadril contra a cômoda, cruzando os braços. Parecia um tanto contrariado, eu só não sabia se era por eu o estar chateando ou por realmente precisar da minha ajuda.

— E para onde eu levaria a ?

— Não sei, para a praia? Para uma caminhada sob as estrelas.

— Que romântico. — Ele revirou os olhos.

— Preferia ir direto para um motel? Eu te garanto que isso não funcionaria com a minha garota.

— Tanto faz. Só não coloque muitas ideias nessa sua cabecinha avoada, . Porque você sabe muito bem que eu não sou do tipo que se apaixona. Muito menos por alguém tão princesinha  quanto a .

— É mesmo?

Naquele momento, soou uma batida na porta, que foi aberta logo em seguida. entrou no quarto sem cerimônias — e sem camisa, vestindo apenas uma calça baixa, que deixava à mostra a barra da cueca. E todo o seu torso. Dos bíceps bem formados até o músculo em V que descia para dentro da sua calça. Meu olhar deslizou sobre ele, chegando ao cabelo molhado e arrepiado, uma pequena toalha pendurada em torno de seus ombros. Seus olhos azuis interromperam minha inspeção do seu corpo, e ele sorriu quando percebeu. 

— Não sabe bater? — perguntei com petulância.

— Eu bati, Vossa Majestade — retrucou, com uma reverência irônica.

— Mas não esperou pela resposta. Eu poderia estar trocando de roupa.

— Este não é o seu quarto.

— Nem o seu, para você entrar quando quiser.

— Isso é óbvio. Se fosse o meu, você não estaria aqui.

— E isso te frustra, não é? Imagino que não esteja acostumado com garotas que não fazem fila na sua porta, esperando a oportunidade de entrar.

olhou para o teto e balançou a cabeça, passando a mão pelo rosto como se desejasse estar em qualquer outro lugar que não fosse ali.

— Na verdade, eu não acho que você se encaixaria nele — disse, se recostando contra o batente da porta. — Está muito abaixo dos padrões de garotinhas ricas.

— Não posso dizer que me encaixar no seu quarto esteja na minha lista de prioridades. — Embora eu não pudesse dizer o mesmo sobre ele... — E eu posso ser uma garotinha rica, mas não sou esnobe.

riu desdenhosamente

— Ok. Então se um cara da periferia, vindo de uma família zoada e uma vida de merda, chegasse em você, vai dizer que você não sairia em disparada na direção oposta?

Eu fiquei de pé e cruzei os braços, olhando para ele.

— Só porque alguém teve um passado e uma criação ruim não significa que essa pessoa seja ruim, . Seja qual for a percepção que você tem de mim, o quanto você acha que eu seja metida, minha criação não define a pessoa que eu sou agora. Não sou tão superficial quanto você gosta de pensar que eu sou.

Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado por um momento, antes que um canto dos seus lábios se repuxasse. Era um sorriso presunçoso, arrogante, que dizia que eu tinha caído direto em sua armadilha.

— Ah, é tão fácil. Fácil demais, . Você é como uma bomba-relógio, pronta para explodir.

— Tem algum motivo para você estar aqui? — interveio antes que eu pudesse responder. Ou pular no pescoço dele. Me surpreendeu um pouco, porque eu até tinha esquecido da sua presença.

— Tem. Eu preciso daquele livro de inglês. — olhou ao redor.

— Qual? Eu tenho mais livros de inglês do que tenho aulas.

— Sei lá, porra. — deu de ombros. — O da aula passada.

Eu revirei os olhos e me empoleirei na beirada da cama de .

— O de Shakespeare. — Ambos me olharam inexpressivamente, mais ainda. , pelo menos, parecia saber quem era Shakespeare.

— Você sabe, . O cara que viveu “eras atrás e não sabe falar direito”.

— Ah, aquele cara. Sei. Eu copiei o seu trabalho.

— gemi.

— Não se preocupe, eu mudei o essencial. — localizou o livro na escrivaninha e o entregou para .

— Valeu, cara. — olhou para mim e piscou, e eu tentei não rolar os olhos novamente.

Ele era tão exasperante! Ele me provocava só porque sabia que era fácil, e agora estava começando a aprender que se referir a mim como “riquinha” era a maneira mais fácil de me irritar. Eu não tinha culpa de ter nascido em uma família de classe média alta — também tinha, obviamente, assim como oitenta por certo dos garotos daquela fraternidade e nenhum deles recebia o mesmo tratamento de “garoto rico”.

Eu abaixei, peguei minha revista do chão e a enrolei. Aproximei-me de e bati com ela nas costas dele.

— Ai, que porra! Por que fez isso?

— Obrigada por me defender, babaca.

— Ei, eu fiz ele se calar.

Eu desdenhei.

— Só porque estava irritado já que não queria ver sangue espalhado no seu tapete.

— Pelo menos eu o fiz calar. Agora você pode dizer a algumas coisas boas sobre mim.

Eu levei uma mão ao peito, fingindo surpresa.

— Oh, achei que não precisasse da minha ajuda.

estreitou os olhos e apontou em direção à porta.

— Só dê o fora daqui.

Fiz uma breve pausa ao seu lado, ficando na ponta dos pés, para lhe dar um beijo no rosto e deixei o quarto com um sorriso.

Chegando ao dormitório, encontrei Brittany deitada na cama, cercada pelos seus deveres de casa, e sentada no chão entre as camas. Oh, era hora da reunião do clube da Luluzinha.

— Cadê a Carly? — perguntei, olhando para .

— Ela está, hm, se divertindo.

— Oh — exclamou Brittany, com a boca ligeiramente aberta.

— Quem dessa vez? — Eu me joguei de bruços na cama.

— Darla alguma coisa. — deu de ombros. — Não tenho ideia e prefiro nem saber, para ser honesta. Duvido que vou voltar a vê-la, de qualquer jeito.

Podia se dizer que Carly era a versão lésbica de . Ela era bonita, embora de uma maneira mais modesta, mas de algum modo conseguia sempre estar envolvida com algum rabo de saia.

— Hmm. Tem notícias de ? — perguntei.

— Por que eu teria? Ele não tem o meu número.

Brittany sorriu.

— Por que não?

— Porque eu o estou fazendo esperar.

— Porque ele fodeu o primeiro encontro, pediu por um segundo, e ela ainda não respondeu — esclareci.

— Você não fez isso — Britt exclamou, rindo e empurrando seus livros para longe. — Oh, muito bem, . Isso com certeza vai fazê-lo voltar.

— Não foi por isso. — dobrou as pernas e começou a enrolar um fiapo do jeans com o dedo. — Eu vejo como ele age com as outras garotas, e isso me enlouquece. Não vou fazer como elas, correndo atrás e caindo aos pés dele só porque ele ergueu o dedo para mim. Se eu vou fazê-lo provar do próprio veneno e se apaixonar por mim, então ele pode também aprender a me respeitar no meio do caminho.

Isso trouxe um largo sorriso ao meu rosto. Era em momentos assim que eu tinha a certeza de que estava fazendo a coisa certa.

— E é por isso, meu bem, que você é a garota perfeita para o serviço.

— É verdade — assentiu Brittany —, e é por isso que vai funcionar. Você sabe o que está fazendo.

— Que seja. Eu só quero acabar logo com isso. A ideia de fingir me apaixonar por ele embrulha meu estômago.

Meu celular vibrou no bolso, e eu sorri ao ver o nome do meu irmão piscar na tela.

: Quais são os horários livres da ?

Eu ri e respondi rapidamente.

Eu: Descubra por si mesmo. Eu não vou te entregar minha amiga de bandeja.

Deixei passar alguns segundos de suspense — nos quais eu sabia que ele estaria me xingando —, antes de acrescentar:

Eu: Mas posso trocar de lugar com você na aula de Ing.

— Algo interessante? — me perguntou Brittany.

— Não — respondi, rolando de costas. — Então, onde estamos no OVOJ?

— Fazendo-o esperar pelo segundo encontro? — sugeriu .

Ela se inclinou contra a cama, enquanto eu me estiquei para pegar meu notebook.

— E quando é que você vai dar a resposta? — perguntei, ligeiramente preocupada por quanto tempo esperaria antes de desistir. Até me lembrar que não era do tipo que se conformava com uma derrota.

— Hmm... Quarta-feira, eu acho.

Eu assenti.

— Quarta-feira é bom — aprovou Brittany. — Dá tempo para ele planejar algo para o fim de semana.

— Mas não temos que ser “exclusivos” na próxima semana? — perguntou , em dúvida.

— E vão ser. Vocês têm duas aulas juntos, não é? Então vão ter tempo para se ver e, inclusive, vocês têm uma aula vaga no mesmo horário.

— E daí?

Brittany gemeu.

— Querida, você já namorou antes, não é?

— Uma vez — ela admitiu.

— Uma vez? — Brittany se sentou na cama. — Só uma vez?

— Sim.

— Por quê?

— Só... porque sim.

— Espera um minuto. — Eu também me sentei, afastando o notebook. — , querida, você é virgem? Porque se sim, não podemos deixar você fazer isso.

Ela pareceu vacilar por alguns segundos. Estaria pensando em usar isso como desculpa para cair fora?

— Não — ela respondeu com um sorriso. — Eu não sou virgem.

— Ufa. — Eu me deixei cair para trás. — Eu nunca faria você perder a virgindade assim.

— O que vamos fazer então? — perguntou Brittany. — Eles dois vão passar um tempo juntos sem ser em um encontro?

— Sim — respondi. — A partir de amanhã. Vou trocar de lugar com ele em inglês. Ele senta com e eu tenho certeza de que não vai demorar muito para convencê-lo de que estou interessada. — O pensamento me fez franzir o nariz.

— E você não está? — perguntou . — Ele é uma delicinha.

— Admito que ele é bem sexy, mas também é meio fresco para um cara hétero. Ele passa muito tempo se arrumando.

Brittany grunhiu.

— Você conhece o meu namorado? Michael é tão ruim quanto.

Nós começamos a rir e comparar os surtos de vaidade dos garotos.

— Sabe, você deveria aproveitar que vai estar mantendo ocupado e procurar sua própria ação — ela sugeriu. Eu mordi meu lábio inferior, para conter uma confissão.

— Nah, eu não conheço ninguém que valha meu tempo — desconversei.

A verdade era que eu vivia em um estado perpétuo de amor e ódio com o garoto que eu queria que me levasse para a cama. Como Elizabeth e o sr. Darcy, de Orgulho e Preconceito. Para a minha sorte, todo mundo só notava o ódio.

O fato de que borboletas incendiavam meu estômago cada vez que entrava no recinto era pequeno segredinho sujo. E eu não tinha a intenção de compartilhá-lo tão cedo.

~ ♡ ~


Eu enrolei uma mecha de cabelo no meu dedo, cantarolando baixinho, enquanto entrava na biblioteca. Um olhar rápido para o relógio me indicou que eu tinha cinco minutos antes de chegar — teoricamente, já que ela sempre se atrasava.

Sentei-me no lugar de costume na parte de trás e depositei minha bolsa em cima da mesa, derrubando o fone de ouvido no processo. Com um suspiro, eu o coloquei de volta e peguei o trabalho de Inglês que eu vinha adiando. Se tem uma coisa que eu odeio é Shakespeare. Há drama demais em suas obras. O “felizes para sempre” da Disney fazia muito mais meu tipo.

Abri o livro na página marcada e girei a caneta com os dedos. As letras borraram diante dos meus olhos, e eu os esfreguei, pretendendo limpá-los. Simplesmente não conseguia me concentrar, e sabia por quê. Era esse desafio.

Maldito . Malditas amigas da onça. Maldito o Cupido, ou seja lá quem foi que inventou os jogos de amor.

— Esse livro deve ser muito interessante — disse uma voz suave e sedosa por cima do meu ombro. — Já tem cinco minutos que você está olhando para ele.

. — Reconheci, sem precisar olhar para ver quem era. Os cabelos arrepiados na minha nuca eram indicação suficiente.

— Quer companhia, anjo? — Ele deslizou no assento ao meu lado. Eu olhei para ele.

— Parece que você vai ficar, de qualquer maneira.

Seus olhos verdes brilharam com diversão.

— Isso é um sim?

— Isso é um “eu vou me encontrar com , mas tanto faz”.

— Na verdade, não vai não. — Ele cutucou meu pé com o seu, eu franzi a testa. — Ela disse que tinha uma coisa urgente para fazer, e me pediu para vir te avisar. Já que eu tenho essa aula vaga, pensei que poderia te fazer companhia. Se você não se importar.

Aquela bruxinha manipuladora!

— Acho que não, então. Mas vou logo avisando que eu não falo muito quando estou estudando.

— Nem eu. — sorriu para mim, e eu suspirei internamente. Parecia que eu andava suspirando um monte ultimamente.

Eu tornei a colocar meus fones de ouvido e voltei minha atenção para “Muito Barulho Por Nada” de Shakespeare, tentando filtrar a pesada linguagem antiga. Não deu muito certo.  Depois de um bom tempo tentando lutar contra o vocabulário maçante e todo aquele blá blá blá, eu senti o braço de descansando contra o braço da minha cadeira. Ele segurou uma mecha do meu cabelo e brincou com ele entre os dedos. Eu o ignorei. Ou, ao menos, tentei.

estava sentado tão casualmente ao meu lado, mastigando a caneta e folheando as páginas do que parecia um livro de química. Também estava alheio ao fato de que eu estava olhando para ele.

Eu estava olhando para ele? Nossa. Voltei minha atenção para o meu livro, com ele ainda brincando com meu cabelo, e continuei a dissecar o cenário para o sr. Joseph.

Um fone de ouvido foi afastado da minha orelha.

— Pronta? — perguntou .

— Para o quê? — Franzi a testa.

— Para ir para aula? — Ele sorriu. — Você realmente fica absorvida quando estuda, não é?

— Às vezes — resmunguei, empurrando tudo para dentro da mochila. Eu levantei, e ele pegou minha mochila. — Eu posso carregar, sabe.

— Eu sei. — Ele começou a andar, e eu o segui, balançando a cabeça. Ele parou e abriu a porta da biblioteca para mim, e eu passei por ele, erguendo a mão.

— Mochila. Por favor.

— Por que não me deixa carregá-la?

— Porque eu mesma posso fazer isso! — insisti.

— Vamos lá, , aceitar um pouco de cavalheirismo não vai lhe fazer mal.

Eu ergui uma sobrancelha.

— Me desculpe, mas não acho que alguma vez já tenha visto você sendo cavalheiro.

Ele deu de ombros e colocou uma mão nas minhas costas, me guiando para nossa aula de inglês.

— Não mostro esse meu lado para qualquer um.

Eu apertei os lábios e me deixei levar pelo resto do caminho sem protestar. Apenas vacilei, arregalando os olhos, quando entramos na nossa sala e vi sentada no lugar habitual de , ao lado de . Havia me esquecido completamente disso. Ela respondeu a meu olhar incrédulo com um sorriso doce.

Vadia.

— Parece que vou ter que me sentar com você — sorriu .

— Parece que sim. — Eu me sentei, e ele entregou minhas coisas. — Obrigada. Era desnecessário, mas obrigada.

— Disponha. — Ele se virou para mim, os olhos verdes brilhantes sob o cabelo loiro-escuro bagunçado. — Você já decidiu se eu vou ter aquele segundo encontro?

Eu voltei meus olhos para frente, bem a tempo de ver o sr. Joseph entrando.

— Ainda estou pensando.

se inclinou para mim, a boca a milímetros do meu ouvido.

— Você vai ceder, .

— Oh, eu vou?

— Sim — ele exalou, me causando um arrepio. Só por causa da sua respiração no meu ouvido, claro, não por causa da proximidade física. — Eu vou ter esse segundo encontro, e um terceiro, e depois mais.

Isso fez com que eu recuperasse a compostura rapidamente.

— Você está muito confiante para quem estragou o primeiro encontro.

— E é por isso que vamos ter mais. São chances para me redimir.

Ele estava certo. Ele ia ter mais encontros, é claro que ia.

Só não pelas razões que ele pensava.

 


 

Capítulo 4

já estava em seu lugar quando eu cheguei à sala, mas nem sinal de ou . Ótimo, disse uma voz em minha mente. Espero que isso signifique que eles estão se entendendo. Não havia como adiar o inevitável, então eu fui direto para o meu novo lugar e me sentei ao lado de . O modo como ele ergueu as sobrancelhas em surpresa denunciou que ele não havia sido avisado da troca. Eu tinha repetido inúmeras vezes na minha mente o que eu diria quando chegasse o momento, mas as palavras simplesmente não vieram.

— Tem certeza de que sentou no lugar certo?

— Eu troquei com — disparei, ajeitando meu material sobre a mesa.

— Certo — disse lentamente. — Por quê?

Eu suspirei e me virei para ele.

— Não é óbvio? — respondi sarcasticamente. — Eu queria me sentar com você.

— Ah — ele assentiu, um sorriso malicioso se formando em seus lábios, enquanto ele se inclinava na minha direção. — Finalmente resolveu admitir seu desejo secreto por mim.

— Vai se foder, — disparei, ao mesmo tempo que sentia meu rosto esquentar de indignação. Primeiramente com ele, por conseguir me tirar do sério em menos de dois minutos, e comigo mesma por, mais uma vez, perder a compostura.

— Estou guardando esse prazer para você — sussurrou.

Eu apertei os dedos contra meu livro, contendo a vontade de bater com ele na cabeça do . Mas ele foi salvo pelo gongo, quando vi e entrado na sala. Enquanto meu irmão parecia bastante relaxado, ela estava visivelmente tensa e pareceu aterrorizada quando viu onde havia me sentado. Eu soltei o livro sobre a mesa, alisando a capa, e sorri abertamente para ela. também sorriu, parecendo satisfeito com o arranjo e sussurrou algo para ela, antes de ir para meu assento de costume.

Estava curiosa para saber o que eles estavam conversando, mas era difícil até pensar com sentado tão perto de mim. Seu cheiro invadia meu espaço e penetrava em minhas narinas, em uma lembrança silenciosa da sua proximidade. Isso prejudicou seriamente minha concentração durante toda aula — e esta era minha aula favorita.

É bom você tratar de se acostumar, murmurou uma voz irritada na minha cabeça.

Quando a aula acabou, eu observei se levantar primeiro e deixar a sala, depois de lançar um sorriso confiante ao meu irmão. Não era seu comportamento habitual, geralmente ela esperaria por mim. se retirou logo depois, parecendo levemente perturbado.

— Então, qual é o lance com a ? — perguntei para . Ele não era uma opção número um para tentar colher informações, mas era o melhor que eu tinha no momento.

— O quê? — Ele me olhou com o cenho franzido.

— Por que o está sendo tão persistente com a ?

— Ah. Porque é um desafio — respondeu, terminando de enfiar suas coisas na mochila.

— O quê? — Foi a minha vez de perguntar. Ele deu de ombros.

— Você sabe, ela é difícil, é diferente das outras garotas. não está acostumado com isso e definitivamente não sabe perder.

— Sei — eu disse, não muito convencida. — Esse tipo de desafio.

— Você deve saber melhor do que eu. Vocês não compartilham essa coisa de... telepatia de gêmeos ou sei lá o quê?

— Graças a Deus, não. A última coisa que eu preciso é de um passe livre para a mente do meu irmão. Ew.

Ele riu, se colocando de pé. Também me levantei, e então estávamos frente a frente. Eu me dei conta que era a primeira vez em seis meses que conseguíamos trocar algumas frases sem provocações. Era estranho. De um jeito bom, quero dizer, mas eu não sabia exatamente como lidar com isso.

— É suja demais para suas sensibilidades delicadas de menina—

— Me chame de menina rica outra vez e eu vou... — Eu me calei, respirando fundo, e tentando pensar em algo ameaçador. Por que ele apenas não tinha ficado quieto ao invés de estragar o raro momento de paz?

— Vai o quê?

— Vou arrancar suas bolas e jogar para os cachorros comerem.

Ao invés de parecer ameaçado, ele inclinou a cabeça, novamente com aquele famoso sorriso irritante nos lábios.

— Está procurando uma desculpa para tocar as minhas bolas? Porque eu posso te dar algumas.

! — Eu me virei em direção à voz e vi que havia voltada e estava parada perto da porta. Ela olhou de um para outro analiticamente, antes de se voltar novamente para mim. — Nós não temos muito tempo até a próxima aula e você me deve um café.

— Eu devo?  — perguntei estupidamente.

— Por ter furado comigo mais cedo. — Ela andou até mim, e entrelaçou o braço no meu.

— Só estava tentando ajudar.

— Claro. — Revirou os olhos. — Oi, . Tchau, .

— Até mais, meninas — ele respondeu, enquanto minha amiga me arrastava para longe.

— Obrigada — sussurrei para , quando saímos para o corredor, sentindo a raiva dentro de mim arrefecer.

— Não podia permitir que você o matasse diante de tantas testemunhas — gracejou.

— Engraçadinha.

— Vou acrescentar mais este à lista de favores que você me deve.

— Ter que sentar ao lado de para que você possa fazer seu avanço com já cobre um milhão de favores. A propósito, pode ir me contando tudo.

 

~ ♡ ~


Eu estava descendo as escadas do dormitório, quando uma voz irritada e familiar vindo da frente do prédio me fez reduzir os passos.

— Você tem algum motivo para estar aqui espreitando o meu dormitório, ? — inquiriu Carly, e eu quase podia visualizá-la, com as sobrancelhas erguidas e a mão na cintura.

está aí? — perguntou . Eu parei totalmente de andar e encostei na parede ao lado da porta.

— Você poderia ligar e perguntar, sabe? Ficar à espreita dos dormitórios femininos não vai fazer muito bem para sua reputação, se é que você tem alguma.

— Basta responder a maldita pergunta, Carly — ele soou irritado, e eu mordi o lábio para conter o riso. Minha amiga costumava causar esse efeito nos homens. Especialmente os de uma certa fraternidade.

— Sim. Ela tem aula em meia hora.

— Alguma chance de você chamá-la aqui, tipo agora?

Ela suspirou audivelmente, enquanto eu esperava em suspense. Então meu celular começou a vibrar na bolsa, me fazendo dar um salto de susto. Eu o peguei desajeitadamente, subindo alguns degraus, o ruído da vibração me parecendo alto demais.

— Oi — sussurrei cuidadosamente, com a mão em concha para abafar o som.

— Tem um stalker seu aqui embaixo — ela disparou, e eu nem precisava do aparelho para ouvi-la, antes de desligar sem esperar pela resposta.

— Obrigada, Carly — gritou . Eu espiei por de trás do vidro do pequeno vitrô na escada e vi minha companheira de quarto se afastando. Sua única resposta foi mostrar o dedo para ele. Típico.

Guardei o celular na bolsa e peguei o espelhinho para checar se estava tudo no lugar. Cabelo, maquiagem... Espera, por que raios isso importava? Era só o idiota do . Eu respirei fundo, guardando o espelho de volta.

Saí do prédio a tempo de ver passando a mão pelos cabelos, parecendo impaciente. Duas garotas passaram por nós para entrar no dormitório, rindo e lançando olhares nada discretos na direção do garoto. Eu meneei a cabeça.

— Ora, , perseguir garotas não é um pouco baixo demais, até mesmo para você? — Eu sorri, tentando não me deixar impactar pela sua aparência alta, meio bronzeada, os olhos parecendo ainda mais claros devido a claridade.

— Depende de você — respondeu. Eu me inclinei contra a parede, e ele me imitou. — Vai sair de novo comigo ou eu vou ter que persegui-la mais um pouco?

era persistente, eu tinha que admitir. Mais persistente do que eu jamais imaginaria, a julgar pelo tipo de garota que ele geralmente levava para a cama. Eu não tinha certeza se estava feliz com isso ou não, porque no fundo, alimentara a esperança de que a essa altura ele já teria se cansado de mim e não haveria como levar aquele estúpido desafio adiante.

Eu enrolei uma mecha de cabelo no meu dedo e fiquei brincando com ela por alguns instantes, enquanto pensava no meu próximo movimento. observava o gesto atentamente.

— Talvez — respondi finalmente. Ainda era quarta, só dois dias depois do nosso primeiro encontro desastroso. Mas dois dias de espera para devia equivaler a um século. Ninguém jamais o colocava na geladeira.

— Talvez você saia comigo ou talvez eu tenha que persegui-la um pouco mais? É bom saber, anjo, que estou disposto a seguir com qualquer um dos dois. — Seus olhos quentes desceram pelo meu corpo, passando pela camiseta apertada e o short curto. — Perseguir você definitivamente poderia ter suas vantagens.

Eu engasguei e dei um tapa em seu braço. Ele fez uma falsa careta de dor.

— Você é um pervertido.

— É o que dizem. — Ele suspirou. — Pelo menos eu sou um pervertido honesto.

— É verdade — cedi, rindo. — Eu acho que depende do que você tem em mente para este segundo encontro.

— Acho que você vai ter que esperar para ver.

— Porque você não tem ideia?

Sua autoconfiança pareceu vacilar por um ínfimo segundo antes que ele se recuperasse.

— Eu só tenho que finalizar alguns arranjos.

— Confiante.

— Prefiro pensar nisso com esperançoso — contrariou, rindo. — O que me diz, ? Por favor? — Era incrível como ele podia parecer ainda presunçoso, mesmo quando dizia “por favor”.

Eu mordi o canto do polegar adorando a sensação de poder que era fazê-lo esperar. Ele colocou as mãos no bolso, e eu podia dizer que era para controlar sua impaciência.

— Ok — concordei finalmente. — Só mais uma chance.

— Sério?

— Sério, . — Estava feito, agora eu não poderia voltar atrás. Fechei os olhos por um segundo, antes de me virar para a porta e digitar o código. Segurei a porta aberta e o encarei por cima do ombro. — Estrague esse, e não haverá nenhum outro.

Eu entrei e deixei a porta se fechar atrás de mim. Parei ao chegar no primeiro degrau da escada, tentando ficar calma. Não tinha porque estar nervosa. Este era o meu jogo. E, neste jogo, era eu quem dava as cartas.

~ ♡ ~

 


As aulas do dia haviam acabado e não tivera a chance de falar com , por isso estava impaciente quando voltei para o meu quarto. Tinha receio de que pudesse realmente desistir se ela o fizesse esperar demais. Então, peguei o celular e liguei para ele.

Sim? — ele atendeu, parecendo distraído.

— Já falou com ela? — perguntei.

Sim. Esperei do lado de fora do dormitório mais cedo.

— Espera. Você fez o quê? — Eu ri. Era inacreditável. — Você acabou de dizer que ficou esperando por ela do lado de fora?

Eu queria a minha resposta — respondeu e nem sequer pareceu na defensiva. Era óbvio que eu não tinha toda a sua atenção no momento. Ao fundo, eu pude ouvir o barulho do teclado e então um clique do mouse. — Você sabe que eu sou impaciente.

— Ok. — Resolvi não zoar. — E o que ela disse?

Ela disse que sim. O que você esperava?

— Que minha amiga criasse algum juízo — respondi, sorrindo.

Nah, não havia chance de ela dizer não. Você sabe disso.

— Ok, garanhão. O que você vai fazer agora? Tem algo planejado para o seu grande encontro?

Estou trabalhando nisso — respondeu vagamente.

— Isso é um não. — Eu suspirei. Não podia deixá-lo estragar essa chance. — Tem alguma ideia do que vai fazer?

Se você ficar quieta por dois minutos, eu vou ter até dez.

— Você está fazendo o que eu estou pensando? — Os cliques do mouse eram uma boa dica.

Depende do que você acha que eu estou fazendo.

, você está procurando no Google?

Uh... — Sua hesitação foi bem eloquente. Eu suspirei pesadamente.

— Vá em frente. Me conte o que diz.

Tudo bem. Jantar fora, jantar em casa, cinema, ópera — que porra de ópera? Sem chance. Ok, hmm, piquenique, patinação, café — já tentamos e falhamos —, boliche... Boliche? Isso poderia dar certo.

— Vocês poderiam comer na pista — sugeri. — Seria divertido.

Mas iria gostar disso?

— Está mesmo me perguntando se ela iria gostar? O sr. Insensível está amolecendo?

Vai se foder. — Ele riu. — Eu não entendo dessa coisa de encontro, e você sabe disso. Me ajude aqui.

— Você está saindo com ela só para levá-la para cama, ?

Não — respondeu, embora eu pudesse perceber a duelidade na sua voz. — Por que pergunta?

— Talvez eu conheça você bem demais e esteja com dificuldades para acreditar que realmente gosta dela e quer mais que sexo.

Eu gosto dela, . Ela é linda, inteligente e engraçada—

— E você soa tão genérico quanto um robô.

Ei, eu estou tentando aqui...

— Você está sempre tentando, . — Suspirei. — Então, o que vai fazer?

Foi a vez de ele suspirar.

Boliche, caminhar na praia, então se ela quiser podemos voltar aqui para a festa.

— Parece bom. Tchau. — Desliguei em seguida, antes que ele tivesse a chance de dizer mais alguma coisa, mesmo sabendo que ele odiava quando eu fazia isso.

Sexta. Talvez fosse minha única chance de tirar aquilo do meu sistema.

~ ♡ ~

 


Fiquei olhando para meu celular em descrença. Essa era a primeira vez desde que eu saí de casa que meu irmão, Phillipe, se lembrava de mim. Esta mensagem de texto era a primeira vez que ele entrava em contato desde que cheguei a Berkeley.

Olhei novamente para o aparelho na minha mão, imaginando por que eu ainda esperava algo diferente dele. Ele só me procurava quando queria algo. E, como de costume, era dinheiro. Eu não sabia para quê ele queria, mas a julgar pelo fato de que ele pediu oitocentos dólares, diria que era para o aluguel. Tudo porque o idiota arrogante e egoísta não podia manter um emprego por tempo suficiente para dar suporte ao nosso pai.

Esfreguei minha testa, tentando bloquear as memórias, e mandei uma mensagem de volta, dizendo que transferiria o dinheiro para a conta do pai. Não que fosse fazer diferença; Phillipe iria usá-lo com bem entendesse, de qualquer maneira. Fui atingida por uma onda de culpa por ter deixado meu pai, mas me lembrei de que era o que ele queria, o que ela teria desejado para mim. Phillipe sempre foi muito egocêntrico para fazer algo útil da vida. Eu tinha cérebro, e foi por isso que ela guardara o dinheiro para que eu tivesse acesso quando fizesse dezoito anos.

Meu fundo para a faculdade, ela tinha dito. Dissera que estava guardando desde que soube que eu estava chegando, que queria que eu tivesse uma vida boa. Ela guardou para Phillipe também, mas ele tinha comprado um carro e sabe-se lá mais o quê. Ela estaria envergonhada se pudesse vê-lo agora. Ela ficaria tão brava.

Apertei meus olhos fechados, banindo estes pensamentos da minha mente. Três anos e a ferida ainda estava muito fresca, muito crua. A dor ainda estava lá, embora suportável. Era apenas uma parte da minha vida. Uma parte que deveria ter deixado para trás quando deixei o Brooklyn. Mas, como todas as boas tragédias, ela me seguiu.

Eu decidi ir para a biblioteca passar meu período livre, ao invés de escolher trabalhar na bolha segura do meu dormitório. Além disso, ir à biblioteca significava esbarrar em .

O equivalente californiano do meu irmão.

Meus pensamentos viajaram para o nosso encontro na noite do dia seguinte. Ele devia estar querendo me levar para a cama desesperadamente para ainda estar esperando. Normalmente ele esperaria meia hora. Se você demonstrasse interesse, bom. Se não, ele ia para a próxima. Ok, eu não podia negar que ele não brincava em serviço quando se tratava da sua vida sexual. Na verdade, uma parte de mim quase o respeitava por ir atrás do que queria.

Uma parte do tamanho do meu dedo mindinho do pé. O resto de mim ainda achava que ele era um porco pervertido.

Eu me perguntei o que minha mãe pensaria se soubesse que eu estava fazendo esse desafio. Como uma mulher forte, independente, ela provavelmente ficaria um pouco orgulhosa por eu estar prestes a colocá-lo em seu lugar. Como mãe, ela me avisaria para ter cuidado e não perder meu coração no processo. Eu bufei com a ideia. Perder meu coração para ?

Nunca ia acontecer.

 


 

Capítulo 5


Como de costume, estava me desconcentrando. Normalmente ele fazia isso só por estar no mesmo recinto, mas o fato de estar bem ao meu lado piorava tudo. E agora eu estava com a impressão de que ele estava me observando.

Mordi os lábios, ainda com os olhos fixos no livro à minha frente. Meu cabelo caía como uma cortina sobre o meu rosto e me impedia tanto de ver o livro, quanto de olhar para ele de esguelha. Então eu o juntei em um rabo e o prendi com o elástico que estava no meu pulso. Não foi uma boa ideia, afinal, já que assim meu rosto ficou totalmente exposto ao seu — suposto — escrutínio.

Depois de um tempo, suspirou e começou a girar a caneta entre os dedos. Eu me virei para ele e vi que fitava o livro, com um olhar distante, e havia um leve vinco entre as sobrancelhas.

— Qual é o problema? — perguntei, pretendendo provocá-lo. — Suas amiguinhas estão começando a entediá-lo?

Ele se virou para mim, piscando, como se quisesse dispersar os pensamentos. Então abriu um de seus costumeiros sorrisos.

— Depende se você se inclui nessa categoria.

Com uma simples frase, ele fazia minha temperatura subir ao ponto de ebulição, numa combinação de raiva e, por que não, desejo. Era quase um dom.

— Eu não tenho exatamente uma opinião elevada a meu respeito, , mas também não me acho tão ruim a esse ponto. — Eu mordi a ponta final da caneta, um reforço para me ajudar a manter a calma. — A última coisa que quero é ser uma de suas amiguinhas.

— Que pena. — Ele se inclinou para perto, sua respiração fazendo alguns fios do meu cabelo oscilar. — Eu acho que você se encaixaria perfeitamente no papel.

Enquanto metade de mim sentia borboletas no estômago, a outra metade se sentia indignada por ser comparada às garotas fáceis com quem ele dormia. O irônico era que isso era basicamente o oposto do que ele havia dito alguns dias atrás — talvez para o benefício de ?

— É mesmo? — perguntei, forçando um sorriso. — Porque eu acho que não atendo ao padrão. Para começar, minha calcinha costuma ainda estar no lugar no fim da noite.

— Podemos corrigir isso.

Eu não admitiria em voz alta nem que tivesse uma arma apontada para minha cabeça, mas podia sentia uma umidade se formando entre as minhas coxas ao mero pensamento.

— A única maneira de ela sair vai ser se eu mesma a tirar.

riu, divertido, e eu senti minhas bochechas esquentando de indignação. Odiava o fato de que, mesmo quando eu começava a provocação, no final das contas ele sempre ganhava. Sempre.

— Ei. — Ele se recostou conta o acento, descansando uma perna sobre o joelho da outra. — Como preferir, gata. Eu curto um strip-tease.

Se eu nunca tivesse conhecido , jamais acreditaria que era possível se sentir tão irritada e excitada ao mesmo tempo.

— Então vá fazer um na frente do espelho, porque você não vai ter um de mim.

Um dos cantos dos seus lábios se curvou para cima, enquanto seus olhos desciam para meu jeans justo, se detendo na curva da minha bunda. E eu podia ter uma ideia muito boa do que ele estava imaginando. Mas uma vez, eu não sabia se deveria ficar lisonjeada ou ofendida, já que ele costumava olhar assim para as suas putas.

Ele se revirou no assento e deixou as mãos caírem sobre o colo. Estaria escondendo uma ereção? Em plena aula de inglês? Causada por mim?

Ah, ok. Nada de ficar empolgada. Primeiro, eu não abaixaria os olhos para confirmar. Segundo, alguém viciado em sexo como ele deveria ficar empolgado até ao ver um manequim nu.

— Lamentável — repetiu. — Você tem a bunda perfeita para fazer um muito bem feito.

— Assim como você, mas eu não o vejo na frente da minha mesa, rasgando a roupa ao som de uma música brega. — Mal as palavras saíram da minha boca e eu me arrependi. Abaixei os olhos para que ele não pudesse ler neles o que estava se passando na minha mente. — Graças a Deus que não.

vai estar fora hoje à noite — ele disparou, mudando completamente o assunto. Eu senti meu coração disparar.

— Eu sei.

— Você vai vir?

Ergui os olhos do livro para encontrar os dele, desconfiada.

— Por quê?

— Porque eu estava imaginando se poderia ter aquele strip-tease — respondeu sarcasticamente. — Que droga, . Foi só uma pergunta.

Isso fez com que eu me sentisse um pouco culpada pela rispidez. Bem, só um pouquinho. Afinal, era difícil saber com , se ele estava só puxando papo ou provocando.

— Tudo bem! Sim, eu vou. Vou com Brittany e Carly.

— Suas comparsas. — Ele sorriu.

— Olha quem fala — murmurei.

— Então você vai estar em uma festa sem . Como vai lidar com isso?

— Vai se foder, .

— Direto na ferida, hein?

Girei na cadeira para encará-lo de frente. Realmente, ele havia ido direto aonde doía mais. Eu quase podia sentir as faíscas saltando dos meus olhos.

— Eu não sou uma boneca de porcelana, para o grande desapontamento de alguns — apontei. — Não preciso de para segurar minha mão quando vou a uma festa, muito obrigada. Eu sou mais do que capaz de manter afastados os idiotas cheios de testosterona. Não tenho certeza de onde você tirou essas suas percepções de mim, mas elas são tão erradas que chega a ser surreal.

Percebendo que a aula havia acabado e os alunos começavam a sair, eu bati meu livro, fechando-o. Levantei-me e fui em direção à porta.

Doía pensar na imagem que fazia de mim. Era tão difícil assim olhar por detrás das aparências — e do seu preconceito — para me enxergar como eu realmente era?

Eu parei e olhei para ele por sobre o ombro. Queria dizer isso a ele, queria pedir que parasse de me ver como uma garotinha mimada, mas as palavras simplesmente não vinham. E de que valeriam? Elas certamente não mudariam nada.

Sacudi a cabeça, decepcionada com ele e comigo mesma, e segui para fora da sala.

~ ♡ ~


— Casual — gritou Carly do banheiro.

— Não, esporte fino — argumentou Brittany, sacudindo a cabeça.

— Britt, eles vão ao boliche! — exclamou . — Ela precisa estar arrumada, mas confortável. Eu diria um vestido casual ou uma blusinha com aquele seu jeans super justo.

— A skinny? Que é praticamente uma segunda pele? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Sim. Precisa mostrar a ele o que está em oferta. — Ela se moveu em direção à minha cômoda.

— Me fazer parecer com um produto na vitrine promocional da Target, por que não? — Eu revirei os olhos. — Além disso, eu achei que o objetivo aqui era fazê-lo se apaixonar por mim e não transformá-lo em uma ereção ambulante.

— O caminho para o coração de é através do pênis. — Ela pegou a calça, fechou a gaveta com o quadril e o entregou para mim. Carly caiu na risada e voltou para o quarto.

tem um coração? Engraçado, , muito engraçado.

— Ei! — se virou, apontando o dedo para ela. — Ele tem. Só que geralmente está embalado em látex e entre as pernas de alguma garota.

— Ótimo — murmurei, pegando o jeans. Brittany deu uns tapinhas no meu braço, com simpatia.

— Não vai ser assim tão ruim, — ela me tranquilizou. — Além disso, mais tarde você pode dizer que quer ir para a festa. Nós estaremos lá e você pode escapar por alguns minutos.

— Mas vai ser mais de duas horas. — Eu olhei para o reflexo de no espelho. — Duas horas a sós com . Vai ser uma tortura. Vocês não têm ideia.

— Você não o odeia tanto assim, — devolveu . — Odeia?

Eu suspirei, olhando para o tapete.

— Eu não estava brincando quando disse que ele era tudo o que eu mais odiava.

— Então não faça isso — disse Carly, me olhando firmemente. — Desista. Abandone. — Ela deu de ombros.

— O quê? — Franzi a testa, desconfiada.

— Se é tão ruim, então cai fora. Não vamos usar isso contra você, mas não poderá nos culpar quando ficar se questionando se teria dado certo ou não.

— Não tente usar essa porcaria de psicologia reversa comigo, Carly. — Bufei, me levantando e indo até meu armário. Eu retirei uma blusa branca comprida com um design floral e peguei minhas sandálias gladiadoras brancas. — Vocês sabem que eu não vou desistir. Eu só tenho que sofrer, para o divertimento de vocês.

Eu me virei e fui para o banheiro me trocar. Podia estar irritada por ter que fazer aquilo, mas eu não ia desistir. Tinha dito que o faria, e ia fazer.

Arrumei-me rapidamente, escovando o cabelo e prendendo em um rabo alto. A maquiagem se resumiu a rímel, um pouco de blush para dar uma cor às minhas bochechas, e gloss. E estava ótimo. Não ia ficar me preocupando com minha aparência, quando estava indo me encontrar com .

Quando eu voltei ao quarto, Carly assoviou.

— Sexy lady! — Ela piscou e eu lhe enderecei um sorriso.

— Bom o suficiente? — Eu girei e fiz uma reverência.

— Perfeito — declarou . — não poderá resistir a você.

Andei até o espelho e reajeitei um pouco meu cabelo. Era exatamente por isso que eu estava preocupada.

Uma buzina soou do lado de fora, e Brittany correu para olhar pela janela.

— Ele está aqui! — gritou.

— Ótimo — murmurei, pegando minha bolsa. — Divirtam-se sem mim e tentem não pensar muito em mim, ok?

— Você vai ficar bem, drama queen — disse Carly, sorrindo para mim. Se eu não estivesse tão ansiosa, teria dado mais atenção ao fato de que parecia tão ou mais nervosa que eu. — Ande rebolando, jogue o cabelo algumas vezes e ele estará no papo!

— Certo. — Revirei os olhos, acenando por cima do ombro, antes de sair e fechar a porta atrás de mim. Eu desci as escadas praticamente pulando, querendo abreviar o máximo aquele encontro.

Eu pude vê-lo pelos vidros que ladeavam a porta principal. Estava com as mãos nos bolsos de uma calça de jeans escuro desbotado, uma camisa preta que cobria seu torso musculoso. Abri a porta, e ele sorriu para mim, os olhos verdes brilhando.

Eu entendi completamente porque as garotas se jogavam em cima dele, aquele sorriso era desarmante.

— disse suavemente. — Você está linda.

Ele estava andando em ovos aquela noite, aparentemente.

— Obrigada. Você também não está nada mal.

— Quer dizer que não se importa em ser vista comigo em público? — Ele ergueu uma sobrancelha, e eu sorri, me afastando da segurança do dormitório.

— Talvez. Mas, fique avisado, se virmos alguém que conheço, eu vou me esconder. — Eu o segui até o carro, um Jetta preto.

abriu a porta para mim, e eu entrei, afundando no assento de couro. Elegante.

— Carro legal — elogiei, quando ele entrou, embora duvidasse que fosse ele quem pagasse as despesas.

— Obrigado. — Ele sorriu. — Presente de formatura. Eu trabalhei muito por ele. — Deu um tapinha no painel e ligou o motor, afastando-se do dormitório sem obstáculos.

— Tenho certeza que sim — murmurei, olhando pela janela.

— O quê? — me olhou rapidamente.

— Nada. — Eu gostaria de ter desistido mais cedo. Em três dias, tive duas chances de duas chances de jogar as mãos para o alto e dizer: “desisto”, e não o fiz. Por quê? Porque eu provavelmente estava no limite de me tornar clinicamente insana. Ou era simplesmente idiota demais.

Desde que Phillipe tinha entrado em contato, no dia anterior, eu havia redefinido na minha mente. Quando olhava para ele, via todas as coisas que meu irmão tinha feito com minha antiga melhor amiga, Abbi. Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente. Não ia pensar naquilo hoje. Não ia pensar em como o vi destruí-la, e a nossa amizade no processo.

— Parece que está pensando demais, anjo. — se ajeitou no assento, e eu percebi que havíamos parado no estacionamento da pista de boliche. Eu me virei para ele.

— Só pensando na minha família, isso é tudo — respondi, soltando o cinto de segurança. Ele desceu do carro e deu a volta para abrir a minha porta. Estava atuando no papel de cavalheiro. — Obrigada — disse, aceitando a mão que ele ofereceu.

— Sinto muito — ele disse, trancando o carro e colocando a mão nas minhas costas. — Esqueci que você é do Brooklyn. Deve ser difícil estar longe da família.

Ou do que sobrou dela.

— Às vezes. Outras vezes estou feliz com a liberdade que tenho agora.

— Aposto que sim. — sorriu para mim. — Você fala com eles com frequência?

— O que é isso? Jogo das vinte perguntas? — perguntei, achando graça.

— Você ficaria chateada se eu dissesse que sim?

— Nem um pouco. — Deixei escapar uma risada. — Até onde eu sei, uma garota é considerada sortuda se sequer perguntar o nome dela.

Ele sorriu para mim e me puxou para o balcão.

— Então você deve se considerar muito sortuda. — olhou para a garota atrás do balcão, que sorriu para ele, jogando o cabelo por cima do ombro e estufando o peito.

Ele estava claramente em um maldito encontro. Essas garotas não tinham nenhuma moral, não? Não que eu estivesse incomodada, era simplesmente revoltante.

— Eu tenho uma pista reservada para as sete e meia, em nome de — disse ele, ignorando as óbvias tentativas dela de obter sua atenção. Uau, ele era bom.

— É claro, nós reservamos para você aqui. Na verdade, acho que fui eu que atendi a ligação. — Ela se inclinou ainda mais, os peitos parecendo prestes a explodir para fora do decote, e riscou o nome dele da lista com um floreio.

— Tenho certeza que sim. — sorriu polidamente, embora tenso, para ela. Isso não parecia forçado. Quero dizer, uau. Será que o sr. Playboy se incomodava com toda aquela atenção? Provavelmente não.

Olhei novamente para ele. É. Ele definitivamente não estava impressionado. Eu guardei essa informação para a dissecação do encontro com as meninas, no dia seguinte. Interessante.

. — Ele cutucou meu braço. — Qual o tamanho dos seus sapatos?

— Ah, hm, 35, por favor. — Sorri docemente para a atendente, que me devolveu um olhar gelado e pegou um par de sapatos. — Estes são 37 — disse a ela, depois de olhar o tamanho. — Eu disse 35.

Ela os pegou de volta e me passou outro par. Tamanho certo, desta vez.

— Obrigada. — Dei-lhe outro sorriso doce e segui até os assentos para trocar os calçados.

— Esquentadinha — ele sussurrou, quando nos sentamos.

— Ela me deu o tamanho errado. Além disso, tenho certeza de que ela está com ciúmes.

— Ah, isso de novo? — Ele piscou para mim. Eu revirei os olhos e lhe entreguei minhas sandálias, quando nos levantamos.

— Tente não ser sugado por aqueles peitos enquanto entrega isso a ela.

— Ora, . — Ele se aproximou mais de mim, dobrando um dedo embaixo do meu queixo e erguendo-o. — Você está com ciúmes?

Eu bati os cílios duas vezes.

— Você ficaria irritado se eu dissesse que sim? — perguntei, usando suas próprias palavras.

Ele riu alto e correu o polegar por toda a minha mandíbula.

— Não, anjo, eu não ficaria irritado. Aliás, tenho certeza de que gostaria se você estivesse com ciúmes. Acho que você ficaria alucinadamente sexy. Nós provavelmente teríamos que sair daqui, se você estivesse.

Ele entregou os sapatos para a peituda e voltou para mim, deslizando o braço em volta da minha cintura.

— Isso seria lamentável — sussurrei, mordendo o lábio para não rir.

— Não do meu ponto de vista — disse no meu ouvido, com uma voz rouca.

Siga. O. Jogo.

— Então pode ser que eu só esteja com ciúmes.

— Você está? — Ele ergueu as sobrancelhas.

— Sim, mas ainda tem a bunda de um cara que eu pretendo chutar esta noite. Então, sim, seria lamentável ir embora. — Eu saí do seu domínio e andei de costas, sorrindo. Seus olhos se curvaram em um sorriso divertido, com os olhos brilhando.

— Então vamos fazer um acordo. Se você chutar a minha bunda, eu vou poder tocar a sua.

E aqui vamos nós. Eu quase ouvi a voz do locutor de Mortal Kombat dizendo: “Round One. Fight.

, assim você não vai perder de um jeito ou de outro — eu apontei inocentemente, minha mão na bola azul que eu geralmente usava.

— Eu sei. — parou na minha frente, e eu mordi meus lábios. Ele olhou para minha boca. — Não gosto de perder.

Eu liberei meus lábios, sentindo meu coração acelerar. Era um desafio, ou uma promessa?

— Nem eu — sussurrei. — Então se prepare para ter sua bunda chutada.

Ergui a bola do suporte e me virei para nossa pista. Eu o senti puxar meu cabelo, enquanto vinha atrás de mim.

— Eu vou gostar de tocar sua bunda, .

— Eu vou gostar de chutar a sua bunda, .

— Esquentadinha — repetiu, sorrindo novamente.

Eu sorri de volta para ele e passei para jogar a minha primeira bola. Contra todas as expectativas, aquilo ia ser até um pouco divertido.

 


 

Capítulo 6


Outra noite, a mesma merda de sempre.

A casa estava cheia de pessoas, algumas de Berkeley e outras não. Eu tinha certeza de que nem meu irmão faria ideia de quem era metade delas. Não que importasse para ele, ou para qualquer outro.

As garotas batiam os cílios sedutoramente, jogando os cabelos de lado, e passando os olhos pelas pessoas, com a intenção de encontrar um cara para levar para casa. Os garotos também tinham sua própria versão; recostados contra o bar, a parede ou o vão da porta, bebendo cerveja e escolhendo uma garota para levar aonde quisessem.

Era basicamente um ritual universitário de toda sexta e sábado à noite; sexo casual. e pelo menos metade dos seus amigos seguia o costume. Pelo amor de Deus, até Carly fazia.

Mas não eu, nunca.

Um dos motivos era que não era meu tipo fazer sexo apenas por fazer. Mas o principal era meu irmão. Não pela primeira vez, eu me questionei por que de todas as universidades da América eu tivera que vir para a mesma que o meu irmão gêmeo ciumento.

Parecera o mais lógico, na época. Mas agora eu faria qualquer coisa para ter um pouco de liberdade de fazer o que eu quisesse.

E o que eu queria fazer — ou melhor, com quem eu queria fazer — estava sentado do outro lado da cozinha, se divertindo com seus amigos como de costume, seus olhos casualmente se distraindo quando alguma vadia passava por ele.

De repente seus lábios se curvaram em um lento sorriso sexy, e olhou para mim como se tivesse sentido meus olhos nele, uma sobrancelha se arqueando. Sua expressão mostrando a arrogância que ele carregava consigo, evidenciada pela sua postura relaxada em que estava sentado. Ele coçou lentamente o queixo, milhares de perguntas em seus olhos.

Havia uma coisa diferente esta noite — não parecia haver provocação, nem intenção de irritar. Era algo novo, algo intenso.

Eu levantei meu copo do balcão, franzindo os lábios para chupar pelo canudo. Meus pés batiam no ritmo da música pulsando da outra sala, e eu segurei firmemente seu olhar, fazendo-lhe minhas próprias perguntas.

Eu sabia muito bem o que queria fazer — queria ser a garota que ele levava para o andar de cima, ao invés daquela perto dele, movendo-se sugestivamente para chamar sua atenção. Eu só não sabia se uma noite seria suficiente. Não sabia se seria capaz de deixar uma paixonite de seis meses, três semanas, cinco dias, 20 horas e 37 minutos — aproximadamente — se resumir a uma noite de sexo.

Maldição. Eu não sabia nem se teria tempo suficiente antes que fodesse com seu encontro e voltasse para casa.

E o pior, nem sabia se havia algum mínimo de interesse da parte de , por trás de toda aquela provocação. Ah, pelo amor de Deus, era o . É óbvio que ele estaria interessado em sexo fácil.

Exceto que eu não poderia fazer nada a respeito. Jamais teria coragem de admitir — nem para mim mesma em voz alta, quanto mais para ele, correndo o risco de ouvir mais uma das suas piadinhas nada engraçadas sobre meninas ricas.

Ele me deixava louca do pior jeito possível. Cada comentário, cada sorriso, cada erguer arrogante de sobrancelhas. Cada coisa me afetava, especialmente a forma como ele claramente não me conhecia, embora achasse que sim. Ele estava tão enganado sobre mim em todos os sentidos, e isso me irritava muito, mas eu não seria capaz de dizer não, se ele se se aproximasse de mim naquele momento e me convidasse para seu quarto.

O sorriso se apagou em seu rosto, e eu desviei meus olhos para longe dele. Frank estava rindo com Brittany e Carly no meio do bar e, em vez de chamá-lo, eu mexi os cubos de gelo do meu copo vazio com o canudo.

Será que as coisas seriam diferentes se eu tivesse ido para um lugar onde não estivesse por perto? Onde eu não teria que me preocupar que ele poderia quebrar a cara de alguém apenas por olhar para mim? Eu tive o bastante disso na época da escola.

Minha única esperança era que ele encontrasse uma distração a altura, alguém que o manteria ocupado para que eu também pudesse aproveitar um pouco a vida de universitária. Minha esperança tinha nome e sobrenome. .

— Não acho que já a tenha visto sozinha. — A voz de me alcançou, enquanto ele deslizava no banco ao lado do meu.

— Não acontece muitas vezes. E eu poderia dizer o mesmo de você. — Virei meu rosto lentamente, encontrando seus olhos azuis, pela enésima vez naquele dia.

— Não acontece muitas vezes — remedou, um meio sorriso se formando em seu rosto.

— Então por que está aqui e não em algum canto escuro com suas companhias habituais?

— Ai, . Isso na sua voz é uma pitada de amargura?

— Nojo — murmurei, desviando o olhar. — Não confunda, .

— Sabe de uma coisa? Eu acho que está enganando a si mesma — comentou. Ele se inclinou um pouco mais perto de mim, os joelhos roçando os meus. Sua respiração fazendo meu cabelo tremular, enquanto ele aproximava a boca do meu ouvido. — Dez minutos, .

Ele se levantou e desapareceu, antes que eu tivesse a chance de entender o que tinha acabado de me atingir. Eu balancei a cabeça — porque precisava fazer alguma coisa para esconder a tentação que percorria meu corpo.

Frank, sem dizer nada, pegou meu copo e o reabasteceu.

— Está quieta esta noite — disse, se inclinando contra o balcão à minha frente.

— Acontece de vez em quando. — Eu sorri.

— Não deveria estar aproveitando, já que não está aqui?

— Talvez. — Eu dei de ombros. — Você deve estar mais feliz com isso do que eu.

Ele fez um gesto de pouco caso

— Eu morava com minha mãe e duas irmãs, então estou acostumado a conviver com mulheres na TPM. Perto disso, aturar é fichinha.

— Tente conviver com caras que não transam o suficiente — comentei, tomando um gole da minha bebida. — Eles superam qualquer garota com TPM.

Ele sorriu.

— Por sorte, não temos nenhum desses por aqui.

— Hm. Acho que tem razão — concordei, dando uma olhada rápida pelo cômodo cheio.

— Parece que você precisa transar.

— E eu aqui pensando que você era um cara legal, aí você vai e estraga tudo. — Eu suspirei dramaticamente. — Vocês são todos iguais.

Ele sorriu, inclinando-se para frente.

— Aposto que você não teria falta de ofertas, especialmente sem o macho alfa por aqui.

Eu mordi o canto do lábio, lutando contra um sorriso.

— Essa coisa de macho alfa está pegando mesmo, né?

— Você não tem ideia. — Seus olhos brilharam em diversão.

Por que eu não desejava alguém como Frank? Ele era atrante, com seu cabelo rebelde e os olhos castanhos. Tinha músculos na medida certa, era charmoso, bem humorado — e fazia parte da pequena porcentagem masculina da universidade que não estava tentando arquivar suas transas no livro dos recordes. Ele seria uma excelente distração — se eu já não estivesse distraída com .

Eu tomei o resto da minha bebida e coloquei o copo de lado.

— Me faz um favor? Diga a Brittany que eu a vejo amanhã. Vou voltar para o dormitório.

— Pode deixar. — Frank assentiu e se virou.

~ ♡ ~


Eu soltei meu cabelo, deixando-o se espalhar ao redor dos ombros e cair sobre às costas, terminando a alguns centímetros da minha bunda. Bunda essa que eu tive que deixar tocar mais cedo, por ocasião da minha vitória.

Ele perdeu, mas obteve o prêmio, então eu diria que para ele tinha sido uma situação de ganhar ou ganhar, no final das contas.

— Então — começou, enquanto caminhávamos pela areia. — Você não respondeu a minha pergunta anterior.

— Que pergunta? — Eu me virei para olhá-lo.

— Você fala sempre com a sua família?

Eu voltei a andar, enfiando as mãos nos bolsos apertados da calça.

— Meu pai e eu nos falamos uma vez por semana, geralmente no domingo. Tornou-se uma espécie de hábito. Meu irmão? Não muito. — Dei de ombros.

— Vocês não são próximos?

Eu bufei, balançando a cabeça.

— Tão próximos como dois polos opostos.

— E sua mãe? Você fala sempre com ela?

Eu parei na beira da água, traçando uma linha na areia com o dedão do pé. Não importava o tempo que tinha passado, ainda doía falar sobre isso.

— Minha mãe morreu há três anos — sussurrei suavemente, baixando os olhos. — Ela foi vítima de uma bala perdida.

— Me desculpe — ele disse, parecendo sem graça.

— Não se desculpe. Você não sabia.

Ele se aproximou e colocou meu cabelo atrás da orelha.

— Eu sinto muito que você teve que passar por isso.

Eu absorvi suas palavras, acompanhadas por aquele olhar que parecia tão assustadoramente sincero. Acho que foi a surpresa pela sua inesperada sensibilidade que me ajudou a colocar meus sentimentos opressivos de lado.

— Eu também — consegui responder depois de um tempo de imobilidade. — Mas já passou. Não tem por que ficar pensando no que poderia, ou deveria, ter sido. Isso não ajuda. Na verdade, torna pior. Ela se foi. Não posso mudar isso, só viver com isso. E eu vivo. Vivo com isso todos os dias, e sempre vou sentir a falta dela, mas só porque ela se foi, não significa que eu não posso seguir em frente e ser a pessoa quero ser. — Mal eu acabei de falar e me senti estúpida por despejar tudo assim, em cima de , alguém de quem eu estava junto só por causa de um desafio idiota.

Ele deslizou a mão do meu ombro, descendo pelo braço, entrelaçou os dedos por entre os meus, apertando suavemente.

— Você é muito forte, sabe disso?

— Não. Estou sendo apenas... — eu me interrompi, hesitante.

— Você é forte.

Aquilo estava ficando intenso demais e quase havia me feito esquecer por que eu estava ali. Era hora de voltar para o script.

Dei um passo atrás tentando quebrar aquela aura de intimidade.

— É sua vez de falar sobre você.

— Não há muito a dizer. — Recomeçamos a caminhar, nossas mãos entrelaçadas oscilando entre nós. — Cresci em Palm Springs com meus pais e , tive uma vida boa e fácil, em seguida, abri as asas e vim para a faculdade.

— Com .

— É. Embora eu aprecie a liberdade, acho que seria fisicamente impossível ficar muito longe dela. Seria como deixar uma parte do meu corpo para trás.

Eu acenei com a cabeça, embora ainda tivesse um pouco de dificuldade para entender o relacionamento deles, toda essa conexão — quase dependência —, embora fossem tão diferentes.

— Eu acho legal que vocês sejam tão próximos — eu disse, pensando na minha ex-amiga, Abbi. — Sinto falta de ter essa proximidade com alguém. Talvez eu encontre novamente um dia.

— Tenho certeza que vai. Quem sabe, podemos nos tornar bem próximos algum dia.

Deus, ele estava realmente inspirado.

Eu me virei para ele, sem conseguir evitar o sorriso, e arquei as sobrancelhas.

— Presunçoso.

— Você sabe, eu prefiro esperançoso. — Sorriu.  Eu ri e balancei a cabeça. — Sério.

— Ok, — disse, embora ainda sacudisse a cabeça. — Vai ser um milagre se isso... — Fiz um gesto indicando nós dois. — ...durar além desta noite.

— É isso que você acha? — perguntou, com ares de desafio, parando à minha frente e segurando minha outra mão.

— Por que não seria? Eu tive sua atenção por, o que, seis dias. Isso por si só já é um milagre.

Ele balançou a cabeça, e quase podia ver o maquinário na sua cabeça em movimento, tentando achar a maneira certa de agir.

— Anjo — ele disse baixinho, passando o polegar pela minha bochecha, fazendo os pelos do meu braço se arrepiarem. — E se eu pedir para você me dar uma chance?

— Uma chance? Para quê?

— Uma chance para ser mais do que seu amigo.

Eu escaneei seu rosto impassível, tentando descobrir se ele estava sendo sincero ou se só fazia parte do seu jogo para me levar para cama. Ele definitivamente estava se saindo muito melhor do que eu pensara ser possível.

— E? — perguntei.

— E o quê?

— E se você estragar tudo? E aí? — Eu abaixei os olhos, meio desconcertada com a intensidade do seu olhar.

— Então, eu lhe daria total permissão para mandar Carly quebrar minha cara — disse baixinho, e usou a mão para erguer meu rosto. — Prometo. Eu não sou perfeito, , não chego nem perto de ser perfeito e sou o primeiro a admitir. Mas, se você permitir, eu vou tentar ser perfeito para você. E então você vai poder ter essa proximidade que tanto quer.

Por um instante, aquilo me tocou profundamente. Parecia tão sincero, tão... Droga, , concentre-se. É só um jogo, tanto para você quanto para ele — ao menos por enquanto.

Ele provavelmente tinha tirado aquelas falas de alguma comédia romântica que o obrigara a assistir.

— Tudo bem — disse finalmente. — Uma chance, . Isso é tudo.

Ele sorriu lentamente, trazendo seu rosto para mais perto, até descansar sua testa contra a minha. Sua respiração se cruzando com a minha, e eu fechei os olhos. Ainda assim, eu podia senti-lo se aproximando, seus lábios a poucos milímetros do meu. E então seu telefone começou a tocar.

E eu me vi amaldiçoando o celular. Não por que eu desejasse o beijo, mas só porque ele seria um passo importante para o meu desafio. É claro.

— Alô? — Ele atendeu, depois de se afastar um pouco de mim. — Você tem o pior timing do mundo, sabia, Mike? — Lançou um olhar na minha direção, e eu me senti corando estupidamente e olhei para longe. — Sim. O que você quer, idiota? — Depois de um breve silêncio, ele cobriu o aparelho com a mão e olhou para mim. — Quer voltar para casa? As meninas estão lá.

Ótimo. Elas provavelmente tiveram um pouco de pena de mim e perturbaram Michael até que ele ligasse. Ou, mais provavelmente, só estavam ansiosas pela fofoca.

— Claro. — Sorri para ele.

— Nós estamos a caminho — disse ao telefone, antes de desligar e enfiá-lo de volta no bolso. — Babaca. Ei. — se moveu, e pegou minha mão novamente. Eu estava mordendo o lábio inferior para conter o riso. — Não ria.

— Sinto muito.

— Não, você não sente.

— Tem razão. Eu não sinto. — Eu dei de ombros e sorri, puxando-o para junto de mim. — Vamos lá. Aposto que Carly já está com as minhas doses alinhadas, e ela vai beber todas se eu não chegar a tempo.

Ele olhou para o céu e balançou a cabeça, me seguindo de volta para o carro.

~ ♡ ~


Eu olhei em volta furtivamente e deixei a cozinha. Era um risco. Um grande risco, mas eu não me importava. As palavras de estavam cheias de promessa quando ele se sentou no banco ao meu lado, e seus olhos cheios de mistério, que eu queria desvendar entre seus lençóis. Paranoia se juntou a mim enquanto abria meu caminho pela sala de estar até a escada. Eu corri a mão pelos cabelos, tentando parecer casual, como se só estivesse indo ao banheiro. Dei uma última olhada ao redor, do patamar, para ter certeza de que não havia ninguém prestando atenção — alguém que poderia me dedurar mais tarde. Meus dedos seguraram a parte de trás do meu vestido, puxando-o para baixo, então me virei para subir o lance final da escada para o quarto dele.

Já no corredor escuro do segundo piso, uma mão agarrou meu braço por trás e me girou, me colocando de costas contra a parede. Uma boca cobriu a minha, engolindo meu grito, e movimentos rápidos frustravam as minhas tentativas de lhe dar uma joelhada nas bolas.

— Você não está sendo atacada, murmurou calmamente contra minha boca. — A menos que você queira.

Eu abri meus olhos para encontrar os dele na penumbra do corredor.

— Você é um idiota, sabia disso?

— Ainda assim, você está aqui.

— Parece que sim — eu disse, baixando os olhos.

Ele segurou minha cabeça com as mãos, enfiando os dedos no meu cabelo, e puxou meu rosto ligeiramente para cima. Seus lábios tocaram novamente os meus, macios, mas com força, e eu deslizei as mãos pelos seus braços para agarrar o colarinho, fechando os olhos. Eu segurei seu rosto contra o meu, separando os lábios para permitir sua invasão, e pressionei meu corpo contra o dele. Ele mordeu meu lábio inferior, passando a língua por ele, enviando calafrios pela minha espinha. alcançou a fechadura ao meu lado e rompeu o beijo, para enfiar a chave na abertura.

empurrou a porta, suas mãos deslizando por minhas costas, e eu permiti que ele me puxasse para o quarto. Ele chutou algumas coisas no chão para fora do caminho, batendo a porta atrás de mim, ao mesmo tempo em que puxava meu corpo contra o dele, sua respiração atiçando meus lábios. Meus olhos caíram para sua boca e se fecharam quando ele cobriu a pouca distância para me beijar de novo, dessa vez com mais intensidade, mais necessidade.  Ele serpenteou uma mão ao meu redor e segurou minha bunda, me apertando contra si.

Eu movi uma mão da gola até sua cintura, a alça do meu vestido caiu, expondo a pele do ombro. Meus dedos rastejaram para baixo da camisa polo, em sua pele quente. Estiquei a mão, o polegar escovando o músculo sólido do seu abdômen. Ele me soltou por um instante, puxando a camisa sobre a cabeça, e procurou meu rosto.

Corri meu lábio inferior entre os dentes, enquanto meus olhos varriam seu torso. Já o tinha visto sem camisa antes, mas assim de perto ele era ainda mais perfeito. Seu peito era sólido, mas sem exageros. As pequenas sombras das reentrâncias entre seus músculos esculpiam sua pele.

Eu dei um passo à frente e toquei de leve seu tórax com a boca. Ele segurou minha nuca e beijou minha orelha, correndo os lábios pelo meu pescoço e ombro nu. Minhas mãos tremeram, enquanto corriam pela parte inferior das suas costas. Uma de suas mãos roçou em meu seio, me fazendo gemer contra sua pele.

Suas mãos deslizavam pelo meu corpo com facilidade, a barra do meu vestido se aglomerando em suas mãos, enquanto era puxada para cima. o tirou pela minha cabeça, jogando-o no chão junto a sua camisa, e nós dois nos movemos juntos em direção à cama.

Eu caí de costas no colchão, enquanto ele arrancava a calça jeans e se inclinava sobre mim. Ele se pressionou em minha coxa, duro e pronto, e eu envolvi a outra perna ao redor da sua cintura, minha boca encontrando a sua com urgência. Sua língua traçou o contorno dos meus lábios, e eu deslizei a minha contra a dele. gemeu baixinho, me segurando com mais força. Sua língua varreu minha boca, saboreando cada canto, seus cabelos se emaranhando ao redor dos meus dedos, enquanto eu o segurava contra mim. Suas mãos sondaram meu corpo, massageando minha pele, enviando arrepios. Meu baixo-ventre se contraiu, todas as sensações se concentrando em um mesmo ponto, ansiando por ele.

Eu deixei escapar um gemido, metade por frustração e metade por necessidade, e ele grunhiu, arrastando sua boca para baixo, pelo meu corpo. Seus lábios se moviam sobre a minha pele, a língua girando em círculos minúsculos pelo caminho. Ele enroscou os dedos nas laterais da minha calcinha e a arrancou em um movimento rápido. Uma mão ficou em baixo, enquanto a outra viajava de volta para cima, e no primeiro toque de seus dedos deslizando pelo meu clitóris, meus quadris se ergueram, e eu prendi a respiração. Seu polegar se moveu em círculos pequenos e rápidos, me fazendo arquear as costas.

chupou meu pescoço, sua respiração pesada e os músculos tensos. Eu não pude evitar o gemido que saiu da minha boca, nem a súplica por mais em seu ouvido. Eu não podia parar o suor que me cobria, nem o sentimento inegável de prazer que varria meu corpo como um tsunami.

Sua mão me liberou para tatear uma gaveta do criado-mudo. Ele rasgou o pacote de camisinha com os dentes e a colocou.

— Eu desejei você por tanto tempo — sussurrou com a voz rouca contra minha orelha, enquanto se posicionava sobre mim. Eu inclinei os quadris em convite. Ele deslizou para dentro de mim lentamente, minhas paredes internas se ajustando à invasão, e eu ofeguei, afundando os dedos em suas costas. — Desesperadamente, .

Aquilo me soou como um afrodisíaco, me deixando ainda mais excitada — se é que era possível. Eu rangi os dentes e arranhei suas costas. O atrito se formando entre nossos corpos quentes, enquanto começávamos a nos mover contra o outro, eu sentindo cada flexão dos seus quadris dentro de mim.

— Agora você me tem — arfei.

Ele me segurou contra si, seus dedos afundando nas minhas costas, e soltou um suspiro longo, trêmulo, que não era nada parecido com o que eu conhecia.

— Sim — exalou. — Sim, eu tenho você.

...

mal tinha desabado, cansado e suado, sobre mim, quando meu celular começou a tocar pela terceira vez.

— Tem que atender?  — ele perguntou contra a minha boca. Eu estava relutante, mas também preocupada pela insistência. Eu assenti, e ele deslizou para fora de mim e girou o corpo, desabando ao meu lado na cama. Instantaneamente eu senti falta do seu calor.

Rolei para fora da cama e cacei o aparelho no bolso do meu vestido. Eu gelei quando vi o nome no visor.

— É Brittany. Ela deve estar preocupada — sussurrei, antes de atender. — Alô?

! — ela gritou no meu ouvido. — O que deu em você para abandonar a festa assim? E por que não atendia o telefone? Eu estava quase indo aí puxá-la pelos cabelos.

Eu me sentei no chão, cobrindo a frente do meu corpo com o vestido.

— Eu, uhn, estava lendo e acabei pegando no sono.

Não acredito nisso! Não são nem dez horas ainda!

— Eu estava cansada — disparei, ciente de quanto estava sendo pouco convincente.

É sexta-feira, pelo amor de Deus. Pode dormir à vontade amanhã e ler todos os livros que quiser. Mas é melhor voltar para cá agora mesmo!

— E por que eu faria isso?

Porque tenho certeza de que vai querer saber como estão as coisas, de primeira mão. e estão vindo para cá, já devem estar chegando.

Meu corpo se tensionou, a realidade da situação finalmente me batendo com força.

— Tudo bem, eu já vou descer... ir praí. — Eu desliguei e puxei pela respiração.

— O que foi? — A voz preocupada de vinda de trás de mim me fez dar um salto. Olhei por sobre o ombro e o vi deitado de lado em todo seu explendor, cotovelo na cama, o rosto apoiado na mão.

está voltando — respondi, desviando o olhar da tentação. Queria não ter atendido a ligação, queria poder voltar para seus braços enquanto podia, sem me importar com nada. Mas sabia que isso não era possível. — Eu preciso sair daqui, rápido.

Eu senti seu olhar intenso sobre mim por alguns segundos, antes que ele se virasse de costas na cama, apoiando as mãos atrás da nuca.

— Depois eu que tenho a má fama de fugir correndo logo depois da transa. — Suspirou dramaticamente.

— Estou poupando seu trabalho — retruquei, colocando o vestido rapidamente pela cabeça e soltando o cabelo de dentro dele.

Eu não ia me preocupar com a nossa situação agora, ainda não. Tinha que lidar com o mais urgente primeiro. Evitar que meu irmão descobrisse que mal ele havia virado as costas e eu tinha pulado na cama com seu melhor amigo. Aquele que estava bem no topo da sua lista de inadequados para mim.

Enquanto tentava desembaraçar com os dedos meu cabelos úmdos de suor, eu aproveitei para espiar enquanto se vestia.

A vantagem de uma retirada apressada era que eu não teria que lidar com a estranheza do pós sexo. Qual seria o protocolo com ele, se teria que ir embora imediatamente, ou poderia ficar para um segundo round... Bem, ao menos agora esse era um problema resolvido.

 


 

Capítulo 7


Quando entramos na casa, somos bombardeados pela música alta. pegou a minha mão, entrelaçando nossos dedos. Eu apertei sua mão de leve, enquanto ele me puxava através da casa lotada. Fomos para a cozinha, onde encontramos Carly, e Brittany sentadas.

— Eu vou procurar o Mike — ele se inclinou, sussurrando no meu ouvido. — Me espera no bar?

Eu assenti e me afastei, soltando sua mão. Sorri para ele por cima do ombro, e ele piscou. Aigoo. Fazia, o que, vinte minutos, e eu já estava cansada de fingir. Por que eu havia adiantado as coisas, afinal? Ah, claro, havia o risco de ele desistir se eu continuasse bancando a difícil. E quanto antes eu atingisse meu objetivo, mais cedo eu ficaria livre dele.

deslizou o braço no meu, assim que me aproximei.

— E aí? — perguntou, ansiosa.

Eu ajeitei uma mecha de seu cabelo, que parecia ligeiramente despenteado. Na verdade, ela toda parecia um pouco menos composta do que de costume, como se tivesse vestido a primeira roupa que apareceu na frente e saído sem se preocupar com o resto — totalmente atípico dela. Imaginava se Britt e Carly a haviam arrancado à força de um de seus livros para trazê-la à festa.

— O jogo começou — sussurrei, sorrindo para minhas amigas.

— Uhuuuul! — Carly gritou e acenou para Frank. — Oito doses, duas para cada uma!

— É para já! — Frank piscou para mim, e eu sorri educadamente para ele. No que dizia respeito à Universidade de Berkeley, eu estava em um relacionamento com , e para ser convincente, eu não poderia dar muita abertura para outros garotos. — Noite boa? — perguntou, deslizando as bebidas para nós.

— Eu diria que sim — Brittany riu, pegando uma das bebidas. Cada uma pegou um copo e tomamos a primeira dose juntas, e a segunda em seguida.

— E por que isso? — Ele se inclinou para frente, aproximando seu rosto de meu.

— Porque ela está namorando. — sorriu e se virou.

— Está brincando — disse Frank inexpressivamente.

— Hm, não. — Encolhi os ombros.

— Você está com ?

— Ela está — respondeu o próprio, chegando por trás de mim. — Problema, Frank?

Frank ergueu os olhos, a raiva óbvia em seu rosto.

— Sim, para falar a verdade. Tem um problema, sim.

— Então, por favor, compartilhe conosco porque você é tão melhor do que eu.

Frank olhou na minha direção, e eu dei um passo para o lado, me afastando dos dois.

— Idiotas — bufei. Brittany assentiu, concordando.

— Não, . — voltou sua atenção para mim. — Eu quero saber o que ele acha que pode lhe dar que eu não posso.

... — advertiu .

— O que eu posso dar a ela que você não pode? Quem sabe um relacionamento seguro cheio de confiança, onde ela não vai ter que se preocupar se você vai correndo foder uma das suas putas por aí. — Frank lançou um olhar enojado para ele. — E tudo o mais. Um dia inteiro não teria tempo suficiente para descrever o babaca que você é com as garotas.

— Ei! — protestou, batendo a mão sobre o balcão. — Já chega, Frank.

— Ele perguntou.

— É, e agora eu estou dizendo que já é o bastante!

— Não, , deixe-o continuar. — O rosto de parecia feita de pedra.

 — Não vai falar nada? — Carly sussurrou para mim.

— De que adiantaria? — retruquei, dando de ombros. — Eles não vão desistir dessa guerra de egos. Além disso, nós vamos conseguir o que queremos.

— Que seria...?

— Atenção para o nosso relacionamento.

Ela deu um tapinha no meu ombro.

— Menina esperta.

, todos nós sabemos que você não quer realmente ficar com ela. Só quer levá-la para a cama e seguir para a próxima. Você não vale o chão que pisa. Por que não a deixa ter alguém que vai tratá-la bem e não como uma vadia descartável? — disparou Frank, um pouco alto demais para o meu gosto.

se lançou por cima do bar, chutando uma garrafa de vodca, que caiu no chão e quebrou. Ele agarrou Frank pela camisa e o jogou contra a parede.

— Quer repetir, Frank? — sibilou , por entre os dentes cerrados.

—Ah, pelo amor. — suspirou, sacudindo a cabeça.

— Eu repetiria, mas acho que você ouviu bem na primeira vez — respondeu Frank. — Além disso, você mesmo está mostrando para a sua garota o namorado decente que você é, não é?

— Sim, Frank, tem razão. Minha garota. é minha, e não se esqueça disso. — o soltou e lhe lançou um olhar gelado. — Tente qualquer coisa com ela e a porra da garrafa não vai ser a única coisa quebrada.

— Ok. — Mike se aproximou, entrando no meio. — O show acabou, rapazes. Beijem-se e façam as pazes ou então se afastem.

— Ah, antes tarde do que nunca — murmurou Brittany. — O idiota chegaria atrasado até para o próprio funeral.

O riso subia pela minha garganta, mas eu cobri a boca com a mão. Não era o momento para isso. Voltei meu olhar para e vi que lhe dizia alguma coisa, ele se virou para mim, uma ponta de arrependimento em seus olhos. Eu sustentei o contato visual, mantendo minha postura impassível. disse mais alguma coisa para ele, que assentiu, avançando. Sem dizer nada, ele pegou minha mão e me tirou da sala.

— A festa continua, pessoal. Não há mais nada para ver! — gritou Mike, enquanto subíamos. me puxou por dois lances de escada e destrancou uma porta. O quarto dele.

Era impecável. Eu olhei para ele, sem poder esconder minha surpresa. Os lençóis escuros na cama se destacavam contra as paredes brancas, e havia uma escrivaninha empilhada de livros no canto. O único indício de que aquele era um quarto masculino era a enorme TV fixada na parede, acima de um Xbox. Típico.

. — Ele fechou a porta e ergueu a mão para o meu rosto. — Sinto muito, anjo. Eu não queria que aquilo acontecesse.

— Pelo visto, você faz um monte de coisas que não tem a intenção de fazer, .

— Eu sei. E sempre perto de você. — Ele sorriu ironicamente. Eu dei de ombros. — Não quero que você pense mal de mim por causa disso.

Siga o jogo, .

— Por causa de quê?

Ele ergueu uma sobrancelha, e sorriu.

— Por eu quase ter dado um soco na cara dele.

— Por que eu pensaria mal por isso? Não é assim que você deveria agir? — Meus olhos relancearam nossas mãos entrelaçadas e então voltaram para os dele.

— Eu acho que sim.

Eu ri.

— Uau, você está mesmo por fora de relacionamentos.

— É, eu estava. Até agora. Não sei se você notou, mas pelo menos metade das pessoas lá embaixo acabou de me ver todo protetor com você.

— Ah, sim. Aquela coisa de homem das cavernas, não é? Mim, . , minha. Isso?

Ele riu.

— Sim, isso.

— Bem, duvido que alguém vá tentar me pegar agora — eu disse. — Acho que ficou bem óbvio para eles quem acha que me possui.

— Quem acha? — Ele deu um passo para mais perto.

— Sim, acha. — Estreitei os olhos lentamente. — Eu não pertenço a ninguém além de mim mesma. Só eu tenho controle sobre meu corpo e minha vida, e estar com alguém não muda isso.

— Normalmente numa situação dessas, eu diria o quanto esse seu lado me deixa excitado, mas acho que só vou dizer isso: , você é minha. Goste você ou não. — Ele envolveu minha bochecha com a mão.

— Sua namorada. Isso não quer dizer que eu pertença a você.

— Por que você está transformando isso em uma discussão? — ele grunhiu.

— Eu não estou! — protestei. — É só que essa coisa de homem das cavernas não faz o meu estilo!

— Você está sim!

— Quem está discutindo agora?

.

.

— Você nunca cala a boca?

— Não.

— Fantástico. Eu tive que escolher uma garota que fala sem parar.

— Então acho que eu vou lá falar com alguém que queira ouvir, e que não esteja preso na idade da pedra! — Soltei minha mão da dele e girei em direção à porta.

— Não, você não vai! — Ele grunhiu de novo, e me imobilizou contra a porta.

— Oh. Querendo me dominar já?

Ele estava enfurecido. Por que mesmo eu havia entrado naquele desafio idiota?

— Não, eu só estou querendo saber se você é melhor beijando do que falando. — Seus olhos se fixaram nos meus lábios, e eu passei a língua por eles, umedecendo-os.

— Talvez eu seja, mas você nunca vai descobrir se continuar falando, vai?

Ele abaixou a cabeça e pressionou suavemente seus lábios contra os meus. Uma de suas mãos deslizou em torno da minha cintura, me puxando contra ele, e a outra escorregou por entre meu cabelo. Eu suspirei quando ele sugou de leve meu lábio inferior, e ele aproveitou a chance para deslizar a língua em minha boca. Minhas mãos apertaram seus braços, deslizaram sobre os ombros e então se conectaram atrás do seu pescoço.

Ele explorava minha boca gentilmente, e eu não consegui impedir meu coração de acelerar. Eu o odiava, ao mesmo tempo em que o desejava, e esses sentimentos colidiam dentro de mim, se misturando em algo indiscernível.

O calor se espalhava pelo meu corpo, e me puxou para ainda mais perto. Estava recostada nele, sentindo cada curva e cada contorno dos músculos do seu torso. Eu soltei minhas mãos e deslizo-as para cima, em seu cabelo, afundando meus dedos.

— ele sussurrou contra minha boca, recuando ligeiramente. — Não temos que parar agora, ou eu não vou conseguir.

Parar? Parar o quê? Ah, o beijo. Sério?

— Ok — respondi, ofegante.

— Anjo, é só porque eu sei que você não é como a maioria das garotas. Vamos esperar até que você esteja pronta, ok?

Concordei com a cabeça, e ele me beijou novamente, um toque demorado nos meus lábios inchados.

Ele desceu a mão e envolveu minhas costas, mergulhando a cabeça em meu pescoço. Não era um abraço carinhoso, parecia mais uma tentativa de manter o controle. Eu inclinei meu rosto contra o dele, que estava enterrado no meu cabelo, deixando-o me abraçar.

Neste segundo, eu não estava pensando no desafio. Não estava pensando no Brooklyn, ou no por que de odiar . Tudo em que eu pensava era que aquele foi o melhor beijo da minha vida.

E isso poderia ser um problema.

~ ♡ ~


Ninguém sabe.

Eu relembrava a mim mesma, enquanto encarava a porta do quarto que eu dividia com a Brittany. Eu meio que esperava que ela fosse irromper no quarto a qualquer momento e gritar comigo por ser tão burra. Mas ninguém sabia — não que isso impedisse que os sentimentos de quase paz e culpa guerreassem dentro de mim.

Era aquele velho clichê. Cabeça versus coração. Minha cabeça estava me dizendo o que eu já sabia — que eu era uma pessoa horrível. Traí meu irmão gêmeo, dormindo com seu melhor amigo, quando eu sabia que era a última coisa que ele desejava para mim. Mas meu coração me dizia que eu não era má pessoa. Pela primeira vez na vida, eu fui atrás do que queria sem pensar nas consequências.

Isso me fazia irresponsável e insensível? Ok, talvez insensível fosse um pouco exagerado, mas imprudente? Sim. Era imprudente, e provavelmente um pouco egoísta.

Mas então, não se chegava a lugar nenhum na vida sem chatear algumas pessoas.

Os pensamentos rodavam em minha mente com a força de um tornado. A noite anterior tinha sido um erro? Eu fiz a única coisa que prometi a mim mesma que jamais faria. Não dormir com o melhor amigo do meu irmão — era simples. Algo tão simples que se tornara incrivelmente complicado no segundo que eu olhei nos olhos azuis de , no primeiro dia da faculdade. A partir daquele momento, eu soube que estava perdida. Só não poderia saber aonde aquilo ia me levar.

E aqui estávamos nós.

Depois de todas minhas tentativas, todas minhas batalhas internas para me manter longe dele — e da sua cama —, de algum modo eu acabei caindo por seu sorriso pretensioso e o jeito prostituto, que poderia muito bem rivalizar com o de .

Não que eu gostasse desse jeito dele. Eu ainda queria incendiar os cabelos falsos, peitos siliconados, unhas e cílios postiços de cada garota que dormia com ele. Mas também conseguia manter meus pés no chão o suficiente para saber que aquilo nunca seria mais que sexo. Uma noite. Porque isso é tudo o que tem a oferecer.

Eu não tinha nenhuma expectativa de um “nós”. Podia ser uma romântica incurável, feliz em me perder nas páginas de um romance — fosse hot ou água com açúcar —, mas eu não era ingênua o bastante para acreditar que essas coisas aconteciam o tempo todo na vida real.

Tudo sobre era contraditório para mim, especialmente o modo como ele me fazia sentir. Havia sempre aquela sensação agradável e vibrante quando eu o via, ao mesmo tempo em que faiscava algo mais profundo, visceral. Quando ele estava conversando com outra garota, por exemplo, ou quando estava me provocando.

Até mesmo a noite anterior era uma contradição, uma mistura de satisfação plena com medo. Medo de que não tivesse sido o suficiente.

Eu já não tinha mais certeza se poderia lidar com aquilo.

 

Quando estava tomando banho, chegou uma mensagem de Brittany dizendo que estava subindo para o quarto de e Carly, e que eu deveria me juntar também. Terminei rapidamente de me arrumar, ignorando a dorzinha persistente nas coxas, e as encontrei preguiçosamente esparramadas pelo quarto.

— Ele está comendo na palma da minha mão — estava dizendo, quando eu entrei.

— Não duvido — eu disse, sorrindo. — Eu estava lá quando ele explodiu para cima do Frank.

Eu empurrei Carly, para me sentar na beirada da sua cama, e ela chegou para o lado, cruzando as mãos atrás da cabeça. A pose me fez lembrar de . Droga.

— Essa merda é tão divertida — ela suspirou, feliz. — É gratificante para caralho.

— Gratificante? — Brittany arqueou as sobrancelhas para ela.

— Sim. , sr. Playboy em pessoa, está comendo na palma da mão de .

— Falando em comer, eu ainda estou morrendo de fome — reclamou a dita cuja.

— Ué, o não está te mantendo satisfeita? — perguntou Carly, se virando na cama com as sobrancelhas erguidas.

— Eu não posso comê-lo no café da manhã — rebateu . — Não sou canibal.

— Eu estava pensando em outro tipo de fome. Você sabe que ele pode muito bem—

— Chega, Carly — ordenei, erguendo as mãos. Eu tinha ideia de quantas vezes por semana meu irmão fazia sexo, mas pensar sobre isso de estômago vazio era nauseante. — Já é o bastante.

Andei até o quadro de cortiça e peguei o cartaz do nosso projeto. Hesitei só um momento antes de voltar para a cama. Eu esperava que tivesse mais controle sobre suas emoções do que eu tinha sobre as minhas.

— Então, estamos adiantadas em um dia — disse, correndo o dedo pelo papel. — Muito bem, . O que vai acontecer hoje? Vocês vão se ver?

— Uh, não tenho certeza. — Ela sorriu timidamente. — Mas eu finalmente lhe dei meu número.

Carly vibrou.

— Então, ele provavelmente vai ligar ou algo do tipo.

Como se ela tivesse acabado de dizer uma palavra mágica, o celular de tocou. Brittany, ao lado dela, saltitou.

— Falando no diabo — disse, sorrindo.

leu a mensagem, e agitou o celular na nossa direção, sorrindo.

— Bingo!

Um sorriso travesso estirou meus lábios, e eu vi expressões semelhantes nos rostos das outras duas.

— Não responda ainda — eu disse, descruzando as pernas. — Depois do que aconteceu na noite passada, a Segunda Fase vai ser muito fácil. Todo mundo na festa da fraternidade viu ele sendo todo protetor com você, e quem não viu, certamente vai ouvir falar.

— Mas nem todo mundo vai acreditar — ressaltou Brittany.

— Então sempre que estiverem em público, certifique-se de que estarão se tocando, rindo ou se beijando. — Carly suspirou. — Que grande sacrifício.

Eu tirei a tampa da caneta e atirei nela.

— Controle-se, Carly.

— Cale a boca. — Ela jogou de volta.

— Crianças — chamou , rindo. — Qual é o plano? Porque eu sei que tem um a caminho.

— Yeps. — Eu escrevi no projeto, atualizando-o, e finalizando com um ponto exagerado. — Vocês vão ter um encontro duplo com Michael e Brittany numa noite desta semana.

— O quê? — disseram as duas envolvidas ao mesmo tempo.

— Vocês vão ter um encontro duplo com Michael e Brittany — repeti pacientemente.

— O quê? — repetiu .

— Vocês. Vão. Ter. um. Encontro. Duplo. Com. Michael. E. Britanny — disse Carly devagar, pronunciando cada palavra perfeitamente.

— Eu ouvi da primeira vez — disse, com os dentes cerrados. — Sem ofensa, Britt, mas se há algo pior do que namorar , seria ter um encontro duplo com Michael.

— Na verdade, você é até sortuda que seja o Michael — declarou Brittany. — Ele pode ser um pé no saco, mas é ainda pior.

— É verdade — concordou Carly. — Mas é gostoso.

Ela não fazia ideia do quanto.

— Eu achei que você preferia garotas — provoquei, chutando de leve sua perna.

— Eu prefiro. Mas não quer dizer que também não goste de um pouco de pau.

— Ok! — interrompeu , fazendo Carly gargalhar. — Quando vai ser esse encontro? Eu preciso me preparar mentalmente.

— E responder a mensagem do — lembrei.

— Ah, é. — desbloqueou o celular e olhou para a tela. — Hm, o que eu digo?

Eu e as outras suspiramos em uníssono.

— O que ele disse?

— Perguntou o que eu ia fazer.

— Então diga que está livre.

— OK.

Ela digitou apressadamente, mordendo o lábio inferior. A resposta não demorou a chegar — e a ser replicada.

— Vou me encontrar com ele no Starbucks — anunciou.

— Eu também vou! — decidi, tampando a caneta, e sorri.

— Isso não tira a característica de namoro? — Brittany ergueu uma sobrancelha.

— Não.

— Como não?

Eu revirei os olhos, suspirando.

— Eu nunca me envolvo nos casos de . Se nos virem saindo os três juntos, vão perceber que eles estão mesmo namorando, e que o relacionamento é, inclusive, reconhecido e aceito pela família — concluí, apontando para mim.

— Mas não há nada entre nós — murmurou , parecendo um pouco perdida. Eu me levantei e andei até a cama dela, pousando a mão em seu braço. Queria ter certeza de que ela estava bem, e que ficaria bem até o fim.

— Você sabe disso. Eu sei disso. Brittany e Carly sabem, mas não.

— Nem o resto do campus — completou Carly. — Assim, para o resto do mundo vocês têm algo.

— Ótimo. — Ela suspirou, parecendo se recuperar. — Vocês não podiam me dar um desafio fácil e divertido, não é?

— Aí não seria desafio — disse Britt, digitando uma mensagem em seu celular. — O pessoal vai para a praia hoje à noite. Mais uma chance de espalhar que está comprometido.

— Espalhar? Estou dentro. — Carly riu, pegando seu próprio celular. balança a cabeça.

— Vamos deixar por conta delas, ? — perguntou , se levantando. — Parece que elas têm tudo sob controle.

— Vamos lá, garota.

Eu a acompanhei até a porta, mas tudo em que eu conseguia pensar era no . Ele certamente estaria na festa esta noite. E eu não fazia ideia de como conseguiria agir normalmente perto dele.

Quando e eu dobramos a esquina, de braços dados e rindo, já estava em frente ao Starbucks. Ele franziu ao cenho ao ver que sua garota tinha companhia, mas logo sua atenção estava completamente voltada para ela. Ele basicamente a comia com os olhos, como se ele fosse um leão faminto apreciando um belo pedaço de carne — e eu desejei socá-lo, para tirar aquela expressão da sua cara.

Eles trocaram um sorriso, quando nos aproximamos, e ele segurou seu rosto, capturando seus lábios. devia ser uma ótima atriz, já que não parecia nem minimamente hesitante em corresponder o beijo, parecia quase ansiosa.

Eu deveria ter desviado os olhos, para lhes dar um pouco de privacidade, mas a verdade era que queria ver por mim mesma como estava a interação entre eles. Muito bem, pelo visto. Se mais nada fosse verdadeiro, eu diria que a atração física pelo menos era.

Divertida, eu pigarreei discretamente, vendo como relutava em soltá-la.

— Bom dia, anjo — ele sussurrou.

— Bom dia. — Ela mordeu os lábios, fitando-o com aqueles olhos grandes e inocentes.

Abre aspas. Inocentes. Fecha aspas.

— Bom dia, — cumprimentei sarcasticamente. — Eu ia lhe perguntar como está hoje, mas você parece estar muito bem.

— Bom dia, — respondeu, passando o braço em volta dela. — Estou muito bem, e você?

— Oh, você me ouviu?

Ele deu um puxão no meu cabelo.

— Eu teria que estar com uma séria deficiência auditiva para não ouvi-la, meu bem.

— Isso, ou estar ocupado numa séria batalha de amígdalas. — Eu abri a porta, piscando para ele.

— O que posso fazer por você? — perguntou a barista, diretamente para ele quando chegamos ao balcão.

— Eu me lembro. — Ele disse, piscando para . — Dois choco chips frappucinos duplos, grandes.

— Impressionante. — sorriu, e eu revirei os olhos.

— Pedi direito?

— Sim, mas você esqueceu os muffins.

E esqueceu que eu também estou aqui, pensei. Interessante.

Ele sorriu e a puxou mais para perto.

— E dois muffins de mirtilo.

— E eu quero um fraps de caramelo com creme extra — acrescentei. — Na conta dele.

Ele deu de ombros, como se dissesse “fazer o quê?”. A barista se afastou para preparar os pedidos, e quando voltou para entregá-los, eu tive a certeza de que tinha aberto alguns botões da camisa. Seus seios estavam praticamente pulando na direção do meu irmão. Eu vi pegar seu café, se agarrando ao braço de e lançando um olhar de advertência à mulher atrás do balcão.

— Acho que é óbvio que ele tem namorada — eu disse agradavelmente, pegando meu copo. podia aturar essa merda calada, mas eu não. — Não seja vulgar.

sorriu, mas engasgou com café. Enquanto ele checava se ela estava bem, eu sorri para a barista e me virei para a cabine no canto mais distante. Mal eu me acomodei, e meu celular tocou no meu bolso. Eu o peguei e meu coração quase pulou para fora do peito ao ver o nome no visor.

. Eu não lembrava uma única vez que ele tivesse me mandado uma mensagem — fora uma ou outra provocação dirigida a mim no grupo do Whatsapp. Mas falar comigo diretamente era a primeira vez.

: Você deixou uma coisinha para trás ontem.

Deixei? Oh. Minha calcinha. Na pressa de deixar seu quarto — e no escuro —, eu não tinha me dado ao trabalho de procurar.

Eu mordi o lábio inferior, para conter um sorriso, enquanto era invadida pelas lembranças da noite anterior. Seus beijos, seu cheiro, o atrito da sua pele nua contra a minha... Oh, droga. Eu tinha certeza que estava corando, mas, para o meu alívio, o casal de pombinhos estava muito entretido para notar.

Eu: Acordado a essa hora em um sábado? Estou surpresa. P.S: Pode jogá-la fora ou acrescentar o souvenir à sua coleção, se preferir J

Até mesmo por que aquela calcinha estava arruinada para mim. Eu jamais poderia olhar para ela novamente sem me lembrar daquela noite perfeita. Sem contar que não queria correr o risco de que o visse me devolvendo uma calcinha.

: Ou posso colocá-la de volta ao lugar de onde tirei ;)

Meu corpo inteiro se aqueceu ao pensar naquelas mãos mágicas tocando minhas pernas, meus quadris...

Eu: Vestir uma garota ao invés de despir? Deve ser um novo desafio para você.

: Nah, não sou sabão em pó, mas sou multiação.

Eu joguei a cabeça para trás, gargalhando. Tarde demais, eu percebi que não deveria ter feito aquilo. Meu irmão e me olhavam como se eu estivesse louca.

— Carly e suas piadinhas de lésbicas — menti, apontando para o celular.

Eu: Essa foi ruim demais. Até mesmo para você.

: Se foi tão ruim, então por que você riu? ;)

Eu imediatamente estiquei meu pescoço para olhar ao redor. Ele estava ali? Tinha me visto? Ou estava apenas me provocando, como sempre?

Decidi pela ultima opção quando vi que ele não estava em lugar nenhum do estabelecimento.

— Algum problema? — perguntou . Eu balancei a cabeça e coloquei o celular sobre a mesa, para dar atenção ao meu frapuccino antes que esfriasse completamente.

— Er, ?

— O quê? — ele perguntou distraidamente, o olhar voltado para , que lambia os lábios para limpar as migalhas. Como se estivesse desejando ser aquelas migalhas.

Ah, pelo amor de Odin. Esse devia ser resultado de estar há mais de uma semana sem sexo — o que na verdade era mais uma prova de como ele estava desesperado para levar minha amiga para a cama. Quero dizer, eu nunca tinha visto ele se esforçar tanto por uma garota antes.

— Você vai para a festa na praia hoje à noite?

— Depende — respondeu, e eu pude ver que ele baixava uma das mãos para tocar a coxa da minha amiga.

— Do quê? — disparei, antes que ele se perdesse novamente em seus devaneios tarados.

— Se a minha garota vai.

— Brittany disse mais cedo que ela e Mike vão — disse . — Então eu acho que pode ser divertido.

— Então, sim, eu vou.

Meus lábios se estiraram involuntariamente em um sorriso. Meu Deus, meu irmão estava se transformando em um escravoceta. Isso sim era desespero.

— O quê? — ele questionou, notando minha expressão.

— Nada. — Eu suspirei, afundando no meu assento. — Absolutamente nada.

— Mentirosa do caralho.

Já que tínhamos conseguido tanto em tão pouco tempo, talvez eu pudesse pedir à que o ajudasse a maneirar nos palavrões.

— Olá, ! — disse uma voz feminina sensual, em um tom excessivamente doce. Eu virei o rosto e vi uma garota loira, acenando em direção à nossa mesa. Meu irmão pareceu incomodado, e pareceu levar o mesmo tempo que eu para fazer a conexão. Era a garota da festa do sábado passado, que tinha ficado se esfregando nele, enquanto ele observava minha amiga dançar.

Claro, eu sabia que ele a tinha dispensado ao invés de levá-la para a cama, mas a situação ainda era estranha. Felizmente, pareceu perceber isso, então simplesmente voltou sua atenção para a suposta namorada. Ele segurou sua mão e beijou os dedos de leve.

— Você sempre ignora as garotas com quem dorme? — ela perguntou, com uma expressão dura. Eu quase aplaudi. Essa é a minha garota!

— Hm, eu tenho que ir ao banheiro — disparei, me colocando de pé.

, eu não dormi com ela. — Ouvi dizer. — Ela tentou, mas eu não estava interessado. Não depois de te ver naquela noite.

Andei lentamente até a entrada do banheiro e olhei para trás quando a alcancei. Eles estavam se beijando, e sorriam um para o outro. Ótimo. Era assim que tinha que ser.

 


 

Capítulo 8


— A coisa inteira de “Você sempre ignora as garotas com quem dorme?” foi mágica, . — ria, extasiada. — Foi tão mágica que eu poderia ter beijado você.

— Ew, não — brinquei, fazendo uma careta. Eu pausei a mão, o pincel do rimel suspenso no ar, e sorri através do espelho. Estava feliz que ela estivesse pensando no plano, porque eu não estava.

Estava muito preocupada com o que sentia quando ele me tocava.

Quando ele acariciou minha coxa por baixo da mesa, no Starbucks, eu quis castrá-lo. De verdade, eu queria arrancar suas partes masculinas e esfregá-las em um ralador de queijo. Repetidamente. Quando ele começou a esfregar minha perna, eu quis lhe dar um soco, mas quando ele tirou a mão, eu quis agarrá-la de volta e exigir que a mantivesse lá.

Esse pensamento me deixou um pouco mal. Eu queria que me tocasse, e gostava quando ele o fazia. Eu adorei o movimento inocentemente sexy que ele fez com a ponta do polegar na parte interna da minha coxa. O plano estava ficando muito perigoso.

Era a primeira semana e eu já podia sentir uma pequena rachadura contra minha atração por ele. Sim, a mesma atração que eu tinha trancado em uma caixa de aço com cadeados e uma senha de acesso.

O pior era que eu podia estar chateada com ele em um instante, e beijando-o no próximo. E isso não me incomodava. Ugh, como podia gostar de beijar alguém que eu odiava tanto? Precisava ter em mente que era apenas um jogo, e para ganhar eu tinha que jogar. Jogar pelas regras. E carência sexual não tinha lugar aqui, não na minha agenda.

Uma semana a menos, e três por vir. Eu estava confiante, porque ele já parecia estar se apaixonando por mim.

Eu só tinha que me lembrar de odiá-lo.

...


O vento soprava meus cabelos, e eu os puxei para o lado do meu pescoço. A brisa era uma adição bem vinda ao tempo demasiadamente quente, então eu não me importava. Só desejava ter pensado em levar um prendedor de cabelo.

Brittany cantarolou em voz alta, enquanto íamos em direção ao som, seguindo os sons de riso e vozes na praia. Toda a turma de calouros estava lá aparentemente, e a música estava bombeando de algum lugar. Estavam montando uma fogueira, e eu ouvi gemer.

— Por que estão fazendo uma fogueira? Está uns 30 graus aqui.

— Porque eles são frescos — debochou Carly.

Eu grunhi em acordo e olhei por entre a multidão, meus olhos procurando. Aparentemente eu teria alguns minutos para apreciar a festa antes que fosse forçada a interpretar a namorada apaixonada.

Encontramos um ponto para nos acomodarmos, e Brittany imediatamente começou a examinar a areia, procurando por troncos e pedras. Ela acabou se contentando com uma raiz alta e se sentou, reclinada contra uma árvore. sacudiu a cabeça, e tanto ela quanto Carly se acomodaram confortavelmente na areia. Eu segui o exemplo, embora de modo menos expansivo do que elas. Corri meus dedos pelo cabelo, soltando pequenos emaranhados nas pontas. A areia se moveu atrás de mim. Duas mãos agarraram minha cintura, e eu pulei, soltando um grito.

— O que- — Eu me virei para olhar diretamente para olhos verdes brilhantes, divertidos. — . Você me assustou.

— Desculpe, anjo. Não foi minha intenção — respondeu, se sentando próximo a mim.

— Nunca é — murmurei, odiando sentir sua pele contra a minha. Ou estava odiando o fato de gostar disso? Eu nem sequer sabia.

Ele repousou o queixo no meu ombro, pressionando seu rosto contra o meu.

— Achei que vocês estavam começando a festa sem mim, meninas.

— Como se pudéssemos — disse Carly, em um tom falsamente agradável. — Todos sabemos que você é a vida e alma da festa, .

— Recolha as garras, gatinha. — Brittany enfiou um copo de plástico na cara dela. — Então cale a boca e beba.

— Sim, adestradora. — Carly revirou os olhos, pegando a bebida, e Brittany sorriu, antes de virar para .

— Onde está o Mike?

— Está pegando a cerveja no carro com . Estarão aqui em um minuto — respondeu , sua respiração batendo na minha bochecha.

— Britt, posso tomar uma bebida? — perguntei. Precisava de algo para me manter sã esta noite.

— Meu trabalho está feito — disse Carly, jogando as mãos para o alto, seu copo descansando na areia. — Eu já corrompi com sucesso.

— Não completamente — sorriu. — Ela ainda não xinga e nem dorme com qualquer um à vista.

— E ela não vai — murmurou . — A parte de dormir com qualquer um à vista.

— Porque você tem muita moral para falar — retruca Brittany, arqueando as sobrancelhas.

— Ei. — Ele apontou um dedo para ela. — Eu estava solteiro. Agora sou um homem mudado.

Eu quis revirar os olhos. Várias vezes. Claro que ele era — e se ainda não fosse, logo seria, cortesia nossa. Porque eu podia fazer isso.

Brittany revirou os olhos para mim, enquanto Mike e se aproximavam de nós. Mike andou até sua namorada, enquanto se sentou casualmente perto de . Oh-oh, alguém tinha uma quedinha? Ah, não, impossível. A única queda que ele tinha era pelo que estava dentro da calcinha dela.

— Você está quieta — murmurou para mim, depois de um tempo. Eu sorri e virei o rosto para ele.

— Estou só ouvindo.

— Ah, está ouvindo alguma coisa? — Ele cutucou a lateral do meu corpo, e eu me esquivei.

— Não faça isso — pedi, me contorcendo.

— Por quê? Sente cócegas?

— Não sinto. Não. De. Jeito. Nenhum.

— Aposto que você sente.

— Eu não sinto!

Ele moveu os dedos contra minha cintura, e eu gritei, me remexendo e contorcendo em seus braços.

, para com isso! — gritei categórica, tentando controlar o riso.

— Não até que você admita que sente cócegas — brincou, suas mãos me provocando mais um pouco.

Eu gritei e caí para trás, levando um pouco de areia. Ele caiu comigo, meio deitado sobre mim, seu braço ainda em volta da minha cintura.

— Diga — sussurrou, olhando nos meus olhos.

— Não — sussurrei de volta. — Eu não vou ceder.

— Nem eu. — Ele abaixou a cabeça, e seus lábios capturaram os meus, de modo suave e ardente. Fechei meus olhos, e minha mão tocou seu pescoço, os dedos pressionando sua pele, segurando-o contra mim.

esticou a língua e a deslizou ao longo do meu lábio inferior, sugando-o suavemente em sua boca. Seus dentes roçaram, mordiscando de leve, antes de liberá-lo. Eu ignorei o nó na garganta querendo escapar pela minha boca e o calor se espalhando pelo meu corpo. Uma bola se forma em meu estômago, uma massa em ebulição de desejo e necessidade.

E então eu me lembrei que o odiava.

— Ei — gemi. — Não me distraia com beijos.

Ele afastou a cabeça e sorriu para mim. Era um sorriso sexy, do tipo que me derreteria se fosse qualquer pessoa que não . Sim — . Playboy, galinha, que usava as mulheres para seu próprio prazer egoísta.

É, isso ajudou.

Deslizei para o lado dele e me sentei, sacudindo a areia do cabelo.

— Olha para onde sacode essa merda — disse Carly, batendo no meu cabelo. — Isso pode pegar no meu olho. É uma arma letal, !

— Ei, calada. — Eu bati nela com as pontas do meu cabelo e notei que os outros tinham desaparecido. — Aonde foi todo mundo?

— Eles foram pegar comida, enquanto você e o Casanova aí se engoliam.

Balancei a cabeça. Carly podia ser meio rude às vezes, mas esse era o seu jeito. E eu não gostaria que fosse diferente.

— Ei, Carly — chamou , se inclinando por trás e mim. — Não é aquela sua amiga lá? Darla ou seja qual for o nome dela?

Ah, ótimo.

Carly praguejou.

— Se queriam ficar sozinhos, era só dizer. — Ela se levantou, me deu uma saudação debochada e se afastou em direção à sua amiga loira.

Eu virei meu rosto e olhei além da fogueira e da festa, para as ondas que desbocavam na areia. Era sempre a mesma coisa nas festas. Fosse em uma festa da fraternidade, no dormitório ou na praia. Eu sempre me sentia como se fosse a única a não me divertir.

Depois de seis meses seguindo minha antiga melhor amiga por elas, enquanto ela perseguia meu irmão, só para ter seu coração partido, alguém poderia me culpar? Não. Nem eu me culpava.

— Você está em outro planeta — notou . Isso me lembrava que seria muito mais fácil odiá-lo se ele não fosse tão atencioso a mim.

— Só pensando — respondi, mantendo os olhos fixos no mar azul claro. — Você não tem que ficar aqui, sabe. Pode ir encontrar os garotos.

— Não. — Ele se recostou contra a árvore, e deu um tapinha no espaço ao seu lado. Eu suspirei.

Então rastejei para trás e me sentei do seu lado, sentindo seu braço me rodear. Eu descansei a cabeça em seu ombro, e ele ergueu minhas pernas, passando-as por cima das suas. Seu rosto se inclinou contra o topo da minha cabeça.

Eu podia sentir os olhos das outras pessoas em nós. Isso estava me deixando de cabelo em pé, me fazendo querer levantar e fugir de todo aquele espetáculo falso.

Mas havia uma pequena parte de mim que estava gostando.

~ ♡ ~


Aquela noite estava sendo a tortura que eu imaginara que seria, no momento em que vi se aproximando com Mike. Por mais que eu repetisse mentalmente que bastava agir como sempre, era infinitas vezes mais fácil falar do que fazer.

Era torturante tê-lo tão perto e não poder tocá-lo. Pior, ainda era só o início da festa. Logo teria que ver a facilidade com que as garotas se jogavam para cima dele — e como ele nunca as rejeitava.

E na noite passada, eu havia sido uma dessas garotas.

— Se está tentando fugir, gata, está falhando miseravelmente. Eu ainda posso te ver. — As palavras de rastejaram por mim como uma carícia suave, fazendo minha garganta secar e, ao mesmo tempo, meu sangue ferver.

— Por que eu estaria fugindo? — perguntei, encarando a mesa de comida à minha frente, determinada a não encontrar seus olhos.

Ele deu de ombros descuidadamente, girando um espetinho de madeira entre os dedos. Céus, odiava quando ele fazia isso. Eu acompanhava seus movimentos com o canto dos olhos. Seus olhos queimavam a lateral da minha cabeça — implorando para que eu virasse, implorando para que eu olhasse para ele.

— Porque você me quer tão desesperadamente que não consegue nem me olhar — disse ele, em um tom dramático, arrogância se desprendendo de cada palavra.

Eu endireitei a postura, fitando a fogueira ao longe.

— É óbvio que alguém esteve alimentando seu ego de novo — respondi secamente. — Porque não me lembro de alguma vez ter dito que queria você.

Seu braço raspou no meu, quando ele se inclinou sobre a mesa para pegar alguma coisa em uma das bandejas.

— Tem certeza? — perguntou, numa voz baixa e quase inaudível.

Eu lutei contra a vontade de abaixar novamente os olhos.

— Absoluta.

Com a ponta do dedo, ele trilhou as costas do meu antebraço, uma sensação de formigamento se espalhando através do contato, me fazendo lutar contra um arrepio.

— Acho que está enganada — sussurrou. — Porque eu tenho certeza que você disse que me queria ontem à noite, logo antes de cravar as unhas nas minhas costas e envolver essas suas lindas pernas na minha cintura.

Minha cabeça se virou de volta para ele, nossos rostos estavam a centímetros de distância. Seus lábios se curvaram em um sorriso meio presunçoso, e eu odiava o fato de que era o primeiro lugar para onde meus olhos se voltaram. Eu os arrastei para longe da sua boca até encontrar com seus olhos hipnotizantes.

Agora eu lembrava por que não queria olhar para ele. Seus olhos tinham o poder de penetrar os meus e de me manter cativa. O contorno mais escuro ao redor das suas íris me puxavam, e eu me vi presa em cada pequena nuance.

— Ele está sendo um babaca outra vez?

Eu me virei para encontrar um par de olhos idênticos aos meus, quando a voz de cortou a névoa em que havia me prendido.

— Esta é uma pergunta idiota, , até mesmo para você. é sempre um babaca.

sorriu e deu um tapa no braço de .

— Mantenha as porras das suas mãos pegajosas bem longe da , cara. Eu já lhe disse antes, ela tem mais classe do que essas garotas que você pega nos fins de semana.

— Eu sei disso — respondeu.

Eu afastei os olhos, tentando não rir da ironia da declaração de . Claro, eu tinha mais classe do que as garotas que ele geralmente pegava nos fins de semana, mas só porque eu era a única que não imploraria por mais. Não importava o quanto eu quisesse.

— Churrasco? — sugeriu , chamando minha atenção para a carne que estava sendo retirada da grelha.

Sim, por favor. Qualquer coisa que me levasse para longe da tentação.

~ ♡ ~


— Pela milésima vez, eu não estava tentando levar sua irmã para a cama — disse , suspirando, quando estávamos de volta ao nosso canto. olhou incrédulo para ele.

— Ela parece mais chateada com você do que o normal.

deu de ombros descuidadamente.

— Talvez porque eu a irritei mais do que o normal ontem à noite.

Isso fez Michael sorrir.

parecia querer arrancar suas bolas depois que você falou com ela no bar.

— Ela poderia tentar, mas sempre aparecia alguém para resgatar meu bem precioso. E ainda ficaria para me confortar.

Ugh. Eu não queria saber disso.

— Porra, cara. — balançou a cabeça, se apoiando contra o tronco. — Nem eu consigo ser tão idiota quanto você.

— Hm, eu acho que sim — provoquei.

— Ei! — mordiscou meu ombro.

— A diferença entre você eu, cara, é que eu admito que sou um idiota — disse . — Você acha que é “Jesus” ou sei lá o quê.

— Isso é por que eu sou, por trás de portas fechadas — apontou . Eu tive que rir diante de tanta presunção. — Pelo menos, você não tentou nada com a .

— Não sei por que você está preocupado — falei. — é esperta o suficiente para ficar longe desse idiota.

— Falando em esperteza... — deu uma olhada significativa para os braços de , que estavam ao meu redor.

— O quê? Está com inveja? — desafiou .

— De quê? De não ter liberdade? De ter meu pau comendo na palma da mão de alguém? Não mesmo, obrigado. Eu me considero abençoado. Sem ofensa, .

Pelo amor de Deus, ele era tão exasperante quando ! Óbvio que eu já sabia disso antes, mas era a primeira vez que eu me via no meio desse tipo de conversa dos garotos.

— Abençoado com a capacidade de se esgueirar para a cama de quem quiser — provocou .

— E você não? Eu devo ter imaginado todas aquelas garotas semi-vestidas saindo do seu quarto — retrucou o outro. Eu senti o corpo de se enrijecendo ao meu redor.

— Um dia, , você também vai ser fisgado — disse Mike, como se também notasse a tensão no ar.

— Se eu acabar um mangina como vocês, por favor, me deem a porra de um soco. — A ênfase no “vocês” e o modo como olhou para , me fez crer que ele não estava muito convencido da mudança do amigo. — Mas isso não vai acontecer, confiem em mim.

Eu senti compaixão garotas desavisadas que se apaixonavam pelo porco insensível que ele era, só para terem seus corações despedaçados como minha amiga, Abbi. Talvez devêssemos achar alguém para dar uma lição nele também?

— Diz isso agora, mas você vai encontrar alguém — reforçou Mike, tirando de um devaneio. — Acredite. E vai ser uma garota com peito o suficiente para colocar você e esse seu pau transudo no lugar.

Eu revirei os olhos pelo linguajar.

— Se existisse uma garota que pudesse me domar, eu daria boas vindas ao desafio. — Ele disse, cruzando os braços, e dobrando um joelho para trás, descansando um pé contra a árvore. — Gostaria de ver alguém tentar. Tem que sentir para poder ser domado, amigos, e eu não sinto nada, exceto por quem estiver na minha cama naquela noite.

— Eu também não sentia nada — disse , depois de um breve silêncio, depositando um beijo no meu pescoço. Ele parecia estar se divertindo em atormentar o amigo. — Até aparecer.

— Que seja — resmungou . Se eu não o conhecesse bem, diria que o assunto o incomodava mais do que ele gostaria admitir. Haveria alguma rachadura na sua armadura, apesar de tudo? — Vocês não tem nada melhor para fazer do que sentar aqui e me dizer que eu preciso de amor na minha vida?

— Provavelmente. — Michael sorriu novamente. — Mas isso é muito mais divertido.

— O que é divertido? — perguntou Brittany, chegando e se sentando ao lado do namorado.

— Infernizar o — respondi por eles, vendo como Michael a segurava e puxava para o seu colo. Eles formavam um casal adorável, daqueles que quase fazem você acreditar que contos de fadas podem ser reais.

Britt gemeu.

— Vocês percebem que um irritado geralmente é igual a sexo, o que significa que haverá uma garota chateada perseguindo a gente?

— Sério? — se desencostou da árvore. — Elas fazem isso?

— Sim — ela confirmou, virando seus olhos para ele. — Elas acham que, só porque sou a namorada do Mike, eu tenho um passe VIP para dentro da sua cabeça. O que, graças a Deus, eu não tenho, mas elas não entendem isso. Então todas elas ficam querendo saber por que você não liga.

— Ei, eu nem prometo ligar, nunca. Eu não digo que vou ligar, e elas não me pedem. Metade delas sequer me dá seu número! — Até mesmo eu ergui a sobrancelha para isso. Os garotos riram. — Elas não dão! — ele insistiu. — Não é minha culpa. Como eu posso ligar, porra, se elas não deixarem o número?

— Talvez elas queiram que você peça — sugeri mansamente.

— Se eu pedir, então elas vão esperar que eu ligue.

— O problema é...?

— Eu não vou ligar. Se eu pedisse, eu as estaria enganando.

Eu suspirei e troquei um olhar exasperado com Brittany. Michael parecia estar tendo dificuldades para conter o sorriso.

— Tem algum modo de anexarmos um aviso nele? — ela perguntou.

— Como o quê, amor? — questionou Michael, divertidamente solícito.

Babaca viciado em sexo que não vai ligar, então nem se preocupe?

— Ei, isso prejudicaria seriamente a minha reputação! — protestou.

— Você dificilmente tem uma reputação estelar, — lembrou ela. — O que você precisa é ter uma noite com uma garota legal, para variar. Nunca se sabe, você pode acabar gostando. Isso pode mudar suas perspectivas deturpadas das coisas.

— É, ela tem um ponto. — Michael deu de ombros.

— Idiotas — resmungou , antes de começar a se afastar.

definitivamente não era o único que precisava de uma lição.

 


 

Capítulo 9


Meus olhos escanearam a sala e eu suspirei de alívio ao ver que havia chegado antes de e para a aula. Eu estaria ainda mais aliviada se tivesse concordado em devolver o meu lugar, agora que já tinha avançado positivamente em sua relação com . Mas ele estava preocupado em agradar sua irmãzinha querida? É claro que não, não importava o quanto eu tivesse implorado.

Você só tem que ignorá-lo,” ele tinha dito, quando eu me queixei que não queria mais ficar ao lado de . “Vai ajudar a melhorar seu autocontrole.”

— Crápula — murmurei, depois de me acomodar e abaixar a cabeça na mesa. Queria só ver o que ele diria sobre meu autocontrole se soubesse o que eu tinha feito na festa de sexta.

A cadeira ao meu lado guinchou contra o piso, fazendo meu corpo enrijecer.

— Tentando se esconder outra vez? — Novamente aquela voz macia enviava calafrios direto na minha espinha.

Eu me endireitei na cadeira, mas antes que eu tivesse a oportunidade de responder, vi e entrando na sala.

— Vê se pega leve hoje, hein, colega — advertiu meu irmão. Como se isso fosse me ajudar de algum modo.

— Eu não fiz nada. — Ele levantou as mãos, em gesto de inocência.

— Ainda — murmurou , revirando os olhos, e então se virou para mim. — Café depois da aula?

— Sim, por favor! — respondi, observando os dois se afastarem. Eles realmente pareciam um casal de verdade. Se eu não soubesse do desafio, e não conhecesse tão bem...

— Imagino que ele não saiba? — chutou meu pé ligeiramente, me fazendo dar um salto. Eu voltei meus olhos para ele. Estava lindo como sempre, com uma camisa de brim de mangas curtas que realçava seus olhos, e os cabelos milimetricamente penteados, como sempre. Exalava um aroma delicioso de loção pós-barba.

— Hm, não. Além de eu não ter tido muito tempo com ele no fim de semana, não é como se eu pudesse simplesmente dizer: “Oh, sabe a festa de sexta à noite, aquela que acontecia enquanto você se esforçava desesperadamente para entrar nas calças da ? Pois é, eu aproveitei sua ausência, para cair na cama com seu melhor amigo galinha”. Acho que ele não aceitaria muito bem.

— Acho que não. — Sorrindo, ele esfregou o polegar nos lábios. — Além do mais...

— Deixe-me adivinhar — disse inexpressivamente. — Seu rosto é bonito demais para enfrentar o punho que iria inevitavelmente vir de encontro a ele?

Ele pausou por um segundo, então riu.

— Não era o que eu ia dizer, mas estou feliz que você pense assim.

não é o único que pode rearranjar esse seu rostinho bonito, sabia?

— Eu gosto de garotas voluntariosas.

— E também gosta de descartá-las depois de uma transa rápida e sem sentido, então o que você gosta realmente não importa muito, não é?

Ele parou de novo, e eu me virei para frente. Minhas próprias palavras me atingindo, porque não interessava o que dizia para mim mesma, é claro que eu me importava. Ninguém gostava de ser usado.

— Eu nunca disse que você era uma transa rápida e sem sentido, sussurrou, enquanto a aula começava. Ele se inclinou para frente em seu assento, girando a caneta entre os dedos. — Eu sou muitas coisas, e nem todas elas boas, mas não sou mentiroso. Eu estaria mentindo se dissesse que o que aconteceu entre nós não significou nada.

Eu engoli o caroço na minha garganta, aquele cheio de emoções que não tinham lugar aqui. Engoli as palavras se formando em minha boca, aquelas cheias de verdade que não tinham lugar em um momento de dúvida.

Eu decidi por ignorá-lo e focar na aula, porque essa era a coisa mais segura que eu poderia fazer. Ou melhor, eu tentei ignorá-lo. Era difícil quando podia sentir cada centímetro dele ao meu lado, podia ver até o menor movimento do seu corpo e podia sentir cada lampejo de seus olhos sobre mim.

esticou as pernas por baixo da mesa, seu pé batendo no meu. Eu enfiei os pés debaixo da minha cadeira e joguei meu cabelo para o lado, fazendo-o cair como uma cortina entre nós. Eu precisava de um bloqueio — estava muito consciente dele e da maneira como me fazia sentir.

Um puxão no meu cabelo me tirou do meu estado forçado de concentração, e meu pescoço quase estalou com a maneira repentina com que eu o virei.

— O que é? — sibilei. Ele mastigava a extremidade da caneta.

— Você está me evitando?

— Eu estou sentada do seu lado, besta. Como poderia estar evitando você?

— Você estaria sentada aqui se tivesse escolha?

— Não, eu não estaria. Mas o mesmo se aplica a cada vez que tenho o prazer de sentar ao seu lado, por isso hoje não tem nada de especial.

Ele se recostou contra o assento, seu rosto mortalmente sério, como eu nunca tinha visto antes.

— Você acha que eu sou um completo idiota.

— Isso é óbvio. Levou todo esse tempo para perceber? — A aula terminou, eu enfiei todas as minhas coisas na bolsa. Fiquei de pé e a coloquei no ombro, quando segurou meu braço.

— Só se lembre, ... — ele sussurrou por trás de mim — ...de quem foi até quem naquela noite.

Puta que pariu. Espertinho do caralho.

— Pronta para ir? — chamou , que mantinha a porta aberta. Eu observei enquanto ele batia em retirada.

— Só se você prometer que não vamos esbarrar em mais nenhum idiota enquanto estivermos lá — murmurei, me aproximando dela.

— O que ele fez? — Ela tentava não rir.

— Oh, apenas sendo . — Dei de ombros. — Você sabe, aquele jeito babaca de “presente dos deuses para as mulheres” de sempre.

— Ah, eu sei muito bem. — Ela suspirou, afastando o cabelo do rosto. — A propósito, o interrogou sobre você no sábado à noite. E fiquei com a impressão de não era a primeira vez que eles tinham esse tipo de conversa.

— O que exatamente meu irmão disse?

— Ele só queria ter certeza de que não estava dando em cima de você.

Eu balancei a cabeça. não tinha jeito mesmo.

— Sinceramente, será que não tem nenhuma fé na minha capacidade de discernimento?

— Aparentemente não. — deu de ombros.

E eu não poderia culpá-lo por isso.

No Starbucks, depois de pegarmos nossos pedidos, nós duas nos dirigimos para uma mesa no canto. Eu tomei um longo gole do meu Caramel macchiato, apreciando a sensação de calor que vinha de uma fonte que não era o .

se recostou na cadeira, suspirando ligeiramente.

— E sexta, na fraternidade, aconteceu alguma coisa interessante antes de eu chegar?

— O de sempre. — Eu me remexi um pouco na cadeira. — Nada muito emocionante.

— Em outras palavras, Carly bebeu demais e ofendeu alguém, Britt se esgueirou com o Michael, e levou uma garota qualquer para o quarto.

— Basicamente — concordei, deixando de fora minha parte na história.

— E você, como sempre, recusou os avanços e desapareceu de volta para o seu quarto. Certo? — Ela ergueu uma sobrancelha, olhando para mim com ceticismo. Obviamente Britt e Carly haviam me dedurado.

— Certo.

— Você finalmente conseguiu ficar livre de por um tempo em uma festa... — Ela se inclinou para frente. — E não tirou proveito disso?

— Não. — Sim.

— Uau. — Ela inclinou a cabeça para o lado e sorriu. — Acho que você está precisando mesmo transar.

— Uau. — Imitei seu movimento, tentando não rir. — Acho que você está passando tempo demais entre Carly e .

Ela abriu a boca, fez uma pausa, e a fechou novamente.

— Tem razão. Oh, meu Deus, eles estão me corrompendo!

~ ♡ ~


Meu irmão, mesmo há três mil quilômetros de distância, ainda tinha a capacidade de mexer com meu dia — e meu humor. Indignação corria pelas minhas veias, e eu tive que conter o desejo de lançar o celular pela janela mais próxima. Seria muito, muito gratificante vê-lo se quebrar em um milhão de pedaços na calçada. Ou, é claro, eu poderia simplesmente trocar de número. Essa era provavelmente a melhor ideia, mas longe de ser a mais revigorante.

Não estava surpresa por ele ter entrado em contato comigo pouco tempo depois da última vez. Eu tinha imaginado que ele quisesse o dinheiro para o aluguel, mas eu estava errada. Completamente errada.

Apesar das várias coisas em comum que tinha com meu irmão, havia uma grande diferença entre eles que eu tinha que reconhecer. Drogas.

Phillipe havia se voltado para elas quando nossa mãe foi morta. Era a sua “fuga”.  Que acabou por se tornar um buraco sem fundo, arrastando-o cada vez mais para baixo.

Os oitocentos dólares que eu havia transferido não chegaram a cobrir nem a metade das suas dívidas. Naturalmente, ele havia dito para o seu fornecedor que iria conseguir o dinheiro, assumindo que eu daria a ele como sempre fazia, mas desta vez eu disse não. Não ia mais cobri-lo. E ele ficou louco da vida.

Sua última mensagem me informava que estava fazendo arranjos para vir à faculdade, e que eu deveria esperá-lo em algum momento da próxima semana.

Duas vidas diferentes se fundindo. Todo mundo ali sabia que eu tinha um irmão mais velho no Brooklyn, mas não sabiam dos detalhes. Além de Carly, e Brittany, só sabia que minha mãe havia morrido.

Mas Phillipe ali? A ideia me assustava, porque eu sabia como ele era. Afinal de contas, eu o tinha visto dominar, controlar e induzir a minha amiga até uma tentativa de suicídio, tudo por causa do seu vício em drogas e complexo de inferioridade.

Eu estava distraída com meu celular e as trocas de mensagem quando cheguei à escada, por isso não vi a mão que me agarrou e me puxou contra um corpo sólido. Meu coração quase saiu do peito ao pensar que era Phillipe, que havia decido me surpreender. Felizmente, eu estava errada.

— Droga, ! — exclamei, me inclinando de alívio contra seu peito. — Você tem que parar de fazer isso comigo!

— Fazer o quê? — Ele sorriu para mim.

— Me assustar — bufei, guardando o telefone.

— Tudo bem? — perguntou, afastando meu cabelo do rosto.

— Sim, só meu irmão. — Franzi a testa e balancei a cabeça. — Não importa. Ele só está sendo egoísta e estúpido como sempre.

— Certeza? — Ele passou o polegar gentilmente pela minha testa, como se tentasse apagar as linhas de expressão.

— Sim — disse, forçando minha voz a soar despreocupada e abrindo um sorriso. Meu rosto estava tão tenso que minhas bochechas até doeram pelo esforço.

Como se pudesse ver por trás da fachada, beijou minha testa e entrelaçou nossos dedos. Nós descemos as escadas e seguimos para o refeitório do campus. Não era a melhor comida do mundo, mas eu tinha aula em meia hora.

Depois de pegarmos nossa refeição, nós encontramos uma mesa no canto. Eu me senti agradecida por isso, já que odiava estar no centro das atenções.

Quando deslizou a mão sobre a mesa e segurou a minha, eu percebi que estava há vários minutos revirando minha comida, enquanto deixava a preocupação tomar conta dos meus pensamentos. Em resposta ao gesto de conforto, eu lhe dei um pequeno sorriso.

— Ei, . — Uma garota com longos cabelos loiros se aproximava da nossa mesa.

— Oi — ele respondeu um tanto hesitante.

— Então, eu queria saber se você está livre esta noite. Poderíamos, tipo, continuar de onde paramos da última vez? — Ela enrolou uma mecha em torno de um dedo, parando ao lado dele com o quadril projetado para frente.

Ah, pelo amor de Deus. Isso de novo?

— Não, sinto muito — ele respondeu, voltando seu olhar para mim. — Não estou mais disponível.

— Como assim, não está disponível? — A garota passou os olhos entre nós, como se tivesse dificuldades para aceitar a realidade. Bem, a aparente realidade.

— Como em “eu tenho namorada”.

— Que por sinal está sentada bem na frente dele — murmurei.

— Ah, sim. Não percebi você aí.  — A garota se voltou para mim. — Quero dizer, você não é o tipo habitual dele, querida.

Seria por que eu não parecia uma vadia oferecida?

— Talvez seja por isso que eu sou a namorada, e você é a filha da puta descartada do fim de semana cujo nome ele nem se lembra, querida.

pestanejou na minha direção, como se tivesse acabado de brotar uma segunda cabeça no meu pescoço, antes de olhar de uma para outra. Eu voltei a atenção para minha comida, fria e remexida, mas ainda podia sentir o olhar feito punhais que a loira de farmácia lançava em minha direção.

— Acho melhor você ir. — acenou para a loira.

— Quando acabar com ela, me liga, ok? — disse a garota, antes de finalmente ir embora, rebolando exageradamente.

— Seu gosto para garotas é realmente péssimo — disse, depois que ela desapareceu.

— Você está incluída nisso?

Eu ergui os olhos, me sentindo a própria Elsa, prestes a congelar até mesmo o deserto só com o olhar.

— Não brinque comigo, . Não hoje. Eu não vou sentar aqui e lidar com um bando de putas siliconadas vindo até mim e me dizendo que não sou a porra do seu “tipo habitual”. — Soltei minha mão da dele e me levantei, passando por ele como um furacão.

Eu não precisava de mais estresse na minha vida do que já tinha. Definitivamente eu não precisava dessa droga de namoro falso.

— Ah, não — eu grunhi, recostando contra o tronco de uma árvore e cruzando os braços sobre os seios. Eu podia não precisar daquilo, mas não ia jogar fora fácil assim o esforço de nove dias só porque meu irmão estava me tirando do sério. Todo o esforço que tinha colocado naquela relação falsa não podia ser facilmente descartado.

Quando vi que havia me seguido, eu descansei a cabeça contra o tronco, torcendo para que conseguisse ter um pouco mais de paciência.

— Agora, anjo, por que não me conta sobre o que foi tudo aquilo? — ele disse, se aproximando.

— Não estou com disposição para discutir suas ex companheiras de cama, — respondi, com os olhos fechados.

— Eu não estou falando sobre isso. — Eu o senti se aproximando mais, sua presença alta me aquecendo. — Por que não me diz de onde vieram os palavrões, porque eu tenho certeza que não ouvi você xingar antes. Nunca.

— Um dia ruim. Saiu. Ignore.

— Por que eu iria ignorar?

— Porque eu disse para você fazer.

— Se está tendo um dia ruim, fale comigo. É para isso que eu estou aqui, certo? — Ele fez uma pausa, mas eu não consegui dizer nada em resposta. — Eu disse que queria estar aqui para você, então me permita.

Eu ri amargamente e balancei a cabeça, finalmente abrindo os olhos.

— Minha vida antes de Berkeley e a sua são muito, muito diferentes. Você não pode sequer imaginar, por isso não há sentido em falar. Você não entenderia.

— Então me ajude. — Ele ficou de pé à minha frente e colocou a mão contra o tronco. Meus olhos encontraram os seus. — Ajude-me a entender. Ajude-me a ajudá-la.

Droga, por que ele tinha que parecer tão sincero? Por que ele tinha que dizer as coisas certas?

Eu mordi meus lábios, tentando inibir os pensamentos que se confundiam em minha mente.

— Hoje não — sussurrei, por fim. — Eu só não posso falar agora.

Ele deslizou a mão por trás do meu pescoço e me puxou para si, pressionando meu corpo contra o seu. Coloquei as mãos em seu peito e recuei.

— Não — ele disse em meu ouvido, resistindo. — Já que não quer falar comigo, , deixe-me te abraçar. Pelo menos isso eu posso fazer.

Aí estava ele de novo mostrando um lado sensível que eu nunca achei que ele teria.

— Sinto muito — murmurei, permitindo que ele me puxasse. Minha cabeça pairando em seu peito, ouvindo seus batimentos tranquilizadores. — Por agir como uma cadela raivosa.

— Não sinta — respondeu, acariciando minha nuca. — Eu que sinto muito.

~ ♡ ~


— Ele realmente é um idiota — disse Carly, espiando através do pátio. Porque nós não tínhamos nada melhor para fazer em plena terça de manhã, no nosso horário vago.

Ele estava de pé diante de uma garota com mais luzes que o meu e-reader, e a abençoada parecia estar fazendo um grande esforço tentando elevar seus seios até o rosto dele. Ele sorria lentamente para ela, descansando o braço contra a árvore ao lado dela. Ela jogou o cabelo para o lado, esboçando o que achava que era um sorriso acanhado e olhando em seus olhos.

— Parece que ele levou a sério nossa conversa de antes — observou Brittany.

— Que conversa foi essa? — perguntou Carly.

— Britt disse que ele precisava encontrar uma garota legal — respondeu .

— Vocês obviamente têm definições diferentes da palavra “legal” — falei, mais asperamente do que pretendia. — Porque a única coisa boa em relação a essa daí vai ser quando ela se virar e for embora.

Carly bufou.

— Eu adoro quando vocês ficam com ciúmes.

Eu virei a cabeça.

— Quem disse que eu estou com ciúmes?

— Você está tão verde que está praticamente se camuflando no capim.

— Claro. Porque é muito provável que eu vá ter ciúmes de alguém como .

Todavia, eu estava com ciúmes. Estava chateada. Estava enojada. E principalmente irritada comigo mesma pelo aperto no peito que sentia. Eu sabia que ele voltaria imediatamente aos seus velhos truques sujos, mas vê-lo em ação, agora que eu conhecia cada pedaço dele, era como um soco no estômago. Vê-lo com outra garota depois que ele foi meu, mesmo que apenas por uma noite, era como ter uma garra se cravando em meu peito, arrancando meu coração.

— Não estou dizendo que você está com ciúmes do ... — começou Carly.

— Uh, sim, você está — murmurou .

— Cala a boca, . Eu não estou dizendo que você está com ciúmes do , , só estou dizendo que você está com ciúmes porque todo mundo menos você está tendo um pouco de ação!

— Ai, meu Deus! — exclamei em voz alta, jogando os braços para o ar. — Por que todo mundo neste lugar está tão obcecado por sexo?

Carly riu.

— Porque todos nós estamos tendo um pouco. — Ela fez um gesto obsceno com os braços, que me fez revirar os olhos. — E é bem melhor do que se concentrar nos prazos daquelas porras de trabalhos que parecem não ter fim.

não está tendo sexo — apontei.

Ainda não — frizou Carly.

Ops, realmente.

— Mas falando sério. Sexo não faz o mundo girar.

— Mas ajuda, no entanto. — Brittany encolheu os ombros.

— Eu não estou com ciúmes do fato de todo mundo estar fazendo sexo, menos eu.

— Parece que é o meu tipo de conversa — disse , se sentando ao meu lado no chão, e olhou para mim.

— O que foi? — Meus olhos relancearam seu rosto.

— Nada.

— A Barbie teve que ir reajustar os implantes ou algo do tipo? — disparei, me deslocando para longe dele.

Olá, irracional.

— Ela não é meu tipo — disse ele evasivamente.

— Uau, você tem um tipo? — Carly fingiu estar chocada. — Oh, espere. Deve ser o tipo desagradável que costumamos ver com você.

— Porra, Carly, qual o seu problema? Não teve nada da sua própria espécie nesse fim de semana?

Ela olhou para ele de cima abaixo e se colocou de pé.

— Eu provavelmente já vi mais bocetas do que você, . No mínimo, a julgar pelo estado das que você leva para o andar de cima, bocetas bem mais decentes. — Ela saiu com um tufão na direção do dormitório.

— Você não consegue evitar, não é? — Brittany suspirou. — Não importa quanto tempo, contanto que sejam do sexo feminino. Você tem perpetuamente chateada com você, Carly está agora provavelmente espetando seu bonequinho de vodu, e nem vamos falar da quantidade de garotas no campus que querem dar um tiro em você.

— Eu te falei antes. Não é minha culpa se elas pensam que eu vou ligar.

— Vou ficar de fora dessa rodada — murmurou , se levantando. — Eu tenho aula. Até mais.

— Elas ficam chocadas que ele não liga? — Eu ergui uma sobrancelha, pegando uma grama amassada sobre o meu joelho. — Sério mesmo?

Brittany assentiu, e eu disfarcei um riso de desdém, cobrindo a boca com a mão. Um riso meio irritado, meio divertido.

— O quê? — ele perguntou.

— Nada. — Encolhi os ombros. — Você realmente dorme com garotas burras, sabia?

— É mesmo, não é? — Ele virou o rosto lentamente para mim, seus olhos azuis me desafiando.

— Sim, é. — Eu deslizei uma folha comprida de grama entre os dedos, ainda focando em . — Se eu fosse elas, ficaria chocada se você ligasse, ei, eu ficaria chocada se você sequer mandasse uma mensagem. Quero dizer, se você falasse com uma garota depois de dormir com ela teria que significar alguma coisa, não é?

— Depende de quando eu falei com ela.

— Digamos... na manhã seguinte? — Eu enfrentava bravamente o desafio em seus olhos, lançando-lhe o meu próprio.

Você me disse que isso significava alguma coisa. Eu digo que é conversa fiada.

— Se eu falasse com ela na manhã seguinte, então eu diria que ela é mais do que uma transa. Diria que ela significa alguma coisa.

Meu coração bateu dolorosamente no peito, enquanto era inundada por todas as emoções que tanto lutava para conter.  O tempo parecia suspenso, milhares de pensamentos pendendo entre nós, para quem quisesse ver. Não que eles pudessem saber do que se tratava.

— Então ainda bem que nenhuma garota teve essa conversa na manhã seguinte, hein? — perguntei, mais calma, forçando um pouco de aspereza à minha voz.

Os olhos desceram para os meus lábios, fazendo-me separá-los e puxar pela respiração diante da intensidade do seu olhar. Toda vez, toda maldita vez aqueles olhos me prendiam.

esfregou o queixo, me estudando cuidadosamente.

— É mesmo, não é? — respondeu tão suavemente quanto eu.

Brittany pigarreou, me fazendo arrastar o olhar para longe de . Ela nos observava, intrigada, então eu peguei minha bolsa.

— Tenho que ir para a aula. Até mais. — Eu me levantei e saí sem olhar para trás.

Brittany era a versão adolescente de Sherlock Holmes. Se ela tivesse qualquer suspeita de que alguém estava tramando algo, ela seguiria o rastro até chegar ao fundo da questão. Se não fossemos cuidadosos, e eu a teríamos em nossas colas.

Mas, enquanto andava de volta para o campus principal, eu não conseguia parar de pensar no que ele dissera. Que eu significava alguma coisa, que eu era mais do que só uma noite para ele — mas o que era esse “mais”?

Não importava. Aquela noite nem deveria nem ter acontecido, algo mais estava totalmente fora de questão.

E se algo mais fosse esse “mais”? E se nós dois quiséssemos mais? O que aconteceria então?

Eu poderia lutar contra minha necessidade por ele. Mas de jeito algum seria capaz de lutar contra qualquer coisa se ele me quisesse também.

 

~Continua na Parte 2~

# Parte II #


N/A: Fiquei surpresa e feliz com os comentários! Obrigada, meninas!
Fui obrigada a dividir a fic pq não estava conseguindo postar e ainda quase perdi os comentários ç_c Mas consegui recuperá-los.
Então aqui está mais um capítulo.
~Nikki


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